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Psicologia_4

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( 4 )
Ser Humano: discutindo relações 
raciais, gênero, sexualidade e 
orientação sexual
As ideias preconcebidas, as 
racionalizações com base em premissas 
arbitrárias, a autojustificação frenética, 
a incapacidade de autocriticar-se, os 
raciocínios paranoicos, a arrogância, 
a recusa, o desprezo, a fabricação e a 
condenação de culpados são as causas e as 
consequências das piores incompreensões 
[...]. A ética da compreensão é a 
arte de viver que nos demanda, em 
primeiro lugar, compreender de modo 
desinteressado. Demanda grande 
esforço, pois não pode esperar nenhuma 
reciprocidade (MORIN, 2011, p.85-86).
Esta	unidade	tem	como	objetivo	refletir	sobre	temáticas	
de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações raciais.
Como você analisa a citação de Edgar Morin? 
Você concorda que a incompreensão entre as pessoas 
tem aumentado? Quais são as piores incompreensões?
O que você faz para compreender o outro?
Morin (2011, p. 81) evidencia, no seu livro Os sete Sa-
beres necessários à Educação do futuro, que “há importantes 
e múltiplos progressos na compreensão, mas o avanço da in-
compreensão parece ainda maior.”
Com o autor, entendemos que a compreensão entre as 
pessoas precisa ser ensinada como condição e garantia da so-
lidariedade intelectual e moral da humanidade. Vamos dis-
cutir mais essa questão a partir da leitura do texto a seguir:
Cláudia Vaz Torres
Olá!
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As duas compreensões
A comunicação não garante a com-
preensão.
A informação, se for bem transmitida 
e compreendida, traz inteligibilidade, 
condição primeira necessária, mas não 
suficiente, para a compreensão.
Há duas formas de compreensão: a 
compreensão intelectual ou objetiva e 
a compreensão humana intersubjetiva. 
Compreender significa intelectualmente 
apreender em conjunto, com-prehende-
re, abraçar junto (o texto e seu contexto, 
as partes e o todo, o múltiplo e o uno). 
A compreensão intelectual passa pela 
inteligibilidade e pela explicação. [...] A 
compreensão humana vai além da ex-
plicação. A explicação é bastante para a 
compreensão intelectual ou objetiva das 
coisas anônimas ou materiais. É insufi-
ciente para a compreensão humana. 
Esta comporta um conhecimento de su-
jeito a sujeito. Por conseguinte, se vejo 
uma criança chorando, vou compreen-
dê-la, não por medir o grau de salinida-
de de suas lágrimas, mas por buscar em 
minhas aflições infantis, identificando-
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-a comigo e identificando-me com ela. 
O outro não apenas é percebido objeti-
vamente, é percebido como outro sujei-
to com o qual nos identificamos e que 
identificamos conosco, o ego alter que 
se torna alter ego. Compreender in-
clui, necessariamente, um processo de 
empatia, de identificação e de projeção. 
Sempre intersubjetiva, a compreensão 
pede abertura, simpatia e generosidade 
(MORIN, 2011, p. 82).
Compreender, então, envolve apreender em conjunto 
o ser e o seu meio ambiente, à complexidade do ser humano 
com seus desejos, anseios, ideologias, orientações, isto é, to-
das as condições do comportamento humano.
Para compreender o outro, é preciso a compreensão de 
si, com suas carências, seus sucessos e suas fragilidades. É 
preciso, ainda, lidar com os obstáculos intrínsecos à compre-
ensão, a saber: o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocen-
trismo e a indiferença. O etnocentrismo, que designa o sen-
timento de superioridade que uma cultura tem em relação a 
outras culturas, e o sociocentrismo, que tem como caracte-
rística situar-se no centro do mundo e considerar como se-
cundário tudo que é estranho, conforme analisa Morin (2011), 
nutrem xenofobias e racismos e podem despojar o estranho, o 
estrangeiro da qualidade de ser humano.
Nos contextos escolares, de trabalho, de lazer, entre 
outros, são evidenciadas a diversidade e a heterogeneidade 
dos sujeitos que estão envolvidos em uma complexa rede de 
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relações sociais e de poder. Há contextos em que predomi-
nam o sexismo, o racismo, a homofobia e outras formas de 
violência, porém é preciso sempre explorar e incentivar as 
redes de compreensão e solidariedade entre todos e, prin-
cipalmente, entre aqueles que vivenciam a exclusão social, 
racial, de gênero e de sexualidade. 
O racismo é uma questão complexa, analisada por 
pesquisadores, que envolve tensões e cuidados. Diferen-
tes concepções abordam a questão racial referindo-se a um 
comportamento, uma ação resultante da aversão ou do ódio 
em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial 
observável por meio de sinais, como cor da pele, tipo de ca-
belo, etc., bem como a um conjunto de ideias e imagens re-
ferentes aos grupos humanos que acreditam na supremacia 
de uma raça (GOMES, 2005). 
O racismo é um comportamento social que se expres-
sa, de modo individual, por meio de atos discriminatórios, 
como agressões e outras violências de indivíduo para indi-
víduo e institucionais, quando há práticas discriminatórias 
sistemáticas que se manifestam pelo isolamento dos negros 
em bairros, escolas e empregos (GOMES, 2005). 
No Brasil, a discussão sobre racismo, discriminação 
racial, democracia racial, enfim, sobre as relações raciais 
é marcada por divergências entre atores sociais, pesqui-
sadores e militantes. 
Nesta discussão, é importante destacar o Movimen-
to Negro, que resgata a cultura afro-brasileira e denuncia 
a desigualdade e segregação racial que atinge a população 
negra, denuncia, ainda, a neutralidade do Estado diante da 
desigualdade racial e reivindica a adoção de políticas de ação 
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afirmativa	 e	 inserção	 de	 ativistas	 nas	 administrações	 fede-
rais, estaduais e municipais. O Movimento Negro desmisti-
fica	o	mito	da	democracia	racial	no	Brasil.	
O Movimento Negro e outros pesquisadores, explica 
Gomes (2005), usam o termo raça baseados na dimensão so-
cial e política do referido termo, e não mais como era origi-
nalmente usado no século XIX, alicerçadas na ideia de raças 
superiores e inferiores. Utilizam, também, “[...] porque a dis-
criminação racial e o racismo existentes na sociedade brasi-
leira se dão não apenas devido aos aspetos culturais dos re-
presentantes de diversos grupos étnico-raciais, mas também 
devido à relação que se faz na nossa sociedade entre esses e 
os aspectos físicos observáveis na estética corporal dos per-
tencentes às mesmas” (GOMES, 2005, p. 45).
Mas, você sabe quem é negro?
Essa	difícil	tarefa	de	identificar	e	definir	quem	é	negro	
no Brasil é analisada pelo antropólogo Kabengele Munanga, 
professor-titular	da	Faculdade	de	Filosofia,	Letras	e	Ciências	
Humanas da USP. Leia um trecho da entrevista, a seguir:
ESTUDOS AVANÇADOS – Quem 
é negro no Brasil? É um problema de 
identidade ou de denominação? 
Kabengele Munanga – Parece simples 
definir quem é negro no Brasil. Mas, 
num país que desenvolveu o desejo de 
branqueamento, não é fácil apresentar 
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uma definição de quem é negro ou não. 
Há pessoas negras que introjetaram o 
ideal de branqueamento e não se consi-
deram como negras. Assim, a questão 
da identidade do negro é um processo 
doloroso. Os conceitos de negro e de 
branco têm um fundamentoetno-se-
mântico, político e ideológico, mas não 
um conteúdo biológico. Politicamente, 
os que atuam nos movimentos negros 
organizados qualificam como negra 
qualquer pessoa que tenha essa aparên-
cia. É uma qualificação política que se 
aproxima da definição norte-america-
na. Nos EUA não existe pardo, mulato 
ou mestiço e qualquer descendente de 
negro pode simplesmente se apresentar 
como negro. Portanto, por mais que te-
nha uma aparência de branco, a pessoa 
pode se declarar como negro. 
No contexto atual, no Brasil, a questão 
é problemática, porque, quando se colo-
cam em foco políticas de ações afirma-
tivas – cotas, por exemplo –, o conceito 
de negro torna-se complexo. Entra em 
jogo também o conceito de afro-descen-
dente, forjado pelos próprios negros na 
busca da unidade com os mestiços. 
Com os estudos da genética, por meio 
da biologia molecular, mostrando que 
muitos brasileiros aparentemente bran-
cos trazem marcadores genéticos afri-
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canos, cada um pode se dizer um afro-
-descendente. Trata-se de uma decisão 
política. 
Se um garoto, aparentemente branco, 
declara-se como negro e reivindicar 
seus direitos, num caso relacionado 
com as cotas, não há como contestar. 
O único jeito é submeter essa pessoa 
a um teste de DNA. Porém, isso não é 
aconselhável, porque, seguindo por tal 
caminho, todos os brasileiros deverão 
fazer testes. E o mesmo sucederia com 
afro-descendentes que têm marcadores 
genéticos europeus, porque muitos de 
nossos mestiços são euro-descendentes.
(http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340142004000100005&script=sci_arttext)
Sabemos que essa discussão é complexa e com muitas 
discordâncias, uma vez que envolve o conceito de identidade 
com todos os traços culturais, posições sociais, políticas e his-
tóricas que marcam a nossa condição.
Os dados estatísticos produzidos pelo IBGE, através 
do Censo de 2010, indicam que mais pessoas estão se de-
clarando pardas e negras.
 
Negros e pardos – Os dados trazem 
ainda a informação de que há mais 
pessoas se declarando pretas e pardas. 
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Este grupo subiu para 43,1% e 7,6%, 
respectivamente, na década de 2000, 
enquanto, no censo anterior, era 38,4% 
e 6,2% do total da população brasileira. 
Já a população branca representava, em 
2010, 47,7% do total; a população ama-
rela (oriental) 1,1% e, a indígena, 0,4%. 
(IBGE, 2010)
Podemos agregar pretos e pardos para formar o 
grupo racial negro, uma vez que, analisa Santos (2002), o 
racismo no Brasil não faz uma distinção muito significa-
tiva entre os grupos. 
Na nossa sociedade, há uma negação do racismo e do 
preconceito racial, analisam militantes, mas os dados indi-
cam que há discriminação e desigualdade racial quando é 
feita uma comparação com outros segmentos étnico-raciais. 
Você se lembra da campanha nacional Diálogos contra 
o racismo: pela igualdade racial, que perguntava: “Onde você 
guarda o seu racismo?”
Assista aos vídeos:
Diálogos contra o racismo
http://www.youtube.com/watch?v=yX8Y6S1l8nw
http://www.youtube.com/watch?v=3YEx5O9SDK4
Então, responda: onde você guarda o seu racismo?
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Em 21 de março de 2003, Dia Internacional pela Eli-
minação da Discriminação Racial, instituído pela Orga-
nização das Nações Unidas, ampliou-se o debate sobre a 
igualdade racial e surgiu a Secretaria de Políticas de Pro-
moção da Igualdade Racial. 
Vamos conhecer os objetivos da Secretaria:
Criada pela Medida Provisória n° 111, 
de 21 de março de 2003, convertida 
na Lei 10.678, a Secretaria de Políti-
cas de Promoção da Igualdade Racial 
da Presidência da República nasce do 
reconhecimento das lutas históricas do 
Movimento Negro brasileiro. A data 
é emblemática, pois em todo o mundo 
celebra-se o Dia Internacional pela Eli-
minação da Discriminação Racial, ins-
tituído pela Organização das Nações 
Unidas (ONU), em memória do Mas-
sacre de Shaperville. Em 21 de março 
de 1960, 20.000 negros protestavam 
contra a lei do passe, que os obrigava a 
portar cartões de identificação, especi-
ficando os locais por onde eles podiam 
circular. Isso aconteceu na cidade de 
Joanesburgo, na África do Sul. Mes-
mo sendo uma manifestação pacífica, 
o exército atirou sobre a multidão e o 
saldo da violência foram 69 mortos e 
186 feridos.
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 Finalidades:
- Formulação, coordenação e articula-
ção de políticas e diretrizes para a pro-
moção da igualdade racial;
- Formulação, coordenação e avaliação 
das políticas públicas afirmativas de 
promoção da igualdade e da proteção 
dos direitos de indivíduos e grupos ét-
nicos, com ênfase na população negra, 
afetados por discriminação racial e de-
mais formas de intolerância;
- Articulação, promoção e acompanha-
mento da execução dos programas de 
cooperação com organismos nacionais 
e internacionais, públicos e privados, 
voltados à implementação da promoção 
da igualdade racial;
- Coordenação e acompanhamento das 
políticas transversais de governo para 
a promoção da igualdade racial;
- Planejamento, coordenação da execu-
ção e avaliação do Programa Nacional 
de Ações Afirmativas;
- Acompanhamento da implementa-
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ção de legislação de ação afirmativa e 
definição de ações públicas que visem 
o cumprimento de acordos, convenções 
e outros instrumentos congêneres assi-
nados pelo Brasil, nos aspectos relati-
vos à promoção da igualdade e combate 
à discriminação racial ou étnica.
 Documento de referência
A SEPPIR utiliza como referência 
política o Estatuto da Igualdade Ra-
cial (Lei 12.288/2010), que orientou a 
elaboração do Plano Plurianual (PPA 
2012-2015), resultando na criação de 
um programa específico intitulado 
“Enfrentamento ao Racismo e Pro-
moção da Igualdade Racial”. Resultou 
também na incorporação desses temas 
em 25 outros programas, totalizando 
121 metas, 87 iniciativas e 19 ações 
orçamentárias, em diferentes áreas da 
ação governamental.
Em 2003, foi sancionada a Lei nº 10639, que alterou a Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, e 
incluiu	no	currículo	oficial	da	rede	de	ensino	a	obrigatorie-
dade da temática História e Cultura Afro-brasileira. A Lei nº 
10639 impulsionou a realização de programas e ações que re-
forçassem o direito à diversidade étnico-racial nos currículos, 
políticas educacionais, programas de ensino, entre outros.
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Com avanços e limites, a Lei 10.639/03 
e suas Diretrizes Curriculares Na-
cionais para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino da His-
tória Afro-Brasileira e Africana (BRA-
SIL, 2004) possibilitaram uma inflexão 
na educação brasileira. Elas fazem par-
te de uma modalidade de política até 
então pouco adotada pelo Estado brasi-
leiro e pelo próprio MEC. São políticas 
de ação afirmativa voltadas para a valo-
rização da identidade, da memória e da 
culturanegras reivindicadas pelo Mo-
vimento Negro e demais movimentos 
sociais partícipes da luta anti-racista.
[...]
É importante reconhecer que a Lei 
10.639/03 e suas diretrizes represen-
tam a implementação de ações afirma-
tivas voltadas para a população negra 
brasileira, as quais são (e devem ser!) 
desenvolvidas juntamente com as po-
líticas públicas de caráter universal. 
Trata-se de uma demanda política do 
Movimento Negro nos dias atuais e de 
outros movimentos sociais partícipes 
da luta anti-racista na construção da 
democracia.
Uma democracia que assuma o direito 
à diversidade como parte constitutiva 
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dos direitos sociais e assim equacione 
de forma mais sistemática a diversida-
de étnico-racial, a igualdade e a equida-
de. (GOMES, 2011, s.p.)
Depreendemos, então, que a Lei nº 10.639/03 e suas di-
retrizes	 representam	a	 implementação	de	ações	afirmativas	
para atender à população negra. O Movimento Negro, ao des-
mistificar	o	mito	da	democracia	racial	no	Brasil,	posiciona-se	
contra o racismo e luta para que todos tenham condições dig-
nas de vida e oportunidades iguais. 
Vamos, então, refletir sobre outras temáticas, como 
o gênero, a sexualidade e a orientação sexual, que tam-
bém produzem situações de exclusão. Será uma análise 
introdutória sobre os condicionantes de gênero, a sexua-
lidade e a orientação sexual. Procure ampliar os estudos 
com as leituras indicadas. 
(4.1)
O que é Gênero?
As	relações,	historicamente,	definiram	lugares	sociais	
diferenciados para homens e mulheres. Tomando por base 
Scott	(1992),	que	define	gênero	como	um	elemento	constitu-
tivo das relações sociais baseadas nas diferenças que distin-
guem os sexos, ou nas diferenças percebidas entre os sexos, 
entende-se que as mulheres e os homens são tratados de modo 
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diferente desde o seu nascimento, em consequência do sexo 
biológico.	O	meio	social	fornece	e	imprime	significados	dife-
rentes para o comportamento de mulheres e homens que vão 
sendo introjetados e assumidos como naturais e pertencentes 
a	um	ou	outro.	Gênero	é	assim	definido	por	Scott	(1991,	p.	4):	
“[...] é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado.”
Quais são as categorias impostas aos gêneros masculi-
no e feminino? São opostas, não são?
Vamos nos lembrar de algumas:
Homens: razão - mulheres: mais emoção
Homens: dominação - Mulheres: submissão
Homens: público - Mulheres: privado
Homens: fora - Mulheres: dentro
O conceito de gênero permitiu o abandono das concep-
ções biológicas e estigmatizantes e enriqueceu as discussões 
através da análise das contradições internas e das articula-
ções da constituição do feminino e do masculino com o meio 
social, com todas as marcas da diversidade e da instabilidade. 
Como analisa Guacira Louro (2003), as diferenças de 
gênero e sexualidade que são atribuídas às mulheres se ex-
pressam materialmente nos seus corpos e nas suas vidas de 
modo	concreto,	ou	seja,	o	significante	de	diferente	é	formado	
por representações e práticas sociais discursivas que demar-
cam e atribuem sentidos aos corpos e às identidades.
Na cultura, mulheres e homens encontrarão elemen-
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tos que construirão as suas identidades. Há um investi-
mento contínuo de um e outro, para assumirem os sinais 
considerados próprios na trajetória da constituição do ser 
homem e do ser mulher. A cultura atribui funções reais 
e simbólicas próprias de cada um, mas é no interior dos 
processos e estruturas psíquicas inconscientes que esses 
traços	 são	 internalizados,	 reelaborados,	 ressignificados	 e	
transformados em valores e atitudes. 
(4.2)
Identidade de Gênero
O conceito de identidade de gênero é um importante 
aspecto a ser estudado no processo de construção da iden-
tidade. A identidade não é construída da mesma forma por 
homens e mulheres. Cada um se apropria da realidade sim-
bólica e sociocultural a partir da interpretação que faz da 
diferença anatômica entre os sexos. “O sexo é socialmente 
modelado”,	diz	Saffioti	 (1992,	p.189).	Pode-se	nascer	do	sexo	
masculino e, culturalmente, tornar-se mulher. Atitudes fe-
mininas podem ser tomadas tanto por homens quanto por 
mulheres. Há diferenças entre sexo biológico e a questão de 
gênero. Ser homem ou ser mulher varia de acordo com as 
condições sócio-históricas em que valores, tabus e sanções 
são	 transmitidos,	 introjetados	 e	 ressignificados,	 resultando	
em posicionamentos diferentes frente ao mundo.
Para	Saffioti	(1992):
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[...] o gênero é uma maneira contem-
porânea de organizar normas culturais 
passadas e futuras, um modo de a pes-
soa situar-se em e através destas nor-
mas, um estilo ativo de viver o corpo no 
mundo. (SAFFIOTI, 1992, p.189)
O gênero não pode ser entendido apenas como uma 
resultante	das	 influências	das	relações	sociais	estabelecidas	
ao longo do desenvolvimento. 
Gênero é uma questão social, política. Ser mulher e ser 
homem são posições diferentes. Tratar de gênero implica situar a 
identidade feminina e masculina nas diferentes instâncias sociais.
Significa,	também,	entender	que	o	mundo	social	impri-
me no corpo e na percepção os princípios sociais de divisão, 
de diferença e de dominação dos homens sobre as mulheres. 
Encoraja as práticas que convêm a um ou a outro sexo, organi-
za as posturas corporais, direciona os impulsos e enaltece os 
traços que simbolizam os valores que estão de acordo com a vi-
são falocêntrica do mundo. Assim, Bourdieu (1995) acrescenta:
Não é o falo (ou sua ausência) que é o 
principio gerador dessa visão do mun-
do, mas é essa visão do mundo que, 
estando organizada (por razões sociais 
que seria necessário tentar descobrir) 
segundo a divisão em gêneros rela-
cionais, masculino e feminino, pode 
instituir o falo [...] e basear na objeti-
vidade de uma diferença natural entre 
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os corpos biológicos à diferença social 
entre duas essências hierarquizadas. 
(BOURDIEU, 1995, p.149)
O discurso da diferença entre os sexos com identida-
des, qualidades, interesses e aptidões particulares engendra 
a constituição de espaços unicamente reservados ao sexo 
masculino, restando, à mulher, o investimento na família, no 
mundo doméstico. Essas ideias encontram ressonância entre 
os homens, revalidando o seu poder sobre as mulheres e a ex-
clusão das mesmas do poder político. Imersos em um espaço 
de partilha, homens e mulheres, através dos mais diversos 
instrumentos,	códigos	e	signos,	afirmam-se	e	assumem	dis-
tintos papéis sociais.
 Falar do caráter histórico e cultural da construção da 
identidade só faz sentido quando, independentemente de se 
negar a diferença biológica entre os sexos, parte-se do pressu-
posto de que os homens, para exercerem o domínio, constro-
em um quadro de referência subjetivo, no qual é reservado à 
mulher a submissão, a contemplação, a meiguice, a emoção e 
a sensibilidade. A eles são atribuídas a objetividade, a compe-
titividade, a praticidade, a determinação e a inteligência, den-
tre outras características relevantes e valorizadas na maioria 
das sociedades, em diferentesperíodos da história.
Assista ao vídeo Acorda Raimundo e analise os papéis 
designados às mulheres e aos homens na nossa sociedade:
http://vimeo.com/5859490
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Vamos continuar discutindo gênero a partir da análise 
do conceito de sexualidade e orientação sexual.
(4.3)
Sexualidade, Gênero e 
Orientação Sexual
Inicie a leitura, respondendo às questões: 
O que é sexo? 
O que é gênero? 
O que é orientação sexual?
A sexualidade é um aspecto constitutivo da nossa vida.
E o que é sexualidade para você?
O conceito de sexualidade humana não pode ser com-
preendido sem uma análise das dimensões biológica, psico-
lógica, social e histórica das experiências vividas por homens 
e mulheres. De acordo com Foucault (1988, p. 78), a sexua-
lidade é o correlato de uma prática discursiva desenvolvida 
lentamente, que é a scientia sexualis. 
As características fundamentais a essa 
sexualidade não traduzem uma repre-
sentação mais ou menos confundida 
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pela ideologia, ou um desconhecimento 
induzido pelas interdições; correspon-
dem às exigências funcionais do dis-
curso que deve produzir sua verdade. 
No ponto de intersecção entre uma téc-
nica de confissão e uma discursividade 
científica [...] a sexualidade foi definida 
como sendo, “por natureza”, um domí-
nio penetrável por processos patológi-
cos, solicitando, portanto, intervenções 
terapêuticas ou de normalização; um 
campo de significações a decifrar; um 
lugar de processos ocultos por meca-
nismos específicos; um foco de relações 
causais infinitas, uma palavra obscura 
que é preciso, ao mesmo tempo, desen-
cavar e escutar. 
Compreende-se, com Foucault (1988), que a sexualidade 
tem uma densidade nas relações humanas que são, também, 
relações de poder, podendo servir como ponto de manipula-
ção, de apoio e de articulação das mais variadas estratégias. A 
sexualidade, para o autor, é um dispositivo histórico de estraté-
gias de saber e poder que envolve a estimulação dos corpos, a 
intensificação	dos	prazeres,	a	incitação	ao	discurso,	a	formação	
dos conhecimentos, o reforço dos controles e a resistência.
O autor acrescenta que o dispositivo da sexualidade 
desenvolveu-se nas margens das instituições familiares, nas 
instituições religiosas, nas práticas pedagógicas e posterior-
mente centrou-se na família. Os pais são os principais agentes 
de um dispositivo de sexualidade que, no exterior, se apoia nos 
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médicos, padres, pedagogos e outros. A família, pela sua pene-
trabilidade	e	sua	influência,	é	fundamental	como	dispositivo	
de sexualidade, pois se incumbe de difundir uma sexualidade 
“que	de	fato	reflete	e	difrata”	(FOUCAULT,	1988,	p.	122).		
Concordando com outros autores, Tereza Fagundes 
(2005) admite que:
Para dar conta do entendimento desta 
dimensão humana que é a sexualidade, 
é preciso, contudo, analisá-la como um 
processo relacional intenso que se fun-
damenta, basicamente, em elementos 
discretos, mas complementares: o po-
tencial biológico, as relações sociais de 
gênero e a capacidade psicoemocional 
dos indivíduos. Neste sentido, é possí-
vel admitir, para uma mais sólida com-
preensão, que a sexualidade tenha três 
grandes componentes: o biológico, o 
psicológico e o sociocultural. (FAGUN-
DES, 2005, p.16)
Depreende-se que a sexualidade precisa ser compre-
endida na su à complexidade e nas variações que a caracte-
rizam. Nos diferentes processos de subjetivação e modos de 
viver os gêneros e a sexualidade, a dimensão biológica está 
em sintonia com o corpo, com a dimensão psicológica da se-
xualidade e com as condições sociais, culturais e históricas 
nas quais homens e mulheres estão inseridos. 
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De acordo com a determinação genética ou biológica, 
temos o sexo feminino e o masculino, porém apenas o sexo 
social,	o	gênero	e	suas	relações	nos	permitem	refletir	sobre	as	
construções simbólicas e históricas de homens e mulheres a 
partir das diferenças biológicas que norteiam a construção da 
identidade do sujeito, abarcando a divisão de papéis sociais, 
a divisão de trabalho, a desigualdade das relações e o acesso 
aos recursos disponíveis que são compatíveis com o momen-
to social e histórico.
(4.4)
Sexualidade e identidade de 
gênero: qual é a relação?
O conceito de sexualidade se encontra imbricado no 
conceito de identidade de gênero e ambos perpassam a 
construção cultural da diferença entre os sexos. O emprego 
do termo identidade de gênero como um conjunto de tra-
ços	 construídos	 social	 e	 culturalmente,	 definindo	 gestos,	
comportamentos, modos de falar, vestir e agir para homens 
e mulheres, nem sempre está em consonância com o sexo 
biológico	do	sujeito,	pois	não	é	uma	estrutura	fixa,	fechada	
e	sem	possibilidade	de	tencionamentos	e	conflitos.	A	iden-
tidade de gênero é resultante de construções singulares 
durante o processo de desenvolvimento e socialização do 
indivíduo, a identidade de gênero está fortemente ligada à 
representação dos papéis sociais.
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Como analisa Tereza Fagundes (2001):
[...] dada a natureza do conceito de 
gênero como uma categoria social, a 
identidade e o papel das mulheres e de 
homens estão afinados com os estereóti-
pos culturais, fundamentados nas dife-
renças genitais – feminina e masculina 
– que as transcendem. (FAGUNDES, 
2001, p.43)
Não há, acrescenta essa autora, uma única forma de 
explicar a construção da identidade de gênero. Existem as 
orientações biológica e psicanalítica e, ainda, a abordagem 
sociocultural para explicar como homens e mulheres cons-
troem a sua identidade. 
(4.5)
“Ninguém nasce mulher [...]”
Simone Beauvoir (1980, p. 13) sublinha a constituição 
do feminino como condição social ao postular que “Ninguém 
nasce mulher, torna-se mulher”. A autora evidencia que o sen-
timento de soberania dos homens em relação às mulheres é in-
ventado pelos adultos e aceito pelos meninos como modo com-
pensatório	de	justificar	a	diminuição	ou	ausência	de	afagos	e	
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carinhos por conta do crescimento. A partir daí, inaugura-se 
uma sociedade desigual, em que a superioridade masculina 
se	afirma.	Do	mesmo	modo,	a	influência	da	educação	e	do	am-
biente desencadeia o desenvolvimento de traços como a passi-
vidade, que caracteriza essencialmente a mulher “feminina”. 
Simone	Beauvoir	(1980)	também	afirma	que	as	mulhe-
res não têm domínio sobre o mundo masculino porque são 
ensinadas a serem passivas e a aceitarem a autoridade do ho-
mem, não aprendendo a tomar a iniciativa, a manejar a lógica 
e a técnica. Como o Outro, a mulher desempenha o papel que 
a sociedade dela espera: ser submissa, dócil e indefesa. 
A partir de Beauvoir (1980), compreendemos que a 
análise dos processos e práticas sociais e culturais é im-
portante para intervenções nas relações de poder entre 
homens e mulheres. 
Admite-se, então, que a pesquisa contemporânea das 
identidades e sexualidades necessita assumir uma visão 
ampliada desses assuntos, distanciando-se de uma essência 
universal,inerente, de impulso biológico. Para compreender 
as identidades e a sexualidade, é preciso pensar que elas são 
influenciadas	por	valores	sociais	e	por	questões	individuais.	
Então, não há uma essência universal... A anatomia não é o destino para 
ninguém, dizem pesquisadores sobre o assunto.
E você concorda que, hoje, nós estamos circulando entre 
os gêneros, como foi comentado por uma estudante numa das 
aulas de Psicologia e Comportamento? Pense sobre o assunto!
Críticas feministas, como Leonore Tiefer (1993) e Mar-
gareth Rago (2001), discutem em profundidade as premissas 
essencialistas	que	postulam	um	caráter	fixo	e	eterno	à	nature-
za humana. Insistem que a sexualidade não é biologicamente 
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dada, não é uma qualidade humana inerente, não é um ins-
tinto, mas, ao contrário, é um modo de ser e de se relacionar a 
partir da cultura, da história e da organização social. 
Destaca-se, ainda, que as concepções não biologizantes 
da sexualidade postulam que, na constituição do sujeito se-
xuado, estão imbricadas as diferenças e as desigualdades de 
classe, raça/etnia, gênero e geração entre homens e mulheres, 
assim como a dimensão corporal. É, então, ao longo do desen-
volvimento que a criança, na interação entre os indivíduos e 
as estruturas sociais, constrói seu corpo sexuado, que envol-
ve um aprendizado sobre o corpo, o gênero e a sexualidade. 
Com relação à sexualidade, a mesma é vivida pela 
pessoa individualmente, porém é constituída a partir do 
campo das relações sociais, da cultura, dos valores e das 
formas sociais de vida. 
Numa perspectiva culturalista é pos-
sível vislumbrar que os constructos 
relacionados ao ser mulher surgem em 
oposição ao significado do ser homem, 
numa sociedade com esquemas de re-
lacionamentos sociais bem definidos; 
são introjetadas nas meninas e nos 
meninos, desde muito cedo, em diver-
sos âmbitos de suas personalidades 
e do seu ser social, as dicotomias asso-
ciadas à divisão homem-mulher, tais 
como: caça, coleta, dominação-submis-
são, luz-sombra, ciência-magia, razão-
-intuição, cultura- natureza, força-
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-fragilidade, para-fora-para-dentro, 
superioridade-inferioridade, produção-
-reprodução, mundo público-mundo 
privado, de forma a tornar aparente-
mente natural, a identidade que, às 
mulheres e aos homens, foi socialmente 
imposta. E essas construções sobre o ser 
homem e o ser mulher interferem dire-
tamente em suas vivências sexuais. A 
mulher pode inibir o seu desejo em con-
sequência de ter aprendido a ser pas-
siva, paciente, obediente, não ousada. 
Pode, por outro lado, exacerbá-lo como 
uma forma de quebrar drasticamente os 
padrões que lhe foram impostos. O ho-
mem que aprendeu a ter o poder sobre a 
mulher, a mostrar-se viril, forte e sem-
pre ativo pode desenvolver erotomania 
ou, em menor escala, diante de pressões 
sociais maiores que lhe façam sentir-se 
pequeno, fraco, sem poder manifestar 
inapetência sexual. (FAGUNDES, 
2008, s.p.) 
E a orientação sexual?
A orientação sexual envolve uma relação entre dese-
jo, comportamento e identidade sem linearidade e direção 
única. Então, não se deve pressupor uma relação direta en-
tre o desejo que uma pessoa sente ao seu comportamento 
sexual e o modo como percebe a si mesmo. “É possível, por 
exemplo, praticar relações homossexuais sem se considerar 
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homossexual ou bissexual, assim como sentir desejos ho-
mossexuais sem manter relações homossexuais” (ARAU-
JO; PEREIRA, 2009, p. 129).
A orientação sexual, analisam Araujo e Pereira (2009), 
refere-se ao sexo das pessoas que elegemos como objetos de 
desejo e afeto. A heterossexualidade, a homossexualidade e 
a bissexualidade são tipos de orientação sexual. A heterosse-
xualidade se caracteriza pela atração afetiva, sexual e erótica 
por pessoas de outro gênero. A homossexualidade diz respei-
to à atração afetiva, sexual e erótica por pessoas do mesmo 
gênero e a bissexualidade, à atração afetiva, sexual e erótica 
por pessoas do mesmo gênero e do gênero oposto.
Utilizamos o termo orientação sexual e não mais 
opção sexual, pois a definição dos objetos de desejo não 
resulta de uma opção mecânica e voluntariosa. Os nossos 
desejos resultam das vivências, construção de sentidos e 
do contexto social. 
Informação:
Você sabia que, segundo o Censo de 2010, há mais de 60 
mil pessoas vivendo com parceiros do mesmo sexo? 
Casais gays – A pesquisa do IBGE 
mostra que o Brasil já registra mais de 
60 mil pessoas vivendo com parceiros 
do mesmo sexo. A região Sudeste é a 
que tem mais casais que se assumiram 
homossexuais, com 32.202. Em segui-
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da, está a região Nordeste, com 12.196; 
e a Sul, com 8.034. O número repre-
senta 0,2% do total de cônjuges (37,547 
milhões) em todo o país. É a primeira 
vez que o dado foi pesquisado.
(http://blog.planalto.gov.br/censo-2010-populacao-brasileira-esta-mais-velha-e-chega-
-a-190-755-799/)
Retomamos, então, o conceito de “sexualidade como 
elemento constitutivo da pessoa, é dimensão e expressão da 
personalidade” (FAGUNDES, 2005, p. 14). Então, com base na 
autora, compreendemos que a sexualidade manifesta-se in-
dependente de qualquer ensinamento e é um modo singular 
de viver, investir afeto, ser e se relacionar, construído a partir 
da cultura, da história e da organização social.
Vamos	finalizar	a	nossa	aula	com	a	leitura	do	texto:
“Estar atenta ao intolerável” – critério 
significativo para alguém reconhecer 
o que vale a pena colocar em primeiro 
plano em sua vida, em suas reflexões 
e ações. Essa idéia, que não é minha, 
tomei emprestada de uma estudiosa 
espanhola chamada Maite Larrauri. 
Ela parece justificar minhas escolhas 
acadêmicas e profissionais. Pergunta-
da sobre que vem a ser “o intolerável”, 
Maite responde que não pode ser aquilo 
que muita gente acha que é, pois “uma 
das condições do intolerável é que, para 
a maioria, não é intolerável, mas nor-
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mal” (Larrauri, 2000, p.14). O que eu 
considero intolerável possivelmente é 
colocado, por outros ou por muitos, no 
plano do aceitável, talvez no âmbito do 
comum ou do “normal”.
Desprezar alguém por ser gay ou por 
ser lésbica é, para mim, intolerável. No 
entanto, na nossa sociedade, essa parece 
ser uma atitude comum, corriqueira, tal-
vez mesmo “compreensível”. Conviver 
com um sistema de leis, de normas e de 
preceitos jurídicos, religiosos, morais ou 
educacionais que discriminam sujeitos 
porque suas práticas amorosas e sexuais 
não são heterossexuais é, para mim, in-
tolerável. Mas esse quadro parece repre-
sentar, em linhas mais ou menos gerais, 
a sociedade brasileira. Por isso, sinto-me 
autorizada a afirmar que a sexualidade 
ou as tensões em torno da sexualidade 
constituem-se numa questão que vale a 
pena colocar em primeiro plano.
Vale a pena observar também, imedia-
tamente, que o que se coloca aqui é mais 
do que um problema de atitude. Esta é 
uma questão que se enraíza e se cons-
titui nas instituições, nas normas, nos 
discursos, nas práticas que circulam 
e dão sentido a uma sociedade – nes-
te caso, a nossa. As formasde viver a 
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sexualidade, de experimentar prazeres 
e desejos, mais do que problemas ou 
questões de indivíduos, precisam ser 
compreendidas como problemas ou 
questões da sociedade e da cultura.
(LOURO, 2003, s.p.)
SÍNTESE
Nesta	 aula,	 refletimos	 sobre	 temáticas	de	 gênero,	 se-
xualidade e orientação sexual e relações raciais. Vimos que o 
conceito de sexualidade se encontra imbricado no conceito de 
identidade de gênero e ambos perpassam a construção cul-
tural da diferença entre os sexos, e que há contextos em que 
predomina o sexismo, o racismo, a homofobia e outras formas 
de violência. Porém, é preciso sempre explorar e incentivar 
as redes de compreensão e solidariedade entre todos e, prin-
cipalmente, entre aqueles que vivenciam a exclusão social, 
racial, de gênero e de sexualidade. 
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Assista aos vídeos e responda:
Os	segredos	do	casamento,	de	Stephen	Kanitz,	disponível	em:	
<http://www.kanitz.com/index_refresh.htm>.	 Acesso	 em:	 17	
ago.2012.
Entrevista	 com	 Stephen	Kanitz,	 no	 Programa	 “Mais	 Você”,	
disponível	 em:	 <http://www.kanitz.com/entrevistas.htm>.	
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Acesso em: 17 ago.2012
Por que alguns grupos não conseguem aceitar o 
direcionamento sexual de cada pessoa?
LEITURAS INDICADAS
Negros e Negras Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais (LGBT): construindo políticas públicas para 
avançar na igualdade de direitos.
“Num momento em que diversos órgãos governamentais 
buscam avançar na garantia dos direitos e na construção de 
políticas públicas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis 
e transexuais, em suas respectivas áreas de competência, 
a SEPPIR se engaja nesse esforço criando as condições 
necessárias em âmbito interno para que a pauta LGBT, 
legitimamente reivindicada por negras e negros pertencentes 
a esta parcela da população, possa ser incorporada ao 
conjunto	das	ações	deste	Ministério.”	Disponível	em:	<http://
www.seppir.gov.br/publicacoes>. Acesso em: 17 ago.2012.
FAGUNDES, T. Sexualidade humana: causas socio-
culturais	 das	 disfunções	 sexuais.	 Disponível	 em:	 <http://
www.sexoemocoes.com.br/index.php/home/41-artigos-
rapidos/106-sexualidade-humana-causas-socio-culturais-
das-disfuncoes-sexuais>. Acesso em: 17 ago.2012.
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SITES INDICADOS
http://www.unifem.org.br/005/00502001.asp?ttCD_CHA-
VE=26287
http://www.spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes-2011
http://www.spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2009/
impacto-da-crise-sobre-as-mulheres.pdf
h t t p : / / w ww. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p? s c r i p t = s c i _
issuetoc&pid=0104-833320110001&lng=pt&nrm=iso
http://www.pagu.unicamp.br/node/8
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EQFjAA&url=http%3A%2F%2Fportal.mec.gov.br%2Findex.
php%3Foption%3Dcom_docman%26task%3Ddoc_download
%26gid%3D658%26Itemid%3D&ei=yrMxUIzNLKPd0QH8hI
BI&usg=AFQjCNGEkiT4juYUSJ7etOfDUkCVINg4tA&sig2=z
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