Buscar

18 02 25 - ROTEIRO 001 - INTRODUÇÃO

Prévia do material em texto

UNIP – DIREITO CIVIL – BIODIREITO – ROTEIRO 001 – 1.º SEM-2018
		Prof. Luiz Henrique Beltramini
B I O É T I C A - VISÃO PREAMBULAR:
Consiste árduo desafio tentar traçar a história da bioética, sendo muito complexo identificar um único e exclusivo acontecimento específico e certo que pudesse, aqui, ser apontado como sustentáculo de sua fundação. Tal como ocorre com quase que a totalidade dos fenômenos sociais e correntes de pensamentos, o surgimento e desenvolvimento da Bioética está ligado a inúmeros fatores multidisciplinares. Alguns estudiosos resumem tal situação sustentando que, a bioética, decorre de fenômenos culturais, oriundo, em sua maior parte, de desdobramentos irradiados de uma dupla revolução: SOCIAL e BIOTECNOLÓGICA.
 
ORIGEM DO TERMO
O termo "bioética" surgiu em meados de 1970, via de num artigo do médico oncologista norte americano VAN RENSSELAER POTTER�, sob o titulo: "Bioethics: the Science of Survival"�. Em 1971, o termo também foi consagrado em outra obra: “BIOETHICS: BRIDGE TO THE FUTURE”�. Tal expressão foi retomada, em 1972, na conferência da Academia de Ciências de Nova York, versando sobre a RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS CIENTISTAS. 
Preocupado com o desenvolvimento exponencial do conhecimento científico (especialmente na biologia) e com o atraso das reflexões necessárias para sua utilização, Van Rensselaer Potter, há quase 50 anos, alertava sobre a necessidade premente de uma nova ciência (uma ciência da sobrevivência), a ser edificada com aliança entre o saber biológico (bio) e os valores humanos (ética). 
Para Potter, as novas gerações (já àquela época) apresentavam preocupações em criar mecanismos hábeis que pudessem harmonizar a sobrevivência do homem em sintonia com a proteção e valorização da dignidade humana. Apontava que, ao longo de parte substancial da história humana, não raras vezes, tratou-se de forma distinta e distante duas importantes fontes culturais edificantes para a conduta humana:, a CULTURA CIENTÍFICA e a CULTURA CLÁSSICA (as humanidades). 
Tanto a cultura científica como a cultura clássica (humanidades), durante séculos, foram desenvolvidas acreditando que eram campos que não interagiam e nem tinha pontos de contatos, portanto, deveriam ser tratadas de forma separada e dentro de suas respectivas especificidades. Tal linha equivocada de ver e tratar o assunto, muitas vezes foi responsável por afastar o homem do próprio homem, em sua porção mais essencial: o mútuo e recíproco respeito a dignidade humana.
Segundo Potter, imperava a necessidade de estabelecer-se aliança entre a cultura científica e a clássica (bio-ética), sustentado que, o verdadeiro valor e utilidade da inteligência e do saber acumulado ao longo dos séculos (com maior ênfase após o final do século XIX e ao longo do século XX), residia na reunião, equalização e valorização, cada vez mais crescente, da interação possibilitada pela aliança cultural entre as ciências e a essência humana e, assim, edificar-se uma insubstituível ordem de sabedoria, tão importante que, efetivamente, representasse uma ponte mais digna e positiva rumo ao um futuro cada vez mais justo (“Bridge to the future”). 
Neste sentido, Potter reivindicava para a bioética um vasto e multidisciplinar campo de aplicação, que englobava, entre outras áreas e facetas de interesse, assuntos complexos, tal como:
- 	o controle da população, 
- 	a paz, 
- 	a pobreza, 
- 	a ecologia, 
- 	a vida animal, 
- 	o bem-estar da humanidade, 
- 	a sobrevivência da espécie humana e a do planeta como um todo. 
Em suma, o campo de interesse da Bioética representa uma nova e complexa disciplina, um empreendimento interdisciplinar além da perspectiva interindividual. Levando o debate ao plano da responsabilidade social, exigindo abordagem sistêmica e até cibernética. 
Em outro artigo (publicado em 1987 e 1988)-, Potter, retomou seu discurso para inseri-lo em um contexto de ideias mais atuais, sem, contudo, abandonar o objetivo inicial de uma ética global para a sobrevivência do ser humano e do planeta. Apesar da amplitude do foco original, infelizmente, rapidamente o tema acabou sendo reduzido e limitado por outros autores, os quais acabaram por fazer com que o termo bioética parecesse ter sintonia apenas e exclusivamente com questões levantadas pelo desenvolvimento das ciências biológicas e sua aplicação na medicina (o que, hoje, não é aceito de forma tão pacífica). 
Segundo WARREN REICH, fundador do KENNEDY INSTITUTE OF ETHICS, foi André Hellegers, quem primeiro utilizou o termo Bioética, emprestando-lhe um sentido mais restrito ao que lhe é atribuído agora. Foi Hellegers quem lançou a bioética como campo de estudo universitário e como movimento social, em um tempo em que os estudos interdisciplinares não eram encorajados e a ética não era nem um pouco popular. Hellegers julgava o termo particularmente significativo para expressar a idéia de renovação que ele visava para a ética biomédica. 
Quando de sua fundação (1971), o centro KENNEDY INSTITUTE OF ETHICS era chamado THE JOSEPN AND RASE KENNEDY INSTITUTE FOR THE STUDY OF HUMAN REPRODUCTION AND BIOETHICS, sendo que uma de suas três seções tinha o nome de CENTER FOR BIOETHICS. Essa redução, lamentada por Potter, não atingia a pertinência da ética ambiental e da ética animal, que estariam ligadas a outros ramos da ética. 
Assim que foi criada, a palavra teve sucesso, prova evidente de algumas necessidades, como: 
- 	de questionamento diante de problemas novos, 
- 	de questionamento novo ante problemas antigos que se colocavam de maneira nova e inédita. 
ANTECEDENTES
Apesar da novidade do termo e da disciplina, nem tudo é novo nesse setor. Durante 1955/1960 o mundo da saúde e da pesquisa biomédica tornou-se teatro de uma profunda reflexão ética, proveniente, no entanto, de uma longa tradição multiforme. 
Desde os tempos mais antigos homens e mulheres interrogam-se sobre o comportamento a ser mantido e as decisões a serem tomadas diante da saúde, da doença, da dor física e/ou psíquica, do sofrimento, da morte. Existem rituais, códigos, tratados eruditos duas vezes milenares sobre o assunto. Em suma, uma longa tradição. 
A bioética moderna não é senão, por assim dizer, uma nova etapa de reflexão mais que milenar. Entretanto, assim como a prática da medicina foi profundamente modificada pelos desenvolvimentos científicos e tecnológicos e pela evolução da sociedade e de sua economia, a ética também teve de estender o seu campo de reflexão e de intervenção e abordar problemas que ninguém poderia ter previsto.
 
A bioética é, portanto, um amálgama do antigo e do novo. Os trabalhos mais recentes sobre o assunto tendem, aliás, a privilegiar o que é novo. De certa forma, tal realidade pode ocultar erros, ou seja, AQUELES QUE IGNORAM A HISTÓRIA PRIVAM-SE DA SABEDORIA DAS GERAÇÕES PASSADAS E SE CONDENAM, pois acabam desconhecendo a origem profunda das atitudes culturais diante da saúde, da doença, do sofrimento e da morte. Ora, essas atitudes têm uma influência às vezes muito sutil sobre o debate e sobre o tratamento dessas diversas questões bioéticas. 
Tal discurso vai ao encontro de um eixo maior do pensamento do filósofo francês Paul Ricceur. A reflexão ética, até mesmo filosófica, articula-se em torno da articulação tradição-inovação: fidelidade ao passado e audácia da criação. 
Por um lado, a tradição não é um depósito morto e imutável, mas um recurso inesgotável cuja riqueza só se revela de acordo com a capacidade de recepção e de reinterpretação das pessoas de hoje. Por outro lado, ninguém cria nada; a liberdade humana ainda é uma liberdade regulada pela retomada do que nos foi transmitido.
 
Tais citações autorizam identificar três correntes de reflexão ética que precederam a bioética:
- 	a ética médica e de enfermagem; 
- 	a ética filosófica; 
- 	a ética teológica. 
ÉTICA MÉDICA E DE ENFERMAGEM
No Ocidente, o nome mais conhecido na ética médicaé incontestavelmente o de HIPÓCRATES, médico grego do século V a.C. Ele é considerado o autor do famoso juramento que leva seu nome e de numerosos tratados sobre a prática médica�. Além do preâmbulo e da conclusão, que têm uma conotação religiosa (invocação dos deuses, prece), o juramento� contém duas partes, a saber:
A .-)	ENGAJAMENTO CORPORATIVO, isto é, o engajamento formal mediante o qual o estudante de medicina reconhece seus DEVERES em relação a seus mestres e a OBRIGAÇÃO de transmitir com discernimento o conhecimento médico adquirido; 
B.-)	CÓDIGO DE ÉTICA PROPRIAMENTE DITO que, por um lado, prescreve que se TRABALHE EM FAVOR DOS PACIENTES e se EVITE TODO MAL E TODA INJUSTIÇA e, por outro, PROÍBE a ADMINISTRAÇÃO DE VENENOS, a PRÁTICA DO ABORTO, as RELAÇÕES SEXUAIS COM PACIENTES e a DIVULGAÇÃO DE DETALHES SOBRE A VIDA PRIVADA DOS PACIENTES.
 
Constituindo na origem uma espécie de CÓDIGO DEONTOLÓGICO ou de ideal a ser atingido por parte de um médico ou de um grupo de médicos, o Juramento só veio a adquirir autoridade muito mais tarde, ou seja:
- 	quando o pensamento cristão o integrou, 
- 	quando o ensino da medicina se estruturou academicamente:
-	Salermo: meados do ano 750; 
-	Bologna: meados do ano 1123; 
-	Oxford: meados do ano 1167; 
-	Paris: meados do ano 1215. 
- 	quando a lei regulamentou a prática médica:
-	Código dos Visigodos: séc. VI; 
-	sessões plenárias da corte dos Bourgeois: séc. XII; 
-	Lei do Reino das Duas Sicílias: meados de 1240. 
- 	quando a profissão médica se organizou como corporação. 
Apesar da antiguidade dos cuidados dispensados aos doentes, sob todas as formas, desde a dedicação familiar e o voluntariado religioso até a organização complexa de conventos e as ações das autoridades civis em favor da saúde pública, a profissão de ENFERMEIRA demorou a ser organizar. A primeira escola de enfermagem foi fundada em Londres no século XIX por FLORENCE NIGHTINGALE. Ela foi rapidamente imitada em vários lugares do mundo. 
Influenciadas inicialmente por sua ética pessoal (frequentemente religiosa), as enfermeiras foram gradualmente levadas a refletir sobre as exigências particulares de sua prática profissional e a retirar dela uma ética ou uma deontologia específica. Um resumo foi preparado e popularizado desde o final do século XIX sob o título The Nightingale Pledge. Esse juramento foi escrito em 1893 por um comitê presidido pela senhora LYSTRA E. GRETTER. 
Tal juramento foi usado pela primeira vez no mesmo ano de 1893, pelas formandas do curso de enfermagem da Farrand Training School, atualmente HOSPITAL HARPER, de DETROIT, MICHIGAN. 
O conteúdo do juramento reservado às enfermeiras pode ser dividido em duas partes: 
A.-)	 COMPROMISSO de se DEDICAR ao bem-estar do doente, de não lhe fazer mal, de respeitar sua privacidade; 
B.-)	 COMPROMISSO de PROTEGER o padrão da profissão e de AJUDAR o médico em sua tarefa. 
Esses juramentos várias vezes modificados ao longo das épocas, e professados ainda hoje por médicos e enfermeiras no início de sua prática profissional, constituem a BASE DA ÉTICA MÉDICA E DA ENFERMAGEM. Esta, evidentemente, conhece desenvolvimentos substanciais nos códigos de deontologia e nos tratados de ética profissional. 
A ÉTICA FILOSÓFICA
O interesse da filosofia pelas questões éticas da prática médica e da enfermagem remonta muito longe no tempo. 
Muitos autores gostam de lembrar a contribuição de ARISTÓTELES, filósofo grego do século IV a.C. cuja visão ética, orientada para a obtenção da felicidade, é estruturada em torno das virtudes e particularmente da virtude da prudência, que preside a reflexão e a tomada de decisão adequadas. Contudo, essa concepção prática da ética foi esquecida durante muitos séculos. 
No Ocidente, a ética filosófica, aliás, ficou muito tempo sob a dominação da religião cristã. 
Quando, na época moderna, a filosofia adquiriu sua autonomia e a ética sua importância, os filósofos se interessaram menos pela prática, até mesmo pela prática clínica, que pelas teorias éticas e pela análise de conceitos fundamentais, assuntos considerados mais nobres e interessantes. 
Na primeira metade do século XX, sustentou STEPHEN TOULMIN que, a reflexão filosófica nos países anglo-saxões tinha se tornado tão abstrata e geral, atribuía tanta importância à análise dos conceitos, que os filósofos tinham acabado por perder todo o contato com as questões concretas que surgiam na prática, médica ou outra. 
O interesse dos filósofos pela prática é recente; ele se manifestou nos ESTADOS UNIDOS antes que na Europa, especialmente sob os temas de ÉTICA APLICADA e de MORAL DE SITUAÇÃO. 
Todas as teorias éticas elaboradas ao longo das épocas tiveram repercussões sobre a reflexão em ética médica e da enfermagem. 
Cabe ser lembrado IMMANUEL KANT, (alemão – séc. XVIII) que teve influência considerável na filosofia moral e que alguns acabaram por usá-la abundantemente na edificação e justificativa da bioética em razão de sua concepção dos deveres e obrigações. 
São de particular valor, também, entre outras:
-	a principal tese da CORRENTE UTILITARISTA, que enuncia que a moralidade de uma ação consiste inteiramente em sua utilidade ou em suas consequências. 
- 	a CORRENTE PERSONALISTA, que põe a pessoa no centro de suas preocupações, e 
- 	a FILOSOFIA DOS VALORES, que estrutura a ética sobre os valores. 
ÉTICA RELIGIOSA
Enquanto a ética filosófica se baseia unicamente no trabalho da razão, a ética religiosa (JUDAICA, CRISTÃ, MUÇULMANA) põe o trabalho da razão a serviço da interpretação da Palavra divina e do respeito a ela. Não que seus princípios e regras (seus preceitos) sempre divirjam dos da ética filosófica, mas a problemática e a atitude distinguem-se profundamente. A BÍBLIA, que está na origem dessas três religiões, é tido como responsável por fixar o seu espírito. 
Segundo a visão e os ensinamentos emanados da BIBLÍA, tudo no mundo, inclusive a saúde, a doença, a morte, está nas mãos de Deus. A oração e a confiança em Deus, tanto entre pacientes como entre aqueles que tratam, são elementos importantes do tratamento dispensado aos doentes, mas a contribuição das pessoas que tratam também é essencial. Eis por que seus conhecimentos, suas competências e sua dedicação são necessários. Dos médicos e das outras pessoas que tratam espera-se que pratiquem sua arte para o bem de outrem: eles têm uma missão profundamente religiosa.
 
Embora haja aspectos diferentes entre as religiões, e ainda que haja correntes variadas em cada uma delas, a ética religiosa em seu conjunto se interessou tanto pelas questões teóricas como pelas práticas. 
O interesse pela prática até mesmo deu nascimento, ao menos na Igreja católica, a toda uma abordagem centrada na análise de caso: a CASUÍSTICA. Essa abordagem se desenvolveu sobretudo para auxiliar padres que deviam determinar, nas confissões, se esta ou aquela ação era boa ou má. 
Pouco a pouco, como médicos e pacientes procuravam conselhos para determinar a moralidade de diversos atos médicos, a casuística desempenhou um papel crucial na elaboração da ética médica católica. De qualquer modo, essa moral era frequentemente reduzida a uma aplicação de receitas fornecidas por outros, no quadro geral de um sistema de pensamento fechado. 
Mais recentemente, a MORAL DE SITUAÇÃO manifesta entre os teólogos cristãos outro esforço de se considerar a diversidade das situações e das convicções por oposição aos princípios mais ou menos considerados imutáveis. 
O desenvolvimento da CASUÍSTICA e da MORAL DE SITUAÇÃO sempre enfrentou a desconfiança das autoridades católicas e de certos teólogos que lembravam constantemente os grandes princípios morais que deviam ser respeitados em todas as situações. 
No horizonte que lhes era próprio, pensadores (teólogos, pastores, rabinos) elaboraram uma ética própria para a medicina e para os tratamentos dos doentes. 
O PAPA PIO XII, preocupadocom os problemas de sua época, deu um impulso extraordinário à ética médica e da enfermagem de inspiração cristã ao reunir especialistas religiosos e científicos para ajudá-lo a preparar respostas a questões que lhe eram dirigidas em todo o mundo, prefigurando assim certos comitês ou comissões de bioética. 
Na primeira metade do século XX, a maior parte dos autores e docentes de ética médica eram teólogos, pastores ou rabinos. Podemos destacar cinco nomes que já pertencem à geração bioética: os teólogos protestantes Ioseph Fletcher e Paul Ramsey e os teólogos católicos Richard McCormick, Bernard Hãring e Patrick Verspieren. 
DEVE-SE EVITAR CONFUNDIR, a ética religiosa com a doutrina oficial de uma religião ou com as declarações das autoridades; correntes de opinião frequentemente mais ricas, abertas, prospectivas se desenvolvem inspirando-se na mesma tradição.
 
Ética médica e da enfermagem, ética filosófica, ética religiosa: a herança é pois rica, a paisagem multiforme. Mas antes essas três correntes exerciam sua ação de maneira independente, sem comunicação com o exterior. Foi o que a revolução sociocultural e tecnocientífica veio transformar. 
� Van Rensselaer Potter: bioquímico norte americano, nascido em 27/08/1911, na Dakota do Sul, falecido em 06/09/2001, aos 90 anos. Foi professor de oncologia na Universidade de Wisconsin – Madison, durante mais de 50 anos.
� Bioética, a Ciência da Sobrevivência.
� Bioética: Ponte para o Futuro
� Deve ser destacado que, tanto a origem como o autor, a influência do juramento de Hipócrates são muito controversos entre alguns historiadores. O “Corpus Hippocratus” é, ele próprio, um conjunto de livros repletos de contradições, compostos verossimilmente por autores diferentes e em diferentes e variadas épocas.
� Juramento de Hipócrates: "Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:  Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.  Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.  A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.  Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.  Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."
� PAGE �1�

Continue navegando