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TRABALHO INSTUIÇÕES DE DIREITO II - CONTRATOS

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GOVERNADOR VALADARES - MG 
2015 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA 
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autores: 
Ana Luiza de Souza Vieira 
Paulo César Machado 
Vinícius Soares 
 
 
 
 
PRODUÇÃO TEXTUAL DISCIPLINAR 
DPR065GV – INSTITUIÇÕES DE DIREITO II 
 
 
Seminário de Estudos 
 
Tema: NOÇÕES DE DIREITO CONTRATUAL 
Professora: Marina 
Características Gerais do Contrato (Artigos 421 a 480 do Código Civil) 
 
1 – Noções Introdutórias – Definição de Contrato 
 
A doutrina é unânime em apontar que tão antigo como o próprio ser humano é o 
conceito de contrato, que nasceu a partir do momento em que as pessoas passaram 
a se relacionar e a viver em sociedade. A própria palavra sociedade traz a ideia de 
contrato. Na origem etimológica o vocábulo contrato indica a existência de um 
vínculo jurídico de vontades com vistas a um determinado objeto. No latim o verbo 
contrahere passa a contractus, que traduz o sentido de ajuste, convenção ou 
pacto, ou seja, um acordo de vontades como a finalidade de criar direitos e 
obrigações. Numa visão simples, contrato é a regulação de um acordo entre duas ou 
mais pessoas para um fim qualquer. Ou ainda, o trato em que duas ou mais pessoas 
assumem certos compromissos ou obrigações, ou asseguram entre si algum direito. 
Assim, o contrato é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas 
declarações de vontade, cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a 
extinção de direitos e deveres de conteúdo patrimonial. Os contratos são, em suma, 
todos os tipos de convenções ou estipulações que possam ser criadas pelo acordo 
de vontades e por outros fatores acessórios. Toma o conceito de contrato, fazendo-o 
com grande precisão. Vejamos, então, a excelência dos conceitos apresentados 
pelos nossos maiores civilistas de ontem, hoje e sempre. 
Entre os clássicos, Clóvis Beviláqua afirma ser o contrato “o acordo de vontade 
de duas ou mais pessoas com a finalidade de adquirir, resguardar, modificar 
ou extinguir direito” (Código…, 1977, p. 194). Para Orlando Gomes o contrato é “o 
negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância 
de conduta idônea à satisfação dos interesses que a regularam” (Contratos…, 
1996, p. 10). Washington de Barros Monteiro conceitua o contrato como sendo “o 
acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir um direito” 
(Curso…, 2003, p. 5). 
Entre os contemporâneos, Álvaro Villaça Azevedo, seguindo o conceito italiano, 
conceitua o contrato como sendo “manifestação de duas ou mais vontades, 
objetivando criar, regulamentar, alterar e extinguir uma relação jurídica 
(direitos e obrigações) de caráter patrimonial” (Teoria…, 2002, p. 21). 
Anote-se que esses são conceitos clássicos de contrato. Todavia, diante das 
profundas alterações pelas quais vem passando o instituto, alguns autores, como 
Paulo Nalin, propõe um conceito pós-moderno ou contemporâneo de contrato. 
Para o doutrinador paranaense, o contrato constitui “a relação jurídica subjetiva, 
nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos 
jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da 
relação, como também perante terceiros” (Do contrato…,2005, p. 255). 
Na mesma linha, seguem os ensinamentos de Maria Helena Diniz, “contrato é o 
acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, 
destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, 
com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza 
patrimonial”. 
 
Interpretação dos Contratos 
 
As regras básicas de interpretação do contrato encontram-se nos artigos 112, 113 e 
114 do CC. Pelo que dispõe o artigo 112 mais vale a intenção das partes do que a 
literalidade do contrato. O artigo 113 reforça a incidência do princípio da confiança 
na relação contratual. 
 
Da Formação dos Contratos (Artigo 427 a 435 do Código Civil) 
A formação dos contratos passa por três momentos: 
– Negociações preliminares; 
– Proposta; 
– Aceitação. 
 
2 – Requisitos de Existência e Validade Contratual 
O contrato, como qualquer outro negócio jurídico, sendo uma de suas espécies, 
igualmente exige para a sua existência legal o concurso de alguns elementos 
fundamentais, que constituem condições de sua validade. Os requisitos são de duas 
espécies: de ordem geral ou de ordem especial. Os de ordem geral são aqueles 
comuns a todos os atos e negócios jurídicos, como a capacidade do agente, o objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável, e a forma prescrita ou não defesa em 
lei (art. 104 CC). 
Os requisitos de ordem especial são aqueles peculiares das relações contratuais 
que é o consentimento recíproco ou acordo de vontades. O consentimento deve ser 
livre e espontâneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos vícios ou defeitos 
do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude. 
 Foi criada pelo grande jurista Pontes de Miranda a teoria que concebeu de forma 
exemplar a estrutura do negócio jurídico, analisando os seus elementos 
constitutivos. Trata-se do que se convencionou denominar de Escada Ponteana 
(figura abaixo). 
 
A construção desta escada foi concebida, originariamente, a partir das discussões 
em seu grupo de estudos, sendo uma de suas linhas de pesquisa. 
Pois bem, o negócio jurídico, na visão de Pontes de Miranda, é dividido em três 
planos: 
– Plano da existência – Plano da validade – Plano da eficácia. 
No plano da existência estão os pressupostos para um negócio jurídico, ou seja, os 
seus elementos mínimos, seus pressupostos fáticos, enquadrados dentro dos 
elementos essenciais do negócio jurídico. Nesse plano há apenas substantivos sem 
adjetivos, ou seja, sem qualquer qualificação (elementos que formam o suporte 
fático). Esses substantivos são: agente, vontade, objeto e forma. 
Não havendo algum desses elementos, o negócio jurídico é inexistente, conforme 
defendem os doutrinadores que seguem à risca a doutrina de Pontes de Miranda, 
caso de Marcos Bernardes de Mello (Teoria… Plano…, 2003). 
No segundo plano, o da validade, as palavras indicadas ganham qualificações, ou 
seja, os substantivos recebem adjetivos, a saber: agente capaz; vontade livre, sem 
vícios; objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita e não 
defesa em lei. Esses elementos de validade constam do art. 104 do Código Civil. 
Na realidade, não há menção à vontade livre, mas é certo que tal elemento está 
inserido no plano da validade, seja na capacidade do agente, seja na licitude do 
objeto do negócio. O negócio jurídico que não se enquadra nesses elementos de 
validade, havendo vícios ou defeitos quanto a estes, é, por regra, nulo de pleno 
direito, ou seja, haverá nulidade absoluta. Eventualmente, o negócio pode ser 
também anulável, como no caso daquele celebrado por relativamente incapaz ou 
acometido por algum vício do consentimento. 
Por fim, no plano da eficácia estão os elementos relacionados com as 
consequências do negócio jurídico, ou seja, com a suspensão e a resolução de 
direitos e deveres relativos ao contrato, caso da condição, do termo, do encargo, das 
regras relacionadas com o inadimplemento, dos juros, da multa ou cláusula penal, 
das perdas e danos, da resolução, da resilição, do registro imobiliário e da tradição 
(em regra). De outra forma, nesse plano estão às questões relativasàs 
consequências e aos efeitos gerados pelo negócio em relação às partes e em 
relação a terceiros. 
Logicamente, a Escada Ponteana indica que o plano seguinte não pode existir sem 
o anterior. Elucidando, para que o negócio ou contrato seja eficaz, deve ser 
existente e válido, em regra. A importância da matéria é inquestionável. Todas as 
vezes que foi mencionada a expressão negócio jurídico, poder-se-ia substituir 
por contrato, pois todo contrato é negócio jurídico. 
3 – Vícios Redibitórios (Artigo 441 a 446 do Código Civil) 
 
Conceitos e Características 
Os vícios redibitórios são defeitos ocultos em coisa recebida em virtude de contrato 
comutativo, que diminuem o valor ou prejudicam a utilização da coisa recebida e a 
tornam imprópria ao uso a que se destina (artigo 441 do CC). 
O principal aspecto deste vício é o fato dele ser oculto, recôndito, ou seja, não 
aparente. Se for aparente, não se tratará de vício redibitório. Para que se configure o 
vício redibitório são necessários os seguintes requisitos: o defeito além de ser oculto, 
não aparente; deve ter se dado por causa anterior a celebração do contrato; e deve 
consistir em perda ou deterioração do bem. Ou ainda, vícios redibitórios são aqueles 
defeitos ocultos da coisa, imperceptíveis no momento da celebração do contrato, 
causados em decorrência de fato anterior a celebração do contrato. 
Caso o alienante não saiba do vício, estando de boa-fé, com a sua manifestação, ele 
responderá somente pelo vício redibitório. Caso ele soubesse da existência do 
defeito, responderá pelo vício redibitório, bem como por perdas e danos. Se o 
alienante é comunicado da existência do vício não mais poderá reclamá-lo porque aí 
ele deixou de ser oculto, assumindo o risco o adquirente. 
De acordo com Caio Mário, o vício redibitório trata-se de “um defeito oculto de 
que é portadora a coisa objeto de contrato comutativo, que a torna imprópria 
ao uso a que se destina, ou lhe prejudica sensivelmente o valor. Não se 
aproxima ontologicamente o conceito de vício redibitório da ideia de 
responsabilidade civil. Não se deixa perturbar a sua noção com a indagação de 
conduta do contraente, ou apuração da sua culpa, que influirá, contudo, na 
graduação dos respectivos efeitos, sem aparecer como elementar da sua 
caracterização”. 
Os elementos caracterizadores ou requisitos do vício redibitório são: 
– A existência de um contrato comutativo (translativo da posse e da propriedade da 
coisa). 
– Um defeito oculto existente no momento da tradição. 
– A diminuição do valor econômico ou o prejuízo à adequada utilização da coisa. 
 
EVICÇÃO: É a perda do bem por decisão judicial transitada em julgado ou por ato 
administrativo, que o atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato. 
Não é defeito, é perda do bem. Todo alienante é obrigado não só a entregar ao 
adquirente a coisa alienada, como também a garantir-lhe o uso e o gozo. 
Dá-se a evicção quando o adquirente vem a perder total ou parcialmente, a coisa 
por sentença fundada em motivo jurídico anterior. Trata-se de cláusula de garantia 
que opera de pleno direito, não necessitando, pois, de estipulação expressa. 
Inexiste, em regra, responsabilidade pela evicção nos contratos gratuitos (artigo 552 
CC), salvo se se tratar de doação com encargo. Assim, são requisitos 
caracterizadores da evicção: a perda do bem por sentença judicial; a causa deve ser 
anterior ao negócio celebrado; a perda deve ser total ou parcial. 
 
Fundamentos da garantia contra os vícios redibitórios 
 
De acordo com a doutrina de Orlando Gomes, o fundamento jurídico da garantia 
legal contra os vícios redibitórios baseia-se em três teorias: 
– Teoria da evicção parcial – a evicção consiste na perda da propriedade de um 
bem, móvel, ou imóvel, por força do reconhecimento judicial ou administrativo do 
direito anterior de terceiro. 
– Teoria do erro – seria o caso de anular o contrato, se houvesse identificação, o 
que, nos termos das regras positivas em vigor, não ocorre. Erro e vício redibitório 
não se devem confundir, pois o primeiro tem dimensão subjetiva ou psicológica e o 
segundo é de natureza objetiva. 
– Teoria do risco – segundo essa teoria, a garantia legal contra os vícios 
redibitórios decorreria da própria lei, que imporia ao alienante os riscos pelos 
eventuais defeitos ocultos existentes na coisa. 
Só se excluirá a responsabilidade do adquirente pela evicção se houver cláusula 
expressa, não se admitindo cláusula tácita de não garantia. 
Podem as partes, por essa forma, reforçar ou diminuir a garantia, e até mesmo 
excluí-la, como consta do artigo 448 do CC. 
Não obstante a cláusula de exclusão de garantia, se a evicção se der, tem direito o 
evicto a recobrar o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da 
evicção, ou, dele informado, não o assumiu (artigo 449 CC). 
A cláusula de irresponsabilidade, por si só, exclui apenas a obrigação do alienante 
de indenizar as demais verbas, mencionadas ou não no artigo 459 do CC, mas não 
a de restituir o preço recebido. 
A previsão legal de vícios redibitórios encontra a sua justificativa jurídica na noção 
maior de garantia contratual. E essa garantia decorrente dos vícios redibitórios é tal 
que o artigo 444 do CC chega ao ponto de impor responsabilidade ao alienante, 
ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se tal perecimento decorrer do 
vício oculto, já existente ao tempo da tradição. Ou seja, se a coisa vier a ser 
destruída ou se extinguir, em virtude do próprio defeito, já existente quando da 
tradição, ainda sim o adquirente terá o direito à compensação devida. Por fim: 
excluída a garantia, se o adquirente, posto que informado, não assume 
expressamente o risco da evicção, pode ele perdida a coisa, reaver do alienante o 
que por esta havia pago 
 
Vícios redibitórios X Erro como vício de consentimento 
 
Vício redibitório e erro, por mais que sejam conceitos muitos próximos, não devem 
ser confundidos. O erro expressa uma equivocada representação da realidade, uma 
opinião não verdadeira a respeito do negócio, do seu objeto ou da pessoa com 
quem se trava a relação jurídica. Este defeito do negócio vicia a própria vontade do 
agente, atuando no campo psíquico. 
Diferente é o vício redibitório, garantia legal prevista para contratos comutativos em 
geral. Ele não toca o psiquismo do agente, incidindo, portanto, na própria coisa, 
objetivamente considerada. 
 
Consequências jurídicas da verificação de vícios redibitórios 
 
Depois de verificada a incidência de vício redibitório, a teor do artigo 442 do CC, 
abre-se, para o adquirente, duas possibilidades: 
– Rejeitar a coisa, redibindo o contrato (via ação redibitória). 
– Reclamar o abatimento no preço (via ação estimatória). 
No primeiro caso, o adquirente propõe, dentro do prazo decadencial previsto em lei, 
uma ação redibitória, cujo objeto é o desfazimento do contrato e a devolução do 
preço pago, podendo inclusive pleitear o pagamento das perdas e danos. 
Já no segundo, o adquirente, também dentro do prazo decadencial da lei, prefere 
propor ação para pleitear o abatimento ou desconto no preço, em face do defeito 
verificado, o que se denomina ação estimatória. 
Ambas as ações são espécies das ações edilícias, existindo uma relação de 
alternatividade, ou seja, um concurso de ações: o adquirente somente poderá 
promover uma ou outra, visto que comportam pedidos excludentes entre si. 
 
Ações Edilícias (artigo 442 do CC) 
 
São as ações que o adquirente pode se valer para reclamar o vício redibitório em 
face do alienante. Ações edilícias é gênero que possui duas espécies: Redibitória e 
Estimatória (estimativaquanti minoris). Elas são usadas conforme a perda do 
adquirente. Quando o defeito gera diminuição parcial do bem, nessa hipótese o 
adquirente pode optar pela devolução do bem com a restituição do valor pago, 
voltando as partes ao status quo ante, através da ação redibitória. Ou então, optar 
por ficar com a coisa, exigindo, o abatimento no preço proporcional a diminuição 
funcional da coisa (ação estimatória). Em caso de perda total a ação cabível será 
sempre a redibitória por razões lógicas, afinal, não se pode reclamar por uma 
diminuição do bem quando ele se perde totalmente. 
 
Prazo para a propositura das ações edilícias: para o ajuizamento das ações 
edilícias, ação redibitória ou ação estimatória, é decadencial; trinta dias no caso de 
bens móveis, e de um ano no caso de bens imóveis, contados nos dois casos a 
partir da tradição. 
Se o adquirente já estava na posse do bem, o prazo é contado a partir da alienação, 
pela metade (artigo 445 do CC). Podem os contratantes, no entanto, ampliar 
convencionalmente o referido prazo. 
Interessante ainda observar o § 1° e § 2° do art. 445 do CC: 
§ 1° Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo 
contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e 
oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. 
§ 2° Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos 
serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, 
aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras 
disciplinando a matéria. Observação: a entrega de coisa diversa da contratada não 
configura vício redibitório, mas inadimplemento contratual, respondendo o devedor 
por perdas e danos (artigo 389 CC). 
Vícios redibitórios e o Código de Defesa do Consumidor 
 
A proteção dispensada pelo Código de Defesa do Consumidor ao consumidor é 
muito mais ampla do que a prevista no Código Civil. 
A lei consumerista não cuida de diferenciar os vícios aparentes dos redibitórios, 
consagrando, todavia, um eficaz sistema protetivo, que irá tutelar os direitos da parte 
hipossuficiente na relação de consumo, independentemente da natureza do defeito 
em tela (artigo 18 do CDC). 
De acordo com José Fernando Simão: “O Código de Defesa do Consumidor 
inovou ao enfatizar o fato de o vício ser de qualidade ou quantidade. O fato de 
o vício ser oculto ou aparente realmente gera poucas diferenças na relação de 
consumo e suas consequências limitam-se à questão dos prazos para 
exercício do direito de reclamar pelos vícios (artigo 26 do CDC) ”. 
Já Sílvio Venosa declara: “sem sombra de dúvida, é no âmbito do consumidor 
que avultará de importância a garantia pelos produtos ou pelos serviços. Já 
ressaltamos que o fornecedor tem o dever de informar o consumidor acerca 
das qualidades do produto ou serviço, bem como adverti-lo dos riscos. Entre 
as regras de programa que traz a lei (Lei n° 8.078/90), é reconhecida a 
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”. 
 
Assim, a grande vantagem do sistema inaugurado pelo Código de Defesa do 
Consumidor consiste na ampliação da responsabilidade do fornecedor pelo vício do 
produto ou serviço. Trata-se de uma forma objetiva de responsabilidade civil – o que 
favorece a defesa do consumidor –, compartilhada solidariamente por todos aqueles 
que participam da cadeia causal de consumo. 
 
4 – Classificação dos Contratos – Tipos de Contrato 
Os contratos agrupam-se em diversas categorias, suscetíveis de subordinação a 
regras peculiares. É importante distingui-las, pois, o conhecimento de suas 
particularidades é de indubitável interesse prático, tornando-se quase indispensável 
quando se têm em mira fins didáticos. 
Cabe frisar que um mesmo fenômeno pode ser classificado de diversas formas, 
conforme o ângulo em que se coloca o analista. Desse modo, os contratos 
classificam-se em diversas modalidades, subordinando-se a regras próprias ou afins, 
conforme as categorias em que se agrupam (Gonçalves, C.R., Vol.3, 2012). 
Dividem-se: Quanto aos efeitos, em unilaterais, bilaterais e plurilaterais; 
gratuitos e onerosos. Os últimos subdividem-se em comutativos e aleatórios, e 
estes, em aleatórios por natureza e acidentalmente aleatórios. 
 
Unilateral e bilateral: O critério diferencial é o número de obrigações. Os contratos 
unilaterais geram obrigação apenas para um dos contratantes, ou seja, somente 
uma das partes tem ônus; a outra aufere a vantagem, não tendo contraprestação 
enquanto que os contratos bilaterais geram obrigações recíprocas, são chamados 
contratos sinalagmáticos. 
 
Gratuito e oneroso: Diferenciam-se no que diz respeito à vantagem patrimonial. Os 
contratos gratuitos trazem vantagens econômicas e patrimoniais somente para um 
dos contratantes (exemplo: doação pura); os onerosos, para ambos (exemplos: 
compra e venda; seguro de vida etc.). Via de regra, o contrato bilateral é oneroso, e 
o unilateral, gratuito. 
No Brasil só existe um contrato unilateral e gratuito: é o contrato de mútuo 
empréstimo de dinheiro a juros (feneratício). É contrato unilateral porque se 
aperfeiçoa com a entrega do numerário ao mutuário, não bastando o acordo de 
vontades. Feita a entrega, o mutuante exime-se de sua obrigação, restando apenas 
deveres ao mutuário. 
Os contratos onerosos subdividem-se em: 
Comutativos: aqueles de prestações certas e determinadas; no momento da 
celebração, as partes já conhecem suas vantagens e desvantagens. 
Aleatórios: aqueles que, no momento da celebração, as partes não conhecem as 
suas vantagens e desvantagens. Há sempre um elemento de risco neles. Exemplo: 
compra e venda da safra de arroz do ano seguinte. 
Paritários e de adesão: No contrato paritário as partes têm possibilidade de discutir, 
estabelecer cláusulas, modificá-las. O contrato de adesão é o contrato redigido 
inteiramente por uma das partes; a outra apenas adere a ele. 
O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) regulamenta e conceitua 
essa espécie de contrato no seu artigo 54. A interpretação dos contratos de adesão, 
quando de cláusulas obscuras, deve ser em favor do aderente. 
Exemplos: Contrato de cláusulas abusivas (artigo 51 do CDC): 
Eleição de foro, só vale se não trouxer prejuízo ao aderente; Cláusula que impõe a 
perda das parcelas pagas; Cláusula de plano de saúde que restringe cobertura de 
doenças epidêmicas e AIDS). 
 
Formal: O artigo 541 do Código Civil exige a escritura pública ou o instrumento 
particular para o aperfeiçoamento da doação. A doação verbal só é válida para bens 
móveis de pequeno valor, desde que a tradição seja imediata. 
Gratuito: Gera para o donatário apenas enriquecimento. Caso seja imposto um 
encargo ao donatário, o contrato passa a ter natureza de oneroso. 
 
Contrato de Compra e Venda 
Contrato pelo qual o vendedor se obriga a transferir ao comprador o domínio de 
coisa móvel ou imóvel mediante uma remuneração, denominada preço. É um 
contrato translativo, entretanto não gera a transmissão de propriedade. Esse tipo de 
contrato somente traz o compromisso do vendedor em transmitir a propriedade, 
denotando efeitos obrigacionais (art. 482 do CC): "A compra e venda, quando 
pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no 
objeto e no preço." A translatividade característica do contrato de Compra e Venda 
é no sentido de trazer como conteúdo a referida transmissão, que se perfaz pela 
tradição nos casos que envolvem bens móveis ou jurídicos. É importante ressaltar 
que para existir compra e venda, a coisa transmitida deve ser corpórea, pois, caso 
contrário, se configurará como contrato de cessãode Direitos. 
Elementos da compra e venda: 
Partes (comprador e vendedor) - O consentimento emitido pelas partes deve ser 
livre e espontâneo. Havendo um dos vícios do consentimento (erro, dolo, coação 
moral, estado de perigo e lesão), o contrato de compra e venda é anulável, conforme 
as regras do Código Civil: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados 
na lei, é anulável o negócio jurídico: II - Por vício resultante de erro, dolo, 
coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 
Coisa - A coisa deve ser lícita, determinada (coisa certa) ou determinável (coisa 
incerta, indicada pelo gênero e quantidade), conforme o Art. 483 CC: “A compra e 
venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o 
contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de 
concluir contrato aleatório”. 
A coisa também deve ser alienável, ou seja, deve ser consumível no âmbito jurídico, 
conforme consagra a segunda parte do art. 86 do CC (consuntibilidade jurídica). 
A venda de um bem inalienável, caso do bem de família voluntário ou convencional 
(arts. 1.711 a 1.722 do CC), é considerada nula, seja pela ilicitude do objeto (art. 
166, II) ou por fraude à lei imperativa (art. 166, VI). 
Preço - O preço pode ser arbitrado pelas partes ou por terceiro de sua confiança 
(preço por avaliação), conforme faculta o art. 485 do CC: “A fixação do preço 
pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem 
ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem 
efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra 
pessoa”. 
Regime Jurídico da Compra e Venda 
1 – Não estão legitimados a firmar compra e venda sobre pena de nulidade: 
– Tutor e curador durante o exercício das funções; 
– Testamenteiro a Administrador durando o exercício de sua função; 
– Servidor público, que não pode adquirir bens da Administração pública que atua; 
– Leiloeiro e seu preposto, que não pode adquirir o bem que está por ele a ser 
vendido; 
– Juiz, secretário de tribunal, árbitro, perito e auxiliares de justiça, que não podem 
adquirir bens ou direitos sobre os quais possam vir a ter influência por ocasião de 
compra. 
2 – O comprador obriga-se a apagar o preço e o vendedor, obriga-se a entregar a 
coisa. 
3 – Na compra e venda a prazo, admite-se entrega da posse do bem por ocasião do 
pagamento da primeira prestação ou mesmo antes dela. 
4 – Tratando-se de bem imóvel, as despesas de escritura e registro correrão por 
conta do adquirente, salvo estipulação em sentido contrário. 
5 – Tratando-se de bens móvel, as despesas com a tradição ocorrerão por conta do 
vendedor, salvo estipulação em sentido contrário. 
6 – O vendedor responde perante o adquirente pelos riscos da evicção e por vícios 
redibitórios. 
7 – O vendedor responde perante o adquirente pelos riscos decorrentes da 
conservação da coisa até a entregado bem. 
8 – A venda a non domino é nula, cabendo a ao adquirente de boa-fé repetir o 
indébito e obter perdas e danos daquele que indevidamente lhe vendeu o bem. 
9 – A venda de ascendente a descendente é possível desde que realizada mediante 
consentimento expresso dos demais descendentes, assim como do cônjuge se não 
estiver casado sob regime de separação legal de bens. Se tal providência não for 
observada, o negócio sujeitar-se-á à anulação. 
10 – Na compra de bem imóvel, o preço pode ser fixado sem se considerar a 
extensão da área (venda as corpus) ou por medida de extensão (venda ad 
mensuram). 
Tratando-se de venda ad mensuram de área inferior em mais de 1/20 da real 
extensão, o comprador poderá: 
– Obter o complemento da área, se fisicamente possível; 
– Redibir a coisa e obter a restituição do que pagou; 
– Estimar a coisa, mediante a redução proporcional do preço (action quanti minoris). 
 
11 – É possível a venda sob amostra, podendo o comprador se recusar a receber a 
coisa que o vendedor lhe entregar caso não corresponda, em qualidade, ao que lhe 
foi efetivamente demonstrado. 
12 – É possível a venda conjunta, não sendo cabível a redibirão de todas as coisas 
se uma, ou algumas, contiver vícios. 
13 – Assumindo uma das partes um risco que não é da natureza do contrato, será 
ele regulado como venda aleatória, sujeitando-se o adquirente a eventual prejuízo 
total ou parcial. 
14 – Na venda em condomínio, o condômino que pretender vender sua cota-parte 
deverá primeiramente oferecê-la aos demais condôminos pelas mesmas condições 
que oferecerá a terceiros. 
Contrato de Doação 
Conceito: A doação é um Negócio Jurídico pelo qual uma pessoa entrega um bem 
de forma gratuita a outra pessoa. Segundo o art. 538 do CC, a Doação trata-se de 
ato de mera liberalidade, sendo um contrato benévolo, unilateral e gratuito. Sendo 
negócio jurídico benévolo ou benéfico, somente se admite a interpretação restritiva, 
nunca a interpretação declarativa ou extensiva art. 114 do CC: "Os negócios 
jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente." 
Elementos da Doação: 
– Liberalidade do doador; 
– Aceitação da liberalidade pelo donatário; 
– Intenção do doador de transferir de forma definitiva e gratuita a propriedade 
(animus donandi). 
Regime Jurídico da Doação 
1 – A transferência do bem deve se dar por ato inter vivos. 
2 – O silêncio do donatário em aceitar a doação caracteriza sua aceitação, a menos 
que ela acarrete algum encargo. 
3 – Os riscos da coisa são do doador, que deverá arcar com as despesas de 
conservação até a entrega ao donatário. Se a coisa perecer em poder do doador por 
sua culpa, caberá perdas e danos. 
4 – Proíbe-se doação de bem alheio. 
5 – Embora polêmica a matéria, entendo cabível a promessa de doação. 
6 – É permitida a doação de bem em prol do cônjuge ou do convivente. 
7 – É permitida a doação de órgãos e tecidos, de partes destacáveis ou 
regeneráveis, durante a vida do doador (LT). Já a doação de órgãos post-mortem 
supõe prévia autorização da pessoa em vida ou do responsável legal (ascendente, 
descendente, colateral de segundo grau ou cônjuge). 
8 – Admite-se a doação remuneratória como retribuição por serviços prestados pelo 
donatário. 
9 – Admite-se a doação periódica, que é forma de constituição de renda em prol do 
donatário. 
10 – Admite-se doação com reversão, retornando o bem doado ao patrimônio do 
doador caso o donatário venha a falecer antes dele. 
11 – Admite-se a doação em favor de nascituro é subordinada à condição 
suspensiva, que é o nascimento com vida. 
Sujeita-se, por outro lado, a doação com encargo à teria dos vícios redibitórios; e o 
descumprimento da obrigação de fazer, pelo donatário, possibilita ao doador 
desconstruir a doação. 
12 – Não cabe a aplicação do instituto da evicção na doação. 
13 – O doador não é obrigado a pagar juros moratórios por atrasar a entrega do 
bem. 
14 – É nula a doação de todos os bens sem reserva de uma parte para subsistência. 
15 – É anulável a doação feita pelo cônjuge adúltero a seu cúmplice. 
16 – É possível a doação em favor do descendente, que se considera adiantamento 
da legítima, devendo o bem ser posteriormente submetido à colação na abertura da 
sucessão do doador. 
17 – A doação pode ser revogada, por meio de ação, no prazo de um ano: 
– Antes da aceitação do donatário; 
– Quando houver ingratidão do donatário, cujas hipóteses encontram-se descritas na 
lei (ofensa à vida, à integridade física, calúnia grave, recusa de prestação de 
alimentos para o doador). 
18 – Não se revoga por ingratidão a doação puramente remuneratória, com encargo 
já cumprido, para determinado casamento ou em cumprimento à obrigação natural.Contrato de Troca ou Permuta 
Conceito - O contrato de troca, permuta ou escambo é aquele pelo qual as partes 
se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. Operam-se, ao mesmo 
tempo, duas vendas, servindo as coisas trocadas para uma compensação recíproca. 
Isso justifica a aplicação residual das regras previstas para a compra e venda artigo 
533, caput, do CC: “Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e 
venda, com as seguintes modificações: I - salvo disposição em contrário, cada 
um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da 
troca; II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e 
descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do 
alienante”. 
A troca é um contrato bilateral ou sinalagmático, trazendo direitos e deveres 
proporcionais. É um contrato oneroso, pois, obriga a presença de sacrifício de 
vontade para as partes. É um contrato comutativo, em regra, e translativo da 
propriedade, eis que serve como titulus adquirendi. Trata-se de um contrato 
consensual, que tem aperfeiçoamento com a manifestação de vontade das partes, 
assim como ocorre com a compra e venda (art. 482 do CC). 
Elementos da troca: Os elementos da Troca são o consenso e coisas diversas de 
dinheiro. 
Regime Jurídico 
– As despesas decorrentes do contrato são rateadas entre as partes. 
– O contratante que, por evicção, perder o bem que lhe foi entregue poderá obter 
repetição ou perdas e danos. 
– O perecimento da coisa sem culpa das partes acarreta a extinção do contrato. 
– É possível a troca de bens entre ascendente e descendente desde que com 
expresso consentimento dos demais descendentes, sob pena de anulação do 
contrato. 
– Quem trocou sem ser o proprietário não pode reclamar a entrega do bem pela 
outra parte (permuta a non domino), pois o contrato é nulo. 
 
5 - Extinção dos Contratos (artigos 472 a 480 do Código Civil) 
 
Os contratos, como os negócios jurídicos em geral, têm também um ciclo vital: nasce 
do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhe são próprios e extinguem-se. 
A extinção dá-se, em regra, pela execução, seja instantânea, diferida ou continuada. 
O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor. Este é o meio 
normal de extinção do contrato. Como tudo que nasce ele também tem um fim ou 
uma extinção. Apesar de que a forma natural de obrigação de um contrato seja 
através de seu cumprimento na forma combinada pelas partes, há três hipóteses de 
extinção não natural do contrato, cada uma com aplicabilidade distintas (aplica-se 
tanto no contrato definitivo quanto no preliminar), e são elas a resilição, a 
resolução, e a rescisão. 
A classificação e delimitação das formas de extinção dos contratos é controvertida. 
Seguindo a orientação mais completa e didática trazida pelos doutrinadores Carlos 
Roberto Gonçalves, Maria Helena Diniz e Orlando Gomes, duas formas podem 
ser consideradas: 
– Forma Normal de Extinção dos Contratos: O contrato extingue-se, em regra, 
com o cumprimento do seu objeto. A execução pode ser instantânea (pagamento à 
vista, entrega imediata de um bem etc.), diferida (entrega do bem no mês seguinte), 
ou continuada (pagamento em prestações). O cumprimento do contrato é provado 
pela quitação, feita pelo credor de acordo com o artigo 320 do Código Civil. 
O credor atestará o pagamento por meio de quitação regular. A quitação vale 
qualquer que seja a forma do contrato. Se determinado ato foi através de escritura 
pública, vale a quitação por instrumento particular. 
– Forma Anormal de Extinção dos Contratos: Ocorre com a inexecução do 
contrato por fatores anteriores, concomitantes ou supervenientes a ele. Apesar da 
forma natural de obrigação de um contrato seja através de seu cumprimento na 
forma combinada pelas partes, há três hipóteses de extinção não natural do 
contrato, cada uma com aplicabilidade distintas (aplica-se tanto no contrato definitivo 
quanto no preliminar), e são elas a resilição, a resolução, e a rescisão. 
– Morte de um dos contratantes: É forma de extinção anormal dos contratos 
personalíssimos, que não permitem a execução pelos sucessores do de cujus. 
 
Resolução: A extinção do contrato mediante resolução tem como causa a 
inexecução ou o não cumprimento por um dos contratantes. Resolução, segundo 
Orlando Gomes, é um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual 
mediante ação judicial. O inadimplemento pode ser voluntário (culposo), ou não 
(involuntário). 
Definição didática: não se baseia na vontade das partes, mas num inadimplemento 
acarretado por um motivo previsto em lei, ou ainda, um inadimplemento autorizado, 
que ensejará a extinção do pacto. 
Resolução por Inexecução Voluntária: A resolução por inexecução voluntária 
decorre de comportamento culposo de um dos contratantes, com prejuízo ao outro. 
Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições 
recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos e da 
cláusula penal convencionada. 
Resolução por Inexecução Involuntária: A resolução pode também decorrer de 
fato não imputável às partes, denominados caso fortuito ou força maior, que 
impossibilitam o cumprimento da obrigação. A inexecução involuntária caracteriza-se 
pela impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato. 
O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo 
pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir os 
prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ou estiver em mora (artigo 393 
e 399 CC). A resolução opera-se de pleno direito. 
Resolução por Onerosidade Excessiva: Embora o princípio pacta sunt servanda 
(“os pactos devem ser respeitados") ou da intangibilidade do contrato seja 
fundamental para a segurança nos negócios e fundamental a qualquer organização 
social, os negócios jurídicos podem sofrer as consequências de modificações 
posteriores das circunstâncias, com quebra insuportável da equivalência. O principal 
artigo atinente à resolução contratual por onerosidade excessiva é o art. 478 do CC. 
 
A Teoria da Imprevisão – cláusula rebus sic stantibus (“estando assim as coisas”) 
(478 a 480 do CC) - aplica-se sempre que um fato imprevisível recai sob as 
circunstancias de um contrato de forma a prejudicar uma das partes, e assim, o 
prejudicado pode pedir revisão do contrato. Somente se aplica nos contratos de 
execução diferida e continuada, nunca nos de execução imediata. 
Ressalte-se que são requisitos indispensáveis a resolução do contrato por 
onerosidade excessiva: a vigência de um contrato de execução diferida ou de trato 
sucessivo, a ocorrência de fato extraordinário e imprevisível, a considerável 
alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com 
a que existia por ocasião da celebração, nexo causal entre o evento superveniente e 
a consequente excessiva onerosidade. O contraente que estiver em mora quando 
dos fatos extraordinários não pode invocar, em defesa, a onerosidade excessiva, 
pois assim, responde pelos riscos supervenientes (artigo 399 CC). 
 
Exceção do Contrato Não Cumprido (Artigo 476 CC): 
 
 Os contratos bilaterais ou sinalagmáticos geram obrigações para ambos os 
contratantes, envolvendo prestações recíprocas atreladas umas às outras. O artigo 
476 do CC permite que qualquer dos contraentes possa, ao ser demandado pelo 
outro, se utilizar de uma defesa denominada exceptio non adimplemti contractus 
ou exceção do contrato não cumprido, para recusar a sua prestação, sob o 
fundamento de que o demandante não cumpriu a que lhe competia. Aquele que não 
satisfeza própria obrigação não pode exigir o implemento da do outro. Se o fizer, o 
último pode avocar em sua defesa, a referida exceção, fundada na equidade. 
 
Garantia de Execução da Obrigação a Prazo (Artigo 477 CC): 
 
Nessa hipótese de resolução por inexecução voluntária do contrato procura-se 
acautelar os interesses do que deve pagar em primeiro lugar, protegendo-o contra 
alterações da situação patrimonial do outro contratante. Autoriza-se, por exemplo, o 
vendedor a não entregar a mercadoria vendida, se algum fato superveniente à 
celebração do contrato acarretar diminuição considerável no patrimônio do 
comprador, capaz de tornar duvidoso o posterior adimplemento de sua parte na 
avença, podendo aquele, neste caso, reclamar o preço de imediato ou exigir 
garantia suficiente. 
Observação: Presentes os pressupostos do artigo 478 do CC, a parte lesada pode 
pleitear a resolução do contrato; permite, todavia, o artigo 479 do CC, que a parte 
contrária possa, considerando que lhe é mais vantajoso manter o contrato, 
restabelecendo o seu equilíbrio econômico, oferecer-se para modificar 
equitativamente as suas condições. Permite-se, portanto, dar solução diversa ao 
problema da onerosidade excessiva, por iniciativa uma das partes, inibindo a 
resolução do contrato. 
 
Resilição: Resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da 
manifestação de vontade das partes, que pode ser bilateral ou unilateral. 
Resilir significa voltar atrás. A resilição bilateral denomina-se distrato, que é o 
acordo de vontades afim de extinguir um contrato anteriormente celebrado. A 
unilateral ocorre somente em determinados contratos, pois a regra é a 
impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva 
vontade. 
Distrato: O distrato é feito pelo mútuo acordo e deve ter a mesma forma do contrato 
celebrado. É o acordo entre as partes, a fim de extinguir vínculo contratual 
anteriormente estabelecido. É um novo contrato com a finalidade de dissolver o 
anterior. O distrato somente produz efeitos para o futuro, não retroage aos efeitos 
anteriores, isto é, o distrato equivale a uma revenda, uma transferência da 
propriedade. 
Qualquer contrato pode cessar pelo distrato. É necessário, todavia, que os efeitos 
não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal da extinção. O 
mecanismo do distrato é o que está presente na celebração do contrato: a mesma 
vontade, que tem o poder de criar, atua na direção oposta, para dissolver o vínculo e 
devolver a liberdade àqueles que se encontravam compromissados. 
O artigo 472 estabelece que o distrato deve obedecer a mesma forma do contrato a 
ser desfeito quando este tiver forma especial, mas não quando esta for livre. 
 
Resilição Unilateral (Renúncia, Revogação, Renúncia e Resgaste): 
 
Nos contratos indeterminados as partes não estipulam sua duração. A extinção pode 
se dar a qualquer tempo, por iniciativa de uma das partes. Em alguns contratos por 
tempo indeterminado, a extinção pela vontade de uma das partes deve ser 
precedida de notificação, chamada “aviso prévio”, dada como certa antecedência. 
A resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da 
manifestação de vontade. O fundamento para a sua efetivação seria assim a 
vontade presumida. Outras vezes, o contrato se baseia na confiança e só perdura 
enquanto existir esta confiança entre as partes. Por último, os próprios sujeitos 
reservam-se o direito de arrependimento. 
A resilição é o meio próprio para dissolver os contratos por tempo indeterminado. Se 
não fosse assegurado o poder de resilir, seria impossível ao contratante libertar-se 
do vínculo se o outro não concordasse. A denúncia unilateral ocorre nos contratos 
por tempo indeterminado, pois não se admite contratos perpétuos. 
 
Observação: Resilição Contratual - Distrato X Resolução Unilateral). 
A diferença entre elas é a causa que leva a extinção do contrato, se houve um vício 
na formação, haverá uma rescisão, se a causa é um descumprimento do contrato 
com ou sem culpa, dá-se a resolução, mas se a causa da extinção é manifestação 
da vontade das partes, seja bilateral ou unilateralmente, dá-se uma resilição. 
 
Rescisão: É a pior forma de extinção do contrato. Trata-se de um inadimplemento 
com culpa que causa dano a parte contrária. É aquela forma de extinção do contrato 
em que há inadimplemento culposo e causa de dano ao outro contratante. O 
contrato pode ser nulo ou anulável. Enseja o pagamento de perdas e danos. 
• 
 
Bibliografia 
• DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 3. 24 ed. São 
Paulo: Saraiva. 2012. 
• GAGLIANO, Pablo Stolze. Curso de Direito Civil. Vol. 4. 4ed. Saraiva. 2008. 
• GONÇALVES, Carlos Roberto. Vol. 3. 6 ed. São Paulo: Saraiva. 2012. 
• VENOSA, Sílvio de Salvo. Vol. 2. 9 ed. São Paulo: Atlas. 2012. 
• Kümpel, Vitor Frederico - Direito Civil – Contratos – Complexo Damásio. 2010. 
 
Governador Valadares, 14/06/2015. 
Participantes: 
Ana Luiza de Souza Vieira 
Paulo César Machado 
Vinícius Soares

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