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A Teoria Humanista e a Escola de Summerhill

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A Teoria Humanista e a Escola de Summerhill - Joana Valente
A.N.: “Não sabemos quanta capacidade de criação é morta nas salas de aula”
Introdução
O dom mais importante que a natureza nos concedeu é a adaptabilidade, a capacidade para aprender novas formas de comportamento que nos permitem enfrentar as circunstâncias sempre mutantes da vida. Assim, a aprendizagem é uma mudança relativamente permanente do comportamento de um organismo animal ou humano, provocado pela experiência.
A noção de aprendizagem surge quando se aborda a dinâmica do comportamento, quando se procura ter em consideração os tipos de reação relativamente ao meio, sendo que o desenvolvimento de um dado tipo de reação pode surgir por causa de uma mudança no meio ou na percepção do sujeito que introduzir uma modificação no meio.
A aprendizagem pode definir se como o processo de construção e assimilação de uma nova resposta, ou seja um processo de adequação do comportamento, seja no meio, seja ao projeto perseguido por cada interessado. O termo aprendizagem designa toda a espécie de aquisições, de modo que o ensino se refere a toda a espécie de procedimento que visa mudar um tipo de reação.
Sucintamente podem-se classificar os modelos pedagógicos em três tipos: pedagogia relacional, pedagogia diretiva, e pedagogia não diretiva. Subjacentes a estes três modelos encontram-se três tipos de epistemologia que lhe dão sustento, respectivamente: construtivismo, empirismo e apriorismo.
- Relacional: a base da aprendizagem centra-se na interação aluno-professor .Neste modelo a epistemologia subjacente é denominada de construtivista por relacionar aprendizagem à construção de conhecimento, tarefa compartilhada entre professor e aluno.
- Diretiva: o aluno tem um papel pouco ativo. A epistemologia é empirista por atribuir aos sentidos, e às experiências mediadas por eles, a fonte de todo o conhecimento. A aprendizagem baseia-se na apreensão de verdades e não na sua construção.
- Não-Diretiva: o professor é um auxiliar do aluno, um facilitador. O aluno é visto como independente no seu processo de aprendizagem. O professor deve interferir o mínimo possível, o professor não ensina, o aluno é que aprende. O aluno tem um papel muito mais ativo. É o detentor de um conhecimento e/ou de habilidades à priori que determinam a sua aprendizagem. A epistemologia é a apriorista, pois concebe o indivíduo como dotado de um saber à nascença. Nele, é importante a aprendizagem humanista de Carl Rogers.
O seu modelo de aprendizagem interpessoal incentiva o desenvolvimento de relações humanas calorosas entre o professor e o aluno. A veiculação de afeto e de uma empatia por parte do professor criara um clima de sala de aula quente e facilitador, sendo mais benéfico para os alunos, pois a qualidade da interação humana é essencial para a criação de um melhor ambiente de aprendizagem.
Segundo Rogers, o educador deve concentrar a sua atenção na criação de condições que promovam a aprendizagem experiencial, dando ênfase a experiência e ao sentimento em vez do pensamento. 
Desenvolvimento da Teoria Humanista (Carl Rogers)
Humanismo: conjunto de teorias das grandes eruditas do renascimento que ressuscitaram a cultura antiga e cuja inspiração se baseava na liberdade de espírito e no interesse pelo humano, na busca da verdade humana, no conhecimento do homem atuante da sua vontade de realização, do seu destino, libertando-se de toda a opressão espiritual ou política.
Em confronto com as ideias comportamentalistas (aprender = aquisição de mecanismos estímulo-reação), Rogers é considerado um representante da corrente humanista, não-diretiva, na educação. Embora considere a existência de um processo cognitivo na aprendizagem, condena a aprendizagem cognitiva como é habitualmente praticada, que concebe a aprendizagem como meta pré-estabelecida, dado acabado, ao qual se espera que o aluno adapte e conforme.
Rogers, ao propor um modelo de apropriação pessoal do conhecimento, apropria a corrente humanista à educação, considerando que a pessoa em formação encontra-se revestida por afetos afetivos bem como por aspectos cognitivos.
Esta revolução paradigmática Rogeriana propõe centrar a relação de ajuda no aluno, nas capacidades do organismo para a autoaprendizagem, na relação e no projeto.
Para que a relação de ajuda se torne possível, é necessária a presença de certo número de condições, quer na pessoa que pede ajuda, quer na que se oferece para ajudar. São três as condições necessárias e suficientes para a promoção da aprendizagem: empatia, aceitação incondicional positiva, e congruência ou genuinidade. A empatia permite-nos comunicar aos nossos alunos que realmente compreendemos as emoções que estão a experienciar e permite-nos “ler” com acuidade os seus sentimentos; A aceitação incondicional positiva permite acetar-se os alunos por aquilo que são sem os julgar, trata-se de uma aceitação incondicional que não qualquer tipo de negociação; A congruência significa ser-se verdadeiro e honesto, não fingindo qualquer tipo de sentimento e emoção.
Há também os princípios de aprendizagem: os seres humanos têm natural potencialidade para aprender; a aprendizagem significativa verifica-se quando o estudante percebe que a matéria que está a estudar se relaciona com os seus próprios objetivos; a aprendizagem que envolve mudança na organização de cada um, na percepção de si mesmo, é ameaçadora e tende a suscitar reações; as aprendizagens que ameaçam o próprio ser são mais facilmente percebidas e assimiladas quando as ameaças externas se reduzem a um mínimo; quando é fraca a ameaça ao “eu”, pode-se perceber a experiência sob formas diversas - e a aprendizagem pode ser levada a efeito; é por meio de atos que se adquirem aprendizagens mais significativas; a aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsavelmente do seu processo; a aprendizagem autoiniciada que envolve toda a pessoa do aprendiz é a mais duradoura e impregnável; a independência, a criatividade e a autoconfiança são facilitadas quando a autocrítica, a autoapreciação básica e a avaliação feita por outros tem uma importância secundária; a aprendizagem socialmente mais útil no mundo moderno, é a do próprio processo de aprendizagem, uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo do processo de mudança.
Em suma, os princípios básicos de ensino e aprendizagem são para Rogers: confiança nas potencialidades humanas, pertinência do assunto a ser apendido ou ensinado, aprendizagem participativa, autoavaliação e autocrítica e aprendizagem da própria aprendizagem.
Os efeitos desta abordagem, quando utilizada por um facilitador que possua as atitudes enfatizadas por Rogers, podem ser extremamente importantes no processo de libertação dos indivíduos, sendo estas técnicas um instrumento de importante consciencialização e de transformação individual e social.
Este modelo de ensino preocupa-se com a interação humana. Os climas de sala de aula não apoiantes, críticos e negativos têm consequências psicológicas e fisiológicas adversas nos alunos, inclusive o autoconceito do aluno diminuído, as atitudes negativas face ao professor aumentadas, e o rendimento académico do aluno diminui.
Principais Ideias subjacentes a escola de Summerhill
A escola de Summerhill foi fundada em 1921 por A. S. Neill e a sua esposa, que tiveram como ideia principal de adaptar a escola à criança, e não a criança à escola, para que as crianças tivessem a liberdade de serem elas próprias.
Os objetivos de Summerhill consistiam, e ainda hoje consistem, em a) fornecer liberdade à criança para que esta possa crescer emocionalmente, b) dar poder a criança para que esta consiga viver a sua própria vida, c) dar tempo a criança para que ela se possa desenvolver naturalmente e d) possibilitar à criança uma infância mais feliz retirando medos e pressão por parte dos adultos, isto tudo com a finalidade de criar um pensador autónomo. 
Para isso foi preciso renunciar toda a disciplina, direção, sugestão, avaliação, moral ereligião, como também a obrigação da criança comparecer nas aulas. A filosofia de Summerhill emerge de um paradigma de liberdade e sendo uma maneira de neutralizar as imposições do sistema burocrático neoliberal inglês.
É “a democracia de crianças mais antiga do mundo”. Existem cerca de 200 regras que governam a escola de Summerhill e que foram criadas pelos alunos, professores e auxiliares numa das reuniões semanais. O voto de uma criança de cinco anos tem o mesmo peso de um voto de um jovem de 17, ou mesmo do reitor, se a sua ideia for bem justificada e apoiada. “Tudo o que é preciso, é a fé na criança”.
Para Neill, sucesso não significa necessariamente fazer uma carreira como médico, mas sim “ter a habilidade de trabalhar com prazer e viver a vida de uma maneira feliz” pois “todas as guerras e todos os crimes podem ser reduzidos à infelicidade de quem as fez”, por isso o seu maior interesse consta em ensinar a criança a ser feliz e a conhecer-se a si mesma.
Princípios humanistas no modelo educativo da escola de Summerhill
A Teoria Humanista surge como corrente alicerçada na liberdade de espírito e no interesse pelo humano, seguindo o ideal de que embora exista um processo cognitivo na aprendizagem, esta deverá centrar-se na relação de ajuda no aluno, nas capacidades de organismo para a autoaprendizagem, na relação e no projeto.
Segundo esta teoria, o indivíduo deverá ter liberdade para guiar o seu processo de aprendizagem, de maneira a que este melhor lhe assente. A escola de Summerhill surge assim, como uma instituição educativa, cujo modelo pedagógico aplica muitas das diretivas regentes da teoria humanista.
Em suma, é dada à criança liberdade e autonomia, não lhe impondo a assistência às aulas, seguindo assim uma das diretivas humanistas: confiar nas potencialidades humanas.
Nesta instituição são também tidas em conta a pertinência dos assuntos, a aprendizagem participativa, a autoavaliação e a autocrítica, outros dos princípios humanistas, ou seja, aqui é adoptada a escolha livre dos assuntos e do material de aprendizagem, bem como a profundidade da mesma, são realizadas assembleias semanais onde todos têm opinião a dar, realizadas atividades coletivas, e a avaliação desempenha um papel secundário, sendo de principal importância o autoconhecimento por partes das crianças.
Princípios da Teoria Humanista / Aplicação prática – Summerhill: 
Confiança nas Potencialidades Humanas / Não existe imposição de assistir às aulas; É dada toda a liberdade a criança; Fé na criança e nas suas potencialidades; Promover a autonomia para um crescimento autodidata.
Pertinência dos Assuntos / Escolha livre dos assuntos e do material de aprendizagem; É dada a opção pelo grau de profundidade da aprendizagem.
 Aprendizagem participativa / Assembleias semanais onde todos têm opinião a dar; São realizadas atividades conectivas promovendo a interação e aprendizagem.
 Autoavaliação e Autocrítica / A avaliação tem um carácter secundário; Aprender a conhecerem-se a si mesmos num processo de construção pessoal.
Conclusão
Embora o próprio A.S. Neill afirme não se ter baseado em nenhuma teoria, são notórias as similaridades entre os seus princípios e os preconizados pela Teoria Humanista de Carl Rogers.
Podemos constatar que a Summerhill emerge dos preceitos de liberdade da criança ser ela mesma, sem qualquer direção ou imposição do adulto, sendo autoconstrutora do processo de aprendizagem , crescendo e conhecendo-se como pessoa. Porém para alguns autores, Neill foi demasiadamente permissivo, concordando porém que a felicidade deve ser um dos objetivos da educação.
O projeto de Neill, promovendo a mistura de nacionalidades, sexo, idades e grupos étnicos, é uma mais valia ,porém a ausência de aspectos negativos como o bullying e outros podem não ser totalmente favoráveis ao desenvolvimento e construção do indivíduo enquanto pessoa.
Os efeitos desta abordagem podem ser de fundamental importância no processo de libertação dos indivíduos, e as suas técnicas constituírem um valioso instrumento de consciencialização e de transformação individual e social.

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