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06 Desenvolvimento, Sistema Familiar e Bronfenbrenner

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Desenvolvimento e Sistema Familiar
A Abordagem Ecológica de Bronfenbrenner
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A Ecologia do Desenvolvimento
Há 30 anos, a maior parte dos livros de desenvolvimento infantil enfatizava o papel dos pais como “modeladores” da criança, como se ela fosse um bloco e argila uniforme.
O desenvolvimento humano pode ser compreendido como um processo individual e como um processo sistêmico.
A visão de modelagem deu lugar a uma visão mais complexa, chamada teoria dos sistemas.
Qualquer sistema – biológico, econômico, psicológico – tem certas propriedades.
Um sistema tem “totalidade e ordem”, que é outra maneira de dizer que o todo é maior do que a soma de suas partes, ou seja, o todo consiste das partes e de suas relações mútuas.
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Desenvolvimento no contexto: A visão de Urie Bronfenbrenner 
Como discutido nas aulas anteriores, há muitos fatores que influenciam o processo de desenvolvimento. Bronfenbrenner (1996) propõe um modelo explicativo para o desenvolvimento humano que leva em conta o contexto social amplo no qual o indivíduo está inserido. A análise do contexto social, para este autor, não pode se limitar a um aspecto, ao contrário, deve considerar vários aspectos. 
O modelo ecológico – como é chamada a formulação de Bronfenbrenner - aponta para a necessidade de descrição e análise sistemáticas dos contextos, das interconexões entre eles e dos processos através dos quais eles podem afetar o desenvolvimento.  Este autor reforça a ideia de que é preciso, ao estudar o comportamento e desenvolvimento humanos, levar em conta não só a situação imediata na qual o indivíduo está, mas também os diferentes sistemas que envolvem o indivíduo:  microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. 
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Desenvolvimento no contexto: A visão de Urie Bronfenbrenner
O conhecimento destes sistemas permite diferenciar as propriedades ecológicas dos contextos de desenvolvimento humano, na medida em que eles tratam de esferas ou dimensões variadas que envolvem o sujeito. 
O microssistema inclui as atividades, papéis e relações interpessoais que se dão entre as pessoas em um determinado ambiente físico e material.
O mesossitema inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente (tais como: as relações em casa, na escola, no trabalho). Os mesossistemas são continuamente modificados sempre que a pessoa começa a participar de um novo ambiente. 
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Desenvolvimento no contexto: A visão de Urie Bronfenbrenner
Já os exossistemas são aqueles ambientes dos quais a pessoa não participa diretamente, mas nos quais ocorrem eventos significativos que a afetam. Por exemplo, para uma criança, seriam exossistemas: o local de trabalho dos pais, a rede de amigos dos pais.
 Os macrossistemas seriam as diferentes culturas (exemplos: os sistemas de crenças, as ideologias, as formas e conteúdos das relações interpessoais) que envolvem todos os outros sistemas.
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Modelo Ecológico e 
Nichos de Desenvolvimento
O modelo ecológico serve como base para investigações sobre o desenvolvimento integradas a diferentes esferas do contexto social (exemplos: as relações em casa, a vizinhança, o grupo de pares, o contexto cultural, a época histórica). Neste sentido, pode-se dizer que o modelo de Bronfenbrenner converge com o conceito de nichos de desenvolvimento proposto por Harkness e Super (1994). Segundo estes autores, as investigações sobre o processo de desenvolvimento humano devem considerar a criança e o ambiente como um sistema interativo.
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Conceito de Nicho de Desenvolvimento de Harkness & Super : 3 subsistemas
O nicho de desenvolvimento envolve três subsistemas: o ambiente físico e social da criança; os costumes culturalmente construídos sobre os cuidados e modos de criar as crianças e a psicologia dos que cuidam das crianças.
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Subsistema 1: 
o ambiente físico e social da criança
No subsistema do ambiente físico e social estão as fontes mais diretas de informação sobre como o ambiente social da criança é estruturado. Pode-se observar como, onde, em que condições materiais, com quem a criança vive, quais são as figuras de cuidado. 
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Subsistema 2: 
 os costumes culturalmente construídos
Os costumes e os modos de cuidar das crianças constituem outro subsistema, que, neste caso, informa sobre as práticas comuns de cada grupo ao criar e cuidar das crianças.
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Subsistema 3: 
a psicologia dos que cuidam das crianças
A psicologia dos cuidadores seria o terceiro sub-sistema, este trata das crenças e expectativas daqueles que cuidam das crianças.
Com o conceito de etnoteorias parentais, Harkness e Super (1992) exploram mais detalhadamente este terceiro componente dos nichos de desenvolvimento que é o das representações que os pais têm sobre o desenvolvimento infantil, suas expectativas, crenças e o quanto eles regulam suas ações, suas práticas de cuidado e educação tendo como base suas representações.
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Ogbu (1981) já havia também destacado este ponto ao traçar as relações entre diferentes componentes dos sistemas de cuidado. Este autor trata, entre outros aspectos, das chamadas teorias nativas de sucesso nas quais os pais se baseiam para orientar a criação de seus filhos.
Este aspecto é ainda destacado por Small (1999) ao discutir como as práticas de cuidado ganham sentido dentro de cada grupo social e o quanto tais práticas são delineadas para produzir o tipo de “cidadão” esperado ou desejável em cada cultura.
Os pais, certamente, enquanto membros do grupo cultural, exercem seus cuidados e educação das crianças de modo a alcançar as metas desejáveis.
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Pode-se defender a posição de que é necessário integrar diferentes níveis de análise (e.g., biológico, individual, social) para que se possa investigar o desenvolvimento humano de forma mais completa.
O conceito de nicho de desenvolvimento (Harkness & Super, 1994), como os próprios autores afirmam, derivou de estudos de campo sobre desenvolvimento infantil e condições de vida, aspectos da vida familiar, em diferentes contextos culturais. 
O desenvolvimento deste conceito teve, segundo Harkness e Super (1994), importantes contribuições, podendo ser destacadas as seguintes: a contribuição de Bronfenbrenner, ao apresentar o modelo ecológico e enfatizar o estudo do desenvolvimento humano no contexto; a colaboração muito frutífera entre a psicologia e a antropologia ao introduzir novas formas de investigar a diversidade do desenvolvimento; e as perspectivas de ciclo de vida, que também emergiram nesta época, dando ênfase aos aspectos contínuos dos ambientes “psicológicos” que caracterizam o desenvolvimento humano.
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Pode-se afirmar que, tanto na concepção de Bronfenbrenner (1996) quanto na de Harkness e Super (1994), é ressaltada a ideia de que o estudo do desenvolvimento humano deve considerar os diferentes domínios que envolvem o sujeito, desde aqueles que mostram uma relação direta, mais imediata, até os de influência indireta. 
Estes domínios, uma vez que fazem parte do ambiente social e cultural, estarão continuamente se transformando e “dando forma” aos processos de desenvolvimento. 
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Sistema familiar e implicações sobre o desenvolvimento do sujeito
Há muitas formas pelas quais o sistema familiar tem implicações sobre o desenvolvimento do sujeito. Por exemplo, a qualidade o bem-estar emocional dos pais , o tom afetivo da família, as expectativas dos pais, a maturidade emocional e a disponibilidade afetiva dos pais, as formas de educação etc. 
Estudos têm indicado que o bem-estar emocional de mães e pais é um importante preditor das práticas parentais em relação às crianças e tem implicações significativas sobre o próprio desenvolvimento infantil.
Embora inúmeros indicadores venham sendo utilizados para avaliar o bem-estar emocional parental, dois têm recebido atenção especial dos pesquisadores: estresse de sobrecarga de tempo e depressão. 
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Dimensões da Interação Familiar
Tom emocional familiar – carinho versus hostilidade
Responsividade – percepção de forma adequada
dos sinais da criança e reação de maneira sensível às necessidades
Métodos de controle – tarefa de controlar o comportamento dos filhos – disciplina/limites.
Padrões de comunicação – qualidade da comunicação entre pais e filhos: a quantidade e a riqueza da linguagem falada para a criança e a quantidade de conversa e sugestões por parte da criança encorajada pelos pais. Ouvir e falar são importantes.
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Padrões ou Estilo de Educação dos Filhos
Combinações das dimensões: carinho ou cuidado; nível de expectativa (exigência de maturidade); clareza e consistência das regras; comunicação entre pais e filhos.
O Modelo de Baumrind
Estilo permissivo – muito cuidado, mas pouca exigência de maturidade, controle e comunicação.
Estilo autoritário – muito controle e exigência de maturidade, mas pouca comunicação e cuidado.
Estilo competente – inclui níveis elevados das quatro dimensões.
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Padrões ou Estilo de Educação dos Filhos
O Modelo de Maccoby e Martin
Tipo Autoritário – moldar e controlar o comportamento e as atitudes dos filhos de acordo com uma série de padrões.
Tipo Permissivo – tolerantes e carinhosos, mas exercem pouca autoridade.
Tipo Competente – níveis elevados tanto de controle como de carinho, estabelecendo limites claros, esperando e reforçando um comportamento socialmente maduro e, ao mesmo tempo, respondendo às necessidades da criança.
Tipo Negligente – ou não envolvido – apegos inseguros, falta de monitoramento familiar
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Estresse de Sobrecarga de Tempo
O estresse de sobrecarga de tempo é um tipo de estresse que se mostra pelo sentimento de sobrecarga, bem como pela sensação de que a quantidade de atividades cotidianas que devem ser realizadas é maior do que o tempo disponível para sua realização.
Com freqüência, pessoas que vivenciam estresse de sobrecarga de tempo reduzem horas de sono, sentem-se aprisionadas pela rotina, avaliam que não têm tempo para descanso e lazer, e reportam que o tempo para estar com filhos, amigos e familiares é insuficiente.
 Este tópico tem sido discutido e pesquisado na área da psicologia parental pela suas implicações sobre o relacionamento de pais com seus filhos. 
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Depressão
A depressão é, reconhecidamente, um quadro que tem implicações sobre toda a rede de relacionamentos dos indivíduos e suas implicações sobre a relação entre pais e filhos têm sido amplamente documentada na literatura. 
Estudos têm apontado que o bem-estar emocional depende de um conjunto de fatores. Algumas variáveis socioeconômicas, por exemplo, têm sido freqüentemente associadas ao bem-estar emocional. 
A dificuldade econômica afeta o bem-estar emocional dos pais, o que, por sua vez, leva a uma prática parental com menos suporte e com conseqüências negativas sobre o desenvolvimento da criança.
A dificuldade econômica, baixa escolaridade, baixa renda, trabalho instável, perda financeira ou pressão econômica, devem também ser vistos como fatores atrelados a qualidade do bem-estar emocional de pais e mães. 
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Rede de Apoio Social à Família
Outro aspecto também importante é a rede de apoio social da família. A rede de apoio é constituída por pessoas (ou instituições) de fora da família que dão aos pais algum tipo de suporte, que pode ser instrumental ou material, emocional, conselhos e informação sobre cuidado e educação.
Neste sentido, a rede de apoio colaboraria para o bem-estar, diminuindo o estresse, a sobrecarga, dando suporte psicológico e material para os pais, encorajando-os no exercício da paternidade/maternidade.
O exercício da paternidade/maternidade envolve diferentes dimensões. Estudos têm focalizado, entre outros aspectos, a percepção dos pais e mães sobre o seu próprio desempenho quanto à sua competência, satisfação, integração e investimento no exercício deste papel; formas como os pais interagem com seus filhos; estilos de punição e medidas disciplinares empregadas; confiança no próprio conhecimento sobre a criação de filhos; e avaliação do nível de dificuldade vivenciada para lidar com eles.
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Concluindo...
O estudo do desenvolvimento humano, portanto, engloba o estudo das formas de relacionamento familiar e as interfaces entre os aspectos individuais, sócias e do grupo familiar.
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