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( 6 ) A dinâmica das relações nos grupos e equipes de trabalho Cláudia Vaz Torres Olá! Analisamos, nas unidades passadas, os grupos, as relações interpessoais e os elementos que interferem nessas relações. Discutimos como nos constituímos como sujeitos, indivíduos singulares e com modos diversos e complexos de ser e estar no mundo. Compreendemos, também, que as inú- meras possibilidades de ser de cada um são construídas na interação com o outro e com o mundo. Nesta aula, ampliare- mos a discussão sobre as dinâmicas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e nas equipes de trabalho. Mas, antes de discutirmos sobre isto, precisamos assistir ao vídeo: E, então? A partir do que foi abordado, é possível interrogar: Quais são as principais dificuldades para a realização de um trabalho em equipe? Qual é a diferença entre grupos e equipes de trabalho? O desempenho é o mesmo? E as relações? 188 P si co lo gi a e co m po rt am en to Um grupo de trabalho tem por objetivo compartilhar informações e tomar decisões sem, contudo, ter o engajamen- to de um trabalho coletivo. São pessoas que dão a sua contri- buição individual, na área em que cada uma é responsável. A equipe de trabalho apresenta um esforço coletivo coordenado para o alcance de objetivos; uma responsabilidade compar- tilhada em torno de um projeto específico; certa autonomia para decidir e a efetividade da equipe é evidenciada a partir do seu desempenho e produção. Há situações de desigualdade em um grupo de trabalho? Em um grupo de trabalho, podemos analisar a divisão sexual do trabalho que envolve a constatação da situação de desigualdade e a necessidade da reflexão sobre os processos que existem na sociedade, que fazem essas diferenciações para hierarquizar essas atividades e os gêneros. Helena Hirata e Da- niele Kergoat (2007) analisam que a divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente de princí- pios (separação e hierárquico) que regem as relações sociais en- tre os sexos, que designam aos homens a realização de funções com maior valor social e às mulheres, a esfera reprodutiva. Muitos autores definem grupos e equipes de trabalho de modo divergente. Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 370-371), a partir dos estudos de Gonzáles, Silva e Cornejo (1996), esclarecem que grupos e equipes de trabalho possuem estruturas de desempenho bem diferentes. A d in âm ic a da s r el aç õe s n os g ru po s e eq ui pe s d e t ra ba lh o 189 [...] as diferenças são claras, pois, en- quanto os grupos se caracterizam por: a) ter um líder claramente designado por um elemento externo perante o qual responde pelo grupo; b) trabalhar em prol do objetivo da organização; c) enfatizar, em aspectos individuais para o desempenho, definição de responsabi- lidades e estabelecimento de recompen- sas; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir da influência que exercem so- bre outros membros ou grupos da orga- nização, as equipes se caracterizam por: a) compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder; b) trabalhar em prol de um projeto espe- cífico e próprio; c) enfatizar no esfor- ço conjunto tanto para o desempenho como para recompensas e responsabili- dades; d) ter a sua efetividade eviden- ciada a partir dos produtos da equipe. O comprometimento e a dinâmica das relações são di- ferentes nas equipes de trabalho, por conta do interesse nos resultados. As mudanças nas estruturas organizacionais que abandonaram um padrão de verticalização para a formação de equipes com mais autonomia e flexibilidade estão de acordo com o momento histórico e social de consolidação do capitalis- mo, do consumo, da competitividade e da necessidade de fle- xibilização do processo produtivo nas diversas organizações. É importante considerar, conforme apontam analis- 190 P si co lo gi a e co m po rt am en to tas como Segnini (2000), que, no contexto atual, a força de trabalho está fragilizada pela flexibilização das estruturas produtivas, das formas de organização do trabalho, por meio do emprego/desemprego. Com a ampliação das novas tecno- logias apoiadas na automação e informática, as mudanças estruturais na sociedade e no mercado de trabalho (altas ta- xas de desemprego, precariedade das formas de ocupação, flexibilização da força de trabalho evidenciada nos contratos de tempo parcial, subcontratação, terceirização), a educação (avanços nos processos de escolarização) e a formação pro- fissional são considerados aspectos necessários para adaptar os trabalhadores às mudanças relacionais, técnicas e sociais. Acrescentamos que o contexto, os recursos, a estrutu- ra, a liderança, o clima de confiança, o sistema de avaliação de desempenho, as recompensas, as habilidades dos integrantes para a solução de problemas, tomadas de decisões e relacio- namento interpessoal, são aspectos a serem observados antes da formação de uma equipe. Depreendemos que as mudanças numa organização, tornando-as mais horizontalizadas, proporcionam desafios como saber e ter autonomia para decidir, lidar com a informa- ção rápida e com o poder implicado nas relações. A confiança que resulta do estabelecimento dessas relações numa equipe de trabalho torna as pessoas mais comprometidas, criativas e capazes de atuar em um ambiente dinâmico. A d in âm ic a da s r el aç õe s n os g ru po s e eq ui pe s d e t ra ba lh o 191 Reflita sobre o trecho da música da Legião Urbana: Sem trabalho eu não sou nada Não tenho dignidade Não sinto o meu valor Não tenho identidade Mas o que eu tenho É só um emprego (6.1) Classificação das equipes Há uma diversidade de classificação de equipes, entre- tanto, analisaremos a classificação adotada por Albuquerque e Puente-Palacios (2004). Para os autores, as equipes podem ser classificadas a partir do tempo de duração, natureza da atividade, organização dos elementos (objetivos, pessoas, tec- nologias, formas de desempenho), finalidades, etc. Por tempo de duração Permanentes - realização de tarefas permanentemente. Temporárias - realização de uma tarefa específica, por tem- po determinado. Pela natureza do trabalho Equipes de trabalho - execução de tarefas. Equipes de desenvolvimento - incrementação da efeti- 192 P si co lo gi a e co m po rt am en to vidade dos processos organizacionais. Pela organização dos elementos e finalidades Grupos força-tarefa - priorização de um objetivo a ser alcançado Equipes - valorização dos indivíduos e as relações interpessoais estabelecidas. Ex.: time de futebol Tripulação - valorização do objetivo e da tecnolo- gia. Ex.: tripulação de um avião. Robbins (2002) adota um outro modo para classifi- car as equipes, a saber: Equipes de solução de problemas Pessoas trocam ideias, oferecem sugestões sobre processos e métodos de trabalho. Raramente a equipe tem autoridade para implementação de ideias. Na década de 80, os Círculos de Qualidade formados por pequenos grupos de funcionários de uma organização, que se reuniam durante determinados períodos do trabalho para identificar, analisar e debater formas de melhorar a qualidade, a produtividade, reduzir custos, reduzir acidentes de trabalho, etc., eram exemplos de equipes de solução de problemas. A d in âm ic a da s r el aç õe s n os g ru po s e eq ui pe s d e t ra ba lh o 193 Equipes de trabalho autogerenciadas São grupos de funcionários que têm responsabilidade pelaadministração do seu trabalho e desenvolvimento de carreira, realizam trabalhos muito relacionados ou interdependentes e avaliam os desempenhos uns dos outros. Equipes multifuncionais São formadas por pessoas de nível hierárquico equivalente nas diferentes áreas de uma organização, que desenvolvem ideias, sugestões, solucionam problemas e coordenam projetos complexos. Equipes virtuais São pessoas que compartilham informações, tomam decisões, realizam tarefas on-line, utilizando meios de comunicação como redes internas ou externas, videoconferência, entre outros. Para refletir: Imagine situações que representem as equipes estudadas. O que supera o individualismo nas equipes de trabalho? Quais são as dificuldades enfrentadas por pessoas de nível hierárquico equivalente, áreas e habilidades diferentes na solução de problemas de uma organização? Como conciliar as vaidades dos membros de uma equipe com os objetivos da organização? Períodos de turbulência diante de situações complexas 194 P si co lo gi a e co m po rt am en to e falta de confiança fazem parte do processo de desenvolvi- mento de uma equipe, em que pessoas possuem diferentes experiências, histórias e perspectivas. As equipes de trabalho passam por diferentes fases, que vão desde a formação até o favorecimento do desempenho de tarefas. Sobre isso, esclare- cem Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 372): Essas fases não são uma peculiaridade das equipes de trabalho. São fases do desenvolvimento na vida dos grupos, e, como as equipes constituem um tipo específico de grupo, passam também por elas. De maneira adicional, cabe destacar que nem todas essas etapas são seqüências e pode ocorrer de voltar de uma etapa para a anterior antes de ir para a seguinte. Isso pode ser conse- qüência de mudanças ou pressões vin- das do meio externo. Também é possível que uma equipe nunca atinja o estágio final ou até faça o possível para não atingi-lo. Algumas fases do desenvolvimento das equipes po- dem ser identificadas, tornando mais fácil o reconhecimento de que as experiências e situações vivenciadas fazem parte de um processo de crescimento que, às vezes, precisam de uma intervenção direta. Sabemos que trabalhar em equipe envolve desafios, A d in âm ic a da s r el aç õe s n os g ru po s e eq ui pe s d e t ra ba lh o 195 principalmente quando estamos realizando um trabalho em um ambiente altamente competitivo. Robbins (2002, p. 261) acrescenta que: Para ter um bom desempenho como membro de uma equipe, a pessoa pre- cisa ser capaz de se comunicar aberta e honestamente, confrontar diferen- ças e resolver conflitos, bem como sublimar suas metas pessoais, para o bem do grupo. Para o autor, algumas pessoas possuem habilidades in- terpessoais que facilitam a realização de trabalho em equipe; outras, habituadas a contribuir e a serem reconhecidas pelo seu trabalho e desempenho individual, encontram dificulda- de para se perceberem como parte de uma equipe em que o reconhecimento por um desempenho satisfatório é comparti- lhado por todos e não apenas um. [...] a implantação da equipe de trabalho exige do indivíduo habilidades diferen- tes daquelas exigidas para realizar o trabalho sozinho. Ao trabalhar em equi- pe, facilmente pode-se perder o controle sobre a evolução do trabalho, os avanços tidos ou os problemas enfrentados, pois não depende mais do que um indivíduo faz ou deixa de fazer, depende agora do esforço conjunto. (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 377) 196 P si co lo gi a e co m po rt am en to Depreendemos, com a citação, que algumas habilida- des são imprescindíveis para o trabalho em equipe. Reflita: Como desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento, etc.? É possível desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento, etc., embora envolva um exercício de paciência e um eficien- te sistema de recompensas individuais e coletivas, acompa- nhado de uma boa comunicação entre as pessoas que fazem parte de uma equipe e de uma disponibilização adequada pela organização das informações que são necessárias para a análise da relação entre esforço, desempenho e resultados. Alguns funcionários possuem excelentes habilidades interpessoais, mas outros precisam de treinamento para me- lhorá-las. Isso inclui aprender a ouvir, a comunicar as ideias de maneira mais clara e a ser um membro mais eficaz na equipe (ROBBINS, 2002, p. 469). Além das habilidades interpessoais e habilidades técnicas, é também possível desenvolver o raciocínio e a habilidade de identificação de problemas, de le- vantamento das causas, alternativas e soluções para ampliar a efetividade de uma equipe. A d in âm ic a da s r el aç õe s n os g ru po s e eq ui pe s d e t ra ba lh o 197 Acrescentamos que não existem procedimentos únicos para o alcance dos objetivos nas equipes, é preciso sempre uma atenção ao contexto, aos recursos disponíveis, ao tem- po, à seleção dos membros, aos mecanismos que favorecem o desempenho, entre outros. Assim, na construção de uma equipe, é importante analisar os processos que ocorrem, de- terminar como o trabalho vem sendo realizado, analisar os papéis de cada um, a percepção que as pessoas têm em rela- ção aos outros, os estereótipos e os conflitos. Depois da formação de uma equipe, é traçado, pelos integrantes, um projeto de trabalho que possibilitará respon- sabilidade, comprometimento e autonomia de cada um. Sen- do assim, o comprometimento de todos com um propósito comum, o estabelecimento de metas específicas, a identifica- ção dos níveis de conflito e a contribuição com a formação de pessoas como membro de uma equipe são pontos que preci- sam ser destacados. SÍNTESE Nesta aula, discutimos as dinâmicas dos relaciona- mentos que ocorrem nos grupos e nas equipes de trabalho. Na próxima aula, refletiremos sobre a importância das emo- ções e dos afetos no cotidiano do trabalho. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Como preparar pessoas para serem membros de uma equipe? 198 P si co lo gi a e co m po rt am en to LEITURA INDICADA ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SITES INDICADOS http://www.rh.com.br/ler.php?cod=4539 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, F. J.; PUENTE-PALACIOS, K. E. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, orga- nizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SEGNINI, L. Educação e trabalho: uma relação tão necessá- ria quanto insuficiente. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/spp/v14n2/9791.pdf Acesso em: 28 ago. 2012.
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