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Dos crimes contra a liberdade individual Neste título estão consignados os crimes de contra a liberdade individual, que também constituem os crimes contra as pessoas. Incluem-se neste capítulo os crimes contra a liberdade pessoal, contra a inviolabilidade de domicilio, inviolabilidade de correspondência e inviolabilidade de segredos. Dos crimes contra a liberdade pessoal 1 Constrangimento ilegal. 1.1 Conceito: Constrangimento ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. 1.2 Bem juridicamente tutela e objeto jurídico: O bem juridicamente tutelado é a liberdade física e psíquica. O objeto material é a pessoa que é obrigada a não fazer o que a lei permite ou fazer o que ela não manda. 1.3 Classificação doutrinária: Comum. Comissivo ou omissivo impróprio. Dano. Doloso. Material. Instantâneo. Subsidiário. Transeunte (podendo ser não-transeunte). Monossubjetivo. Plurissubsistente. De forma livre. 1.4 Elementos do tipo: A ação nuclear é constranger, ou seja, coagir, compelir, forçar, obrigar a fazer ou deixar de fazer algo que por lei não está obrigado. Há uma ação de constranger, que não pode ser legítima, seguida pela realização ou abstenção de um ato pelo constrangido. Quando se constrange alguém a não praticar ou praticar ato que apesar de legal não é moral, se o ato não é obrigado por lei. Ainda assim resta configurado o delito. Se houver erro escusável das circunstâncias, haverá exclusão do dolo ou da culpa, e, portanto, do crime em questão. Se o erro for evitável, haverá culpa, como não há modalidade culposa prevista para o delito, responderá apenas por eventuais lesões culposas. Se há erro de proibição, ou seja, o agente acredita que sua prática não constitui crime, aplicar-se-á o art. 21. Erro sobre a ilicitude do fato Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Coação irresistível e obediência hierárquica. O tipo exige o emprego de violência ou grave ameaça: Violência é o emprego de força física, podendo esta ser direta (amarrar a vítima) ou indireta (bater no filho da vítima). Nesses casos, se a vítima é compelida a praticar um crime com violência irresistível, não responderá por ele, nos termos do art. 22, CP. Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. Coação ou grave ameaça é a violência moral. Esta deve ser grave, o mal anunciado deve ser certo, verossímil, iminente e inevitável, não se exigindo a proximidade entre agente e vítima. Qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência do ofendido, por exemplo, a hipnose, os narcóticos. Trata-se de crime comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa. O sujeito passivo é a qualquer pessoa que possua capacidade de querer. Se for menor responderá pelo ECA. 1.5 Tipo subjetivo: O elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. O agente deve ter conhecimento da ilegitimidade da pretensão, deve haver emprego de meios coativos, e deve haver nexo de causalidade entre o constrangimento e a conduta da vítima. Se não houver a finalidade específica de que o agente pratique determinado ato, não há que se falar em constrangimento ilegal. A modalidade culposa não é admissível. 1.6 Consumação e tentativa: Trata-se de crime material, que só se consuma com a efetivação da conduta da vítima à qual foi constrangida. Contudo a realização da conduta da vítima pode se dar apenas de forma parcial. A tentativa é admissível. 1.7 Forma majorada: Precisa de no mínimo 4 agentes para configurar a qualificadora, incluindo-se coautores e partícipes. O emprego de arma pode ser própria ou imprópria, desde que idôneas para constranger a vítima. A arma pode estar descarregada. O crime de constrangimento ilegal absorve o de porte ilegal de armas, apesar de o último ser mais grave. Todavia, como antes do constrangimento o agente já portava arma, Capez defende o concurso de crimes. Depois da revogação da súmula 174 do STJ, o uso de arma de brinquedo não mais majora o crime de constrangimento ilegal. STJ Súmula nº 174 - 23/10/1996 - DJ 31.10.1996 – Cancelada – RESP 213.054-SP - 24/10/2001 Roubo - Arma de Brinquedo No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento de pena. 1.8 Concurso de crimes. O art. 146, §2º prevê que o agente responderá também pelas penas resultantes da violência, se do crime advier lesão corporal. Cumpre salientar que a regra seria a aplicação de concurso formal, todavia o Código previu a aplicação de concurso material de crimes. Concurso material Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. Concurso formal Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. Se o agente emprega vários meios violentos para obter a ação ou omissão da vítima, ter-se-á crime único. Se o agente pratica vários atos de violência, reiteradamente, para obter várias ações ou omissões, ter-se-á crime continuado. Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ougrave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. Haverá concurso formal se houver uma pluralidade de vítimas. Segundo Capez, “subsidiária é a norma que descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito autônomo, encontra-se compreendido em outro tipo como fase normal de execução de outro crime mais grave.” Neste caso, perceber-se-á a subsidiariedade do dispositivo, o que ocorrerá, por exemplo nos crimes de estupro, roubo. É cabível a absolvição pela prática do crime principal e a condenação pela prática do delito em comento. Também é necessário destacar a possibilidade de concurso material quando o constrangimento ilegal não configure meio de execução para o delito principal. 1.9 Constrangimento ilegal e lei de tortura. Como a lei de tortura exige para a configuração do delito a presença de sofrimento intenso físico ou mental, caso não haja intenso sofrimento físico ou mental, não há que se falar em tortura, podendo configurar o constrangimento ilegal. 1.10 Causas especiais de exclusão da tipicidade. Se o paciente está em iminente estado de perigo de vida a intervenção médica sem autorização do paciente ou algum representante legal não configura o constrangimento ilegal. Apesar de se tratar de estado de necessidade de terceiro o Código tratou a causa como excludente da tipicidade. Também é atípico o fato de constranger ilegalmente alguém a não cometer suicídio. 1.11 Ação Penal: Trata-se de crime que se processa mediante ação penal pública incondicionada, cuja competência é do Juizado Especial Criminal. 2 Ameaça. 2.1 Conceito: Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 2.2 Bem juridicamente tutela e objeto jurídico: O bem juridicamente tutelado é a liberdade pessoal, há entendimento de que seria a liberdade psíquica. O objeto material é a pessoa que sofreu a ameaça. 2.3 Classificação doutrinária: Comum. Comissivo. Doloso. Formal. Instantâneo. Transeunte ou não-transeunte. Monossubjetivo. Unissubsistente ou plurissubsistente. De forma livre. 2.4 Elementos do tipo: A ação nuclear é ameaçar, ou seja, intimidar, prometer oferecer castigo ou malefício. Os meios podem ser palavras, gestos ou qualquer outro meio simbólico. A ameaça pode ser direta, quando se refere ao próprio sujeito passivo, ou indireta, quando se refere a terceiro que não o sujeito passivo, mas ligado a ele. Pode ser explícita ou implícita. Também pode ser condicional, quando o mal prometido está na dependência de alguma atitude da vítima ou de terceiros. O mal anunciado deve ser injusto e grave, constituindo estes os elementos normativos do tipo: INJUSTO: quando o agente não tiver nenhum apoio legal para realiza-lo, se o mal for justo não há tipicidade do delito por ausência de elemento normativo. GRAVE: a ameaça deve ser capaz de intimidar o homem médio. Há ameaça quando se usa arma descarregada ou de brinquedo. A gravidade também será medida por características psíquicas da vítima. A ameaça também deve ser possível de ser realizada. EXIGÊNCIA DE PRENÚNCIO DE MAL FUTURO: parte da doutrina entende que o mal anunciado deve ser futuro, não configurando o delito se o mal se concretizar junto da ameaça. Para Damásio a exigência não está contida no tipo penal. Trata-se de crime comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito passivo é a pessoa contra quem é dirigida a ameaça, pode ser qualquer pessoa física que seja capaz de entender a ameaça, caso contrário haverá crime impossível por absoluta impropriedade do objeto, art. 17, CP. 2.5 Elemento subjetivo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. O agente deve ter consciência de que o mal é grave e injusto e não precisa ter intenção de concretizá-lo, apenas ameaça-lo. Se houver intenção de que a vítima apresente determinado comportamento o crime será de constrangimento ilegal e não de ameaça, já que ameaça é crime subsidiário. É necessário haver o ânimo de provocar intimidação na vítima. Se a ameaça advém de momento de exaltação emocional a doutrina e jurisprudência divergem acerca da ocorrência do delito, para uns a ameaça exige o ânimo calmo do agente, para outros não, dentre os quais se inclui Capez que diz que a ameaça deve ser séria, pouco importando o estado emocional do agente. Também discute-se o afastamento do tipo penal em casos de embriaguez, para a maioria não afasta, nos termos do art. 28, §2º. 2.6 Consumação e tentativa: O crime é formal, basta que o agente tenha conhecimento da ameaça. A tentativa é admissível, apesar de se tratar de crime formal, quando a ameaça ocorrer por escrito. 2.7 Concurso de crime: Trata-se de crime subsidiário, portanto difícil a configuração de concurso de crimes, todavia pode ocorrer. 2.8 Distinção entre constrangimento ilegal e ameaça: Para o constrangimento ilegal o mal pode ser justo. Para o constrangimento legal é necessário exigir uma ação ou omissão da vítima. 2.9 Ação Penal: É crime de ação penal pública condicionada à representação. Por se tratar de infração de menor potencial ofensivo será processado mediante o Juizado Especial Criminal. 3 Sequestro e cárcere privado. 3.1 Conceito: Sequestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias. IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V - se o crime é praticado com fins libidinosos. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. 3.2 Bem juridicamente tutela e objeto jurídico: O bem juridicamente tutelado é a liberdade pessoal, sendo esta física. O objeto material é a pessoa que sofreu o sequestro ou cárcere privado. 3.3 Classificação doutrinária: Comum. Comissivo. Doloso. Material. Permanente. Monossubjetivo. Plurissubsistente. De forma livre. 3.4 Elementos do tipo: A ação nuclear é privar, ou seja, destituir alguém, no caso, de sua liberdade de locomoção. No cárcere privado há confinamento, mantendo a vítima em local fechado, já no sequestro basta que a vítima esteja privada de sua liberdade, não precisando estar confinada. A privação não precisa ser total, basta que a vítima não possa se desvencilhar do sequestrador. O sequestro ou cárcere privado pode se dar por detenção, quando a vítima é deslocada de lugar, ou por retenção, quando a vítima é impedida de sair de onde está. Não há crime quando há consentimento do ofendido, exceto se a privação de liberdade contrariam os Princípios de Direito Público e da moral social. Para haver crime a detenção ou retenção deve ser ilegítima. Trata-se decrime comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa. Sujeito passivo é a pessoa que é privada da liberdade, podendo ser, inclusive, pessoas com dificuldade de locomoção, loucos e crianças. 3.5 Elemento subjetivo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. A lei não prevê nenhuma finalidade específica. O tipo em estudo é crime subsidiário, se houver finalidade de receber vantagem pecuniária é extorsão mediante sequestro, por exemplo. O erro de tipo exclui o dolo. 3.6 Consumação e tentativa: O crime é material, para consumar a vítima tem que estar privada da liberdade, como se trata de delito permanente a sua consumação se perdura no tempo. A respeito do tempo de duração da privação de liberdade, a primeira corrente não admite a ocorrência quando o tempo de privação de liberdade não é razoável, para a segunda corrente é necessário que a vítima tenha sua liberdade privada por tempo razoável, do contrário, tratar-se-ia de constrangimento ilegal. A tentativa é admissível. 3.7 Forma qualificada: Estão previstos no §1º e 2º do dispositivo. Quando a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos. Quando crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital, ressalva-se que se o agente crê que a vítima necessite ser internada, há erro de tipo. Quando a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias, a contagem do prazo inclui o dia do início. Quando o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos, configurará o crime ainda que a vítima complete a idade no cativeiro. Quando o crime é praticado com fins libidinosos. Quando resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral. 3.8 Prescrição e ação Penal: A prescrição só começa a correr da data em que se deu a soltura. É crime de ação penal pública incondicionada. 4 Redução a condição análoga à de escravo. 4.1 Conceito: Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I - contra criança ou adolescente; II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. 4.2 Bem juridicamente tutela e objeto jurídico: O bem juridicamente tutelado é a liberdade pessoal, em todo o conjunto de suas manifestações. O objeto material é a pessoa que fica sujeita àquela condição. 4.3 Classificação doutrinária: Próprio. Comissivo ou Omissivo impróprio. Doloso. Material. Permanente. Monossubjetivo. Plurissubsistente. De forma vinculada. 4.4 Elementos do tipo: É a submissão total do sujeito passivo ao poder do agente, suprimindo por completo sua liberdade e atentando contra sua integridade física e moral. Pode ser praticado quando se submete o agente a trabalhos forçados, ou a jornada exaustiva; mediante à sujeição a condições degradantes ou mediante a restrição de sua locomoção em razão de dívida com o empregador. Pode ser praticado mediante violência, fraude ou grave ameaça, o que para Capez significa ser um crime de ação livre; já Greco defende ser um crime de ação vinculada, uma vez que a lei dispõe mediante quais meios o crime pode ocorrer. O presente crime sempre absorverá o crime de constrangimento ilegal, ameaça e cárcere privado. Pra Capez é crime comum, já Greco defende tratar-se de crime próprio já que só pode ser praticado quando existir uma relação de trabalho entre as partes. Quanto ao sujeito passivo se encerra a mesma discussão já demonstrada em relação ao sujeito ativo. Destaca-se que o consentimento do ofendido não afasta a ocorrência do crime, dada a existência de princípios constitucionais e internacionais que proíbem terminantemente a conduta criminosa. O parágrafo primeiro traz algumas figuras assemelhadas, quais sejam, quando a vítima quer se retirar do local, mas não tem condições materiais de fazê-lo e tal direito lhe é negado ou quando o agente mantém vigilância ostensiva sobre a vítima ou retém seus documentos ou objetos pessoais, impedindo sua retirada. 4.5 Elemento subjetivo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. Nas figuras equiparadas do §1º exige-se o dolo específico. 4.6 Consumação e tentativa: O crime é material, sendo necessário que o agente consiga reduzir a vítima à condição de escravo. É crime permanente, sendo o flagrante possível enquanto o crime perdurar. A tentativa é admissível, basta o agente não lograr êxito na redução do agente à condição de escravo, por circunstâncias alheias a sua vontade. 4.7 Forma majorada: A pena será aumentada se o sujeito passivo for criança ou adolescente ou por motivos de raça, cor ou etnia. 4.8 Concurso de crimes. O agente responderá também pelas penas resultantes da violência, conforme dispõe o caput, se do crime advier lesão corporal. Cumpre salientar que a regra seria a aplicação de concurso formal, todavia o Código previu a aplicação de concurso material de crimes. Concurso material Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. Concurso formal Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. Haverá concurso formal se houver uma pluralidade de vítimas. 4.9 Ação Penal: É crime de ação penal pública incondicionada. É crime que se processa mediante procedimento ordinário, dado o quantum de sua pena. Há discussão acerca da competência par julgamento, se seria da Justiça Estadual ou Federal.
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