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FONÉTICA E FONOLOGIA Página 2 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA EXPEDIENTE Uníntese | Uníntese Virtual Pedro Stieler Diretor Maria Bernardete Bechler Vice-Diretora Carmem Regina dos Santos Ferreira Gestora de Marketing Roberto de Oliveira Gestor Administrativo Wiltom Dourado Gestor Acadêmico Maria Bernardete Bechler Texto Aline Madrid Flávia Burdzinski de Souza Designers Educacionais FONÉTICA E FONOLOGIA - 2016 - Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE Página 3 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA II FONÉTICA E FONOLOGIA Maria Bernardete Bechler 1 2.1- A Relação entre Fonética e Fonologia Antes de tratarmos das áreas da Fonética e da Fonologia na Língua Brasileira de Sinais, consideramos importante uma abordagem sobre como esses aspectos da linguagem humana se realizam nas línguas orais. A Fonética e a Fonologia se dedicam a estudar os sons da fala. Sempre que a fala for usada para a comunicação através do uso de uma língua oral, falantes e ouvintes necessitam requisitos físicos essenciais para que esse processo realmente se concretize: o funcionamento adequado do cérebro, dos pulmões, da laringe, do ouvido e de outros órgãos que se estruturam para possibilitar a produção e a percepção dos sons da fala. Mesmo contando com todos os órgãos físicos em perfeito estado, esse processo de comunicação somente se efetivará se ambos conhecerem a língua que estiver sendo usada no processo da fala. Para a compreensão da língua, é fundamental que os sons emitidos através da fala estejam organizados em uma estrutura linguística, expressa através de palavras, frases, que possibilitem um sentido, permitindo que o ouvinte possa entendê-las e interpretá-las. 1.Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e Processos Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Atualmente é professora visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de projetos. Página 4 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Veremos que esses aspectos serão estudados por duas áreas da ciência, uma que descreve os sons da fala no processo de comunicação: a FONÉTICA, e a outra ciência que estuda a relação de cada um dos sons emitidos, as combinações que irão originar as palavras, as frases, permitindo que a fala seja compreendida, que é o campo da FONOLOGIA. Assim sendo, cabe à Fonética descrever os aspectos fisiológicos, acústicos e perceptuais (ouvidos) dos sons da fala. Cabe à Fonologia estudar os sons, estabelecendo as distinções, diferenças de significado entre as palavras, bem como a relação e a organização dos sons nos sistemas combinatórios que estruturam as palavras. A seguir estaremos apresentando algumas informações sobre a Fonética e a Fonologia em nas línguas orais. 2.1.1 Sobre a Fonética das Línguas Orais A Fonética é a área da linguística que estuda os sons da fala humana e fornece instrumentos para a sua descrição, classificação e transcrição. Vimos anteriormente que sempre que um falante transmitir uma mensagem oral para um ouvinte e for por ele compreendido, se efetiva um processo de comunicação que envolve a Fonética e a Fonologia. Os sons pronunciados pelos falantes e descritos pela Fonética são chamados de “fones”: fones são as unidades de som que constituem uma palavra. Por exemplo, na palavra “bota” (b-o-t-a) temos quatro sons que constituem as unidades mínimas em que se pode segmentar numa sequência sonora. Essa separação só pode ocorrer linearmente, um som após o outro, pois não podemos emitir os sons ao mesmo tempo. Além de ser possível segmentar, também é possível trocar um som por outro, formando outra palavra, no caso de “bota”, por exemplo, podemos formar “rota” ou “cota” somente substituindo o primeiro fone. No estudo da Fonética, alguns sinais são convencionais, por isso vamos apresentá-los para melhorar o entendimento deste estudo: quando transcrevemos foneticamente, os fones são colocados entre colchetes [ ]. Por exemplo, a transcrição fonética da palavra “bota” é *‘bo.ta]. Note que há uma aspa simples colocada antes de uma sílaba ou da primeira sílaba, sinal que marca que a sílaba é acentuada. O ponto final entre as sílabas marca a separação silábica. Página 5 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Para descrever os sons da fala, a Fonética se utiliza do Alfabeto Fonético Internacional (AFI)2, criado em 1886, sendo, desde então, muito utilizado por linguistas, fonoaudiólogos, professores, estudantes e por todas as pessoas interessadas em saber a pronúncia de uma palavra em qualquer idioma. Em muitos dicionários de língua estrangeira podemos encontrar ao lado da palavra em português, a sua transcrição fonética, visando auxiliar na pronúncia da palavra. As descrições dos sons poderão ser realizadas nas dimensões da Fonética Articulatória, da Fonética Auditiva e da Fonética Acústica. A Fonética Articulatória estuda a estrutura biológica, fisiológica, anatômica, que permite a articulação dos sons, a produção da mensagem. Leva em conta o que acontece no aparelho fonador durante a produção dos sons. Na dimensão da Fonética Auditiva ou perceptiva são realizados estudos sobre os mecanismos de percepção do ouvinte, como os sons são decodificados pela nossa mente, o nosso cérebro. Nessa dimensão são analisadas as variações linguísticas, os falares característicos de cada região e a capacidade que os ouvintes têm de distinguir os sons, bem como de identificar as diferenças entre os sons falados nas regiões ou grupos, em relação ao padrão linguístico de um povo. A dimensão da Fonética Acústica estuda as características físicas como a amplitude, a duração e frequência do som que é emitido na realização da fala através das ondas sonoras, que são produzidas quando o ar passa pelo aparelho fonador. A partir da invenção do fonógrafo, aparelho criado por Thomas Edison, os pesquisadores da Fonética puderam efetuar gravações de sons para análise acústica, contribuindo para significativos estudos e descobertas, incluindo a possibilidade de identificar características do falante que emitiu determinados sons. Resumidamente, podemos dizer que para a produção dos sons da fala, o ser humano necessita a corrente de ar que sai dos pulmões, a contração dos pulmões que produz o percurso do ar e faz vibrar as pregas vocais. Esse ar quando sai, passa pelas cordas vocais excitando o trato vocal, que funciona como uma caixa de ressonância, amplificando as frequências do trato vocal, gerando os sons que ouvimos. Abaixo, a gravura demonstra a passagem do ar pelas pregas (cordas) vocais gerando o som: 2 O Alfabeto Fonético Internacional está disponível em http://www.fonologia.org/arquivos/tb_ipa_chart.pdf Página 6 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Corrente de Ar3 O Aparelho Fonador humano é formado pelos pulmões, os brônquios, a traqueia (que constituem os órgãos respiratórios), pela laringe ( que é o local onde estão as pregas vocais ou "cordas vocais" que produzem a sonoridade e a vibração dos sons); e pelo trato vocal - formado pela faringe, boca (lábios, dentes, alvéolos, palato, véu palatino, língua e úvula) e cavidade nasal (compostapelas fossas nasais e parte superior da laringe). Aparelho Fonador4 2.2- A Fonologia No início desta unidade vimos que a fonética estuda os sons da fala nas dimensões articulatória, auditiva e acústica - ou os gestos corporais, na 3 Disponível em: http://www.thomazaquino.med.br/leitura_do.php?id=40 4 Disponível em: http://www.ocorpohumano.com.br/img/respiratorio_anato.jpg Página 7 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA modalidade das línguas visoespaciais. Assim, vimos que a Fonética se propõe a descrever todos os sons ou gestos das línguas humanas de uma forma autônoma, fora de um sistema de relações com os outros sons, como por exemplo, os sons [p], [b], [d] [K] são apenas sons da fala, existentes nas línguas orais, analisados isoladamente. A unidade mínima da Fonética é o “fone”, o som da fala. Diferentemente da Fonética, a Fonologia se preocupa em saber como esses sons funcionam no sistema da língua, as relações que eles estabelecem entre si, as diferenciações e as combinações que originam os morfemas, sílabas, palavras, frases. O som da língua para ser considerado um fonema, tem que ter algum valor no sistema linguístico. Segundo Saussure (1995), um som tem valor linguístico se ele tiver o poder de modificar o significado de um signo, de uma palavra. Vamos observar o exemplo nos signos: bota e cota – os sons [b] e [k] são distintivos porque mudam o significado, assim também em bala e vala, os sons /b/ e /v/ são distintivos, mudam o significado da palavra. Quando somente um som muda o significado de uma palavra, como nos exemplos: bota e cota, bala e vala, constituem o que chamamos de pares mínimos. Esse som que tem valor distintivo se chama Fonema. Existem situações em que uma palavra é pronunciada de forma diferente, conforme o meio cultural e geográfico do falante, por exemplo: bassoura e vassoura- temos dois sons diferentes /b/ e /v, porém não são considerados fonemas diferentes porque eles não alteram o significado da palavra, representam apenas uma variação linguística. Não têm valor distintivo. Retomando: “o fonema é a menor unidade linguística que distingue significados” (VIOTTI, 2008, p.53). É a menor unidade linguística que muda o sentido de um signo, que é formado por um significante e um significado. Observemos agora as palavras “tia” e “dia”. O /t/ e o /d/ são fonemas porque mudam o significado das palavras. Se estivermos no Rio de Janeiro, a palavra tia será pronunciada como tchia e dia como djia, porém, mesmo com pronúncia diferente, a comunicação não será prejudicada, porque o significado de cada palavra não foi alterado, são modos diferentes de realização dos fonemas /t/ da palavra tia e /d/ da palavra dia. A Fonética e a Fonologia são ciências interdependentes, pois qualquer estudo fonológico parte da análise fonética ou acústica, para depois analisar as unidades distintivas da língua que são os fonemas. 2.2.1 A Fonologia das Línguas de Sinais Página 8 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA As línguas de sinais não usam sons. Então, a área da Linguística, que estuda a Fonética e a Fonologia, não se aplica às línguas de sinais? Vamos explicar um pouco sobre essa questão para que fique bem claro para todos, uma vez que a Fonética e a Fonologia foram criadas a partir dos estudos das línguas orais. Como explicar a Fonética e a Fonologia das línguas de sinais? Vamos lembrar que o signo linguístico é formado por significante e significado, unidades inseparáveis. O significante é uma representação mental acústica (na modalidade oral) ou ótica (na modalidade das línguas de sinais). Essa representação mental acústica existe no pensamento, não se concretiza na fala. No início dos estudos linguísticos das línguas de sinais, William Stokoe - o criador da linguística da língua de sinais- chamou o estudo dos significantes dos sinais de quirologia, que é uma palavra de origem grega, formada a partir da raiz “quir”, que significa mão. Porém, este nome não foi bem aceito, caiu em desuso, e, tanto surdos quanto ouvintes passaram a usar os termos da Fonética e da Fonologia para tratar dos significantes das línguas de sinais. Vimos, então, que tanto a Fonética quanto a Fonologia nas línguas orais estudam os sons da fala e, nas línguas de sinais, os estudos da Fonética e da Fonologia, segundo Quadros & Karnopp abrangem a descrição espaço-visual: A fonética descreve as propriedades físicas, articulatórias e perceptíveis de configuração e orientação de mão, movimento, locação, expressão corporal e facial. [...] A primeira tarefa da fonologia para as línguas de sinais é determinar as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações permitidas/possíveis no ambiente fonológico (2004, p. 81-82). Nas línguas orais, cujo processo de comunicação é oral-auditivo, a Fonética descreve os sons da fala; nas línguas de sinais, por serem gestual-visual, a comunicação acontece através dos movimentos, gestos e expressões faciais que são percebidos pela visão. Assim sendo, a Fonética estuda as unidades mínimas, os aspectos físicos dos sinais, dos gestos corporais, independentemente do valor que assumem no funcionamento da língua. Página 9 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Produção e Expressão / Português5 Português recepção6 Produção e Expressão / LIBRAS7 Recepção /LIBRAS 8 5 Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de- sinais-libras-aspectos-lingusticos-10-638.jpg?cb=1391144185 6 Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de- sinais-libras-aspectos-lingusticos-11-638.jpg?cb=1391144185 7 Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de- sinais-libras-aspectos-lingusticos-12-638.jpg?cb=1391144185 8 Fonte: http://pt.slideshare.net/andreconeglian/libras-aspectos-linguisticos-30661546 Página 10 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Anteriormente, vimos que a linearidade é característica, uma propriedades do signo linguístico. Convém lembrar que a linearidade nas línguas orais assim se manifesta: na hora da fala, os sons são pronunciados um após o outro, não sendo pronunciados dois sons ao mesmo tempo; na hora da escrita de uma palavra escrevemos uma letra após a outra, assim também nas frases, nos textos, sempre uma palavra após a outra, nunca duas ao mesmo templo, simultaneamente. A linearidade pressupõe um som articulado de cada vez e, na escrita, uma letra após a outra, uma palavra após a outra, formando frases ou textos. Nas línguas orais não há simultaneidade No início dos estudos linguísticos das línguas de sinais, Stokoe (apud Quadros & Karnopp, 2007, p. 48), percebeu que a diferença fundamental entre línguas de sinais e línguas orais, está na simultaneidade de organização dos elementos das línguas de sinais. Na época, a característica fundamental das línguas orais estava na linearidade e nas línguas de sinais a principal característica estava na simultaneidade. Segundo Stokoe (apud Quadros & Karnopp, 2007, p. 48) a diferença fundamental entre línguas de sinais e línguas orais, está na simultaneidade de organização dos elementos das línguas de sinais. Primeiramente, foi Stokoe quem indicou a estrutura para análise da formação e da decomposição dos sinais da ASL - American Sign Language em três parâmetros, os quais, assim como os fonemas das línguas orais, não têm significado isoladamente. Os parâmetros são os seguintes: a) Configuraçãode Mãos (CM) b) Locação de Mãos (L) (ou ponto de articulação) c) Movimento da mão (M) O esquema abaixo, apresentado por Hultst (apud Quadros & Karnopp, 2004, p.49) procura demonstrar as características da linearidade na Língua Portuguesa e da simultaneidade na Língua de Sinais. Na Língua Portuguesa percebemos a sucessão temporal na estrutura da organização dos fonemas na composição do morfema, linearmente. Na Língua de Sinais percebemos a simultaneidade, com a estrutura vertical da organização dos elementos fonológicos que compõem o sinal. Página 11 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Produção, Expressão e Recepção 9 Estudos posteriores realizados a partir do trabalho de Stokoe apresentam avanços nos estudos fonológicos das línguas de sinais, constatando a presença da linearidade também nas línguas de sinais e a adição de outros parâmetros que foram adicionados à Fonologia das línguas de sinais. Segundo Viotti (2008, p.50), a fonética-fonologia das línguas de sinais apresentam as características de linearidade e simultaneidade. A linearidade se apresenta quando, na realização de um sinal, há sequência de suspensões e movimentos. As suspensões ocorrem quando os sinais são realizados com as mãos, ou parte delas, paradas. Os movimentos ocorrem quando os sinais são realizados com as mãos em movimento. Vamos demonstrar a linearidade na língua de sinais com um modelo de usado por Viotti no sinal EXEMPLO. Nesse sinal, a mão, posicionada à frente do queixo, faz um pequeno movimento até contactar o queixo. Esse contacto corresponde a uma suspensão. A seguir, a mão se afasta até a posição inicial, repete o movimento e faz o contacto com o queixo novamente. Por isso podemos dizer que o sinal EXEMPLO constitui-se de quatro segmentos: um movimento, uma suspensão, outro movimento e outra suspensão (VIOTTI, 2008, p. 50). A Fonologia da Língua de Sinais Brasileira estuda os traços distintivos, as unidades mínimas que formam os sinais. As unidades mínimas que formam os sinais são constituídas pelos seguintes parâmetros: a) Configuração de mão, b) Locação (ponto de articulação) c) Movimento, d) Orientação da mão 9 Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de- sinais-libras-aspectos-lingusticos-16-638.jpg?cb=1391144185 Página 12 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA e) Aspectos não-manuais. As mãos são os principais articuladores das línguas de sinais. Os movimentos das mãos se realizam no espaço em frete ao corpo em determinados pontos de articulação. Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. Um mesmo sinal pode ser articulado tanto com a mão direita quanto com esquerda; tal mudança, portanto, não é distintiva. Sinais articulados com uma mão são produzidos pela mão dominante (tipicamente a direita para destros e esquerda para canhotos), sendo que sinais articulados com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em relação ao tipo de interação com as mãos.(Quadros & Karnopp 2004,p.51) Os movimentos da face, expressão do olhar e movimentos do corpo também têm funções linguísticas. A produção de um sinal pode ser realizada com uma só mão, e quando ocorre é realizada pela mão dominante. Um sinal pode ser realizado pela mão direita ou esquerda. A seguir serão descritos parâmetros, ou unidades distintivas, da Língua Brasileira de Sinais, segundo Quadros & Karnopp (2004, p.51-64), que assim os define: locação, movimento, configuração de mão, orientação da mão e expressões não-manuais. 2.2.2 Parâmetros ou Unidades Distintivas da Língua de Sinais Brasileira Configuração de Mão (CM) Movimento (M) Locação (L) Orientação da Mão (OM) Expressões Não-Manuais (ENM) Nas línguas de sinais os parâmetros fonológicos (configurações de mão, as locações e os movimentos) têm caráter distintivo. O que isso quer dizer? Nas línguas orais, muitas palavras, quando comparadas entre si, diferem no significante e no significado apenas por um fone, um som diferente entre elas, exemplo pata e bata. Esse fone é uma unidade distintiva. Os sinais da LIBRAS, assim como as palavras do português, se estruturam a partir de unidades mínimas Página 13 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA espaciais, respectivamente. Podemos exemplificar com os sinais distintos APRENDER e SÁBADO. Os significados distintos entre os sinais acontecem pelo fato de que em APRENDER o sinal é articulado na testa e em SÁBADO o sinal é articulado na boca do usuário da LIBRAS. Isto é, há uma característica espacial distinta nos sinais, o ponto de articulação, que os distingue. Quando o significado de um sinal é alterado somente por um dos parâmetros, chamamos de pares mínimos. A seguir, apresentaremos os exemplos disponíveis em Quadros & Karnopp (2004, p. 52): Pares Mínimos na LIBRAS10 Configuração de Mãos (CM) Ponto inicial para realização de um sinal. Para Lucinda Ferreira (2010, p. 36) entende-se por configuração de mãos as diferentes formas que a(s) mão(s) assume(m) na articulação de um sinal. 10 Fonte: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade4/unidade4_arquivos/imagem4.jpg Página 14 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA A configuração é um elemento distintivo, podendo mudar o significado do sinal. Movimento (M) O movimento, como o próprio nome diz, dá dinamismo para a língua. É uma habilidade fundamental para a realização da comunicação na língua de sinais. O movimento é um parâmetro importantíssimo na produção do sinal. Normalmente indica uma variação da raiz, da base, mudando o significado do sinal, porém sempre relacionado ao sinal de origem, distinguindo nomes, verbos, tempos verbais. Página 15 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Para a realização do movimento é necessário o objeto e o espaço (Quadros e Karnopp, 2004, p. 54). O objeto refere-se à mão, enquanto que o espaço refere-se à área em torno do corpo da pessoa que realiza o sinal. Segundo Ferreira Brito (apud Quadros e Karnopp, 2004, p.56) os movimentos referem-se ao: • Tipo (movimentos retos, curvos, sinuosos, circulares e em várias direções, de interação, dobramento de pulso, curvamento, interno de mãos...) • Direcionalidade (para cima, baixo, direita, esquerda, dentro, fora,...) • Maneira (qualidade, tensão, velocidade) • Frequência (repetição) O movimento é um parâmetro que pode variar, seguindo as regras da língua, sabendo-se que a variação resulta em significado diferente. Mudanças no movimento podem “distinguir itens lexicais, como por exemplo, nomes de verbos”, direcionalidade e tempos do verbo (Quadros e Karnopp, 2004, p.55). Movimento11 11 Fonte: Quadros & Karnopp (2004, p. 55). Página 16 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Tipos de Movimentos12 a)Movimento Retilíneo b) Movimento Helicoidal c) Movimento Sinuoso d) Movimento Circular 12Fonte: http://pt.slideshare.net/janinhaF/libras-16843549 Página 17 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA e) Movimento Semicircular Locação (L) ou Ponto de Articulação A locação é um dos principais parâmetros na realização do sinal. É a área que contém todos os pontos de articulação dos sinais. Compreende um número limitado de locações que são: tronco, cabeça, mão e espaço neutro e subespaços como o nariz, boca, olho, etc. Locação13 A realização de alguns sinais necessita de movimento,indo de um ponto de locação para outro. Ainda assim o sinal somente terá um ponto de locação. Ferreira Brito e Langevin (1995) (apud Quadros e Karnopp, 2004, p. 58) detalham os pontos de articulação apresentados no quadro: 13 Fonte: Quadros & Karnopp , 2004, p.57 Página 18 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA CABEÇA topo da cabeça, testa, rosto, parte superior do rosto, parte inferior do rosto, orelha, olhos, nariz, boca, bochechas, queixo TRONCO Pescoço, ombro, busto, estômago, cintura, braços, braço/ antebraço, cotovelo MÃOS palmas, costas das mãos, lado do indicador, lado do dedo mínimo, dedos, ponta dos dedos, dedo mínimo, anelar, dedo médio, indicador, polegar ESPAÇO NEUTRO É o espaço à frente do corpo da pessoa que sinaliza (sinalizador). Vejamos o sinal: Significado do sinal: casa, morar. Para realizar este sinal, não tocamos nenhuma parte do corpo. Assim dizemos que esse sinal é realizado no espaço neutro. Orientação de Mão (OR)14 Entende-se por orientação a direção para a qual a palma da mão aponta na realização do sinal: para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a direita, para a esquerda. 14 Fonte: Quadros & Karnopp, 2004,p.59-60 Página 19 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA Expressões Não-Manuais15 As expressões não-manuais são unidades mínimas que se realizam com o movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 60), as expressões não-manuais têm duas importantes funções nas línguas de sinais: • Marcação de construções sintáticas – marcam frases interrogativas, sim- não interrogativas, orações relativas; • Diferenciações de itens lexicais - marcam referência específica, referência pronominal, partículas negativas, grau do espectro. a) Exemplos de expressões não-manuais (ENM) b) Gestos bucais são realizados concomitantemente com um sinal, podendo ser uma marca icônica do significado representado pelo sinal. Exemplos: 15Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732013000200005 Página 20 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA c) Imagem visual da palavra através de uma articulação da boca relacionada a palavra que está sendo pronunciada. EXPRESSÕES NÃO-MANUAIS NA LIBRAS (Ferreira Brito e Langevin, 1995) ROSTO CABEÇA ROSTO E CABEÇA TRONCO Parte superior: Sobrancelhas franzidas/olhos arregalados/ lance de olhos / sobrancelhas levantadas. Parte inferior Bochechas infladas/bochechas contraídas/ Lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas / Correr de língua na parte inferior interna da bochecha Apenas bochecha direita inflada Contração do lábio superior Franzir de nariz balanceamento para frente e para trás (sim) balanceamento para os lados (não) inclinação para frente inclinação para o lado inclinação para trás Cabeça projetada para frente, Olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas. Cabeça projetada para trás e olhos arregalados. para frente para trás balanceamento alternado dos ombros balanceamento simultâneo dos ombros balanceamento de um único ombro Página 21 de 21 FONÉTICA E FONOLOGIA 2.3 Restrições na Formação de Sinais Segundo Quadros e Karnopp, (2004, p.79), restrições físicas e linguísticas explicitam possíveis combinações entre as unidades mínimas (CM,M e L) na formação dos sinais. As restrições na formação dos sinais são oriundas do sistema de percepção visual e do sistema articulatório – fisiologia das mãos. Há duas restrições fonológicas para a boa formação dos sinais envolvendo as duas mãos: a condição de simetria e a condição de dominância. Condição de simetria: determinadas restrições aparecem caso as duas mãos se movam na produção de um sinal: A CM deve ser a mesma para asa duas mãos, a Locação deve ser a mesma ou simétrica, e o movimento deve ser o mesmo ou alternado. Condição de simetria16 Condição de dominância: se as mãos apresentam distintas CM, então a mão ativa produz o movimento, e a mão passiva serve de apoio, apresentando um conjunto de CM (não-marcados). Condição de dominância17 16 Fonte: Quadros & Karnopp,2004,p.79 17 Fonte: Quadros & Karnopp,2004,p.79
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