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1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS 1.1 DE QUE TRATA A TEORIA ECONÔMICA A atividade econômica gira em torno de três elementos: a) necessidades humanas, que são variadas e insaciáveis; b) recursos que são limitados, versáteis e suscetíveis de serem combinados em proporções diferentes para produzir determinado bem; c) técnicas de utilização dos recursos para produzir bens e serviços que satisfaçam necessidades. A economia trata do bem-estar do homem. Ela inclui relações sociais ou a organização social, que implica na distribuição de recursos escassos entre necessidades humanas alternativas e no uso desses recursos com a finalidade de satisfazê-las, tanto quanto possível. No conjunto da literatura econômica há duas divisões principais dessa teoria, comumente conhecidas como teoria microeconômica e teoria macroeconômica. A microeconomia, ou teoria dos preços, estuda o comportamento econômico das unidades decisórias individuais como consumidores, proprietários de recursos e negócios, em um sistema de livre empresa. Já a teoria macroeconômica trata do sistema econômico como um todo e não de unidades econômicas individuais de que se compõe; estuda o conjunto, agregando todos os indivíduos. Este texto trata da avaliação da teoria econômica, especialmente a microeconômica. Nos capítulos finais é dedicada atenção aos conceitos macroeconômicos. EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 6 1.2 CONCEITOS BÁSICOS Para esclarecer os diversos fundamentos a serem expostos nos próximos capítulos, alguns conceitos básicos devem ser apresentados. Entre estes, definem-se: • Modelo É a representação de um fenômeno, tal como um sistema ou processo. Modelos geométricos são aqueles que mostram essa representação pelas relações geométricas (gráficas) e modelos algébricos são representados por equações. • Econometria É uma parte da economia que se preocupa com a estimação empírica das relações econômicas. • Função Mostra a relação entre duas ou mais variáveis; indica como o valor de uma variável (chamada dependente) depende e pode ser calculado pela especificação do valor de uma ou mais variáveis (chamadas independentes). • Recursos São os meios disponíveis para produzir bens, os quais, por sua vez, são utilizados para satisfazer às necessidades. Os recursos podem ser classificados em duas categorias: trabalho ou recurso humano e capital ou recurso não-humano. Em regra, os recursos são escassos, no sentido de serem quantitativamente limitados em relação ao desejo pelos bens que podem produzir; são chamados de recursos econômicos. Alguns recursos, tais como o ar, são tão abundantes que podem ser obtidos pela simples apropriação; são os chamados recursos livres, pois não exigem preço. • Necessidades humanas Consistem do “know-how” e dos meios físicos para transformar os recursos de modo a satisfazer às necessidades. • Mercado É o local ou contexto no qual compradores e vendedores compram e vendem bens, serviços e recursos. Nós temos um mercado para cada bem, serviço ou recurso comprado e vendido no sistema econômico. • Equilíbrio É uma condição de mercado que, uma vez atingida, tende a persistir. O equilíbrio resulta do balanceamento das forças de mercado. • Preço É a razão de troca ou valor reduzido à unidade. Num sistema de livre concorrência o preço de mercado é aquele formado pela interseção das curvas de oferta e demanda. Introdução e conceitos básicos 7 • Concorrência (competição) É uma característica de um mercado que determina a facilidade ou dificuldade com que cada comprador ou vendedor pode influenciar individualmente no preço de certo produto. • Firma São propriedades particulares, sociedades e corporações empenhadas na compra e alocação de recursos e na produção e venda de bens e serviços ao consumidor. • Cartel É uma combinação de firmas cujo objetivo é limitar a atuação de forças competitivas dentro de um mercado. • Elasticidade Seja a função y = f (x) em que y é a variável dependente e x a variável independente. Chama-se elasticidade a variação percentual na variável y resultante de uma dada variação percentual na variável x. • Conceito marginal Seja a função y = f(x) em que y é a variável dependente e x é a variável independente. Chama-se de y marginal, em determinado ponto da função, a variação de y por cada unidade de variação de x. • Estática comparativa e dinâmica A estática comparativa estuda e compara duas ou mais posições de equilíbrio sem levar em conta o período de transição e o processo envolvido no ajustamento. A dinâmica, por outro lado, trata da trajetória ao longo do tempo e do processo de ajustamento em si. • Análise do equilíbrio parcial e geral A análise do equilíbrio parcial é o estudo do comportamento das unidades individuais e da atividade dos mercados individuais, vistos isoladamente. O equilíbrio geral, por sua vez, estuda o comportamento de unidades individuais e todos os mercados individuais simultaneamente. 1.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MERCADOS Os mercados de venda são, usualmente, classificados em quatro tipos, tendo como base a importância das firmas individuais em relação ao mercado inteiro no qual elas operam e se os produtos vendidos num mercado particular são homogêneos. Os tipos de mercado são: a) concorrência perfeita; b) monopólio; EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 8 c) oligopólio; d) concorrência monopolística. • Concorrência perfeita É um modelo econômico de um mercado, tendo as seguintes características: cada agente econômico é tão pequeno em relação ao mercado que não pode exercer influência perceptível no preço. O produto é homogêneo, há uma livre mobilidade de todos os recursos, incluindo livre e fácil entrada e saída das firmas e todos os agentes econômicos no mercado gozam de completo e perfeito conhecimento. • Monopólio É uma situação de mercado na qual uma só firma vende o produto para o qual não há bons substitutos. A firma tem todo o mercado do produto para si. Este mercado foi definido do ponto de vista do vendedor; se foi conceituado como mercado de compra, recebe o nome de monopsônio, que significa um único comprador. • Oligopólio É aquele em que o número de vendedores é bastante pequeno de modo que as atividades de um deles afete às demais firmas e às atividades dos demais também a afetam. Mudanças no nível de produção e no preço de uma firma afetarão as quantidades que outros vendedores podem vender e os preços que podem cobrar. Portanto, outras firmas reagirão, de algum modo, às mudanças de preços e produção por parte de uma das firmas. É um mercado onde existe uma elevada concentração econômica, o que permite ditar preços. No caso do oligopólio é fácil a formação de um cartel. Conceituado como mercado de compra, recebe o nome de oligopsônio, o que indica a presença de poucos compradores. • Concorrência monopolística É uma situação de mercado em que há muitos vendedores de determinado produto, mas, na mente dos consumidores, o produto de cada vendedor é de algum modo diferenciado do produto dos demais. A diferenciação do produto pode tomar a forma de marca registrada, diferença de qualidade ou diferença nas facilidades ou serviços oferecidos aos consumidores. 2 ORGANIZAÇÃO DE UM SISTEMA ECONÔMICO 2.1 INTRODUÇÃO O sistema econômico é o ambiente onde se desenvolvem as atividades econômicas de produção, consumo e troca. Pode ser concebido por um país e, como tal, tem sua caracterização dada por: a) recursos naturais, que definem as vocações de produção, consumo e troca; b) cultural-social, que influi no comportamento e formação do homem,definindo seus gostos e costumes; c) “know-how”, que indica o conhecimento de técnicas que promovem o curso e o progresso da economia do país e bem-estar do povo. O sistema econômico pode ser classificado em: a) economia de mercado; b) economia planificada; c) sistemas mistos. A economia de mercado é um sistema em que a decisão é do indivíduo (produtor e consumidor). Neste sistema, as pessoas, por meio da demanda, elegem ou apontam os produtos mais importantes para a sociedade; é o sistema mais comum no mundo capitalista. O estado não interfere no mercado (economia) e seu papel é de legislador e fiscalizador do cumprimento das leis (normas) do comércio. Na economia planificada, as decisões são tomadas por um planejamento central do governo, que determina o que deve ser produzido e consumido no país. Já os sistemas mistos constituem-se, em diversos graus, de características das duas economias citadas. EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 10 2.2 UM MODELO SIMPLIFICADO O diagrama de "fluxo circular” (Figura 1) proporciona um modelo altamente simplificado de um sistema econômico de livre empresa. As unidades são classificadas em dois grupos: a) famílias; b) empresas. Estas interagem em dois tipos de mercado: a) mercado de bens de consumo e serviços; b) mercado de recursos. Famílias, empresas, mercado de bens de consumo e serviços e mercado de recursos são as partes componentes de uma economia de livre empresa. Formam o núcleo ao redor do qual se constrói a teoria do preço. Famílias incluem todos indivíduos além de unidades familiares da economia e são consumidores da produção de bens e serviços da economia; possuem também os recursos da economia. As empresas são um grupo mais restrito, empenhado na compra e aluguel de recursos de produção e na venda de bens e serviços. Em alguns casos a mesma unidade econômica funciona como firma, ou emprego, e família, sendo a unidade agrícola explorada pela família, um exemplo deste caso. Presume-se que suas atividades como empresa possam ser nitidamente separadas de suas atividades como família. A metade superior da Figura 1 representa o mercado para bem de consumo e serviços. As famílias, como consumidores, e as empresas, como vendedores, interagem nos mercados. Acontece então um fluxo de bens e serviços das empresas para os consumidores e um fluxo oposto de moeda dos consumidores para as empresas. Os preços dos bens e serviços formam o elo de ligação entre os dois fluxos. O valor do fluxo de bens e serviços será igual ao valor do fluxo oposto da moeda. A metade inferior da Figura 1 representa o mercado de recursos. Os serviços de trabalho e capital, em diversas formas, fluem dos proprietários de recursos (famílias) para as empresas. O fluxo oposto, de moeda para estes pagamentos, ocorre sob a forma de salários, rendas, dividendos, juros e assim por diante, dependendo dos arranjos contratuais sob os quais se encontram. São estes os preços dos recursos, avaliando seus serviços e formando o elo de ligação entre os dois fluxos. Em termos monetários, os dois fluxos são iguais. Organização de um sistema econômico 11 (2) Receita dos negócios (1) Custo de vida dos consumidores (Oferta de bens de consumo e serviços) (Demanda por bens de consumo e serviços) Mercado de bens de consumo e serviços Bens e serviços EMPRESAS FAMÍLIAS Mercado Trabalho e capital de recursos Salário, aluguel, juros, etc. (3) Custo de produção (4) Renda dos consumidores (Demanda por recursos) (Oferta de recursos) FIGURA 1 - Modelo simplificado de um sistema econômico de livre empresa. A moeda circula continuamente das famílias para as empresas e dessas para as famílias. A venda de bens e serviços coloca o dinheiro à disposição das empresas, para comprar os serviços e os fatores e continuar a produção. A venda ou aluguel dos serviços e dos fatores coloca o dinheiro à disposição de seus proprietários, para a compra de bens e serviços. O fluxo monetário assume quatro aspectos correntes ao completar o circuito: é o custo de vida dos consumidores, no ponto (1); é a receita auferida pelas empresas, no ponto (2) (custo de vida agregado e receita agregada dos negócios são a mesma coisa, vista de dois ângulos diferentes); no ponto (3) o fluxo monetário torna-se o custo da produção, enquanto no ponto (4) é a renda dos consumidores (custo de produção agregado e renda agregada dos consumidores são a mesma coisa, vista de dois ângulos diferentes). Dinheiro EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 12 Se a economia é estacionária, isto é, não se expande nem se contrai, o fluxo monetário da metade superior da Figura 1 será igual ao fluxo da metade inferior. O valor agregado dos bens e serviços igualar-se-á ao valor agregado dos serviços e dos fatores. Os consumidores gastam toda sua renda (não há poupança). Igualmente, as empresas gastam todo o dinheiro recebido com os proprietários de recursos e não há poupança. Não há investimento líquido. Na produção de bens e serviços o equipamento se desgasta ou desvaloriza. Alguns serviços ou fatores são utilizados para substituição ou depreciação, mas custos de reposição ou depreciação são na realidade uma parte do custo de produção dos bens. O modelo apresentado na Figura 1 pode ser expandido e tornado tão complexo quanto se queira. Entretanto, para os propósitos deste texto, é suficiente o entendimento do modelo simplificado de um sistema econômico. 2.3 FUNÇÕES DE UM SISTEMA ECONÔMICO O sistema econômico deve, de algum modo, desempenhar cinco funções estreitamente relacionadas. Deve determinar: • O que deve ser produzido A indicação do que deve produzir é essencialmente um problema de determinar quais necessidades, na coletividade, são mais importantes e em que grau se devem satisfazer. • Como se deve organizar a produção Consiste em organizar os recursos para produzir os bens desejados, em quantidades desejadas. • Como se deve distribuir a produção A distribuição da produção efetua-se simultaneamente com a determinação do que deve ser produzido e com a organização da produção. A distribuição do produto depende da distribuição da renda pessoal; aqueles que possuem rendas mais elevadas obtêm maior parcela do produto da economia. • Como se deve racionar os bens durante períodos muito curtos O sistema econômico deve adotar medidas para racionar os bens ao longo do período durante o qual não se pode modificar suas ofertas. • Como se deve sustentar e expandir a capacidade produtiva Espera-se que toda economia mantenha e amplie sua capacidade produtiva. A manutenção refere-se a conservar intacta a força produtiva da máquina econômica, por meio de uma provisão para depreciação. Ampliação refere-se ao aumento contínuo das Organização de um sistema econômico 13 espécies e quantidades de recursos da economia, juntamente com o contínuo melhoramento das técnicas de produção. O funcionamento do sistema econômico apresentado pela Figura 1 se aplica em uma economia de mercado livre. O mecanismo de preços é a principal força organizadora de todo esse sistema. Os preços organizam a produção e desempenham importante papel na distribuição do produto, servindo para distribuir um bem num prazo muito curto, durante o qual sua oferta é fixa. O mecanismo de preçosé também elemento importante para proporcionar a manutenção e crescimento econômico. 3 FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE OFERTA E DEMANDA 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O preço é um elemento comum a ambos os lados do mercado, o da oferta e o da demanda, e de interesse fundamental na microeconomia. Neste tópico, os conceitos de oferta e demanda são examinados, a fim de se verificar como o preço se torna o elemento comum e como ele desempenha seu importante papel. 3.2 A LEI DA DEMANDA A lei da demanda pode ser apresentada de modo simples: “a quantidade que se deseja comprar, por unidade de tempo, será maior quanto menor for o preço, ceteris paribus (isto é, mantidas as demais condições constantes)”. As quantidades que os consumidores desejam adquirir são afetadas por numerosas circunstâncias como: a) o preço do bem; b) os gostos e preferências dos consumidores; c) o número de consumidores considerados; d) a renda dos consumidores; e) os preços dos bens relacionados àquele sob consideração; f) a variedade de bens disponíveis; g) as expectativas dos consumidores sobre os futuros preços dos produtos. Estes itens afetam a quantidade demandada, mas pressupõe-se que somente o preço do bem variará e as demais circunstâncias serão mantidas constantes, com o propósito de definir a demanda, ou seja, preço influenciando a quantidade demandada. A curva de demanda inclina-se para a direita e para baixo, como mostra a Figura 2. Note-se que o eixo horizontal chamado q/t (quantidade por unidade de tempo) é o lugar geométrico dos pontos que representam as quantidades máximas demandadas a todos Fundamentos da análise de oferta e demanda 15 os possíveis preços alternativos, ceteris paribus; isto é, a curva de demanda é apenas uma linha limite. Abaixo da curva, todas as posições são possíveis e, acima dela, nenhuma posição é possível. É importante lembrar que esta curva é um conceito de máximo: a dados preços, indica as quantidades máximas a serem adquiridas pelos consumidores e os preços máximos a serem pagos por diferentes quantidades por unidade de tempo. FIGURA 2 - Representação da curva de demanda. Na forma de função, pode-se representar a relação de demanda como: x = f (px, g, n, i, pr, v, ex), (1) na qual x é a quantidade demandada do bem x; px é o preço de x; g representa os gostos e preferências dos consumidores; n é o número de consumidores em consideração; i representa o total da renda dos consumidores; pr representa os preços de bens relacionados ao bem x; v indica a variedade de bens disponíveis e ex representa as expectativas dos consumidores. A equação para a curva de demanda de x pode ser como segue: x = f(px), (2) nas quais as outras variáveis da expressão (1) são parâmetros. Ou, pode-se inverter a relação de dependência e escrever: D D demanda q/t P EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 16 px = h (x), (3) assim expressando a equação de demanda pela forma na qual é comumente mostrada graficamente. A equação de demanda pode ser representada por forma curvilínea ou linear. A equação de demanda linear tem a forma: px = a – bx. (4) Neste ponto, deve-se fazer uma distinção entre mudança ao longo de cada curva de demanda e mudança da demanda. Mudança ao longo da curva de demanda representa uma mudança na quantidade adquirida, em decorrência de uma alteração no preço do próprio bem, quando todas as outras coisas que influenciam a quantidade adquirida permanecem constantes. Denomina-se tal situação de mudança na demanda (Figura 3a). Quando algumas das circunstâncias que vinham se mantendo constantes na definição de determinada situação da demanda sofrem alterações, modifica-se a própria curva de demanda; é a mudança da demanda (Figura 3b). Assim, no caso de um bem normal, um aumento na renda dos consumidores deslocará a curva de demanda para a direita, de DD para D1D1, na Figura 3b. Isto significa que, se a renda de um indivíduo é aumentada, ele demandará, a preços constantes, quantidades por unidade de tempo maiores que ele demandaria se sua renda não tivesse variado. Por outro lado, com uma diminuição na renda, a curva de demanda se desloca para a esquerda, de DD para D2D2 (Figura 3b). Uma mudança nos gostos e preferência dos consumidores, em favor do bem em questão, terá idênticos resultados. O mesmo se dará com um aumento do número de consumidores. Os efeitos sobre a demanda de uma mercadoria x, condicionados por mudança nos preços de bens relacionados, definem a natureza destas relações. O bem relacionado é competitivo ou substituto, se um aumento no seu preço provoca uma mudança para a direita na curva de demanda da mercadoria x. A mudança resulta do abandono pelos consumidores do produto cujo preço se elevou, substituindo-o pelo produto de preço relativamente mais barato (carne de porco como substituto de carne de boi). Um bem relacionado é complementar se um aumento no seu preço provoca um deslocamento da curva de demanda da mercadoria x para a esquerda. Um preço mais elevado de um bem relacionado induz o consumidor a adquirir menos quantidade deste bem. Se adquirindo menos os consumidores desejam menos o produto x, há uma indicação de complementaridade ( a exemplo de pão e manteiga). A curva de demanda do mercado para uma dada mercadoria nada mais é que o resultado da soma das curvas de demanda de cada um dos consumidores que compõem este mercado. Portanto, a cada preço, a quantidade demandada no mercado é a soma de todas as quantidades demandadas individualmente àquele preço. Fundamentos da análise de oferta e demanda 17 FIGURA 3 - Mudanças nos determinantes da demanda. 3.3 O LADO DA OFERTA A curva de oferta mostra as diversas quantidades do bem que um ou mais vendedores colocarão no mercado durante dado período de tempo, a todos os possíveis preços alternativos, ceteris paribus. A curva de oferta é o lugar geométrico dos pontos que indicam as quantidades máximas ofertada no mercado. É uma linha limite, acima da qual todas as posições são possíveis e abaixo da qual nenhuma posição é possível. Supõe-se que a curva seja positivamente inclinada (Figura 4). A qualquer preço dado, os vendedores poderão desejar ofertar uma quantidade menor que a correspondente na curva de oferta, mas nenhum deles poderá ser levado a ofertar uma quantidade superior àquela. Do ponto de vista das quantidades ofertadas, a curva mostra os preços mínimos necessários para induzir os ofertadores a colocar várias quantidades do produto no mercado. Eles aceitarão um preço mais alto por dada quantidade, mas não oferecerão esta quantidade por um preço mais baixo que o indicado na curva de oferta. Mais uma vez, utiliza-se o termo ceteris paribus, denotando, portanto, uma série de elementos que devem ser mantidos constantes. Ao enumerar algumas destas P D D p1 p2 q1 q2 0 q/t (a) P P 0 q2 q1 q D1 D D2 q/t D2 D D1 (b) EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 18 condições, deve-se ter em mente que o lado da oferta no mercado é o lado dos custos e que as condições de oferta têm de refletir elementos de custo. Uma das condições ceteris paribus é a tecnologia.Evidentemente, uma mudança de tecnologia afetará de algum modo as condições de custo dos ofertantes. Impostos, subsídios, preços dos recursos de produção, características da natureza como o clima, por exemplo, influenciam a oferta e devem ser considerados constantes. FIGURA 4 - Representação da curva de oferta. A equação de oferta pode ser expressa como: x = g(px), (5) ou, alternativamente, como: px = z(x), (6) em que x é a quantidade ofertada da mercadoria x e px é o preço de x. As demais condições que influenciam a oferta são mantidas constantes. A forma geral de uma equação linear de oferta será: px = c + dx. (7) Como na demanda, se uma ou mais das citadas condições da oferta variam, diz-se que ocorreu um deslocamento da curva de oferta; se o movimento se deu ao longo da curva de oferta, houve uma variação na quantidade oferta. P q/t S S O Fundamentos da análise de oferta e demanda 19 3.4 O EQUILÍBRIO E A INTERAÇÃO DA OFERTA E DEMANDA A Figura 5 ilustra os dois lados do mercado, o da oferta e o da demanda. Observa- se que as curvas de oferta e demanda interceptam-se a um preço igual a p1 e a quantidade igual a q1, que são chamados preço de equilíbrio e quantidade de equilíbrio, respectivamente. Suponhamos que o preço tenha aumentado para p2. Em p2, a quantidade oferecida é maior que a quantidade demandada e ocorre um excesso de oferta no mercado. Assim, os vendedores desejarão baixar o preço, a fim de liquidar o excesso. Por outro lado, se o preço tivesse caído até p3, a quantidade demandada seria maior que a quantidade ofertada e ocorreria uma escassez no mercado. Deve-se notar que qualquer movimento de afastamento de equilíbrio coloca em ação forças reguladoras que causam um movimento de retorno ao equilíbrio. Pode-se, portanto, definir o preço de equilíbrio como aquele que, uma vez atingindo, tende a se manter. O mesmo vale para a quantidade de equilíbrio. O preço e a quantidade de equilíbrio são determinados matematicamente, resolvendo-se a equação de oferta e demanda simultaneamente. Se elas são, respectivamente, px= 4 + 1/4x (oferta) e px = 10 – 3/4x (demanda), tem-se que a quantidade (x) é 6 e o preço de equilíbrio (px) é igual a 5,5. FIGURA 5 - Condição de equilíbrio no mercado. P q/t D P D 0 q3 q’2 q1 q2 q’3 P2 P1 P3 S D S Escassez ou excesso de demanda Excedente ou excesso de oferta EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 20 3.5 O CONCEITO DE ELASTICIDADE Quando ocorre um movimento ao longo de uma curva de oferta ou de demanda, é necessário ter algum método de comparar variações de preços e seus efeitos sobre a quantidade ofertada ou demandada. Tal método está contido no conceito de elasticidade. Em geral, o coeficiente de elasticidade é definido como a variação percentual na variável dependente, dividida pela variação percentual na variável independente. Portanto, o coeficiente de elasticidade-preço da demanda (ex) é a variação percentual na quantidade demandada de x dividida pela variação percentual no seu preço, a quantidade demandada sendo a variável dependente1 : ∆q/q ∆q p ex = - ______ = - ____ x __ . (8) ∆p/p ∆p q Se ex > 1, a demanda é dita elástica (uma dada variação percentual no preço resultará numa variação percentual maior na quantidade demandada). Quando ex = 1, a demanda tem elasticidade unitária (a variação percentual no preço e na quantidade demandada é a mesma) e, se ex < 1, a demanda é inelástica (uma dada variação no preço resultará numa variação percentual menor na quantidade demandada). Uma curva de demanda em linha reta (estendida a ambos os eixos) é elástica acima do seu ponto médio, tem elasticidade unitária no ponto médio e é inelástica abaixo de seu ponto médio (Figura 6) . Significa que, para uma demanda linear, a demanda é elástica para preços altos, tem elasticidade unitária no ponto médio e é inelástica para preços baixos. À medida que o preço de uma mercadoria cai, os gastos totais do consumidor com a mercadoria (p vezes q) sobem quando ex > 1; permanecem constantes quando ex = 1 e caem quando ex<1. Quando se estuda o lado da demanda no mercado encontram-se outros coeficientes de elasticidade, além do coeficiente de elasticidade-preço. Neste ponto, há várias medidas que devem ser mencionadas. A primeira é a noção de elasticidade-renda da demanda (eR), que se define como a variação percentual na quantidade demandada dividida pela variação percentual na renda do consumidor. Neste caso, a quantidade demandada continua a ser a variável dependente, mas agora toma-se a renda como variável independente e coloca-se o preço como uma das condições ceteris paribus. Pode-se indicar a fórmula da elasticidade-renda como: 1 Como preço e quantidades são inversamente relacionados, o coeficiente elasticidade–preço da demanda é um número negativo. Com o objetivo de trabalhar com valores positivos, um sinal negativo é introduzido na fórmula da elasticidade-preço. Fundamentos da análise de oferta e demanda 21 ∆q/q ∆q r er = ________ = _____ . __ . (9) ∆r/r ∆r q FIGURA 6 - Elasticidades numa curva de demanda linear. A fórmula (9) é útil para mostrar o efeito sobre a demanda por um determinado bem, quando somente a renda varia. Se o coeficiente é positivo, o bem é normal, mas se o coeficiente é negativo, é chamado inferior. Se er > 1, diz-se que a elasticidade-renda da demanda é alta. Por outro lado, se er < 1, diz-se que ela é baixa. Geralmente, os bens supérfluos têm alta elasticidade–renda da demanda, enquanto que os considerados como necessidades normalmente possuem baixa elasticidade-renda. Uma outra medida é o conceito de elasticidade-cruzada da demanda (e1,2), que se define como variação percentual na quantidade demandada do produto 1 dividida pela variação percentual no preço do produto 2. O preço do produto 1 é aqui considerado como uma condição ceteris peribus. Assim: ∆q1/q1 ∆q1 p2 e1,2 = ________ = _____ . ____ . (10) ∆p2/p2 ∆p2 q1 elástica unitária inelástica D D P q/t EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 22 O conceito de elasticidade-cruzada da demanda mede a extensão em que os vários produtos estão relacionados entre si. Por exemplo, se o preço do produto 2 subisse e a quantidade demandada do produto 1 aumentasse, o coeficiente de elasticidade cruzada da demanda seria positivo. Neste caso, os bens são substitutos. Inversamente, se o preço do produto 2 subisse e a quantidade demandada do produto 1 diminuísse, diz-se que os produtos são complementares. Também pode-se medir elasticidade do lado da oferta do mercado. O coeficiente de elasticidade-preço da oferta (es) consiste na variação percentual na quantidade ofertada dividida pela variação percentual no preço. Assim: ∆q/q ∆q p es = ______ =____ . ___ . (11) ∆p/p ∆p q Diz-se que a curva de oferta é elástica se es > 1, inelástica para es < 1 e de elasticidade unitária se es = 1. Quando a elasticidade de oferta mede as variações percentuais entre a quantidade ofertada de um produto e o preço de outro, tem-se o conceito de elasticidade-cruzada da oferta (es1,2). Se o valor do es1,2 for negativo, os produtos são classificados como substitutos e, se for positivo, são produtos complementares (conjuntos). Como exemplo da primeira relação, têm-se milho e soja e, como complementares, citam-se os consórcios como milho e feijão. 3.6 APLICAÇÕES DO MODELO DE OFERTA E DEMANDA O modelo de oferta e demanda proporciona esclarecimentos úteis nos efeitos de certas políticas econômicas adotadas pelo governo. Uma política de controle de preços (tabelamento) utilizada com a finalidade de proteger os consumidores dos altos preços de alguns produtos considerados necessidades e controlar a inflação, pode levar à escassez do produto e sua persistência através do tempo cria um problema de racionamento. Para ilustrar esta situação, supõe-se que o governo estabeleça um preço máximo menor que o preço de equilíbrio no mercado. Na Figura 7, pe é o preço de equilíbrio e pt é o preço tabelado. Ao nível do preço controlado, os consumidores estariam interessados em comprar q2 e os vendedores, por sua vez, estariam dispostos a vender somente q1, gerando uma escassez q1q2. Fundamentos da análise de oferta e demanda 23 FIGURA 7 - Efeito da fixação de preço abaixo do equilíbrio de mercado. Na prática, estes desejos em conflito têm que ser reconciliados. A quantidade q1 tem que ser racionada entre os consumidores desejosos em adquirir q2. O resultado final dependerá da política do governo: a) o governo pode dar um subsídio aos produtores, de tal maneira que a quantidade o q2 seja oferecida ao preço pt. O subsídio será o equivalente a pspt por unidade; b) mantida tal política de controle, é possível que surja neste caso o mercado negro e, provavelmente, o ágio. Permanecendo a situação sem o controle governamental, a tendência seria a de se obter uma condição de equilíbrio. Neste caso, não haveria falta do produto no mercado em razão do incentivo a um aumento na produção toda vez que o preço se tornasse elevado. Já uma política de garantia de preços acima do preço de equilíbrio pode levar a uma situação de superávit (Figura 8). Ao preço pt , acima do nível de equilíbrio, a quantidade demandada será q1 e a oferta será q2, gerando um excedente q1q2. D ps pe pt Déficit S D S q/t 0 q1 q2 P EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 24 FIGURA 8 - Efeito da fixação de preço acima do equilíbrio de mercado. O que faz o governo diante do superávit acumulado? Sabe-se, pelo modelo de mercado, que se a demanda pode ser aumentada e a oferta diminuída, haverá menos superávits. Para aumentar a demanda, é preciso criar condições para maior consumo do produto; tentar-se-á vender mais produto no exterior, por exemplo ou, para diminuir a oferta, podem ser colocadas restrições à produção, a exemplo de controle da área a ser plantada. Dentro dessa análise, é possível um programa de manutenção de preços pelo armazenamento. Esse excesso q1q2 (Figura 8) pode ser adquirido pelo governo ao preço pt, que irá distribuí-lo conforme as necessidades. Assim, com a intervenção governamental, toda a quantidade ofertada do produto foi consumida ao preço pt, maior que o de equilíbrio, elevando a renda do produtor. Isto é bom para o produtor, mas ruim para o consumidor que acabará pagando mais pelo produto. Também, com o objetivo de manutenção de preços de certos segmentos da economia, o governo pode estabelecer cotas de mercado, limitando a produção e mantendo os preços em um nível mais elevado. Esta política proporciona aumento de renda para setores que se defrontam com uma demanda inelástica pelo produto. Em razão da inelasticidade da curva de demanda, uma limitação da produção provoca a elevação mais que proporcional do preço e, em conseqüência, o aumento da renda do produtor (Figura 9). D pt pe Superávit S D S q/t 0 q1 q2 P Fundamentos da análise de oferta e demanda 25 FIGURA 9 - Efeito do aumento de preço na renda do produtor em uma estrutura de demanda inelástica. Pela Figura 9, ao preço p2 (p2 > p1), a receita total do produtor (retângulo op2E2q2) é maior que aquela obtida quando o preço era p1 ( retângulo op1E1q1). D S’ S P q/t S’ S P2 P1 0 q2 q1 D E1 5 SETOR AGROPECUÁRIO E A ECONOMIA RURAL 5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este capítulo busca apresentar algumas características inerentes à atividade agropecuária que a diferenciam de outros setores econômicos. Inicialmente, apresentam- se algumas evidências dos produtos e produção agropecuária para, a seguir, discutir as características de renda e consumo. O próximo item aborda o agronegócio brasileiro e sua importância na economia brasileira, com exemplos das cadeias do leite e do café. 5.2 CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS E DA PRODUÇÃO AGRÍCOLAS A Figura 17 representa o diagrama das principais características inerentes aos produtos agrícolas e à produção agropecuária. Esses produtos, na forma bruta, são perecíveis e volumosos. A produção agrícola apresenta características de sazonalidade, variabilidade da produção e na qualidade, dificuldade de ajustamento de oferta e enfrenta estruturas de mercado que variam de um alto grau de concorrência a mercados dominados por poucos agentes econômicos. Quando o produto agrícola é colhido, ele se apresenta na forma bruta, que precisa ser processado antes de atingir o consumidor final. O grau de perecibilidade é outro aspecto desse produto e varia entre os diferentes tipos, sendo maior em hortaliças, frutas e carnes, e menor em grãos. O grande volume ocupado pelos produtos agrícolas após sua colheita afeta os custos de transporte e armazenamento, principalmente aqueles que apresentam maior proporção de água, a exemplo de frutas. EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 56 FIGURA 17 - Características dos produtos e da produção do setor agropecuário. Características dos produtos agrícolas Características da produção agrícola Variabilidade Atomização Dificuldade de ajustamento Sazonalidade Variação na qualidade Estrutura de mercado Distribuição geográfica Forma bruta Perecíveis Volumosos Setor agropecuário e a economia rural 57 Entre as características da produção agropecuária, a variabilidade da produção anual, sujeita a riscos de clima, doenças e pragas, leva à necessidade de formação de estoques ao longo do ano para garantir o abastecimento. Já o efeito sazonal, caracterizado pela presença da safra e entressafra, reforça a necessidade de uma política de armazenamento durante o ano, permitindo uma oferta do produto, tanto na safra quanto na entressafra. A produção agrícola está distribuída geograficamente conforme a disponibilidade de fatores produtivos, custos competitivos, condições climáticas, o que torna importante a logística de transporte e distribuição para os grandes centros consumidores. O setor agropecuário é uma atividade cujo horizonte de planejamento é de longoprazo, elevando os riscos de mercado. A agricultura não é como o setor industrial que pode, em certos casos, adiar ou modificar a produção, ajustando-se a uma alteração na conjuntura econômica. Outra característica do mercado agrícola é o alto grau de competitividade no setor produtor. É um setor com grande número de produtores, cada um produzindo uma pequena quantidade em relação ao mercado desse produto, de maneira que não exercem influência no preço do que está sendo vendido. O produtor individual oferece uma proporção tão pequena em relação à oferta total que, se ele sair do mercado, o volume total ofertado não decrescerá o bastante para causar algum aumento de preço. Ou, se é oferecido mais pelo produtor individualmente, esta oferta não será o bastante para afetar o preço do produto. Acrescenta-se ainda a esse mercado produtor, a livre entrada e saída do mercado e a homogeneidade do produto. Nesse sentido, os produtores são tomadores de preço, ou seja, não influenciam individualmente no preço do produto vendido. E, em mercados competitivos, não comportam alta rentabilidade e a gestão de custos passa a ser diferencial de competição de cada produtor. Já do lado do mercado de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas, a estrutura é organizada, mais concentrada, caracterizando muitas vezes um mercado de oligopólio, que exerce grande influência nos preços do seus produtos. 5.3 CARACTERÍSTICAS DA RENDA E DO CONSUMO AGRÍCOLAS A Figura 18 representa algumas características da formação de renda agrícola e do consumo de produtos agropecuários. Ao contrário da indústria e do comércio, por exemplo, na maioria das vezes a formação da renda na agricultura ocorre somente na safra. Esta característica reflete a importância do planejamento financeiro do negócio agrícola. A demanda por produtos agrícolas é, normalmente, inelástica em relação aos preços. Isto acontece por serem bens necessários e de fácil saturação. Nesse caso, as vendas aumentam menos que proporcionalmente à redução dos preços, levando à perda EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 58 de renda dos produtores rurais. Já no caso de uma alta nos preços agrícolas, o resultado é um aumento de renda do setor. FIGURA 18 - Características da renda e do consumo de produtos do setor agropecuário. Características da renda agrícola Características do consumo agrícola Hábitos alimentares Modernização da sociedade Elasticidade preço Elasticidade renda Renda somente na safra Demanda inelástica Setor agropecuário e a economia rural 59 O processo cada vez maior de urbanização e modernização de nossa sociedade tem exigido mudanças nos hábitos alimentares. A sociedade, hoje, demanda produtos mais beneficiados, de maior valor agregado e com qualidade nos serviços. Entre diversos exemplos, têm-se o sucesso da comida a quilo, o maior consumo do leite longa vida nos últimos anos, a praticidade das embalagens de plástico, a presença cada vez maior das boutiques de carne nos supermercados, o crescimento dos alimentos congelados, a entrega a domicílio, entre outros. Considerando as características de elasticidade-preço da demanda e da renda, os produtos agrícolas são, além de geralmente inelásticos, classificados como normais, ou seja, considerados uma necessidade. Isto indica que, quando a renda aumenta, o consumo aumenta menos que proporcional; com queda da renda, a diminuição no consumo também será menos que proporcional à variação da renda. No entanto, esta classificação depende da faixa de renda em que se encontra o consumidor. Produtos como carnes de primeira podem ser um bem normal para uma faixa de renda e um bem superior, ou de luxo, para outra. Já outros alimentos podem ter o seu consumo diminuído quando a renda do consumidor aumenta: são classificados como bens inferiores. 5.4 O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO O agronegócio ou o termo “agribusiness” foi apresentado por Davis e Golderg, em 1957, como a “soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; das operações de produção na fazenda; do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles”. Na atual análise da economia, verifica-se que as atividades agrícolas passam por um intenso processo de modernização. Hoje, o conceito tradicional de economia primária (agricultura), secundária (indústria) e terciária (serviços), como se fossem estanques e não integradas, está sendo substituído por uma economia interligada, cujos elos incorporam, além do setor primário agropecuário, o setor a montante (insumos e bens de capital para setor rural) e o setor a jusante (armazenamento, transporte, processamento, transformação e distribuição), caracterizando o agronegócio. Na Figura 19 está representado o diagrama do agronegócio brasileiro, dividido em três segmentos: o setor a montante, o agropecuário e o setor a jusante. No segmento a montante estão as participações dos insumos para a agropecuária (sementes, calcário, fertilizantes, rações, produtos veterinários, combustíveis) e os bens de capital (tratores, motores, implementos, maquinário em geral) e no setor a jusante, formado pela industrialização e distribuição, estão os segmentos dos alimentos, têxteis, vestuário, calçados, madeira, bebidas, álcool, papel, papelão, fumo e o dos restaurantes, hotéis, bares, padarias, supermercados, comércios atacadista e de exportação. Os serviços de apoio (veterinários, agrônomos, pesquisa, marketing, transporte, armazenagem, portuário, EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 60 assistência técnica, sistema de informações, seguros) participam em todos os elos do complexo do agronegócio. Setor a montante Setor agropecuário Setor a jusante Consumidores finais Processamento/ transformação Distribuição e consumo • Sementes • Calcário • Fertilizantes • Rações • Produtos veterinários • Combustíveis • Tratores • Colheitadeiras • Implementos • Máquinas • Motores, etc. • Produção animal • Lavouras permanentes • Lavouras temporárias • Horticultura • Silvicultura • Extração vegetal • Indústria rural • Alimentos • Têxteis • Vestuário • Calçado • Madeira • Bebidas • Álcool • Papel • Papelão • Fumo • Óleos • Essências • Restaurantes • Hotéis • Bares • Padarias • Supermerca- dos • Comércio atacadista • Exportação Serviços de Apoio Veterinários – Agrônomos – P&D – Marketing – Vendas – Transporte – Armazenagem – Portuário – Assistência técnica – Informação de mercado – Bolsas de mercadorias – Seguros – Outros Fonte: Araújo et al. (1990). FIGURA 19 - O agronegócio brasileiro. Dados publicados pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA-USP), estimam que o agronegócio brasileiro respondeu por aproximadamente 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 1999, sendo que o PIB do agronegócio da agricultura e da pecuária representaram 19% e 8% do PIB do Brasil, respectivamente. Segundo a CNA/CEPEA-USP, estes resultados mostram a dependência dos outros setores da economia em relação à agropecuária, visto que a participação do PIB primário do setor rural, que é 7,62% do PIB brasileiro, multiplica-se em cerca de 3,5 vezes quando utilizado o conceito do agronegócio (Guilhoto e Furtuoso, 2000). Setor agropecuário e a economia rural 61 O procedimento adotado na pesquisa CNA/CEPEA-USP para a estimativa do PIBdo agronegócio se dá pelo enfoque do cálculo do valor adicionado a preços de mercado, com a base metodológica da matriz de insumo – produto, buscando evitar o problema da dupla contagem. Dessa forma, afirmam os pesquisadores do estudo, os resultados calculados diferem de trabalhos anteriores, apesar de apresentarem a mesma tendência. As Figuras 20 e 21 retratam os complexos do agronegócio do leite e do café. É bastante evidente a presença das estruturas de mercado no agronegócio brasileiro. O setor a montante é caracterizado por uma elevada concentração econômica, capaz de ditar preços, cujo sistema de mercado mais visível é o oligopólio, ao contrário do segmento agropecuário, constituído por uma estrutura competitiva e tomadora de preços. Já no setor a jusante, o segmento de processamento e transformação normalmente é classificado como um oligopólio do ponto de vista de venda e oligopsônio como mercado de compra. No setor de distribuição, a presença de uma estrutura oligopolística e de uma concorrência monopolística são as situações de mercado mais comuns. EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 62 Fonte: Jank et al. (1999). FIGURA 20 - O agronegócio do leite. Setor agropecuário e a economia rural 63 Fonte: Saes e Farina (1999). FIGURA 21 - O agronegócio do café. EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 64 5.5 OS MAIORES DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO No Quadro 7 está relacionado o ranking das maiores empresas do agronegócio brasileiro e os respectivos setores econômicos de atuação, conforme recente publicação da Revista de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Agroanalysis. QUADRO 7 - As maiores empresas do agronegócio brasileiro, exercício-base: 2000. Ranking Razão social UF Setor econômico 1 Cia. Brasileira de Distribuição - CBD SP Comércio varejista 2 Cia. Cervejaria Brahma RJ Bebidas 3 Bunge Alimentos S. A. SC Produtos alimentícios 4 Votorantim Celulose e Papel S. A. – VCP SP Celulose e papel 5 Aracruz Celulose S. A. ES Celulose e papel 6 Cargill Agrícola S.A. SP Produtos alimentícios 7 Basf S. A. SP Produtos químicos 8 Souza Cruz S.A. RJ Produtos do fumo 9 Perdigão Agroindustrial S.A. SP Produtos alimentícios 10 Indústrias Klabin S.A. SP Celulose e papel 11 Cia. Suzano de Papel e Celulose SP Celulose e papel 12 Bompreço S.A. Supermercados do Nordeste PE Comércio varejista 13 Bunge Fertilizantes S.A. SP Produtos químicos 14 Bahia Sul Celulose S.A. BA Celulose e papel 15 Casas Sendas Comércio e Indústria S.A. RJ Comércio varejista 16 Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos SP Produtos alimentícios 17 Celulose Nipo-Brasileira S.A. - Cenibra MG Celulose e papel 18 Pirelli Pneus S.A. SP Artigos de borracha e plásticos 19 Vicunha Nordeste S.A. – Indústria Têxtil CE Produtos têxteis 20 Ind. de Bebidas Antarctica do Norte-Nordeste S.A. BA Bebidas 21 Bayer S.A. SP Prod. farmacêuticos e veterinários 22 Du Pont do Brasil S.A. SP Produtos químicos 23 Makro Atacadista S.A. SP Comércio por atacado 24 Cia. Antarctica Paulista – Ind. Bras. de Bebidas e Conexos SP Bebidas 25 Seara Alimentos S.A. SC Produtos alimentícios Fonte: Campelo Jr. (2001). O Quadro 8 apresenta as principais empresas do agronegócio nacional classificadas por setor econômico e o Quadro 9 relaciona as dez maiores cooperativas do país. Setor agropecuário e a economia rural 65 QUADRO 8 - As maiores empresas do agronegócio brasileiro, classificadas por setor econômico, exercício-base: 2000. Razão social Setor econômico UF Açúcar e Álcool Usina Caeté S.A. AL S.A. Usina Coruripe Açúcar e Álcool AL Açucareira Zillo Lorenzetti S.A. SP Agropecuária Granja Rezende S.A. MG Artigos de Borracha e Plástico Pirelli Pneus S.A. SP Bebidas Cia. Cervejaria Brahma RJ Indústria de Bebidas Antarctica do Norte-Nordeste S.A. BA Cia. Antarctica Paulista – Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos SP Celulose e Papel Votorantim Celulose e Papel S.A. - VCP SP Aracruz Celulose S.A. ES Indústrias Klabin S.A. SP Cia. Suzano de Papel e Celulose SP Bahia Sul Celulose S.A. BA Comércio por Atacado Makro Atacadista S.A. SP Martins Comércio e Serviços de Distribuição S.A. MG Comércio Varejista Cia. Brasileira de Distribuição - CBD SP Bompreço S.A. Supermercados do Nordeste PE Casas Sendas Comércio e Indústria S.A. RJ Bompreço Bahia S.A. BA OMS – Organização Mineira de Supermercados S.A. MG Eldorado S.A. SP Fabricação e Montagem de Veículos Automotores, Partes e Peças Randon S.A. Implementos e Sistemas Automotivos RS Máquinas e Equipamentos SLC – John Deere S.A. RS Produtos Alimentícios Bunge Alimentos S.A. SC Cargill Agrícola S.A. SP Perdigão Agroindustrial S.A. SP Continua... EDITORA UFLA/FAEPE – Fundamentos de economia aplicada 66 Continuação... Razão social Setor econômico UF Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos SP Seara Alimentos S.A. SC Comércio e Indústrias Brasileiras Coinbra S.A. SP Sadia S.A. SC Avipal S.A. – Avicultura e Agropecuária RS Kraft Foods Brasil S.A. PR M. Dias Branco S.A. Comércio e Indústria CE Frangosul S.A. – Agro Avícola Industrial RS Danone S.A. SP Chapecó Cia. Industrial de Alimentos SC Braswey S.A. Indústria e Comércio SP Elegê Alimentos S.A. RS Chocolates Garoto S.A. ES Produtos de Madeira Duratex S.A. SP Eucatex S.A. Indústria e Comércio SP Produtos do Fumo Souza Cruz S.A. RJ Philip Morris Brasil S.A. PR Produtos Farmacêuticos e Veterinários Bayer S.A. SP Novartis Biociências S.A. SP Aché Laboratórios Farmacêuticos S.A. SP Indústria Química e Farmacêutica Schering-Plough S.A. RJ Produtos Químicos Basf S.A. SP Bunge Fertilizantes S.A. SP Du Pont do Brasil S.A. SP Fertilizantes Fosfatados S.A. - Fosfértil MG Ultrafertil S.A. SP Produtos Têxteis Vicunha Nordeste S.A. – Indústria Têxtil CE Cia. de Tecidos Norte de Minas - Coteminas MG Santista Têxtil S.A. SP Vestuário Cia. Hering SC Confecções Guararapes RN Fonte: Campelo Jr. (2001). Setor agropecuário e a economia rural 67 QUADRO 9 - As maiores cooperativas do Brasil, ano base: 2000. Ranking Cooperativa UF 1 Coop. de Prod. de Cana, Açúcar e Álcool do Est. de SP Ltda. – Copersucar SP 2 Coop. Agropecuária Mourãoense Ltda. – Coamo PR 3 Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda. – Itambé MG 4 Coop. Central Oeste Catarinense Ltda. – Coopercentral SC 5 Coop. Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. – Cooxupé MG 6 Coop. Central de Laticínios do Est. de São Paulo – CCL-SP SP 7 Coop. dos Agricultores da Região de Orlândia Ltda. – Carol SP 8 Coop. de Cafeicultores e Agropecuaristas de São Paulo – Coopercitrus SP 9 Coop. Agrícola Mista Vale do Piquiri Ltda. – Coopervale PR 10 Coop. Tritícola Erechim Ltda. – Cotrel RS Fonte: Campelo Jr. e Tibiriçá (2001).
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