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| Terceirizao | |1 Dante Girardi* A terceirizao como estratgia competitiva nas organizaes * Professor de RH da UFSC. Colaborao da pesquisadora Aurea Lopes e da estagiria Deris Caitano estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 1 | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho | | Terceirizao | | Apresentao 2 3 ÒAterceirizao como estratgia competitiva nas organizaesÓ, de Dante Girardi, o quinto tema a ser apresentado pela Gelre Coletnea Ð Srie Estudos do Trabalho Ð, iniciativa da Gelre, empresa especializada em Relaes Humanas no Trabalho. A exemplo dos anteriores, este ensaio indito resulta da parceria entre a empresa de RH e uma universidade, no caso a Federal de Santa Catarina onde o autor atua como professor. Essa srie visa colaborar com o desenvolvimento da rede de relaes que envolvem o setor trabalhista no Brasil, desta vez provocando a discusso sobre a terceirizao e sua utilizao no mercado de trabalho brasileiro. O estudo faz uma anlise das prticas de terceirizao, abordando suas aplicaes no Brasil. O tema est inserido na idia de mudana organizacional, fundamental para empresas atentas em reagir s alteraes de cenrio em sua rea de atividades. Essa ampla explanao pretende auxili-las no entendimento adequado do que necessrio para terceirizar e o que pode efetivamente ser terceirizado, levando em considerao a realidade organizacional e sua estratgia de atuao. Empresa que h mais de 40 anos lida com mercado de trabalho em todas as regies do Brasil, a Gelre, com essa srie de estudos, avana em sua proposta de contribuir na divulgao de anlises para estudo e, conseqentemente, provocar a discusso entre todos aqueles que articulam o Trabalho no Pas. estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 2 Prefcio 6 Panorama inicial 8 Conceituao 9 Uma viso histrica da terceirizao 16 Gerenciamento da terceirizao 20 Humanizando o processo de terceirizao 25 A terceirizao como uma modernizao de negcios 26 Tendncias da terceirizao 28 Desenvolvendo parcerias com a terceirizao 31 possvel garantir a qualidade na terceirizao? 34 Terceirizao na administrao pblica 36 Quarteirizao 38 Empresas de trabalho temporrio 40 O franchising se apresenta como uma forma de terceirizao 42 As cooperativas de trabalho 44 Implantao da terceirizao nas organizaes 50 Vantagens 50 Desvantagens 56 Legislao Brasileira que envolve a terceirizao 58 Restries jurdicas terceirizao 63 Consideraes finais 66 Referncias bibliogrficas 68 Biografia do autor 71 Sobre a UFSC 72 Sobre a Organizao Gelre 73 | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho | | Terceirizao | | êndice 4 5 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 4 os direitos a serem protegidos e quais obrigaes podem ser cobradas por quem e de quem? Aos nossos parceiros sociais, oferecemos mais este Estudo Gelre, o quinto da srie, para o qual tivemos a felicidade de poder contar com o valioso trabalho do Prof. Dante Girardi. Seu estudo de rico con- tedo, farto material para aprofundar o conhecimento de todos que querem dominar o assunto. E pode ser o ponto de partida na busca de aperfeioamento de nossas prticas administrativas e gerenciais. Esperamos que seja til para nossos clientes, colaboradores e os estudiosos do assunto. Ao Prof. Girardi, nossos parabns pelo excelente trabalho e agradecimentos por nos ter enriquecido. Jan Wiegerinck, presidente da Organizao Gelre | Terceirizao | |7| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |6 Ser que terceirizao, ou outsourcing, mais uma moda, comoj foram decentralizao, reengenharia, downsizing, delayering, empowerment, total quality manegement etc.? Estar na moda no necessariamente prejudicial e, em algumas reas, at necessrio. S que estar na moda uma situao pas- sageira. A atual vai ser substituda por outra e ningum vai sentir falta. No me parece que a terceirizao seja um capricho passageiro. Faz parte do constante processo de busca pela maior eficcia no processo produtivo por meio da cada vez mais profunda diviso do trabalho e da especializao que esta traz consigo. Creio que podemos dizer que terceirizar procurar aperfeioar o processo produtivo. Isto , produzir mais e com melhor qualidade, usando menos insumos. A terceirizao procura realizar isto levando um pouco mais adiante a tcnica de dividir o processo produtivo em etapas e especializando o trabalho em cada uma delas. Este processo tem aspectos econmicos e sociais e, por conseqn- cia, tambm jurdicos. Os primeiros no suscitam controversas. Esto voltados para aumentar a produo e, sobretudo, a produtividade. E ningum contra isto. Os aspectos sociais tambm no provocam grandes dificuldades. Mas j mais difcil. A diviso do trabalho entre as pessoas muda seus relacionamentos e a organizao social. E isto exige adaptao. No entanto, a terceirizao no reduz o nmero de empregos, no provoca informalidade e contribui para a melhora da distribuio da renda. As divergncias de opinies sobre a terceirizao se apresentam forte quando se buscam ordenar as conseqncias jurdicas, principal- mente as trabalhistas, que decorrem destes relacionamentos. Quais so | PREFçCIO Aperfeioamento do processo produtivo estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 6 | Terceirizao | |9| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |8 promovendo a interao entre estas; afinal, o produto que antes era fabricado por uma nica empresa passa a ser feito por vrias outras empresas. A horizontalizao pode ser compreendida como uma maneira que as empresas encontram para repassar atividades no estratgicas, con- tratando servios de terceiros de forma que esses possam vir a assumir estes trabalhos. Assim, por meio da contratao de terceiros, as empre- sas procuram a desverticalizao (MARTINS, 2005). Assim, diante desta conjuntura, as organizaes seguem basica- mente duas alternativas: a automatizao por meio da microeletrnica e/ou a reorganizao da empresa em novas bases. A terceirizao se encaixa na segunda alternativa, juntamente com outras tcnicas, prin- cipalmente, americanas e japonesas, hoje mundializadas, que surgiram para auxiliar nessa difcil transio: Qualidade Total - TQC, Just-in- Time - JIT, Crculos de Controle de Qualidade - CCQ, Kaizen, Kanban, reengenharia, dentre outras. A terceirizao est inserida na idia de mudana organizacional, pois esperado que aps combin-la com algumas destas tcnicas de administrao, a empresa ter possi- bilidade de lograr maior qualidade, flexibilizao, desverticalizao, dentre outras (GIRARDI, 1998). Conceituao Adotar a contratao de terceiros vem a ser uma maneira de trans- ferir atividades para outros de forma que a empresa consiga se con- centrar no seu foco. As atividades a serem terceirizadas so impor- tantes, porm passveis de serem delegadas e, com isso, possibilitar organizao ganho na gesto empresarial, desde que no se abandone a concepo estratgica de sua implementao. Leiria (1992a) relata que o fundamental para uma empresa ser excelente na sua essncia, e, com a terceirizao, esta pode transferir suas atividades no essen- Para se compreender a importncia bsica do tema terceirizao, crucial se refletir sobre os tempos em que vivemos. Antecipando praticamente trs dcadas do incio do sculo XXI, Toffler (1973) j destacava que a estru-tura de poder, que mantinha as relaes sociais coesas, estava implodindo. Uma nova estrutura diame- tralmente diferente de tudo o que existia comeou a surgir em todos os nveis da vida humana. O processo de mudana que teve seu incio nos anos 80 e ganhou fora nos anos 90, conseguiuamolecer estruturas e romper fronteiras. Sabe-se tambm que o trabalho bruto foi substitu- do pela informao e pelo conhecimento e o resultado disto tudo o dia-a-dia inundado por mudanas (GIRARDI, 1998). Para Kanter (1996), as empresas devem abrir suas fronteiras e ampliar suas pers- pectivas, no por serem sagazes, mas por necessidade. As empresas j perceberam que a tentativa de manter o controle total de suas atividades pode causar problemas na sua performance e no desenvolvimento de seus projetos, tornando estas, de certa forma, sem a agilidade necessria para o enfrentamento dos desafios dirios que se apresentam em funo da alta competitividade. Observa-se uma nova realidade econmica e financeira, onde a necessidade em obter ganhos de produtividade, melhor qualidade e maior competitividade estimula o desenvolvimento de parcerias. possvel discutir que as empresas presentes no mercado e que almejam se manter competitivas desenvolvam a tendncia de operar com uma maior cooperao entre os pares da cadeia produtiva. A cooperao nas relaes entre empresas se estabelece como uma maneira de manuteno das vantagens competitivas, como uma forma de se obter ganhos de produtividade, redues de custos e vantagens na negociao de prazos. Quando se imprime a horizontalizao de empresas em uma localidade, surge a possibilidade de proporcionar o envolvimento de vrias empresas em uma mesma cadeia produtiva, Panorama Inicial estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 8 | Terceirizao | |11| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |10 enunciando que a empresa s no deve terceirizar para outros a sua alma, que deve ser entendida como o segredo do seu negcio, aquilo que traz o seu diferencial competitivo. Um aspecto trazido por Leiria (1992a) o de que a contratao de terceiros no necessariamente significa o incio de um processo de desemprego em massa. Embora na empresa que est terceirizando possa haver demisses, a curto prazo, em termos gerais, o processo tende a gerar mais oportunidades. Este autor compreende que pode ocorrer exatamente ao contrrio, "a massa trabalhadora de uma comu- nidade s tem a ganhar", pois se novas empresas so formadas para atender a demanda, significa que novos empregos surgem, e estes ten- dem a ser mais qualificados e, por conseqncia, conseguem melhor remunerar. Em pesquisa recente, grfico 1, aplicado por Giosa por meio do Centro Nacional de Modernizao Ð Cenam (2006), esta constatao fica bastante evidenciada. A pesquisa demonstrou que mais de 1/3 das empresas contratadas para a prestao de servio foram criadas por ex- funcionrios, fato este que pode ser motivado pela prpria empresa contratante; e a maioria, 66% das empresas participantes desta pesquisa, prefere fazer uso de empresas que j tenham experincia no mercado. Contudo, deve-se levar em conta que possvel que parte dessas empresas possam ter sido criadas por ex-funcionrios de outras empresas que, em algum momento, constituram uma novo empreendi- mento no sentido de atender s necessidades de um processo de tercei- rizao. Martins (2005) corrobora com este entendimento ao relatar a existncia de notcias que evidenciam o surgimento de trs novas vagas de trabalho em atividade terceirizada para cada emprego perdi- do na empresa. Complementa observando que a terceirizao pode proporcionar que uma pessoa passe a trabalhar por conta prpria, ciais, somado ao fato de que a expectativa se conquistar um parceiro especialista na atividade que est sendo terceirizada. Contratar par- ceiros implica em estabelecer um jogo nos negcios onde as regras so novas, e vo sendo adaptadas para cada caso. Geralmente, estas novas regras alteram a cultura empresarial, normalmente conseguindo apri- morar o conhecimento, reconhecendo que, em se adquirindo conheci- mento, possvel a conquista da superioridade da organizao. A terceirizao se apresenta como uma ferramenta de gesto e, por- tanto no deve ser tratada apenas para a conquista da reduo de custo, mas sim como algo embutido nos objetivos e na estratgia geral da organizao. A prtica da terceirizao pode ser positiva se utilizada de forma adequada, porm pode trazer prejuzos expressivos caso no se tenham critrios claros e alinhados estratgia organizacional. Martins (2005, p.23) alerta para o fato de que no Brasil a tercei- rizao no definida em lei, portanto, no existe uma norma jurdica que trate especificamente do tema. Assim este autor entende que a ter- ceirizao: "Trata-se, na verdade, de uma estratgia na forma de administrao das empresas, que tem por objetivo organiz-la e esta- belecer mtodos da atividade empresarial" sem, portanto, abandonar as estruturas jurdicas vigentes, principalmente, na Consolidao das Leis Trabalhistas Ð CLT, sob pena de sofrer conseqncias no que diz respeito aos direitos trabalhistas. Fontanella et al (1994, p.19) contribuem com um conceito sobre o processo da terceirizao revelando que terceirizar deve ser percebido como um artifcio utilizado pelas empresas "que consiste na aquisio de bens e/ou servios especializados, de forma sistemtica e intensiva, para serem integrados na condio de atividade meio atividade fim da empresa compradora, permitindo a concentrao de energia em sua real vocao, com o intuito de potencializar ganhos em qualidade e produtividade", citando Tom Peters. Estes autores complementam estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 10 item melhorar o foco da empresa, pois isto faz com que essa concentre seus recursos (pessoas, investimentos) em sua atividade principal. De acordo com esta pesquisa, compartilhar riscos, obter vantagens de recursos no exterior e entregar a atividade para um parceiro em funo da dificuldade de administr-la internamente so os fatores que menos instigam a opo em terceirizar. Nos pases mais desenvolvidos, j se registra um novo conceito no processo de terceirizao chamado de smartsourcing, que se forma quando existe um sofisticado sistema onde h parceria forte entre prestador de servios/produto e o tomador destes. Ambos se rela- cionam de maneira a no haver segredos, trabalhando em sincronia para que se conquiste a execuo das tarefas com melhor qualidade, com mais tecnologia, sem abandonar as possibilidades da reduo dos custos para ambos (SILVA, 1997). No caso do Brasil, alguns autores j percebem atividades similares s que ocorrem nos pases desenvolvidos. Ao se fazer uma anlise na realidade brasileira, possvel constatar que o processo de terceiriza- | Terceirizao | |13| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |12 assim, realizando o sonho de ser o dono de seu negcio. De acordo com The Outsourcing Institute, em pesquisa aplicada no ano de 2003 com cerca de 2 mil de seus associados, identificou-se as dez principais razes que levam as empresas a optar pela terceirizao, conforme grfico 2. A pesquisa realizada pelo Cenam fez uma abordagem entre empre- sas de variados setores da economia, destas empresas, 41% eram do setor industrial, 32% do setor de servios e 27% do setor comercial. Em relao ao porte das mesmas, 40% eram de mdio porte, 31% de grande porte e, 29% de pequeno porte. A pesquisa foi realizada em 1992, e, em 2005 ela foi reaplicada com a mesma abordagem. Foram pesquisadas cerca de 2.850 empresas. Sero apresentados outros dados desta recente pesquisa no decorrer deste trabalho. A necessidade de melhorar o foco nas atividades fim da empresa e a reduo de custos foram fatores preponderantes, com 55% de respostas para cada um dos itens. Liberar recursos para outros propsi- tos atinge o percentual de 36%, e de certa forma este ndice refora o 66% 34% EMPRESAS CRIADAS POR EX-FUNCIONÁRIOS EMPRESAS COM EXPERI?NCIA NO MERCADO GRçFICO 1: AO IMPLANTAR SERVIOS TERCEIRIZADOS,A EMPRESA CONTRATOU Fonte: Cenam, 2006 11% 15 % 1 % 18 % 2 4 % 3 7 % 3 % 5 5 % 5 5 % 14 % 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% u n o d i f c i l d e g e r e n c i a r i n t e r n a m e n t e V a n t a g e m d e r e c u r s o s n o e x t e r i o r o m p a r t i l h a r r i s c o s e d u z i r o " t e m p o d e m e r c a d o " c e l e r a r a r e e n g e n h a r i a e c u r s o s n o d i s p o n v e i s i n t e r n a m e n t e c e s s o a r e c u r s o s d e c l a s s e m u n d i a l L i b e r a r r e c u r s o s p a r a o u t r o s p r o p s i t o s e d u z i r e c o n t r o l a r c u s t o s e l h o r a r f o c o n a e m p r e s a 2003 GRçFICO 2: RAZÍES PARATERCEIRIZAR * Pesquisa feita com respostas mltiplas * Pesquisa feita com respostas mltiplas estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 12 consolidao do sucesso empresarial. Estes autores passam a intitular essa nova forma de trabalho como a terceirizao plena ou transfern- cia de atividades e tecnologia. Seu objetivo caracterizar um processo que se diferencia pelo sur- gimento de uma efetiva parceria empresarial, deixando de lado a sim- ples prestao de servio. Neste novo conceito que surge da "necessi- dade de descentralizao da execuo da atividade de produo", se pressupe a transferncia de parte ou da totalidade das atividades que antes eram executadas de maneira direta pela empresa, fazendo surgir a Ôfbrica dentro da fbricaÕ. Ainda, pode ser compreendido como um "contrato de parceria empresarial por resultado, no qual o novo par- ceiro assume com integral responsabilidade o processo produtivo no seu todo ou em parte". Para estes autores, possvel discutir que a estrutura do processo de terceirizao est sendo redesenhada. A terceirizao plena, no entender destes autores, opera uma mudana de cenrio, sendo possvel descrever que, alm da mudana de conceito, que deixa de ser uma mera compra de servio e passa a ser uma compra de produto, vem alterar o grau de responsabilidade dos parceiros, que passam a se relacionar com o compartilhamento, tanto de deveres quanto de riscos. Assim, surge a necessidade de um ajuste jurdico, pois deixa-se de tratar de uma situao de prestao de servio, que "acarreta uma desvinculao da restrio estabelecida na Smula n¼ 331 do Tribunal Superior do Trabalho - TST" (SILVEIRA, 2002). No se pode deixar de perceber que terceirizar no significa que as atividades repassadas a terceiros devam ser abandonadas. As empresas que optam em trabalhar com a terceirizao devem estabelecer rotinas de acompanhamento de seus prestadores de servios, tanto em relao qualidade do servio/produto, quanto das novas tecnologias que podem ser ofertadas. Apesar da racionalizao de custos, no devem | Terceirizao | |15 o vem sofrendo alguns ajustes. O que antes se caracterizava por uma relao de certa forma distante Ñ em que se repassavam alguns servios isolados e at mesmo dissociados da atividade essencial da empresa, caracterizando a prtica do dumbsourcingÑ, foi se transfor- mando, a ponto de se registrar atualmente um nmero expressivo de empresas que, ao praticarem a verdadeira terceirizao, conseguem estabelecer uma relao de parceria simbitica, culminando com o fato de que algumas dessas j fazem a opo por transferir inclusive ativi- dades fim. No pas, o exemplo mais marcante o da fbrica de caminhes da Volkswagem, em Rezende-RJ. A terceirizao naquela unidade fabril j ultrapassou os limites de transferir somente atividades de apoio. A empresa foi estruturada no sentido de solicitar o fornecimento de itens que antes eram considerados como integrantes de suas competncias essenciais (core business), chegando a inserir em sua linha de pro- duo seus parceiros terceirizados. O processo da pintura automotiva, que at pouco tempo se apresentava como um servio impensvel de se confiar a terceiros, foi transferido para parceiros que executam o servio dentro da unidade fabril da Volkswagem. Desta forma, ressalta-se que, tambm no Brasil, j se conta com a especializao de parceiros, pois estes conseguem se apresentar em condies de atender s organizaes em suas necessidades mais competitivas (FONTANELLA, 1994). Na concepo de Silveira et al (2002, p.50), a terceirizao est deixando de ser simplesmente a compra de servios. Essas mudanas proporcionam uma reviso nos conceitos adotados sobre terceirizao, sugerindo inclusive que os modelos utilizados tambm sejam revistos, pois passa a surgir "a soma de partes para complementao do todo", no sentido de unir o capital intelectual do pessoal interno com o do externo, formando uma rede de intelectos que poder contribuir para a | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |14 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 14 dade de cargos e, agilizando a tomada de decises, pela eliminao de nveis intermedirios. No entendimento de Giosa (2003), o downsizing fez com que as empresas passassem a se reorientar empresarialmente e percebessem a possibilidade de reexaminar o papel da organizao, transferindo para terceiros a incumbncia da execuo de atividades de apoio, e passando a se concentrar na sua atividade vocacional. Seria necessrio questionar qual a verdadeira viso da empresa e, a partir disto, conseguir visualizar quais seriam as atividades que poderiam deixar de ser executadas internamente e transferidas para executores externos. Assim, surge a expresso outsourcing, um termo na lngua inglesa advindo da juno da palavra out Ð fora Ð com a palavra source - origem, fonte Ð significando o suprimento de atividades em base a fontes externas. Da mesma forma, se compreende o termo cunhado em portugus, terceirizao. A terceirizao se constitui como um fenmeno difundido no mundo moderno. Neste sentido, Giosa (2003) afirma que terceirizar no se constitui em novidade no mundo dos negcios. E esta se esta- belece quando se contrata empresas especializadas que conseguem suprir a execuo de atividades que no necessariamente precisam ser desenvolvidas no ambiente interno da organizao. Dentro da realidade mundial, no final dos anos 90, as empresas comeam a colocar os clientes como centro de suas atenes. Voltar-se para eles e conhecer o seu perfil passou a ser condio diferenciadora para a conquista do mercado. Para atender este novo caminho as pequenas e mdias empresas mostravam mais agilidade, e assim, con- seguiram quase que de pronto aproveitar a situao e conquistar fatias representativas dos clientes vidos em serem valorizados e atendidos em suas especificidades. Em contrapartida, as empresas de grande porte encontraram dificuldade em reagir dentro deste processo, pas- sando a refletir e visualizar possveis sadas para que se estabelecessem | Terceirizao | |17 deixar de ter certeza sobre a idoneidade do parceiro, que deve cumprir na ntegra questes legais. Com efeito, a ao das empresas em proces- so de terceirizao repousa no fato de que a economia de escala, a curva de experincia e a utilizao de mtodos mais modernos e pro- dutivos podem possibilitar ao terceiro a otimizao econmica dos processos e a melhoria da qualidade do produto ou servio fornecido ao tomador. Uma viso histrica da terceirizao Terceirizao no um assunto novo, muito embora o termo "ter- ceirizao" seja recente. Na verdade, sua origem remonta dcada de 40, quando os Estados Unidos se aliaram aos pases europeus para combater as foras nazistas e, posteriormente, o Japo. Ganhou relevncia ao longo da Segunda Guerra Mundial, quando as indstrias blicas americanas precisavam melhorar sua capacidade produtiva. Estas optaram em transferir para terceiros atividades que no se demonstravam estratgicas para o seu negcioprincipal, que era pro- duzir as armas necessrias para manuteno da supremacia aliada. Descobriu-se que algumas atividades de suporte produo dos arma- mentos Ð como limpeza, vigilncia e alimentao Ð poderiam ser pas- sadas a outras empresas prestadoras de servios. A guerra findou-se e esta prtica administrativa se concretizou a partir da dcada de 50, quando ocorreu um desenvolvimento acelerado da indstria na tentati- va de suprir as lacunas abertas com a Segunda Guerra Mundial. A idia evoluiu e consolidou-se como uma tcnica administrativa eficaz, quando aplicada de forma adequada (LEIRIA, 1992; SILVA, 1997; GIOSA, 2003). Um momento importante foi a introduo do downsizing, que se caracteriza por tentar enxugar o organograma da empresa por meio da reduo dos nveis hierrquicos, desta forma minimizando a quanti- | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |16 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 16 toma por base um processo de gesto que pode levar a organizao a mudanas estruturais, culturais, de procedimentos, sistemas e con- troles. E ainda, possibilitar a capilarizao para toda malha gerencial, no sentido de conseguir "atingir melhores resultados, concentrando todos os esforos e energia da empresa em sua atividade principal". Portanto, possvel propor que o sucesso da terceirizao condiciona a viso estratgica dos dirigentes quando estes fazem a opo da uti- lizao da mesma, "de modo que ela se consolide como metodologia e prtica" (GIOSA, 2003). | Terceirizao | |19 no mercado competitivamente (GIOSA, 2003). Nesta anlise, a tercei- rizao se apresentou como uma aliada para a conquista de agilidade e capacidade de atender as particularidades da clientela. No caso do Brasil, a terceirizao tambm passou a ser difundida a partir dos anos 90, embora implementada sob outro enfoque. Para Giosa (2003, p.13): "A recesso como pano de fundo levou tambm as empresas a refletirem sobre sua atuao". As empresas brasileiras, a exemplo da adoo da terceirizao por outros pases, acolheram quase que de pronto a nova possibilidade. Percebeu-se que a terceirizao fomentava "a abertura de novas empresas, com oportunidades de ofer- ta de mo-de-obra, restringindo, assim de certo modo, o impacto social da recesso e do desemprego". Porm, vale registrar que o rpido ace- leramento do processo de gesto da terceirizao no pas se deu em funo do perfil do brasileiro, cujo principal objetivo consiste em mon- tar uma empresa, "ser o dono do seu prprio negcio". Inicialmente denominada de contratao de servios de terceiros, a terceirizao no Brasil era aplicada apenas para reduzir os custos de mo-de-obra, no possuindo como meta gerar ganhos de qualidade, eficincia, especializao, eficcia e produtividade. As empresas prestadoras, por sua vez, no se preocupavam em melhorar seus servios, nem buscavam especializao, melhoria da qualidade e com- petitividade. Mas faz-se necessrio registrar que no Brasil a prtica da terceirizao foi introduzida pelas fbricas de automveis multina- cionais, que importavam de seus pases de origem, ou de outras sucur- sais, a experincia do processo. Estas se caracterizam como montado- ras de veculos e tm a agilidade como meta. Portanto, se apresentam dependentes da produo de peas elaboradas por outras empresas. Muitos segmentos se especializaram na prtica da terceirizao, uti- lizando a contratao de servios para o setor de produo. Assim, a terceirizao pode ser considerada uma tcnica de administrao que | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |18 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 18 | Terceirizao | |21| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho | Gerenciamento da terceirizao 20 Leiria (1992a) alerta que, se ainda no existir na empresa a prtica da terceirizao, faz-se necessrio divulgar ao mximo a deciso de terceirizar de maneira a obter o objetivo estabelecido. adequado que se realizem seminrios internos para informar aos colaboradores responsveis pela contratao; seminrios externos e convnios, de maneira a criar mercado para atender as fases da terceirizao; mon- tagem de cadastro com empresrios locais que tenham potencial para contratao na prestao dos servios, evitando contratar um terceiro que s tenha aquele tomador como cliente. De acordo com Martins (2005, p.51), corre-se risco quando se con- trata um prestador de servio que tenha somente um tomador: "pode gerar presuno de dependncia ou subordinao e de trabalho, carac- terizando o vnculo de emprego entre as partes". Entende-se que salu- tar incentivar que o fornecedor tenha outros clientes, evitando a con- tratao de ex-colaboradores para prestar servio igual, fazendo com que este assuma o rtulo de ÔautnomoÕ sendo que na realidade isto no se caracteriza. Este fato poder ensejar a continuao do "vnculo Ponto fundamental a se trabalhar quando se opta por terceirizarest em acompanhar sistematicamente os preceitos contratuais, e verificar amide os padres do produto/servio ofertado. Ou seja, deve-se praticar uma vigilncia constante e consistente das atividades desempenhadas pelos parceiros. A organizao deve ter sempre em mente que o seu nome que est no mercado e com ela que o cliente mantm a relao. No salutar que uma empresa explique uma inefi- cincia, seja de produto ou de servio, evidenciando para o cliente que a responsabilidade do terceirizado. A atividade empresarial inclui parcelas de risco, mas isso no pode significar que se devam tomar decises imprudentes. necessrio para a empresa que venha a fazer a opo em terceirizar, identificar riscos, quantific-los e somente depois disto partir para sua administrao. Definida a opo de maneira coerente e objetiva, as empresas efetuam a identificao das atividades que podem ser confiadas a prestadores de servios (LEIRIA, 1992b). Em pesquisa aplicada pelo The Outsourcing Institute, verificaram- se os fatores mais importantes para o alcance do sucesso da terceiriza- o, conforme grfico 3. A seleo correta do prestador de servio foi apontada por 62% dos participantes como o fator mais importante para o sucesso. Em segui- da, veio a administrao contnua do processo, que obteve 44% de importncia para os respondentes. Outros itens considerados impor- tantes foram: a necessidade de um contrato corretamente estruturado, 37%; metas claras e compreensveis, 33%; e a viso estratgica, com 30%. Ao se analisar esses fatores, percebe-se que os principais esto ligados diretamente maneira de gerenciar a terceirizao. Pois, sele- cionar o melhor fornecedor para a necessidade que se apresenta, e manter a administrao contnua e estruturar um contrato adequado so fatores de controle do processo. 62% 44% 37 % 33% 30% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Selecionar fornecedor correto Administração contínua Contrato corretamente estruturado Metas claras Visão estratégica GRçFICO 3: FATORES MAIS IMPORTANTES PARA SUCESSO DA TERCEIRIZAÌO Fonte: The Outsourcing Institute, 2003. * Pesquisa feita com respostas mltiplas estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 20 | Terceirizao | |23| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |22 serem definidos o perfil e os critrios exigidos dos terceiros, a empre- sa contratante necessita examinar alguns pontos: a empresa candidata contratao deve estar regularizada, com todas as licenas necessrias e que so exigidas por autoridades pblicas; e, essa regu- laridade deve existir antes da elaborao do contrato. aconselhvel evitar sociedades realizadas nas vsperas da contratao. Outra recomendao feita consiste em "recusar empresrios de uma s con- tratao e empresa em nome individual ou aquelas que no exibamsua contabilidade antes da contratao" (LEIRIA, 1992a). Em sua pesquisa, o The Outsourcing Institute questionou a respeito da escolha do fornecedor. Quais seriam os fatores mais importantes na escolha do mesmo? O grfico 4 demonstra os resultados. O aspecto mais importante na escolha do prestador de servio o de emprego, bastando que continue a persistir o elemento subordi- nao". Faz-se necessrio que os colaboradores, que de alguma maneira estejam envolvidos por um processo de terceirizao, se sintam parte integrante do movimento desde o incio, pois mesmo quando em fase de projeto, estudos devero ser implementados, e ocorrer que algu- mas empresas interessadas em ofertar o servio tero que visitar a provvel tomadora de forma a conhecer os processos e as exigncias que devero acatar. Desta forma, se os envolvidos no processo estiverem bem informados, se sentindo seguros, podero contribuir para que o processo se concretize sem grandes traumas organizacionais (BARROS, 2002). O pblico interno deve ser habilitado a abandonar a viso departa- mental e ser preparado para ter uma viso global do negcio, ou seja, deve desenvolver sua capacidade no sentido de entender sobre os aspectos relacionados ao custo, a legalidade e contratos, dentre outros. aconselhvel que esses passem a perceber como funciona a atividade e o negcio do prestador de servio ou do fornecedor de algum com- ponente, pois certo que tero de interagir. O colaborador convidado a mudar de patamar, passando a ter uma viso do negcio como um todo, aprende a lidar com dados que podero contribuir sobremaneira para o bom andamento do processo de terceirizao, tais como, fazer comparativos entre o custo de compras indiscriminadas e o estoque; adequar os produtos e servios ao fator tempo; racionalizar o uso dos equipamentos. Quando no se prepara o pessoal adequadamente, corre-se o risco de prejudicar a parceria (LEIRIA, 1992b). Para Silva (1997, p. 129): "O maior inimigo de um processo de terceirizao o boato. Qualquer tentativa de se desenvolver um estudo de terceirizao em sigilo pode levar o projeto ao insucesso". Aps identificar as reas necessrias a serem terceirizadas, e de 62% 50% 40% 33% 30% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Preo Compromisso com a qualidade Termos flexveis no contrato Referências Capacidade de prover recursos GRçFICO 4: FATORES MAIS IMPORTANTES NA ESCOLHA DO FORNECEDOR Fonte: The Outsourcing Institute, 2003. * Pesquisa feita com respostas mltiplas estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 22 | Terceirizao | |25 trabalho", adequado que se solicite a rotatividade dos prestadores de servio (LEIRIA, 1992a; SILVA, 1997; MARTINS, 2005). A pressa operacional no pode justificar os riscos jurdicos que as empresas venham a incorrer caso estabeleam contratos com terceiros de forma imprudente e desleixada. A contratao deve se mostrar vi- vel nos aspectos econmicos e jurdicos. necessrio estabelecer a garantia de que se obter a realizao do objeto acordado no contrato dentro das condies tcnicas desejadas. E no adequado elaborar um contrato que proteja apenas o tomador de servios, tentando assim ganhar vantagem sobre o contratado. importante que o contrato seja estabelecido resguardando ambas as partes, pois a Justia do Trabalho atua no sentido de resguardar o trabalhador que se apresenta passivo, alheio e, de certa forma, desprotegido dos termos acordados. Por vezes, se descobre tardiamente que a inviabilidade jurdica traz a in- viabilidade econmica do contrato que foi elaborado e aprovado sem as devidas precaues (LEIRIA, 1992a). De acordo com o entendi- mento de Martins (2005), o papel aceita qualquer coisa, mas o que vale a realidade dos fatos. Humanizando o processo de terceirizao Quanto mais os estudos sobre administrao avanam, mais evi- denciam que o verdadeiro diferencial competitivo de uma empresa est diretamente relacionado com o fator humano, na forma como se cons- titui uma equipe de trabalho. Pouco resolve ter a possibilidade de fazer uso de tecnologia avanada e de instalaes fsicas primorosas, se a essncia da organizao Ð as pessoas Ð no estiver suficientemente qualificada e engajada nos objetivos da organizao. Deve ser finali- dade dos administradores procurarem a adaptabilidade e a sintonia necessrias entre as pessoas e os traos tpicos da organizao, de forma a proporcionar que a soma dos esforos conquiste o sucesso | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |24 preo. O compromisso do prestador de servios com a qualidade foi indicado por 50% das empresas pesquisadas. Um contrato com termos flexveis se apresenta significativo para 30% dos entrevistados. Outros dois pontos considerados relevantes foram: o fato de o prestador j possuir outras referncias de mercado, com 33%, e a efetiva capaci- dade do fornecedor de prover recursos, com 30%. Um aspecto a ser investigado sobre a questo da idoneidade do terceiro. Cabe empresa contratante verificar a relao da empresa contratada com seus recursos humanos, tentando verificar os aspectos inerentes ao contrato de trabalho; aos recolhimentos necessrios; aos pagamentos devidos, e todas as determinaes de proteo ao trabalho e ao salrio. Devido extensa gama de verificaes necessrias, acon- selha-se, pelo menos em um primeiro momento, o auxlio de especia- listas na rea de terceirizao. De acordo com Leiria (1992a), ao se valorizar a idoneidade, a tendncia que todos ganhem Ð os profis- sionais, os empresrios contratantes, a sociedade como um todo. Inclusive com a desobstruo do Judicirio, pois os motivos que levam a recorrer Justia tendem a diminuir. Um aspecto delicado, e que deve ser controlado, a relao de su- bordinao que pode surgir. Quem compra o servio no pode, sob pena de estar infringindo a legislao, subordinar o realizador de servios. No se pode contratar uma prestadora e trat-la como um departamento da empresa, o que caracterizaria uma relao de subor- dinao. Os contratos devem ser bem amarrados de forma a deixar evi- dente que o contratado j possua know-how da execuo do servio contratado. Deve-se evitar a existncia de descrio excessiva de como o terceiro deve desenvolver suas atividades, assim como o horrio detalhado, o que demonstrar que "h um s senhor", transformando o terceirizado em um controlado e no em um empresrio parceiro. Na tentativa de evitar "o elemento pessoalidade pertinente ao contrato de estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 24 | Terceirizao | |27| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |26 zacional, esta deve ser amplamente analisada e contextualizada no sen- tido de que venha efetivamente auxiliar as empresas a modernizar seu processo de gesto. A terceirizao estimula o desenvolvimento de novas micros e pequenas empresas constitudas por aqueles que foram ou sero demi- tidos no processo de transferncia das atividades, de maneira que esses se estabeleam "como se fossem microorganismos organizados con- federativamente, sob o pressuposto de que hoje muito mais impor- tante ser o melhor do que o maior"(SILVA, 1997, p.40). Apesar da l- gica pertinente a esta condio, no se pode esquecer que esses novos empresrios necessitam de estrutura para se adequar; de capital para investimentos e para desenvolver suas potencialidades. Desta forma possibilitando que esses consigam atender no s a empresa parceira no momento, mas que tenham condies de conquistar novos clientes e, assim, alcanar a possibilidade de se manter sustentvel, no se atre- lando armadilha de ter somente um cliente. A terceirizao como uma modernizao de negcios s se justifica se as bases se estruturarem dentro de um contexto forte e seguro. No adiantapara nenhum dos lados fazer opes impensadas no af de con- quistar uma nova gesto competitiva, se essa no estiver conectada a princpios bsicos que norteiam o bom caminhar de uma estrutura organizacional. As vantagens devem ser divididas igualitariamente, deve-se estimular o jogo do ganha-ganha. almejado (FONTANELLA et al, 1994). No que tange terceirizao, um fato deve ser relatado. possvel perceber com certa regularidade a existncia de tratamento diferencia- do entre os colaboradores efetivos da empresa e os prestadores de servio das empresas terceirizadas, que se encontram dentro da unidade produtiva da empresa tomadora. Este acontecimento, no Brasil, pode ser justificado em funo do incio do processo de tercei- rizao, quando o objetivo primeiro se configurava na reduo de cus- tos a qualquer preo. Era comum se fazer uso de trabalhadores com pouca qualificao como uma forma de se adequar ao valor acertado pelo prestador e tomadora, sendo que o pessoal da empresa prestadora se satisfazia em receber uma remunerao inferior e praticamente sem benefcios. Esta distoro possivelmente foi a geradora de uma viso equivocada sobre o profissional terceirizado, causando impactos no relacionamento dentro das empresas, entre o colaborador do tomador e o do terceirizado (BARROS, 2002). O colaborador do prestador de servio tem necessidades iguais aos que trabalham para a tomadora. Assim, no se justifica que se tenham dois pesos e duas medidas para o tratamento dado. Muitas vezes, o pes- soal do terceirizado anseia em se tornar um contratado do tomador, pois se sente uma pessoa desqualificada. Dentro do seu pensamento, esta seria a maneira de conquistar um tratamento igualitrio. Assim, se faz premente humanizar o trabalho terceirizado. Todos precisam se sentir parte integrante e fundamental do processo produtivo. A terceirizao como uma modernizao de negcios Muitos so os defensores da terceirizao como uma prtica que se estabelece com o propsito de ofertar maior qualidade, dinamicidade, flexibilidade e rearranjo dos custos para as empresas tomadoras de servio. Mas como toda ferramenta que inserida no contexto organi- estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 26 | Terceirizao | |29| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |28 so repassadas, conseguindo a agilidade e expertise necessrias para entrar no mercado global. Neste sentido, se estabelece o que Kanter (1996) denomina como estratgia de cooperao: parcerias efetivadas entre fornecedores e clientes, participando de redes que dem s pequenas e mdias empresas acesso aos melhores recursos. Toda esta movimentao ocorre no intuito de que os parceiros consigam se esta- belecer neste mundo competitivo. Dentro do contexto do ano de 2003, o The Outsourcing Institute verificou quais os processos mais comumente terceirizados pelos entrevistados conforme grfico 5. J no ano de 1992, Queiroz comunicava que a tendncia mundialdo processo de terceirizao estava em enfocar as parcerias, re- dimensionando as estruturas da organizao de forma que essas ten- dam a se desverticalizar para tentar conquistar maior mobilidade com- petitiva, suscitando a criao de associaes, alianas estratgicas, condomnios. As empresas devem se unir no sentido de conquistar novos empreendedores, sejam estes seus colaboradores internos ou seus parceiros externos. comum que algumas empresas, ao optarem em terceirizar deter- minada rea, dem oportunidade para que seus colaboradores, por meio da abertura de um novo empreendimento, iniciem a passagem para se tornarem empreendedores. Aqueles que conseguem aproveitar tal oferta conquistam novas perspectivas de carreira, possibilitam ao menos a manuteno dos seus ganhos, e normalmente conseguem perceber que, por meio deste processo possvel o surgimento de um empresrio que obtenha de fato o crescimento de seus ganhos, que at ento se apresentavam fixos e, geralmente, sem uma real perspectiva de aumento (QUEIROZ, 1992). Surge o entendimento que somente por meio destes protagonistas possvel a conquista de uma nova construo da economia. Para Nasbitt (1999, p.5), o empreendedor fundamental na construo da economia global. Para ele, quanto maior a economia global, mais poderosos se tornam os protagonistas menores. Ao se perceber a tercei- rizao como a transferncia de atividades para empresas menores, se consegue verificar que as empresas maiores "esto descentralizando e reconstituindo a si mesmas como redes de empreendedores". Cabe empresa perceber que no existe a necessidade de ter unidades em todos os locais, mas sim estar presente comercialmente por meio de sua rede de relacionamentos. Assim, uma das tendncias da terceirizao est em delegar a terceiros atividades que ainda no Tendncias da terceirizao 8% 9 % 11% 1% 1% 17% 19 % 20% 3% 52% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Vendas/Marketing Transporte Contatos/call center Produo Financeiro Propriedade de instalaões reais Distribuio Recursos Humanos Administrao Tecnologia da informao GRçFICO 5: O QUE TEM SIDO TERCEIRIZADO Fonte: The Outsourcing Institute, 2003.* Pesquisa feita com respostas mltiplas estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 28 | Terceirizao | |31| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |30 que compe o ranking daqueles que oferecem melhor possibilidade de suporte operacional; o Brasil aparece na sexta posio entre Filipinas e Canad. Existe previso de que at o ano de 2015, "os Estados Unidos tero exportado 3,3 milhes de empregos, pagando no exterior cerca de US$ 316 bilhes, em substituio a um trabalho que poderia ser realizado no prprio pas, mas a um custo de aproximadamente US$ 800 bilhes!". Assim se institui o que Pastore (2003) preconiza como o vo dos empregos, pois se faz a opo em terceirizar com prestadores de servios em outros pases, sendo que a empresa no muda de local. " a migrao do trabalho e o estacionamento do capi- tal". Esta tendncia somente poder ser absorvida por pases que inves- tirem na educao, na capacitao de profissionais, que trabalharem com leis trabalhistas flexveis e salrios mais baixos. Na concepo deste autor, esta uma frmula imbatvel. Desenvolvendo parcerias com a terceirizao O sucesso de um processo de terceirizao diferenciado est atrela- do diretamente capacidade de criar e manter parcerias saudveis entre contratantes e contratados. Para tal, necessrio constituir uma relao amistosa, harmoniosa, baseada na confiana mtua e que con- siga estabelecer certa cumplicidade entre os parceiros. preciso, De acordo com a pesquisa, 52% das empresas terceirizam seu setor de Tecnologia da Informao - TI, e 36%, a administrao, principal- mente gesto e manuteno em TI; 20% confiam as suas questes de recursos humanos para terceiros; a distribuio dos produtos obteve 19%. Os processos menos terceirizados esto concentrados na rea de vendas/marketing: apenas 8% dos entrevistados terceirizam estes processos. Assim, possvel perceber que as empresas tendem a se concentrar em suas atividades essenciais, ou seja, dirigir seus esforos para seu foco, re-definindo seus objetivos. Esta perspectiva as leva a se especializa-r em suas vocaes, passando a outras empresas atividades possveis de serem transferidas, como j enfatizado. Pastore (2003) faz esse anncio Ñ "o mundo est assistindo ao mais revolucionrio processo de terceirizao" Ñ, ao registrar a inter- nacionalizao da terceirizao como uma forte tendncia. Os pases do primeiro mundo esto repassando servios, que podem ser consi- derados de elevada especialidade para profissionais em pases que, apesar de serem considerados em desenvolvimento, conseguiram for- mar especialistas que atendem s suas necessidades.J se tem registro de que alguns hospitais americanos fazem uso de radiologistas na êndia para efetuarem o laudo mdico. Os casos de offshoring, que vem a ser a terceirizao de processos de negcios no exterior, que Pastore denomina como internacionaliza- o da terceirizao, tem precedentes no setor industrial e no de TI. Segundo estudos realizados por especialistas da Wharton University e da empresa de consultoria A. T. Kearney Consultancy, ambas ameri- canas, existe um grupo de pases que atraem grandes empresas para a terceirizao por meio de offshoring, conforme quadro 1. Os critrios que qualificam estes pases esto divididos em quatro categorias, de pesos variados: custo, habilidade, disponibilidade de pessoal e ambiente de negcios. A êndia lidera o grupo de onze pases Fonte: Wharton University, 2004. Posio PAêS 1¼ êndia 2¼ Malsia 3¼ Repblica Tcheca 4¼ Cingapura 5¼ Filipinas 6¼ Brasil Posio PAêS 7¼ Canad 8¼ Chile 9¼ Polnia 10¼ Hungria 11¼ Nova Zelndia QUADRO 1: RANKING DE ATRATIVIDADE DE LOCALIZAÍES NO EXTERIOR estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 30 | Terceirizao | |33| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |32 interno, pois deve-se ter claro que mudanas existiro na relao sindi- cato/empresa ao se adotar o processo de terceirizao. Os sindicatos e os empresrios devem compreender que juntos tm uma misso rele- vante para o bom andamento dos trabalhos. Um aspecto que no pode deixar de ser identificado concerne na cultura da empresa terceira. Faz- se necessrio reconhecer "se a cultura do prestador de servio com- patvel com a da tomadora", pois se esta se apresentar com um alto grau de disparidade poder vir a contribuir para o insucesso na relao de parceria que se pretende constituir (LEIRIA, 1992a). Da parte das empresas prestadoras de servios, Leiria (1992a) suge- re que apesar do processo de terceirizao se apresentar como uma maneira de obter e ampliar o seu mercado de atuao, deve-se ter claro a dificuldade em atender algumas empresas do mercado em funo da velocidade inerente manuteno da competitividade. Assim, estas devem se preocupar em demonstrar a sua capacidade tcnica para atender as necessidades do tomador; apresentar para este as vantagens e desvantagens do processo, auxiliando-o em perceber os benefcios que este pode ter ao confiar o servio para a empresa ÔterceiraÕ. Aceitar que dificuldades iniciais iro surgir e essas devem ser trabalhadas no conjunto, demonstrar que por vezes abrir mo de uma atividade pode fazer com que a empresa tenha a possibilidade de vir a conquistar maior especializao no seu foco de mercado. Os dois lados da relao de um processo de terceirizao devem trabalhar em conjunto no sentido de criar a demanda na comunidade, pois assim o processo pode incentivar a criao de novas empresas que podero contribuir para o desenvolvimento econmico-social daquela localidade, alm de possibilitar a concorrncia entre os terceiros, fazendo surgir novas empresas que ofeream o mesmo servio, aumen- tando a especializao da oferta e evitando a armadilha de empresas de servios exclusivas, assim como no se ter a necessidade de importar ainda, ter conscincia de que esta relao deve ser ajustada constante- mente, haja vista o cenrio externo que se apresenta em constante mudana. praticamente invivel dissociar terceirizao de parceria, por mais que se consiga o contrrio. Ou seja, pode existir parceria sem necessariamente ocorrer algum processo de terceirizao, mas dificil- mente se consegue xito em terceirizar se no houver parcerias con- sistentes. Para que se estabeleam parcerias vantajosas para os dois lados Ð tomadores de produtos/servios e fornecedores de produtos/servios Ð alguns aspectos devem ser percebidos e analisados, como forma de proporcionar que respeito e companheirismo se constituam em ele- mentos na convivncia dos envolvidos. Da parte dos tomadores de servios, necessrio ÔvenderÕ a idia para a sua clientela interna, que dever estar consciente da importncia em se trabalhar dentro do processo de terceirizao. Esta se constitui em uma forma adequada de diminuir as resistncias localizadas, que podero surgir em face da no compreenso do que efetivamente est se propondo. Outro aspecto re- levante que as experincias anteriores sejam tomadas como base de comparao. Se essas tiverem se apresentado positivamente, servem como reforo. Mas, se por ventura o resultado anterior no tiver alcanado as expectativas, importante apresentar as alteraes que se efetivaram na tentativa de que a nova experincia venha a trazer as conseqncias almejadas. Fator que se apresenta interessante buscar experincias comparativas em outras empresas, do mesmo setor ou no; e consultar assessorias que podem apresentar experincias simi- lares (LEIRIA, 1992a; SILVA, 1997). Deve-se estruturar um rgo de assessoria e de gesto de maneira a contribuir no fornecimento de informaes e na administrao dos riscos que eventualmente podero surgir. No se deve deixar de arti- cular o relacionamento pr-ativo com o sindicato e com o pblico estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 32 a finalidade primeira consiste em satisfazer seu cliente e conseguir conquistar novos consumidores. Que fique evidente para o prestador que a busca pela melhoria contnua do processo condio capital. necessrio que o prestador tenha claro que existe a necessidade constante por parte do tomador em observar e avaliar procedimentos e assim ambos podero trabalhar em conjunto para sanar eventuais pro- blemas assim que estes se apresentem. Indica-se inclusive que sejam elaborados indicadores de avaliao que sejam reconhecidos pelos dois lados como efetivos e objetivos, facilitando, assim, o acompa- nhamento do processo, e proporcionando maior segurana ao presta- dor, que tem como se balizar para saber se suas atividades esto sain- do a contento. O objetivo de um conjunto de indicadores verificar a qualidade e a eficcia do servio que foi acordado entre as partes (BARROS, 2002). Por parte do prestador, imprescindvel que se apresente efetiva- mente como um especialista no servio ou produto que est ofertando, | Terceirizao | |35| | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |34 servios/produtos de outra regio. Desta forma, possvel aventar que a terceirizao consegue estabelecer um ciclo virtuoso (FONTANEL- LA et al, 1994). possvel garantir a qualidade na terceirizao? Sim, desde que as partes estejam imbudas em conquistar uma relao de parceria slida e calcada em preceitos que se apresentem harmoniosos e salutares para ambos. Desde que o jogo do ganha-ganha seja estabelecido j no prembulo das tratativas do planejamento do processo. Que as partes se respeitem mutuamente estando sempre pre- ocupadas em lapidar constantemente a relao no sentido de que os objetivos comuns traados sejam alcanados. Por meio da pesquisa aplicada por Giosa em 1992 e reaplicada em 2005, foi possvel verificar os nveis de satisfao obtidos com a ter- ceirizao, evidenciados no grfico 6. Ao se comparar os dados da pesquisa de 1992 com a de 2005, 70% das empresas consideraram que os resultados obtidos com a tercei- rizao foram satisfatrios, em ambos os perodos. Em 1992, 10% das empresas consideraram que os resultados foram insatisfatrios; j em 2005, fica evidente a reduo no percentual de empresas que ficaram insatisfeitas com o processo, somente cerca de 4% delas. de se supor que aps praticamente treze anos, as empresas tenham aprimorado seus procedimentos ao fazer a opo em utilizar o processo de terceirizar e, assim, conquistado mais sucesso no esta- belecimento das parcerias. Para facilitar a conquista desta relao ideal, faz-se necessria uma seleo criteriosa para encontrar osfuturos parceiros. Ouvir os parti- cipantes diretamente envolvidos no processo outro ponto que pode vir a garantir a qualidade na terceirizao, j que geralmente con- seguem dar contribuies valiosas. Cabe ao tomador deixar claro que 70% 10% 20% 70% 4% 2% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% a t i s f a t r i o s a r c i a l m e n t e a t i s f a t r i o s n s a t i s f a t r i o s 19 9 2 2005 GRçFICO 6: QUANTO AOS RESULTADOS OBTIDOS Fonte: Giosa (2003); Cenam (2006).* Pesquisa feita com respostas mltiplas estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 34 trao pblica no Brasil, consiste em se defrontar com o princpio da legalidade onde o administrador pblico somente pode fazer o permi- tido em lei. Essa preconiza que toda compra de bens ou servios no setor pblico deve se dar por meio de licitao pblica, basicamente na forma das Leis 8.666/93 e 9.854/99, sendo assegurado a todos os par- ticipantes igualdade de condies. Na viso de Martins (2005), a exigncia da concorrncia pblica pode se apresentar como fator inibidor da corrupo na contratao. J possvel verificar a terceirizao da coleta de lixo, do transporte pblico, da medio do consumo de gua, e de energia eltrica, na dis- tribuio das contas dessas. Verifica-se inclusive a terceirizao de fro- tas de veculos, a contratao do servio de rdio-taxi, ambos no sen- tido de evitar a imobilizao do dinheiro pblico na aquisio de automveis e na manuteno da frota. Nos EUA, j existe a terceiriza- o de presdios, tendo-se registro de estudos no Brasil para que esta prtica seja instituda. No entendimento de Martins (2005), o que se deve perceber que, quando o Estado faz a opo em terceirizar ,a tentativa a de se reduzir a burocracia estatal, se dedicando a desenvolver com maior afinco e presteza as atividades fundamentais, transferindo assim atividades passveis de serem exercidas por terceiros, que normalmente oferecem mais eficincia. Mas este mesmo autor informa que a Administrao Pblica no pode terceirizar os servios da justia, segurana pblica, fiscalizao e diplomacia, dentre outros. Todos aqueles que se apre- sentarem como caractersticos ao servio pblico. Para maiores esclarecimentos a respeito da terceirizao no servio pblico, consultar a Lei n¡ 11.079/04, que institui as Parcerias Pblico/Privada Ð PPP e a Lei n¡ 9.637/78, que define os Contratos de Gesto. | Terceirizao | |37 e que desenvolva o esprito empreendedor, pois somente assim estar apto a participar junto com o tomador na conquista dos resultados. Que conhea detidamente as metas definidas pelo contratante, que esteja sempre vigilante no sentido de que seus colaboradores estejam capaci- tados tcnica e operacionalmente para a execuo de suas atribuies. Terceirizao na administrao pblica Inspirados nos exemplos positivos dos governos dos pases desen- volvidos e no sucesso que algumas empresas privadas alcanaram com o uso da terceirizao para o seu desenvolvimento, a Unio, os Estados e os Municpios passaram a adotar a nova forma de gesto administra- tiva. Mas, vale registrar que esta se deu de maneira dispersa. fato que algumas representaes governamentais j fazem uso do servio de terceiros h bastante tempo para atender na construo de estradas, na coleta de lixo, no transporte pblico, no recolhimento de taxas e impostos, na prestao de servios de sade, dentre outros. A sociedade passa a exigir uma nova performance do Estado, de maneira que este se torne mais gil e eficaz. Desta forma, a terceiriza- o para o Estado representa a inteno deste em se concentrar em suas atividades fundamentais e transferir para empresas privadas as tarefas de suporte. A expectativa estabelecida quando o Estado se libera das atividades de suporte consiste em: agilizar seus servios, pois tende a reduzir a burocracia; liberar recursos financeiros e humanos para se dedicarem com maior presteza s atividades principais; otimizar seus custos administrativo e trabalhistas; tentar reduzir investimentos em estoques, mquinas, equipamentos, dentre outros; promover a gerao de novos empregos, de novas empresas e gerar impostos que iro se reverter em benefcio da comunidade (LEIRIA, 1992a; MARTINS, 2005). Um fato a ser analisado na questo da terceirizao na adminis- | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |36 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 36 soal desnecessariamente (SILVEIRA, 2002). Para Martins (2005, p.21), a quarteirizao pode ser entendida como uma terceirizao gerenciada, pois se contrata uma empresa especializada que fica encarregada de gerenciar as empresas tercei- rizadas que prestam servios para a contratante. Geralmente, a alterna- tiva consiste em contratar "uma empresa completamente distinta das terceirizadas" que seja especialista em administrao ou especializada em determinado ramo de servio. A idia que esta empresa passe a administrar os diversos prestadores de servio da tomadora, no caso de a empresa ter um grande nmero de parceiros terceirizados. Este autor aponta uma vantagem e uma desvantagem com a utilizao da quartei- rizao. A vantagem fica expressa no fato de que a empresa consegue delegar para uma empresa especialista a administrao das tercei- rizadas, e a desvantagem se apresenta no custo de contratao desta outra empresa. Saratt et al (2000) apresentam outras vantagens possveis de se conquistar com a quarteirizao: proporciona a eliminao da estrutu- ra interna necessria para se administrar os contratos e o relaciona- mento com os terceirizados; permite que um gestor externo consiga atuar como um analista de cenrio, que acompanha a evoluo dos acontecimentos do mercado possibilitando que se faam correes ou se implementem aes, ao passo que um gestor interno pode no ter esta viso ampliada por estar centrado no mundo intrnseco da orga- nizao; possibilita que o gestor externo consiga executar negocia- es tendo o objetivo primeiro de angariar vantagens para a empresa contratante, evitando assim que os executivos da empresa tenham des- gastes desnecessrios nessas negociaes; cria a possibilidade da implementao de uma poltica de acompanhamento no sentido de conquistar a melhoria contnua necessria para o sucesso no desem- penho organizacional. | Terceirizao | |39 Quarteirizao Quarteirizar consiste em entregar a um terceiro a gesto das relaes com outros terceiros. Saratt et al (2000, p.11) definem como: "espcie do gnero terceirizao que consiste na delegao a um ter- ceiro especialista da gesto da administrao das relaes com os demais prestadores de servios". Essa modalidade surgiu da necessi- dade em se aumentar a profissionalizao da cadeia de relacionamen- tos entre as empresas, onde todos devem evoluir e tentar contribuir para a conquista de melhores resultados. A quarteirizao surge com fora a partir do momento em que as empresas passam a se relacionar com parceiros que assumem, alm da execuo do servio, as respon- sabilidade e a gesto inerentes a estes compromissados com os resul- tados dos negcios. Ou seja, com a ampliao do leque de possibili- dades de troca, fica difcil a empresa tomadora se constituir em uma tima acompanhadora dos servios de seus prestadores, mesmo porque no esse seu core business; ento optam por contratar novos par- ceiros que se apresentem como mais eficazes na relao com seus outros terceiros. Esta uma prtica mais presente em empresas maiores, que cos- tumam ter uma demanda mais intensiva na contratao de parceiros para a execuo das atividades e deparam com a difcil tarefa de se estruturar internamente para a gesto de diversos terceiros. Essa necessidade costuma aumentar o custo de terceirizao, tendendo a dificultara evoluo do processo. O objetivo da quarteirizao con- siste em administrar a relao e no apenas o contrato; em adminis- trar o risco econmico, e no somente o jurdico, tentando assim evi- tar o fracasso dos processos de terceirizao que tendem a findar devido ineficincia da gesto. Alm de proporcionar empresa contratante o monitoramento do desempenho dos parceiros de maneira precisa, porm sem exigir investimento de tempo e de pes- | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |38 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 38 lizados para atender s necessidades empresariais. O trabalho tem- porrio ainda pode proporcionar, para uma parte da populao que por algum motivo se encontra distante da conquista de um emprego fixo, a oportunidade de trabalhar perfazendo uma remunerao que possibili- tar que esses se sintam ativos e que possam atender ao menos suas necessidades bsicas primrias. No caso do Brasil, a lei sobre trabalho temporrio surgiu exata- mente com o intuito de auxiliar essas pessoas que tm certas particu- laridades, e alguma dificuldade em conseguir trabalho remunerado. Como o caso de estudantes que no dispem de tempo integral para assumir um emprego regular; para jovens em idade de prestar contas com o servio militar que tm dificuldades em arrumar um trabalho, j que as empresas contratantes sabem que quando o seu colaborador necessita se afastar em virtude das exigncias do servio militar ou de outro encargo pblico, ele no poder fazer qualquer alterao ou at mesmo resciso do contrato de trabalho; para donas de casa que no podem deixar de atender seus encargos domsticos, mas necessitam de uma remunerao; e at mesmo auxiliar aos aposentados que tm necessidade de renda complementar, mas no querem assumir uma nova rotina de trabalho, o qual j tiveram por mais de 25 anos (MAR- TINS, 2005). A empresa que faz uso do trabalho temporrio tem a condio de dispor de mo-de-obra extraordinria na quantidade adequada para atender a elevao do volume de trabalho. possvel falar na otimiza- o da produtividade, pois sempre nos casos excepcionais, como frias, doenas, licenas, dentre outros, esta poder contar com o auxlio rpido e eficaz de prestadores de servio temporrio. Tambm possvel efetivar colaboradores temporrios que tenham demonstra- do timo desempenho, sem custos adicionais, bastando somente infor- mar empresa prestadora de servio temporrio para que as providn- | Terceirizao | |41 E, assim como ocorre quando se faz a opo em terceirizar, quando se opta por quarteirizar necessrio monitorar o gestor dos contratos. No significa que no se v monitorar os servios. Este cuidado cons- tante e cauteloso poder viabilizar o sucesso na relao. Reunies pe- ridicas devem ser estipuladas de forma que se acompanhem siste- maticamente os procedimentos adotados. O descontrole poder oca- sionar no somente o insucesso na quarteirizao como poder estar fortemente atrelado ao insucesso de todo o processo da terceirizao. Empresas de trabalho temporrio Leiria (1992a, p.31) alerta para o fato de que no se deve confundir contratao temporria com terceirizao. A primeira, no Brasil, definida "como pessoa natural ou jurdica urbana, cuja atividade fornecer a outras empresas fora de trabalho em carter temporrio". Para maiores esclarecimentos, se faz necessria uma leitura na Lei n¼ 6.019/74 que regula o trabalho temporrio e que autoriza estas empre- sas a oferecer profissionais das mais diversas especialidades, com o objetivo de atender, em situaes emergenciais, s necessidades das empresas solicitantes, e sempre em carter temporrio de no mximo noventa dias. As prestadoras de servios, que se apresentam como ter- ceirizadas, no colocam uma equipe de trabalho disposio de outros, mas sim dirigem a execuo dos servios contratados, assumindo o compromisso formal de executar as atividades previamente determi- nadas, dentro dos prazos e das metas estabelecidas. Na viso de Drucker (2002), as agncias de trabalho temporrio desempenham uma funo vital, tanto para os colaboradores, quanto para a empresa que necessita da prestao do servio. Essas empresas alcanam as expectativas dos seus contratantes, pois conseguem geren- ciar, colocar e satisfazer tanto aos trabalhadores quanto aos tomadores. Inclusive podendo oferecer talentos altamente capacitados e especia- | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |40 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 40 queador, teoricamente, abre mo da obteno dos lucros que poderia ter sozinho, caso fosse o proprietrio de todas as unidades de varejo. Em contrapartida, este passa a permitir a ampliao de seu negcio, pois o objetivo principal desta ligao entre pares aumentar as ven- das e os negcios da rede. Assim, possvel observar que este sistema tende a proporcionar o estabelecimento de relaes saudveis onde o jogo do ganha-ganha se faz importante e necessrio (GUIA DO FRANCHISING, 2006). Este o caso do Boticrio no Brasil. A empresa fundada em 1977 como uma pequena farmcia de manipulao, e que aps adotar o sis- tema de franquia no parou mais de crescer. Em 1999, eram 1.593 lojas no pas e 74 no exterior; atualmente, so aproximadamente 2.300 fran- quias. O Boticrio foi uma das primeiras empresas no Pas a utilizar o franchising. Segundo a direo da empresa, o sistema permitiu alavan- car o crescimento utilizando o investimento de terceiros, que querem montar o prprio negcio. O sistema se apresenta vantajoso, pois enquanto no mercado tradicional o ndice de mortalidade de empresas chega a 70%, no sistema de franchising no ultrapassa 4%. Alm do mais, o pequeno e mdio investidor encontra um suporte mercadolgi- co que dificilmente conseguiria montando o prprio negcio. Em 2001, o Boticrio recebeu o Selo Qualidade da Associao Brasileira de Franchising Ð ABF, em reconhecimento excelncia administrati- va no relacionamento com a rede de franquias (O BOTICçRIO, 2006). Algumas so as vantagens auferidas com a adoo de um contrato de franquia. No que tange ao franqueador, este consegue expandir seu campo de vendas, sem despesas adicionais; j o franqueado passa a comercializar um produto ou servio, de certa forma j aprovado no mercado. E os dois lados conquistam vantagens que podem ser expres- sas pelo fato de que se conjugam esforos no sentido de fazer com que o negcio consiga efetivo sucesso. O objeto da franquia Ð que se esta- | Terceirizao | |43 cias sejam efetuadas (WIEGERINCK, 2006). O franchising se apresenta como uma forma de terceirizao O franchising um sistema de parceria empresarial no qual uma empresa franqueadora vende o conhecimento de operao de seu neg- cio a terceiros. Ele pode ser percebido como um mtodo onde a empre- sa distribui e comercializa seus produtos e/ou servios, sendo que estes, comprovadamente, demonstram ter uma boa aceitao no mer- cado. A franquia concede ao franqueado o direito de uso e comercia- lizao da marca. Esta forma de terceirizao teve seu incio por volta de 1860, por meio da empresa Singer Machine Company, que passou a confiar em pequenos comerciantes para que esses comercializassem seus produ- tos. Os franqueados se caracterizavam por ser independentes, mas vendiam produtos daquela marca, seguindo alguns padres previa- mente definidos pela empresa. A partir da Segunda Guerra Mundial, este mtodo de parceria voltou a ser utilizada visando promover novas frentes de trabalho. No Brasil, esta prtica surgiu na distribuio de filmes cinematogrficos das grandes empresas norte-americanas; o sis- tema de franchising no Brasil tratado atravs da Lei n¼ 8.955/94, e este pode ser denominado tanto franchising como franquia (MAR- TINS, 2005). O franchising se apresenta como uma maneira de terceirizar,pois procura distribuir a comercializao ou os servios por intermdio de uma terceira empresa. A franquia vem se apresentando importante tanto para a iniciativa privada como para a pblica. No Brasil, pode ser citado o caso dos Correios, que passaram a fazer uso de franchising para conseguir expandir suas unidades de atendimento com menor custo (MARTINS, 2005). Ao se buscar parceiros por meio do sistema de franchising, o fran- | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |42 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 42 aspectos ainda a diferenciam, mas esses so mais especficos na questo de constituio da cooperativa, na diviso de cotas, na con- tagem de votos. Para maiores esclarecimentos, seria interessante fazer consulta s Leis n¼ 5.764/71, 7.231/84 e 8.949/94, que tratam com maior especificidade dessas questes (MARTINS, 2005; CICOPA, 2006, SARATT; MORAES, 1997; MORAES et al, 2003). Em 1994, a Organizao das Cooperativas do Brasil Ð OCB conta- va com apenas 156 cooperativas de trabalho filiadas; em 1997, esse nmero j era da ordem de 737 e em 2004, essas eram em nmero de 1.894, oportunizando trabalho para 346.100 cooperados e 4.154 cola- | Terceirizao | |45 belece por meio de um contrato bilateral, consensual, oneroso, de durao que pode ser determinada ou no Ð a comercializao de produtos ou servios e o uso da marca, com assistncia tcnica e at mesmo financeira, para a venda dos produtos, mercadorias, e para a prestao de servios. O contrato pode ainda conter clusulas de trans- ferncia de tecnologia ou licena de uso de sistema ou mtodo, alm do compromisso de fornecimento do franqueador para o franqueado, dos bens/servios (MARTINS, 2005). As cooperativas de trabalho A partir dos anos 90, h o registro de um intenso movimento na constituio de cooperativas, principalmente as institudas como de trabalho. Na tabela 1, que traz nmeros do cooperativismo no Brasil por ramo de atividade no ano de 2004, possvel perceber que as cooperativas de trabalho representam cerca de 25% do total das coope- rativas em funcionamento naquele ano, o que demonstra a importncia dessas dentro do cenrio nacional. No entender de Moraes et al (2003), essa movimentao se justificou, pois os empresrios, com a necessi- dade constante de ganhar competitividade no mercado, perceberam que as cooperativas se apresentavam como uma opo favorvel ao processo de terceirizao, pois essas proporcionam vantagens se com- paradas s empresas mercantis. As principais caractersticas que diferenciam as cooperativas das demais sociedades seriam: a adeso voluntria, com nmero ilimita- do de associados; todos so scios e assim tm participao igualitria; deve existir autonomia e independncia; neutralidade poltica; no se discrimina por religio, raa ou condio social; deve fornecer auxlio aos associados. O trabalho em uma cooperativa est a cargo de seus scios, o que implica dizer que a maioria dos trabalhadores de uma cooperativa de trabalho so scios-trabalhadores e vice-versa. Outros | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |44 TABELA 1: NòMEROS DO COOPERATIVISMO POR RAMO DE ATIVIDADE NO BRASIL 2004 Ramo de Atividade Cooperativas Associados Empregados Agropecurio 1.398 865.173 116.919 Consumo 144 1.820.531 7.463 Crdito 1.068 1.890.713 26.068 Educacional 311 66.569 2.827 Especial 9 326 Habitacional 356 128.940 1.126 Infra-estrutura 171 585.857 5.299 Mineral 37 48.846 27 Produo 136 25.490 373 Sade 883 326.579 28.249 Trabalho 1.894 346.100 4.154 Transporte 715 52.793 2.590 Turismo e Lazer 14 1.741 5 Total 7.136 6.159.658 195.100 Fonte: Sistema de Informaes Ð OCB, 2006. estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 44 cooperativa, nem tampouco com a tomadora de servios, assim reduzin- do o risco de ser determinada uma situao que poderia onerar e deses- tabilizar a relao de cooperao (SILVEIRA, 2002). Em 2005, foi concebido um Projeto de Lei de n¼ 6.449/05 na tenta- tiva de coibir que continuassem a surgir cooperativas fraudulentas, e definindo efetivamente o que vem a ser ato cooperativo. Portanto, s poder ser considerada uma cooperativa aquela em que as diretrizes so pautadas em base ao estatuto e pelas assemblias; os scios assumem a responsabilidade pela gesto e pela organizao do trabalho para todos os associados, sem existir interveno ou dependncia externa. O asso- ciado participa tanto da gesto quanto o executor das atividades labo- rais. O Projeto de Lei visa explicitar a diferena entre trabalho subordi- nado; trabalho do empresrio; trabalhador por conta prpria ou autnomo e scio da cooperativa, de maneira a evitar que o Ministrio do Trabalho continue multando as cooperativas pela CLT, quando estas constituem outra forma de trabalho (BARELLI, 2006). O uso de cooperativas est sendo bastante utilizado na tentativa de evitar ou ao menos minimizar o desemprego, tentando proporcionar trabalho para as pessoas. Ela se caracteriza como uma forma de tercei- rizao, pois geralmente serve para atender a uma ou vrias empresas que necessitem dos bens ou servios que so ofertados por essas. Qualquer atividade pode ser realizada por meio das cooperativas, inclusive as desempenhadas por profissionais liberais das mais diver- sificadas reas. No cabe, porm, a uma cooperativa ser intermediado- ra ou agenciadora de trabalho, ofertando para alguma empresa presta- dores de servio em carter permanente. Os cooperados no podem trabalhar em subordinao a qualquer empresa, eles devem ter total autonomia (MARTINS, 2005). Um empresrio no pode dispensar algumas pessoas de seu quadro efetivo, e depois contrat-los por meio de uma cooperativa; a relao de | Terceirizao | |47 boradores registrados (OCB, 2006). Para Moraes et al (2003), os nmeros apresentados acima se demonstram pequenos se comparados com a fora das cooperativas em outros pases, como por exemplo, os Estados Unidos, onde 11% da fora de trabalho esto diretamente rela- cionadas s cooperativas. No Japo e na Espanha, esse percentual de 14% e 18%, respectivamente. No Brasil, no ano de 2004, essas repre- sentavam um faturamento estimado de R$ 60 bilhes, correspondendo a 6% do PIB nacional. Silveira et al (2002, p.66), definem uma cooperativa de trabalho como: "uma associao entre pessoas que se obrigam reciprocamente a contribuir com seus servios, ou seja, ela aposta no capital humano". Para estes autores, uma cooperativa se caracteriza por no visar lucro, e o resultado do trabalho ser dividido entre os seus cooperados; e ainda, por ser uma sociedade democrtica, onde cada associado autnomo, no mantendo vnculo empregatcio com a cooperativa, nem com o tomador de seu trabalho. De acordo com a Organizao Internacional do Trabalho Ð OIT (apud CICOPA, 2006), uma cooperativa uma associao de pessoas autnomas que se unem de maneira voluntria para satisfazer suas aspiraes e necessidades econmicas, sociais e culturais em comum mediante a constituio de uma associao de propriedade conjunta e que tem uma gesto democrtica. Na Constituio Federal do Brasil, de 1988, no pargrafo 2¼ do art. 174, ficou estabelecido o apoio do Estado ao cooperativismo: "A lei apoiar e estimular o cooperativismo e outras formas de associativis- mo", mas no se desvincula o fato de que as cooperativas devem estar ligadas a entidades regionais ou nacionais. Porm, foi a partir da publi- cao da Lei 8.949/94 que as cooperativas de trabalho tiveram impulso e passaram a conquistar espao significativo no mercado, pois esta lei determina que os cooperados no tm vnculo empregatcio nem com a | | Coletnea Gelre Ð Srie Estudos do Trabalho |46 estudos_gelre_agosto06 8/22/06 3:36 PM Page 46 existir a previso de exclusividade, pois, pela legislao, as cooperati- vas devem ser
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