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500 Anos de Língua portuguesa

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BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 1
BRASIL – 500 ANOS
DE LÍNGUA
PORTUGUESA
(Congresso internacional)
Apoio específico para esta publicação
CNPQ
FAPERJ
MINISTÉRIO DA CULTURA
AlphagraficsPinheiro/São Paulo
ABF/SBLL/UERJ
EDITORA ÁGORA DA ILHA
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA2
COPYRIGHT: Leodegário A. de Azevedo Filho.
TEL.: (0 XX 21) 522-5155
BRASIL 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Rio de Janeiro, junho de 2000
Magnífico Reitor da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro
Antônio Celso Alves Pereira
 Presidente da Academia Brasileira de Filologia e
 da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura
Leodegário A. de Azevedo Filho
Diretor do Instituto de Letras
Cláudio Cezar Henriques
COMISSÃO EDITORIAL
Álvaro de Sá
Amós Coelho da Silva
Marina Machado Rodrigues
Editor: Paulo França
EDITORA ÁGORA DA ILHA
TEL.FAX: 0XX 21 - 393-4212
agorailh@ruralrj.com.br
FILHO, Leodegário A. de Azevedo
Brasil 500 anos de Língua Portuguesa / Leodegário
A. de Azevedo Filho (organizador)
372 páginas - Rio de Janeiro, junho de 2000
Editora Ágora da Ilha - ISBN 86854
Lingüística e Filologia CDD - 410.412
Ficha catalográfica
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 3
PARTE I
CONFERÊNCIAS.......................................................................................13
Sumário
Língua, poesia e música em Cecília Meireles...................................15
Albano Martins (Universidade Fernando Pessoa, Portugal)
Questões de globalização e lusofonia..................................................21
Anna Hatherly (Universidade de Lisboa, Portugal)
D. Francisco Manuel de Melo no Teatro da Língua Portuguesa.......33
Evelina Verdelho (Universidade de Coimbra, Portugal)
Da construção lingüística da identidade. Um estudo de caso...............61
João Nuno Paixão Corrêa Cardoso (Universidade de Coimbra, Portugal)
Sintaxe camoniana: “Na qual quando imagina.”...................................73
Jorge Morais Barbosa (Universidade de Coimbra, Portugal)
Os estudos vicentinos: balanço e perspectivas......................................81
José Augusto Cardoso Bernardes (Universidade de Coimbra, Portugal)
Em defesa da Língua Portuguesa.........................................................91
Leodegário A. de Azevedo Filho (UERJ e UFRJ)
A Lusitania liberata ou A Restauração portuguesa em imagens .....95
Lilian Pestre de Almeida (Universidade Independente, Lisboa)
A Língua Espanhola e a sua função na obra catequética no Brasil.....111
Nicolás Extremera Tapia (Universidade de Granada)
O primitivismo literário de influência brasileira na poesia de
Angola....................................................................................................133
Salvato Trigo (Universidade Fernando Pessoa)
O léxico arcaico na história da Língua Portuguesa...........................143
Telmo Verdelho (Universidade de Aveiro, Portugal)
Tradução literária e comunicação cultural: o Português do Brasil em
Espanha..................................................................................................149
Xosé Manuel Dasilva Fernández (Universidade de Vigo, Espanha)
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA4
PARTE II
COMUNICAÇÕES ESPECIAIS...................................167
Análise contrastiva da variedade da Língua Portuguesa no Brasil e
em Portugal..........................................................................................169
Alessandra Dias Gervasoni (Universidade de Assis, SP)
José de Alencar e a língua nacional....................................................177
Ana Lúcia de Sousa Henriques (UERJ)
Duarte Nunes do Lião e a saudade do latim.......................................185
Antônio Martins de Araujo (ABF e UFRJ)
Língua e História do Brasil seiscentista em um manuscrito lusitano
.................................................................................................................197
Carla da Penha Bernardo (UFRJ)
Os utensílios de cozinha: português europeu do séc. XVI em confronto
com o português do Brasil no séc. atual..............................................207
Celina Márcia Abbade (UNEB/PPGL - UNBa)
É uma Língua Portuguesa, com certeza............................................217
Claúdio Cezar Henriques (ABF e UERJ)
Qual é a “língua brasileira” a se aprender na escola?.......................221
Darcília Simões (UERJ)
A defesa da fé no púlpito transdisciplinar............................................227
Geysa Silva (UFJF)
A indeterminação do sujeito no falar culto do Rio de Janeiro...........235
Hilma Ranauro (ABF e UFF)
As linguagens de Fernando Pessoa e Manoel de Barros................251
Isaac Newton Almeida Ramos
Edição diplomática de Gregório de Matos Guerra..............................261
José Pereira da Silva (ABF e UERJ)
Os sufixos tupi tyba ou tüba identificados com o sufixo português al...267
Luís César Saraiva Feijó (ABF e UERJ)
A Língua Portuguesa no Brasil: papel dos gramáticos na sua implantação
(participação em mesa-redonda)........................................................271
Manuel Pinto Ribeiro (ABF e UERJ)
Clarice Lispector e Maria Gabriela Ilansol: tentativas de descrever
sutilezas ou como dobrar a língua........................................................281
Maria de Lourdes Soares (UFRJ)
Um olhar sobre O memorial do convento - Saramago, primeiro Prêmio
Nobel da Língua Portuguesa................................................................293
Marina Machado Rodrigues (UERJ e ABF)
Tupinismos, africanismos, asiaticismos e o Dicionário Houaiss de
Língua Portuguesa..............................................................................303
Mauro Vilar (ABF e IAH)
Confrontos entre o Tupi antigo e a Língua Portuguesa....................317
Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ e SUAM)
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 5
A língua literária do Brasil no século XX e sua formação.................329
Paulo Silva de Araújo (ABF e Unesa)
A Língua Portuguesa no Brasil: papel dos gramáticos na sua implantação
(participação em mesa-redonda)........................................................341
Walmírio Macedo (ABF e USU)
Língua culta e língua literária............................................................347
Walmírio Macedo (ABF e USU)
PARTE III
COMUNICAÇÕES LIVRES (Resumos).........................353
Isoglossas do português.......................................................................355
Afrânio da Silva Garcia (UERJ-FFP)
O contorno semântico-sintático dos adjetivos em “O coruja” de Aluísio
de Azevedo..............................................................................................355
Afrânio da Silva Garcia (UERJ-FFP)
Intertextualidade como característica da língua literária machadiana
.................................................................................................................355
Alexandre Marcelo Matos (UFJF)
A cidade na obra de Lima Barreto e Almada Negreiros.....................356
Ângela Maria Thereza Lopes (UniverCidade – Univers. de Sá)
As figuras femininas em A geração da utopia de Pepetela...............356
Assunção Maria Sousa e Silva (UFRJ)
O ‘sociolingüista’ Mário de Andrade e o problema da língua brasileira
.................................................................................................................357
Carlos Alexandre Victorio Gonçalves (UFRJ)
História externa do português do Brasil............................................357
Castelar de Carvalho (ABF e UFRJ)
Diálogo entre tradições: uma leitura de “A cartomante” de Machado de
Assis.......................................................................................................357
Cecília de Macedo Garcez (UFJF)
O fim de Arsênio Goddard de João do Rio: o destino de um voluntarioso
Cláudio de Sá Capuano (UFRJ e CMRJ)...............................................358
Os caminhos da memória.Esquecer e lembrar. Uma leitura de Baú de
ossos de Pedro Nava...............................................................................358
Cristina Ribeiro Villaça (UFJF)
Texturas da narrativa de Autran Dourado...........................................359
Irene Jeanete L. Gilberto (Univers. Católica de Santos)
Neologismos formados por empréstimos na Língua Portuguesa escrita
contemporânea do Brasil......................................................................359
Isabel Aparecida S. Stamato (PG- FCL – UNESP)
O português do Brasil: a língua de Alencar .......................................359
Jorge Marques (UFRJ e CMRJ)
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA6
A trajetória da Língua Portuguesa na Amazônia colonial................360
José Ribamar Bessa (UERJ)
A produtividade de alguns processos formadores de palavra na consti-
tuição do vocabulário de pescadores artesanais.................................360
Kátia Carlos Alves/ Nelson Carlos Tavares Junior/Vanessa Sant’Anna
Tavares (UFRJ)
Murilo Mendes e as rasuras na religiosidade....................................361
Mara Conceição Vieira de Oliveira (UFJF)
A defesa da Língua Portuguesa e do império lusitano nos primeiros
gramáticos e em António Ferreira......................................................361
Márcia Maria de Arruda Franco (UFOP – CNPq)
Jeitinho brasileiro. A expressão idiomática no português do Brasil:
uma contribuição para o léxico da língua............................................361
Maria Auxiliadora Fonseca Leal (FALE – UFMG)
As duas faces da cidade na prosa ficcional de João do Rio................362
Mariângela Monsores Furtado Capuano (UERJ)
A reinvenção do infinito: mundos imaginados e imaginários em A idade
do serrote, de Murilo Mendes..............................................................363
Maria Perla Araújo Morais (UFMG)
A onomástica indígena no português do Brasil: confrontos lingüísticos
e interétnicos.........................................................................................363
Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (USP)
A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua
Portuguesa.............................................................................................364
Maurício Pedro da Silva (USP)
O (não) lugar de Portugal na formação de Murilo Mendes................364
Patrícia Riberto Lopes (UFJF)
O duplo destronizado e a devoração simbólica – a antropofagia como
revisão canônica em um conto de Rubem Fonseca..............................364
Petra Cristina Augusto (UFJF)
Fatores externos na formação do léxico português da América: os ele-
mentos indígenas e afro-negros...........................................................365
Ruy Magalhães de Araújo (UERJ- FFP)
Entre o segredo da Jurema e a perdida muiraquitã: uma busca da iden-
tidade nacional.......................................................................................365
Tatiana Alves Soares (UFRJ)
A linguagem literária machadiana e a reescritura da tradição........366
Terezinha Vânia Zimbrão da Silva (UFJF)
PARTE IV
MINICURSOS..........................................................................................367
1 - “Edição crítica da lírica de Camões”, com as participações de Álva-
ro de Sá (ABF); Marina Machado Rodrigues (UERJ) e Xosé Manuel
Dasilva Fernández (Universidade de Vigo, Espanha).....................369
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 7
A – O corpus minimum (Xosé Manuel Dasilva Fernández)
Lírica de Camões: problemas afetos à autoria e reconstituição textual
– Tentativas anteriores de estabelecimento de um corpus lírico
camoniano - Metodologia concebida por Emmanuel Pereira Filho –
Os critérios empregados por Leodegário A. de Azevedo Filho – A
crítica textual: ferramenta fundamental para o estabelecimento crítico
dos textos – O corpus minimum camoniano, segundo edição crítica
de Leodegário A. de Azevedo Filho.
B – O corpus addititium (Marina Machado Rodrigues)
Conceito de corpus addititium - Critérios propostos por Leodegário
A. de Azevedo Filho – Aplicação dos critérios aos textos excluídos.
2 - “Unidade do português literário no mundo lusofônico de Portugal,
Brasil e nações africanas de Língua Portuguesa”, com as participa-
ções de Pedro Lyra (UFRJ); Carmen Lúcia Tindó Secco (UFRJ) e Nadiá
Paulo Ferreira (UERJ).
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 9
Realizou-se, no período de 26 a 30 de julho de 1999, o Congres-
so Internacional-Brasil: 500 Anos de Língua Portuguesa, no
Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
1 – Participação de professores estrangeiros
Participaram do Congresso os seguintes professores vindos do
exterior:
1.1 - Prof. Dr. Eugenio Coseriu, da Universidade de Tübingen,
Alemanha, que falou sobre “Língua Portuguesa e exemplaridade
brasileira”;
1.2 - Prof. Dr. Fernando Alves Cristóvão, da Universidade de
Lisboa, Portugal, que falou sobre “Unidade e diversidade da Lín-
gua Portuguesa na hora da globalização”;
1.3 - Prof. Dr. Telmo Verdelho, da Universidade de Aveiro,
Portugal, que falou sobre “O português quinhentista”;
1.4 - Profª Drª Evelina Verdelho, da Universidade de Coimbra,
Portugal, que falou sobre “O português quinhentista”;
1.5 - Prof. Dr. Jorge Morais Barbosa, da Universidade de
Coimbra, Portugal, que falou sobre “O português quinhentista”;
1.6 - Prof. Dr. José Carlos Seabra Pereira, da Universidade
de Coimbra, que falou sobre “A redescoberta do Brasil pelo ima-
ginário neo-romântico”;
1.7 - Prof. Dr. Nicolás Extremera Tapia, da Universidade de
Granada, Espanha, foi debatedor em mesa-redonda que tratou do
tema proposto pela conferencista Yonne Leite, do Museu Nacional
e da UFRJ, sobre “As línguas indígenas brasileiras” e a Grammatica
da lingoa mais falada na costa do Brasil, do Padre José de
Anchieta. Em outra sessão, já como conferencista, expôs as suas
Apresentação
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA10
conclusões sobre recente investigação feita em torno da língua dos
catecismos usadas no Brasil quinhentista;
1.8 - Prof. Dr. José Augusto Cardoso Bernardes, da Universi-
dade de Coimbra, Portugal, que falou sobre “Os estudos vicentinos:
balanço e perspectivas”;
1.9 - Profª Drª Anna Hatterly, da Universidade de Lisboa, que
falou sobre “A questão da lusofonia”;
1.10 - Prof. Dr. Xosé Manuel Dasilva Fernández, da Universi-
dade de Vigo, Galiza, que falou sobre “Tradução literária e comuni-
cação cultural: o português do Brasil na Espanha”;
1.11 - Prof. Dr. Albano Martins, da Universidade Fernando Pes-
soa, Porto, Portugal, que falou sobre a “Língua, poesia e música em
Cecília Meireles”;
1.12 - Prof. Dr. Salvato Trigo, da Universidade Fernando Pes-
soa, Porto, Portugal, que falou sobre “O português em África”;
1.13 - Prof. Dr. João Nuno Paixão Corrêa Cardoso, da Universi-
dade de Coimbra, Portugal, que falou sobre “A construção lingüística
da identidade”
2 – Participação de professores brasileiros
Em seguida, relacionaremos a participação de professores bra-
sileiros, indicando temas de conferências e mesas-redondas:
2.1 - Conferência sobre a “Língua histórica portuguesa e
exemplaridade brasileira”com as participações de Cilene da Cu-
nha Pereira (ABF e UFRJ), Castelar de Carvalho (ABF e UFRJ)
e Evanildo Bechara (ABF e UERJ);
2.2 - Conferência sobre “As línguas indígenas brasileiras e a
Grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil, do pa-
dre José de Anchieta”, de Yonne Leite (do Museu Nacional e da
UFRJ), com a participação de Ricardo Cavaliere (ABF e UFF);
2.3 - Mesa-Redonda sobre “A contribuição das línguas indíge-
nas e africanas para o enriquecimento do léxico do português do
Brasil” com as participações de Horácio Rolim de Freitas (ABF e
UERJ), Luís César Saraiva Feijó (ABF e UERJ) e Mauro Vilar
(IAH);
2.4 - Conferências sobre “A Língua Portuguesa no Brasil:
papel dos gramáticosna sua implantação” com as participações
de Evanildo Bechara (ABF e UERJ), Manuel Pinto Ribeiro (ABF
e UERJ) e Walmírio Macedo (ABF e USU);
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 11
2.5 - Mesa-Redonda sobre “A formação da língua literária no
Brasil” com as participações de Domício Proença Filho (ABF e UFF),
Gilberto Mendonça Teles (ABF e PUC) e Ildásio Tavares (UFBa);
 2.6 - Conferência sobre “Tradução literária e comunicação cul-
tural: o português do Brasil na Espanha”, com as participações de
Helena Ferreira (UFRJ), Maria Lúcia Aragão (UFRJ), Ivany Lessa
Baptista de Oliveira (SBLL) e Maria Leny H.S. de Almeida (UERJ);
2.7 - Mesa-Redonda sobre “O português do Brasil - sua implan-
tação e sua oficialização como língua nacional”, com as participa-
ções de Claúdio Cezar Henriques (ABF e UERJ), André Valente
(UERJ), José Carlos Azeredo (UERJ) e Darcília Simões (UERJ);
2.8 - Conferência sobre “Palavra de poeta – Cabo Verde e
Angola” proferida pela escritora e jornalista Denira Rozário;
2.9 - Conferência sobre “Escrevendo ainda em Latim no
séc.XVII e defendendo Portugal por imagem”, proferida por Lílian
Pestre de Almeida (Lisboa, Portugal);
2.10 - Conferência sobre “Unidade e diversidade da Língua
Portuguesa na hora da globalização”, com as participações de
Eneida Monteiro Bonfim (ABF e PUC); Horácio Rolim de Freitas
(ABF e UERJ) e Rosalvo do Vale (ABF e UFF);
2.11 - Mesa-Redonda sobre “A língua literária moderna” com
as participações de Dalma Nascimento (UFRJ); Marcus Accioly
(UFPe) e Pedro Lyra (UFRJ);
2.12 - Conferência sobre “Em defesa da Língua Portuguesa”,
por Leodegário A. de Azevedo Filho.
Minicursos
 1 - “Edição crítica da lírica de Camões”, com as participações
de Álvaro de Sá (ABF); Marina Machado Rodrigues (UERJ) e
Xosé Manuel Dasilva Fernández (Universidade de Vigo, Espanha);
2 - “Unidade do português literário no mundo lusofônico de
Portugal, Brasil e Nações Africanas de Língua Portuguesa”, com
as participações de Pedro Lyra (UFRJ); Carmen Lúcia Tindó Secco
(UFRJ) e Nadiá Paulo Ferreira (UERJ).
Em síntese, o Congresso pôs em discussão, de um lado, o pro-
blema do transplante e da implantação do português como língua
nacional do Brasil, analisando o uso da língua geral no séc. XVI e
o gradativo triunfo da Língua Portuguesa através do bilingüismo
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA12
do séc. XVII e da sua definitiva implantação no séc. XVIII. A
partir do séc. XIX, a elite intelectual brasileira assumiu como dela
a Língua Portuguesa, surgindo então várias polêmicas entre por-
tugueses e brasileiros. Conclusivamente, a língua é a mesma en-
quanto sistema, apresentando naturais variações de norma e uso,
não apenas entre Portugal e Brasil, mas em todo o mundo
lusofônico. De outro lado, o Congresso analisou a formação da
língua literária no Brasil, desde o séc. XVI, quando a obra de
Anchieta se incluiu dentro dos postulados da estética jesuítica, re-
cebendo os influxos ideológicos do Concílio de Trento, em sua
expressão pré-barroca. No séc. XVII, com Gregório de Matos e
Vieira, o Barroco atingiu a sua plenitude, estendendo-se ainda pelo
séc. XVIII, em que floresceu o Arcadismo com os poetas do
grupo mineiro. No séc. XIX, a língua literária do Brasil estava
plenamente constituída, como se pode ver nas obras literárias dos
românticos, realistas e simbolistas. Afinal, no séc. XX, a partir da
Semana de Arte Moderna de 22, a literatura brasileira tornou-se
uma das mais expressivas do mundo lusofônico.
Com a publicação das Atas do Congresso, que serão enviadas
aos órgãos patrocinadores, melhor se poderá avaliar a qualifica-
ção científica das conferências proferidas e dos temas discutidos
em mesas-redondas e em sessões de Comunicações livres.
Em anexo, remetemos ainda a programação das sessões de
Comunicações, indicando os nomes dos participantes e os temas
das mesmas, com a observação de que também serão selecionadas
e inseridas nas Atas, ampliando-se assim os benefícios culturais
do Congresso Internacional – Brasil: 500 Anos de Língua
Portuguesa.
Por fim, de acordo com o Regulamento do Congresso,
por todos aprovado, aqui se publicam apenas os textos entregues
à Comissão Organizadora, com disquetes, dentro do prazo es-
tabelecido.
Leodegário A. de Azevedo Filho
Presidente
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 13
Conferências
Parte I
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 15
 .............................. palavras,
que estranha potência, a vossa!
 Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência
Há um poema de Cecília Meireles que me persegue há
cinqüenta anos. Vem no seu livro Viagem, de 1939, e os seus
quatro primeiros versos dizem assim:
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Porque me persegue ele, o poema? Não sei. Tenho-o no
ouvido, onde ressoa em surdina, e sei, isso sim, que lá irá con-
tinuar, fazendo companhia a outros que ali um dia também en-
traram, para não mais sair. Este, por exemplo:
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Ao seu poema chamou Cecília “Canção”. Este, cujo mote
acabo de evocar, é uma “cantiga”, e o seu autor, João Roiz de
Língua, poesia e
música em Cecília Meireles
Albano Martins
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA16
Castelo Branco, um dos poetas recolhidos por Garcia de Resende
no seu Cancioneiro Geral, lá por alturas de Quinhentos, quando
a Língua Portuguesa atravessava os mares, levada no bojo das
naus – dos navios –, como o sonho de Cecília. Mas se a este, por
vontade do poeta, o engoliram as “ondas entreabertas” por suas
mãos, a língua, essa, aportou aqui triunfante, bebeu o sumo dos
frutos tropicais, mergulhou raízes no húmus estuante de seiva, tor-
nou-se “vaga música”, abriu as vogais, suavizou as consoantes,
fez-se imperatriz na toada dolente do chorinho, congonha no bule
dos dias iguais, vinho anestesiante das noites cálidas do luar serta-
nejo, grito de Ipiranga, rosa e ametista.
É dessa “vaga música”, dessa suavidade, desse vinho
perturbante, do perfume dessa rosa e do brilho dessa ametista que é
feita a poesia de Cecília, que são feitas as suas “canções” – título de
um sem número de poemas avulsos e de um emblemático livro seu.
E esta palavra “canção”, a que os tempos da demanda
petrarquista haviam de emprestar novas feições, novos ritmos, no-
vos conteúdos e respiração mais dilatada, logo remete para as ori-
gens da língua literária, para a jubilosa atmosfera das “flores do
verde pino” ou para as “ondas do mar de Vigo”, a que o poeta de
Mar Absoluto sempre se manterá ligado pelo ritmo escandido dos
seus versos brandos. Canção, e canto, e música interligados num
novelo de rimas, de ritmos e de sons, ora vindos do corpo redondo
dos alaúdes, ora do afilado perfil das flautas, ora dos cravos e das
clarinetas que por ali andam urdindo a sua teia sonora, num compas-
so de valsa lenta e suavíssimos adágios.
É essa a língua primeva de Cecília: a dos Cancioneiros. Os
medievais, os das cantigas de amigo e de amor, e o de Garcia de
Resende. Mas é também a do romanceiro popular português, como
claramente deixam perceber o seu Romanceiro da Inconfidên-
cia e alguns romances ou rimances que também escreveu e avul-
samente publicou.
Volto ao poema. Para dizer que sei, afinal, donde vem o seu
fascínio. Vem do ritmo, do seu compasso lento, das cesuras e, também,
dos seus timbres vocálicos. Diz Amorim de Carvalho, no seu Tratado
de Versificação Portuguesa, que o octossílabo (e octossílabos são
os versos do poema de Cecília) “tem uma toada própria lânguida,
mole, vagarosa e dolente”; que os seus acentos rítmicos recaem,
umas vezes, na 4ª e 8ª sílabas; outras, na 2ª, 4ª, 6ª e 8ª, caso em que
o seu andamento se torna mais vagaroso. Não conheceu Amorim
deCarvalho o poema de Cecília. Conhecendo-o, teria emendado a
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 17
afirmação, ou tê-la-ia completado, ao menos, acrescentando que a
norma por si enunciada pode admitir desvios, aceitar variantes.
Repare-se no segundo verso:”e o navio em cima do mar”. Aqui, as
tónicas dominantes são a 3ª, 5ª e 8ª sílabas. E há, no mesmo poema,
um verso – este: “colore as areias desertas” – em que eles, os
acentos rítmicos, recaem na 2ª, na 5ª e na 8ª sílabas. Donde se
infere que o maior vagar e dolência do octossílabo podem também
resultar da sua maior variedade rítmica. Como naquele verso – nem
sáfico nem heróico – de Camilo Pessanha – “aridez de sucessivos
desertos” –, cuja acentuação (com as tónicas dominantes na 3ª e 7ª
sílabas) se furta visivelmente às normas estabelecidas pelos tratadistas
para o verso decassilábico. Veja-se como, com tais acentos, ambos
os versos ondulam.
 O de Cecília:
 lo rei ser
 co re ( as a as de ( tas )
 ( ∪ - / ∪ ∪ - / ∪ ∪ - / )
 O de Pessanha:
 dez ssi ser
 ari de suce vos de (tos)
 ( ∪ ∪ - / ∪ ∪ ∪ - / ∪ ∪ - / )
No primeiro, o ritmo iâmbico volve-se em dactílico por exce-
lência. E é também dactílico, no essencial, o verso de Camilo
Pessanha, onde a introdução do péon IV no segundo pé ( ∪ ∪ ∪ -)
parece dilatar ad infinitum a extensão (a aridez) dos “sucessivos
desertos”. E esta é a prova – mais uma, e prova bastante – de que,
em matéria de poesia, são os poetas quem, em definitivo, estabelece
as normas, não os tratadistas.
Mas falei dos timbres. É que também eles concorrem decisi-
vamente para a música apetecida que os versos engendram. Aí os
temos: a tónica final do primeiro verso, que contém a vogal fechada
i (“Pus o meu sonho num navio”) ecoa duas vezes no segundo (“e o
navio em cima do mar”) e também no terceiro (“depois, abri o mar
com as mãos”). As rimas em i (neste caso, internas) são, como é
sabido, uma constante nas cantigas de amigo (“Ai flores, ai flores do
verde pino, / se sabedes novas do meu amigo...”; “Ondas do mar de
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA18
Vigo, / se vistes meu amigo...”), onde alternam, como também é
sabido e notório, com as rimas em a. Aí as temos, na primeira quadra
do poema de Cecília, onde o substantivo mar, do final do segundo
verso, entra em consonância com o infinito naufragar, do quarto.
E, como se tal não bastasse, o mar do segundo verso é recuperado
no terceiro, numa espécie de leixa-pren, e a sua vogal repercute-se,
como um eco, na palavra “água”, sempre sabiamente colocada a
meio dos versos (“debaixo da água vai morrendo”; “praia lisa, águas
ordenadas”), lá onde o tom sobe ou se encrespa, como a crista
duma onda, que logo se quebra, desamparada, nas “areias desertas”.
E de leixa-pren poderíamos falar ainda a propósito de navio e
sonho, que são, juntamente com mar, as palavras-chave da
semântica do poema. Navio e sonho que, em repetidas variações
sobre o mesmo tema, como leit-motiv ou em jeito de estribilho,
reaparecerão em outros, vários, momentos do poema. Antes que o
“navio chegue ao fundo” e o “sonho desapareça”.
As rimas em i e em a, dizíamos. E são elas que de novo
irrompem em pontos fulcrais do poema. As primeiras, nesta qua-
dra, situada a meio:
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio.
As segundas, no seu remate:
Depois tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Entre parênteses, faria notar que são as rimas em i que
dão o timbre mais saliente à “cantiga” de João Roiz de Castelo
Branco atrás aludida, e as rimas em a as mais constantes no
romanceiro popular português. Quem não se lembra do início
da “Nau Catrineta”?:
Lá vem a nau catrineta,
que tem muito que contar.
Ouvi agora, senhores,
uma história de pasmar.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 19
Poesia em mi, em si, em fá e em lá, isto é, poesia e músi-
ca harmonizadas na escrita rendilhada de Cecília Meireles.
Música de clavicórdio, instrumento antigo, e de harpa eólica
(“O vento vem vindo de longe, / a noite se curva de frio...” –
note-se a explosão das fricativas, a sugerir o continuado sus-
surro da aragem). Ou, se preferirem, a língua elevada à sua
mais alta expressão musical. Terá sido a consciência de tais
valores – os valores musicais da língua -, tanto como a da sua
irresistível energia comunicativa, que levou Cecília a escrever,
no “Romance LIII ou das palavras aéreas”, do seu Romanceiro
da Inconfidência:
................................. palavras,
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia...
Palavras. Sonho e rosa. Uma rosa de sílabas “aéreas”, per-
fumadas. Uma canção. Todo o canto e toda a música no timbre
de algumas vogais. Do i, sobretudo. Porque é em i que “ o mel do
amor cristaliza”. Porque é lá, no amor, que o “sentido da vida
principia”. E eis como, deste modo, a frase do Génesis “Ao princí-
pio era o verbo” ganha novo significado. Este: ao princípio era o i.
O i de Cecília. O i de poesia. E, enfim, o i de Brasil.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 21
Em primeiro lugar, desejo expressar a minha satisfação por me
encontrar mais uma vez nesta cidade maravilhosa que sempre me
encantou e onde sempre fui tratada com tanto carinho. Agradeço
ao meu querido amigo Leodegário de Azevedo Filho e aos
organizadores deste Congresso o convite para estar aqui convosco.
Apesar de a Lingüística não ser a área da minha especialida-
de
, 
esta não é a primeira vez que me encontro no meio de mestres
da Lingüística: lembro-me bem de ter participado no 1º Congresso
de Lingüística que, em 1979, se realizou em João Pessoa, e que foi
para mim um Encontro a muitos títulos memorável.
Vinte anos depois, aqui estou, novamente num Congresso de
Lingüística, mas como sou apenas escritora e professora de litera-
tura, vão-me perdoar se, no meu pequeno texto, eu ficar dentro do
meu terreno, tanto mais que a literatura, que é uma das áreas
privilegiadas de funcionamento duma língua, me permite abordar
a questão da lusofonia, que é aonde eu quero chegar.
Recentemente
, 
no passado mês de Junho, estive em Varsó-
via, para participar no 66º Congresso do P.E.N. Club Internacional,
que este ano se realizou na Polônia. O tema do Congresso era
Farewell to the XXth Century – uma despedida do século – mas
o sub-tema que mais se debatia era o problema da globalização,
que, sendo na origem, de ordem econômica na Europa
, 
mas tam-
bém em todo o mundo, se projecta duramente na área da cultura.
O conceito de global village prenunciado por Marshall Macluhan
há mais de duas décadas, começa agora a tomar forma de um
modo generalizado.
Devo dizer que além de ser membro da direcção do P.E.N.
Questões de globalização e lusofonia
Ana Hatherly, da Universidade Nova de Lisboa.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA22
Club Português, há muito que também sou membro da direcção
do pelouro para os direitos lingüísticos no P.E.N. Club Internacio-
nal, e por isso a minha ligação com as questões lingüísticas tem
sido uma das áreas do meu interesse.
Voltando ao Congresso de Varsóvia, o que preocupava os
congressistas do P.E.N Club, europeus, americanos do norte e do
sul, africanos e asiáticos, uma vez que se tratava de uma repre-
sentação de intelectuais de todo o mundo
, 
o que os preocupava
estava equacionado nos dois temas que foram propostos para de-
bate e eram os seguintes:
1º -Quais os efeitos da globalização ante a singularidade do
escritor?
2º - Qual o papel do escritor no próximo milênio?
Estes dois temas já haviam sido discutidos num Encontro In-
ternacional de Escritores do P.E.N. que se realizara em Bled, na
Yugoslávia, no mês de Maio. O que se passou em Varsóvia, foi,
portanto, um prolongamento desse debate.
Eu não estive nesse encontro de Bled, mas li atentamente as
Actas e, quando chegou minha vez de entrar no debate em Varsó-
via, apresentei um texto de que vos darei aqui uma breve súmula.
Assim, voltando à questão inicial da globalização que tanto
preocupa os intelectuais, especialmente os de países de línguas
minoritárias que, em geral, correspondem a economias deficitárias
ou em desenvolvimento, o que se pôde concluir destes debates foi
que o processo de globalização, que agora ameaça as erradamente
chamadas “pequenas literaturas nacionais”, que representam por
vezes, culturas longamente individualizadas, esse processo há muito
que tem estado em discussão porque, agora como antes, o que
verdadeiramente está em questão é o problema da sobrevivência:
sobrevivência duma individualidade, sobrevivência duma ideia de
cultura, sobrevivência do todo um mundo de expressão e criatividade
própria, num contexto em que o domínio duma força econômica, a
que agora chamamos globalização, é uma velha ameaça. O que
mudou é que essa ameaça atinge agora mesmo países e culturas
secularmente importantes que, hoje em dia, em termos de números
de falantes, se encontram de repente no número das línguas
minoritárias, como exemplo, a Alemanha.
Quanto à necessidade de afirmação de singularidade por parte
do escritor, agora mais do que nunca confrontado com o processo
de globalização, esse confronto estende-se agudamente às litera-
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 23
turas e às culturas nacionais, e a das em línguas minoritárias, con-
frontadas com os padrões de consumo das áreas culturalmente
dominantes.
Perante esta situação que, na Europa e no mundo, diz respei-
to a um grande número de países com culturas tradicionais com
séculos de existência, quesurgiram várias perturbantes perguntas,
como por exemplo:
1) - Poderá acaso o romântico conceito de escritor como
out-sider, ou a defesa de uma cultura marginal, sobreviver num
mundo dominado pelo processo de globalização, a qual, para citar
uma definição oferecida pela Internet, que aqui traduzo, “é um
meio para se atingir altos níveis de produtividade, eficiência e se-
gurança, penetrando as forças do mercado e os ciclos económicos
à escala mundial”?
2) - Poderá acaso o velho conceito de literatura como merca-
doria espiritual (ou Ropicapnefma segundo lhe chamou João de
Barros no século XVI) poderá acaso esse velho conceito sobrevi-
ver num mundo dominado pelos interesses económicos que fazem
dos assuntos culturais uma indústria como qualquer outra?
3) - Qual é o lugar do talento individual num contexto que tende
a nivelar as diferenças, tantas vezes pelo baixo, submetendo tudo
aos padrões ditados pelos valores das sociedades antes dominantes
e suas dominantes línguas?
A estas prementes questões as tentativas de resposta gera-
ram logo debates, que aqui não tenho tempo de relatar, mas que
poderemos aqui re-iniciar, se for vosso desejo.O que posso infor-
mar é que, dos importantes debates que ocorreram tanto em Bled
como em Varsóvia, uma das principais conclusões a que se che-
gou foi que, curiosamente, ou talvez significativamente, aquilo a
que o processo de globalização em curso tem dado origem, nos
países e nas culturas de línguas minoritárias mais atentos, é uma
intensificação das diferenças culturais, literárias e lingüísticas que
reafirmam – ou pelo menos tentam reafirmar – uma diferencia-
ção, surgindo essa diferenciação como a resposta natural à ame-
aça da normalização, da standardização, do nivelamento das cul-
turas personalizadas
, 
que põem em perigo a diversidade, que é
uma regra natural do processo de sobrevivência.
Quando, nesse debate internacional, chegou a minha vez de
falar, o exemplo que eu dei, como não podia deixar do ser, foi
precisamente o da lusofonia.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA24
Como todos sabem, sendo a Língua Portuguesa uma língua
minoritária na Europa, à escala mundial é uma língua com um
importante número de falantes, mas isso só acontece no conjunto da
lusofonia, que se caracteriza, precisamente, pela afirmação duma
convivência apoiada numa diferenciação harmoniosa. Esse é o
prodígio (talvez momentâneo) que se verifica no mundo da Língua
Portuguesa, e que evidencia a enorme ductibilidade dum idioma em
que diferentes culturas se apoiam para se afirmarem individualmente,
constituindo uma experiência multicultural em que as diferenças,
até agora, têm sido uma vantagem, e não uma desvantagem.
Esse é o prodígio da lusofonia que, perante a ameaça de
globalização, consegue manter uma forma de coexistência das dife-
renças num harmonioso plural, num todo sinfônico, em que o talento
individual e as culturas individuais contribuem umas para as outras
sem se contradizerem.
E se, como já tem sido dito, a literatura surge como o local da
plenitude da língua, e não a literatura da lusofonia, explorando na
simultaneidade o mundo da diferença, no seu conjunto será uma
ilustrativa manifestação do alcance da criatividade individual num
conjunto de pluralidades.
E então pergunto:
1) Não será acaso tarefa do pensamento criador tentar a
exploração do mundo da diferença?
2) A criatividade, a todos os níveis, não será acaso a expres-
são duma procura da secreta relação que existe entre o homem e
o mundo, destinada a promover imaginativamente a compreen-
são do outro?
O exemplo da lusofonia surge, assim, como algo que se atin-
ge através duma compreensão da unidade superior da língua portu-
guesa, que poderá transformar-se em “uma ponte eterna sobre a
corrente dos séculos, como tem sido uma ponte sobre a vastidão
do oceano.”1
Dois exemplos recentes da harmoniosa expressão da lusofonia:
para além da arreigada competência e dedicação com que no
Brasil se estudam os autores portugueses, quero assinalar aqui a
recentíssima edição da Antologia da poesia portuguesa con-
temporânea, organizada por Alberto da Costa e Silva e Alexei
Bueno, que inclui dezenas de poetas.2
Também recentemente, em Maio, mas em Portugal, reali-
zou-se em Sintra a II Festa da Língua Portuguesa, um encontro de
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 25
poetas da lusofonia, vindos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. 3
Da participação desses poetas surgiu uma Antologia intitulada
Vozes poéticas da Lusofonia4 que é uma verdadeira sinfonia de
vozes em que as diferenças constituem a sua riqueza, a sua beleza,
a sua força individual enriquecida pela convivência.
Para ilustrar esta afirmação vou ler alguns dos poemas inclu-
ídos nessa Antologia, que merece um estudo atento porque o que
ela exemplifica é uma amostragem de talentos individuais que
independem da origem dos seus autores. Desta coletânea de ta-
lentos e vozes individuais está excluído o folklore, a exploração
mais ou menos primária de realidades culturais distintas. O que aí
domina é o mundo da língua ao serviço da expressão individual
ainda que não esteja isenta de ideologia.
O que importa é que cada um se sentiu livre para se exprimir
e para utilizar uma língua comum como veículo de afirmação per-
sonalizada.
Consideremos, portanto, alguns exemplos da criatividade
lusofônica numa feliz convivência dentro do âmbito da poesia con-
temporânea.
Homo angolensis
Mastiga a própria desgraça
com ela improvisa uma farra
precisa de uma boa maka
como do ar para respirar
acha o mundo demasiado pequeno
pró seu coração
ri à toa fornica por disciplina
revolucionária
jura que um dia será potência
gosta defunje todos os sábados
e foge do
 
trabalho na segunda
mas fica limão
quando lhe querem abusar
Angola: João Melo, p.17
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA26
O número quatro
O número quatro feito coisa
ou a coisa pelo quatro quadrada,
seja espaço, quadrúpede, mesa,
está racional em suas patas;
está plantada, à margem e acima
de tudo o que tentar abalá-la,
imóvel ao vento, terremotos,
no mar maré ou no mar ressaca.
Só o tempo que ama o ímpar instável
pode contra essa coisa ao passá-la:
mas a roda, criatura do tempo,
é uma coisa em quatro, desgastada.
Brasil: João Cabral de Melo Neto, p. 78
Ser tigre
O tigre ignora a liberdade do salto,
como se uma mola o compelisse a pular.
Entre o cio e a cópula,
o tigre não ama.
Ele busca a fêmea
como quem procura comida.
Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.
Nenhuma voz lhe fala da morte.
O tigre, já velho, dorme e passa.
Cabo Verde:
Arménio Vieira, p.116
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 27
Imerecimento
Adormeço
Na luz
dos teus olhos
vejo Veneza
que não conheço
Ondulo
num círculo
de ondas
de levitação
Confesso:
não mereço
a ternura
da gôndola
acariciando
as águas
onda a onda
Guiné-Bissau: Tony Tcheka,
p. 133
O nosso medo
Agora
a memória vasculha
os quatro cantos da cidade
e encasacados os ex-amigos
rastejam emaranhados nas raízes
subterrâneas do seu medo
e ágeis as suas mãos embraiam reluzentes
besoiros que dilaceram as estradas
bebendo sequiosos o sangue dos ventos.
Vasculha
as ruas
de ponta a ponta
a memória
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA28
laboriosa como um insecto
e se há mais do que eu digo
também o meu medo
encasacado instiga-me ao segredo.
Moçambique: José Craveirinha, p.157
Lá no Água Grande
Lá no “Água Grande” a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pe-
dra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.
S. Tomé e Príncipe: Alda do Espírito
 Santo, p. 239
O sal da língua
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 29
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida a alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Portugal: Eugénio de
Andrade, p. 195
A fala
Sou de uma Europa de periferia
na minha língua há o estilo manuelino
cada verso é uma outra geografia
aqui vai-se a Camões e é um destino.
Velas veleiro vento. E o que se ouvia
era sempre na fala o mar e o signo.
Gramática de sal e maresia
na minha língua há um marulhar contínuo.
Há nela o som do sul o tom da viagem.
O azul. O fogo de Santelmo e a tromba
de água. E também sol. E també sombra.
Verás
 
na minha língua a outra margem.
Os símbolos os ritmos os sinais.
E Europa que não mais Mestre não mais.
Portugal: Manuel Alegre, p. 209
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA30
Estou aqui
Ó Brasil
terra maravilhosa
onde cresce
a fruta mais gostosa
Quero comer
quero beber
água de coco
quero provar
fruta de cajá
caju
capuaçú
goiaba
abacate
abacaxi
aruças
aracás
joá
cambois
mamão
mangava
macujé
mangará
maracujá
mapurunga
mandacarú
pitomba
pitanga
piquiá
ananás
umbu
mandacaru
oitituruba
genipapo
As romãs rubicundas, quando abertas
à vista agrados são; à língua ofertas*
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 31
Ah!
Há um mundo na língua!
*Manoel Botelho de Oliveira, in A ilha
da Maré (1705).
Notas
1
 Cf. Leodegário A. de Azevedo Filho, A língua, portuguesa e a
unidade do Brasil, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Filologia,1999,
p.22
2
 Esta Antologia foi publicada no Rio do Janeiro, pela Editora Nova
Aguilar, em 1999.
3
 Infelizmente não foram incluídos poetas da Ásia nem da Oceania,
onde se destaca Xanana Gusmão, de Timor, cuja poesia é regularmente de
antologias e recitais em Portugal.
4
 Organização do Instituto Camões, de Lisboa, Edição da Câmara
Municipal de Sintra, Maio de 1999
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 33
Entre os numerosos estudos realizados sobre a personalidade
e a obra valiosa, vasta e diversificada, em português e espanhol, de
D. Francisco Manuel de Melo, contam-se alguns que incidem sobre
a sua linguagem, designadamente trabalhos académicos que trou-
xeram contributos para o conhecimento do seu estilo. Essa constitui,
todavia, uma área de investigação ainda muito em aberto, a solicitar
novos estudos de vária ordem. Refiro a propósito que na Universi-
dade de Coimbra está a desenvolver-se um projecto de investiga-
ção que tem em vista organizar o corpus lexical das obras em Lín-
gua Portuguesa do Polígrafo, tanto quanto possível com base em
edições fidedignas. Neste ensejo proponho-me focar algumas facetas
deste autor manifestadas perante o idioma português, as quais –
adoptando expressão modelada pelo universo teatral, à imagem do
que se verificou com o próprio D. Francisco Manuel de Melo, no-
meadamente no soneto “Mundo he Comedia” (As Musas portu-
guesas, p. 6), e com outros autores de Seiscentos – poderei etiquetar
de espectador, crítico e actor no teatro da Língua Portuguesa.
Nas suas obras, quer no discurso de autor, quer nas falas de
figuras ou personagens, D. Francisco Manuel de Melo faz não ra-
ras referências a aspectos e materiais da Língua Portuguesa. De
quando em quando, como que interrompe o fio da narração ou da
reflexão, e detém-se em vocábulos, assinalando o significado ou o
uso, às vezes apontando o que se verificava no português de épocas
anteriores, ou em outras línguas. Entre outros casos, de que um
levantamento exaustivo propiciará certamente informações com
interesse no âmbito da história da língua, destaco que assim procede
com vocábulos que designam categorias sociais, como «dama»,
D. Francisco Manuel de Melo
no Teatro da Língua Portuguesa
Evelina Verdelho, da Universidade de Coimbra.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA34
«dona», «senhora» e «fidalgo», em A Visita das fontes, em inter-
venção da Fonte Velha, onde está notado que às «(…) Damas e
Senhoras (…) antigamente chamavam Donas» (p. 118), e na
Epanáfora política, onde se lê: «Viuia por estes tempos em Lis-
boa hum dos nobres do Reino, de aquella ordem a quem os
Portuguezes chamão: Fidalgos, com mais digna recordação que
as outras nasções de Espanha, sendolhes a todas vniuersal este
nome, não ha muito trocado ao de Caualleiros» (p. 8) (veja-se no
final indicação das obras e edições citadas). Também palavras
relativas ao comportamento lhe merecem nota, como «despejo»,
«compostura», «descompostura», e outras. Na Carta de guia de
casados depara-se-nos o seguinte trecho: «Faz grande dano a
maldita palavra que se nos pegou de Castela, a que chamam des-
pejo, de que muitas [mulheres] se prezam. E certo que em bom
Português, despejo é descompostura» (p. 140). Em A Visita das
fontes, pela voz de duas figuras, Apolo e o Soldado, regista-se que
ao «saber misturar o despejo e a compostura, dando o seu a seu
dono» chamam «bizarria» (p. 59).
Em casos como os dos vocábulos acima mencionados, em que
as referências extralinguísticas constituíam, no século XVII, maté-
ria sensível, designadamente sob o ponto de vista moral, políticoe
social, as observações metalinguísticas surgem geralmente associa-
das a observações de outra natureza.
Por vezes o escritor apresenta séries mais ou menos extensas
de termos e de expressões, da linguagem comum e de linguagens
especiais, sendo notório que essa apresentação tem muito que ver
com o comprazimento que D. Francisco Manuel de Melo encontra-
va nos próprios materiais linguísticos reunidos. É o que sucede em
Os Relógios falantes, onde aparecem, em fala do Relógio da Al-
deia, os seguintes «modos de dizer» em que entra o vocábulo
«hora»: «em boa hora», «em má hora», «ide com as horas más»,
«vinde com as horas boas», «a hora muito fermosa», «nas horas de
Deus», «logo nessas horas», «as horas perentórias», «as horas su-
cessivas», «são horas», «a que horas», «a desoras», «fora de ho-
ras»» (p. 27). Em A Visita das fontes, o Polígrafo, em fala da Fonte
Velha, expõe não escassos termos relativos à arte militar, que aliás
lhe deveriam ser familiares, pois prestou serviço na carreira das
armas durante largos anos. Veja-se: «(…) combóis, brechas, aproxes,
víveres, avançadas e castrametanções (…), cornas, hornaveques,
crubeques, golas, francos, lisieres, barbacãs e falsas-bragas (…)
esquadrões, serras, grandes fundos, grandes frontes, quadrados de
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 35
gente e de terreno, dobretes, cruzes, cubos e prolongados (…),
arreueres, marechais-da-estala, caporal, corneta, dragão, furriéis,
quartéis-mestres, grão-preboste» (p. 58). Muitos destes termos são
estrangeirismos, comentando-se, após o seu registo, ainda pela boca
da Fonte Velha, que aqueles são proferidos «(…) com milhares de
vozes estrangeiras que nossos pecados, além dos costumes estran-
geiros, nos trouxeram à terra para sua maior corrução que defesa»
(pp. 58-59).
Sublinho que uma compilação extraordinária de materiais
linguísticos é oferecida pelas Metáforas, ou Feira de anexins.
Nessa obra o autor apresenta, através de diálogos, um avultado
contingente de metáforas, jogos de palavras, ditos e provérbios. Se-
gundo as palavras de Alexandre Herculano, a Feira de anexins
«(…) seria quasi um manual para os escriptores dramaticos, princi-
palmente do genero comico, que quizessem fazer falar as suas per-
sonagens com phrase conveniente, e com as graças e toque proprio
da nossa lingua portugueza e do verdadeiro estylo dramatico (…)»
(apud ob. cit., p.V).
Conforme se vê pelo que acima fica relevado, as obras de D.
Francisco Manuel de Melo mostram-no como observador minucio-
so da Língua Portuguesa, sensível a aspectos como a sua riqueza,
variedade, mudança e pureza, a convocar o leitor para as particula-
ridades e preciosidades que nela detecta e colecciona, enfim, como
um espectador do espectáculo do idioma.
O emprego da Língua Portuguesa na escrita cuidada, por parte
de poetas e prosadores, que D. Francisco Manuel de Melo menci-
ona, é objecto de alguns comentários no Hospital das letras. Aí
encontramos, por exemplo, a seguinte opinião expressa pela voz de
Lípsio, a propósito das obras de Francisco Rodrigues Lobo: «As de
prosa têm perfeitíssima saúde; não há para que lhes pôr mão, por-
que foi claro, engenhoso, elegante, grande cortesão e não menor
jardineiro da Língua Portuguesa que tosou, poliu e cultivou como
bom filho e grato repúblico» (p. 72). Situação semelhante verifica-
se em algumas das missivas que subscreveu, nomeadamente nas
que correspondem a solicitações de apreciação de composições
poéticas. Nelas está patente que o Polígrafo analisou, a par da satis-
fação de requisitos específicos da Retórica e Poética, a ortografia, a
pontuação e até a letra com que as composições lhe foram apresen-
tadas. Leiam-se, por exemplo, as cartas nº 109 e nº 565 do volume
Cartas familiares em que há alguns anos foi reunida e publicada a
sua copiosa correspondência. Naquela – «Sentenceando um
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA36
certámen poético» – D. Francisco Manuel de Melo afirma: «De
muitas considerações pende a averiguação da preferência entre
Poemas contenciosos. Parece-me se podem reducir a quatro cir-
cunstâncias. A primeira: que sejam em tudo conformes ao assunto.
A segunda: que guardem decoro aos sujeitos propostos. A terceira:
que se apropriem ao dialético da língua em que se escrevem. A
quarta: que observem boa ortografia» (pp. 143-144). Na carta nº
565 – «Tornando a um amigo poeta um livro de versos que lhe havia
dado a ver» – avisa: «Esta noite (e tarde) recebo os quadernos, e
poderei logo dar deles alguma razão. A letra é boa mas pouco cas-
tigada, e eu proluxíssimo nestas meudezas. Lá se achará V. M.
coalhado de pontos e vírgulas» (pp. 539-540).
Os comentários metalinguísticos de D. Francisco Manuel de
Melo avultam particularmente em torno da realização da Língua
Portuguesa na conversação. Aliás, com o Polígrafo o discurso oral
é referenciado (e valorizado) como meio privilegiado de recolha e
transmissão de certos saberes – saberes tradicionais, de senso co-
mum, de experiências de vida – o que está indiciado nos seus textos,
designadamente nos apólogos, por expressões como: «dezia minha
avó» (Visita, p. 37), «Dezia um amo» (Visita, p. 37), «disseram os
antigos» (Visita, p. 46), «disseram as nossas velhas» (Carta, p. 140).
Estas expressões ocorrem tão frequentemente nos escritos do au-
tor que ganham foro de traço característico do seu estilo, tal como,
por exemplo, os adágios.
Em A Vista das fontes, numa intervenção da Fonte Nova, que
de resto suscita o aplauso de outro interlocutor do diálogo, Apolo,
preconiza-se que as pessoas se exprimam com simplicidade e natu-
ralidade, e censura-se a fala arrebicada que perde em clareza o que
presume em subtilezas e requintes, quando aquela figura diz: «Não
há cousa como um falar desabotoado, de sorte que as pessoas di-
gam tudo quanto lhes faz mister sem pedir outras regras que as que
lhe dá a Natureza de mão comum com a necessidade, ocasião e
compostura, que a todos em seu modo pertence. Mas, andar falan-
do como quem bebe por púcaro penado ou como a história do
Calcinha, que não haveis de dizer sim nem não, é um maldito costu-
me» (p. 109; trecho comentado por Giacinto Manuppella, em nota
da sua edição do apólogo, pp. 576-577). Aliás, a fala enfatuada,
(pseudo)erudita e obscura dos poetas cultos, e a dos gramáticos
que se preocupavam com questões pequeninas e irrelevantes, no-
meadamente certos pormenores de etimologia, são alvo de crítica
em O Fidalgo aprendiz (através da elocução do Mestre das Tro-
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 37
vas e dos comentários que lhe faz D. Gil Cogominho), e, mais de-
senvolvida e explicitamente, na Visita. Nesta obra lê-se: «Pelo mes-
mo caso que os gramáticos de contino desentranham os idiomas e
fazem a varrela, e muitas varrelas, à linguagem, são de contínuo os
que pior falam, escrevem e conversam (…)» (p. 110; cf. também
pp. 109 e 111).
Em relação à Língua Portuguesa realizada na conversação,
são sobremaneira interessantes as observações registadas na Car-
ta e na Visita sobre modos de tratamento, em particular os que se
cumprem através das formas pronominais «tu», «vós», «ele», «ela»,
e de «senhor e «senhora», «dom» (ou) «dona», «mercê», «senhoria
» e «excelência». Na primeira obra, D. Francisco Manuel de Melo
considera o tratamento entre marido e mulher, aconselhando alguns
usos, desaconselhando outros. Veja-se: «O Tu é Castelhano e por
mais que eles o achem carinhoso, como lá dizem, é palavra muito de
praça e que ao mais não deve de quebrar a menagem da câmara
para fora. O Vós é Francês, que com um Vous receberam a mesma
Rainha Sabá, se cá tornara. Tenho-o por demasiado vulgar. O Ele e
Ela, um Ouve Senhor, Que diz Senhora, é termo bem Português,
assaz honesto e bem soante» (Carta, p. 177). E continua, não es-
quecendo certamente a apropriação abusiva – a despeito de dispo-
sições legais que regulavam o seu emprego – das fórmulas que
menciona,por pessoas que não tinham elevado estatuto social: «As
Senhorias e Excelências, a quem pertencem, gravidade induzem;
mas parece um certo modo de esquivança tratar um homem sua
mulher como que se o não fora. Fiquem-se para os Príncipes e Reis
as Altezas e Majestades (…)» (ibidem). Na segunda obra, pela voz
de Apolo, é descrita pormenorizadamente a maneira como, segun-
do os ditames da galanteria, as damas e os seus servidores se trata-
vam em três «pontos» ou circunstâncias (que o autor – no seu jeito
de se deter em certas palavras – explica serem também chamadas
«momentos, partes, ou ocasiões», informando ainda depois que «par-
tes» é usado com outro significado, isto é, ‘inimigos’ (Visita, pp. 122
e 126). Essas circunstâncias são: a conversação «em lugares públi-
cos diante dos Reis»; entre as damas que passeiam em coche e os
galantes que se colocam ao lado; na «cabeça de motes», complexa
composição poética, entretecida de perguntas e respostas. Além
disso, Apolo indica a forma de tratamento entre as damas e os seus
noivos, especialmente segundo a «lei do Paço», quando se acordava
o casamento (Visita, pp. 122-127).
Qualidades e principalmente imperfeições da prática
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA38
conversacional são apontadas por D. Francisco Manuel de Melo na
Carta, ao expor orientações para a vida familiar, e na Visita, ao
caracterizar e caricaturar alguns tipos da sociedade portuguesa
seiscentista, como letrados, militares, fidalgos, gramáticos. Neste
apólogo, o autor não desaproveita a oportunidade de deixar um re-
paro ao «desvario» «da gente vulgar» diante de palavras como «por-
co» e «asno», que evitavam proferir e que não ouviam sem «nojo e
melindre» (p. 42) – considerando de caminho, por meio de Apolo,
que «os abusos» – por certo os de linguagem – «estão no vulgo
introduzidos e se vão já nele metendo como a unha pela carne.
Porque abusos e povo são como unha com carne» (p. 43).
Entre as qualidades da elocução advogadas pelo Polígrafo conta-
se, no que concerne as mulheres discretas, falar «(…) o necessário,
brando, a tempo, com tom que baste para ser ouvida da pessoa a
quem fala e não das outras» (Carta, p. 139). Entre as imperfeições
verberadas, ainda em relação às mulheres, inclui-se «falar sempre»,
e falar alto, nomeadamente nas igrejas (ibidem), e, no caso dos
homens, a utilização de certas expressões perifrásticas para fazer
referência às esposas. Veja-se: «A cousa com que mais atentado
sou é uns que dão em nomearem as mulheres por circunlóquios,
chamando-lhes ora a minha velha, a minha companheira, a mi-
nha hóspeda, a minha obrigação, a mãe dos meus filhos, e
cousas assi que, em qualquer tom que sejam ditas, parecem pouco
graves e, a meu juízo, indignas de se acharem na boca de nenhum
sisudo. A mulher de que o homem se preza e o homem de que a
mulher se honra, por que não hão-de ser por seus nomes nomea-
dos? Digo delas para eles outro tanto» (Carta, pp. 176-177).
Por quanto fica salientado, D. Francisco Manuel de Melo dife-
rencia-se do tipo do «gramaticão», ou seja, daqueles gramáticos do
seu tempo que, segundo declara na Visita pela voz da Fonte Velha,
se enredavam a discutir «Sobre se um tu ou um eu (…) vem de
Grécia ou de Palestina, sem que nisso vá ou venha cousa alga» (p.
109). Poderá dizer-se que o Polígrafo se manifesta como um crítico
do desempenho da Língua Portuguesa, pois que usa de saber e
sensibilidade para apreciar e julgar a prática do idioma, opinando
como deve ou não deve realizar-se, especialmente na conversação,
em família e entre pessoas de qualidade. Tendo por base uma sólida
e ampla formação, adquirida nos livros e apurada nos círculos aris-
tocráticos onde nasceu e se fez espelho de fidalguia e cortesania,
com os seus comentários, os seus reparos e as suas orientações,
configura uma arte de bem falar, em que não só a correcta e infor-
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 39
mada realização da língua, mas também a urbanidade, as conveni-
ências de ordem social e até a moral, estão implicadas, sendo a boa
conversação um dos predicados principais de quem pretendesse
atingir o ideal do cortesão discreto (caracterizado pelo Prof. José
G. Herculano de Carvalho, com fundamento na análise da Corte
na aldeia de Francisco Rodrigues Lobo, no estudo Um Tipo literá-
rio e humano do Barroco: o «cortesão discreto», Coimbra, 1963).
É de notar que, embora em várias referências e alusões, o modo
como se exprimem as pessoas da Corte e de Lisboa apareça enca-
recido, em A Visita das fontes Apolo pronuncia-se pela superiori-
dade da linguagem falada em Coimbra, ao afirmar: «(…) os Gregos
dividiram seu idioma em quatro classes, das quais era mais sublime,
regular e concertada a língua dos Áticos, por cair em seu distrito a
Universidade de Atenas que lhe deu nome, e ao mundo todo: como
se cá, entre vós, disséssemos se falava mais elegante em Coimbra
que em outra parte, não mentiríamos, sendo ali o coração e alma das
ciências que se ensinam e aprendem» (p. 110).
Como é sabido, D. Francisco Manuel de Melo escreveu sobre
matérias variadas, em diversos géneros de textos. Relanceando de
corrida a sua obra, a tal respeito releva-se que, em Língua Portu-
guesa, em prosa, registou factos relativos à História em epanáforas
e relações (algumas destas concernem o Brasil); que expôs
ensinamentos e críticas sobre costumes do tempo, em escritos de
pendor pedagógico e moralizante; que tratou de múltiplos negócios
pessoais e alheios, em abundante correspondência; que elaborou
discursos de circunstância para sessões académicas. Em verso, além
de textos de carácter teatral, compôs, entre outras formas poéticas,
cartas, églogas, romances, sonetos.
O que importa aqui salientar é que D. Francisco Manuel de
Melo, em conformidade com os preceitos retóricos e poéticos em
que foi instruído, procurou «em todos seus escritos acomodar sem-
pre o estilo com a matéria», como se declara na dedicatória aos
leitores da edição de 1651 da Carta de guia de casados (p. 87),
assinada pelo impressor Paulo Craesbeeck, a cujo conteúdo
porventura não terá sido estranho o Polígrafo. Não faltam de resto
referências do escritor a vários estilos em que modalizou a sua ex-
pressão. Assim, no Prólogo do Escritório avarento afirma que,
requerendo a matéria de que ia tratar «um estilo excelente» da sua
«pena já muito alheo», usou «deste nosso modo familiar, amigo e
inteligível» (p. 70), e de «comum eloquência» (p. 71). No Hospital
das letras , depois de mencionar a Carta de guia de casados
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA40
entre as obras que elaborara, observa que se acha «agora tão bem
com estilo corriqueiro», e que faz propósitos «de não tornar ao [es-
tilo] majestoso» (p. 99).
Ora, o estilo desse apólogo – «descansado estilo», segundo as
palavras da respectiva dedicatória (p. 87) – distingue-se do das
Epanáforas, em cuja escrita eloquente se empenhou, como se de-
duz de vários passos (cf. por exemplo, pp. 354 e 481; veja-se o
estudo da Prof.ª Maria Lucília Gonçalves Pires, “Epanáfora trágica:
viver e escrever história”, in Xadrez de palavras, Lisboa, 1996, pp.
173-185), e com nenhum deles se identifica o das orações acadé-
micas, espessas de elegâncias e ornatos de linguagem. Encontra-se
também uma paleta variada de estilos, no volume das suas cartas,
em que o familiar se cruza com o solene, o mesmo se podendo dizer
de composições em verso que integram as Musas portuguesas,
ora graves, ora jocosas.
 Alguns editores e comentadores da farsa O Fidalgo apren-
diz consideraram que a fala da figura nuclear, D. Gil Cogominho,
integra formas linguísticas populares, e que com elas D. Francisco
Manuel de Melo terá pretendido sublinhar o perfil rústico da figura.
Em rigor, a maior parte das formas que foram distinguidas sob tal
perspectiva pertencem ao fundo comum linguístico português
seiscentista, sendo idênticas a outras que se detectam no própriodiscurso do autor, tal como é documentado pelo manuscrito autó-
grafo de A Visita das fontes, e não são características ou exclusi-
vas da linguagem das pessoas iletradas do povo. Algumas outras,
todavia, podem ser classificadas de populares em tal acepção,
como, por exemplo, - intés - e - home - ( pp. 59 e 86). Em Os
relógios falantes, o Relógio da Cidade apresenta na sua fala -
depois» (p. 11), enquanto na do seu interlocutor aldeão vemos -
despois - (ibidem), e - samos - , em vez de - somos - (p.13).
Perante estes e outros elementos semelhantes poderá admitir-se
que D. Francisco Manuel de Melo teve em vista modalizar a
linguagem das figuras ou personagens que tomam voz nas suas
obras, em consonância com os estatutos sociais e culturais que
lhes atribuiu, mas será necessário, para se avançarem asserções
precisas sobre este ponto, dispor-se de estudos minuciosos da
linguagem do escritor, que colham fundamentação dos raros
autógrafos que dele nos chegaram, onde as formas linguísticas se
mostrem tal como saíram da sua mão, e não eventualmente
alteradas por interferência de copistas, tipógrafos ou editores.
Como quer que seja, pode dizer-se que o Polígrafo, ao pôr em
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 41
cena o nosso idioma sob as máscaras dos vários estilos e, certa-
mente, de vários registos sócio-culturais, perante a Língua
Portuguesa, além de procedimentos de espectador e crítico, teve
ainda o de actor.
Aliás, a metáfora das máscaras serve para aludir ao facto de a
linguagem de D. Francisco Manuel de Melo, em muitos passos, e
em diversos planos, não se oferecer com transparência à fruição
imediata do leitor não filólogo dos nossos dias, em consequência de
mudanças que o tempo trouxe ao idioma e às suas referências, e de
concepções e técnicas literárias do autor, ao gosto de Seiscentos.
Aliás, já em vida, segundo uma vez mais a dedicatória do impressor
de 1561 da Carta de guia de casados, foi - reprendido de misteri-
oso (ou talvez de escuro) - (p. 87). Desde logo a (orto)grafia
seiscentista, com que os textos foram transmitidos por manuscritos
e impressos, motiva dificuldades de interpretação, de que destaco
as que concernem o valor fónico de grafemas actualmente desusa-
dos, o valor semântico-estilístico das maiúsculas, e as funções da
pontuação. O significado preciso de muitos dos vocábulos que ocor-
rem nas suas obras é hoje de problemática apreensão, havendo
numerosos termos que, empregados ou não por outros autores, não
recebem esclarecimento de dicionários ou vocabulários antigos, em
que não tiveram entrada ou foram insuficientemente tratados. Além
disso, interessando-se o Polígrafo por uma arte poética - rara e
requintada -, dirigida a leitores não vulgares – como expôs, detida e
fundamentadamente, a Prof.ª Maria Lucília Gonçalves Pires, em
“As Ideias literárias de D. Francisco Manuel de Melo”, in Xadrez
de palavras, Lisboa, 1996, pp. 41-52 – cultivou com assiduidade
processos de estilo, como elaboradas metáforas e subtis jogos de
palavras, que conferem alguma opacidade à sua expressão.
Esperemos que D. Francisco Manuel de Melo, graças à leitura
persistente e acurada da sua obra, não venha a ser uma persona-
gem esquecida, a assistir na obscuridade do - vestuário - a - tramóias
- do teatro da nossa língua. Até porque, além de se nos apresentar
como espectador, crítico e actor do espectáculo do idioma, nele
alcançou o estatuto de autoridade. Este, porém, tem de ficar como
tema para outra visita às suas letras.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA42
Notas bibliográficas
Obras e edições citadas de D. Francisco Manuel de Melo
Carta de guia de casados. Quadros cronológicos, Introdução, biblio-
grafia selectiva, fixação do texto e notas de Pedro Serra. Braga-Coimbra,
Angelus Novus, 1996.
Cartas familiares. Prefácio e notas de Maria da Conceição Morais
Sarmento. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981.
Epanáforas de vária história portuguesa (Epanáfora política,
Epanáfora trágica, Epanáfora amorosa , Epanáfora bélica, Epanáfora
triunfante). Introdução e apêndice documental por Joel Serrão. Lisboa,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, s. d. (reprodução fac-similada da ed.
de 1660).
Escritório avarento. In Os relógios falantes e Escritório avarento.
Edição crítica de Maria Judite Fernandes de Miranda. Coimbra, 1968. Sepa-
rata da Revista da Universidade de Coimbra, vols. XX-XXI. Ocupa as pp.
69-117.
Feira dos anexins. Edição dirigida e revista por Inocêncio Francisco
da Silva. Lisboa, Livraria A. M. Pereira, 1875.
O Fidalgo aprendiz. Texto estabelecido, introdução e notas de António
Corrêa de Oliveira. 2ª edição, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1958.
Hospital das letras. In Jean Colomès, Le Dialogue “Hospital das
letras” de D. Francisco Manuel de Melo. Texte établi d’ après l’ édition
princeps et les manuscrits, variantes et notes par … . Paris, Fundação
Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, 1970.
Metáforas, ou Feira de anexins. Ver Feira dos anexins.
As Musas portuguesas (ou As Segundas três musas do Melodino). In
Obras métricas. Lyon, Horacio Boessat e George Remeus, 1665. Com pagi-
nação própria.
Os relógios falantes. In Apólogos dialogais, vol. I, Introdução, fixação
do texto e notas de Pedro Serra. Braga, Angelus Novus, 1998, pp. 1-31.
A visita das fontes. In Apólogos dialogais, vol. I, Introdução, fixação
do texto e notas de Pedro Serra. Braga, Angelus Novus, 1998, pp. 33-127.
Também reenviamos para nota da edição preparada por Giacinto Manuppella,
Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1962.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 43
O tema que me foi proposto, relativo à unidade e diversidade
da Língua Portuguesa, aceitei-o de muito bom grado, pois a esta e
outras questões afins tenho dedicado boa parte do meu percurso
académico.
Proponho-me tratá-lo reflectindo sobre a incidência nas lín-
guas, dos fenómenos culturais e sociais que no nosso século
condicionaram e condicionam a Língua Portuguesa, nomeadamente
o moderníssimo fenómeno da globalização.
Todos sabemos como foi necessário no Brasil, desde José de
Alencar e Carlos de Laert, em especial, reivindicarem contra
Castilho, Pinheiro Chagas e Camilo, a existência de uma norma
brasileira, de um estilo próprio.
Felizmente que tudo se esclareceu fazendo-se justiça tanto à
diversidade como à unidade da língua pois não se tratam de duas
dinâmicas alternativas, mas complementares.
Na convergência destas duas realidades se tem vivido e con-
tinua a viver nos nossos dias, porque a Língua Portuguesa não tem
um dono mas vários condóminos que a usam como sua.
 Lapidarmente afirmou Celso Cunha, a este propósito: “Che-
ga-se assim à evidência de que para a geração actual de brasilei-
ros, de cabo-verdianos, angolanos, etc, o português é uma língua
tão própria, exactamente tão própria, como para os portugueses.
E em certos pontos, por razões linguísticamente justificáveis,
na Românica nova, a língua se manteve mais estável do que na
antiga Metrópole”1 .
Mas, para se chegar a esta situação de estabilidade tranquila,
largo e difícil caminho foi necessário percorrer.
Diversidade e unidade da
língua na hora da globalização
Fernando Alves Cristóvão,
da Universidade Clássica de Lisboa.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA44
Inúmeras foram as dificuldades, porque inúmeros foram os
perigos e ameaças do exterior, mas todas vencidas, contribuindo
até para o seu enriquecimento.
E porque a história não para, novos desafios estão a ser en-
frentados pela língu portuguesa e pelas culturas que nela se pro-
cessam, sendo o mais recente o da globalização.
Permitam-me, pois, algumas considerações preliminares que
mais claramente ponham em evidência como, tanto a diversidade
linguístico–cultural, como a unidade são indissociáveis e comple-
mentares, ora postulando as diversidades, a importância da unida-
de, ora exigindo a unidade, aautenticidade das diversidades.
O nosso século, agora a chegar ao termo, conheceu quatro
grandes dinâmicas no modo de considerar as línguas e de as
ensinar e aprender: a dinâmica do romantismo herdada
sobretudo de Humboldt e que se intensificou por meio do
nacionalismo político, a ponto de chegar até aos nossos dias até
aos anos 50, apesar dos progressos da linguística, da doutrinação
de Saussure e das novas perspectivas da psicologia e da
sociologia;a dinâmica internacionalista e imperialista que
conviveu com a mentalidade anterior e chegou até ao fim da
década de 60; a dinâmmultilinguística e multicultural que na
Europa teve a sua expressão mais significativa quando a
restruturação desencadeada pelo plano Marshall, após a 2ª
Grande Guerra Mundial, atraiu milhões de emigrantes da Europa
do sul e dos países da bacia mediterrânica para os países
industrializados; a dinâmica da globalização que se processa
em nossos dias e que não só condiciona as comunicações e a
economia, mas também interfere na cultura, nas religiões, nos
costumes e, também, nas políticas linguísticas.
Na etapa nacionalista, em que muitos de nós fomos forma-
dos, as línguas eram estudadas como a expressão dos povos,
diversificadas como eles, património que era preciso zelosamente
defender e enriquecer segundo o lema de Du Bellay.
Assim, era necessário combater duas espécies de desvios e
erros, os herdados da tradição de séculos anteriores que alatinaram
e helenizaram as línguas, sobretudo a ortografia, complicando-a
(séculos XV e XVI) ou a vestiram à espanhola e à francesa (sé-
culos XVII e XVIII).
A essa tarefa se entregaram os puristas e suas sociedades
combatendo por igual os estrangeirismos, então, sobretudo
galicismos, e o que julgavam serem “erros” e “corruptelas”.
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 45
Ao mesmo tempo, multiplicavam-se os apelos à leitura dos
clássicos como modelos a seguir fielmente.
Quanto às relações com as outras línguas, eram entendidas
dentro de um quadro de prestígio: o latim e o grego para a erudi-
ção, o Direito e a medicina; o francês para a cultura; o alemão
para a filosofia etc..
Deste modo, as línguas não se expandiam, mas vigiavam-
se zelosamente, apenas sendo permitidas algumas liberdades con-
troladas.
Nas etapas internacionalistas, os países com colónias ou as-
pirações a tê-las, impunham em todo o seu espaço de soberania a
língua oficial, proibindo que se falassem as línguas étnicas ou, den-
tro do território metropolitano, combatendo as línguas regionais.
Em simultâneo, e com o apoio de grandes meios financeiros,
foram criadas instituições destinadas a propagar no estrangeiro,
ou trazer até ao país os estrangeiros para dar a conhecer a língua,
cultura, instituições etc, não se poupando em oferecimento de li-
vros, revistas, conferências, cursos anuais e de férias etc..
Assim surgiram o British Council, a Alliance Française, o
Instituto de Alta Cultura e outros institutos e centros culturais.
Percebeu-se então que, por honestas e louváveis razões de
diálogo entre culturas, ou por ousada propaganda com objectivos
de hegemonia política ou de facilitação comercial, a expansão da
língua nas colónias ou no estrangeiro era um veículo privilegiado
para coisas tão diversas como o diálogo, a hegemonia, a expansão
dominadora, segundo o velho aforismo colonial de que a língua ea
a melhor companheira do império.
Na etapa do multilinguísmo e multiculturalismo que é aquela
em que, desde à algumas décadas vivemos, o ensino e aprendiza-
gem das línguas, de um modo geral, pedeu a sua hybris de domínio
e expansão, democratizou-se, passou da propaganda ao diálogo
entre iguais, tendo-se as instituições que vinham da etapa anterior,
transformado em foruns de diálogo, no melhor sentido da palavra.
É que, entretanto, quer nos Estados Unidos quer na Europa, a
conjuntura sócio-política alterou-se profundamente: as correntes
migratórias procurando trabalho, realizando negócios, promoven-
do peregrinações, alteraram a composição étnica dos países.
Milhões de trabalhadores fixaram residência nos países indus-
trializados e de um dia para o outro esses países monolíngues ou de
débil variedade de expressão linguística viram-se multilingues e
multiculturais, com as inevitáveis consequências, tanto no plano das
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA46
relações socias como nos da educação, cultura e ensino das línguas.
Os governos tiveram de perceber que a unidade nacional não
devia ser entendida à maneira napoleónica do centralismo linguístico
e cultural, mas que deviam respeitar e fomentar o ensino das lín-
guas dos seus emigrantes e aceitarem as suas culturas em suas
variadas expressões: no vestuário, na alimentação, nos costumes,
na frequência de sinagogas, mesquitas e outros templos que era
urgente construir.
Por outras palavras, chegaram à conclusão de que a paz e a
harmonia sociais, bem como o rendimento do trabalho, melhor se
conseguiriam com o multilinguismo e o multiculturalismo. Que se
os trabalhadores estrangeiros vivessem no país de acolhimento
como no seu meio cultural, o benefício seria de todos.
Também, em consequência, passaram a interrogar-se
seramente sobre que sentido tinham agora o centralismo linguístico,
o purismo baseado em conceitos de correcção e vernaculidade,os
“erros” e “corruptelas” de linguagem, a luta contra os
estrangeirismos?
 Para além disso, e em simultâneo com esta invasão pacífica
das multidões de emigrantes, outra explosão comunicativa acon-
teceu, favorecendo os ignorantes contra os eruditos: a explosão
comunicativa da televisão impondo uma linguagem simplificada.
Com ela, a escola tradicional passou a sofrer a concorrência
daquela que George Friedmann apelidou de “escola paralela”, a
televisão. À lentidão da escrita sucedeu o imediatismo e a evidên-
cia da imagem, e o saber deixou de ser hierarquizado e segundo
valores para se tornar num verdadeiro mosaico de realidades de-
sintegradas, como o multilínguismo, o multiculturalismo ou os qua-
dros de Picasso.
Sobre a etapa recente da globalização, diametralmente opos-
tas são as suas interpretações.
Para os herdeiros do capitalismo triunfante, ela permitirá re-
solver alguns problemas de âmbito geral, antes insoluveis.
Para os deserdados do marxismo e do arruinado império so-
viético ela representa a chegada do apocalipse de todas as abomi-
nações.
Para os que entre ambos os grupos se interrogam sobre o
futuro do Homem no milénio que chega e sobre o papel mediador
a desempenhar pelas culturas ela é sobretudo, um desafio
ambivalente, porque tudo está a ser reformulado.
Será a globalização aquilo que o título do estudo de Ignacio
BRASIL – 500 ANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 47
Ramonet sugere, uma Geopolítica do caos2 ou dela poderá
resultar algum cosmos benéfico?
Demorei-me algum tempo no esboço deste cenário porque
entendê-lo e tê-lo em conta é essencial para se compreender como
se põe hoje o problema das políticas linguísticas e culturais relati-
vas à diversidade e unidade da língua.
Políticas que não pertence só aos governos actualizar nas relações
externas, nos sistemas e programas escolares, mas também às
instituições nomeadamente Universidade e aos professores.
Porque é óbvio que importa defender agora, ainda mais do
que no passado, a diversidade.
Diversidade essa que exprime mundividência dos falantes
em situações concretas, herdeiros de um património cultural que a
língua materna guarda, exprime e transmite como sistema
modelizador primário, base de outros sistemas modelizadores que
acompanham a vida individual e colectiva, como bem o observou
Iuris Lotterman.
Diversidade que na Língua Portuguesa começou a esboçar-
se muito cedo dando origem a variantes, sobretudo na fase da sua
expansão intercontinental.
Já o nosso primeiro gramático Fernão de Oliveira observa em
1536 variantes no vocabulário, “porque os

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