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Quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser escutado... Pai afasta de mim esse cálice/cale-se! A Influência e a Resistência Musical/ Artística na Ditadura Civil-Militar

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO 
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Censura Artística 1968 - 
1978 
 
A Influência e a Resistência Musical/ Artística na Ditadura 
 
Civil-Militar Brasileira 
 
 
 
 
 
 
Lais Clara de Mello Rocha 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Rio de Janeiro, 2016
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO 
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Censura Artística 1968 - 
1978 
 
A Influência e a Resistência Musical/ Artística na Ditadura 
 
Civil-Militar Brasileira 
 
 
Lais Clara de Mello Rocha 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso 
de Licenciatura em História como 
requisito parcial para obtenção do 
título de Licenciado em História. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Rio de Janeiro 2016
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos os artistas que sofreram e enfrentaram 
os algozes da época. 
“Devemos olhar, pelo olhar do objeto de sua pesquisa”. 
(Professora Luciana Lamblet, dito durante a aula do dia 11 de junho de 
2015).
4 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
 
Agradeço primeiramente ao meu companheiro, Rafael Azevedo Lopes, com a 
qual sem o apoio e insistência não teria cursado a faculdade de História e tão pouco a 
teria concluído. 
Agradeço as minhas irmãs Camila Garcez e Carla Godinho pelo 
direcionamento e ajuda todas as vezes que pensei em desistir, e por estarem sempre ao 
meu lado nessa árdua jornada, me mostrando que tudo na vida é para ser enfrentando um 
dia por vez, e por poder contar sempre com vocês. 
Agradecer a minha irmã Luci e sobrinha Nicole pelos ótimos presentes de 
Natal, pois sem eles não teria base para escrever tal trabalho. 
Agradecer a minha madrinha/irmã por sempre incentivar a minha leitura, e com 
isso me fez crescer e ver através de varias perspectivas. 
Agradeço à minha orientadora Claudia Soares, pela “luz” na montagem do meu 
estudo, por toda paciência e auxílio, e por se mostrar sempre disposta. 
Agradeço também a todos os meus sobrinhos, os quais amo profundamente e 
que me fazem ter vontade de continuar batalhando, para dar-lhes um futuro melhor. 
Agradeço aos meus colegas do curso História da Universidade Castelo Branco, 
2012.2, pelos risos, lanches, sofrimentos e todas as lutas compartilhadas. Agradeço aos 
meus professores do curso de graduação em História da Universidade Castelo Branco, 
que tanto me ensinaram e pela boa vontade de todos. 
5 
 
 
 
 
 
Resumo 
 
 
Este trabalho tem por objetivo principal estudar o cenário cultural, focado na 
música para os movimentos de resistência à ditadura civil- militar brasileira, em 
particular entre os anos 1968 a 1978. Serão analisadas as circunstâncias políticas, sociais 
e artísticas vigentes no Brasil durante o período, assim, buscaremos o entendimento da 
realidade vivenciada pelos artistas. Logo, esclareceremos o papel exercido pelas 
músicas de protesto, a questão da censura musical no Brasil no século XX, e os 
mecanismos utilizados pelos músicos/compositores para burlar a censura e levar para a 
população os protestos, de forma que essa ação os conscientizasse a respeito da realidade 
brasileira. 
 
 
Palavras Chave: Música de Protesto – Censura – Ditadura – Resistência.
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Coordenação do Curso de Licenciatura 
em História da Universidade Castelo Branco – UCB, como requisito para a obtenção do 
grau de Licenciado em História. 
 
Aprovado em / /_ . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA 
EXAMINADORA: 
 
 
 
 
 
 
Profª. Claudia Soares (UCB) 
 
(Orientadora) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª. (UCB) (Arguidor) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Prof. (UCB) (Arguidor)
7 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
 
 
 
Introdução........................................................................................................................8 
 
 
Capítulo 1: O Inicio do Fim – O Golpe de 1964...................................................... 11 
 
 1.1 De Goulart ao AI-5................................................................................................11 
 
 1.2 Os Artistas da Revolução: Os Anos Românticos....................................................19 
 
Capítulo 2: AI-5 e a Nova Realidade Artística.................................................................23 
 
 
 
Capítulo 3: A Era dos Festivais.............................................................................. . 38 
 
 3.1 Chico Buarque de Hollanda............................................................................48 
 
 3.2 A Tropicália de Gil e Caetano............................................................................53 
 
 
Conclusão........................................................................................................................57 
 
 
 
Fontes..............................................................................................................................58 
 
 
 
 Bibliografia.......................................................................................................................61
8 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
 
Este trabalho tem por objetivo principal esclarecer os movimentos de resistência 
à ditadura civil- militar brasileira. Serão utilizadas entrevistas dos artistas referentes à 
época estudada, sem contar com matérias e livros que debatem o assunto. Será estudado 
o período desde o inicio, com foco entre os anos de 1968-1978, onde foi instituída uma 
maior censura às artes com decreto do Ato Institucional nº 5 (AI-5). 
O trabalho está fragmentado em três capítulos. O primeiro capítulo será analisado 
o governo brasileiro desde a posse de João Goulart, que se iniciou com turbulência, 
após a renuncia de Jânio em agosto de 1961 cercada de mistério e tentativas de golpe, 
começa uma corrida ao poder, segundo a Constituição Brasileira, após a renuncia quem 
assume é o vice, neste caso, João Goulart, que encontrava-se fora do país, ulteriormente 
o governo passou de presidencialista a parlamentarista, e com poderes reduzidos João 
Goulart toma posse em 7 de setembro de 1961. O capítulo passará pelo governo de 
Jango até o movimento do golpe civil-militar, será lépido o estudo, que terminará com o 
a posse de Costa e Silva e a promulgação do AI-5. O capítulo terminará com uma 
explicação sobre a Revolução Romântica, de Marcelo Ridentti, com foco no Teatro 
Opinião e Teatro Arena, para assim entendermos os anseios artísticos vivenciados 
durante a ditadura civil-militar brasileira. 
No segundo capítulo será discutido o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que foi o 
instrumento de uma revolução dentro da revolução ou de uma contra revolução dentro da 
contra revolução, houve uma intensificação da censura da imprensa, pois o decretum 
terribile permitia praticamente tudo, desde então a censura da imprensa sistematizou-se 
rotineira e passou a obedecer às instruções especificamente emanadasdos altos escalões 
do poder. 1 
 A nova realidade dos músicos/compositores brasileiros, logo após a sua 
instauração, na qual o Presidente da República obtinha um grande poder, houve uma 
austeridade do regime, onde a repressão das liberdades democráticas, a censura e 
violência, ganharam espaço. 
 
 
 
1 FICO, Carlos. Além do Golpe – Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Editora 
Record, 2004.
9 
 
 
 
 
Não podemos deixar de citar que a censura sempre esteve ativa no Brasil, ainda 
hoje somos assombrados pela mesma. O objetivo do capitulo é mostrar a intensificação 
da censura com o Ato Institucional nº 5, e não afirmar que o mesmo só ocorreu após a 
sua vigência. 
A magnitude da Música popular Brasileira, e seu alcance as grandes massas da 
sociedade, e a audácia em cantar o que não era permitido, fez com que o governo criasse 
a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde todas as canções 
deveriam passar antes de serem lançadas, e os meios utilizados para restringi-las eram 
todos, não havia critérios, o que causava a cultura nacional uma grande perda. 
Veremos a importância do espetáculo teatral, o Teatro-Jornal, que levava as 
notícias de forma teatral, e como não possuíam um roteiro fixo, era quase impossível 
serem pegos pela censura. Em contrapartida, veremos os artistas/músicos que eram a 
favor do regime e faziam uma propaganda pró-governo. 
Será abordado no terceiro e último capitulo o movimento dos 
músicos/compositores para esquivar a censura e levar a sociedade brasileira, que não 
tinha uma raiz fixa, devido a repressão e perseguição aos que eram contrários ao governo 
brasileiro, a realidade de forma subliminar. Veremos também a importância dos festivais 
e dos músicos que se apresentavam mostrando através de suas letras e melodias o 
sentimento de revolta ao militarismo, estudaremos a fundo as canções de Geraldo 
Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e sua Tropicália. 
A perseguição a Chico Buarque, que era tido como inimigo público, mas suas 
canções eram liberadas. 
Geraldo Vandré e sua canção Caminhando, que tornou-se o hino contra a ditadura 
civil-militar, foi proibida e seu compositor exilado, esse fato e a canção será estudada 
detalhadamente, afim de com a mensagem passada compreendermos o porque do 
governo brasileiro temer o impacto da propaganda passada ao povo. 
Estudar Chico Buarque e suas principais canções, entender o movimento 
Tropicália, que era mais sociocultural que diretamente político. E como a irreverência de 
 
 
 
 
10 
 
 
 
Caetano Veloso e Gilberto Gil incomodavam os militares, e com isso deu força ao 
movimento musical tropical brasileiro. 
Os artistas brasileiros foram muito importantes para a cultura, sociedade, e na luta 
contra a ditadura civil-militar. Através de suas performances expuseram toda realidade 
vivida e enfrentada por eles, e de forma poética, e a favor da cultura e da liberdade 
brasileira, ao compor e ver seus trabalhos censurados, esses músicos não deixaram ser 
atingidos por uma política onde o “ser” não significava nada. E continuaram de forma 
incessante o combate contra o governo, nem que para isso eles tivessem que abrir mão 
da própria liberdade e da sua pátria. 
 Por fim, manifestar que por mais que houvesse grande repressão os músicos e 
atores, em geral, artistas brasileiros atuaram de forma fundamental para as gerações 
subsequentes, pois foi através dessa luta pela liberdade musical, ou até mesmo liberdade 
de expressão, que hoje podemos gozar de todos os direitos democráticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
Capítulo 1: 
 
O Início do Fim – O Golpe de 1964 
 
1.1 De Goulart ao AI - 5; 
 
O dia 25 de agosto de 1961 foi marcado pela renuncia a Presidência da Republica 
do então atual governante Jânio Quadros, sem muitas explicações, porém na noite 
anterior a renuncia, o governador da Guanabara Carlos Lacerda, em um discurso para 
rádio, denunciou um golpe janista planejado por Oscar Pedroso Horta, Ministro da 
Justiça. 
João Goulart é empossado em 7 de setembro de 19612, e o aumento dos 
movimentos sociais se intensificaram, os setores do campo se mobilizaram, esse foi o 
resultado de uma célere industrialização e crescimento urbano. Tais comutas ampliaram 
o mercado da agricultura e da pecuária, a terra passou a ser rentável. Como uma de suas 
primeiras ações Jango criou o Plano Trienal, que pretendia reestabelecer o crescimento 
da economia e reduzir a inflação, que acabou fracassando, Jango então lançou as 
reformas de base, que estavam ligadas a reforma agrária, industrial e educacional. Em 
março de 1963, foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural, na qual regularizava o 
trabalho no campo. Outros setores também tiveram voz no governo de Jango, caso essa 
da União Nacional dos Estudantes (UNE), que passaram a interceder diretamente na 
política. A posse de João Goulart significou a volta do populismo, sendo que as pressões 
sociais e mobilizações foram maiores do que na Era Vargas. 
Essas reformas tinham caráter nacionalista, onde o Estado intervinha diretamente 
na vida econômica, era uma tentativa de modernização do capitalismo, para diminuir a 
desigualdade social através das ações do Estado. 
 
 
 
 
 
 
2 De acordo com a Constituição Brasileira após a renuncia do Presidente da Republica quem assume o cargo é seu vice, 
nesse caso João Goulart. No entanto sua posse ficou em suspenso por um período devido a iniciativa dos ministros 
militares que tentaram impedir sua posse, vetando a volta do futuro presidente, que encontrava-se em uma viagem a 
China comunista, e alegavam segurança nacional. No Rio Grande do Sul, o comandante do III Exército declarou seu 
apoio a Goulart, iniciando a batalha da legalidade, que nada mais era que uma frente legalista que seu principal 
objetivo era garantir o cumprimento da constituição, liderada por Leonel Brizola, que promoveu diversas 
manifestações populares em Porto Alegre. Jango assume a presidência com poderes diminuídos devido à solução 
encontrada pelo Congresso, que fez com que o sistema de governo passasse do presidencialista para o parlamentarista, 
usado para resolver a crise, mas que não poderia durar por muito tempo, como de fato não durou, em janeiro de 1963, 
cerca de 9,5 milhões de votantes disseram não ao parlamentarismo, o sistema presidencialista retornava com João 
Goulart no poder.
12 
 
 
 
 
 
A classe dominante era contra as mudanças, diferentemente dos sindicalistas, que 
se mantiveram fiéis ao esquema populista. As reformas de base tiveram um resultado 
oposto ao aguardado, elas enfraqueceram o governo. 
 Na época, os grupos de trabalhadores agitavam-se contra a exploração das 
classes dominantes. Os grandes empresários vendo toda mobilização da classe 
trabalhadora se unem aos militares pela queda de João Goulart. 
 Em janeiro de 1963 com o governo já abalado, Jango consegue antecipar o 
plesbicito que tinha por finalidade julgar o parlamentarismo, com a vitória do 
presidencialismo, cerca de 9,5 milhões de um total de 12,3 milhões de votantes 
responderam “não” ao parlamentarismo. Retornava assim o sistema presidencialista, 
com João Goulart na chefia do governo.3 Goulart interpretou como uma vitória pessoal, 
estava enganado, Brizola e a esquerda do PTB estavam insatisfeitos com as reformas 
sociais e com o imperialismo, em meados de 1963 com o crescimento drástico de 
diversas vertentes, Brizola começa a organizar grupos para resistir as tentativas de golpe 
e tentar implementar uma Assembleia Constituinte e a moratória da dívida externa. Os 
militares tambémse organizavam, só que contra Jango, e uma intervenção defensiva4. 
 No dia 13 de março de 1964, ouve um comício, onde cerca de 150 mil pessoas 
se reuniram para ouvir Goulart e Brizola, que apesar de não se entenderem, tentavam 
mostrar a força do governo, com bandeiras vermelhas pedindo a legalização do PC, entre 
outras reivindicações, tais manifestações foram respondidas pelos conservadores 
atemorizados com a revolta comunista, com a Marcha da Família com Deus pela 
Liberdade, reuniu cerca de 200 mil pessoas com faixas ameaçadoras (“Tá chegando a 
hora de Jango ir embora”), e divertidas (“Vermelho bom, só batom”). 5 
 Ante a ofensiva de Mourão6, e a Operação Popeye, o golpe fulminante, Mourão 
desceria de seu quartel, em Juiz de Fora, com uma tropa pequena e bem treinada. 
 
 
3 FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Im p r e n sa 
O f ic i a l do E s t a d o 2001, p. 251. 
4 A intervenção era contra os gastos excessivos do governo, e entre os líderes que apoiavam tal intervenção, estava o 
chefe do Estado-maior do Exército, o general Humberto de Alencar Castelo Branco. 
5 Para as faixas, Heloísa Maria Murgel Starling, Os Senhores das Gerais, pp 33-4. 
6 General Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, autor de documentos falsos(conhecidos como 
Plano Cohen), sobre uma suposta revolução comunista em 1937. A farsa foi utilizada como justificativa para 
instauração da ditadura varguista.
13 
 
 
 Acreditava que poderia tomar de assalto o prédio do Ministério da Guerra em 
menos de 24 horas, o resto cairia de podre. Guedes e Magalhães Pinto7 em Belo 
Horizonte, trabalhavam noutra linha, que consistia em rebelar Minas Gerais, 
separando-a do governo de Goulart. O resto cairia de podre.8 
Na esfera política a movimentação não era apenas dos militares, políticos e 
empresários que não viam a hora de depor Jango, o próprio já havia percebido sua 
vulnerabilidade no início de 1964, defendia as reformas de base, mas nunca as 
elucidou claramente, como temia o golpe, começou a articular um dispositivo militar, 
que usaria caso sofresse o golpe pelo General Assis Brasil. No Rio de Janeiro haviam 
outros militares que conspiravam independentemente dos de Minas Gerais, Arthur 
Costa e Silva liderava os movimentos na cidade da Guanabara. Em 31 de março de 
1964, o dispositivo já não existia mais, as Forças Armadas se rebelam contra o 
governo e Costa e Silva no dia 1º de Abril autonomeia-se comandante do Exército 
Nacional, onde assumiu o controle do Comando Supremo da Revolução. Era o fim 
da democracia brasileira, Jango foi para o Uruguai como exilado político. 
Ainda no dia 1º de abril, a sede da UNE, no estado do Rio de Janeiro, foi 
incendiada e fazendo com que os estudantes agissem na clandestinidade. 
 Esses movimentos foram lançados com o pretexto de que o regime 
democrático que vigorava no país, não conseguiria deter a corrupção e nem o 
comunismo. Esse novo regime político beneficiava o Estado em relação às liberdades 
individuais, e o Poder Executivo em detrimento dos poderes Legislativos e Judiciários, e 
começou a mudar as instituições do país com os Atos Institucionais (AI). Não podemos 
esquecer que o golpe de 1964 não foi de exclusividade dos militares, como Daniel 
Aarão afirma, ele teve participação civil, todo o processo teve caráter social, as 
diversas passeatas anterior e até mesmo posterior ao golpe, comprovam a 
participação dos civis em todo o processo da ditadura civil-militar no brasil.9 
 
 
 
7 José de Magalhães Pinto, banqueiro Governador de Minas Gerais, sonhava com a Presidencia da República. 
Carlos Luís Guedes, foi comandante da 4ª Divisão de Infantaria de Minas Gerais. 
8 GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. pag. 57. 
9 REIS, Daniel Aarão. Ditadura e Democracia no Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2014. 
14 
 
 
 
 
 Como exemplos da participação, Aarão nos aponta a Marcha da Família com 
Deus pela Liberdade e a Marcha da vitória ocorrida dia 2 de abril de 1964.10 
 
(...) é inútil esconder a participação de amplos segmentos da população 
ano golpe que instaurou a ditadura, em 1964. É como tapar o sol com a 
peneira. As marchas da Família com Deus pela Liberdade mobilizaram 
dezenas de milhões de pessoas, de todas as classes sociais, contra o 
governo de Goulart. 11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marcha da Família com Deus pela Liberdade 
 Fonte: Jornal JB, imagem retirada do GOOGLE. Acessado em: 22/02/2016. 
 
 No dia 9 de abril de 1964 era decretado pelos comandantes do Exército, Marinha 
e Aeronáutica o Ato Institucional nº 1 (AI-1), que permitiu as primeiras cassações de 
mandatos parlamentares, várias das medidas tinham o objetivo de reduzir o campo de 
atuação do Congresso e reforçar o Poder Executivo. O AI-1 criou as bases para a 
instalação dos Inquéritos Policial- Militares (IPMs), que tinha a finalidade de zelar o 
Estado contra as práticas de crimes, contra a ordem política social, ou atos de guerra 
revolucionária, também estabeleceu a eleição para um novo Presidente da República, no 
dia 15 de abril de 1964 o general Humberto de Alencar Castelo Branco foi eleito com 
mandato até 31 de janeiro de 1966, por votos dos parlamentares, e seu vice era José Maria 
Alkmin, membro do PSB, com a formação do novo governo, o Supremo Comando da 
Revolução foi extinto e o atual governo tinha como objetivo instituir uma democracia 
restringida. 
 __________________________ 
 10 REIS, Daniel Aarão. Ditadura e Democracia no Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2014. 
 11 Idem. 
 
15 
 
 
 
 Com esses poderes notáveis, iniciam-se as perseguições aos contrarios ao regime, 
dentre eles artistas, estudantes, comunistas, envolvendo prisões e torturas. A campanha 
na imprensa de Marcio Moreira Alves através do jornal carioca Correio da Manhã, 
contra os excessos no inicio do regime fizeram com que Castelo Branco investigasse tais 
práticas abusivas, que foi feito pelo então futuro presidente Ernesto Geisel, que na época 
era chefe da Casa Militar. Com a investigação arquivada por faltas de provas, nenhum 
responsável foi punido. Falando ainda sobre a imprensa e seu papel, foi através do 
jornalista Carlos Castello Branco e seus textos fluxuosos, que muitos dos acontecimentos 
eram levados a população, que se fossem ditas diretamente, certamente seriam 
censuradas. 
 Segundo Daniel Aarão Reis Filho12, as organizações comunistas eram uma 
“contra el ite, al te rnativa, que parte ao assalto do poder polí tico” , e tal 
disputa de memória ensejaria um “deslocamento de sentido, sobretudo por 
ocasião da Campanha da Anist ia, que : 
 
 
(...) apresentou as esquerdas revolucionárias como parte integrante da 
resistência democrática, uma espécie de braço armado dessa resistência. 
Apagou-se, assim, a perspectiva ofensiva, revolucionária, que havia 
moldado aquelas esquerdas. E o fato de que elas não eram de modo 
nenhum apaixonadas pela democracia, francamente desprezadas em seus 
textos.13 
 
 
 Aos que resistiram à ditadura estão os músicos, as artes, o cinema, movimentos 
estudantis e de contracultura. A União Nacional dos Estudantes (UNE), passou a 
organizar protestos, comícios, palestras de conscientização e luta, convocando os 
estudantes universitários (apoiados pelos estudantes secundaristas) a lutar contra a 
ditadura. Sob a pressão desses setores, além do triunfo da oposição em Estados como 
Minas Gerais e Guanabara nas eleições diretas de 1965, Castelo baixou o Ato 
Institucional nº2(AI-2), onde estabelecia que o presidente e vice seriam eleitos pela 
maioria absoluta do Congresso Nacional, tirante do fim dos partidos políticos, e deu ao 
presidente poder de decretar estado de sítio por 180 dias sem consulta prévia do 
Congresso. 
 
 
 
12 FICO, Carlos. Além do Golpe – Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Editora 
Record, 2004. 
13 Idem,pag.25
16 
 
 
 
 O AI-2 estipulava sua vigência até dia 15 de março de 1967, quando o mandado de 
Castelo Branco teria fim. No início de 1966, Castelo Branco não admitiu nenhuma 
proposta para prorrogar seu mandato, logo a corrida para a sucessão a presidência 
começava. Como o AI-2 havia extinguido os partidos políticos que foram criados no fim 
do Estado Novo, a legislação partidária forçou a organização de apenas dois partidos, a 
Aliança Renovadora Nacional (ARENA) que apoiava Costa e Silva para a sucessão a 
presidência, formado pelos partidários do governo, que haviam pertencido a UDN e 
PSD, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), formado pela oposição, que 
tinham figuras do PTB, que só foram oficializados em 24 de março de 1966. O Ato 
Institucional nº 3 (AI-3), promulgado em 5 de fevereiro de 1966, instituiu as eleições 
indiretas para governador, e dava autonomia aos órgãos de segurança governamentais 
para reprimir e investigar os movimentos contra a ditadura. Sendo que em dezembro do 
mesmo ano o Ato Institucional nº 4 (AI-4) é decretado a fim de sancionar uma nova 
constituição, vigorou até dezembro de 1968. 
 Costa e Silva toma posse em 15 de março de 1967, seu vice era Pedro Aleixo, onde 
deixa claro que comprometimento com a democracia e a com a ordem constitucional, 
faria um governo de união nacional e estaria disposto a “ouvir” a oposição, desde que 
estivessem comprometidas com os altos objetivos nacionais. 
 Com a ditadura a censura deteve o controle da ideologia da sociedade, diversos 
livros, músicas, peças de teatro, filmes, considerados subversivos, eram proibidos, e 
qualquer tipo de propaganda que faziam afirmações contra o governo eram 
simplesmente censurados e seus criadores eram automaticamente considerados inimigos 
do governo, eram perseguidos, ameaçados, e tais regras valiam a qualquer um que 
tentasse desempenhar uma ação de conscientização a respeito da realidade vivenciada no 
país. 
 A UNE e os sindicatos começavam a se organizar e readquiriam a força nas ruas, 
fabricas, escolas, apesar de toda a repressão, os grupos de lutas armadas de esquerda são 
formados, como a Aliança de Libertação Nacional (ALN), O Movimento 
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e a Vanguarda Popular Nacional, de militares de 
esquerda (Lamarca). 
 
 
17 
 
 
 
 Em março de 1968, a polícia do Rio de Janeiro em uma manifestação de estudantes 
e mata Edson Luis, um secundarista de 18 anos, a notícia do ocorrido espalha-se por 
todo o país, e como protesto a população inicia uma série de manifestações contra a 
atuação do governo. Retornam as lutas operárias, e as denuncias contra o Regime Militar 
cresce. 
 Essa mudança/luta contra as exigências do governo, e a constante perseguição, 
através da censura, repressão, a quebra da democracia constitucional, torturas, 
desaparecimentos, mortes e perdas de liberdades políticas, faz com que os grupos de 
lutas armadas e oposição à ditadura ganhem força. Em 1968 esses grupos iniciam 
suas ações, como a bomba no consulado americano em São Paulo, e os assaltos para 
reunir fundos, fatos esses que eram suficientes para reforçar a linha dura. 
 Os deputados e também jornalistas Márcio Moreira Alves e Hermano Alves, 
fizeram um discurso, que foi ignorado pelo o grande público, mas que foi distribuído 
para as Forças Armadas que o consideraram ofensivo. No caso de Moreira Alves que já 
era um desafeto antigo da linha dura, o que mais irritou no discurso foi a passagem: 14 
 
 
 (...) Quando pararão as tropas de metralhar na rua o povo? 
Quando uma bota, arrebatando uma porta de laboratório, 
deixará de ser a proposta de reforma universitária do governo? 
Quando teremos, como pais, ao ver nossos filhos saírem para a 
escola, a certeza de que eles não voltarão carregados em uma 
padiola, esbordoados ou metralhados?[...] Quando não será o 
exército um valhacouto de torturadores?15 
 
 Os Estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de 
São Paulo (FFCL-USP) e da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, entram em um conflito 
violento conhecido com Batalha da Maria Antônia16, em 2 de outubro de 1968. José 
Carlos Guimarães, estudante secundarista morre com um tiro na cabeça, a repercussão 
política foi quase nula, e ficou claro que tais acontecimentos na Rua Maria Antônia, 
mostravam um isolamento estudantil e o distanciamento das lutas democráticas. 
 
 
14 VILLA, Marco Antonio. Ditadura à Brasileira – 1964-1985, A democracia golpeada à esquerda e à direita. São 
Paulo: Editora Leya, 2014 p. 127. 
15 Idem. 
16 A batalha ganhou este nome devido a rua onde se localizava as duas universidades.
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A esquerda estudantes carregam colega ferido. Na foto acima, o atirador Osni Ricardo do CCC – Comando de 
Caça aos Comunistas. A direita, José Dirceu discursa segurando a camisa do secundarista José Guimarães, 
morto no confronto da Rua Maria Antônia. 
Fonte: http://www.comunistas.spruz.com/blog.htm?b=&tagged=UNE. Acessado em: 25/02/2016. 
Fonte: http://m.memorialdademocracia.com.br/card/batalha-na-maria-antonia-acaba-em-morte. Acessado em: 
25/02/2016. 
 
 Após a batalha em São Paulo, José Dirceu dirige o XXX Congresso da UNE, 
onde diversos estudantes e as principais lideranças estudantis foram presos. Em 5 de 
novembro o Supremo Tribunal Federal (STF), envia a Câmara dos Deputados, a pedido 
do governo, abertura de processo criminal, por ofensas à dignidade das Forças Armadas, 
contra Márcio Moreira Alves, na qual foi adiada, através de uma nota emitida em 2 de 
dezembro, o ministro do exército afirma “A Câmara dos Deputados é soberana em suas 
decisões”. Como o processo dependia da licença do Congresso, e este negou-se a 
suspender as imunidades parlamentares do deputado. 
 No dia 13 de dezembro de 1968, o então presidente Costa e Silva, baixa o Ato 
Institucional mais cruel e desumano, o pesadelo de toda a sociedade brasileira, o mais 
duro de toda a ditadura civil-militar brasileira, o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que foi 
visto por muitos, como vingança contra o deputado Márcio Moreira Alves, pois o 
mesmo, em um de seus discursos, solicitou a população que não fosse comemorado o Dia 
da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro, como uma forma de protesto, ele não 
desconfiava que tal pedido fizesse com que Costa e Silva, seguisse adiante com o novo 
Ato Institucional, neste caso o nº 5, o ato mais implacável de todos, e a partir daí, 
iniciaremos o período onde nada era permitido. 
19 
 
 
 
 
1.2. Os Artistas da Revolução: Os Anos 
Românticos. 
 
 
O termo romântico foi usado para transmitir a ideia do período tanto na política, 
quanto na cultura brasileira em 1960, e também era uma forma de caracterizar as lutas 
enfrentadas, sendo que o mesmo também é utilizado de forma insultuosa, para a 
inocência e falta de realismo político, mas não cabe julgar o romantismo revolucionário 
com descaso – por exemplo, José Genoíno referiu-se ao “romantismo de uma geração 
que não tinha medo de correr risco. O bom era correr risco.” Sérgio Paulo Rouanet 
apontapara a cultura de esquerda dos anos 1960 “uma semelhança inconfortável com o 
volk do romantismo alemão”.17 
 A partir desse conceito, segundo Ridenti, o romantismo revolucionário, nos 
ajuda a compreender as lutas políticas e culturais de 1960 a 1970, e encontramos isso na 
música popular, cinema, teatro, artes plásticas e literatura da época, eram os anos da 
Guerra Fria18, o Brasil passava por um processo de modernização e industrialização da 
sociedade, os artistas e intelectuais de esquerda brasileiros buscavam por algo que os 
representasse, e a ideia revolucionária romântica ansiava por uma transformação na ação 
da sociedade para assim mudar a História, baseados na construção de um homem novo, 
que tinha como inspiração a volta ao passado (romântico) , onde buscavam elementos 
como a cultura popular, para a modernização (revolucionário), que não implicassem na 
desumanização, seria o homem do povo, não contaminado pelo capitalismo, pois esse 
novo homem seria o único capaz de fazer a revolução, pois no inicio de 1960, eles 
sonhavam com a revolução, o próprio movimento de 64 iniciou-se com esse intuito, e 
não com a democracia ou cidadania, sentimento posteriormente ao Golpe de 1964. 
 
 
 
___________________________ 
 17 RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: Artistas da Revolução, do CPC à Era da TV. Rio de 
Janeiro: Editora Record, 2000 pag.8. 
18 Guerra Fria é a denominação atribuída ao período entre o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 
marcado pelas relações de disputas e conflitos indiretos (políticos, militares, tecnológicos, econômicos, 
sociais e ideológicos) entre os Estados Unidos e a União Soviética, que disputavam zonas de influência e o 
controle do bloco de países capitalistas e socialistas, respectivamente, e t e r m i n a c o m a extinção da União 
da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1991.
20 
 
 
 
 
 Com o país sob pressão, cresciam o números de artistas que acreditavam que através 
de revoluções conseguiriam mudar o pensamento de muito governantes na época. Esses 
jovens artistas defendiam a ideia que com a arte transformariam o país, logo, a política 
brasileira. A base do pensamento desses jovens era deixar para trás a falsa sensação de 
liberdade, e lutar pela mesma, sendo assim, iniciaram o trabalho através da relação direta 
com o povo, pois eram quem queriam atingir, fizeram peças teatrais nas fábricas, 
comunidades carentes, sindicatos, etc. O surgimento de um novo conceito de se fazer 
teatro de forma consciente tomava forma, e esses pequenos grupos começaram a ter suas 
peças com patrocínios do governo, esses espetáculos seguiam rigorosamente a censura 
estabelecida. 
 Em julho de 1964, o espetáculo Vereda da Salvação, que de forma ousada, 
denunciou as perseguições e torturas da época, é baseada em um fato real ocorrido em 
1955 em uma fazenda da cidade de Malacacheta, norte de Minas Gerais, só que o público 
não se envolveu pelo enredo do espetáculo, retrata a tragédia vivida por um grupo de 
agricultores que, pela falta de perspectivas reais de uma vida digna, se agarra à promessa 
de dias melhores apresentadas por uma nova crença religiosa. Após o assassinato de quatro 
crianças -- que supostamente estavam endemoniadas -- por membros do grupo, a polícia 
interveio e o conflito que se seguiu terminou com a morte dos líderes religiosos do grupo 
de agricultores.19 A peça não foi bem sucedida, e a grande produtora da época, a TBC, 
faliu, fechando suas portas no mesmo ano. 
 
 
 
 Espetáculo Vereda da Salvação, direção Antunes Filho. 
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra59524/vereda-da-salvacao. Acessado em: 
26/02/2016. 
 
 
 
19 Sinopse do Espetáculo retirada da fonte: http://www.erico.com.br/teatro/vereda-da-salvacao/a-peca/a-peca 
 
21 
 
 
 
 As formas de protesto ao governo recém-instaurado não estavam limitadas ao 
teatro, no campo musical, vemos como a luta política estava ligada à artística, onde 
contém o traço romântico que Marcelo Ridentti nos apresenta, traço esse que tinha como 
influência o comunismo pós-guerra. A música popular brasileira e a classe artística são 
as grandes protagonistas da luta de esquerda da época, as canções populares eram 
uma das principais artimanhas utilizadas para defender os ideais, e a partir dessa 
constatação, que torna-se possível entender os algozes enfrentados por diversos 
artistas, como Sérgio Ricardo, autor de Zelão20, e se deixou influenciar por Marx e 
socialismo graças ao cantor e compositor João Gilberto, que sempre cantou a 
brasilidade, e não aderiu ao modismo exterior, e fez isso ao cantar a musica do povo 
para o povo, com toque moderno, era a música autêntica brasileira. 
 Logo após o golpe civil-militar, os artistas ficaram arredios, principalmente nos 
primeiros meses, o então presidente Castelo Branco, era aficionado pelos palcos, e 
frequentava constantemente o teatro, os diretores, atores e autores viam com bons olhos, 
pois na época era difícil ver um governante que lutasse pela classe artística, um de seus 
primeiros atos a favor do teatro foi nomear Bárbara Heliodora como diretora do Serviço 
Nacional do Teatro, que com a renomada diretora ganhou apoio de grandes escritores, 
como Carlos Drummond de Andrade. 21 
 Arriscando mais na área cultural, os estudantes através do CPC, levavam arte a 
população, de maneira arriscada, pois passavam por cima do governo, que era contra ao 
pensamento idealista e revolucionário. 
 O teatro foi usado para comunicação e era influente entre a população, os artistas 
usavam dessa arma para mostrar a realidade do golpe, e como eram tratados os que 
pensavam contrário ao governo. Em uma época onde nenhuma companhia teatral ousava 
ir contra a censura imposta, o grupo Oficina, inicia uma luta contra o regime militar, 
montando espetáculos que de forma indireta mostrava seu inconformismo com a política 
nacional. 
 
 
 
 
 
20 Zelão foi uma das primeiras canções de protesto difundida. 
 21 MARTINS, Mariano Mattos. Oficina 50+, Labirinto da Criação. 2013. 
22 
 
 
 
 Com o campo teatral em uma crescente, o governo freia, e várias peças são 
canceladas, artistas perseguidos e suspensos. Com essa nova realidade, os principais 
teatros entram em greve, o governo temendo manchar sua imagem perante o povo, criam 
a comissão, que dizia que o teatro era livre e a censura não incomodaria mais. Para os 
artista nada mudou, pois a censura aumentou e as proibições persistiram. 
 Outro grupo que sofreu com a perseguição política foi o teatro de Arena, que apesar 
de toda pressão não sessaram seus trabalhos. Em meio a tanta turbulência, o teatro se 
reinventa mais uma vez, e de forma simulada continua a mostrar a realidade aos seus 
espectadores, trocando as palavras por gestos, mais não mudavam o significado que 
queriam mostrar. Com um governo onde nada era permitido, o teatro tentava manter-se 
revolucionário e idealista, às vezes cedendo às ameaças políticas. 
 A Primeira Feira Paulista de Opinião reuniu artistas que se mostravam insatisfeitos 
com a censura, ao expor essa insatisfação o governo aumenta sua violência para com os 
atores, que mobilizaram toda a classe artística, para a elaboração de um novo projeto 
contra a censura22 Com tanta violência, os grupos teatrais foram extintos, os artistas se 
refugiavam em pequenas companhias, que trabalhavam com recursos limitados. Uma 
triste realidade, pois o teatro brasileiro, a liberdade de expressão foi sufocada por um 
governo autoritário.Primeira Feira Paulista de Opinião, em 1968. 
Fonte: http://redeglobo.globo.com/globoteatro/noticia/2014/05/evento-de-resistencia-ditadura-ganha-reedicao-
no-rio-nesta-quarta.html. Acessado em : 28/02/2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 22 GARCIA, Clóvis. Os caminhos do teatro paulista. São Paulo: Editora Prêmio, 2006. 
 
23 
 
 
 
 
 Capítulo 2: 
 
AI-5 e a Nova Realidade Artística 
 
 
 
A Música Popular Brasileira (MPB) dos anos de 1960 foi um instrumento 
celebre, onde podemos entender o que estava acontecendo na época da ditadura civil-
militar brasileira, e através dessa raiz musical, que buscava uma identidade nacional, que 
veremos a ligação com o viés político, pois suas letras não continham somente músicas 
de amor, e sim uma musica com caráter revolucionário e letras que driblavam a censura 
e mostrava a realidade, papel esse que era essencial para a oposição de esquerda, pois era 
um mensageiro de projetos e dilemas levantados pelos opositores, críticos ao regime 
instaurado. 
 A Bossa Nova surge no final dos anos 50 com João Gilberto, músico baiano, que 
traz a nacionalidade brasileira para seus acordes, com sua canção “Chega de Saudade”, 
muitos autores afirmam que o jazz23, influenciou a Bossa Nova, mas segundo o cantor, 
autor Sérgio Ricardo em entrevista concedida a Marcelo Ridenti, a história é outra24: 
 
(...) João Gilberto nunca abriu mão de cantar em português, de – em 
qualquer lugar que fosse – cantar o samba dele. Nunca aderiu a nenhum 
modismo externo. Essa coisa do jazz ter influenciado a Bossa Nova, isso 
não é muito verdade. O que ele fez com sua música foi de certa maneira, 
uma coisa política. Porque ele cantou música brasileira e tentou colocar 
todo o modernismo que ele conhecia dentro de sua canção, da sua 
pátria(...)25 
 
 
 Esse novo estilo musical tem uma maior aquiescência na classe média brasileira, 
ou seja, nos universitários. E com esse novo ritmo/estilo musical, os jovens perceberam 
que poderiam propagar seus conceitos com a música, e os resultados eram adquiridos 
apenas da posse de um violão, voz suave e letra que fosse legitimamente nacional, 
brasileira. 
 
 
 
 
23 Jazz estilo musical que surgiu em Nova Orleans entre 1890 e 1910, com tem raízes negras. 
24 RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: Artistas da Revolução, do CPC à Era da TV. Rio de 
Janeiro: Editora Record, 2000 pag.21. 
25 Idem. 
24 
 
 
 
 
 
 Marcos Napolitano frisa que a música brasileira não surge com a Bossa Nova, 
anterior ao ritmo, temos o Bolero, Samba tradicional e o Samba canção, todos esses 
gêneros musicais, continham elementos modernos, considerados exclusivos pela Bossa 
Nova, que também foi o precursor da revolução musical dos anos 6026. 
Surgindo junto com a Bossa Nova, o Cinema Novo com Glauber Rocha, Cacá 
Diegues, Arnaldo Jabour, Nelson Pereira dos Santos27, entre outros, tinha como objetivo 
nacionalizar o cinema brasileiro defendiam os movimentos de esquerda e buscavam a 
conscientização da população, com filmes de baixo orçamento e focado nas dificuldades 
do homem simples, mostravam a realidade “nua e crua”, o Cinema Novo desviava-se por 
completo do cinema popular como as chanchadas e melodramas, fato que destoava da 
Bossa Nova, que não tinha a preocupação de romper com o passado musical brasileiro. 
O engajamento da Bossa Nova dá-se através de Carlos Lyra e Sergio Ricardo, que 
viam a música como veículos de ideologia e não como produto comercial, a canção 
Quem quiser encontrar o amor 28, de 1961, foi tida como um marco na composição 
politizada, com letra cheia de mensagens de duplo sentido. No mesmo ano a União dos 
Estudantes (UNE) cria o Centro de Cultura Popular (CPC), que reunia artistas de todos 
os setores, muitos curtas e longas metragens são financiados pelo CPC da UNE, e muitas 
músicas de protesto são incluídas, ou até mesmo criadas para compor a obra final. 
 
 
 
 
 
 
 Cartaz do Filme Cinco Vezes Favela, longa-metragem financiado pela UNE. 
Fonte: http://www.pagina13.org.br/juventude/centro-popular-de-cultura-da-une-critica-a-uma-critica-2a-
parte/#.VyFMC_krLDd. Acessado em: 02/03/2016. 
 
 
 
 
26 NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a Canção – Engajamento político e indústria cultural na MPB(1959-1969). 
Editora Annablume. São Paulo, 2010. 
27 Nelson Pereira dos Santos era militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) da qual Jorge Amado também fez 
parte, diretor do filme Rio 40 Graus de Nelson Pereira dos Santos, lançado em 1956, leva aos cinemas o drama dos 
moradores das favelas cariocas, o que até prezado momento não havia sido apresentado ao grande público, o filme que 
era para ser lançado em 1955, foi proibido por conter imagens degradantes do Rio de Janeiro. 
 28 Composição Carlos Lyra, intérprete Geraldo Vandré. 
 
25 
 
 
 
O CPC tinha como objetivo desenvolver uma consciência popular, quando surge o 
Manifesto do CPC/UNE em 1962, a finalidade era condicionar os jovens artista 
engajados, ou seja, fazer a ligação desses jovens artistas e intelectuais com as classes 
mais populares, utilizando o cotidiano dos mesmos como inspiração, para assim facilitar 
a comunicação com as grandes massas. Todo esse populismo proposto, não foi aceito 
por todos esses jovens engajados, exemplo de Carlos Lyra. 
 
(...) Eu, Carlos Lyra sou de classe média e não pretendo fazer arte do 
povo, pretendo fazer aquilo que eu faço [...] faço Bossa Nova, faço 
teatro [...] a minha música, por mais que eu pretenda que ela seja 
politizada, nunca será uma música do povo (...)29 
 
 
Todavia, apos o Golpe civil-militar de 1964, os artistas e intelectuais expandiram 
seus “leques” de possibilidades, abriram debates onde buscavam uma nova formação 
político- ideológica. Entre os anos de 1964-1968 houve um aumento das canções 
protesto, artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil entre outros, 
estavam engajados com a situação do Brasil, logo, a Bossa Nova era vista de 
outra forma, a Música Popular Brasileira se renovava, o Samba foi reconhecido 
como o prógono da Bossa Nova, que já era vista como nacionalista.30 O teatro 
brasileiro, com suas peças musicais também tiveram um papel importante no combate a 
ditadura instaurada, os grupos teatrais mais importantes foram o Teatro de Arena e o 
Grupo Opinião.31 
O espetáculo Opinião com Nara Leão, Zé Kéti e João do Vale, utilizava 
elementos como música, drama, poesia e crítica social, para conduzir uma perspectiva 
popular para os dilemas nacionais, a junção desses elementos despertava o interesse do 
público, e os fazia pensar os fatos ocorridos no país naquele momento, e posteriormente 
questiona-los. 
 
 
 
 
29 NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a Canção – Engajamento político e indústria cultural na MPB(1959-1969). 
Editora Annablume. São Paulo, 2010. Pag.30 
 30 Idem. 
 31 Grupo Opinião surgiu após o fechamento da UNE, e consequentemente o fechamento da CPC, em 1964. 
 
26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Show Opinião, estrelado por Nara Leão, Zé Kéti e João do Vale, considerado o espetáculo mais importante no 
processo de construção das músicas de protesto . 
Fonte: http://cancoesparameusamigossurdos.tumblr.com/post/64420966975/nara-le%C3%A3o-z%C3%A9-keti-
e-jo%C3%A3o-do-vale-show-opini%C3%A3o. Acessado em: 05/03/2016. 
 
 
 O ano de 1967 foi um dos mais promissores para as músicas engajadas, surgia 
a Tropicália, os Festivais Musicais divulgavam as músicas de forma nacional32, o desejo 
revolucionáriose instalava nos jovens através desses canais. Porém em 1968, com a 
instauração do AI-5, houve um retardo na crescente cultura brasileira. 
Pela quinta vez o Congresso Brasileiro era fechado, Costa e Silva, com a 
promulgação do Ato Institucional 5, fez com que as demissões em massa, cassação de 
mandatos, suspenção dos direitos políticos fossem reestabelecidas, além de proibir a 
liberdade de expressão, as reuniões.33 
 O AI-5 divergia dos outros Atos Institucionais, não tinha prazo estipulado para 
sua vigência, os opositores ao governo foram presos, ele foi admitido e aceito em 
silêncio, não houve seque manifestação ou contestação. Houve também a suspensão do 
habeas corpus, nos casos de crimes políticos contra a segurança nacional. 34 
 
(...) Art 10 – Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de 
crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e 
social e a economia popular (...)35 
 
 
 
32 Será feita uma analise no terceiro capítulo deste estudo. 
33 GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. 
34 Idem. pag.340 
35 FICO, Carlos. Além do Golpe – Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Editora 
Record, 2004. Pag. 385
27 
 
 
 
 
 
 Todo o processo que levou Costa e Silva a promulgação do Ato, estava 
milimetricamente planejado, o Golpe já instaurado, se fortificava, todas as emissoras 
de TV, jornais, rádios, foram ocupadas por censores. Carlos Lacerda, Juscelino 
Kubistchek, foram presos, além do advogado Sobral Pinto que resistiu a prisão, foi 
preciso cerca de seis homens para prendê-lo, apesar de ter 75 anos e aparentar 
fragilidade, foi levado a uma cela do quartel. As prisões não se restringiram aos 
políticos e advogados, artistas como Chico Buarque exilado na Itália entre 1969-1970, 
Geraldo Vandré exilado entre 1969-1973, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram 
capturados em São Paulo, onde foram humilhados, tiveram a cabeça raspada, após 
passarem por diversas unidades militares no Rio de Janeiro, foram confinados em 
Salvador e exilados em Londres de 1969-1972, a atriz Marília Pera, que interpretava o 
personagem Juliana/Juju, ademais de ser presa em um mictório de quartel, foi uma das 
espancadas durante o ataque ao espetáculo pelo Comando de Caça aos Comunistas 
(CCC).36 
 
 
Vale ressaltar o relato do Coronel João Batista Figueiredo: “A impressão 
que tenho é que cada um procura tirar o maior proveito possível do 
momento porque começam a perceber a quase impossibilidade de uma 
saída honrosa para os destinos do país (...). Os erros da Revolução foram 
se acumulando e agora só restou ao governo partir para a ignorância”.37 
 
 
 
 
 O AI-5 dava totais poderes ao presidente, o governo brasileiro inicia a 
perseguição aos opositores, que só agiam na clandestinidade, devido às ações tirânicas 
impostas pelo AI-5, o governo cria vários órgãos de repressão, com a finalidade de passar 
para a população à ameaça comunista, tentando através dos discursos, validar o sistema e 
controlar o povo, e todo e qualquer discurso que ameaçasse a ordem, ou que punha em 
pauta a legitimidade as ações do governo, concedia a seus progenitores somente um destino, 
a censura, que era quase sempre seguida pela prisão e tortura dos mesmos. 
 
 
 
 
 
 36 GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. 
 37 Idem. pag. 343. 
 
 
 
28 
 
 
 
 
 
Costa e Silva o ano de 1969 elaborava a criação de uma nova Constituição, que 
pretendia por em vigor em setembro do mesmo ano, porém foi vítima de um derrame 
que o deixou paralisado, os ministros militares decidiram que o então vice-presidente 
Pedro Aleixo, não assumiria o cargo, mais uma vez violando a Constituição, e o poder 
passou a ser exercido por uma Junta Militar, que inseriu a Constituição a prisão perpétua 
e a pena de morte.38 
Muitos músicos brasileiros foram exilados, tidos como ameaça a ordem nacional, 
devido as suas canções, em 1969 Gilberto Gil lança “Aquele Abraço”, que nada mais era 
que uma despedida, escrita rapidamente no avião, e o título era uma “homenagem” aos 
soldados que o cumprimentavam na prisão39. 
 
 
Segundo Gilberto Gil: “A ideia em Aquele Abraço era citar um local 
qualquer da zona norte do Rio (onde ficamos), um daqueles beira-
estrada-de-ferro (Beira Central, Beira Leopoldina), e Realengo é um 
deles. Uma associação inexata, feita por aproximação: eu nem queria me 
referir ao lugar certo aonde estive preso” 40 
 
 
Ainda em 1969, surgem vários órgãos de tortura no país, como Centro de 
Informações da Marinha (Cenimar), a Operação Bandeirantes (Oban), que daria lugar 
para os DOI-CODI (Destacamento de Operações e Informações e do Centro de 
Operações de Defesa Interna), isso no governo de Médici41, eram os principais centros 
de tortura, existia uma grande ação repressora, todavia, o crescimento econômico 
brasileiro era próspero entre os anos de 1968-1969 o país apresentou um PIB de 11,2% e 
10%, que corresponde a 8,1% e 6,8% no cálculo per capita. Iniciava-se o chamado 
milagre econômico,42 que durou até 1973. 
 
 
 _____________________________ 
 
38 A pena de morte nunca foi utilizada formalmente, porém as execuções, as mortes durante a tortura, pessoas que foram 
dadas como desaparecidas, podemos afirmar que foi utilizada pelo governo. 
39 Fonte http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_info. php?id=389&letra. Acessado em: 06/03/2016. 
40 Fonte http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_info. php?id=389&letra. Acessado em: 06/03/2016. 4º paragrafo. 
41 General Emilio Garrastazu Médici, eleito em 25 de outubro de 1969, era chefe do Estado-Maior no governo Costa e Silva. 
42 FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, I m pr en s a 
O f i c i a l d o E s t a d o 2001, p. 251. 
 
 
 
29 
 
 
 
A censura às artes brasileiras sempre existiu, muito antes do período do Golpe 
Civil-Militar Brasileiro em 1964, músicas, filmes, espetáculos teatrais, que para os 
censores, atacavam a moral, ou uma afronta aos bons costumes dos brasileiros, eram 
censuradas. O espetáculo teatral O Rei da Vela, de 1933, fazia críticas à ditadura de 
Getúlio Vargas, foi censurada e só pode ser encenada em 1968, e mesmo assim foi 
considerada imprópria pelo o público, por conter cenas pornográficas, apesar de escrita 
trinta e cinco anos antes, a linguagem era atual, refletia os ocorridos do período de 1964, 
e fazia críticas indiretas. 43 
A peça Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues, em sua primeira 
montagem no ano de 1957, após muitas discussões, por conter uma cena de aborto44, na 
estreia o público ficou chocado e indignado com tamanha audácia do teatrólogo, foi 
censurada no dia seguinte por conteúdo que atinge a moral, os bons costumes e por fazer 
apologia ao crime. 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
Espetáculo Perdoa-me por me traíres, 1957. 
Fonte: http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/nelson-rodrigues/nelson-rodrigues-fotografado-
por-carlos-moskovics/. Acessado em: 06/03/2016. 
 
As canções, de acordo com o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), 
criado após a regulamentação da imprensa e propaganda através do Decreto-lei nº 1940, 
30 de dezembro de 1939, onde todas as atividades artísticas, não poderiam ter 
improvisos, os sambas-canções que mostravam a vida do malandro, ou a realidade dos 
morros cariocas, eram censurados, vistos como sambas negativos. 46 
________________________ 
43 Fonte http://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_rei_da_vela. Acessado em: 06/03/2016.44 Antes da estreia, o espetáculos foi visto por três censores, para depois poder ser liberada. 
45 CASTRO, Ruy. O Anjo Pornográfico - A vida de Nelson Rodrigues. São Paulo, Companhia das Letras, 1992. 
46 PARANHOS, Adalberto. Os desafinados do samba na cadência do Estado Novo. Nossa História. Rio de Janeiro, vol. 4, 
2004. 
 
30 
 
 
 
O DIP era o órgão censor criado por Getúlio Vargas, com finalidade de proibir toda 
e qualquer manifestação artística que mostrasse críticas ao governo, um exemplo eram os 
sambas-enredos, a oficialização dos desfiles das escolas de samba, só ocorreu em 1935 
após acordo fechado, onde que nenhuma das agremiações poderiam fazer criticas a 
população, país, etc. 
Com a deposição de Vargas até o início da ditadura civil-militar, ocorreu uma 
queda nos casos de censura artística, nota-se que quando o país é governado através da 
repressão ocorre o aumento das obras artísticas censuradas. A Divisão de Censura de 
Diversões Públicas (DCDP) 47 foi o responsável pela analise e proibição das atividades 
durante o regime instaurado, a princípio criado para defender a moral e bons costumes do 
país, sem cunho político, mas ao entendermos que toda censura é um ato político, e toda e 
qualquer canção ou atividade artística, que abordasse o tema denegrindo a imagem do 
governo, era coibida. 
Carlos Fico mostra que a censura política dentro do DCPD, causava desconforto 
nos próprios censores ao contrário da censura moral, tida por eles com orgulho. A DCPD 
transformou-se na voz autoriza do regime, com o compromisso de fazer valer os 
fundamentos da “Revolução,” logo, passou a dar palpites nas canções apresentadas, não 
existiam critérios, se fosse agressiva, era censurada. O DPCD tinha o objetivo de levar a 
sociedade que viviam em uma guerra constante contra o comunismo, e passavam a 
mensagem onde os opositores ao regime, usavam da corrupção para desmoralizar a 
juventude brasileira, e tornar um país sem moral ou respeito. 48 
 Em 1970, no inicio do governo Médici a propaganda “Segurança e 
Desenvolvimento,” o que era um tanto irônico, pois todo seu mandato ficou conhecido 
como “os anos de chumbo”, devida a grande violência, era difundida contíguo com a 
Copa do Mundo de Futebol, esse era o trunfo do presidente, que fazia uma boa 
campanha como torcedor, na inauguração do estádio do Morumbi, estava acompanhado 
pelo teatrólogo, jornalista, ator Nelson Rodrigues, que apesar de ter diversas peças 
censuradas, apoiava a ditadura brasileira, em sua crônica para O Globo escreveu:49 
 
 
____________________________ 
 47 DCDP estabelece-se em Brasília no ano de 1966 e durou até 1988, quando a censura passou a fazer parte do 
Ministério da Educação. 
48 FICO, Carlos. Além do Golpe – Versões e Controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Editora 
Record, 2004. 
49 VILLA, Marco Antonio. Ditadura à Brasileira – 1964-1985, A democracia golpeada à esquerda e à direita. São 
Paulo: Editora Leya, 2014 p. 127. 
 
31 
 
 
 
 “É preciso não esquecer o que houve nas ruas de São Paulo e dentro do 
Morumbi. No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de 
silêncio, e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua. Vi o Morumbi 
lotado, aplaudindo o presidente Garrastazu. Antes do jogo e depois do 
jogo, o aplauso das ruas. Eu queria ouvir um assobio, sentir um foco de 
vaia. Só palmas ” 50 
 
A vitória na Copa do Mundo ajudou a legitimar o governo junto com a canção 
que virou hino da seleção, Pra Frente Brasil, de Miguel Gustavo, com trechos como, De 
repente é aquela corrente pra frente, parece que todo Brasil deu a mão, todos ligados na 
mesma emoção, tudo é um só coração,51 a maioria dos brasileiros naquele momento só 
queria saber da Copa do Mundo e Médici aproveitando o momento, fez uma comparação 
entre o regime e o futebol da seleção brasileira: 
 
“Na vitória esportiva, a prevalência de princípios que nos devem armar 
para a própria luta em favor do desenvolvimento nacional. É desse ciclo 
a nossa conquista, a vitória da unidade e da conquista de esforços. A 
vitória da inteligência e da bravura, da confiança e da humildade, da 
constância e serenidade dos capacitados, da técnica, do preparo físico e 
da categoria ” 52 
 
 
 
Charge de Henfil, para O Pasquim, vetada pela censura, mostra como o povo brasileiro estava no período da 
Copa do Mundo de Futebol. Ao lado a propaganda oficial do governo. 53 
 
 
 
 
50 VILLA, Marco Antonio. Ditadura à Brasileira – 1964-1985, A democracia golpeada à esquerda e à direita. São 
Paulo: Editora Leya, 2014 p. 170. 
51 Idem. 
52 Idem. pag 176. 
 53 GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002. 
32 
 
 
 
 
Esse tipo de canção foi vista pelos opositores como, porta voz do regime, pois 
faziam propaganda e estavam ligadas aos objetivos do governo. Nessa mesma época os 
artistas que haviam sido exilados, continuavam a produzir Chico Buarque, Vinicius de 
Moraes e Toquinho lançavam, Samba de Orly. 
 
Samba de Orly 
Vai meu irmão 
Pega esse avião 
Você tem razão 
De correr assim 
Desse frio 
Mas beija 
O meu Rio de Janeiro 
Antes que um aventureiro 
Lance mão 
 
Pede perdão 
Pela duração (Pela omissão)* 
Dessa temporada (Um tanto forçada)* 
Mas não diga nada 
Que me viu chorando 
E pros da pesada 
Diz que eu vou levando 
Vê como é que anda 
Aquela vida à toa 
E se puder me manda 
Uma notícia boa 54 
 
 
 Essa canção foi escrita por Chico Buarque no dia em que Toquinho estava 
voltando ao Brasil, percebemos em sua letra a tristeza/saudade de seu compositor que foi 
“convidado” a se retirar do país. A música mais uma vez era a mensageira desses 
artistas, pois através de suas melodias diziam aos seus o que realmente estava 
acontecendo. À esquerda brasileira cobrava de seus artistas canções que se mostravam 
contra o regime ditatorial, músicos como Dom e Ravel, foram massacrados e acusados 
pelos opositores por fazerem canções que apoiava o governo, artistas como Elis Regina, 
Ivan Lins, eram continuamente pressionados por suas canções. 
 
_____________________________ 
54 Fonte http://www.chicobuarque.com.br/letras/sambadeo_70.htm. Acessado em: 08/03/2016. 
 * Trecho censurado. 
33 
 
 
 
Outro músico que teve a carreira arruinada foi Wilson Simonal, chamado de 
espião do governo, devido a boatos que após demitir um funcionário sob acusação de 
roubo, Simonal o teria delatado, fazendo-o ser preso e torturado, fatos esses, 
desmentidos 20 anos depois pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da 
República, que em 1991 emitiu um documento oficial que negava toda e qualquer 
participação do cantor com a política brasileira.55 
No teatro a história era parecida, os grupos já citados anteriormente Arena e 
Oficina estavam a todo vapor, o objetivo era o mesmo, atacar com arte o governo, no 
ano de 1971, o Teatro Arena, mais precisamente o Núcleo 2, formado por jovens atores, 
que descobriram esse projeto de Augusto Boal, que estava engavetado devido a censura 
prévia, iniciaram o Teatro-Jornal.56 
 O Teatro-Jornal nada mais era que o teatro político, o principal era transformar as 
notícias de jornal em cenas, tudo isso com a participação da plateia, seria uma revista 
semanal, que se apresentaria toda segunda-feira, contudo, como driblariam a censura 
prévia, naquela época, todo e qualquer texto ia para Brasília, quando o texto era 
chancelado, tinham quarenta dias para lerem e aprovarem a montagem, depois disso, 
com espetáculo pronto, um grupo de censores assistia ao ensaio geral, para assim 
aprovarem ou não a peça. Todavia isso seriaimpossível com o Teatro-Jornal, pois se a 
notícia era semanal, não teria como ir para aprovação da censura, logo, era encenado 
clandestinamente, quando Boal decidiu interceder de maneira estratégica57, o espetáculo 
tornou-se um sucesso, além de reestruturar o movimento de esquerda, organizou essas 
pessoas para voltarem a discutir de forma mais afetiva, com a arte, com o teatro. 
O espetáculo não durou muito, apos retornar de uma temporada nos Estados 
Unidos, Peru e Uruguai com as peças Arena conta Zumbi e Arena conta Bolívar, 
Augusto Boal foi preso e mandado para o exílio, causando assim o fim do teatro Arena.58 
 
 
 
 
_____________________________ 
55 PINHEIRO, Manu. Cale-se - A MPB e a Ditadura Militar. Livros Ilimitados. 2010. 
56 O Teatro-Jornal foi criado nos Estados Unidos no ano de 1930 por esquerdistas, e trazido ao Brasil pelo teatrólogo 
Augusto Boal, conhecido pela criação do teatro do oprimido, é o teatro que quebra a quarta parede, possibilitando o 
dialogo com o publico. 
 57 Augusto Boal decidiu montar o espetáculo, levando para a censura notícias que já aviam passado pela mesma, e 
quando foram apresentar para os censores, pediu para os atores o fazerem de forma amadora, fazendo com que o 
espetáculo fosse apresentado formalmente. 
 58GARCIA, Silvania. Odisseia do Teatro Brasileiro. Senac. São Paulo, 2002.
34 
 
 
 
 
Em janeiro de 1972 Caetano Veloso e Gilberto Gil retornam do exílio, e se 
deparam com a nova realidade política brasileira, onde a metáfora e ironia eram 
utilizadas como armas contra o governo. Nesse mesmo ano são lançadas músicas 
importantes para MPB, como, Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo 
Bastos), Expresso 2222 (Gilberto Gil), Vapor Barato (Jards Macalé e Wally Salomão), 
Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio), 59 a perseguição a esses cantores 
acabou causando um efeito oposto, a venda de discos e o público nos shows cresceram, 
eram considerados atos de resistência, o que foi muito rentável para esses artistas. 
A censura durante o governo de Médici chegou a esconder um gravíssimo surto 
de meningite em São Paulo, além de todos os casos de torturas e mortes, a respeito 
desses casos, o então governador de São Paulo, Abreu Sodré60 transfere a 
responsabilidade de seus atos e discorre, 
 
(...) presidente Médici, apesar de humano e honrado, como toda sua família, 
passou para a História como tendo chefiado o mais duro governo do período 
militar. Deixou que se desenvolvesse reação exagerada ao clima de subversão e 
guerrilha que varria o país. Os radicais do governo induziram a pratica da 
abominável violência. 61 
 
 
Quando o general Ernesto Geisel assume o governo em 15 de março de 1974, 
associa ao inicio da abertura política, que definiu com lenta, gradual e segura. 
Governo travou uma luta contra a linha dura, as mortes, torturas, continuavam, no 
governo de Geisel o desaparecimento dos ditos inimigos do governo, tornou-se rotina, 
apesar das guerrilhas terem sido eliminadas, os militares continuavam a torturar e 
assassinar, porém a censura estava mais branda. Após o diretor de jornalismo Vladimir 
Herzog, da TV Cultura ser intimado a comparecer ao DOI-CODI e não sair vivo62 e o 
metalúrgico Manuel Fiel Filho também morto nas mesmas circunstâncias, fez com que 
Geisel tomasse providencias, e a tortura no DOI-CODI foi extinta. 
 
 
 
 
_____________________________ 
_______________________ 
59 RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: Artistas da Revolução, do CPC à Era da TV. Rio de 
 Janeiro: Editora Record, 2000. 
60 Abreu Sodré, durante seu mandato o DOPS de São Paulo, torturou e assassinou militantes de esquerda. 
61 VILLA, Marco Antonio. Ditadura à Brasileira – 1964-1985, A democracia golpeada à esquerda e à direita. São 
Paulo: Editora Leya, 2014 p. 192. 
62 A morte de Herzog foi forjada pelos militares de forma grosseira, apresentaram sua morte como suicídio por 
enforcamento. 
35 
 
 
 
Quando o Congresso foi reaberto em 14 de abril de 1977, os estudantes puderam 
retornar ao cenário político brasileiro, depois de nove anos afastados. O movimento 
estudantil logo iniciou suas manifestações, que se espalhou por todo país. Em 5 de 
junho o governo impediu o III Encontro Nacional de Estudantes, que se rebelaram 
causando diversas prisões. 
Como seu antecessor, Geisel utilizou o AI-5 durante seu governo, em 23 de junho o 
discurso de Alencar Furtado63 incomodou o regime, atacou o AI-5, defendeu a bandeira 
Constituinte, comparou o Brasil a Cuba, sem citar a declaração a respeito das torturas e 
desaparecimentos, 
 
 
Hoje, menos que ontem, ainda se denunciam prisões arbitrárias, 
punições injustas e desaparecimento de cidadãos. O programa do MDB 
defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não 
haja lares em prantos; filhos órfãos de pais vivos – quem sabe mortos, 
talvez. Órfãos do talvez e do quem sabe. Para que não haja esposas que 
enviúvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do 
quem sabe e do talvez.64 
 
 
 
 Alencar foi o último parlamentar atingido pelo AI-5, seu discurso foi considerado 
pelos militares como uma afronta, e seu mandato foi cassado, no total, desde 1964, 181 
parlamentares do Congresso Nacional tiveram seu mandato cassado e seus direitos 
políticos suspensos por dez anos.65 
 Com o fim da censura prévia a imprensa escrita66 em 1978, o presidente Geisel 
intensificava as negociações para aprovar um conjunto de reformas que tivesse o fim do 
AI-5, mas antes seria necessário substituir a legislação. O governo trabalhava em duas 
frentes, a extinção do AI-5 e garantir Figueiredo como sucessor de Geisel. Figueiredo foi 
eleito em 17 de outubro de 1978, e o último grande passo de Geisel antes de deixar o 
governo foi à promulgação da Emenda Constitucional nº11, ele incorporou a Constituição 
as salvaguardas do Estado, restabeleceu a imunidade parlamentar. 
 
 _______________________ 
 _____________________________ 
63 Alencar Furtado foi líder do MDB na Câmara dos Deputados, chegou a liderança após vencer o candidato dos 
moderados Laerte Viera. 
64 VILLA, Marco Antonio. Ditadura à Brasileira – 1964-1985, A democracia golpeada à esquerda e à direita. São 
Paulo: Editora Leya, 2014 p. 248. 
65 Idem. 
66 A censura ao rádio e a televisão foi mantida, porém sem fins políticos, o objetivo era preservar os valores da família 
brasileira.. 
 
36 
 
 
 
 No artigo 3º da Emenda Constitucional nº 11, que entrou em vigor no dia 1º 
de janeiro de 1979, diz: São revogados os Atos institucionais e complementares, no que 
contrariarem a Constituição Federal, ressalvados os efeitos dos atos praticados com 
bases neles, os quais estão excluídos de apreciação judicial.67 Com o fim do AI-5, o 
habeas corpus é restaurado, fazendo com que o país inicie o caminho em busca da 
democracia. 
 O cenário musical brasileiro durante a vigência do AI-5 consagrou a MPB 
como sinônimo da canção engajada, durante entrevista ao Pasquim, Caetano Veloso 
declara:68 
 
(...) O som dos anos 70 talvez não seja um som musical. De qualquer 
forma o único medo é que esta talvez venha ser a década do silêncio.69 
 
 
 Na década de 70 vemos a maturidade criativa, a música de protesto nos 
apresenta de forma poética toda a resistência ao regime. Napolitano, nos apresenta dois 
momentos importantes para a MPB, as canções dos anos de chumbo, que dura de 1964 a 
1974, músicas como Disparada, Alegria Alegria, Roda-Viva, Pra não dizer que não 
falei das flores, Divino Maravilhoso, entre outras, notamos uma expressãode contra 
violência, a preocupação política dos autores e intérpretes. As canções de abertura, que 
dura de 1975 a 1982, Fé cega, faca amolada, Como nossos pais, A palo seco, Cálice, 
essas canções anunciam uma nova perspectiva, a reconquista da liberdade perdida, e a 
reflexão dos anos de chumbo70 percebemos na canção A Palo Seco de Belchior, a 
preocupação em cantar diretamente o que acontecia no do regime ditatorial, e que por 
mais que na época fosse “moda” as canções de protesto, o cantor reafirma o desespero 
vivido, e a importância no nacionalismo, no final da canção, como um fio de esperança, 
ele nos deixa claro o seu grito de protesto, e tem esperança que marque de alguma forma 
a sociedade, para que assim possa se movimentar a respeito do que acontecia no país. 
 
 
67 Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc11-78.htm. Acessado 
dia 10/03/2016. 
68 NAPOLITANO, Marcos. MPB: a trilha sonora da abertura política (1975/1982). Estudo aprovado em 
25.05.2010. 
69 Idem. 
70 Idem
37 
 
 
 
 A Palo Seco 
Se você vier me perguntar por onde andei 
No tempo em que você sonhava 
De olhos abertos, lhe direi: 
Amigo, eu me desesperava 
Sei que assim falando pensas 
Que esse desespero é moda em 76 
Mas ando mesmo descontente 
Desesperadamente eu grito em português 
Mas ando mesmo descontente 
Desesperadamente eu grito em português 
 Tenho vinte e cinco anos 
De sonho e de sangue 
E de América do Sul 
Por força deste destino 
Um tango argentino 
Me vai bem melhor que um blues 
Sei que assim falando pensas 
Que esse desespero é moda em 76 
E eu quero é que esse canto torto 
Feito faca, corte a carne de vocês 
E eu quero é que esse canto torto 
Feito faca, corte a carne de vocês71 
 
 Seguidamente com o fim do AI-5, as canções de abertura demarcavam um 
novo tempo histórico, o trauma e a esperança caminhavam juntos, a música e a política 
são vertentes diferentes na sociedade, porém, a música brasileira durante os anos de 
1968 a 1978, teve um papel intrínseco para a politização de forma poética de grande 
parte da sociedade brasileira.72 
 
 _____________________________ 
71 Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc11-78.htm. Acessado 
dia 10/03/2016. 
72 NAPOLITANO, Marcos. MPB: a trilha sonora da abertura política (1975/1982). Estudo aprovado em 
25.05.2010.
38 
 
 
 
 
 Capítulo 3: 
 
A Era dos Festivais 
 
 
Em 1965 o produtor de TV Solano Ribeiro, com a finalidade de transformar São 
Paulo o berço da música brasileira, realizou o I Festival Nacional da Música Popular 
Brasileira, na extinta TV Excelsior73. A inspiração do produtor foi o Festival de Canção 
de São Remo, que foi um festival italiano, ao ar livre e tinha apresentação de músicos de 
todo o mundo. No primeiro festival com transmissão ao vivo, Elis Regina saiu vencedora 
com a música Arrastão, parceria de Vinicius de Moraes e Edu Lobo, a letra conta a 
história de vida dos pescadores e sua devoção religiosa. Era o inicio da mídia televisiva 
no Brasil, e os programas musicais tinham espaço nas emissoras, programas como A 
Noite da Bossa Paulista, O Fino da Bossa, Esta Noite se Improvisa e Jovem Guarda, 
levavam ao público músicas com intuito nacionalista, a juventude universitária, que após 
o Golpe civil-militar de 1964, alçou-se contra o regime utilizou o poder propagador dos 
festivais, e suas letras cheias de mensagens ideológicas que eram diretamente protestos, 
para combater o governo. O período que abrange os anos de 1965 a 1972, ficou 
conhecido como “A Era dos Festivais”. 74 No ano de 1966 ocorreram mais dois festivais, 
um da TV Excelsior, desta vez sem o produtor que consagrou o festival na emissora, a 
canção Porta Estandarte, de Geraldo Vandré e Fernando Lona, com interpretação de 
Aírton Moreira e a Tuca muito conhecida pelos universitários, foi à vencedora, a letra 
traz elementos que nos remete a força do povo, da união em prol da liberdade para todos, 
utilizando das mesmas fórmulas do primeiro festival e divulgação da revista Manchete. 
Na TV Record, com Solano75 na direção, lançou o II Festival de MPB, que superou todas 
as expectativas e consagrou diversos cantores e compositores populares, num momento 
onde a Jovem Guarda avançava e o desgaste da MPB assombrava, todavia o festival 
reacendeu tanto comercialmente quanto criativamente essa nova geração de cantores e 
compositores da MPB. 
 
73 A TV Excelsior foi inaugurada em 1961 pelo Grupo Simonsen, era ousada em suas produções, faliu em 1969. 
74 NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a Canção – Engajamento político e indústria cultural na MPB(1959-1969). 
Editora Annablume. São Paulo, 2010. 
 75 Solano não concordou com as exigências da patrocinadora, e vendo que a TV Excelsior não tinha estrutura 
técnico/financeira, foi para TV Record, onde teve muita liberdade para realização do II Festival de MPB.
39 
 
 
 
 
 
Ainda no ano de 1966, houve o I Festival Internacional da Canção, com direção 
de Augusto Mazargão, coordenado pela secretária de turismo e organizado pelo 
governo do Rio de Janeiro, o festival foi pensado para promover não só a música, mas 
também alavancar o turismo no estado do Rio de Janeiro, as canções selecionadas não 
continham características políticas, poéticas e nem de identidade regional, tanto que a 
canção vencedora na categoria nacional foi Saveiros, composta por Nelson Motta e 
Dori Caymmi, interpretada por Nana Caymmi76 , a interprete foi vaiada, e comparado 
ao festival organizado pela TV Record no mesmo ano, não teve o impacto esperado 
pelo governo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nana Caymmi durante apresentação no I Festival Internacional da Canção, 1966. 
Fonte: http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/a-era-dos-festivais-da-cancao-9146234. Acessado em: 
12/03/2016. 
 
Em outubro de 1966 a TV Record levava aos telespectadores brasileiros o II 
Festival de MPB, era direcionado para o público nacionalista e engajado politicamente, 
porém não faziam restrições aos participantes, tanto que a Jovem Guarda77 participava, 
o festival tinha um sistema de produção, distribuição e consumo das obras 
apresentadas, essas são características da indústria cultural madura e integrada. Os 
artistas da MPB estavam envolvidos com os grupos sociais e atitudes enredadas, onde 
o foco era conscientizar as pessoas, e estavam ligados a outros grupos onde o objetivo 
eram os mesmos, por exemplo, as universidades, o teatro engajado, boêmia musical, 
 
76 NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a Canção – Engajamento político e indústria cultural na MPB(1959-1969). 
Editora Annablume. São Paulo, 2010. 
 77 A Jovem Guarda foi influenciada pelo estilo musical dos The Beatles, era alienada e passiva e por não tomar 
partido no contexto político do país foi considerada defensora da ditadura civil-militar brasileira, seu precursor era 
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, as músicas falavam de namoros juvenis e era acompanhada pela 
guitarra elétrica e o famoso Iêiêiê, o programa Jovem Guarda começou a ser transmitido pela TV Record em 1965, 
e durou até 1968. Fonte: https://resistenciaemarquivo.wordpress.com/2013/12/27/os-reis-robertos-a-jovem-guarda-e-
a-explosao-da-bomba/ Acessado em 12/03/2016. .
40 
 
 
 
diferente da Jovem Guarda, onde as canções e os artistas eram tidos declaradamente 
como produto industrial.78 
 O II Festival da Record era nacionalista, tinha a maioria dos cantores 
urbanizados, foi marcado pelo samba, foram inscritas 2.200 músicas, os compositores e 
interpretes concorriam

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