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Direito Penal - Parte Geral- Iter criminis

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ITER CRIMINIS
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C A P Í T U L O 4
ITER CRIMINIS
 \ LEIA A LEI:
 ͳ arts. 14, 15, 16 e 17 do Código Penal.
 ͳ art. 4° do Dec.-Lei 3.688/41
1. NOÇÕES PRELIMINARES Alguns institutos complementam o fato típico e são capazes, inclu-sive, de afastar a tipicidade da conduta. São eles: a tentativa, a desistên-
cia	voluntária,	o	arrependimento	eficaz,	o	arrependimento	posterior	e,	
por	fim,	o	crime	impossível.Para compreendê-los, é preciso estudar antes o iter criminis ou 
percurso do crime.
2. FASES DO CRIME
A) Cogitação: a cogitação é a fase interna, momento em que o su-
jeito	ainda	está	planejando	o	crime.	Alguns	autores	dividem	a	cogitação em três etapas: idealização, deliberação e resolução. Em nenhuma hipótese a mera cogitação poderá ser punida, 
pois	isto	seria	ferir	o	Princípio	da	Lesividade,	 já	estudado	em	capítulo próprio.
B) Preparação: os atos de preparação são o momento em que o 
agente	identifica	e	obtém	as	ferramentas	necessárias	à	prática	
do	delito.	Por	si	só,	os	atos	preparatórios	 jamais	poderão	ser	criminalizados, salvo expressa previsão legal, como ocorre com os delitos de Associação Criminosa (art. 288, CP) e de Petrechos 
para	Falsificação	de	Moeda	(art.	291,	CP).	Em	ambos	os	casos,	o simples fato de associar-se para o cometimento de crimes ou 
de	possuir	instrumentos	para	a	falsificação	de	moeda	é	punido,	ainda que os delitos preparados não cheguem a ser praticados. 
C) Execução: nos atos executórios, efetivamente se inicia a prática 
do	delito,	ou	seja,	a	prática	da	conduta	descrita	no	tipo	penal.
D) Consumação: o crime consumado é aquele que reúne todos os 
elementos	da	definição	típica	(art.	14,	I,	CP).
Livro 1.indb 91 28/05/2014 16:44:13
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FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃO
E) Exaurimento: há situações nas quais determinada conduta re-presenta não mais a execução da conduta prevista no tipo pe-nal, mas seu exaurimento, que é o excesso de conduta. O exau-rimento se localiza após a consumação do delito, como ocorre com a entrega da vantagem indevida no crime de extorsão me-diante sequestro, por exemplo. 
 \ ATENÇÃO
Parte da doutrina entende que o exaurimento não integra o iter criminis.
2.1 ATOS PREPARATÓRIOS X ATOS EXECUTÓRIOS 
Um	dos	temas	mais	tormentosos	do	Direito	Penal	é	a	identificação	dos atos preparatórios e executórios. Há casos em que restam claros os referidos atos, mas há situações nas quais o liame é deveras tênue. Neste sentido, algumas teorias buscam esclarecer a matéria e, sem que 
haja	unanimidade	na	doutrina.
Teoria Subjetiva Teoria Objetivo-formal
A	execução	se	inicia	quando	o	sujei-
to	 já	 exteriorizou	 a	 vontade	 de	 co-
meter	a	conduta.	É	subjetiva	porque	analisa, tão somente, o agente da conduta delituosa, satisfazendo-se com a exteriorização do seu animus.
O começo da execução se dá com o início da realização do núcleo do 
tipo,	 ou	 seja,	 o	 verbo	penal	 (ex:	 no	crime de furto, o início da conduta de "subtrair").
Teoria Objetivo-material Teoria da Hostilidade ao Bem JurídicoPara o início da execução não basta começar a realizar núcleo do tipo, sendo necessário ir além, de modo a 
provocar	a	exposição	do	bem	jurídi-co a perigo de lesão.
A execução começa quando o bem 
jurídico	for	efetivamente	agredido.
Embora	 a	 teoria	 da	 hostilidade	 ao	 bem	 jurídico	 seja	muito	 bem	quista no Brasil, para Rogério Greco, nenhuma dessas teorias é capaz de estabelecer com precisão o que são atos preparatórios e executórios, 
devendo,	portanto,	ser	analisado	cada	caso	concreto.	O	que	é	unânime,	todavia, é que, restando dúvida, o caso será decidido em favor do réu. 
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ITER CRIMINIS
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3. TENTATIVAOcorre a tentativa ou conatus quando o delito não se consuma por 
circunstâncias	alheias	à	vontade	do	agente.	Prevista	no	art.	14,	 II,	CP,	a tentativa é verdadeira norma de extensão, conduzindo à adequação típica mediata. Confrontando a tentativa com as fases do crime, percebe-se que ela inicia a fase da execução (fase C, acima), porém não alcança a consuma-
ção	(fase	D),	sempre	por	circunstâncias	que	fogem	à	vontade	do	sujeito.
3.1 Teorias acerca da punibilidade da tentativa 
A) Teoria Subjetiva
Preocupada	tão	somente	com	a	intenção	do	agente,	a	teoria	subje-
tiva	defende	que	o	sujeito	do	crime	tentado	deve	ser	punido	na	mesma	proporção do crime consumado. 
B) Teoria objetivaAcolhida pelo Código Penal, ensina que a caracterização da tenta-tiva deve compreender uma causa de diminuição de pena. Nesta pers-pectiva, o art. 14, p. único, CP, prevê a redução de 1/3 a 2/3 da pena.
 \ ATENÇÃO
O Código Penal admite exceções em que a modalidade tentada será punida como con-
sumada, a exemplo do crime inserto no art. 352, CP (fuga violenta de preso). Por este 
motivo, é possível falar-se em Teoria Objetiva moderada.
3.2 Aplicação da diminuição de penaA tentativa será punida com a pena correspondente ao crime con-sumado, diminuída de 1/3 a 2/3. O quantum da diminuição será inversamente proporcional à pro-ximidade da consumação. Assim, quanto mais próximo da consumação do crime, menor a diminuição em razão da tentativa.
3.3 Infrações penais que não admitem tentativaNão admitem tentativa:
• contravenções penais, por expressa previsão do art. 4° do Dec.--Lei 3.688/41 - Lei de Contravenções Penais;
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FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃO
• crimes habituais, porque esta espécie de infração pressupõe a reiteração de condutas, sendo um indiferente penal o ato isola-do. Assim, não há como tentar praticar uma conduta habitual - ou ela é habitual ou não é. 
 \ ATENÇÃO
Crime habitual e crime permanente não se confundem. O crime permanente é aquele 
em que a conduta se prolonga no tempo, enquanto o crime habitual se configura com a 
reiteração da conduta. O crime permanente admite tentativa.
• crimes unissubsistentes,	cuja	conduta	é	constituída	de	apenas	um ato, inviabilizando o fracionamento (ex: crime contra honra praticado verbalmente, como a calúnia). Por outro lado, admite-
-se	tentativa	nos	crimes	plurissubsistentes,	aqueles	cuja	conduta	se desdobra em vários atos - sendo a conduta dividida, pode-se estabelecer uma divisão entre atos preparatórios, executórios e exaurimento;
• crimes omissivos próprios,	cuja	definição	típica	já	pressupõe	a omissão, a exemplo do crime de omissão de socorro (art. 135, CP). Por serem crimes unissubsistentes caracterizados por um não fazer, não pode haver tentativa. A tentativa de um não fazer seria um fazer, desnaturando a omissão.
 \ ATENÇÃO
Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão admitem a tentativa.
• crimes culposos,	 já	que	nestes	delitos	o	gente	não	quer	o	 re-sultado, tampouco assume o risco de praticá-lo. Como a tenta-
tiva	representa	a	não	consumação	do	delito	por	circunstâncias	alheias à "vontade" do agente, existe uma incompatibilidade en-tre os dois institutos (tentativa e culpa). 
 \ ATENÇÃO
Excepcionalmente, admite-se tentativa na culpa imprópria, também chamada de culpa 
por extensão ou por assimilação, caracterizada quando há uma conduta dolosa na qual 
houve um erro de tipo. Exemplo: em um local de caça, "A" atira pensando ser um animal, 
mas, em verdade, era uma pessoa, que foi atingida, mas não morreu (tentativa, portan-
to). Neste caso, o agente tinha o dolo de matar o animal que ele pensava estar vendo. 
Tendo em vista o erro de tipo, excluído está o dolo, permitindo-se a caracterização do 
homicídio culposo (na modalidade tentada);
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Crime permanente é aquele crime que a sua consumação se estende no tempo.nullEx: Se um sequestro está em andamento, com a vítima colocada em cativeiro
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Ex: Curandeirismo - Art. 284
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Crime plurissubsistente é o constituído de vários atos, que fazem parte de uma única conduta. Exemplo: roubo (violência ou constrangimento ilegal + subtração) 
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ITER CRIMINIS
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• Crimes praticados com dolo eventual, segundo parte da dou-trina, não admitem tentativa. Entende-se que no dolo eventual o que se faz presente é uma indiferença para com o resultado e não propriamente a vontade de obtê-lo. Ausente a vontade, inviável admitir a tentativa.
 \ POSIÇÃO DO STJ
Em que pese o entendimento doutrinário, o STJ manifesta entendimento pela admissibi-
lidade da tentativa de crimes dolosos eventuais. "Admissível a forma tentada do crime 
cometido com dolo eventual, ja que plenamente equiparado ao dolo direto; inegável que 
arriscar-se conscientemente a produzir um evento equivale tanto quanto querê-lo" (Quin-
ta Turma, RHC 6.797, de 16/02/1998 - ver também REsp 1199947). 
• crime preterdolosos, assim considerados aqueles em que há dolo na conduta e culpa no resultado. Se o resultado é alcançado de forma culposa, é óbvio que não houve a vontade de alcançá-lo; se não há vontade, não há que se falar em tentativa.
3.4 Classificação da tentativa
A	tentativa	poderá	ser	classificada	como:
• branca ou incruenta, caracterizada quando a vítima sequer é atingida;
• vermelha ou cruenta, quando a vítima é atingida, mas o resulta-do pretendido não ocorre;
• perfeita ou crime falho, quando o agente exauriu tudo o que estava ao seu alcance para a consumação do crime, mas ainda as-
sim	não	alcançou	o	resultado	(ex:	todos	os	seis	projéteis	constan-tes do cartucho foram disparados, porém a vítima não morreu);
• imperfeita, quando o agente não consegue exaurir todos os atos que estavam ao seu alcance (ex: no terceiro disparo a arma trava, de modo que o agente não consegue efetuar os outros três disparos).
 \ ATENÇÃO
Chama-se tentativa inidônea o instituto do crime impossível, estudado adiante. 
4. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIAOcorre a desistência voluntária quando o agente desiste voluntaria-mente de prosseguir executando o crime (art. 15, 1ª parte, CP). Trata-se 
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FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃOda hipótese em que o agente abandona de forma voluntária o seu dolo inicial estando ainda na fase de execução do delito.A desistência voluntária não pode ser confundida com a tentativa. Para distinguir os institutos, aplica-se a "fórmula de Frank":
Tentativa Quero prosseguir, mas não posso.
Desistência voluntária Posso prosseguir, mas não quero.
É requisito essencial da desistência a voluntariedade, que não se confunde com espontaneidade. A intenção de desistir pode partir do próprio agente ou de um conselho a ele dirigido e será voluntária; caso fosse exigida espontaneidade, apenas a vontade nascida do agente, sem 
interferência,	seria	admitida.	Em	síntese,	aquilo	que	é	espontâneo	é,	ne-cessariamente, voluntário, mas o inverso não é verdadeiro.
VOLUNTARIEDADE
Espontaneidade
 \ ATENÇÃO
Não se admite a desistência voluntária em caso de coação do agente, ou quando sua 
decisão é de algum modo viciada.
4.1 CONSEQUÊNCIAS DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIAO agente que desiste voluntariamente de prosseguir na execu-ção será punido pelos atos até então praticados. Ao contrário da ten-
tativa,	em	que	o	sujeito	responde	pelo	crime	consumado	com	a	pena	
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diminuída, na desistência voluntária a punição se dará de acordo com 
os	atos	já	realizados	pelo	agente.
Exemplo:"A"	deseja	matar	"B"	e	utiliza	uma	arma	de	fogo	para	tanto.	
Após	o	primeiro	disparo,	a	vítima	cai	ao	chão.	Veja	as	possibilidades	e	consequências.
Tentativa
“A” tenta realizar o disparo fatal, mas é impedido pelo policial, que o atinge e o imo-biliza.
“A” responderá pelo cri-me de homicídio, sendo a pena diminuída de 1/3 a 2/3.
Desistência 
voluntária
"A" se aproxima da vítima, mas desiste de dar o disparo fatal. “A” responderá apenas pela lesão anterior causa-da em "B" 
A	desistência	se	verifica	apenas	quando	o	agente	tem	o	controle	so-
bre	a	situação.	Quando	circunstâncias	alheias	o	impedem	de	continuar	a execução, não se reconhece este instituto, mas sim a tentativa.
Exemplo1:	"A"	deseja	estuprar	"B",	mas	não	consegue	obter	ereção	
naquele	momento	e	"desiste"	de	praticar	o	constrangimento	com	fins	libidinosos.Exemplo2: "Z" pretende furtar bens de um imóvel, porém, após in-gressar na residência, o alarme soa, "desistindo" "Z" de prosseguir no seu intento. 
Ambos	 os	 exemplos	 tratam	 de	 circunstâncias	 alheias	 à	 vontade,	
configurando-se,	portanto,	tentativa	de	estupro	(art.	213,	CP)	e	tentati-va de furto (art. 155, CP).
4.2 NATUREZA JURÍDICA DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
Para	a	doutrina	majoritária,	a	natureza	jurídica	da	desistência	vo-luntária é de causa de atipicidade da conduta, uma vez que a conduta praticada é desnaturada e transformada em outro crime. O dolo inicial do agente é abandonado e, em razão disto, sua punição se dá à luz de ou-tro tipo penal. Dito de outra forma, se o agente quer matar seu desafeto 
e	não	consegue	por	circunstâncias	alheias	à	sua	vontade,	será	punido	
por	tentativa;	se	quer	matar	seu	desafeto,	atinge-o	com	dois	projéteis	e	
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FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃOinterrompe a fase de execução de maneira voluntária, o homicídio será 
desnaturado	e	transformado,	punindo-se	o	agente	apenas	pelos	atos	já	praticados, conforme o caso concreto.
 \ ATENÇÃO
Ainda que o agente desista de prosseguir na execução, caso os atos já praticados tenham 
causado o resultado inicialmente pretendido, a punição se dará conforme seu dolo inicial.
5. ARREPENDIMENTO EFICAZ
O	arrependimento	eficaz	ocorre	quando,	após	exaurir	a	fase	de	exe-cução do crime, o agente atua de maneira voluntária para impedir a consumação do delito e efetivamente consegue que ele não se consume (art. 15, 2ª parte, CP). 
Exemplo:	 "A"	 deseja	matar	 "B"	 por	 atropelamento.	 Ao	 descer	 do	carro e ver "B" ainda vivo, resolve prestar-lhe socorro, conduzindo ao 
hospital	mais	próximo.	 "B"	 sobrevive,	 ficando	com	 incapacidade	per-manente em um dos braços. Trata-se de hipótese de arrependimento 
eficaz.
 \ ATENÇÃO
O arrependimento deve ser eficaz. No exemplo acima, apesar do esforço de "A", caso 
houvesse o óbito de"B", não seria reconhecido o arrependimento, devendo o agente res-
ponder por homicídio consumado.
O	arrependimento	eficaz	depende,	tal	qual	a	desistência	voluntária,	do requisito da voluntariedade.	Dessa	maneira,	beneficia-se	do	insti-tuto o agente que se arrepende por um conselho de terceiro ou que, por si só, entende devido salvar a vítima da sua conduta. Por outro lado, em caso de coação ou vício da vontade, não será válido o arrependimento.
5.1 CONSEQUÊNCIA E NATUREZA JURÍDICA DO ARREPENDIMENTO 
EFICAZ
Aquele	que	se	arrepende	de	maneira	eficaz	responderá	pelos	atos	
já	praticados.	Assim,	conclui-se	que	a	natureza	jurídica	do	arrependi-
mento	eficaz	é	a	mesma	da	desistência	voluntária,	ou	seja,	é	causa de 
atipicidade da conduta. 
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No exemplo anterior, "A" responderá por lesão corporal de natureza 
grave,	já	que	se	arrependeude	seu	dolo	inicial	(homicídio)	e	conseguiu	
prestar	socorro	eficaz	à	vítima.
6. ARREPENDIMENTO POSTERIORArrependimento posterior é o ato voluntário do agente que, após a consumação do delito praticado sem violência ou grave ameaça, repara o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa (art. 16, CP).Exemplo: "X "furta a bolsa de sua amiga "Y", mas, no dia seguinte, arrepende-se do seu ato e resolve devolver o bem. O crime de furto está 
consumado,	porém	"X"	poderá	se	beneficiar	do	arrependimento	posterior.São requisitos do arrependimento posterior:• Ato voluntário do agente (recorde-se que o ato voluntário abran-
ge	o	ato	espontâneo).• Crime praticado sem violência ou grave ameaça (ex: furto, apro-priação indébita, receptação etc).• Reparação do dano ou restituição da coisa
Prevalece	na	doutrina	e	jurisprudência	a	exigência	da	reparação	in-
tegral do dano causado.
 \ POSIÇÃO DO STJ
Nesse sentido é o entendimento do STJ: "O entendimento desta Corte é no sentido de 
que a minorante do ressarcimento posterior do dano, prevista no art. 16 do Código Pe-
nal, deve observar a voluntariedade do Acusado e o integral ressarcimento do prejuízo” 
(Quinta Turma, HC 156424, de 03/10/2011).
 \ POSIÇÃO DO STF
Em sentido contrário, o STF admitiu a reparação parcial: "A norma do artigo 16 do Có-
digo Penal direciona à gradação da diminuição da pena de um a dois terços presente a 
extensão do ato reparador do agente" (Primeira Turma, HC 98658, de 15/02/2011).• Reparação feita até o recebimento da denúncia ou queixaNão se deve confundir o oferecimento da inicial acusatório com o seu recebimento. Até o recebimento, o agente pode reparar o dano ou resti-tuir a coisa. Após o recebimento e até a sentença, a conduta reparadora 
configurará	circunstância	atenuante	prevista	no	art.	65,	III,	"b",	CP.
Livro 1.indb 99 28/05/2014 16:44:14
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FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃO
6.1 CONSEQUÊNCIA E NATUREZA JURÍDICA DO ARREPENDIMENTO 
POSTERIORO arrependimento posterior conduz à redução da pena de 1/3 a 
2/3.	Logo,	possui	natureza	jurídica	de	causa	de	diminuição	de	pena,	tal	qual a tentativa.
Discute-se	se	esta	causa	de	diminuição	de	pena	é	objetiva,	esten-dendo-se do agente que efetua a reparação para o corréu que não a efe-
tuou;	ou	subjetiva,	beneficiando	apenas	o	agente	que	voluntariamente	
repara	o	dano	ou	restitui	a	coisa.	Prevalece	na	jurisprudência	o	primei-ro entendimento.
 \ POSIÇÃO DO STJ
Com efeito, indicando a natureza objetiva, entende o STJ que “Apesar de a lei se referir 
a ato voluntário do agente, a reparação do dano, prevista no art. 16 do Código Penal, 
é circunstância objetiva, devendo comunicar-se aos demais réus" (Quinta Turma, REsp 
264283, de 19/03/2001)
6.2 MODALIDADES ESPECÍFICAS DE ARREPENDIMENTO POSTERIOR
O	arrependimento	posterior	é	instituto	que	beneficia	o	réu,	tendo	em vista a diminuição da pena de 1/3 a 2/3. Entretanto, há casos em que a lei trouxe previsão ainda mais favorável ao agente, devendo ser 
aplicada	a	norma	específica,	afastando-se	o	art.	16	do	Código	Penal.	• No caso do crime de peculato culposo (art. 312, §2º, CP), a repa-ração do dano ou restituição da coisa até a sentença definitiva 
é causa de extinção da punibilidade do agente. Após a senten-
ça	definitiva,	a	pena	será	diminuída	de	1/2.• No estelionato cometido mediante emissão de cheque sem fun-dos, o pagamento do valor correspondente até o recebimento da denúncia ou queixa é também causa de extinção da punibilidade (súmula 554 do STF).• Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento do tributo sonegado é causa de extinção da punibilidade (art. 9º, §2º, Lei 10.684/2003; art. 69, Lei 11.941/2009).
7. CRIME IMPOSSÍVELNão se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o 
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ITER CRIMINIS
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crime (art. 17, CP). Também chamado de tentativa inidônea, o crime 
impossível	se	configura	quando,	apesar	da	intenção	do	agente,	o	meio	
por	ele	escolhido	(instrumentos/modo	de	execução)	ou	o	objeto	atingi-do (coisa sobre a qual recai o delito) tornam inviável a sua consumação. Exemplo1: “A” pretende matar “B” com uma arma de brinquedo, 
meio	absolutamente	ineficaz	para	tanto.Exemplo2: "X" pretender furtar coisa alheia móvel de "Y", mas "Y"não traz nos seus bolsos qualquer pertence.
7.1 TEORIAS ACERCA DA PUNIÇÃO DO CRIME IMPOSSÍVELAcerca da punição do crime impossível, duas teorias se apresentam:
A) Teoria subjetiva: a conduta do agente que optou pelo meio 
absolutamente	 ineficaz	 ou	 que	 atingiu	 objeto	 absolutamente	impróprio deve ser punida normalmente, pois a sua conduta revela vontade reprovável.
B) Teoria objetiva• Teoria	objetiva	pura: não se deve punir o agente quando a im-
propriedade	do	objeto	ou	a	ineficácia	do	meio	são	absolutas	ou	relativas.• Teoria	objetiva	temperada: acolhida pelo Código Penal, prevê que a conduta do agente não será punida quando houver a ab-
soluta	ineficácia	do	meio	ou	absoluta	impropriedade	do	objeto.	
Desta	forma,	sendo	relativamente	ineficaz,	deverá	a	punição	ser	aplicada.
Com	base	na	teoria	objetiva	temperada,	adotada	pelo	Código	Penal,	
deve-se	identificar	se	a	impropriedade	ou	a	ineficácia	são	absolutas	ou	relativas.• O meio é absolutamente ineficaz quando de modo algum pro-duz o resultado pretendido.Exemplo: envenenar alguém se utilizando de doses de açúcar.
 \ POSIÇÃO DO STF
Nos termos da súmula 145 do STF, é ilícito o denominado "flagrante preparado", em ra-
zão da absoluta ineficácia do meio. Trata-se das hipóteses em que ocorre a utilização 
de um agente provocador com o fito de estimular a pessoa à prática delitiva e, então, 
prender-lhe em flagrante delito. “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela 
polícia torna impossível a sua consumação” (súmula 145).
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102
FÁBIO ROQUE ARAÚJO E VINÍCIUS ASSUMPÇÃO• O meio é relativamente ineficaz quando, no caso concreto, não foi capaz de produzir o resultado, porém era possível atingi-lo.Exemplo: "A" aplica dose de veneno para matar "B", mas a dose é 
insuficiente	para	causar-lhe	a	morte.	Caracteriza-se	a	tentativa.
 \ POSIÇÃO DO STJ
Para a jurisprudência do STJ o sistema eletrônico de monitoramento (câmeras de vídeo 
instaladas no estabelecimento) é uma hipótese de meio relativamente ineficaz, havendo 
tentativa do crime de furto: "Conforme jurisprudência desta Corte, o fato do agente estar 
sendo vigiado por sistema de segurança do estabelecimento comercial não impede, por 
inteiro, a consumação do delito patrimonial, afastando-se, portanto, a figura do crime 
impossível" (Quinta Turma, REsp 1350754, de 15/02/2013).• A	absoluta	impropriedade	do	objeto	se	dá	quando	a	pessoa	ou	
coisa	sob	a	qual	recai	a	conduta	criminosa	já	não	mais	existe.	Exemplo1: quem está morto não se enquadra no elemento "al-
guém",	previsto	na	definição	do	crime	de	homicídio	 (art.	121,	CP).	A	conduta também não se amolda ao crime de vilipêndio ao cadáver por-que não houve dolo para tanto. Trata-se de fato atípico.Exemplo2: "A" toma a bolsa nas mãos de"B" pretendendo subtrair os pertences que estão dentro, mas a bolsa estava completamente va-zia. A bolsa vazia torna impossível a consumação do crime de furto.• Ocorre	 relativa	 impropriedade	 do	 objeto	 se	 a	 pessoa	 ou	 coisa	existe, mas naquele caso em concreto o agente não consegue alcançá-lo.Exemplo: "A" caminha de maneira distraída na calçada quando "B", sorrateiramente, põe a mão no seu bolso esquerdo. "B" não encontra nada neste bolso, porém sabe-se que a carteirade "A" estava no bolso 
direito.	A	impropriedade	do	objeto	é	relativa,	e	a	conduta	é	punida	na	forma tentada.Em síntese:
Crime impossível - 
 teoria objetiva temperada
Absoluta Relativa
Ineficácia do meio Crime impossível Tentativa
Impropriedade do objeto Crime impossível Tentativa
Livro 1.indb 102 28/05/2014 16:44:14
ITER CRIMINIS
103
TÓPICO SÍNTESE
ITER 
 CRIMINIS
- Cogitação, preparação, execução, consumação e exaurimento.
TENTATIVA
-	 O	 delito	 não	 se	 consuma	 por	 circunstâncias	alheias à vontade do agente- A pena será reduzida de 1/3 a 2/3 (causa de dimi-nuição de pena).- Não admitem tentativa: contravenções penais, crimes habituais, crimes unissubsistentes, crimes omissivos próprios, crimes culposos, crimes dolo-
sos	eventuais	(ver	jurisprudência)	e	crimes	preter-dolosos.
DESISTÊNCIA 
 VOLUNTÁRIA
- O agente desiste voluntariamente de prosseguir na execução do crime e será responsabilizado pe-
los	ato	já	praticados.- Trata-se de causa de atipicidade da conduta.
ARREPENDIMENTO 
EFICAZ
- Após exaurir a fase de execução, o agente atua voluntariamente para impedir que o resultado se 
produza,	sendo	punido	pelos	atos	já	praticados.- Trata-se de causa de atipicidade da conduta.
ARREPENDIMENTO 
POSTERIOR
- É o ato voluntário do agente que, após a consu-mação, restitui a coisa ou repara o dano, desde que em crime praticado sem violência ou grave ameaça e até o momento do recebimento da denúncia ou queixa.- É causa de redução de pena de 1/3 a 2/3, existin-
do	modalidades	especiais	mais	benéficas.
CRIME IMPOSSÍVEL
-	 Não	 se	 pune	 a	 tentativa	 quando,	 por	 ineficácia	absoluta do meio ou impropriedade absoluta do 
objeto,	é	impossível	consumar-se	o	crime.
Livro 1.indb 103 28/05/2014 16:44:14

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