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Autora: Profa. Adriana Regina Marques de Souza Pelissari Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho Profa. Ronilda Iyakemi Ribeiro Psicologia Aplicada à Enfermagem Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Professora conteudista: Adriana Regina Marques de Souza Pelissari Adriana Regina Marques de Souza Pelissari é graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC‑Campinas), fez especialização em Psicopedagogia Operatória, mestrado em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação e doutorado em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Desde 2001 é professora na Universidade Paulista (UNIP), na qual leciona nos cursos de Pedagogia e Enfermagem e coordena o curso de Pedagogia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P364p Pelissari, Adriana Regina Marques de Souza. Psicologia aplicada à Enfermagem. / Adriana Regina Marques de Souza Pelissari. – São Paulo: Editora Sol, 2017. 108 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2‑048/17, ISSN 1517‑9230. 1. Enfermagem. 2. Psicologia. 3. Desenvolvimento humano. I. Título. CDU 616‑083 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Amanda Casale Elaine Pires Rose Castilho Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Sumário Psicologia Aplicada à Enfermagem APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO PARA A ENFERMAGEM .................................................................................................................................................. 11 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA ............................................................................................... 11 2.1 A Psicologia na modernidade .......................................................................................................... 14 3 PESQUISAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO – SÉCULOS XIX E XX ............................ 16 4 A PSICOLOGIA NO SÉCULO XX ................................................................................................................... 21 4.1 Behaviorismo ......................................................................................................................................... 22 4.2 Teoria cognitiva ..................................................................................................................................... 23 4.3 Teoria sociointeracionista ou sociocultural ............................................................................... 26 4.4 Fundamentações teóricas com base psicanalítica e psicossocial ..................................... 27 4.5 Formação do vínculo .......................................................................................................................... 33 Unidade II 5 AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO FÍSICO, COGNITIVO, EMOCIONAL E SOCIAL DAS CRIANÇAS DE ZERO A 12 ANOS .......................................................................................................... 37 6 DESENVOLVIMENTO NEONATAL ................................................................................................................ 38 6.1 Desenvolvimento físico‑motor, psicossocial e cognitivo das crianças de dois a seis anos ............................................................................................................................................. 48 6.2 Desenvolvimento físico‑motor, cognitivo e psicossocial da criança de seis a 12 anos ......................................................................................................................................................... 56 Unidade III 7 DESENVOLVIMENTO: ADOLESCÊNCIA, VIDA ADULTA E VELHICE ................................................. 73 7.1 O desenvolvimento na adolescência e a puberdade .............................................................. 73 7.2 Fases da adolescência ......................................................................................................................... 77 7.3 A vida adulta e o processo de amadurecimento ..................................................................... 84 7.3.1 A vida adulta jovem ............................................................................................................................... 85 7.3.2 A idade adulta .......................................................................................................................................... 86 7.3.3 Vida adulta tardia ou segunda vida adulta .................................................................................. 88 7.3.4 Velhice ......................................................................................................................................................... 91 8 MORTE ................................................................................................................................................................. 96 7 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 APRESENTAÇÃO Caros alunos, a disciplina Psicologia Aplicada à Enfermagem tem como objetivo levar você, futuro profissional, ao conhecimento dos conceitos básicos da Psicologia, que envolvem concepções do desenvolvimento humano e temas relacionados ao conhecimento psicológico, que lhes serão úteis no cotidiano. Sendo a Psicologia a ciência que estuda o comportamento, a mente do ser humano traz em si uma abrangência teórica necessária para o conhecimento que é percorrido pelo ser humano desde a concepção do sujeito até ao longo de toda sua vida. O campo da Psicologia é muito abrangente, e aqui nos limitaremos a apresentar alguns autores e concepções teóricas que favoreçam a compreensão do desenvolvimento humano nas áreas afetivo‑emocional, cognitiva, física e social. Desse modo, a compreensão dessesestudos abrangerão o desenvolvimento relacionado às interações que cada sujeito realiza com o meio em que vive, o que inclui sua socialização primária com familiares e a socialização secundária com instituições. Nessa abordagem será visível a compreensão de possíveis prevenções e ajustes de quadros psicopatológicos, prevenção de doenças, melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e, consequentemente, favorecimento do bem‑estar da população. Esta disciplina tem como objetivo geral: • A compreensão dos fenômenos e processos psicológicos básicos do desenvolvimento humano ao longo do ciclo vital e dos inter‑relacionamentos entre as esferas física, cognitiva, psicossocial e em diferentes contextos socioculturais. Já como objetivos específicos, a disciplina apresenta os seguintes: • identificar e caracterizar relações entre contextos e processos psicológicos/comportamentais nas diferentes fases do desenvolvimento humano; • identificar, descrever e explicar os processos de mudanças físicas e psicossociais ocorridos na infância, adolescência, vida adulta e velhice; • identificar e descrever os processos de perdas e aquisições e os processos de luto envolvidos na infância, adolescência, idade adulta e velhice; • articular o conhecimento científico com a realidade cotidiana. 8 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Este livro‑texto tem como principal objetivo ser o material didático que facilita a compreensão dos conteúdos e dá suporte às aulas, uma vez que o material tem uma linguagem de fácil compreensão para os alunos e utiliza os termos necessários para a formação do profissional de enfermagem com a utilização de termos técnicos bem explicados. O texto inicia com uma introdução a respeito do desenvolvimento humano e depois parte para o histórico da Psicologia, da Antiguidade até os contextos dos dias atuais, o que caracterizou essa ciência e suas vertentes que colaboram para a compreensão dos principais conceitos e abordagens psicológicas relacionando‑os com a enfermagem. No trabalho de enfermagem as relações interpessoais são de grande relevância para o sucesso dos tratamentos dos pacientes, portanto, se o profissional tem conhecimento do desenvolvimento psicológico de seus pacientes e também das formas de seus comportamentos, bem como conhecimento da personalidade, distúrbios e ganhos ou perdas que se estabelecem nas relações entre paciente e enfermeiro, tudo isso facilitará e colaborará na administração do tratamento e prevenção da saúde e bem‑estar dos pacientes. Depois, será apresentado o desenvolvimento intelectual, motor, emocional, sexual e social na perspectiva de diferentes autores, bem como as diferentes etapas do desenvolvimento da vida, desde o nascimento até a velhice, apresentando a importância do meio como o principal fator para a resolução de conflitos e saúde. Esta disciplina não tem como objetivo se aprofundar nos temas e desenvolvimentos estudados, uma vez que, além de ser inviável pelo tempo que temos disponível, também não seria conveniente, pois fugiria da proposta para a compreensão de tal formação aqui apresentada. Sendo assim, a disciplina leva cada um dos alunos à reflexão de sua área de formação até as áreas e conceitos da Psicologia do desenvolvimento que favoreçam a melhor atuação e compreensão dos pacientes e do ser humano de um modo geral. INTRODUÇÃO Esta disciplina, que atua no saber sobre a Psicologia, busca estudar o desenvolvimento do ser humano nos seguintes aspectos: físico‑motor, intelectual, afetivo‑emocional e social, desde o nascimento até a idade adulta. Sendo assim, é de extrema importância esse conhecimento para o curso de enfermagem, pois o desenvolvimento humano retrata o desenvolvimento mental e o crescimento orgânico. O desenvolvimento mental ocorre de maneira contínua e vai se aperfeiçoando ao longo da vida, a cada etapa se solidifica a partir do desenvolvimento das estruturas mentais, que também vão se desenvolvendo. Esta disciplina também se mostra importante no curso de Enfermagem por fazer com que cada aluno conheça as características específicas de cada período da vida e nas diferentes áreas de desenvolvimento, o que favorece ao profissional da saúde atuar de modo a intervir de forma mais consistente e preventiva com seus pacientes. 9 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 O profissional da saúde compreenderá melhor quem é o paciente em sua totalidade, como o paciente se comporta, suas ações e reações diante da sua realidade e segundo sua faixa etária. Também há a compreensão de que, para que haja um desenvolvimento saudável, alguns fatores influenciam, como o crescimento orgânico, a maturação, a hereditariedade e o ambiente. O crescimento orgânico refere‑se ao aspecto físico, ao desenvolvimento do organismo humano, estatura e estruturas. A maturação neurofisiológica é o amadurecimento de estruturas físicas que determinam o padrão e a possibilidade do comportamento humano. A hereditariedade refere‑se a questões genéticas que favorecem o potencial do indivíduo, esses aspectos poderão ou não ser desenvolvidos, pois as relações que a criança vai estabelecer com o meio implicarão, e muito, em tal desenvolvimento. Ou seja, a criança nasce com o potencial para o desenvolvimento de sua inteligência, capacidades, porém, dependendo das condições do meio em que se encontra, ela desenvolverá mais ou menos capacidades em determinadas áreas. O ambiente ou o meio – o conjunto de influências e estimulações ambientais – alteram os padrões de comportamento do indivíduo. Aspectos do desenvolvimento humano São eles: • Aspecto físico‑motor: refere‑se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica. Exemplo: criança que leva a chupeta à boca. • Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, raciocínio. Exemplo: a criança de dois anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está embaixo de um móvel. • Aspecto afetivo‑emocional: é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplo: a vergonha que sentimos em algumas situações. • Aspecto social: é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Exemplo: quando em um grupo há uma criança que permanece sozinha. Não é possível encontrar um exemplo “puro” porque todos esses aspectos se relacionam permanentemente. 11 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Unidade I 1 A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO PARA A ENFERMAGEM Estudar a Psicologia na área da Enfermagem faz‑se necessário para que os profissionais da saúde tenham conhecimento do sujeito como um todo, desde a sua concepção até a terceira idade, considerando os aspectos afetivos, emocionais, físicos, cognitivos e sociais, o que dá a visão do desenvolvimento integral de cada pessoa. Esses estudos são relevantes uma vez que abrangem aspectos do desenvolvimento humano que ocorrem devido à hereditariedade e também por causa da influência ambiental. Tais estudos de cunho psicológico trazem em sua essência uma história que fundamenta a Psicologia como ciência. Toda ciência exige um objeto de estudo, um campo de estudo, uma linguagem rigorosa, uma metodologia, objetividade e ser passível de comprovação. Podemos dizer que a Psicologia científica tem como objeto de estudo a mente humana, o comportamento da mente humana. Traz como campo de estudo a humanidade. Apresenta várias teorias com linguagens rigorosas, objetivas.Mas isso não foi sempre assim. Portanto, para compreender como a Psicologia se estabelece como ciência, há a necessidade de compreendermos melhor a história da Psicologia. 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA A história da Psicologia tem sua base na Antiguidade, na filosofia grega. Naquela época alguns homens tentaram compreender o homem em relação aos seus aspectos interiores, e é nesse momento que surge a primeira tentativa de pensar de forma sistemática os aspectos da alma, psyché, e da razão, logos, do homem. Essas palavras dão origem ao termo “psicologia”, que significa “estudo da alma”, que quer dizer estudar sentimentos, sensações, desejos, percepções e pensamentos dos seres humanos. Observação Definição de Psicologia: ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e de suas interações com um ambiente físico e social. 12 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Em destaque a esses estudos, os filósofos que vieram antes de Sócrates tinham como preocupação delimitar a relação das percepções do homem frente ao mundo, firmando que a existência do mundo passava pela percepção do homem. Depois dos filósofos pré‑socráticos se apresenta o próprio Sócrates, que afirma que a característica que define a humanidade é a razão. A razão diferencia o homem do animal, levando‑o a ser superior por apresentar características que se sobrepõem aos instintos dos animais. A razão se apresenta como essencial à vida humana, dando vazão a posteriores estudos da filosofia sistemática. Após Sócrates, temos como representante da filosofia Platão. Platão (427‑347 a.C.) foi discípulo de Sócrates, firmando a existência da razão, mas buscando um lugar para a sua existência, ou seja, um lugar para a alma do homem, o lugar em que existissem os sentidos, as percepções e o pensamento. Platão então define corpo como o lugar que a alma ocupava por ligação da medula, porém, essa alma era separada do corpo quando a pessoa morria, ficando livre para ocupar um novo espaço, um novo corpo. Essa abordagem de Platão é a base da teoria de que a alma é imortal. Em sequência aos estudos voltados para as questões da alma e do corpo se destaca Aristóteles. Este, discípulo de Platão, defende a ideia que a alma e o corpo são indissociáveis e que sem a alma não há vida para nenhuma das espécies, pois ela é responsável pelas sensações, percepções e até mesmo pela razão, portanto, para cada espécie de ser vivo apresentava‑se uma alma com sua diferenciação segundo sua espécie. Figura 1 – Aristóteles Sócrates, Platão e Aristóteles foram pensadores da Idade Antiga. Posterior a esse período surge um novo império, que inaugura a Idade Média. Nesse império, em decorrência do fortalecimento do sistema feudal, em que os donos das terras eram os que possuíam poder econômico, político e social, a visão de mundo se centra também nas mãos desses senhores, os donos das terras. Tendo como o maior senhor feudal o clero, toda a visão de mundo desse período se baseia na perspectiva teocêntrica, o que significa Deus no centro de todas as coisas. Inaugura‑se, por volta de 400 d.C., a era Cristã. 13 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM O cristianismo se fortalece no território europeu como a religião predominante também em poder econômico, político e social, trazendo grandes influências na construção de valores e na visão de conhecimento de mundo das diferentes áreas, inclusive nos estudos referentes ao psiquismo. Tanto que, ao nos referir a questões voltadas à Psicologia, podemos dizer que os estudos dessa época eram bem limitados em relação à mente, à alma e a questões racionais, e que nesse período se destacam como pensadores dois grandes filósofos, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Santo Agostinho Santo Agostinho, influenciado pelos escritos de Platão, trazia em suas explicações que a alma era imortal, a sede da razão, dos pensamentos, das ideias, expressão divina no homem e parte constituinte no ser humano responsável por ligar o homem a Deus. São Tomás de Aquino Para São Tomás de Aquino, a relação entre Deus e o homem se encontra na perspectiva de Aristóteles sobre a diferença entre essência e existência. Na essência do homem há a necessidade de buscar sua existência. Com isso, Santo Agostinho afirma que somente em Deus haveria o encontro da essência e da existência, portanto, essa busca seria a busca de Deus. Em síntese, a necessidade que o homem tem de buscar a perfeição seria, na visão agostiniana, a necessidade de encontrar a Deus. Com essas afirmações a Igreja se mantém justificando suas ideias e respondendo pelas verdades, ditas absolutas, a respeito do psiquismo humano. Somente após as mudanças radicais que começaram a ocorrer na sociedade, fortalecendo o mercantilismo e favorecendo o enriquecimento da burguesia, um novo modelo de sistema surge na Europa, o capitalismo. Tal sistema inaugura uma nova estruturação econômica, política e, em consequência, social. Nessa nova organização o homem passa a ser valorizado e os estudos sobre o conhecimento da humanidade sofrem um grande avanço, dando abertura para o desenvolvimento científico com o estabelecimento de métodos que justificam a construção do conhecimento. Nesse contexto, René Descartes, em meados do século XVI, destaca‑se com seus apontamentos sobre as questões da alma e do corpo. Para ele, o homem possui um corpo, que seria sua substância material, e também uma alma, seu pensamento, seu espírito. Ambos, corpo e alma, são indissociáveis, pois um corpo sem alma (mente) seria apenas uma máquina. Os estudos sobre essas dualidades se aprofundam, gerando muitas especulações sobre o corpo, possibilitando melhores fundamentações científicas para as áreas da fisiologia, anatomia e também para a psicologia. A psicologia científica passa a ter um avanço considerável no século XIX, pois o novo sistema mundial – efervescência do sistema capitalista – desencadeia um novo sistema econômico, político e social que intervém diretamente no desenvolvimento das ciências. Tanto para explicar a nova ordem social vigente, como para sanar problemas existentes e até mesmo trazer inovações sociais. Essa marca do sistema capitalista quebra o monopólio do sistema feudal tanto em relação aos fatores econômicos como na visão de um mundo centrado na religiosidade. 14 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Os dogmas da Igreja passam a ser questionados e o racionalismo se torna evidente a ponto de vislumbrar a construção do conhecimento da humanidade e provocar avanços significativos a respeito da máquina – o corpo –, principalmente em relação ao funcionamento da mente, que se torna, nesse contexto, responsável pelos pensamentos e ações dos homens. Homens que não só desenvolveram a máquina, como também passam a ser vistos como seres pensantes. Daí a necessidade de estudos voltados para a compreensão dessa capacidade humana. Lembrete A Psicologia recebe o status de ciência a partir do seu desligamento da Filosofia. No início do século XIX, estudiosos e pesquisadores buscam novos padrões para a produção do conhecimento humano. 2.1 A Psicologia na modernidade No contexto da modernidade muitos são os estudos e estudiosos científicos que se destacam tentando compreender o psiquismo. Dentre os estudiosos da Psicologia moderna, século XIX, destacam‑se Wund, Weber e Fechener, na Alemanha, Tichner, entre os ingleses, e William James, entre os estudiosos americanos. Estesse tornam os grandes difusores dessa ciência, que não se limita apenas em bases filosóficas, mas determina seu objeto de estudo, seu campo de estudo, os métodos a serem estudados e as teorias que justificam os conhecimentos dessa ciência. Já as teorias que se evidenciam são o funcionalismo, o estruturalismo e o associacionismo. O funcionalismo Como representante do funcionalismo temos o americano William James (1842‑1910). O funcionalismo científico busca explicação sobre o que os homens fazem e por que fazem. Segundo Bock (2000, p. 41), “para responder a isto, W. James elege a consciência como centro de suas preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida em que o homem a usa para adaptar‑se ao meio”. Nos escritos de James o que se torna evidente é a preocupação com a função do psiquismo a partir da interação com o ambiente. Nesse contexto ele se preocupa com a adaptação do ser humano ao ambiente, enfatizando que a consciência tem como função levar cada ser humano à sobrevivência. O estruturalismo O estruturalismo na Psicologia tem como representante Edward Tichner (1867‑1927), que busca estudar a natureza das experiências conscientes elementares para determinar sua estrutura por meio da verificação das partes que a formam. Sua base é o estudo da consciência, assim como no funcionalismo, porém, o que o diferencia é a tentativa de entender e explicar as estruturas biológicas, o sistema nervoso central como eixo estruturante para o funcionamento da consciência e de todas as outras coisas que os seres humanos são capazes de fazer, pensar, sentir e perceber. 15 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM O método utilizado no estruturalismo é a observação e entendia que cada experiência era individual, firmando assim que os conhecimentos eram estritamente experimentais. O associacionismo O associacionismo apresenta Edward L. Torndike (1874‑1949) como representante. Essa teoria traz as primeiras tentativas de compreender as aprendizagens humanas e como se utilizavam desse conhecimento. A palavra “associacionismo” demonstra a origem da teoria, ou seja, a busca por compreender como se dá a associação das ideias dos seres humanos, defendendo que essas ideias são associadas das mais simples para as mais complexas. Desse modo, para ter a aquisição do mais difícil, primeiramente o sujeito deve aprender o mais simples e, posteriormente, compreender as ideias mais complexas. Torndike também elaborou a Lei do Efeito, que é usada pela Psicologia behaviorista. Essa lei diz que todo comportamento de um ser vivo tende a se repetir se for recompensado e a não se repetir se for castigado. O comportamento adquirido tende a se associar com outros parecidos. Essa abordagem trouxe grande influência para a educação no Brasil, porém, o que até hoje temos como referência na Psicologia são as linhas teóricas que surgiram em meados do século XX. Mas, antes de estudar as tendências psicológicas que influenciaram o desenvolvimento humano no século XXI, há alguns conceitos a serem vistos, estes necessários para a melhor compreensão das teorias, pois apontam aspectos que provocam mudanças que são específicas e comuns a todos os seres humanos. Comecemos por estudar os fatores biológicos e os fatores ambientais que são influentes no desenvolvimento humano. Essa discussão é antiga, advinda da filosofia, trazendo bases para a Psicologia. De modo geral, quando tratamos da questão biológica nos referimos às questões hereditárias, inatas, internas, em que cada sujeito nasce e pode desenvolver. Enquanto os fatores ambientais consideram que o ambiente e as experiências são as bases para o desenvolvimento humano. O conhecimento vindo da filosofia antiga de que as ideias são inatas não desapareceu totalmente com a modernidade e indica certa limitação ao desenvolvimento, ao mesmo tempo que os fatores biológicos indicam que todos os seres humanos trazem em sua natureza uma programação genética que será amadurecida, favorecendo as mudanças corporais, hormonais, musculares, ósseas e físicas com sequência básica e necessária para todas as crianças da mesma idade, esse processo de mudança foi chamado de maturação. A maturação ocorre em uma sequência contínua e genérica, podendo ocorrer independentemente de práticas e treinamento e ser ou não influenciada por experiências. Quando há acordo de que o sujeito se desenvolve a partir de interações com o seu meio físico e social, podemos dizer que o desenvolvimento depende de fatores ambientais, e não somente biológicos. 16 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Desse modo, os dois conceitos – biológico e ambiental – vão favorecer o entendimento sobre a sequência do desenvolvimento humano, e, com isso, as teorias psicológicas dos séculos XX e XXI se pautam nessas perspectivas para melhor explicar o desenvolvimento. 3 PESQUISAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO – SÉCULOS XIX E XX Para maior compreensão do desenvolvimento humano, pesquisas têm se desenvolvido com grande intensidade desde o século XIX. A história descrita por Itard a respeito de Victor trouxe grande contribuição para o desenvolvimento dessa área específica da psicologia, pois esse caso levou pesquisadores a se interessarem pelo desenvolvimento da criança e, logo em seguida, pelos estudos sobre o ciclo vital. Veja a história de Victor: Victor de Aveyron (1788‑1828) era uma criança selvagem que foi encontrada na França em 1798. Victor foi adotado pelo francês Jean Marc Gaspard Itard, um educador. Essa história deu ao cineasta francês François Truffaut a inspiração para o filme O Garoto Selvagem (1969). Saiba mais Para saber mais sobre o tema, assista ao filme: O GAROTO Selvagem. Dir. François Truffaut. França: Les Films du Carrose/ Artistes Auteurs Associés, 1969. 85 minutos. Em 8 de janeiro de 1799 surge nos bosques próximos ao povoado de Aveyron, no sul da França, uma criatura desconhecida um tanto estranha. Com o andar em posição ereta, assemelhava‑se mais a um animal do que a um ser humano, mas, logo de imediato, esse sujeito foi identificado como um menino de uns onze ou doze anos. Ele emitia somente grunhidos estridentes e parecia desconhecer e necessitar do sentido de higiene pessoal, fazia suas necessidades onde e quando lhe convinha. Foi levado para a polícia local e, mais tarde, para um orfanato próximo. A princípio, fugia constantemente e era difícil voltar a pegá‑lo. Não queria vestir‑se e nem se deixava vestir, rasgava as roupas quando lhes punham. O menino foi submetido a um exame médico detalhado no qual não se encontrou nenhuma anormalidade importante. Quando foi colocado diante de um espelho, parece que viu sua imagem sem se reconhecer. Em uma ocasião tratou de alcançar no espelho uma batata que havia visto refletida nele (de fato, a batata era segurada por alguém atrás de sua cabeça). Depois de inúmeras tentativas, e sem voltar a cabeça, colheu a batata por cima de seu ombro. Um sacerdote que observava o menino diariamente descreveu esse incidente da seguinte forma: 17 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Todos estes pequenos detalhes, e muitos outros que poderiam aludir, demonstram que este menino não carece totalmente de inteligência, nem de capacidade de reflexão e raciocínio. Contudo, nos vemos obrigados a reconhecer que, em todos os aspectos que não têm a ver com as necessidades naturais ou a satisfação dos apetites, se percebe nele um comportamentopuramente animal. Se possui sensações não desembocam em nenhuma ideia. Nem sequer pode comparar umas às outras. Poderia pensar‑se que não existe conexão entre sua alma ou sua mente e seu corpo (SHATTUCK, 1980, p. 69.) Depois o menino foi enviado a Paris, onde ocorreram tentativas sistemáticas de transformá‑lo “de besta em humano”. Philippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria moderna, o diagnosticou como “acometido de idiotia” e, portanto, não suscetível à socialização e à instrução. Em 1800, Itard passou a estudá‑lo, pois acreditava que seria possível educá‑lo. O esforço resultou só parcialmente satisfatório. Aprendeu a utilizar o banheiro, aceitou usar roupas e aprendeu a se vestir sozinho. No entanto, não lhe interessavam nem as brincadeiras nem os jogos e nunca foi capaz de articular mais que um reduzido número de palavras. Até onde sabemos pelas detalhadas descrições de seu comportamento e suas reações, a questão não era a de que fosse retardado mental. Parece que ou não desejava dominar totalmente a fala humana ou era incapaz de fazê‑lo. Embora Itard tenha usado da disciplina e das relações sensoriais de causa e efeito para educar o menino, desconsiderou as emoções. Quem deu ao garoto um tratamento mais humano foi Madame Guérin, a governanta que cuidou de Victor. O contato de ambos permitiu o pequeno desenvolvimento do garoto. Com o tempo fez progressos e morreu em 1828, quando tinha por volta de quarenta anos. Essa história teve tanta divulgação e interesse por parte dos cientistas que, ao findar o século XIX, muitas tendências de estudos científicos se inclinavam para o estudo do desenvolvimento. Os estudos desse período giravam em torno do caso de Victor em debates a respeito do desenvolvimento em relação à concepção da natureza versus experiência, isso significa investigações interessadas em estudar as características inatas versus a influência do meio para o desenvolvimento do ser humano. Com esses estudos as contribuições foram inúmeras para o desenvolvimento infantil, como exemplo temos a descoberta dos germes e da imunização, para que muitas crianças pudessem sobreviver. Esse período também registra a diferença entre os diversos períodos da vida, o que leva ao estabelecimento de leis que passam a proteger as crianças da ida antecipada ao mercado de trabalho. A educação passa a evidenciar maior preocupação com as necessidades das crianças, tanto em casa como nas escolas. Assim, a psicologia trouxe melhor compreensão da criança em relação à continuidade de seu desenvolvimento. A afirmação de que o desenvolvimento é contínuo, saído do período da infância para a adolescência, se estabelece no início do século XX, portanto, é relativamente nova. E mais novos ainda são os estudos sobre o envelhecimento que foram ocorrendo quando os cientistas, em meados de 1930, período pós‑guerra, começaram a questionar a importância do período da adolescência e do tornar‑se adulto, o que gerou o conteúdo dos estudos do desenvolvimento do ciclo vital. 18 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Ao nos referirmos ao ciclo vital, há a necessidade de trazer à luz estruturas do cientista Paul B. Baltes (1997‑1998), que define e estuda três conteúdos para uma melhor explicação do desenvolvimento do ciclo vital: o desenvolvimento vitalício, o desenvolvimento depende de história, do contexto, e o desenvolvimento é multidimensional e multidirecional. O desenvolvimento vitalício vai dizer que o período atual de uma vida é determinado pelos fatos ocorridos anteriormente, e o que ocorre no período atual afetará o desenvolvimento futuro. Esse conteúdo também diz que cada pessoa tem características próprias e a mesma importância. Define que todos somos diferentes, porém com valores iguais, ninguém é melhor que ninguém. O desenvolvimento depende da história e do contexto, demonstra que a realidade de circunstâncias em que cada indivíduo se desenvolve é totalmente diferente a de outros indivíduos, as condições de tempo e lugar se diferenciam até mesmo em indivíduos que se desenvolvem em contextos bem parecidos, como é o caso de gêmeos. Essa realidade de vivência individual demonstra que cada pessoa influencia e é influenciada pelo seu ambiente físico e social. O ambiente é multidimensional e multidirecional. Essa perspectiva do desenvolvimento apresenta a visão de equilíbrio entre o crescimento e o declínio do desenvolvimento. As atuais pesquisas sobre o desenvolvimento humano incorrem no campo da pesquisa científica com concepções objetivas que permitem melhor explicação e fundamentação dos conteúdos dessa natureza. Portanto, assim como nas demais ciências, a psicologia do desenvolvimento apresenta os quatro objetivos de estudos científicos necessários para a melhor compreensão do desenvolvimento humano. Os quatro campos de estudo são a descrição, a explicação, a predição e a modificação do comportamento. Segundo Papalia: [...] descrição é uma tentativa de retratar o comportamento com precisão. Explicação é a revelação das possíveis causas do comportamento. Predição é prever o desenvolvimento futuro com base no desenvolvimento pregresso ou presente. Modificação é a intervenção para promover o desenvolvimento ideal (PAPALIA, 2006, p. 50). Para a autora, esses quatro objetivos operam juntos no desenvolvimento, favorecendo a compreensão das ações e colaborando para que cada indivíduo compreenda melhor as transições que ocorrem ao longo de sua vida. Para os enfermeiros isso pode levá‑los a ajudar os pacientes a compreender e a lidar melhor com as fases que eles estão atravessando, fases que podem ser de perdas ou de enfrentamento de uma doença incurável. Além desses quatro objetivos da ciência objetiva, os cientistas estudiosos do desenvolvimento humano apresentam dois tipos de mudanças que ocorrem nesse processo. Essas mudanças são de ordem quantitativa e qualitativa. As mudanças quantitativas são as que apresentam idade, altura, peso, medida, aumento de 19 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM vocabulário e de comunicação, ou seja, o que pode ser medido ou contado. Já as mudanças qualitativas vão além das quantidades, dizem respeito à qualidade do desenvolvimento, como a compreensão não verbal, as relações que se estabelecem e o desenvolvimento da personalidade. Porém, esses estudos não são simples, pois incorrem em estudar as mudanças, a estabilidade dos diferentes períodos de desenvolvimento, falar sobre o que é comum e o que diferencia as pessoas e quais os fatores que vão ocorrendo nessas modificações, tanto em ordem física, cognitiva, emocional e psicossocial. As ocorrências do desenvolvimento físico se estabelecem com o crescimento do corpo e do cérebro, das capacidades sensoriais motoras e da saúde. Portanto, o conhecimento desse desenvolvimento é de extrema importância para aqueles que vão atuar na área da saúde, pois, sabendo do padrão de desenvolvimento da normalidade, o desvio desse padrão indica anormalidade ou patologia, o que pode ser prevenido ou diagnosticado precocemente para que sejam feitas intervenções que colaborem com o desenvolvimento do sujeito em questão. Já ao falarmos de mudanças e estabilidades de ordem cognitiva, nos referimos ao desenvolvimento da atenção, memória, aprendizagem, linguagem, pensamento, criatividade e desenvolvimento moral. O desenvolvimento psicossocial se estabelece pelas modificações sociais e da personalidade de cada indivíduo, o que gera grande influência na percepção que o sujeito tem de si mesmo, no autoconceito, na avaliação que ele faz de si, na autoestima, nas capacidades de realizaçãoem ordem profissional e até mesmo social. Embora os três aspectos – físico, cognitivo e psicossocial – sejam apresentados e até mesmo estudados separadamente, eles estão interligados e se subdividem em períodos, o que nos leva a apresentar aqui oito períodos, geralmente aceitos nas sociedades ocidentais industriais. Esses períodos se dividem por faixa etária e segundo os desenvolvimentos físico, cognitivo e psicossocial. Quadro 1 – Principais desenvolvimentos típicos do ciclo vital Faixa etária Desenvolvimentos físicos Desenvolvimentos cognitivos Desenvolvimentos psicossociais Período pré-natal (da concepção ao nascimento) Ocorre a concepção. A dotação genética interage com as influências ambientais desde o início. Formam‑se as estruturas e os órgãos corporais básicos. Inicia‑se o crescimento cerebral. O crescimento físico é o mais rápido de todo o ciclo vital. O feto ouve e responde a estímulos sensórios. A vulnerabilidade a influências ambientais é grande. A capacidade de aprender e lembrar estão presentes durante a etapa fetal. O feto responde à voz da mãe e desenvolve uma preferência por ela. 20 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Primeira infância (nascimento aos três anos) Todos os sentidos funcionam no nascimento em graus variados. O cérebro aumenta de complexidade e é altamente sensível à influência ambiental. O crescimento e o desenvolvimento físico das habilidades motoras são rápidos. As capacidades de aprender e lembrar estão presentes, mesmo nas primeiras semanas. O uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas desenvolvem‑se ao final do segundo ano de vida. A compreensão e o uso da linguagem desenvolvem‑se rapidamente. Desenvolve‑se um apego a pais e a outras pessoas. Desenvolve‑se a autoconsciência. Ocorre uma mudança da dependência para a autonomia. Aumenta o interesse por outras crianças. Segunda infância (dos três aos seis anos) O crescimento é constante; o corpo fica mais delgado e as proporções mais semelhantes às de um adulto. O apetite diminui e os problemas de sono são comuns. A preferência pelo uso de uma das mãos aparece; as habilidades motoras finas e gerais e a força aumentam. O pensamento é um pouco egocêntrico, mas a compreensão do ponto de vista das outras pessoas aumenta. A imaturidade cognitiva leva a algumas ideias ilógicas sobre o mundo. A memória e a linguagem se aperfeiçoam. A inteligência torna‑se mais previsível. O autoconceito e a compreensão das emoções tornam‑se mais complexos; a autoestima é global. Aumentam a independência, a iniciativa, o autocontrole e os cuidados consigo mesmo. Desenvolve‑se a identidade de gênero. O brincar torna‑se mais imaginativo, mais complexo e mais social. Altruísmo, agressão e temores são comuns. A família ainda é o foco da vida social, mas as outras crianças tornam‑se mais importantes. Frequentar a pré‑escola é comum. Terceira infância (dos 6 aos 11 anos) O crescimento diminui. Força e habilidades atléticas aumentam. Doenças respiratórias são comuns, mas a saúde geralmente é melhor do que em qualquer outro período do ciclo vital. O egocentrismo diminui. As crianças começam a pensar com lógica, mas de maneira concreta. As habilidades de memória e linguagem aumentam. Os desenvolvimentos cognitivos permitem que as crianças beneficiem‑se com a educação escolar. Algumas crianças apresentam necessidades e talentos educacionais especiais. O autoconceito torna‑se mais complexo, influenciando a autoestima. A corregulação reflete a transferência gradual de controle dos pais para a criança. Os amigos assumem importância central. Adolescência (dos 11 aos aproximadamente 20 anos) O crescimento físico e outras mudanças são rápidos e profundos. Ocorre maturidade reprodutiva. Questões comportamentais, como transtornos alimentares e abuso de drogas, trazem importantes riscos à saúde. Desenvolve‑se a capacidade de pensar em termos abstratos e utilizar o raciocínio científico. O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e em alguns comportamentos. A educação se concentra na preparação para a faculdade ou para a vida profissional. Busca de identidade, incluindo a identidade sexual, torna‑se central. Relacionamentos com os pais são em geral bons. Os grupos de amigos ajudam a desenvolver e testar o autoconceito, mas também podem exercer uma influência antissocial. 21 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Jovem adulto (dos 20 aos 40 anos) A condição física atinge o máximo, depois diminui ligeiramente. As escolhas de estilo de vida influenciam a saúde. As capacidades cognitivas e os julgamentos morais assumem maior complexidade. Escolhas educacionais e profissionais são feitas. Os traços e estilos de personalidade tornam‑se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade podem ser influenciadas pelas etapas e pelos eventos da vida. Tomam‑se decisões sobre os relacionamentos íntimos e os estilos de vida pessoais. A maioria das pessoas casa‑se e tem filhos. Meia idade (40 aos 65 anos) Pode ocorrer alguma deterioração das capacidades sensoriais, da saúde, do vigor e da destreza. Para as mulheres, chega a menopausa. A maioria das capacidades mentais atinge o máximo; a perícia e as capacidades de resolução de problemas práticos são acentuadas. O rendimento criativo pode diminuir, mas melhorar em qualidade. Para alguns, o êxito na carreira e o sucesso financeiro alcançam o máximo; para outros, pode ocorrer esgotamento total ou mudança profissional. O senso de identidade continua se desenvolvendo; pode ocorrer uma transição de meia‑idade estressante. A dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse. A saída dos filhos deixa o ninho vazio. Terceira idade (65 anos em diante) A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e as capacidades físicas diminuam um pouco. O tempo de reação mais lento afeta alguns aspectos do funcionamento. A maioria das pessoas é mentalmente alerta. Embora a inteligência e a memória possam se deteriorar em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra formas de compensação. A aposentadoria pode oferecer novas opções para a utilização do tempo. As pessoas precisam enfrentar as perdas pessoais e a morte iminente. Os relacionamentos com a família e com os amigos íntimos pode oferecer apoio importante. A busca de significado na vida assume importância central. Fonte: Papalia (2001, p. 52). Além do quadro, faz‑se necessário apresentar a psicologia no século XX com as principais abordagens teóricas que nos ajudam a compreender melhor todas as mudanças que ocorreram nos diferentes períodos. 4 A PSICOLOGIA NO SÉCULO XX A Psicologia no século XX, assim como a Psicologia do século XIX, apresenta inclinações psicológicas que nos ajudam a compreender melhor o desenvolvimento humano e suas aprendizagens, essas tendências são: behaviorista, cognitivista, sociointeracionista, psicanalista e psicossocial. 22 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Lembrete A Psicologia no século XX traz grandes contribuições para os estudosda Psicologia no século XXI e para a melhor compreensão do ser humano no século vigente. 4.1 Behaviorismo A abordagem behaviorista nos ajuda a compreender melhor o desenvolvimento comportamental de cada sujeito, como o próprio nome diz, behavior, que na tradução do inglês para o português significa comportamento. Essa abordagem tem como representante B. F. Skinner (1904‑1990), que apresenta como principais conceitos da teoria o condicionamento operante, o reforço, a punição e a extinção do comportamento. Segundo Boyd e Bee (2011), o condicionamento operante leva a criança a aprender a repetir ou acessar comportamentos advindos das causas de suas consequências. Esse conceito deixa claro que o aprender acontece pelo repetir. O conceito de reforço se define como qualquer coisa que acontece depois de um comportamento que faz com que ele se repita. Tal reforço pode ser positivo ou negativo. Reforço positivo – algo agradável que ocorre depois de um comportamento e leva a aumentar a ocorrência do comportamento. Exemplo: quando o aluno recebe parabéns de seu professor por ter tido um bom comportamento, a criança recebe uma carinha feliz por ter feito a lição de casa ou até mesmo qualquer tipo de elogio recebido por um comportamento realizado. Reforço negativo – nesse caso o sujeito realiza um comportamento que também será repetitivo na intenção de favorecer que algo desagradável desapareça. Exemplo: tomar um comprimido para que a dor de cabeça desapareça. Os reforços positivos e negativos ocorrem no cotidiano na educação familiar, na escola e em diferentes contextos sociais. O importante aqui a ser destacado é que a cada vez que um comportamento é reforçado ele também aumenta em ocorrência. A punição contrária ao reforçamento será qualquer coisa que aconteça após um comportamento que o faz parar. As punições são desagradáveis e geram dor e angústia. Exemplo: quando uma criança coloca o dedo na tomada e leva um choque, logo ela não colocará mais o dedo em outras tomadas devido à sensação que sentiu. Nem sempre a punição retira somente o comportamento desagradável, às vezes envolve eliminar coisas agradáveis, como diminuir o tempo de brincadeiras para fortalecer outro comportamento. Outro conceito é o de extinção, neste sempre se deseja a retirada gradual de um comportamento por meio de um reforço. Exemplo: quando um pai consegue eliminar o comportamento indesejável de seu 23 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM filho por não dar atenção ao comportamento apresentado. Outro exemplo é quando a criança faz uma birra e se joga no chão. Se o pai ignora tal comportamento, seu filho percebe que não há recompensa em realizar aquele comportamento, assim esse comportamento cessa. 4.2 Teoria cognitiva Jean Piaget Figura 2 – Piaget As teorias cognitivas enfatizam os aspectos mentais do desenvolvimento, esses aspectos envolvem o raciocínio, a memória, habilidades motoras, a lógica, a atenção, a capacidade de imaginar e a construção do pensamento. Todos os desenvolvimentos ocorrem devido à interação do sujeito com o meio que ele está envolvido. O teórico que se destaca nessa perspectiva é Jean Piaget (1896‑1980). Piaget era biólogo, mas dedicou‑se aos estudos da epistemologia genética e desenvolvimento do pensamento lógico nas crianças porque queria entender como se dá a construção do conhecimento e, para tanto, nada melhor que estudar onde esse conhecimento nasce. Para Piaget, a construção do conhecimento se dá na interação do sujeito com o meio em que está inserido, pois a cada interação os sujeitos desenvolvem conflitos que desencadeiam na necessidade de soluções. Essa busca, motivação, leva a novos conhecimentos. Para melhor entender o desenvolvimento cognitivo, é necessária a compreensão de alguns conceitos estudados por Piaget: • Hereditariedade – todo ser humano herda estruturas que são necessárias à construção de seus conhecimentos, essas estruturas são as físicas, neurológicas, os reflexos e o modus operandi. • Reflexo – os reflexos são necessários pois eles mostram como cada sujeito irá conhecer o mundo e desenvolver as estruturas mais complexas. 24 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I • Modus operandi é a forma de funcionamento do sistema cognitivo. • Esquema – estrutura cognitiva que permite a realização de uma ação ou uma sequência de ações para determinado fim. • Ação – ações motoras que vão se constituindo a partir da interação do sujeito com o meio. • Operação – são as ações em pensamento. • Assimilação – através da interação com o meio, o sujeito recebe o novo conteúdo, objeto, e o coloca, assimila, em conteúdos antigos que já existem, não precisando sofrer modificação para receber o novo. • Acomodação – contrária à assimilação, a acomodação exige uma modificação interna para a recepção do novo. Não há modificação do objeto, mas sim do sujeito. • Adaptação – a adaptação traz consigo duas invariantes funcionais: assimilação e acomodação. Ocorrendo esses dois processos se dá a adaptação, ou seja, diante de uma situação o sujeito se modifica, e o objeto também se modifica para que seja adaptado. A melhor forma de definir adaptação é dizer que o sujeito se sente confortável diante da situação que não era conhecida. Com isso ocorreu um novo aprendizado. • Conflito – desequilíbrio. • Equilíbrio – posição estável. • Equilibração majorante – sair de um estado menor de conhecimento para um estado de maior conhecimento. Por que é necessária a compreensão desses conceitos? Porque eles nos explicam como ocorre a construção do conhecimento. Veja: Um sujeito se encontra em uma posição estável com seu reflexo de sucção ao nascer. Porém, ao lhe ser introduzido um elemento na boca, objeto, ele imediatamente assimila, ou seja, realiza o reflexo que já tem, mas somente com o que ele tem não consegue realizar a ação completa, então ele precisa se modificar, abrir ou fechar mais a boca, colocar a língua na posição correta (acomodação) para realizar o movimento adequadamente. Nesse momento, devido à introdução de um elemento novo, o organismo se desequilibra (conflito) e busca se modificar para novamente chegar a um estado de equilíbrio. 25 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Ao conseguir realizar a ação, a criança deixa de utilizar reflexos, constrói um novo conhecimento e se adapta, ou seja, sai de um estágio menor de conhecimento – utilização dos reflexos – para um estágio maior de conhecimento – a ação de sugar. A capacidade de adaptação ocorre em todas as construções de conhecimento, porém, a cada construção há modificações do sujeito, e as grandes modificações, denominadas abstrações, levam a mudanças de fase ou estágio. Assim, Piaget se dedica a compreender os estágios em que ocorreram essas grandes modificações. Ao se dedicar aos estudos desde o nascimento da criança, admira‑se ao perceber que todas elas passam pelos mesmos níveis de pensamento, estabelecendo os três grandes níveis e quatro estágios do desenvolvimento do pensamento lógico. Esses estágios são os chamados estágio sensório‑motor, pré‑operatório e operatório. O último se divide em dois estágios: operatório concreto e estágio operatório formal. Estágio sensório-motor – 0-2 anos Nesse estágio, o bebê conhece o mundo pelos seus sentidos e habilidades motoras. Estágio pré-operatório – 2-6 anos Esse período se inicia com o uso dos símbolos, a capacidade de brincarcom o faz de contas e a linguagem. A criança utiliza os números, letras e outros símbolos para representar o mundo. Tal representação acontece a partir da visão da sua realidade e perspectiva própria. Nesse período, o que de mais importante acontece é o aparecimento da linguagem. Como decorrência do aparecimento da linguagem, o desenvolvimento do pensamento se acelera. A interação e a comunicação entre os indivíduos são as consequências mais evidentes da linguagem. Um dos mais relevantes é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a ela. Nesse período, a maturação neurofisiológica se completa, permitindo o desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação motora fina (pegar pequenos objetos com as pontas dos dedos, segurar o lápis corretamente e conseguir fazer os delicados movimentos exigidos pela escrita). Estágio operatório concreto – 6-12 anos No estágio das operações concretas a criança realiza ações em pensamento (operações) com base em situações lógicas concretas. Esse estágio se utiliza dos símbolos nas formas convencionais e da lógica. Nessa idade, a criança está pronta para iniciar um processo de aprendizagem sistemática. A criança adquire uma autonomia crescente em relação ao adulto, passando a organizar seus próprios valores morais. A grupalização com o sexo oposto diminui. A criança, que no início do período ainda considerava bastante as opiniões e as ideias dos adultos, no final passa a enfrentá‑los. 26 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Estágio operatório formal – 12 anos em diante Nesse estágio já estamos falando dos adolescentes, para Piaget é o último estágio do desenvolvimento da lógica, no qual o sujeito é capaz de lidar e manipular abstrações, ideias e hipóteses. As ideias de Piaget serão a base para explicar o desenvolvimento cognitivo em cada fase do desenvolvimento mais adiante. O adolescente nesse período é capaz de lidar com conceitos como liberdade, justiça etc. É capaz de tirar conclusões de puras hipóteses. O alvo de sua reflexão é a sociedade, sempre analisada como possível de ser reformada e transformada. No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos. Na perspectiva da construção do conhecimento encontramos também L. S. Vygotsky. 4.3 Teoria sociointeracionista ou sociocultural Na perspectiva de Vygotsky, a teoria sociointeracionista vai dizer que somos seres que apresentam capacidades de realizar ações complexas, superiores e inferiores. É essa capacidade de realizar ações superiores que nos diferencia dos animais, pois nos permite pensar, relacionar, memorizar, evocar, perceber, elaborar e classificar, enquanto as capacidades cognitivas inferiores ou elementares permitem a realização de ações reflexas, automatizadas, simples e motoras, que nem sempre são aprendidas, mas que já fazem parte da filogênese do ser humano. As capacidades complexas – superiores – se desenvolvem segundo as interações que o sujeito vai tendo em seu ambiente social. Sendo assim, as aprendizagens e novas habilidades cognitivas se originam na interação da criança com outra criança, da criança com os adultos e dos adultos com os outros adultos. A interação de um sujeito que tem determinada habilidade com aquele que ainda não a possui colabora para a construção e aprendizado por parte daquele que conhecerá novas possibilidades, habilidades e conceitos com o outro. Os conceitos que colaboram para as questões educacionais e do desenvolvimento humano são os conceitos de desenvolvimento proximal, andaime, aprendizagem e desenvolvimento. Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real e aquilo que ela já sabe ou que está próximo a aprender. Andaime é quando um adulto ou pessoa mais experiente orienta as experiências de aprendizagem a serem desenvolvidas pela criança em situação de aprendiz. Aprendizagem e desenvolvimento tratam da aprendizagem orientada para o desenvolvimento, por isso, ao aprender algo novo a criança se desenvolve. Nessa concepção há a evidência da necessidade da interação com o meio para a aprendizagem e assim para o desenvolvimento, pois é nesse ambiente que o professor intervirá na zona de desenvolvimento proximal de seus alunos, propiciando andaimes para as descobertas das crianças e para a construção de novas aprendizagens. São os conceitos de andaime e zona de desenvolvimento proximal que, na teoria sociointeracionista, explicam o desenvolvimento cognitivo. 27 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 4.4 Fundamentações teóricas com base psicanalítica e psicossocial Psicanálise Figura 3 – Sigmund Freud A psicanálise também traz grande contribuição para a compreensão do ser humano. Nessa teoria de Freud o desenvolvimento afetivo e da personalidade aparece com grande destaque. Freud vai compreender os sujeitos a partir de seu inconsciente. Em um primeiro momento ele deixa claro que todo sujeito se comporta a partir dos conteúdos que tem em seu inconsciente. E todo sujeito tem uma energia interna, a libido, que proporciona o prazer e traz as forças motivadoras para os diferentes comportamentos do sujeito. Isso fundamenta a base da personalidade de cada um. Tratando de personalidade, para Freud, esta se apresenta em três partes: o id, o ego e o superego. • Id – inteiramente comandado pela libido, prazer inconsciente que impulsiona para realizações impulsivas. Opera desde o nascimento da criança com a busca da necessidade de se satisfazer. • Superego – se desenvolve na segunda infância, aproximadamente nos seis anos, e atua como um juiz moral que contém as regras da sociedade. • Ego – esta parte, já de caráter consciente, desenvolve‑se entre os dois ou três anos a partir das regras e limites impostos pelo superego, porém, sem violar o id, mantendo o equilíbrio sem conflitar com as três partes da personalidade. Grosso modo, o id manda realizar a ação, o superego proíbe e o ego verifica até que ponto ela deve se realizar. Outro conceito importante que caracteriza a psicanálise é a perspectiva psicossexual pois: [...] muitos dos pacientes de Freud tinham lembranças de desejos e comportamentos sexuais na infância. Baseado nas lembranças da infância de seus pacientes, Freud propõe uma série de estágios psicossexuais pelos quais uma criança passa em uma sequência fixa determinada pela maturação (BOYD; BEE, 2011, p. 53). 28 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I Os estágios psicossexuais são definidos pela libido, uma energia psíquica que desencadeia o prazer. Freud descobre que a libido está a cada período do desenvolvimento físico e se centra em uma parte do corpo, favorece o desenvolvimento afetivo e da personalidade. Assim, ele estabelece cinco fases do desenvolvimento psicossexual desde o nascimento. Vejamos essas fases ou estágios: 1ª Fase – oral Do nascimento ao primeiro ano, a energia, libido, está centrada na boca, lábios e língua. Nesse período o desmame é a principal tarefa, exemplificando melhor, a criança sente seu prazer pela boca, compreende o mundo por essa região e constrói relação afetiva a partir desse evento, sendo assim, como a criança é alimentada, seu mundo e prazer se resumem à mãe ou àquele que a alimenta. Nessa fase as crianças têm a necessidade de colocar tudo na boca. Nesse período, como nos demais, há a necessidade de frustrar, adequadamente, as ações do bebê e, dependendo da forma que ocorre essa frustração, ocorre a fixação no adulto em áreas relacionadasa esse período, como é o caso de fumar, comer muito, beber, ser passivo etc. A frustração adequada em cada período se faz necessária para que neuroses sejam evitadas. 2ª Fase – anal Esta se dá do primeiro aos, aproximadamente, três anos, tendo como foco a libido no ânus, trazendo como principal tarefa para o desenvolvimento o controle dos esfíncteres e o treinamento da higiene. Nessa fase se exige perceber a importância que a criança dá a sua produção, fezes, e com isso valorizar suas ações em direção ao sucesso e treinamento da higiene. Frustrações inadequadas nesse período podem caracterizar fixações de insegurança, excesso de ordem, obstinação ou o contrário, desordem e desorganização. 3ª Fase – fálica A fase fálica se dá dos três aos seis anos, aproximadamente. A energia libido está centrada nos órgão genitais. E é nesse período que a criança busca a identificação com seu genitor do mesmo sexo. Nesse momento também ocorre o Complexo de Édipo. Segundo Boyd e Bee: A ideia mais polêmica de Freud sobre a segunda infância é sua afirmação de que as crianças sentem atração sexual pelo genitor do sexo oposto durante a fase fálica. Freud foi buscar na literatura grega os nomes para esse conflito. Édipo era o personagem masculino que tinha um envolvimento romântico com a mãe. Electra era um personagem feminino que tinha um relacionamento semelhante com o pai. Assim, para um menino, o complexo de Édipo envolve um conflito entre seu afeto pela mãe e seu medo do pai; para uma menina, o complexo de Electra contrapõe seu laço com o pai pela possível perda do amor da mãe. Em ambos os gêneros o conflito é resolvido pelo abandono do desejo de possuir o genitor do sexo oposto em favor da identificação com o genitor de mesmo sexo (BOYD; BEE, 2011, p. 53). 29 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM De modo geral, devido à resolução dos conflitos dessa fase, o menino passa a querer ser como seu pai, e a menina passa a ter em sua mãe o modelo a ser seguido. No inconsciente, a menina vai procurar ser como a mãe, e isso revela a intenção de conquistar o “pai”; no mesmo contexto, o menino deseja ser como o pai para “conquistar a mãe”. E é nesse momento que a criança passa a se identificar com o outro. Nesse contexto de identificações é que Freud vai dizer que ocorre a identificação sexual, e as características que podem ser fixadas por essa fase seriam vaidade, imprudência, disfunção ou desvio sexual. 4ª Fase – latência Nessa fase, dos seis aos 12 anos, deve‑se observar que a libido não tem nenhum foco de centração, e por essa razão não há também fixações específicas, porém, é um período em que as crianças se identificam com os pares do mesmo sexo, desenvolvem atividades voltadas para o aspecto intelectual com grande destreza e também mecanismos de defesa. 5ª Fase – genital Passada a fase de latência, com aproximadamente 12 anos, o foco da energia libido são os genitais, por essa razão a principal tarefa do desenvolvimento dessa fase é a realização da intimidade sexual madura. Nesse período não encontramos nenhuma característica específica de fixação e, se ocorreu a integração dos estágios anteriores, neste acontece um sincero interesse pelo outro e o desenvolvimento de uma sexualidade madura. De modo geral, Freud enfatizou a importância do desenvolvimento na primeira infância e o quanto esta influencia no desenvolvimento da personalidade dos sujeitos. A crítica feita à teoria psicanalítica é que os desejos sexuais não são tão importantes no desenvolvimento da personalidade quanto Freud enfatiza. Saiba mais Assista ao filme: FREUD, além da alma. Dir. John Huston. EUA: Universal International Pictures, 1962. 140 minutos. Psicossocial A Teoria Psicossocial tem como representante Erik Erikson (1902‑1994). Erik Erikson foi aluno de Freud, portanto, estudou aspectos relacionados ao desenvolvimento da personalidade, dando ênfase às questões psicológicas sociais. Também apresenta o desenvolvimento psicossocial por meio de oito estágios que se iniciam no nascimento e se prolongam até a terceira idade. Cada estágio psicossocial corresponde a um período de idade e apresenta um desafio. 30 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I 1º Estágio Confiança versus desconfiança – de 0 a 1 ano O desafio dessa idade é desenvolver a percepção de que o mundo é seguro, um lugar bom. E como essa sensação se desenvolve? Para Erikson, esse é o período em que a criança desenvolve o apego pelos cuidadores e, quanto mais apego essa criança desenvolver, mais facilmente entenderá que o mundo também é seguro. Outro fator correspondente a esse período, que implica o desenvolvimento da segurança, se relaciona com os cuidados que o bebê recebe do mundo que o cerca. Se os cuidados com a higiene não forem adequados, a criança percebe que o mundo a trata com desdém e ela não irá confiar nesse mundo instável e hostil. 2º Estágio Autonomia versus vergonha e dúvida – de 1 a 3 anos Nesse momento a criança começa a explorar o espaço que a cerca e, por desenvolver e utilizar suas novas habilidades, ela encontrará um ambiente de incentivo que lhe permite fazer escolhas ou um ambiente que a reprime, cheio de “nãos” por parte dos cuidadores. No ambiente que lhe possibilita escolhas, ela desenvolverá a autonomia e independência, aprendendo o autocuidado e a realização de sua higiene. 3º Estágio Iniciativa versus culpa – de 3 a 6 anos As crianças nessa idade desenvolvem novas experiências e são capazes de organizar atividades com propósito, o que as leva à compreensão de êxito a partir de atitudes iniciadas. Porém, quando há o fracasso, a criança tem condições de lidar com eles compreendendo a sua atitude em cada atividade. Nesse período Erikson compreende que, devido ao Complexo de Édipo ou de Electra, a criança pode se sentir culpada pelo conflito com o progenitor do mesmo sexo. Nessa fase a assertividade toma corpo, e a agressividade também. 4º Estágio Produtividade versus inferioridade – dos 6 anos à adolescência A produtividade aqui também deve ser compreendida como competência. A criança nessa fase é capaz de desenvolver habilidades e ações competentes, o que a torna produtiva. Contrária a essa capacidade seria a incompetência para realizar atividades, o que poderá provocar na criança o sentimento de inferioridade. 31 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM Nesse estágio as crianças são capazes de ter a compreensão das normas culturais, habilidades sociais, capacidade de trabalhar com os outros, utilizar e ter domínio de ferramentas. 5º Estágio Identidade versus confusão de identidade – adolescência Com as mudanças no desenvolvimento físico, há a necessidade de se adaptar a esse corpo. O mesmo ocorre em relação à busca da identidade, ao quem sou eu. O adolescente entra em um conflito emocional buscando estabilidade e definições que lhe ajudarão a definir sua identidade. Nessa busca ele desenvolve como característica positiva a fidelidade, a capacidade de fazer escolhas quanto ao futuro e a busca de novos valores. 6º Estágio Intimidade versus isolamento – início da vida adulta – dos 18 aos 30 anos Essa fase trata do período em que a pessoa está pronta para viver com o outro em um relacionamento amoroso, ou seja, tem a capacidade de desenvolver um relacionamento íntimo que vai além do entusiasmo da adolescência. 7º Estágio Geratividade versus estagnação – dos 30 anosà velhice O adulto vive a fase de que ou produz agora ou ficará parado para o futuro. “Ou faço agora ou não farei mais.” Nessa fase da meia‑idade o adulto revive o que fez pensando no que ainda pode fazer, como amar, criar os filhos, realizar‑se profissionalmente, ocupar‑se e se cuidar. Enfim, ele entende que ainda pode fazer e auxiliar os outros. 8º Estágio Integridade versus desespero – velhice Estágio marcado pela sabedoria, pois, ao observar a vida que viveu, faz uma avaliação encarando‑a como satisfatória. Mas, se foi angustiante e não atingiu seus propósitos, tende a entrar em desespero por entender que lhe resta pouco tempo para realizar algumas coisas e há outras que não dá mais para fazer, o que leva à angústia e ao desespero. De modo geral, a Teoria Psicossocial de Erik Erikson colabora para a compreensão do desenvolvimento da personalidade e nos ajuda a explicar os diferentes comportamentos do ser humano, pois, para Erikson, cada um dos períodos é um período de conflito, crise, que precisa ser superado com equilíbrio e de forma satisfatória, pois a má resolução da crise tende a influenciar diretamente na característica da 32 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I personalidade e o mesmo acontece com a resolução satisfatória. Essa teoria se limita a descrever apenas uma crise para cada período. Essas teorias e outras nos ajudam a compreender melhor o desenvolvimento da criança, do adolescente e dos adultos em diferentes contextos. Além delas, vale ressaltar a importância desse conhecimento para o trabalho a ser realizado. O diálogo entre o profissional e a pessoa doente será fundamental, pois ajudará a amenizar a situação, estimulando a confiança da pessoa no profissional, bem como a sua autoconfiança. Assim, não é possível estabelecer o sucesso do tratamento sem antes conhecer a pessoa e o diagnóstico das causas que levaram o indivíduo para o tratamento (curativo ou paliativo). É importante também conhecer as expectativas da pessoa que receberá o tratamento, seu estado emocional diante da doença, seu grau de ansiedade e avaliar que tipo de relação o paciente tem consigo mesmo e com os outros. É necessário que se estabeleça uma relação de confiança e ajuda mútua entre o enfermeiro e o paciente para que o ideal do tratamento seja conseguido e para que a pessoa se sinta cuidada. Sobre o cuidar, vamos entender o que coloca Callanhan: Cuidar de alguém é dar a ele nosso tempo, atenção, simpatia e qualquer ajuda social que possamos prover para tornar a situação suportável, pelo menos que nunca leve ao abandono. O cuidado deve sempre ter prioridade sobre a cura, pelas razões óbvias: nunca existe uma certeza de que nossas doenças possam ser curadas ou de que nossa morte possa ser evitada. Eventualmente elas podem e devem triunfar. Nossas vitórias sobre a doença e a morte são sempre temporárias, mas nossas necessidades de apoio e cuidado diante delas são sempre permanentes. Cuidar exige disponibilidade tanto de quem trata como de quem será tratado. Para tanto, vamos entender como se formam as relações entre as pessoas por meio do vínculo (CALLANHAN, 1993 apud PESSINI, 2004, p. 168). Observação O enfermeiro, em sua profissão, deve ter ciência que ele está cuidando, e não somente tratando, de um paciente. 33 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM 4.5 Formação do vínculo Figura 4 O sucesso das relações entre as pessoas depende do entrosamento entre elas, e isso só é possível se houver um vínculo que garanta o entendimento e a comunicação. No que se refere ao profissional‑paciente, isso é essencial porque a formação de um vínculo consistente dará ao paciente segurança em relação aos procedimentos que o enfermeiro irá realizar. Há uma tendência de abandono do tratamento caso o paciente não sinta confiança no profissional, e isso independe da técnica e da competência do enfermeiro. O primeiro vínculo/apego que o ser humano estabelece em sua vida ocorre quando, ao nascer, é recebido por alguém que, além de acolhê‑lo, o protege e cuida para que ele possa sobreviver. Segundo alguns estudiosos do comportamento humano, todos os vínculos que são estabelecidos no decorrer da vida estão baseados nessa primeira experiência, essa vivência primitiva. Para melhor compreender, vamos às explicações: Aplicada à Fisioterapia O apego é um vínculo emocional recíproco e duradouro entre um bebê e um cuidador, cada um deles contribuindo para a qualidade do relacionamento. O apego tem valor adaptativo para os bebês, assegurando que suas necessidades psicossociais, bem como físicas, sejam atendidas. Segundo a teoria etológica, bebês e pais possuem uma predisposição biológica para se ligarem um ao outro (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p. 245). O tema é tão importante, conforme os estudos realizados na área, que a qualidade das relações que a pessoa estabelece com o mundo posteriormente está baseada nessas primeiras experiências. 34 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - 2 6/ 01 /2 01 7 Unidade I A Teoria do Apego propõe que a segurança do apego influencia a competência emocional, social e cognitiva das crianças. A pesquisa tende a confirmar isso. Quanto mais seguro é o apego da criança a um cuidador, mais fácil parece ser para a criança posteriormente tornar‑se independente daquele adulto e desenvolver boas relações com os outros. O relacionamento entre o apego no primeiro ano de vida e as características observadas anos depois ressaltam a continuidade do desenvolvimento e o inter‑relacionamento dos diversos aspectos do desenvolvimento (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p. 250). É necessário ter atenção para que possamos entender necessidades que muitas vezes a pessoa em tratamento apresenta e que não necessariamente estão focadas na pessoa do terapeuta. Resumo Esta unidade abrange a importância do estudo da psicologia no curso de Enfermagem, apresentando os aspectos históricos da psicologia desde a Antiguidade e dando ênfase à psicologia do século XX, que dá subsídios para a compreensão do desenvolvimento humano no século XXI. Neste estudo destacam‑se algumas linhas teóricas que favorecem a compreensão do desenvolvimento humano nos aspectos cognitivo, emocional e social, o que colabora para a melhor compreensão do paciente e para a atuação do enfermeiro em seu cotidiano. O desenvolvimento humano é um processo longo e com mudanças contínuas em que cada pessoa vai se desenvolvendo a sua maneira e a seu tempo. É nesse desenvolvimento gradual que a história do sujeito vai se estabelecendo e sendo marcada pela infância, adolescência, idade adulta jovem, idade adulta média e velhice. Tais fatores do desenvolvimento são constantes e comuns, mas o ritmo e a organização – ou formas que se darão cada fator ou período desse desenvolvimento – dependerão de experiências individuais. Com isso, evidencia‑se que a dimensão do desenvolvimento humano perpassa tanto fatores de ordem interna aos indivíduos como fatores que são de ordem externa a estes. Assim, a compreensão da vida e da história de cada um vai tendo sentido e melhor compreensão. Por falar em compreensão, os estudos científicos sobre o desenvolvimento humano passaram a ter maior consistência no século XX, trazendo maior compreensão do desenvolvimento do homem nas áreas física, cognitiva, social e emocional. Vários estudos se destacaram, mas, dentre eles, evidenciamos os estudos da teoria behaviorista, que enfatiza o comportamento do homem, e a cognitivista,
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