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Humanismo.ppt

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	A história do Humanismo
		A Idade Média está chegando ao fim. Aquela sociedade dominada por uma visão teocêntrica, pela religiosidade e pelo misticismo está se modificando em todo o Ocidente.
		A imprensa diminui as distâncias culturais. O canhão, a bordo da caravela, confere maior segurança às longas viagens para o extremo Oriente.
		O homem, sem por isso deixar de se relacionar com o sobrenatural, toma consciência de seu valor. Coloca-se no centro do mundo. O antropocentrismo transborda nas conquistas, nas artes e nos textos.
		O Humanismo recupera o legado grego: “o homem é a medida de todas as coisas”.
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		Tais mudanças atingem Portugal na proporção em que homens ligados à Península Ibérica – Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio, Fernão de Magalhães e Pedro Álvares Cabral – fazem de Portugal um pólo colonizador e comercial das novas terras e rotas por eles descobertas.
		Tudo isso enriquece os novos donos do poder – reis e comerciantes – e lhes permite um luxo impensável nos tempos feudais. Com o desenvolvimento das cidades paralelamente aos feudos, mudam os costumes e a mentalidade.
		
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		Sendo protegidos pela nobreza, cronistas, poetas, teatrólogos e prosadores passam a ser agregados à corte. Formam, assim, o que alguns historiadores chamam de Escola Palaciana.
		Criam uma literatura para o uso dos nobres, ficando desligada do Trovadorismo anterior, que continua sendo praticado nas tabernas. 	Surgem textos mais aprimorados, fruto de escritores versados em latim clássico em escolas e universidades ainda em fase inicial.
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	As características do Humanismo
	Antropocentrismo: o homem percebe que somente através do trabalho poderá conseguir uma vida melhor. Isso não quer dizer que Deus deixou de ter um poder sobre as pessoas, mas o homem começa a se dar o valor, a ser menos dependente das vontades divinas.
	Dissociação poesia / música: a poesia, que até então era indissociável da música, começa a ter vida própria.
	Surgimento da burguesia: surge uma nova classe social: a burguesia. Vinda do povo, a burguesia representa a classe dos comerciantes, daqueles que colocavam seus bens a favor do comércio (podendo ter lucros – quase sempre – ou prejuízos).
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As classes sociais
			Trovadorismo		Humanismo
			Nobreza		Nobreza
			Clero			Clero
			Povo			Burguesia
						Povo
		Durante o Humanismo, surgiu uma nova classe social, a burguesia, que era composta por comerciantes oriundos do povo. Sua importância em fins do século XV foi tão grande que o próprio Cristóvão Colombo só conseguiu as caravelas para descobrir as Américas porque foi financiado pela burguesia.
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Na literatura humanista
	Prosa – A prosa humanista tem em Fernão Lopes seu principal representante. É por causa do cronista-mor do Império português que conhecemos atualmente grande parte das histórias daquele povo. Foi o primeiro a registrar por escrito a história daquela que seria coroada rainha depois de morta.
	Poesia – Se no Trovadorismo a poesia e a música eram indissociáveis, no Humanismo cada uma das artes ganhou vida própria, caminhos próprios. Aqui, temos o nome de Garcia de Resende como seu maior representante. Esteve sempre ligado à Escola Palaciana (reunião da “inteligentia” real da época).
	Teatro – Foi no teatro que o Humanismo se destacou como período literário. O grande nome humanista foi Gil Vicente, seguidor do ridendo corrigit mores (rindo corrigem-se os costumes). Sem nunca ter se esquecido de sua origem, buscava abrir os olhos do povo com a única arma que tinha para que este percebesse a exploração da qual era vítima. 
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Fernão Lopes
	Cronista de D. João I, guarda-mor das escrituras da Torre do Tombo, é a figura mais importante da literatura portuguesa medieval humanista de meados do século XV. 	A sua importância reside no cuidado em fundamentar a escrita historiográfica em provas documentais, assim como no talento de que dá provas como escritor, descrevendo com minúcia e vivacidade as movimentações de massas (sobretudo durante as sublevações de apoio ao Mestre de Aviz, em Lisboa) e algumas cenas dos eventos que registra, incluindo diálogos, o que consegue não só com remissões a testemunhos fidedignos mas também com uma capacidade de manejar a linguagem que coloca a imaginação a serviço da verdade.
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Tempos difíceis
	São tempos difíceis estes os que vivemos nesta era de 1456. Nas taracenas da Ribeira das Naus, carpinteiros, calafates, petintais e remolares aparelham navios. Navios que tantas vezes servem de esquife aos que se aventuram oceano adentro. Diz-se agora que el-rei vai enviar uma armada para castigar o turco que ameaça a cristandade e outra para derrotar o mouro que nos cerca em Ceuta.
	Nas ruas de Lisboa são muitas as mulheres e as crianças de negro, viúvas e órfãos dos que nos mares se perdem, tragados pelas ondas ou assaltados pelos corsários. A cidade fede a incenso e ao olor das velas com que padres escanzelados esconjuram a ameaça de peste. Há muita mercadoria à venda, mas ao preço a que nos chega quem a pode comprar?
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	Tempos de fartura para os senhores e de escassez para vilões e pobres. Todos se queixam, desde os mercadores despojados pelos piratas, aos tendeiros e vendedores a quem as mercadorias chegam pela hora da morte. E as sisas e rendas a pagar ao erário levam, dizem eles, o pouco que lhes fica. Queixam-se os pescadores e as regateiras da Ribeira, os cortadores e os esfoladores de carne, as ensaboadeiras de roupa, os mestres de calçar ruas, os fendedores de lenha, os homens e as moças de soldada.
	Tempos difíceis, acho eu. Porém, meu avô diz-me que difíceis, difíceis foram os seus tempos, quando ele tinha os dezasseis anos que agora eu tenho. Diz também que, nós os moços, não sabemos o que são dificuldades, que tudo é fácil para nós comparado com as agruras da sua juventude. E pergunta-me (quase sempre que me vê, mas como se fosse a primeira vez). Sabes tu, rapaz, o que é um almogárave?
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	Não sei eu outra coisa, mas ele não me deixa responder: - Fica sabendo, que um almogárave é um homem que entra em correrias na retaguarda das hostes inimigas. Pilha, destrói, mata e desaparece como uma nuvem em céu de Agosto. Eu sou um almogárave (diz «eu sou», não «eu fui», como devia, pois fala de coisas passadas há mais de cinquenta anos, antes de que fizéssemos a primeira paz com Castela.) E acrescenta: mas que sabes tu e teu pai, calígrafos que sois, o que são estas coisas de armas?
	Tempos difíceis, os de hoje? Não, bofé! E se está na rua, cospe depreciativamente. Porém, quando fala do «seu tempo» o olhar ilumina-se-lhe e a voz cresce de vigor e emoção. Porque, diz ele, apesar de muito mais difíceis, os seus tempos eram mais belos, o céu era mais azul, o sol era mais quente, o odor do mar mais salgado e penetrante, os frutos mais saborosos, as moças mais formosas (ainda que muito mais recatadas)... Tudo era mais difícil, mas tudo era melhor. Difícil é compreender os anciãos, digo eu.
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Garcia de Resende
	Garcia de Resende nasceu em Évora, provavelmente em 1470, onde morreu em 1536. 
	Contemporâneo de Gil Vicente, Garcia de Resende desenvolveu na corte o seu talento de escritor e de artista, como poeta, músico, desenhador e cronista, granjeando, ainda em vida, uma aura de homem culto e ilustre.
	Era de origem  nobre, o que lhe facilitou o acesso à corte de D. João II, em 1490, primeiro como moço de câmara, depois como moço de escrivaninha (secretário particular), conservando o posto até à morte do monarca, em 1495. 
	Durante o reinado de D. Manuel, continuou a desempenhar funções na corte. Sabe-se que acompanhou o monarca em 1498, no encontro que este teve com os reis de Espanha. Fez parte da embaixada enviada ao papa Leão X em 1514. 
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	Foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo em 1515, e, no ano seguinte, escrivão da Fazenda do
príncipe D. João. Dois anos depois, recebeu o título de fidalgo da casa do rei. Foi também escrivão da fazenda do príncipe herdeiro, futuro D. João III. 
	Foi um dos poetas que animaram a vida cultural da corte, conhecendo-se dele vários poemas, sendo o mais conhecido as
Trovas à Morte de D. Inês de Castro, tema que viria
a ter grande sucesso na literatura portuguesa. 
	Em 1516, seguindo o exemplo que vinha de Espanha, recolheu muitos dos poemas que haviam sido produzidos no ambiente palaciano por numerosos poetas, ao longo de dezenas de anos num Cancioneiro Geral.
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	A obra reúne cerca de mil poemas, a maioria de temática amorosa ou satírica, escritos por quase 300 poetas. Vários deles estão escritos em castelhano, o que era natural na época, dado o prestígio da literatura espanhola na época e o bilinguismo da corte portuguesa. 
	A partir de 1530, para ultimar os seus escritos, retirou-se para as suas propriedades no Alentejo, onde faleceu em 1536.
A capela tumular de Garcia de Resende, por ele mandada construir, ergue-se na cerca do Convento de Nossa Senhora do Espinheiro, próximo de Évora. 
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Gil Vicente
	Pouco se sabe sobre a vida de Gil Vicente. Pensa-se que terá nascido por volta de 1465, em Guimarães ou algures na Beira. Duas vezes casado, teve cinco filhos, dos quais os mais conhecidos são Paula Vicente (que deixou fama de uma mulher invulgarmente culta) e Luís Vicente (que organizou a 1ª. compilação das obras de seu pai).
	No início do século XVI, estaria na corte, participando dos torneios poéticos que Garcia de Resende documentou no seu Cancioneiro Geral.
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	Em documentos da época, há referência a um Gil Vicente, ourives, a quem é atribuída a famosa Custódia de Belém (1506), obra-prima da ourivesaria portuguesa do século XVI e a um Gil Vicente que foi "mestre da balança" da Casa da Moeda. Alguns autores defendem que o dramaturgo, o ourives e o mestre de balança seriam a mesma pessoa mas, até hoje, não foi possível provar isso de forma incontestável, embora a identificação do dramaturgo com o ourives seja mais credível, dada a abundância de termos técnicos de ourivesaria nos seus autos.
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		Ao longo de mais de três décadas, o nosso Gil Vicente foi um dos principais animadores dos serões da corte, escrevendo, encenando e até representando mais de quarenta autos.
		O primeiro, o Monólogo do Vaqueiro (chamado Auto da Visitação), data de 1502 e foi escrito e representado pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha, para comemorar o nascimento do príncipe D. João, que seria o futuro D. João III. O último, Floresta de Enganos, foi escrito em 1536, ano que se presume seja o da sua morte.
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		O Auto da Sibila Cassandra, escrito em 1513, introduz os deuses pagãos na intriga e, por isso, é considerado por alguns como o marco inicial do Renascimento em Portugal.
		Alguns dos autos foram impressos em vida do autor, sob a forma de folhetos - literatura de cordel -, mas a primeira edição do conjunto das suas obras só foi feita em 1562, tendo sido organizada por seu filho Luís Vicente. Dessa primeira compilação não constam três dos autos escritos por Gil Vicente, provavelmente por terem sido proibidos pela Inquisição. Aliás, o Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos) de 1551 incluía já sete das obras de Gil Vicente.
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 		É considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. De fato, a estrutura das suas peças e muitos dos temas tratados são desenvolvimentos do teatro medieval.
		No entanto, alguns dos aspectos críticos apontam já para uma concepção humanista. Em muitos dos seus autos, defende concepções e valores tipicamente medievais, no aspecto religioso, por exemplo, mas outras vezes assume posições críticas muito próximas daquelas que eram defendidas pelos humanistas europeus.
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 		Em 1531, em carta ao rei, defendeu firmemente os cristãos-novos a quem era atribuída a responsabilidade pelo terremoto de Santarém. Também no Auto da Índia apresenta uma visão antiépica da expansão ultramarina, pondo em evidência as motivações materialistas de muitos dos seus agentes.
		Não é fácil estabelecer uma classificação das peças escritas por Gil Vicente. Ele próprio dividiu-as em três grupos: obras de devoção, farsas e comédias. Na sua compilação, Luís Vicente acrescentou-lhe um quarto gênero, a tragicomédia. Estudiosos recentes preferem considerar os seguintes tipos: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, alegorias de temas profanos. No entanto, é preciso ter em conta que, por vezes, na mesma peça, encontramos elementos característicos de vários desses tipos.
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	Herdeiro, embora, do teatro medieval, Gil Vicente vai muito além daquilo que, antes dele, se fazia em Portugal. Revela um gênio dramático invulgar, capaz de procurar e encontrar soluções técnicas à medida das necessidades. Nesse sentido, Gil Vicente pode ser encarado como o verdadeiro criador do teatro nacional português.
	Por outro lado, a dimensão e a riqueza da sua obra constituem um retrato vivo da sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XVI, onde estão presentes todas as classes sociais, com os seus traços específicos e os seus vícios, bem como muitos dos problemas que preocupavam os homens do seu tempo.
	Também no aspecto linguístico, o valor documental da sua obra é inestimável. Constitui seguramente a melhor fonte de informação de que dispomos sobre os falares do início do século XVI, época em que fez parte da escola palaciana.
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As peças de teatro vicentinas
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As peças de teatro vicentinas
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O Auto da Barca do Inferno
	O primeiro a embarcar é um Fidalgo, que chega acompanhado de um Pajem, que leva a calda da roupa do Fidalgo e também uma cadeira, para seu encosto.
	O Diabo mal viu o Fidalgo e já lhe falou para entrar em sua barca, pois ele iria levar mais almas e mostrar que era bom navegante. Antes disso, o companheiro do Diabo, começou a preparar a barca para que as almas dos que viessem, pudessem entrar. 
	Quando tudo estava pronto, o Fidalgo dirigiu a palavra ao Diabo, perguntando para onde aquela barca iria. O Diabo respondeu que iria para o Inferno, então o Fidalgo resolveu ser sarcástico e falou que as roupas do Diabo pareciam de uma mulher e que sua barca era horrível. O Diabo não gostou da provocação e disse que aquela barca com certeza era ideal para ele, devido a sua impertinência.
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	O Fidalgo, espantado, diz ao Diabo que tem quem reze por ele, mas acaba recebendo a notícia de que seu pai também havia embarcado rumo ao Inferno. Assim, tenta achar outra barca, que não siga ao Inferno, então resolve dirigir-se a barca do céu. Ele resolve perguntar ao Anjo, aonde sua barca iria e se ele poderia embarcar nela, mas é impedido de entrar, devido a sua tirania, pois o Anjo disse que aquela barca era muito pequena para ele, não teria espaço para o seu mau caráter. 
	O Diabo começa a fazer propaganda de sua barca, dizendo que ela era a ideal, a melhor. Assim, O Fidalgo desconsolado, resolve embarcar na barca para o Inferno. Mas antes, o Fidalgo queria tornar a ver sua amada, pois ele disse que ela se mataria por ele, mas o Diabo falou que a mulher na qual ele tanto ama, estava apenas enganando- o, que tudo que ela lhe escrevia era mentira.
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	 E assim, o Diabo insistia cada vez mais para que o Fidalgo esquecesse sua mulher e que embarcasse logo, pois ainda viria mais gente. 
	O Diabo manda o Pajem, que estava junto com o Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora. Logo a seguir, veio um agiota que questionou ao Diabo, para onde ele iria conduzir aquela barca. 
	Querendo conduzi-lo a sua barca, o Diabo perguntou por que ele tinha demorado tanto, e o Agiota afirmou que havia sido devido ao dinheiro que ele queria ganhar, mas que foi por causa dele que ele havia morrido e que não sobrou nem um pouco para pagar ao barqueiro.
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	O Agiota não quis entrar na barca do Diabo, então resolveu dirigir-se
à barca do céu. Chegando até a barca divina, ele pergunta ao Anjo se ele poderia embarcar, mas o Anjo afirmou que por ele, o Agiota não entraria em sua barca, por ter roubado muito e por ser ganancioso. Então, negada a sua entrada na barca divina, o Agiota acaba entrando na barca do Inferno. 
	Mais uma alma se aproximou, desta vez era um Parvo, um homem tolo que perguntou se aquela barca era a barca dos tolos. O Diabo afirmou que era a barca dos tolos e que ele deveria entrar, mas o Parvo ficou reclamando que morreu na hora errada e o Diabo perguntou do que ele havia morrido, e o Parvo sendo muito sutil respondeu que havia sido de caganeira. 
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	O Parvo ao saber aonde aquela barca iria, começou a insultar o Diabo e foi tentar embarcar na barca divina.
	O Anjo falou que se ele quisesse, poderia entrar, pois ele não havia feito nada de mal em sua vida, mas disse para esperar para ver se tinha mais alguém que merecia entrar na barca divina.
	Vem um sapateiro com seu avental, carregando algumas fôrmas e chegando ao batel do inferno, chama o Diabo. Ele fica espantado com a maneira na qual o sapateiro vem carregado, cheio de pecados e de suas fôrmas.
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	O sapateiro tenta enrolar o Diabo, dizendo que ali ele não entraria pois ele sempre se confessava, mas o Diabo joga toda a verdade na sua cara e o manda entrar logo em sua barca. O sapateiro tenta lhe dizer todas as feitorias que havia feito, na tentativa de conseguir entrar no batel do céu, mas o Anjo lhe diz que a "carga" que ele trazia não entraria em sua barca e que o batel do Inferno era perfeito para ele.
	Vendo que não conseguiu o que queria, o sapateiro se dirige à barca do Inferno e ordena que ela saia logo.
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	Chegou um Frade, junto de uma moça, carregando em uma mão um pequeno escudo e uma espada, na outra mão, um capacete debaixo do capuz. Começou a cantarolar uma música e a dançar. Ele falou ao Diabo que era da corte, mas o próprio perguntou-lhe como ele sabia dançar o tordião, já que era da corte.
	O Diabo perguntou se a moça que ele trazia era dele e se no convento não censuravam tal tipo de coisa. O Frade por sua vez diz que todo no convento são tão pecadores como ele e aproveitou para perguntar para onde aquela barca iria.
	Ao saber para onde iria, ficou inconformado e tenta entender porque ele teria que ir ao Inferno e não ao céu, já que era um frade. O Diabo lhe responde que foi devido ao seu comportamento durante a vida, por ter tido várias mulheres e por ter sido muito aventureiro. Assim, o Frade desafia o Diabo, mas este não faz nada e apenas observa o que o Frade faz.
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	O Frade resolve puxar a moça para irem ao batel do Céu, mas lá se encontram com o Parvo, que pergunta se ele havia roubado aquela espada que ele carregava. O Frade completamente arrasado, finalmente se convence que seu destino é o inferno, pois até mesmo o Parvo zombou de sua vida e de seus pecados. Dirigiu-se a barca do Inferno, resolve embarcar junto com a moça que o acompanhava.
	Assim que o Frade embarcou, veio a alcoviteira Brísia Vaz, chamando o Diabo, para saber em qual barca ela haveria de entrar. O companheiro do Diabo lhe disse que ela não entraria na barca sem Joana de Valdês.
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	Ela foi relatando o que estava trazendo para a barca e afirmava que iria para o Paraíso, mas o Diabo dizia que sua barca era o seu lugar, que ela teria que ficar ali.
	Brísida vai implorar de joelhos ao Anjo, que esse a deixe entrar em sua barca, pois ela não queria arder no fogo do inferno, dizendo que tinha o mesmo mérito de um apóstolo para entrar em sua barca. O Anjo, já sem paciência, mandou-lhe que fosse embora e que não lhe importunasse mais.
	Triste por não poder ir para o Paraíso, Brísida vai caminhando em direção ao batel do Inferno e resolve entrar, já que era o único lugar para onde ela poderia ir.
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	Logo após o embarque de Brísida Vaz, veio um Judeu, carregando um bode, na qual fazia parte dos rituais de sacrifício da religião hebraica. Chegando ao batel dos danados, chama o marinheiro, que por acaso era o Diabo; perguntando a quem pertencia aquela barca. O Diabo questiona se o bode também iria junto com o Judeu, esse por sua vez afirma que sim, mas o Diabo o impede pois ele não levava para o Inferno, os caprinos.
	O Judeu resolve pagar alguns tostões ap Diabo, para que ele permita a entrada do bode; disse que por meio do Semifará ele seria pago. Vendo que não consegue, ele xinga o Diabo e roga-lhe várias pragas, apenas por não fazer a sua vontade.
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	O Parvo, para zombar o Judeu, perguntou se ele havia roubado aquela cabra, e aproveitou para xingá-lo. Afirmou também que ele havia mijado na igreja de São Gião e que teria comido a carne da panela do Nosso Senhor.
	Vendo que o Judeu era uma péssima pessoa, o Diabo ordenou-lhe logo que entrasse em sua barca, para não perderem tanto tempo com uma discussão tola.
	Depois que o Judeu embarcou, veio um Corregedor, carregado de feitos, que quando chegou ao batel do Inferno, com sua vara na mão, chamou o barqueiro. O barqueiro ao vê-lo, fica feliz, pois esta seria mais uma alma que ele conduziria para o fogo ardente do Inferno. 
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	O Corregedor era um amante da boa mesa e sua carga era qualificada como "gentil" , pois tratava-se de processos relativos a crimes, que era um conteúdo muito agradável para o Diabo. Ele era ideal para entrar na barca do Inferno, pois durante sua vida, ele era um juiz corrupto e que aceitava Perdizes como suborno.
	O Diabo começa a falar em latim com o Corregedor, pois era usado pela Justiça e pela Igreja, além de ser a língua internacional da cultura. Ele ordena ao seu companheiro que este apronte logo a barca e que se prepare para remar rumo ao Inferno.
	Os dois começam a discutir em latim, pois o Corregedor por ser achar superior ao Diabo, pensa que só porque era um juiz prestigiado, não teria que entrar em sua barca.
	O Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, até citando sua mulher no meio, que aceitava suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que com isso ele não estava envolvido, que estes eram os lucros de sua mulher, e não dele.
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	Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador, carregando vários livros. Resolve falar com o Corregedor, espantado por encontrá-lo aí, questiona para onde ele iria, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz que iria para o Inferno, mas que também era bom ele ir entrando logo, para retirar a água que estava entrando na barca.
	O Corregedor e o Procurador não quiseram entrar na barca, pois eles tinham fé em Deus e também porque havia outra barca em melhores condições, que os conduziria para um lugar mais ameno. Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo zombam de suas ações, que eles não tinham o direito de entrar ali, pois tudo que eles haviam feito de ruim, estava sendo pago agora, com a ida de suas almas para o Inferno.
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	Desistindo de ir para o paraíso, os dois ao entrarem no batel dos condenados, encontram Brísida Vaz. Ela por sua vez, se sentiu aliviada por estar ali, pois enquanto estava viva foi muito castigada pela Justiça. 
	Veio um homem que morreu enforcado e ao chegar ao batel dos mal-aventurados, começou a conversar com o Diabo. Ele tentou explicar porque ele não iria no batel do Inferno, que ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado, mas isso não passou de uma mentira, pois ele teria que morrer e arder no fogo do Inferno devido aos seus erros.
	Desistindo de tentar fugir de seu futuro, acaba obedecendo as ordens do Diabo para ajudar a empurrar a barca e a remar, pois o horário de partida estava próximo.
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	Depois disso, vieram quatro Cavaleiros cantando, na qual cada um trazia a Cruz de Cristo, pelo Senhor e também para demonstrar a sua fé, pois eles haviam lutado em uma Cruzada contra os Mulçumanos, no norte da África. Absolvidos da culpa e pena, por privilégio dos que morreram em guerra, foram cantarolando felizes indo em direção
ao batel do Céu.
	Ao passarem na frente do batel do Inferno, cantando, segurando suas espadas e escudos, o Diabo não resiste e os pergunta porque eles não pararam para questionar para onde sua barca iria. Convidando-os para entrar, o Diabo recebe uma resposta não muito agradável de um dos Cavaleiros, pois esse disse que quem morresse por Jesus Cristo, não entraria em tal barca.
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	Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direção à barca da Glória, que quando eles chegaram nela, o Anjo os recebeu muito bem e disse que estava à espera deles por muito tempo.
	Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram e tomaram rumo em direção ao Paraíso, já que morreram por Deus e porque eram livres de qualquer pecado.

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