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LIBRAS II

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Prévia do material em texto

2018
Língua BrasiLeira de sinais – 
LiBras ii
Rosemeri Bernieri de Souza
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Rosemeri Bernieri de Souza
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
SO729l
 Souza, Rosemeri Bernieri de
Língua brasileira de sinais - libras II. / Rosemeri Bernieri de 
Souza – Indaial: UNIASSELVI, 2018.
239 p.; il.
ISBN 978-85-515-0204-4
1.Língua de sinais – Brasil. 2.Lígua brasileira de sinais. II. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 419
III
apresentação
Prezado acadêmico! É com imenso prazer que apresento a você 
a disciplina de Língua Brasileira de Sinais – Libras II. Este caderno foi 
formulado com base em estudos recentes e tradicionais, tendo como 
objetivo apresentar as orientações teóricas e metodológicas que permitirão 
refletir sobre o conhecimento acerca das questões e debates que envolvem 
a linguagem verbal humana, as especificidades das línguas de sinais e as 
funções da linguagem falada e sinalizada.
Este material aborda diferentes concepções, tendo o intuito de 
problematizar os temas propostos e possibilitar uma visão ampla dos 
diversos aspectos relacionados à capacidade simbólica de lidar com signos, 
sejam eles verbais ou não. 
A Libras é uma língua que se destaca pela sua modalidade cinésico-
visual que, como toda língua natural, tem estrutura interna e externa. A 
Libras, assim como outras línguas, é dinâmica e está sempre em processo de 
desenvolvimento e ampliação. 
Pretendemos destacar, neste livro de estudos, a importância de se 
conhecer mais sobre o cérebro humano e os aspectos sociais, ressaltando 
que a linguagem verbal tem sua parte psicofisiológica, mas está também 
completamente relacionada com outros fatores externos, como a interação 
social e o contexto de comunicação. Em suma, o recorte de estudo da 
linguagem verbal para esta disciplina tomará pelo menos três perspectivas 
bem demarcadas: a psicobiológica, a sociocultural e a funcionalista. A cada 
momento, especificaramo as posições das quais os teóricos ou vertentes 
discursivizam. 
Na Unidade 1, apresentaremos os aspectos relevantes sobre a relação 
entre a linguagem verbal e a atividade cerebral, aprofundando temas como 
a abordagem científica da língua, sua aquisição e processamento. Também 
será estudada a relação entre cérebro e linguagem verbal, abordando o 
funcionamento cerebral em caso de surdez, o implante coclear e a afasia 
de sujeitos surdos sinalizantes. Concluindo a unidade, serão abordados os 
estudos em neurociências e a importância da interação social para a aquisição 
e desenvolvimento da linguagem verbal.
Na Unidade 2, serão abordadas a emergência e evolução das línguas 
de sinais, trazendo à discussão os processos envolvidos na passagem 
de sistemas gestuais caseiros para as línguas sinalizadas. Buscaremos 
desmistificar alguns preconceitos contra o surdo e sua língua, apontando 
mitos que veiculam na sociedade a fim de situar a Língua de sinais enquanto 
língua natural e abordar a cultura, a identidade e a representatividade do 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
surdo. Em um terceiro momento, focaremos o ensino e a formação de surdos 
e para surdos, adotando um olhar atual sobre as maneiras de repensar o 
ensino e aprendizagem para esses sujeitos, além de discutir sobre os aspectos 
psicológicos, pedagógicos e tecnológicos para a sua educação. 
Na Unidade 3, apresentaremos as funções comunicativas da 
linguagem humana, quando discutiremos o funcionalismo em linguística e 
os tipos de gêneros e textos discursivos em Libras. Abordaremos também 
outras áreas que podem ser muito importantes para a língua de sinais, como 
a análise do discurso e a linguística aplicada. Em um segundo momento, 
focaremos na gramática e na função comunicativa das línguas de sinais. Bem 
como versaremos sobre a corporalidade, os aspectos narrativos e a literatura 
nessa língua. Para finalizar o caderno, introduziremos alguns aspectos mais 
estruturais sobre a construção discursiva em língua de sinais, abordando 
algumas estratégias anafóricas, simultâneas e semântico-cognitivas. 
Desejo a você um bom estudo!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM ..................... 1
TÓPICO 1 – LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS 
PSÍQUICOS ....................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 LÍNGUA E LINGUAGEM ................................................................................................................... 5
3 O STATUS CIENTÍFICO DA LINGUAGEM VERBAL ................................................................ 8
4 PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM VERBAL ........................................................................ 14
5 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM ........................................................................................................ 18
6 A IDADE CRÍTICA PARA A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM .................................................. 20
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 – O CÉREBRO, A LINGUAGEM, A SURDEZ E A LÍNGUA DE SINAIS ................ 25
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25
2 RELAÇÃO ENTRE CÉREBRO E LINGUAGEM VERBAL ........................................................... 29
3 FUNCIONAMENTO CEREBRAL EM CASO DE SURDEZ ........................................................ 32
4 SURDEZ, LÍNGUA DE SINAIS E AFASIA ..................................................................................... 36
5 SURDEZ E IMPLANTE COCLEAR .................................................................................................. 40
6 ALGUMAS PESQUISAS COM SURDOS IMPLANTADOS .......................................................42
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47
TÓPICO 3 – NEUROCIÊNCIAS, SOCIOINTERAÇÃO E LÍNGUA DE SINAIS ....................... 49
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49
2 IMPLICAÇÕES NEUROLINGUÍSTICAS DO CÉREBRO BILÍNGUE ..................................... 51
3 PROBLEMATIZANDO A HIPÓTESE DO PERÍODO CRÍTICO À LUZ DA 
NEUROLINGUÍSTICA ....................................................................................................................... 55
4 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOINTERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO E DA LINGUAGEM ................................................................................................... 57
5 A IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO À LÍNGUA PARA O DESENVOLVIMENTO DA 
CRIANÇA SURDA ............................................................................................................................... 62
6 NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO .................................................................................................. 65
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 71
UNIDADE 2 – A LÍNGUA DE SINAIS: EVOLUÇÃO, STATUS E ENSINO ............................... 73
TÓPICO 1 – EMERGÊNCIA E EVOLUÇÃO DAS LÍNGUAS DE SINAIS ................................. 75
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75
2 DO GESTUAL AO LINGUÍSTICO ................................................................................................... 77
3 HOME SIGNS (LÍNGUAS DE SINAIS CASEIRAS) ...................................................................... 80
4 EMERGÊNCIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS .................................................................................. 83
5 A EVOLUÇÃO DAS LÍNGUAS DE SINAIS .................................................................................. 87
sumário
VIII
6 SOCIOLINGUÍSTICA DA LÍNGUA DE SINAIS.......................................................................... 90
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 95
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 96
TÓPICO 2 – OS MITOS E OS ASPECTOS CULTURAIS DOS SURDOS E DA LÍNGUA 
 DE SINAIS ......................................................................................................................... 97
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 97
2 SURDEZ E ESTEREOTIPIA SOCIAL ............................................................................................... 99
3 MITOS SOBRE O SUJEITO SURDO ............................................................................................... 103
4 MITOS SOBRE LÍNGUA DE SINAIS .............................................................................................. 107
5 CULTURA E IDENTIDADE SURDA ............................................................................................... 111
6 REPRESENTATIVIDADE SURDA ................................................................................................... 113
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 118
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 119
TÓPICO 3 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE LIBRAS ................................................................ 121
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 121
2 ENSINO DE LIBRAS: QUESTÕES DIDÁTICAS E METODOLÓGICAS ................................ 124
3 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM ............................................................................................ 127
4 PROJETO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE E EM LIBRAS ............................................... 132
5 DIFERENÇAS NA APRENDIZAGEM INTERMODAL ENTRE SURDOS E OUVINTES ..........135
6 APRENDIZAGEM BILÍNGUE BIMODAL PARA SURDOS ....................................................... 137
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 143
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 144
UNIDADE 3 – FUNÇÕES COMUNICATIVAS E FUNDAMENTOS LINGUÍSTICOS E 
DISCURSIVOS DA LÍNGUA DE SINAIS .............................................................. 145
TÓPICO 1 – FUNÇÃO COMUNICATIVA DA LINGUAGEM VERBAL ..................................... 147
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 147
2 FUNCIONALISMO EM LINGUÍSTICA ......................................................................................... 149
3 FUNÇÕES COMUNICATIVAS DA LINGUAGEM VERBAL ..................................................... 155
4 TEXTOS E GÊNEROS DISCURSIVOS ............................................................................................ 159
5 ANÁLISE TEXTUAL E DISCURSIVA .............................................................................................. 163
6 LINGUÍSTICA APLICADA ............................................................................................................... 165
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 168
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 169
TÓPICO 2 – EXPRESSIVIDADE E FUNÇÕES COMUNICATIVAS DA LÍNGUA 
 DE SINAIS ......................................................................................................................... 171
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 171
2 O QUE CONSTITUI UMA LÍNGUA DE SINAIS.......................................................................... 172
3 FUNÇÕES COMUNICATIVAS DA LÍNGUA DE SINAIS .......................................................... 177
4 CORPORALIDADE EM LÍNGUA DE SINAIS .............................................................................. 180
5 NARRATIVAS EM LÍNGUA DE SINAIS ........................................................................................ 184
6 FUNÇÃO POÉTICA EM LÍNGUA DE SINAIS .............................................................................. 188
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 192
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 193
TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS LINGUÍSTICOS E DISCURSIVOS EM LÍNGUA 
 DE SINAIS .........................................................................................................................195
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 195
IX
2 ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS EM LÍNGUA DE SINAIS ......................................................... 197
3 ESTRUTURAS DE GRANDE ICONICIDADE .............................................................................. 199
4 SIMULTANEIDADE EM LÍNGUA DE SINAIS ............................................................................. 204
5 REPRESENTAÇÕES SEMÂNTICO-COGNITIVAS ...................................................................... 208
6 ESTRATÉGIAS DÊITICAS E ANAFÓRICAS EM LÍNGUA DE SINAIS ................................. 211
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 215
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 216
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 219
X
1
UNIDADE 1
CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, 
CIÊNCIA E LINGUAGEM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
• entender o aspecto científico da linguagem verbal;
• distinguir língua e linguagem;
• relacionar os processos mentais e a linguagem verbal;
• comparar a aquisição de linguagem entre crianças surdas e ouvintes;
• conhecer a hipótese do período crítico para a aquisição de linguagem;
• estudar a relação entre cérebro, linguagem verbal, surdez e língua de sinais;
• entender o funcionamento cerebral em caso de surdez;
• compreender as afasias de surdos;
• conhecer o implante coclear;
• inferir sobre as (des)vantagens do implante coclear para a aquisição da lín-
gua oral;
• problematizar a questão do período crítico sob a ótica da Neurolinguística;
• identificar as implicações do bilinguismo na organização cortical;
• compreender o desenvolvimento da linguagem e da cognição com os fato-
res socioculturais;
• refletir sobre a importância da exposição linguística para o desenvolvimen-
to da criança;
• investigar as contribuições das neurociências para a educação.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SUA 
RELAÇÃO COM A COGNIÇÃO
TÓPICO 2 – O CÉREBRO, A LINGUAGEM E A LÍNGUA DE SINAIS
TÓPICO 3 – NEUROCIÊNCIAS, SOCIOINTERAÇÃO E LÍNGUA DE 
SINAIS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS 
ASPECTOS PSÍQUICOS
1 INTRODUÇÃO
A linguagem (verbal) é, desde que se há registro, ou seja, desde a 
Antiguidade, um dos aspectos da atividade humana mais debatidos e estudados. 
Não deveria ser diferente, já que ela está presente na nossa vida desde o nosso 
nascimento, além de permear todos os domínios do conhecimento e todas as 
práticas humanas. 
A linguagem verbal humana é complexa e multifacetada, por isso, o 
estudo dos fenômenos, vistos separadamente, serve apenas para fins didáticos, 
que se tratam de recortes dimensionais para a melhor compreensão do objeto. 
Quando usamos uma língua, estamos concatenando vários fenômenos que se 
sucedem simultaneamente. Assim, a exemplo da anatomia que separa o corpo 
humano em sistemas, por exemplo, o sistema respiratório, o sistema sensorial, 
o sistema muscular etc., os estudos linguísticos também sofreram suas divisões. 
Perceba que, neste momento, para que você possa estar lendo este texto, você 
precisa ter todos esses sistemas funcionando sincronicamente. Se apenas um 
desses sistemas apresentasse um mau funcionamento, provavelmente, todo o 
desempenho para a realização dessa tarefa fosse comprometido. Foi com base 
nessa separação do corpo em estruturas que alguns teóricos linguistas fizeram 
o seu recorte da linguagem verbal, surgindo, assim, o estruturalismo. Todavia, 
veremos que outros preferem ver o fenômeno linguístico sob aspectos diferentes, 
há aqueles que o estudam em relação aos estados psicológicos (Psicolinguística), 
outros em relação aos fatos sociais (Sociolinguística), outros o relacionam à 
biologia (Neurolinguística), entretanto, outros o relacionam à possibilidade de 
resolver problemas sociais, educacionais, discursivos que envolvem o objeto de 
estudo “linguagem” nas práticas humanas (Linguística Aplicada). Não há certo 
e errado no fazer pesquisa, há, sim, perspectivas diferentes que geram diversas 
epistemologias e fazeres teórico-metodológicos diferentes, por isso é preciso 
delimitar a área de conhecimento da qual se fala e sob qual perspectiva um 
determinado fenômeno é analisado. 
Segundo Santana (2007, p. 225),
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
4
[...] considera-se que a linguagem envolve aspectos formais (fonologia, 
sintaxe, semântica), pragmáticos (articulação de níveis linguísticos, 
manipulação de critérios de textualidade, de regras convencionais e 
discursivas), interativos (quadro de imagens dos falantes, memória 
discursiva), contextuais (entornos verbais, situacionais, contextuais), 
discursivos (dialogismos, interdiscurso, memória discursiva, pré-
construídos), psíquicos (atos falhos, lapsos, afetivos) e histórico-
culturais (presença da relação língua/sociedade).
 
É imprescindível estar a par dos vários aspectos desse objeto de estudo 
a fim de ter um amplo panorama dele, mas o recorte de estudo linguístico 
(línguas orais-auditivas, cinésico-visuais) para esta unidade seguirá a perspectiva 
psicobiológica, pois percebe a sua relação com o cérebro e a cognição. 
DICAS
O termo “cinésico-visual”, anteriormente citado, caracteriza a modalidade 
linguística da Língua de Sinais (LS), em contraposição à modalidade oral-auditiva das línguas 
faladas. Esse termo corresponde a outros termos empregados por outros autores, tais quais: 
gesto-visual e espaço-visual. Essa distinção nada mais é do que uma perspectiva diferente 
sobre o modo de percepção e produção da Língua de Sinais, ou seja, a percepção é visual 
e sua produção se dá por movimentos do corpo, face, membros superiores e mãos, que 
caracterizam os aspectos cinesiológicos do corpo humano. A cinesiologia é o estudo do 
movimento humano, empregado nas áreas das ciências desportivas e médico-terapêuticas. 
Esse termo provém da raiz Kinesis que, em grego, significa “movimento”. Cinésica é outro 
termo criado a partir dessa raiz. Trata-se, a princípio, de uma disciplina que estudava os 
gestos complementares às línguas faladas, fenômeno que foi investigado por Birdwhistell 
(1952), Rector e Trinta (1985), entre outros. Atualmente, é um estudo que pode englobar 
toda e qualquer expressão corporal, manual e facial (sinais, gestos, apontações), cujo 
sentido possa ser compreendido no discurso, ou seja, já não se relaciona somente com 
os elementos extralinguísticos complementares à fala, mas com todo signo que, isolada ou 
complementarmente, possua um valor simbólico. 
A depreender de sua multiplicidade, a linguagem verbal tornou-se uma 
ciência que foi chamada de Linguística. Devido a seu caráter heterogêneo, o seu 
estudo pode ser de ordem interdisciplinar, de modo que abarque alguns de seus 
aspectos co-ocorrentes. Entretanto, mesmo que aproximemos duas áreas do 
conhecimento, como a Psicologia e a Linguística, que geraram a Psicolinguística, 
ainda assim ficaremos à deriva no imenso oceano da linguagem verbal, 
principalmente porque os campos disciplinares possuem suas perspectivas que 
nem sempre convergem. Além disso, o tempo é uma medida bastante instável, uma 
vez que com ele passam também algumas concepções teórico-metodológicas para 
dar lugar a outrasmais recentes. O tempo também traz com ele a inovação, pois 
o pensamento humano está em constante transformação, exigindo e permitindo 
que novos aparatos tecnológicos sejam criados. 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
5
Nesses termos introdutórios, preparamos o caminho para a compreensão 
do tema deste tópico. 
Os objetivos deste tópico serão: 
• defi nir a diferença entre língua e linguagem; 
• expor alguns fatos históricos que determinaram o nascimento da Linguística 
enquanto ciência; 
• conhecer a área que investiga o processamento linguístico;
• explicar como a aquisição de linguagem tornou-se também alvo de 
investigações, culminando na criação de modelos de análise que servem para 
fazer generalizações; 
• discutir a existência de um período crítico para a aquisição de linguagem.
2 LÍNGUA E LINGUAGEM
Na leitura da seção anterior, você deve ter percebido o cuidado em 
distinguir linguagem, acrescentando o termo “verbal” ao lado. Esse adjetivo 
tem origem no latim "verbale", proveniente de "verbu", que quer dizer palavra. 
Linguagem verbal é, portanto, aquela que utiliza palavras - o signo linguístico. Em 
sua dissertação de mestrado, Correa (2007) salientou esta distinção, pois acredita 
haver uma confusão devido à sinonímia que relaciona esses termos. “Linguagem” 
tornou-se uma palavra passe-partout que abrange várias concepções, dentre elas: o 
aspecto verbal, que corresponde à expressão por meio de signos, especifi camente, 
linguísticos, ou o aspecto geral, que corresponde a uma habilidade natural ou de 
aprendizagem sistemática para lidar com diferentes signos. Veja a fi gura a seguir 
e entenda o que estamos querendo especifi car.
FIGURA 1 – OS CAMPOS DA SEMIÓTICA
FONTE: Adaptada de Correa (2007, p. 10) 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
6
Como mostra a figura anterior, as diferentes linguagens são sistemas 
de comunicação estudados no âmbito da Semiótica. A linguagem verbal está 
dentro dessa categoria mais ampla. Segundo uma tipologia semiótica geral, há 
diversas e diferentes linguagens (musical, matemática, corporal, gestual, verbal, 
entre outras), ou seja, no âmbito geral, linguagem pode se caracterizar como 
todo tipo de expressão humana ou não (animais e máquinas) que possibilite a 
comunicação de ideias, sensações, comportamentos, habilidades, formulações 
gerais etc. Dentro dessa tipologia geral, há níveis mais específicos, por exemplo, 
a linguagem corporal, que pode se desdobrar em: dança, pantomima e mímica. 
Já a linguagem verbal se desdobra em um nível específico que abrange as línguas 
em suas diferentes modalidades: cinésico-visual e oral auditiva. Essas, por sua 
vez, se desdobram ainda mais: a linguagem verbal cinésico-visual (sinalizada), 
que tem em sua categoria a Libras, a Língua de Sinais Francesa, a Língua 
Americana de Sinais; a linguagem verbal oral-auditiva (falada) que abrange: a 
Língua Portuguesa, a Língua Francesa, a Língua Inglesa, que também podem se 
desdobrar em uma língua escrita. 
DICAS
O conceito de língua, aqui entendido, refere-se a repertórios de linguagem 
verbal padronizados para os quais foram dados nomes institucionais, respondendo aos 
valores nacionalistas ou comunitários. Perceba que, embora a Língua Portuguesa do Brasil 
seja diferente da Língua Portuguesa de Portugal, convencionou-se chamar-lhes pelo mesmo 
nome. Isso tem uma razão de ser que remonta historicamente à época da colonização, 
mas é preciso compreender que as instituições linguísticas, denominadas línguas, são, assim 
como a maioria das linguagens humanas, hibridamente constituídas.
Algumas línguas, ou mais especificamente, algumas instituições 
linguísticas, possuem palavras cujas equivalências não se encontram em todas 
as outras línguas. É o caso da palavra “saudade” da Língua Portuguesa, termo 
que está ligado a uma única definição: “sentimento nostálgico ligado à memória 
de alguém ou de algo ausente” (HOUAISS, 2015). Com efeito, essa palavra está 
culturalmente vinculada às sociedades portuguesa e brasileira, mas, na verdade, 
o conceito existe em outras culturas, só que ele é caraterizado por uma palavra 
polissêmica ou por expressões, como “sentir falta” (avoir manque – francês; to miss 
– inglês) em acepções mais geralmente relacionadas à falta ou à perda. 
 
Com tudo isso, queremos chegar no âmago da questão sobre os termos 
“língua” e “linguagem”, que no inglês possuem um único termo, “language”. 
O fato de muitas das produções científicas chegarem até nós por meio de 
publicações em língua inglesa acaba gerando essa hibridização léxico-semântica 
nas traduções, mas não somente. Com o empreendimento da ciência linguística, 
outras linguagens, que não a verbal, foram desconsideradas, mesmo as mais 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
7
próximas dos enunciados, como os gestos. Veremos que isso também advém da 
falsa premissa de que somente a língua, vista de si mesma e em si mesma, é 
suficiente, relegando outros fatos que acompanham a comunicação e o discurso 
à periferia das análises. As hibridizações são marcas indeléveis das práticas 
humanas, e, como se tratam de práticas sociais, as línguas não são exceções. 
Para dar conta dessa hibridez e entendendo essa flutuação terminológica como 
parte inerente das mudanças sociais, linguísticas e epistemológicas, é preciso ter 
cuidado ao estudar um objeto, é preciso situá-lo, mostrar a perspectiva pela qual 
ele é contemplado e, às vezes, delimitar as distinções. 
 
No que tange a essa construção textual, não por causa de formalismos, 
mas pelo fato de trazer mais clareza à discussão, destacaremos a diferenciação 
entre: 
• língua - idioma oficial ou co-oficial de um país, formado por signos verbais que 
geralmente passam por processos de padronização para fins de ensino ou com 
o intuito de delimitar uma unidade nacional ou cultural.
• linguagem verbal - capacidade natural do ser humano para expressar seus 
conteúdos experienciais, mentais, sociais e afetivos, que podem ser de um ou 
de diferentes repertórios linguísticos e de diferentes falares e sinalares, por 
meio de signos linguísticos unicamente.
• linguagem - capacidade de compreender, expressar e desenvolver manifestações 
sígnicas (sonoras, visuais ou táteis) de diferentes naturezas: verbal (língua) ou 
não verbal (linguagem gestual, corporal), formal (linguagem matemática), 
mistas (musical, escrita = canto). Embora alguns animais façam uso de 
determinada linguagem para comunicar, trata-se de um sistema limitado. 
Efetivamente, a capacidade para criar e usar sistemas simbólicos, como a 
linguagem verbal, a dança, a mímica, a pintura, a escultura, o teatro etc., é uma 
competência exclusivamente humana. Esse termo também compõe a expressão 
‘aquisição de linguagem’, nesse caso não acrescentarei o termo ‘verbal’, pois, 
no desenvolvimento da criança sabe-se que diferentes tipos de linguagens, não 
somente verbais, mas gestuais, avançam juntamente e se complementam. 
DICAS
Sinalares é um conceito novo definido como modos diferentes de usar uma 
mesma língua de sinais, pois entende-se que cada região, cada grupo, cada indivíduo faz 
escolhas lexicais e tem “sotaques” diferentes, caracterizando as variedades de uma língua. 
Infelizmente, os sinalares e falares são alvo de preconceito, visto que a concepção de uma 
língua pura e normatizada é um levante ideológico muito bem arraigado na nossa sociedade.
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
8
Para complementar o que foi apresentado até aqui:
Dentro da concepção anteriormente delineada, língua e linguagem não 
possuem relação de sinonímia, pois estão em posições hierárquicas diferentes. 
Enquanto a língua é uma instituição social, com elementos e organização mais ou 
menos estáveis, que passapor transformações históricas, por isso marcadamente 
ideológica, a linguagem está numa relação hiperonômica, visto que ela abrange 
várias manifestações semióticas, incluindo a língua em seu desmembramento 
tipológico verbal. A linguagem verbal, por sua vez, é uma habilidade natural de 
lidar com signos formais e discursivos de diferentes repertórios linguísticos. Essa 
distinção será de suma importância para a compreensão das seções, tópicos e 
unidades seguintes.
Iniciamos agora um profundo estudo que envolve uma compreensão 
mais clara sobre língua e linguagem a fim de vislumbrar os diferentes aspectos 
que elas abrangem. Que você esteja atento e com um bom senso crítico ativo 
no intuito de ir além dos dados que disponibilizaremos aqui. Com efeito, a 
aprendizagem começa quando damos vazão à nossa curiosidade de partir de 
dados já estabelecidos em direção aos dados que ainda desconhecemos.
Na próxima seção, abordaremos o aspecto científico da linguagem verbal, 
tomando o terceiro volume da coleção de Mussalim e Bentes (2004), Introdução 
à Linguística: fundamentos epistemológicos, como base para essa discussão. 
Nesse livro, as autoras e seus colaboradores conseguiram condensar as principais 
correntes e programas que se dedicaram ao empreendimento científico da 
linguagem verbal.
3 O STATUS CIENTÍFICO DA LINGUAGEM VERBAL
Como já foi dito, o fenômeno linguístico foi alvo de muitas investigações 
sob várias orientações teórico-metodológicas. Vale ressaltar que o Curso de 
Linguística Geral (CLG), obra publicada pelos alunos de Ferdinand de Saussure, 
apresenta-se como um modo de estudar a linguagem verbal que, a partir de 1916, 
rompe com a tradição até então vigente. É quase unânime considerar Saussure 
como o pai da Linguística moderna, entretanto, seus predecessores haviam 
preparado o terreno para o grande advento de uma ciência linguística autônoma. 
Faraco (2004, p. 27) lembra que por ‘moderna’ entende-se os “estudos 
sincrônicos praticados intensamente durante o século XX em contraste com os 
estudos históricos, que predominaram no século anterior”. Esse foco na sincronia, 
ou seja, na língua recortada num momento específico, sem considerar suas 
mudanças no tempo, contrapondo-se aos estudos diacrônicos, que investigam a 
língua em sua evolução histórica, foi, pouco a pouco, cativando adeptos. A língua 
passou, assim, a ser vista como um organismo vivo, uma instituição social e um 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
9
sistema autônomo com signos independentes. Iniciava-se, portanto, a Linguística 
Estruturalista que, segundo Ilari (2004), foi um movimento que chegou no Brasil na 
década de 1960, tendo Mattoso Câmara como o mais reconhecido representante. 
Para analisar o fenômeno linguístico, Saussure faz recortes e marca 
oposições que são chamadas de dicotomias. A primeira, já citada anteriormente, 
trata-se da sincronia versus diacronia, a segunda é a língua versus a fala (langue 
vs. parole), que marca a oposição entre o sistema e os atos linguísticos concretos. 
Assim, o sistema (e suas regras internas) seria visto em si mesmo e para si mesmo, 
sem fazer a relação com o comportamento linguístico individual, esse considerado 
a-científico, periférico e desprestigiado. O que era considerada a investigação 
“mais nobre” no Estruturalismo Saussuriano, era a descrição da funcionalidade 
e pertinência de um determinado “regulamento do jogo” do sistema linguístico. 
Para deixar claro o objetivo de sua tese, Saussure usa a metáfora do jogo de 
xadrez. As regras que compõem o jogo são as mesmas, independentemente do 
tipo de peças que são usadas, ou seja, mesmo que uma peça seja perdida, um 
rei, por exemplo, ela poderia ser trocada por qualquer outro objeto de qualquer 
forma ou tamanho, à condição de que o valor da peça continuasse o mesmo. 
FIGURA 2 – TABULEIRO DE XADREZ COM PEÇAS DE METAL
FONTE: Disponível em: <https://pin.it/bqbsmx2s5losic>. Acesso em: 10 maio 
2018.
Veja, na figura anterior, que as peças têm formas diferentes das que são 
tradicionalmente usadas, mas o essencial é que qualquer peça substituta guarde 
as mesmas possibilidades de deslocamentos e funções da peça original, pois 
nesse caso, a convenção, ou seja, o acordo entre os jogadores, é que permitirá 
que um objeto improvisado tenha as mesmas propriedades e papéis que o objeto 
substituído. 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
10
Em termos práticos, o que se quer defender é que não importa se 
pronunciarmos “milho” ou “mio”, estaremos sempre designando um vegetal 
estudado pela botânica que cresce até três metros, com folhas longas e pendentes 
e frutos comestíveis em forma de espiga cilíndrica na qual estão presos grãos 
amarelos (HOUAISS, 2015). Em outras palavras, não importa a forma (significante), 
visto que as duas, “milho” e “mio”, remetam ao mesmo conteúdo (significado). 
Já quando falamos “carro” e “caro”, temos que as duas realizações do fonema “r” 
(forte e fraco) têm valor distintivo, pois remetem a dois significados diferentes. 
Segundo Ilari (2004, p. 59),
Os fonólogos estruturalistas fizeram um uso exemplar desse princípio. 
Ensinaram que, para levantar o inventário das unidades fonológicas 
de uma língua é preciso distinguir as diferenças de pronúncia que 
são apenas físicas (articulatórias ou sonoras), daquelas que permitem 
significar uma diferença de função. Por esse método, descobre-se, 
antes de mais nada, que certas diferenças acústicas ou articulatórias 
que parecem consideráveis quando são avaliadas em termos físicos 
(impressionísticos ou experimentais) podem ser desprezadas numa 
análise rigorosamente linguística, porque não são investidas de 
nenhuma função.
DICAS
Para os exemplos acima relacionados não foram usadas as convenções 
fonéticas e fonológicas, pelo fato de tratarem-se de áreas complexas que demandam um 
considerável tempo de estudo para serem compreendidas. Entretanto, esboçamos aqui uma 
rápida explicação.
Nos exemplos dados, o primeiro refere-se a uma questão fonética, ou seja, 
referente ao ato concreto, a fala. Trata-se do fenômeno chamado alofonia.
Fone ➜ elemento acústico, som. Nos estudos cinésicos, seu equivalente é 
o cine (RECTOR; TRINTA, 1985).
Alofones ➜ Variantes de um mesmo fonema. 
Ex.: ‘pesca’ [´pɛʃkɐ] (variedade carioca, o ‘s’ tem um chiado) ou [´pɛskɐ] 
(variedade predominante).
‘milho’ [‘miʎʊ] (variedade predominante) ou [‘mio] (variedade de 
algumas cidades no interior do Brasil).
O segundo exemplo está relacionado a uma questão fonológica, pois, 
dado um mesmo contexto de realização, a simples substituição de um dos traços 
leva a uma mudança no significado. 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
11
Fonema ➜ a menor unidade que diferencia significado (distintivo). Nos 
estudos cinésicos, seu equivalente é o cinema (RECTOR; TRINTA, 1985).
Ex.: ‘gato’ [´gatʊ] e ‘mato’ [´matʊ] - o contexto de realização é o mesmo, 
mas a posição da língua e o grau de abertura ou fechamento dos lábios faz com 
que o significado seja alterado. Assim, em ‘gato’, a língua está recuada e a boca 
semiaberta; já em ‘mato’, a língua está mais distendida e os lábios se tocam 
rapidamente. 
‘carro’ [kaxʊ] – a língua é retraída e sua base encosta o dorso no palato. 
‘caro’ [karʊ] – a ponta da língua toca um pouco acima dos dentes 
superiores.
Para maiores detalhes sobre esses estudos, o livro de Seara et al., Fonética 
e Fonologia do português de 2011, é um ótimo apoio para iniciantes.
Ao separar a dimensão individual e a dimensão social do funcionamento 
da linguagem, os estruturalistas que seguiram Saussure “entenderam que o uso 
individual da linguagem (a parole) não poderia ser objeto de estudo realmente 
científico” (ILARI, 2004, p. 59). Nesse sentido, o professor genebrino estabelece 
umanova dicotomia que envolve os dois aspectos que formam a dupla face do 
signo linguístico: significante versus significado. O aspecto “material” do signo 
é o significante; o aspecto “conceitual” do signo é o significado. Significante e 
significado formam, assim, o signo linguístico, que é uma “entidade psíquica de 
duas faces” (SAUSSURE, 2006, p. 80).
Se eu falasse ‘frimelas’, ou executasse o seu correspondente em Libras 
(mão de apoio em ‘S’, mão dominante aberta, dedos tamborilando nas articulações 
superiores da mão de apoio), você conseguiria associá-los a um conceito? Você 
sabe, por exemplo, que a construção fonético/fonológica e morfológica está 
de acordo com as regras do português e as regras cinesiológicas da Libras, no 
entanto, provavelmente, você não pode associá-las a um conceito, pois tratam-se 
de logatomas ou pseudopalavras, que são palavras inventadas e que não fazem 
parte do léxico mental dos usuários de Português ou da Libras. É mais ou menos 
como uma moeda sem a ‘coroa’, sem o valor. Por isso o signo, segundo Saussure, 
precisa ter as duas faces, senão não é um signo.
FIGURA 3 – PEÇAS MONETÁRIAS COM FACES DIFERENTES
FONTE: Disponível em: <http://www.moedasdobrasil.com.br>. Acesso 
em: 18 maio 2018.
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
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Como é possível perceber, ambos os elementos que compõem o signo, o 
conceito e a imagem acústica/visual, são unidos e nunca podem estar separados. 
Pense no exemplo da moeda da figura anterior, ela tem dois lados: a cara e a 
coroa. Podemos usar a metáfora dessa peça monetária para entender o signo. 
O significante representado pela cara e o significado representado pela coroa. 
Um está intrinsecamente associado ao outro, na medida em que, se essa moeda 
for cortada ao meio, ambos os lados serão afetados pelo corte. No entanto, ao 
contrário das moedas que foram tomadas como exemplo, as faces do signo não 
são palpáveis. Saussure deixa bem claro que um signo linguístico não une um 
som/cine (tal qual percebemos auditivamente ou, por extensão, um sinal que 
percebemos visualmente) a seu referente (o objeto da realidade exterior). O signo 
é a união de um conceito com uma imagem acústica/visual, que não é o som/cine 
material, físico, mas uma impressão mental dos sons/cines. Ambos possuem uma 
natureza psíquica. Para reforçar, 
“O signo linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito 
e uma imagem acústica [...] O caráter psíquico de nossas imagens 
acústicas aparece claramente quando observamos nossa própria 
linguagem. Sem movermos os lábios nem a língua, podemos falar 
conosco ou recitar mentalmente um poema” (SAUSSURE, 2006, p. 80).
 
O princípio que une o significante ao significado é o da arbitrariedade, 
pois essa relação é convencionada culturalmente. Veremos mais a respeito na 
Unidade 3. 
Até aqui vimos como a língua tornou-se um objeto de estudo que deu 
origem a uma área do conhecimento chamada Linguística. 
A Linguística, nessa perspectiva, é uma ciência que pretende descrever e 
explicar a linguagem verbal, buscando conhecer como se processa a comunicação 
humana e explicar os rudimentos da análise linguística, em seus diferentes níveis 
(estruturas): o fonético, o fonológico, o morfológico, o sintático e, forçosamente, 
o semântico.
Após o lançamento do CLG, muitos pesquisadores passaram a se 
autodenominar estruturalistas, ou por realmente acreditarem nos pressupostos 
teóricos de Saussure ou pelo fato de esta vertente estar “em alta”. Assim, há 
várias linguísticas saussurianas que não dialogam entre si e poucas “aplicam 
disciplinadamente o ideário saussuriano” (ILARI, 2004, p. 68). 
Segundo o autor supracitado, podem ser considerados estruturalistas 
os trabalhos desenvolvidos pela Escola Linguística de Praga, representados por 
Trubetzkoy e Jakobson; pela Glossemática, uma escola de linguística estrutural 
da Universidade de Copenhague, representada por Hjelmslev e Bröndal; pelo 
Funcionalismo, liderado por André Martinet. Não obstante, o estruturalismo 
não ficou confinado dentro da Linguística e nem somente nos países da Europa. 
Campos como a Antropologia, a Sociologia, a teoria literária e cinematográfica, o 
estudo da estética e da moda aderiram ao estruturalismo. Essa corrente começou 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
13
a se fazer presente nos trabalhos realizados nos Estados Unidos entre 1920 e 
1950, entretanto, os representantes desse estruturalismo norte-americano não se 
identificaram com o programa saussuriano, mas tinham como referência Leonard 
Bloomfield. 
Quando finalmente o Estruturalismo dava entrada no Brasil, em 1960, 
esse começava a enfraquecer-se tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. 
Em parte por causa de críticas sofridas por Émile Benveniste, Eugenio Coseriu 
e Michel Pêcheux. Acusado de ter negligenciado o desempenho linguístico do 
sujeito, de ter se equivocado na delimitação única de sincronia ou ainda por ter 
ignorado as influências ideológicas que cerceiam a significação, o estruturalismo 
perdia seu prestígio, principalmente, nos três traços mais vulneráveis: seu caráter 
anti-humanista; anti-historicista e anti-idealista, respectivamente (ILARI, 2004, p. 
80-83). 
Outro grande fator que destronou o estruturalismo foi o advento da 
linguística chomskiana. Em uma concepção em grande parte diferente da teoria 
de Saussure, Chomsky cria a Gramática Gerativa, no final dos anos 50, lançando 
algumas ideias com Estruturas Sintáticas (1957) e desdobrando-as em outras 
obras (1965; 1995). A abordagem gerativista é motivada pelas ideias racionalistas 
e pela gramática de Port Royal e de Humboldt, mantendo ainda alguns aspectos 
do estruturalismo bloomfieldiano. Dessa forma, a língua é vista sob a perspectiva 
da criatividade, mas também a da segmentação formal. 
Antes de Chomsky, os linguistas não viam a língua como parte da biologia 
humana ou um tipo particular de estrutura organizada mentalmente. Com efeito, 
segundo esse teórico, os seres humanos são dotados de um módulo linguístico 
chamado de faculdade da linguagem. Esse módulo é inato e específico da linguagem 
verbal, entendida não como uma habilidade humana, mas como parte de uma 
configuração neurológica vista sob o aspecto da cognição. Assim, “enquanto, na 
teoria saussuriana, a língua é considerada um objeto fundamentalmente social, 
na Gramática Gerativa, a língua é um objeto mental. Para Chomsky, a língua é 
um sistema de princípios radicados na mente humana” (VIOTTI, 2008, p. 5). 
Com essa mudança de perspectiva, é o conhecimento linguístico que 
precisa ser explicado por uma teoria que use métodos hipotético-dedutivos. Para 
a abordagem gerativista, uma teoria “deve dar conta de todo conhecimento 
linguístico específico da espécie humana para produzir quaisquer línguas” 
(QUADROS, 2013, p. 43).
A abordagem gerativista ou inatista concebe a língua como uma 
competência humana inata que se torna possível devido à existência de um 
mecanismo responsável pela aquisição: a gramática universal. É da interação 
dessa gramática interna com o ambiente linguístico externo que se desenvolvem 
as gramáticas dos falantes do Português, do Alemão, ou de qualquer língua de 
sinais. 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
14
Para a Gramática Gerativa, a linguagem interna deve ser rigorosa e 
formalmente explicada por uma teoria linguística. Ou seja, no âmago dessa 
abordagem está uma preocupação em descrever a natureza e a competência que 
antecede o uso da língua. Com isso, ela dedicou grande parte de seus esforços 
a descrever as estruturas sintáticas, defendendo que uma estrutura inicial [ou 
profunda] sofre transformações até chegar à estrutura de superfície, ou seja, 
aquela produzida pelo falante. Isso explica o fato de que um número finito de 
“regras” pode gerar infinitaspossibilidades, o que remete à recursividade e à 
produtividade que estão sujeitas a um sistema de princípios. 
Assim, dois tipos de princípios estariam na base da GU: os rígidos e 
os abertos (parâmetros). Os primeiros devem ser incorporados por qualquer 
gramática (são universais), os outros são fornecidos pelos dados primários 
do ambiente externo que permitem a acomodação das variações de diferentes 
línguas. O programa gerativista ainda atrai muitos adeptos e defensores, mas 
também não foi isento de críticas, visto que ele deu muita prioridade à sintaxe 
computacional e à competência de um falante ideal, ou seja, ele negligenciou o 
desempenho linguístico que deveria ser a fonte dos dados a serem tratados. Seus 
dados de análise eram deduzidos pelo cientista em seu laboratório. As cadeias 
discursivas e a interação linguística também não foram levadas em conta.
Passaremos, agora, à próxima seção, que abordará uma perspectiva 
diferente de ver a linguagem verbal.
4 PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM VERBAL
A linguagem verbal é sem dúvida parte da mente humana. Por isso, não 
podemos observá-la diretamente. Entretanto, a partir das sentenças ou discursos 
falados e sinalizados, em Português ou em Libras, é possível inferir algumas 
regularidades dos princípios que determinam as línguas naturais.
Para esse fim, a linguística tem uma disciplina específica que investiga 
a relação entre língua e processamento mental e suas conexões com nossa 
capacidade motora, com nossa percepção visual e auditiva, e como essas conexões 
operam na construção da significação: a Psicolinguística. 
A Psicolinguística é a fusão de duas áreas que pesquisam dois aspectos 
diferentes da linguagem verbal: a Psicologia, que estuda as relações da linguagem 
verbal e a cognição humana; e a Linguística que estuda as questões estruturais e 
discursivas da linguagem verbal. Nesta seção, exporemos algumas informações 
teóricas sobre a disciplina, ressaltando sua importância científica para o 
entendimento do processamento linguístico. Para isso, utilizaremos grande parte 
do texto de Kapitaniuk (2010) para embasar essa discussão.
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
15
No nível de percepção, há de se considerar as habilidades cognitivas 
visuais não verbais, que, apesar de fazerem parte da vida humana a partir do 
nascimento, são minimizadas pela especialização da audição no sujeito ouvinte. 
Já para o sujeito surdo, a questão da linearidade da escrita do Português, somada 
ao fato de não receber inputs auditivos dessa língua, pode ser um entrave.
No nível da produção, a busca lexical, as escolhas e a retroalimentação 
são processos que não podemos observar senão pelos próprios enunciados 
linguísticos propriamente ditos. 
DICAS
O que é retroalimentação? Quando um ouvinte fala, ele consegue ouvir a si 
mesmo, com isso, pode monitorar a fala com o feedback auditivo de sua voz. Entretanto, na 
língua de sinais não é possível ver a si mesmo ao produzir a sinalização, então, o mecanismo 
de autocorreção envolvido é o proprioceptivo ou cinestésico. O sistema proprioceptivo 
é responsável pela localização e relação espacial do corpo com objetos e superfície, sua 
posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo 
em relação às demais, sem utilizar a visão.
O que uniu as duas áreas, Linguística e Psicologia, foi o interesse comum 
pela relação entre a linguagem verbal e o pensamento, por isso a Psicolinguística 
é o estudo da representação da linguagem verbal na mente e de como o discurso 
é processado, compreendido e armazenado pelos indivíduos. Essa disciplina 
aborda, assim, as perspectivas da psicologia e da linguística.
Em 1916, Saussure sublinhava que a língua, objeto verdadeiro da 
linguística, é “um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro, 
ou mais exatamente nos cérebros de um conjunto de indivíduos” (CLG, p. 21), 
um sistema abstrato oposto ao ato de fala concreto. Entretanto, foi Chomsky que 
investiu com mais profundidade na questão mental da linguagem verbal. Com 
isso, a Psicolinguística foi fortemente impactada pela Gramática Gerativa.
Ao indicar um modelo que considerasse não somente o comportamento 
verbal explícito, mas também outros fatores implícitos, ou seja, fatores relacionados 
à língua interiorizada por qualquer falante, Chomsky esforça-se para dar conta da 
“aptidão” humana (a criatividade), que chama de “competência”. Esse modelo 
teve uma importância decisiva para a Psicolinguística, que passou a construir e a 
validar um modelo do desempenho linguístico. Desse modo, quando um modelo 
de competência é adquirido parcialmente, o psicolinguista deve estudar como 
essa competência funciona sob os múltiplos constrangimentos da memória, da 
percepção e da instancialização, a fim de elaborar o modelo. O critério de partida 
deve ser não somente a gramaticalidade, mas também a aceitabilidade, porque 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
16
uma frase que contém mais de 20 propostas subordinadas pode ser perfeitamente 
gramatical, mas terá pouca possibilidade de ser compreendida nas condições 
habituais.
A aceitabilidade depende de numerosos fatores extralinguísticos: fatores 
“pragmáticos” e psicológicos que afetam a percepção, a memória etc. Como é 
possível atentar, a nova concepção de linguagem verbal começa a preocupar-se 
com o que até então não era alvo dos programas da Linguística: as questões de uso 
e os processos implicados nos contextos de fala. Entram, então, as contribuições do 
funcionalismo, assunto que será abordado com mais profundidade na Unidade 3. 
Com um novo enfoque para com a linguagem, a Psicolinguística, da 
mesma forma que a Sociolinguística e a Análise do Discurso (conversacional), 
tem contextualizado seus dados e usado a fala espontânea como corpus a ser 
investigado, exigindo uma adequação metodológica para sua análise. Nesse 
sentido, a terceira geração da Psicolinguística integra-se ao conjunto de disciplinas 
que veem na linguagem um sistema que toma forma e se especifica nas interações 
sociais. O comportamento verbal deixa de ser olhado isoladamente e passa a ser 
visto no interior dos processos cognitivos mais gerais. Ela também restabelece 
as ligações com as reflexões de ordem biológica, interessando-se em explicar a 
relação entre a estrutura mental e os processos envolvidos no uso de uma língua. 
A tarefa do psicolinguista é de construir modelos de processos que fazem 
uso a todo instante do conhecimento armazenado. A Psicolinguística representa 
uma tentativa empírica, no sentido de caracterizar aquilo que se deve saber a 
respeito de uma língua para usá-la. Ela faz uso de uma metodologia diferente 
que une métodos indutivos e dedutivos para chegar às respostas de pesquisa. 
O registro de dados e a sua interpretação constituem a metodologia indicada 
para essa disciplina. Trata-se de uma metodologia explicativa em que os dois 
aspectos (registro e interpretação) não podem estar dissociados. Dessa maneira, 
não podemos esperar da Psicolinguística uma simples descrição dos fenômenos 
linguísticos. Não basta descrever, é preciso analisar os seguintes aspectos:
1) percepção dos sinais linguísticos: acústicos para a fala e visuais para a 
sinalização;
2) identificação das unidades e níveis de processamento;
3) acesso ao significado.
Nesse propósito, usando os métodos de observação e experimentação, o 
pesquisador busca compreender como o cérebro organiza a atividade verbal a 
fim de testar as hipóteses e buscar generalizações que expliquem a maneira como 
se dá o processamento de tarefas linguísticas. 
Uma das mais difíceis tarefas é a separação da cadeia da fala ou da cadeia 
de sinais em unidades dotadas de significação. Sabe-se que tanto os enunciados 
falados quanto os sinalizados são um continuum difícilde ser segmentado, em 
outros termos, as palavras e os sinais não são separados por pausas na cadeia da 
fala/sinalização, dificultando a segmentação e o acesso ao significado.
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
17
Além do mais, o estágio da significação é um dos níveis mais complexos 
e, nesse ponto, a teoria psicolinguística enfrenta o desafio de formalizar as 
representações mentais à medida que se avança do nível perceptual para o nível 
do significado e desse para o textual e discursivo, pois se torna cada vez mais 
difícil a possibilidade de fazer inferências.
DICAS
Sabe-se que em um diálogo entram em ação inúmeros conhecimentos que 
o emissor deve acionar para se fazer entender: o conhecimento de mundo; esquemas de 
ordem pragmática; esquemas de ordem textual; regras sintáticas, entre outros. Pense que 
não basta conhecer sinais de Libras, é preciso colocá-los em um eixo sintático, além disso, 
é necessário fazer uso de processos icônicos, espaciais e de movimento, simultaneamente. 
Parece ser complicado para o cérebro, não é mesmo? No momento da aprendizagem, 
podem ocorrer lapsos e “erros”. Para tranquilizar o aprendiz, experimentos comprovam que os 
erros, pausas e hesitações cumprem um papel fundamental na estruturação das sentenças. 
Esses erros não são aleatórios, mas obedecem certas regras: eles obedecem ao componente 
fonológico e aos condicionamentos contextuais da língua.
Recentemente, a Psicolinguística iniciou um diálogo com outras áreas. 
Ela tem influenciado o desenvolvimento de outras ciências limítrofes que estão 
em pleno desenvolvimento. Em uma via dupla, ela também tem se beneficiado 
com os avanços dessas ciências. Assim, ela é marcada pela interdisciplinaridade 
que abrange os estudos das Ciências Cognitivas, da Inteligência Artificial, do 
Conexionismo, das Neurociências, entre outros. Além disso, a partir de 1960, foi 
possível ampliar as pesquisas, também para a modalidade cinésico-visual e, com 
isso, um grande número de psicolinguistas tem se dedicado em compreender o 
processamento das línguas de sinais. A evolução dos achados em Psicolinguística 
levou à ampliação das pesquisas a fim de contemplar os processos heteróclitos 
da linguagem verbal. Podemos, assim, vislumbrar a capacidade de criação de 
linguagem verbal em caso de restrição auditiva, o que testifica que o cérebro 
humano é uma incomparável “máquina” capaz de lidar com ininterruptas 
cadeias de significações. No segundo tópico, apresentaremos alguns estudos 
que contemplam essas línguas naturais. Entretanto, apesar de todos os avanços, 
devemos considerar que o sistema cognitivo humano é muito complexo e suas 
funções e propriedades são de uma multiplicidade impressionante. 
A seguir, abordaremos a Aquisição de Linguagem, que é um domínio de 
especialidade para o qual a Psicolinguística aplica muitos esforços. 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
18
5 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
Como vimos na seção anterior, a Aquisição de Linguagem é um fenômeno 
investigado no seio da Psicolinguística. Por se tratar de um tema muito relevante 
para a compreensão da relação entre cérebro e língua, exporemos aqui informações 
mais precisas que, certamente, ajudarão você a refletir sobre a linguagem de 
modo geral. 
De acordo com Kapitaniuk (2010, p. 32-33), 
[...] há um consenso de que, na aquisição de linguagem, três fatores são 
de extrema importância:
• Fatores inatos: estrutura inicial geneticamente determinada;
• Fatores maturacionais: processos de ordem psico-fisiológicos que 
serão desenvolvidos em diferentes estágios; 
• Fatores ambientais ou epigenéticos: o meio exterior no qual a 
criança é inserida e exposta aos inputs (dados externos) partilhados 
socialmente.
Essa citação nos possibilita pensar na aquisição de linguagem da criança 
surda, pois ela tem um impedimento na entrada auditiva, com isso, o aparato 
privilegiado será o perceptivo visual. Entretanto, considerando que em torno de 
95% das crianças surdas nascem no seio de família ouvinte, ocorre a privação do 
terceiro fator, pois elas não são expostas às informações linguísticas. Assim, uma 
primeira língua não necessariamente é aquela que é imposta a um sujeito por 
meio de ensino sistemático e, no caso do surdo, pelas terapias, mas sim aquela que 
é adquirida naturalmente. Os surdos se identificam com a modalidade cinésico-
visual muito facilmente porque ela condiz com sua natureza psicofisiológica. A 
língua de sinais é a língua natural do surdo, seja ela adquirida na infância ou em 
fase adulta. Qualquer outra exposição, seja leitura, escrita ou leitura orofacial e 
oralização, se caracterizará como aprendizagem.
DICAS
Aprendizagem de língua: Processo sistemático de exposição ao ensino 
de uma língua, fazendo-se uso de estratégias metalinguísticas. O indivíduo já possui um 
conhecimento anterior (um repertório linguístico) com o qual avança para outros repertórios 
ou para o sistema escrito.
Aquisição de linguagem: Processo natural em que a criança internaliza uma língua, sem 
necessariamente estar exposta a um ensino sistemático. 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
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Desde os primeiros estudos em aquisição de linguagem em língua de 
sinais como língua materna, publicada por Bellugi e Klima (1972) e Newport e 
Meier (1985), um longo trajeto foi percorrido, são mais de 40 anos. Inicialmente, 
as pesquisas em aquisição de linguagem foram desenvolvidas, principalmente, 
na Língua de Sinais Americana (ASL), mas, rapidamente, outras línguas de sinais 
passaram a ser investigadas (grande parte das referências a seguir encontra-se em 
Karnopp, 2005; 2011). 
Petitto (2000) considerou que a trajetória geral da aquisição da ASL por 
crianças surdas segue os mesmos padrões encontrados nas línguas faladas e 
podem ser encontrados em estudos de outras línguas de sinais. Por exemplo, 
Língua de Sinais Italiana (Caselli e Volterra, 1990), Língua de Sinais Brasileira 
(Quadros, 1997), Língua de Sinais Holandesa (Van den Bogaerde, 2000), Língua 
de Sinais Britânica (Woll, 1998), entre outras. 
• Petitto e Marentette (1991) descobriram que crianças surdas, expostas desde 
o nascimento à língua de sinais, produzem balbucio manual entre os seis e 12 
meses. Essa produção corresponde à idade do balbucio das crianças ouvintes. 
• Segundo Karnopp (1994), estudos demonstram que o início do estágio de um 
sinal se inicia por volta dos seis meses em bebês surdos filhos de pais surdos 
na aquisição da Língua de Sinais e percorre um período até por volta dos dois 
anos. Nesse estágio, as crianças começam a fazer os primeiros sinais, mais 
simples. 
• Schlesinger e Goldin-Meadow (1972) relataram que as crianças, inicialmente, 
produzem enunciados com um só sinal e então começam a produzir dois 
ou mais sinais combinados. Os autores mostraram que uma das crianças, 
Ann, tinha um amplo vocabulário em sinais aos 19 meses, se comparado ao 
vocabulário de crianças ouvintes.
• McIntire (1977), ao examinar a produção de sinais na ASL de uma criança 
surda, filha de pais surdos, atestou que, na idade de 1 ano e 1 mês (1;1), o 
vocabulário estava em torno de 85 sinais e que, ao final da investigação, com 
1;9, ela estava produzindo mais de 200 sinais.
• Marentette (1995, p. 75) realizou um estudo de caso, acompanhando 
longitudinalmente uma menina ouvinte, filha de pais surdos, que apresentou 
a seguinte média de aquisição na ASL: com 1;0 (05 sinais), com 1;3 (11 sinais), 
com 1;5 (18 sinais), com 1;6 (42 sinais), com 1;9 (63 sinais) e com 2;1 (70 sinais).
• Ackerman et al. (1990, p. 339) relataram que os primeiros sinais na Língua de 
Sinais Britânica (BSL) foram produzidos aos 11 meses por uma criança surda e 
aos 11 meses por uma criança ouvinte.
• Bonvillian e colaboradores (1983) “constataram quea média de idade na 
produção dos enunciados de dois sinais é de 17 meses (variando entre 12,5 
e 22 meses), enquanto que nas línguas orais, os enunciados de duas palavras 
ocorrem entre os 18 e 21 meses” (KARNOPP, 2005, p. 6).
Como se pode depreender, a aquisição de linguagem não é um tema 
fácil a ser pesquisado, pois envolve muitas questões, muitas problemáticas que 
fogem do controle na investigação, mas um fato é empiricamente comprovado 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
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pela vivência humana: parece haver uma sequência de estágios pela qual quase 
todas as crianças passam; algumas crianças atingem determinados estágios em 
períodos diferentes e isso, geralmente, está associado a algum outro fator de 
ordem biológica (genética, estados patológicos, problemas maturacionais), social 
(falta de estímulo, insuficiência de informações provindas do meio) ou emocional 
(trauma, timidez). 
No subtópico a seguir, discutiremos a questão da idade crítica para 
a aquisição de linguagem, assunto esse que será retomado e colocado em 
controvérsia mais à frente. 
6 A IDADE CRÍTICA PARA A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
A noção de idade crítica foi defendida por Hughlings-Jackson, um 
neurologista inglês que, em 1915, afirmava a necessidade de uma criança ser 
introduzida aos insumos de uma língua o mais cedo possível, caso contrário, o seu 
desenvolvimento poderia ser permanentemente retardado. Esse atraso poderia 
comprometer a capacidade de «proposicionar», como nomeava a habilidade 
humana de lidar com a linguagem verbal em todas as suas potencialidades de 
categorização e representação (SACKS, 1998). 
Em 1967, Lenneberg (1967) enfatizou que o cérebro humano tem períodos 
específicos de maturação e, no caso de aquisição tardia da linguagem, a criança 
estaria predisposta a não desenvolver adequadamente a gramática da língua. 
Haveria, assim, um período crítico para aquisição de linguagem. 
A teoria gerativista e seus seguidores adotaram essa noção, defendendo a 
exposição precoce das crianças aos dados de uma língua natural a fim de ativar o 
dispositivo inato da faculdade da linguagem, embora atualmente se refira a um 
período ‘sensível’ e não mais crítico. Essa ideia está vinculada à concepção da 
mente modular, ou seja, que “a mente seria composta por módulos responsáveis 
por diferentes processamentos altamente especializados [...]” (QUADROS, 2013, 
p. 69). A hipótese defendida é de que todos os módulos deveriam se desenvolver 
em determinado período maturacional e o módulo da linguagem estaria propenso 
à mesma restrição.
Segundo Lenneberg (1967), o período crítico se iniciaria por volta dos dois 
anos e se estenderia até o início da puberdade. Essa concepção é fundamentada em 
análises biológicas que preveem que o cérebro humano funcionaria bilateralmente 
até o fim da infância, mas que, posteriormente, apenas um hemisfério se tornaria 
dominante em relação às funções da linguagem verbal. Isso embasaria, de certo 
modo, a dificuldade que um adulto apresenta para a aprendizagem de uma língua 
estrangeira (LE), em contraposição às crianças, que apresentam um sucesso muito 
mais consistente nessa tarefa. 
TÓPICO 1 | LINGUAGEM VERBAL: SUA CIENTIFICIDADE E SEUS ASPECTOS PSÍQUICOS
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Sacks menciona que com a população ouvinte são raros os casos de 
pessoas em situação de privação linguística. Há alguns relatos de “crianças 
selvagens” que, não tendo acesso a interações linguísticas antes da puberdade, 
desenvolveram insuficientemente ou nenhuma habilidade linguística. 
Conforme Sacks (1998), os casos de crianças selvagens mais conhecidos, e que 
servem de base para os pressupostos do período crítico são: 
Genie: foi encontrada na Califórnia em 1970; fora aprisionada em casa 
(pelo pai psicótico) e ninguém falara com ela desde bebê. Apesar de 
um treinamento muito intensivo, Genie aprendeu apenas um mínimo 
da língua — algumas palavras para designar objetos comuns, mas não 
tinha capacidade de fazer perguntas e adquiriu somente uma gramática 
muitíssimo rudimentar (SACKS,1998, p. 96).
Kaspar Hauser: um rapaz de mais ou menos 16 anos foi descoberto 
certo dia em 1828, vagando aos tropeções por uma rua de Nuremberg. 
Levava consigo uma carta relatando parte de sua estranha história: como 
fora dado por sua mãe, aos seis meses de vida — ela não tinha dinheiro 
algum, e seu marido estava morto —, para um trabalhador diarista, pai 
de dez filhos. Por motivos que nunca ficaram claros, esse pai adotivo 
confinou Kaspar num porão, acorrentado, sentado sem poder erguer-se, 
privado de comunicação ou contato humano por mais de 12 anos [...] 
Kaspar demonstrou, de início, uma prodigiosa capacidade de percepção 
e memória, mas a percepção e a memória eram exclusivamente para 
coisas específicas — ele parecia ao mesmo tempo brilhante e incapaz 
de pensamento abstrato (SACKS, 1998, p. 34). 
Victor: o Menino Selvagem, foi visto pela primeira vez nas florestas de 
Aveyron em 1799, andando de quatro, comendo bolotas de carvalho, 
vivendo como um animal. Ao ser levado para Paris em 1800, ele 
despertou um enorme interesse filosófico e pedagógico: de que modo 
ele pensava? Seria possível educá-lo? O médico Jean-Marc Itard, 
também notável por sua compreensão (e interpretações errôneas) dos 
surdos, levou o menino para casa e tentou ensinar-lhe a língua e educá-
lo (SACKS, 1998, p. 88). O Menino Selvagem nunca adquiriu uma língua, 
seja qual for a razão ou as razões.
NOTA
A situação de privação é mais recorrente com pessoas surdas, uma vez que 
a maioria é filha de pais ouvintes. Não tendo acesso auditivo à língua oral e muitas 
vezes sendo-lhes negada a exposição a inputs linguísticos sinalizados, a aquisição 
tardia é uma evidente consequência. De acordo com alguns estudos (KUSCHEL, 
1973; GOLDIN-MEADOW; FELDMAN, 1977; NEWPORT, 1990; NEWPORT; 
SUPALLA, 1999), surdos que adquiriram a língua tardiamente demonstram 
defasagens na organização gramatical ou apresentam uma comunicação com 
nível de abstração limitada. De acordo com Lenneberg (1967), isso ocorre devido 
a uma lateralidade cerebral mal definida pelo fato de a maturação já ter sido 
alcançada. A exposição a uma língua desde o nascimento proporcionaria o 
desenvolvimento da capacidade linguística do hemisfério esquerdo, ao contrário, 
a privação retardaria esse processo. 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
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A noção de período crítico foi também defendida por Mogford e Bishop 
(2002), entretanto, para os autores, a delimitação da idade crítica seria até os cinco 
anos. Como é possível perceber, não há consenso sobre o início e o fim da fase 
ideal para a aquisição de uma língua, tampouco há uma elaboração convincente 
dessa proposta. Dois grupos parecem estar interessados em difundir essa ideia 
e de tornar-lhe uma verdade científica: os defensores da imersão precoce das 
crianças surdas à língua de sinais e os proponentes do implante coclear que 
desejam inseri-las no mundo sonoro o mais rapidamente possível. Mais adiante 
discorreremos sobre as controvérsias dessa tecnologia ‘restituidora do som’ que 
tem sido amplamente difundida na área médica e cujos progressos são ainda 
questionáveis, visto o número de insucessos que são identificados.
Encerramos aqui o primeiro tópico da primeira unidade. A seguir, 
discutiremos as relações entre cérebro, linguagem, surdez e língua de sinais.
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Neste tópico, você aprendeu que:
• O panorama histórico das indagações sobre a linguagem verbal humana 
remonta à Antiguidade e, instigados a encontrar respostas a tão complexo 
fenômeno, os pesquisadores criaram teorias, muitas vezes concentrando-se 
em apenas alguns aspectos dessa heteróclita capacidade humana de lidar com 
signos verbais.
• As concepções de língua e de linguagem ficaram confusas quando, ao privilegiar 
a supremacia de uma ciência linguística,afastou-se outros processos semióticos 
co-ocorrentes para a região periférica das investigações.
• O programa de Saussure estabeleceu uma ruptura com o fazer pesquisa que 
atuava até o início do século XX. Embora o terreno para uma Linguística mais 
científica tenha sido anteriormente preparado, foi o mestre genebrino que 
recebeu o mérito de ter firmado a área, delimitando as fronteiras de investigação 
da nova ciência.
• Com o avanço das ideias e para contrapor-se às concepções empiristas que 
estavam em vigor, em 1950, Chomsky lança a obra que faria a Linguística entrar 
no campo das investigações mentalistas, criando um programa que influencia 
a área até hoje.
• Nesse ínterim, uma especialização tomava corpo e iniciava um fazer 
interdisciplinar, unindo as investigações que se fazia na Psicologia com as que 
se fazia na Linguística. Nascia, assim, a Psicolinguística, que busca compreender 
o processamento mental no uso da linguagem verbal.
• A nova disciplina, que possui interesse em diferentes fenômenos, especializou-
se na aquisição de linguagem. Desse modo, algumas contribuições comprovam 
que, tanto a aquisição de linguagem de crianças ouvintes quanto a de crianças 
surdas possuem certos padrões de regularidade. Acredita-se que certas etapas 
se sucedem no desenvolvimento linguageiro de todas as crianças, mas, para que 
isso aconteça, é preciso que elas se enquadrem em três critérios fundamentais: 
uma predisposição genética; uma progressão maturacional sem entraves e a 
exposição às informações linguísticas relevantes provindas do meio.
• A existência de um período crítico ou sensível para a aquisição de linguagem 
foi defendida por alguns autores e, na medida em que um dos três critérios 
anteriormente descritos não seja atendido, poderá haver atraso ou retardamento 
da linguagem verbal, o que traria consequências devastadoras aos aspectos 
cognitivos e sociais da criança.
RESUMO DO TÓPICO 1
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No estudo sobre a aquisição de linguagem foi introduzida uma nota que 
explica a diferença entre aquisição e aprendizagem de linguagem. Com base 
nessa explicação e no conteúdo do tópico, reflita sobre os contextos abaixo 
relacionados, respondendo às perguntas e apresentando seus argumentos para 
cada um deles.
Contexto 1 
Durante sua infância e sua adolescência, um surdo esteve fora do contato com 
uma comunidade surda e com a língua de sinais, mas, aos 15 anos, esse encontro 
aconteceu e então ele passou a utilizar uma língua de sinais tardiamente. Trata-
se de aprendizagem ou aquisição? A hipótese do período crítico se sustenta 
nesse caso?
Contexto 2 
Durante toda a sua vida, um surdo profundo foi exposto a terapias de fala para 
aprender os rudimentos da oralidade, trata-se de aprendizagem ou aquisição 
de língua oral? 
Contexto 3 
Um ouvinte filho de pais surdos foi exposto à língua de sinais e à língua oral 
simultaneamente, tornando-se fluente em ambas. Trata-se de aquisição ou 
aprendizagem? Como se denomina o contexto em que uma pessoa tem acesso 
a duas línguas concomitantemente?
Contexto 4 
Uma ouvinte, cuja língua materna é o Português, aos 20 anos de idade, passa a 
participar assiduamente de encontros com a comunidade surda de sua cidade, 
sendo exposta à língua de sinais. Trata-se de aquisição ou de aprendizagem?
Contexto 5 
Um casal ouvinte, que não possui contato com surdos, passa a frequentar um 
curso de língua de sinais, ministrado por um instrutor ouvinte. Trata-se de 
aquisição ou aprendizagem? O fato de se tratar de uma pessoa não surda pode 
ser um fator desfavorável para o seu progresso na língua.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2
O CÉREBRO, A LINGUAGEM, A SURDEZ E A 
LÍNGUA DE SINAIS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A relação entre surdez, cérebro e língua de sinais será discutida aqui neste 
tópico, com vistas a indicar algumas pesquisas que têm sido realizadas na área 
das neurociências para o esclarecimento dos processos neurais em caso de surdez 
e do uso de língua de sinais. Efetivamente, com o avanço da tecnologia e o advento 
de exames cada vez mais eficientes, como os que utilizam a neuroimagem, é 
possível ir além da simples especulação para avançar nas elucidações de questões 
que envolvem a linguagem verbal em qualquer modalidade. 
DICAS
Os exames que fazem uso de neuroimagem são: a ressonância magnética 
funcional (IRMf), a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a magnetoencelografia (MEG) 
e a estimulação magnética transcranial (EMT). Para saber mais, leia o artigo de Marcucci e 
Vandresen Filho (2006), disponível em: 
<http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/RN%2014%2004/Pages%20from%20
RN%2014%2004-5.pdf>. Acesso em: 29 maio 2018.
A obra Vendo Vozes (1998), do médico neurologista e psiquiatra Oliver 
Sacks, traz grandes contribuições para o entendimento de como avançaram as 
pesquisas na área das neurociências aplicadas ao entendimento da língua de sinais 
e da surdez, por isso utilizarei muitas informações que estão ali condensadas 
para redigir as seções deste tópico. Nesse livro, o autor condensa vários estudos 
científicos que poderão esclarecer como funcionam os aspectos perceptuais e 
neurais de pessoas surdas por meio de testes cognitivos associados à técnica de 
geração de imagens no momento em que essas fazem uso de língua de sinais. 
Sacks mostra o seu fascínio e perplexidade diante da impressionante capacidade 
cerebral do surdo congênito ou do ensurdecido em fase tardia em se adaptar e se 
especializar conforme o tipo de informação que lhe chega do exterior por meio de 
outras percepções sensoriais que não as auditivas. 
UNIDADE 1 | CÉREBRO HUMANO, COGNIÇÃO, CIÊNCIA E LINGUAGEM
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De fato, o relato de um homem (David Wright) que havia perdido sua 
audição aos sete anos de idade, após ter adquirido a língua falada, ou seja, em 
período pós-linguístico, é, no mínimo, instigante. Sacks explica como Wright 
guardou na memória os sons que outrora fizeram parte da sua experiência sensorial 
auditiva. Ao ver as folhas balançando, o homem lembrava do sussurro do vento 
e os movimentos dos lábios das pessoas que o cercavam lhe desencadeavam uma 
ilusão auditiva, ele cita um trecho do livro desse homem: 
[Minha surdez] ficou mais difícil de perceber porque desde o princípio 
meus olhos inconscientemente haviam começado a traduzir o 
movimento em som. Minha mãe passava grande parte do dia ao meu 
lado e eu entendia tudo o que ela dizia. Por que não? Sem saber, eu 
vinha lendo seus lábios a vida inteira. Quando ela falava, eu parecia 
ouvir sua voz. Foi uma ilusão que persistiu mesmo depois de eu ficar 
sabendo que era uma ilusão. Meu pai, meu primo, todas as pessoas 
que eu conhecia conservaram vozes fantasmagóricas. Só me dei conta 
de que eram imaginárias, projeções do hábito e da memória, depois 
de sair do hospital. Um dia, eu estava conversando com meu primo, e 
ele, num momento de inspiração, cobriu a boca com a mão enquanto 
falava. Silêncio! De uma vez por todas, compreendi que quando não 
podia ver, eu não conseguia escutar (p. 15-16).
A partir desse relato, temos diante de nós duas evidências muito 
interessantes. Em caso de perda de um dos sentidos: 1) o cérebro humano guarda 
memórias de experiências sensoriais (ilusões auditivas, no caso de Wright) que 
podem prolongar-se por um tempo determinado e 2) o cérebro se adapta às novas 
condições, moldando-se ao tipo de informação sensorial que recebe de forma 
mais significante do ambiente (as pistas visuais, no caso de Wright). 
Confrontado pelas descobertas sobre a plasticidade neural do cérebro 
em caso de perda auditiva e pelo fato de que surdos congênitos desenvolvem 
processos simbólicos de significação, por meio de composições cinéticas corporais, 
Sacks (1998, p. 11) declara que
A existência de uma língua visual, a língua de sinais, e das espantosas 
intensificações da percepção e inteligência

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