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UniRitter – Laureate International Universities Curso: Direito (Canoas) Disciplina: Direitos Fundamentais - Turma: 2015/1 Professor: Waldir Alves 2. Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 c) A tutela dos direitos humanos no âmbito da Constituição Federal de 1988. - Os direitos humanos são inerentes a qualquer pessoa, sem quaisquer discriminação. - Os direitos da pessoa humana possuem dupla proteção: a) Proteção interna: Direito Constitucional; b) Proteção internacional: Direito Internacional Público. - Direitos humanos são os direitos positivados em tratados ou em costumes internacionais (= direitos positivados na esfera do direito internacional). São os direitos que já ascenderam ao patamar do Direito Internacional Público. Nesse sentido foi importante atuação do Conselho de Direitos Humanos (antiga Comissão de Direitos Humanos) das Nações Unidas, relativamente à redação e às negociações de vários dos mais importantes tratados de direitos humanos (do sistema global) concluídos até hoje. - Por se tratar de direitos positivados na esfera do direito internacional, está mais afeto à expressão “pessoa humana”. - Características dos direitos humanos (MAZZUOLI, Valerio de Oliveria. Curso de direito internacional público. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 807 s.): a) historicidade – são direitos que se vão construindo com o decorrer do tempo. Foi tão somente a partir de 1945 (com o fim da Segunda Guerra e com o nascimento da Organização das Nações Unidas) que os direitos humanos começaram a, efetivamente, desenvolver-se no plano internacional, não obstante a Organização Internacional do Trabalho já existir desde 1919 (garantindo os direitos humanos – direitos sociais – dos trabalhadores desde o pós-Primeira Guerra). b) universalidade – são titulares dos direitos humanos todas as pessoas, o que significa que basta ter a condição de “ser humano” para se poder invocar a proteção deses mesmos direitos, tanto no plano interno quanto no plano internacional, independentemente de circunstâncias de sexo, raça, credo religioso, afinidade política, status social, econômico, cultural, etc. c) essencialidade – os direitos humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo os valores supremos do ser humano e a prevalência da dignidade humana (conteúdo material), revelando-se essencial, também, pela sua especial posição normativa (conteúdo formal), permitindo-se a revelação de outros direitos fundamentais fora do rol de direitos expressos nos textos constitucionais. d) irrenunciabilidade – diferentemente do que ocorre com os direitos subjetivos em geral, os direitos humanos têm como característica básica a irrenunciabilidade, que se traduz na ideia de que a autorização de seu titular não justifica ou convalida qualquer violação de seu conteúdo. e) inalienabilidade – os direitos humanos são inalienáveis, na medida em que não permitem a sua desinvestidura por parte de seu titular, não podendo ser transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem, ainda que com o consentimento do agente, sendo indisponíveis e inegociáveis. f) inexauribilidade – os direitos fundamentais são inexauríveis, no sentido de que têm a possibilidade de expansão, a eles podendo ser sempre acrescidos novos direitos, a qualquer tempo, exatamente na forma apregoada pelo § 2º do art. 5º da Constituição de 1988, sendo o qual “os direitos e garantias expressos nessa Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. g) imprescritibilidade – são os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do tempo e podendo ser a qualquer tempo vindicados, não se justificando a perda do seu exercício pelo advento da prescrição. h) vedação do retrocesso – os direitos humanos devem sempre (e cada vez mais) agregar algo de novo e melhor ao ser humano, não podendo o Estado proteger menos do que já protegia anteriormente. - Segundo Robert Alexy, os direitos humanos são institucionalizados por meio de sua transformação em direito positivo constitucional, quando os direitos humanos tornam-se direitos fundamentais (ALEXY, Robert. Teoria do discurso e direitos fundamentais. In: HECK, Luís Afonso (Org.). Direito natural, direito positivo, direito discursivo. Tradução de Maria Cláudia Cachapuz. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 131): “IV. A institucionalização dos direitos fundamentais Direitos humanos são institucionalizados por meio de sua transformação em direito positivo. Se isso tem lugar em um nível na hierarquia do sistema legal, que pode ser chamado 'constitucional', direitos humanos tornam-se direitos fundamentais. A incorporação de um catálogo de direitos humanos em um nível como alto no sistema legal como possível não é o único pedido que a teoria de discurso faz em respeito à constituição. O segundo requisito constitucional é a organização de uma forma de democracia que expressa o ideal do discurso na realidade. Essa forma de democracia é a democracia deliberativa. Em vez de 'democracia deliberativa' pode falar-se também em 'democracia discursiva'. Pode pensar-se que a institucionalização dos direitos humanos como direitos fundamentais seria perfeita se eles fossem unidos como democracia discursiva. Isso, contudo, poderia significar que o legislativo parlamentar seria controlado somente por si e por argumento público. No mundo, como ele é, isto não poderia excluir violações a direitos fundamentais por justamente esse poder que deve proteger e realizar eles, ou seja, o legislativo. Para evitar isso até aonde é possível, a institucionalização da revisão constitucional tem de ser adicionada a direitos fundamentais e democracia. Isso, contudo, não somente resolve problemas, mas também causa novos. Teoria do discurso é compatível com a revisão constitucional em uma democracia deliberativa, isto é, discursiva somente se revisão constitucional, da sua parte, é tipicamente discursiva. Revisão constitucional tem um caráter discursivo se a interpretação da constituição, e especialmente dos direitos fundamentais nela contidos, pode ser concebida como um discurso que pode ser unido ao discurso democrático geral, em certo modo, que chegue mais próximo aos ideais discursivos que discurso democrático geral é capaz de chegar sozinho. Esse critério conduz a um feixe de problemas. Aqui somente a questão, se e sob quais condições a interpretação dos direitos humanos pode ser concebida como um discurso racional, deve ser de interesse.” Constituição: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: (...) II - prevalência dos direitos humanos; Art. 5º... § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Supremo Tribunal Federal: “EXTRADIÇÃO E NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DO ESTADO DE DIREITO E DO RESPEITO AOS DIREITOSHUMANOS. CONSTITUIÇÃO DO BRASIL, ARTS. 5º, § 1º E 60, § 4º. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ASSOCIAÇÃO DELITUOSA E CONFABULAÇÃO. TIPIFICAÇÕES CORRESPONDENTES NO DIREITO BRASILEIRO. NEGATIVA DE AUTORIA. COMPETÊNCIA DO PAÍS REQUERENTE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA PARA O JULGAMENTO DO CRIME DE ASSOCIAÇÃO DELITUOSA. IMPROCEDÊNCIA: DELITO PRATICADO NO PAÍS REQUERENTE. FALTA DE AUTENTICAÇÃO DE DOCUMENTOS. IRRELEVÂNCIA: DOCUMENTOS ENCAMINHADOS POR VIA DIPLOMÁTICA. PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEVIDAMENTE INSTRUÍDO. 1. Obrigação do Supremo Tribunal Federal de manter e observar os parâmetros do devido processo legal, do estado de direito e dos direitos humanos. 1 2. Informações veiculadas na mídia sobre a suspensão de nomeação de ministros da Corte Suprema de Justiça da Bolívia e possível interferência do Poder Executivo no Poder Judiciário daquele País. 3. Necessidade de se assegurar direitos fundamentais básicos ao extraditando. 4. Direitos e garantias fundamentais devem ter eficácia imediata (cf. art. 5º, § 1º); a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos deve obrigar o estado a guardar-lhes estrita observância. 5. Direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da constituição (art. 60, § 4º). 6. Direitos de caráter penal, processual e processual-penal cumprem papel fundamental na concretização do moderno estado democrático de direito. 7. A proteção judicial efetiva permite distinguir o estado de direito do estado policial e a boa aplicação dessas garantias configura elemento essencial de realização do princípio da dignidade humana na ordem jurídica. 8. Necessidade de que seja assegurada, nos pleitos extradicionais, a aplicação do princípio do devido processo legal, que exige o fair trial não apenas entre aqueles que fazem parte da relação processual, mas de todo o aparato jurisdicional. 8. Tema do juiz natural assume relevo inegável no contexto da extradição, uma vez que o pleito somente poderá ser deferido se o estado requerente dispuser de condições para assegurar julgamento com base nos princípios básicos do estado de direito, garantindo que o extraditando não será submetido a qualquer jurisdição excepcional. 9. Precedentes (Ext. No 232/Cuba-segunda, relator min. Victor Nunes Leal, DJ 14.12.1962; Ext. 347/Itália, Rel. Min. Djaci Falcão, DJ 9.6.1978; Ext. 524/Paraguai, rel. Min. Celso de Mello, DJ 8.3.1991; Ext. 633/República Popular da China, rel. Min. Celso de Mello, DJ 6.4.2001; Ext. 811/Peru, rel. Min. Celso de Mello, DJ 28.2.2003; Ext. 897/República Tcheca, rel. Min. Celso de Mello, DJ 23.09.2004; Ext. 953/Alemanha, rel. Min. Celso de Mello, DJ 11.11.2005; Ext. 977/Portugal, rel. Min. Celso de Mello, DJ 18.11.2005; Ext. 1008/Colômbia, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 11.05.2006; Ext. 1067/Alemanha, rel. Min. Marco Aurélio, DJ 01.06.2007). 10. Em juízo tópico, o Plenário entendeu que os requisitos do devido processo legal estavam presentes, tendo em vista a notícia superveniente de nomeação de novos ministros para a Corte Suprema de Justiça da Bolívia e que deveriam ser reconhecidos os esforços de consolidação do estado democrático de direito naquele país. Tráfico de entorpecentes e associação delituosa e confabulação. Crimes tipificados nos artigos 48 e 53 da Lei n. 1.008, do Regime de Coca e Substâncias Controladas. Correspondência com os delitos tipificados nos artigos 33 e 35 da Lei brasileira n. 11.343/2006. Negativa de autoria. Matéria insuscetível de exame no processo de extradição, sob pena de indevida incursão em matéria da competência do País requerente. Competência da Justiça brasileira para o julgamento do crime de associação. Improcedência, face à circunstância de o crime ter sido praticado no País requerente. Falta de autenticação de documentos que instruem o pedido de extradição. A apresentação do pedido por via diplomática constitui prova suficiente da autenticidade. Pedido de extradição devidamente instruído com: (i) a ordem de prisão emanada do País requerente, (ii) a exposição dos fatos delituosos, (iii) a data e o lugar em que praticados (iv) a comprovação da identidade do extraditando e (v) os textos legais relativos aos crimes e aos prazos prescricionais. Extradição deferida." (STF, Ext 986, Rel. Min. Eros Grau, j. 15.8.2007, Plenário, DJe-STF, de 5.10.2007) “A simples referência normativa à tortura, constante da descrição típica consubstanciada no art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente, exterioriza um universo conceitual impregnado de noções com que o senso comum e o sentimento de decência das pessoas identificam as condutas aviltantes que traduzem, na concreção de sua prática, o gesto ominoso de ofensa à dignidade da pessoa humana. A tortura constitui a negação arbitrária dos direitos humanos, pois reflete – enquanto prática ilegítima, imoral e abusiva – um inaceitável ensaio de atuação estatal tendente a asfixiar e, até mesmo, a suprimir a dignidade, a autonomia e a liberdade com que o indivíduo foi dotado, de maneira indisponível, pelo ordenamento positivo.” (STF, HC nº 70.389, Plenário, Rel. p/ o acórdão Min. Celso de Mello, j. 23.6.1994, DJe-STF, de 10.8.2001) Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 1990) Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura: Pena - reclusão de um a cinco anos. § 1º Se resultar lesão corporal grave: Pena - reclusão de dois a oito anos. § 2º Se resultar lesão corporal gravíssima: Pena - reclusão de quatro a doze anos. § 3º Se resultar morte: Pena - reclusão de quinze a trinta anos. (Revogado pela Lei 9.455, de 7.4.1997) Tortura (Lei nº 9.455/1997) Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; I - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. - Já se encontram ratificados pelo Brasil (estando em pleno vigor) praticamente todos os tratados internacionais significativos sobre direitos humanos, relativos ao sistema global de proteção dos direitos humanos (também chamado de sistema das Nações Unidas), portanto incorporados ao Direito brasileiro: - Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948); - Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951); - Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (1966); - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966); - Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966); - Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); - Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965); - Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979); - Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1999); - Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentosou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984); - Convenção sobre os Direitos da Criança (1989); - Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (1998); - Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Referentes à Venda de Crianças, à Prostituição Infantil e a Pornografia Infantil (2000); - Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados (2000); - Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, conhecida como Convenção de Mérida (2003). - No sistema interamericano de direitos humanos o Brasil também já é parte de praticamente todos os tratados existentes: - Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969); - do Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1988); - Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena de Morte (1990); - Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985); - Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994); - Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores (1994); - Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999). 2
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