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O CASO HAKANI E A UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: limites e possibilidades do(s) discurso(s) ético-humanista(s)[1: Relatório final de caso apresentado à disciplina de Filosofia do Direito, do Curso de Direito da Faculdade CESUSC]
DIRNEI LEVANDOWSKI XAVIER
HENRIQUE GOMES
LEANDRO RAMOS
1. RELATÓRIO
O caso Hakani ocorreu em 15 de agosto de 1995, quando na reserva dos Saruwaha nasceu uma criança tratada por eles como “Jauky” ou “Jeweke” (anão em seu dialeto), consoante às tradições de algumas reservas a menina deveria ser sacrificada por se tratar de um “espirito ruim” que teve relações sexuais com a mãe, esse tipo de seleção é criado por diversos povos e inclusive por animais, seguindo uma lógica de seleção natural de seus membros habilitados a sobreviver e contribuir com suas comunidades. A missão de realizar o ato caberia aos seus genitores, sendo eles os responsáveis por dar um fim à vida de membros inabilitados, assim sendo, impondo um fim na maldição que estava por vir, entretanto, os pais acabaram se suicidando. Com a posição adotada pelos pais acabou cabendo ao membro mais velho da família essa tarefa, que foi fracassada e assumida pelo irmão mais velho que também fracassou. O filho do meio Bibi se achou na obrigação de cuidar de sua irmã, resgatando-a das agressões físicas e emocionais que Hakani passava na aldeia, levando-a à floresta e cuidando de sua irmã. Bibi conseguiu tratar da menina sorriso, o nome Hakani significa sorriso em seu dialeto, com a ajuda de um casal membro da Jocum – Jovens Com Uma Missão (que tinha como objetivo evangelizar os Saruwaha), Edson e Márcia Suzuki. O casal de missionários protestantes resolveu ajudar a indiazinha procurando autorização da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) levando Hakani para fazer tratamento no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em São Paulo, depois de longos anos de “negociação” com os membros da aldeia, e o problema não esta nem perto de ter um final feliz, já não bastava todos os costumes dos Saruwahas o casal encontrou barreiras quase que instransponíveis criadas por Órgãos de proteção ao Índio, que acreditavam baseando-se em conceitos antropológicos que o Direito Humano em Sentido Estrito, de acordo com que os Direitos Naturais positivados não deveriam ser utilizados em comunidades que não estariam dentro desse ordenamento, conforme é o caso dos Índios, pois, segundo algumas considerações antropológicas os mesmo não seguiriam as normas impostas pelo estado por viverem isolados, destarte, não deveríamos intervir nos seus costumes. Esse seria o grande problema que o caso suscita o duelo entre o Direito e os Costumes e até onde um pode chegar e qual deve ser mais relevante nesses Hard Cases (casos difíceis). O presente caso envolve sem sombras de dúvidas um assunto de imensurável complexidade, pois, ao mesmo tempo em que envolve as grandes diversidades de tradições das tribos indígenas brasileiras com suas “normas” que conforme o caso seria a de um crime segundo o atual ordenamento jurídico brasileiro, taxado nos seus arts. 121 122 CP. A problemática do caso supracitado envolve essas diretrizes, será que o Direito em Sentido Estrito deve ser mais relevante que os costumes e o multiculturalismo?[2: Fragmento de texto disponível em: http:/www.ilhacap.com.br/edicao_janeiro12/Capa-Hakani-jan11.html]
2. FUNDAMENTAÇÃO
O casal de missionário Edson e Márcia Suzuki enfrentou uma gigantesca barreira neste caso nos órgãos jurídicos, de acordo com o antropólogo Marcos Farias de Almeida, do Ministério Público, o que o casal de missionários queria fazer ofenderia os costumes dos Suruwahas, afirmando que o fato dos missionários contarem como esta sendo a recuperação de Hakani e afirmando que ela conseguiria voltar a aldeia, seria a legitimação de um grande equivoco, devido a nova possibilidade de resolver os problemas da aldeia em um novo “universo”, que não estaria sobre o controle de seus próprios costumes. Entretanto, a “prática cultural repleta de significados” citada pelo antropólogo, como um dos empecilhos à adoção já cotiam decisões no mesmo sentido, em que a própria aldeia autorizou que “homens brancos” pudessem adotar os seus membros incapacitados. Entretanto, cabe ressaltar a problemática envolvendo o Direito e os Costumes. Primeiro, é conveniente esclarecer as diferenças entre multiculturalismo e pluralismo. O pluralismo é uma característica de sociedades livres, em que há a convivência pacífica e respeitosa entre pensamentos diferentes, atualmente encontrada nos Estados Democráticos de Direito, como é o caso da República Federativa do Brasil. Não se pode falar em um pensamento melhor que outro, pois todos são dignos de respeito. O pluralismo combate o pensamento único, o que contraria uma das tendências do processo de globalização.. [3: Fragmento de texto disponível em: http://www.hakani.org/pt/noticias_veja.asp][4: Fragmento de texto disponível: http://www.senado.gov.br/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf]
O costume, diferentemente do Direito, é criação espontânea da sociedade, sendo o resultado dos acontecimentos sociais. O costume surge diante da prática reiterada de uma determinada conduta, ou seja, em casos semelhantes, as pessoas sempre vão agir da mesma forma, e é na ocorrência de muitas situações parecidas é que os costumes se tornam válidos, como é o caso dos infanticídios em tribos indígenas. Assim, com base nos seus “novos costumes” regulados pelo Direito os Suruwahas acabariam migrando para o que se chama Direito Consuetudinário, que é o Direito estabelecido com base nos costumes, não seu, mas do Estado em que eles fazem parte, no caso supracitado seriam a da Republica Federativa do Brasil. Outro aspecto é que os costumes devem se apresentar como prática usual e frequente, sendo essa conduta observada pelo indivíduo na crença de ser essa obrigatória, em outras palavras, para que seja considerado costume, deverá a prática ser uniforme, constante, necessária e obrigatória, requisitos apontados pela maioria dos autores jurídicos, em que já estão sendo relativizados, conforme pesquisas o número de infanticídios vem sendo abolido nessas tribos indígenas, principalmente com a aproximação com a cultura brasileira, mas, ainda é aceita e defendida por antropólogos e por membros da FUNAI nas aldeias mais remotas. Com o posicionamento do supracitado antropólogo e com o apoio de ONGs que se acham “defensores” dos índios e com o auxilio de órgãos como a FUNAI, FUNASA, MPF, o caso gerou uma perseguição contra a atuação dos membros do JOCUM, sendo recomendado pela Procuradoria da República do Estado do Amazonas que a FUNAI promovesse a imediata retirada de pessoas que não fossem membros dos Suruwahas. Conquanto, o posicionamento adotado pela Procuradoria vem sendo contrário ou pelo menos diferenciado pelo adotado em nosso Parlamento. O deputado Henrique Afonso (PT/AC) apresentou um projeto de lei que criminalizaria o infanticídio contra povos indígenas, condenando “homens brancos” que não intervissem nesses casos, classificando os atos como omissivos e condenado o chamado “relativismo cultural” como inconstitucional, por ferir o direito à vida, que é um dos Direitos Fundamentais expressos no CF/88. No entanto, o trato com esses direitos é recente, com não mais de quatrocentos anos. Na história da humanidade esse lapso temporal é insignificativo, e demonstra a novidade do assunto. O mais interessante, é que essas fases coincidem com a história das sociedades ocidentais, de origem europeia, sem qualquer menção às experiências asiáticas, africanas, indígenas, indianas etc. Isso nos introduz à segunda afirmação sobre os direitos humanos, de que é uma formulação da cultura ocidental, eurocêntrica. O professor indiano R.C. Pandeya, da Universidade de Delhi, ressalta a surpresa com que os seus compatriotas encaram a perspectiva ocidental dos direitos humanos. Para um hindu, não existem direito só pelo fato de ser humano, pois os direitos devem ser conquistados e são resultados de obrigações. Concedem-sedireitos a um hindu é porque existem obrigações para esse hindu. Se há uma carta de direitos humanos, deve haver uma carta de obrigações para os seres humanos. [5: Fragmento de texto disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=6374][6: Fragmento de texto disponível: http://www.ilhacap.com.br/edicao_janeiro12/Capa-Hakani-jan11.html][7: Fragmento de texto disponível: http://www.senado.gov.br/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf]
O caso Hakani envolve o debate entre multiculturalismo e a universalização dos Direitos Humanos, que em suma, seriam as seguintes: O multiculturalismo estaria ligado às diversas formas de costumes de diferentes povos, onde, cada um seguiria as suas próprias tradições, já os direitos humanos estariam ligados aos povos que por meio de um “tratado” feito entre eles mesmo ficariam obrigados a aderir a determinadas tradições, sendo que, essas normas seriam universais entre os seus entes. Como sabemos o direito à vida é um direito inviolável em nosso ordenamento jurídico, mas é uma pratica muito comum em algumas aldeias, como é o caso dos Suruwahas, baseados nesses fundamentos antropólogos ainda legitimam esse crime, no entanto, a FUNAI deveria ouvir a índia Débora Tan Haure, representante de 165 etnias da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, conforme o discurso de que a “cultura dos Índios não é estável nem é violência corrigir o que é ruim. Violência é continuar permitindo que crianças sejam mortas” . Porém, a FUNAI estaria preocupada em preservar os costumes indígenas e a tolerar o infanticídio, deixando centenas de crianças brasileiras serem executadas, defendendo essa barbaridade como uma “pratica cultural repleta de significados”, desse modo, estaria condenando um índio isolado a viver isolado e não conseguir viver na civilização, desrespeitando os direitos que lhes são garantidos. A seleção que era realizada com o extermínio de crianças indígenas vem diminuindo, à medida que as tribos vão se aculturando, porém, persiste em aldeias mais remotas, sendo tratadas como pratica cultural e apoiado por “sociopatas regressivos”, que esquecem que Índios são pessoas dotadas de capacidades e segurados pelo principio da dignidade da pessoa humana, conforme entendimento kantiniano que “não devemos tratar ninguém como um meio, sempre com um próprio fim em si mesmo” , portanto, reafirmando na possibilidade da construção de uma teoria dos direitos humanos de caráter universal e uniforme, não sendo consideradas algumas praticas cultural como fundamento contra a máxima do nosso ordenamento, que é a vida. A adoção de Hakani foi um processo lento, que só foi oficializado quando a menina já estava com 10 anos de idade, pelo Juizado da Infância de Manaus, a menina foi alfabetizada em casa por sua mãe, por recomendação de um psicólogo a menina não deveria ser matriculada enquanto não estivesse apta a enfrentar outras crianças, assim que conseguiu a autorização do psicólogo a Menina sorriso ingressou na segunda série do ensino fundamental. Desse modo, e com o sucesso no caso supracitado o JOCUM se tornou uma campanha internacional contra o infanticídio nas tribos indígenas, assegurando que as mesmas também tem o direito fundamental à vida, garantido em nossa constituição e assegurando que os indiozinhos também seriam protegidos como prioridades, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e acordos internacionais das quais o Brasil faça parte. [8: Fragmento: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_247090.shtml][9: Fragmento de texto disponível em: http://jus.com.br/artigos/7069/a-dignidade-da-pessoa-humana-no-pensamento-de-kant]
 3. DECISÃO/PARECER
O caso supracitado não resta dúvidas que deveria seguir os princípios constitucionais, entre eles o da dignidade da pessoa humana e o direito a vida, respeitando principalmente os direitos das crianças e adolescentes. O crime de infanticídio, art. 122, CP, criminaliza as condutas da mãe no estado puerperal, sendo imposta a mesma uma punição diferenciada pelo crime de homicídio, como supracitado, os índios devem e são tratados como brasileiros, principalmente quando estão inseridos nos meios urbanos ou que mantenham alguma forma de contato. O caso Hakani não esta contra os costumes dos Suruwahas, nem contra o direito brasileiro, embora ocorram clara oposição e discussão referente ao caso, não sobram dúvidas que o direito a vida é muito mais relevante que o simples fato de preservar costumes que já estão sendo relativizados pelas próprias comunidades, como é o caso, que em diversas vezes deixaram que membros incapacitados recebessem ajuda médica de “homens brancos”. Portanto, o direito a vida deveria se antecipar dos costumes, garantindo assim, um tratamento adequado a menina, mesmo com a posição contrária de órgãos que se dizem defensores dos povos, o fato de intervirmos nessas comunidades como é no caso não prejudicaria a sua tradição, pois, a própria tribo autorizou o seu tratamento, porém, os antropólogos que dificultaram a situação querendo desrespeitar o nosso ordenamento, deixando um crime de homicídio passar impune. No nosso entendimento, tal conduta dos antropólogos violariam direitos constitucionais garantidos a todos os seres humanos.

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