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Joanna Wilhelm - O Que É Psicologia Pré Natal

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JOANNA WILHEIM
O QUE É PSICOLOGIA PRÉ-NATAL
3ª edição atualizada
Casa do Psicólogo
1992, 1ª edição - by Joanna Wilheim
1997, 2ª edição - Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores.
3ª Edição 2002
 Editor
Anna Elisa de Villernor Amaral Güntert
Editor de texto 
Dirceu Scali Jr.
Produção Gráfica & Editoração Eletrônica 	
Renata Vieira Nunes
Revisão 
Solange Scattolini
Capa
Tela de Gustav Klint, "Hope I", 1903
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 	
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Wilheim, Joana
O que é psicologia pré-natal / Joanna Wilheim. - São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1997.
Bibliografia.
ISBN: 85-8514-188-3
1. Comportamento fetal 2. Influência pré-natais 3. Psicologia infantil I. Título.
97-0908 CDD-155.4
Índices para catálogo sistemático: 
1. Psicologia pré-natal 155.4
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil
Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à
Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.
Rua Mourato Coelho, 1059 - Pinheiros - CEP 05417-011 - São Paulo/SP- Brasil
Tel.: (11) 3034-3600 - e-mail: casapsi@uol.com.br.
PREFACIO À NOVA EDIÇÃO DE 2002
 Transcorridos dez anos de sua primeira publicação, este texto merece uma atualização: muitos novos conhecimentos vieram se soma aos até então existentes. A fim de mantê-lo na sua forma original optei por acrescentar uma Parte II onde você, leitor, encontrará novas e recentes contribuições, tais como: "Um novo olhar sobre o bebê"; "Psicanálise de bebês e de recém-nascidos”; O prematuro na	UTI neonatal; ‘O bebê: um ser de comunicação”; “A linguagem dos bebês”; “Memória Celular”; “Vínculos afetivos e o bebê adotado”; “Haptonomia” e “O que de novo está existindo no Brasil: ReHuNa, Doulas e Método Canguru”.	
 A Parte I foi mantida de acordo com a versão original (1992).
 Deixo aqui registrados os meus agradecimentos a Daniela Siltzer pela sua prestimosa ajuda na revisão deste texto.
SUMÁRIO
I PARTE	11
INTRODUÇÃO	13
o QUE É PSICOLOGIA PRÉ,NATAL	17
A FOTOGRAFIA INTRA-UTERINA: DE CÉLULA A BEBÊ	23
DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES SENSO, PERCEPTIVAS DO FETO	35
A PERSONALIDADE DO FETO	41
MEMÓRIAS PRÉ,NATAIS E DO NASCIMENTO	47
COMUNICAÇÃO INTRA'-TERINA ENTRE MÃE E BEBÊ	57
ORGANIZAÇÕES QUE SE DEDICAM AO ESTUDO DOS PERÓDOS
PRÉ E PERINATAL................................................................................................................63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................67
INDICAÇÕES PARA LEITURA..............................................................................................71­
II PARTE.................................................................................................................................75
CAPÍTULO 1 - UM NOVO OLHAR SOBRE O BEBÊ........................................................77
CAPÍTULO 2 - PSICANÁLISE DE BEBÊS.......................................................................81
CAPÍTULO 3- O PTREMATURO NA UTI NEONATAL................................................87
CAPÍTULO 4- O BEBÊ: UM SER DE COMUNICAÇÃO..............................................93
CAPÍTULO 5- A LINGUAGEM DOS BEBÊS...............................................................97
CAPÍTULO 6- MEMÓRIA CELULAR..........................................................................105
CAPÍTULO 7- VÍNCULOS AFETIVOS E O BEBÊ ADOTADO...............................107
CAPÍTULO 8- HAPTONOMIA...................................................................................113
CAPÍTULO 9- E NO BRASIL, O QUE DE NOVO SURGIU, NESTA ÚLTIMA
DÉCADA? ReHuNa, DOULAS,MÉTODO CANGURU E A
ABREP FEZ DEZ ANOS............................................................................................117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................121
SOBRE A AUTORA....................................................................................................125
PARTE I
INTRODUÇÃO
"Há muito mais continuidade entre
a vida intra-uterina e a primeira infância do
que a impressionante caesura do ato do
nascimento nos permite saber".
Freud, 1926.
Será que você teve, alguma vez, a oportunidade de observar um bebê que acabou de nascer? Não?
Então procure fazê-lo tão logo lhe seja possível. Sabe o que você pode observar assistindo aos primeiros momentos de vida de um bebê?
Se as condições ambientais em que este bebê veio ao mundo tiverem sido favoráveis - logo mais direi algo a respeito dessas condições favoráveis -, uma das suas primeiras reações será a de entrar em um estado de consciência conhecido em neonatologia moderna pelo nome de "estado de alerta tranqüilo". Nele o bebê manter-se-á quieto, procurará moldar o seu corpinho ao da pessoa que o estiver segurando, com suas mãozinhas procurará trocar na sua pele e arregalará os olhinhos: com um olhar agudo e brilhante ele olhará diretamente para você! De maneira penetrante, com um olhar cheio de significados este pequeno ser que acaba de nascer estará procurando estabelecer uma comunicação com você.
Preste atenção neste olhar: ele já denota sabedoria.
Enquanto ele estiver neste estado tranqüilo de alerta, em de se manter por vários minutos seguidos, o recém-nascido estará prestando atenção em tudo o que estiver acontecendo à sua volta: ao ouvir a voz de sua mãe, irá mover a cabeça procurando por ela, pois a terá reconhecido em meio às tantas outras vozes estranhas ao seu redor; se o seu pai se aproximar e falar com ele, também esta voz ser-lhe-á familiar, e a ela responderá significativamente; se o pai lhe estender o dedo agarrá-lo-á com uma força e uma intencionalidade surpreendentes.
No estado de alerta tranqüilo, o recém-nascido estará sempre receptivo, explorando e aprendendo, procurando se comunicar, manifestando curiosidade, introjetando as experiências e os objetos com os quais entra em contato, reagindo e se adaptando ao novo meio ambiente. Ao sentir dor, desconforto ou fome, pôr-se-á chorar, com o que comunicará que está necessitando de ajuda.
A capacidade de enxergar dos recém-nascidos foi identificada pela primeira vez na década de 1960, por um psicólogo norte-americano de nome Robert Fantz. Graças aos estudos, pesquisas e técnicas que desenvolveu para testar os recém-nascidos, nós hoje sabemos que nos minutos que se seguem ao nascimento o bebê enxerga, sendo capaz de identificar o rosto de sua mãe.
E o que mais é capaz de fazer este bebê que acaba de nascer?
Se for colocado sobre o corpo de sua mãe imediatamente após ter emergido dela, será capaz de, com movimentos espontâneos embora lentos, ir-se arrastando em direção ao peito, buscando-o instintivamente, e, quando o tiver encontrado, sem a menor hesitação pôr-se-á a mamar!
E mais: se o pai pegá-lo no colo, olhar fixamente para seus olhinhos abertos e colocar a língua para fora, após breves instantes será imitado pelo bebê: este fará exatamente o mesmo movimento que observa no pai - seja, colocar a língua para fora, abrir a boca, fazer uma careta ou uma cara de espanto, de alegria ou de tristezas; qualquer uma destas expressões faciais poderá ser imitada nos primeiros instantes da vida pós-natal do bebê.
Quando começaram a se organizar todos esses sentidos tão aprimorados que podem ser observados e apreciados no recém-nascido no momento do seu nascimento?
Teriam surgido de repente, ao mesmo tempo que o bebê? Ou têm uma gênese mais remota e distante, tendo se originado, organizado e aprimorado muito antes deste nascimento, amadurecendo paulatinamente junto com o amadurecimento fisiológico deste ser, durante todo o tempo de sua permanência dentro do ventre de sua mãe?
É desse assunto que tratarei neste pequeno livro, começandopor definir o que vem a ser a psicologia pré-natal.
Mas antes explicarei em que consistem as condições ambientais favoráveis no momento co nascimento às quais me referi no início desta introdução.
Contribuem para elas as seguintes circunstâncias: uma sintonia entre: a mãe e o bebê durante todo o período do trabalho de parto --o parto natural -, o que por sua vez implica uma postura participante, não dopada, da mãe, desenvolvida por ela durante a gravidez por meio de um preparo adequado; uma sala de parto sem luz excessiva ou ruídos; o cordão umbilical ser cortado somente depois de ter cessado o seu pulsar, quando o bebê já estiver deitado sobre o corpo de sua mãe, num contato com ela de pele-a-pele.
Foi basicamente para essas condições que Frédérick Leboyer chamou atenção no início da década de 1970, quando se deu conta dos sentimentos presentes no recém-nascido no momento do nascimento e da importância de se lidar com ele com delicadeza, tendo observado que a maioria dos bebês nascia em bombardeados por luz e ruídos excessivos, submetidos a picadas de agulha para coleta de sangue, esticados para serem medidos, esfregados asperamente passando de mão em mão de pessoas estranhas, e sendo-lhes pingadas nos olhos ardidas gotas de remédio, para finalmente serem levados para berçários distantes, longe de suas mães.
O QUE É PSICOLOGIA PRÉ--NATAL
Psicologia é uma palavra que vem do grego, composta de duas outras: logos, que significa ciência, e psukhê, que significa, alma ou mente. Portanto, psicologia é a ciência que estuda os 	fenômenos da psique, alma, ou mente.
A palavra psicologia vem sendo empregada desde o século XVI, quando foi introduzida por um teólogo alemão de nome Melanchton. Empregada com o sentido de "ciência da vida psíquica ou mental" por alguns séculos, teve o seu conceito estendido para "ciência da conduta ou do comportamento" em tempos mais recentes. O conceito de psicologia foi assim estendido para o estudo dos fenômenos psíquicos e do comportamento, isto é, do comportamento objetivamente observável.
Em fins do século passado, essa psicologia do comporta mento ganhou uma nova dimensão. Viu-se acrescida pela descoberta feita por Freud, por volta de 1890, da existência de um outro estado de mente, além daquele único até então conhecido e considerado pelos psicólogos e psiquiatras da época, isto é, o estado de mente consciente. A descoberta feita por Freud, que iria revolucionar toda a psicologia, foi a da existência de um estado inconsciente da mente.
Tendo sido feita a descoberta da existência de um "inconsciente dinâmico", ou seja, da existência de fatos e fenômenos metais inconscientes que influenciam e são capazes até mesmo lar o comportamento do indivíduo, a psicologia do comportamento ganhou outra dimensão - profunda -, passando a ser considerada também uma psicologia "profunda". Inaugurada assim a psicanálise, que é a ciência que estuda os fenômenos psíquicos levando em conta o inconsciente, deparamo-nos agora com dois vértices a partir dos quais pode ser abordada a psicologia: o evolutivo, que leva em conta o mento funcional do indivíduo, procurando compreender o significado de cada novo estágio por ele alcançado configurando a psicologia do desenvolvimento - e o profundo ou psicanalítico, que leva em conta os fenômenos mentais inconscientes, configurando a psicanálise ou psicologia profunda propriamente dita.
Chegamos agora ao ponto em que posso definir o que vem a ser a psicologia pré-natal.
A psicologia pré-natal é o estudo do comportamento e 10lvimento, tanto evolutivo como psico-afetivo-emocional do indivíduo, no período anterior ao seu nascimento.
O conhecimento da psicologia pré-natal é importante tanto para a psicologia evolutiva como para a psicanálise, cujo objeto primordial de estudo é o inconsciente. Com efeito, se considerarmos que todos os fatos ocorridos com o ser antes de ele nascer a) recebem registro mnêmico, b) que este registro fica guardado apenas no plano do inconsciente, c) que todas as vivencias pelas quais passa o ser no período pré-natal irão fazer parte de sua bagagem inconsciente, exercendo influencia tanto sobre a sua personalidade pós-natal como sobre a sua conduta e o seu comportamento, e d) que o estudo do inconsciente é o objeto por excelência da psicanálise, conclui-se que o estudo da psicologia pré-natal é de importância fundamental para ela.
Como surgiu a psicologia pré-natal?
Os últimos trinta anos trouxeram uma verdadeira explosão de novos conhecimentos referentes ao período Pré-natal Devemos isto, por um lado, ao aprimoramento de modernas tecnologias: a introdução do emprego do ultra-som nos exames pré-natais, o aprimoramento do microscópio eletrônico, as técnicas de fecundação in vitro e o desenvolvimento da fotografia intra-uterina, iluminaram para nós um mundo antes cheio de mistérios no qual não podíamos penetrar. Por outro lado, devese assinalar as importantes contribuições trazidas em anos recentes pelas descobertas feitas no campo da psiconeuroendocrino-imunologia, contribuições estas que lançaram uma nova luz sobre o entendimento da formação e do funcionamento do psiquismo humano.
Pesquisas sobre a vida pré-natal vêm sendo feitas hoje em várias partes do mundo, desde a Austrália e Nova Zelândia, passando pelas Américas - sobretudo a América do Norte até o continente europeu. Estas pesquisas vem sendo feitas nas áreas tanto da biologia como da psicologia do desenvolvimento e da psicanálise.
A embriologia forneceu-nos um mapa completo do organismo em desenvolvimento. Psicoterapeutas de correntes várias, trabalhando com crianças e adultos, têm-se deparado com freqüência cada vez maior com evidências que levam à constatação da existência de traumas pré e perinatais. A psicologia tem se debruçado sobre o fascinante campo da memória e, auxiliada por descobertas feitas em áreas afins, propõe hipóteses para explicar o modo pelo qual se dariam os registros mnêmicos das experiências vivenciais no início da existência biológica. Ela tem-se preocupado também em identificar como surgem as emoções que, sabe-se hoje, são provocadas pela interação fisiológica entre o organismo da mãe e o do feto.
Sabemos hoje que os talentos, as capacidades e as habilidades apresentadas pelo recém-nascido começam a se desenvolver muito tempo antes de ele nascer.
Os investigadores que acompanham o desenvolvimento das do feto concordam em dizer que o bebê já antes um ser inteligente, sensível, apresentando traços de personalidade próprios e bem-definidos, e que tem uma vida afetiva e emocional estreitamente vinculada à sua experiência relacional com a sua mãe, estando em perfeita comunicação fisiológica com ela, captando os seus estados emocionais e a sua disposição afetiva para com ele.
A apreensão de sua experiência vivencial intra-uterina se faz por meios que nem sempre podemos conhecer ou precisar. O importante, no entanto, é o fato de estarmos constatando a de registros de tais experiências.
A enxurrada de novas informações torna rapidamente obsoletas velhas teorias. Temos que rever hoje a maior parte daquilo que trinta anos atrás pensávamos saber a respeito do feto. Com efeito, considerava-se então que o feto vivia isolado num mundo impenetrável, num estado nirvânico de plena e felicidade, completamente indiferente ao ambiente fora do útero de sua mãe, protegido deste pelas espessas paredes abdominais do mesmo. O Útero, por sua vez, era considerado um lugar absolutamente silencioso, recluso e sem movimentos.
Essa visão mudou radicalmente a partir das pesquisas e da o do feto em seu ambiente natural. Estes estudos têm nos revelado, por um lado, a sofisticação do aparelho perceptivo do feto, a crescente complexidade do seu aparelho a sua participação ativa na manutenção da gravidez e na determinação de seu desfecho final. Por outro lado, os co como sobre o estresse pré-natal propriamente dito, puseram um fim à falsa idéia que se fazia do Útero como um lugar tão ideal: hoje sabemos que drogas e substâncias neuro-hormonais da mãe que acompanhamalterações de sem; estados emocionais atravessam a placenta e atingem o feto, podendo configurar condições ambientais mais próximas das de um inferno do que das de um paraíso.
Hoje sabemos que, muito antes de nascer, o feto pode perceber luz e sem, é capaz de engolir, ter paladar, escolher uma posição predileta, registrar sensações e mensagens sensoriais; que ele dorme, sonha, acorda, boceja, esfrega os olhos, espreguiça-se, faz C3retas, pisca, dá "passos", reconhece a voz de sua mãe, brinca com o seu cordão umbilical e com a sua placenta, chupa o dedo e o dedão do pé, reage com irritação quando se sente molestado e apresenta rudimentos de aprendizado. Sabemos também que o feto tem uma vida emocional: é um ser que sente, tem emoções, experimenta prazer e desprazer, dor, tristeza, angústia ou bem-estar; que é capaz de relacionar-se com sua mãe, captando seus estados emocionais e sua relação afetiva com ele. O Útero também deixou de ser considerado um lugar seguro, silencioso e totalmente recluso. Pesquisas revelaram que o conjunto de :30ns constituídos pelos ruídos intestinais da mãe, dos seus batimentos cardíacos e do fluxo de seu sangue nos grandes vasos que abastecem o Útero e a placenta alcança um volume próximo daquele produzido pelo tráfego urbano.
A FOTOGRAFIA INTRA"'UTERINA: DE CÉLULA A BEBÊ
Você já ouviu falar em Lennart Nilsson?
Pode até ser que você já tenha visto reproduções de fotografias suas ou imagens do filme que produziu, que as televisões do mundo inteiro vêm exibindo desde o início da década de 1980, e não tenha prestado atenção ao seu nome.
Mas é graças ao gênio fotográfico deste sueco de 70 anos que nós hoje podemos visualizar como fomos concebidos. Com uma microcâmera acoplada a uma sonda intra-uterina filmou durante sete anos todo o processo da fecundação humana para realizar o filme O milagre da 'vida, que marcou época e nos permite ter acesso ás imagens que retratam a nossa pré-história.
Revistas do mundo inteiro têm publicado em cores a extraordinária reportagem fotográfica do processo da nossa concepção, desde a emissão de cada uma das nossas duas células básicas componentes, óvulo e espermatozóide, as suas respectivas trajetórias até o lugar do encontro, o grande flagrante em que este se dá, a extraordinária fotografia do momento em que o espermatozóide penetra o óvulo, a fusão dos núcleos, o amálgama celular, a explosão de vida, o início da multiplicação celular, a descida do óvulo fecundado pela trompa em direção ao útero, a grande queda no vazio, a busca do lugar apropriado para se nidar, o deitar de raízes, o início da diferenciação celular, a formação da placenta - que é órgão do embrião --, o processo de seu crescimento, sua passagem a feto até o momento do nascimento, quando surge o bebê.
	É desse assunto que tratarei neste capítulo: do processo evolutivo, de célula a bebê.
Mas primeiro, caro leitor, vou lhe pedir sIgo: lembre-se, para efeito de me acompanhar no desenvolvimento das idéias que lhe apresentarei, de que é premissa básica deste livro a de que todos os acontecimentos biológicos pelos quais passa o ser nesta trajetória de célula a bebê, todos, sem exceção, ficam registrados numa memória.
De célula a feto
O livro de Lennart Nilsson que traz os impressionantes registro fotográficos de cada estágio do processo da criação do ser humano intitula-se A Child is Born. Mas a história do nascimento desta criança não começa com a experiência intra-uterina; começa com o nascimento de cada uma das duas células reprodutoras que a ela deram origem: espermatozóides e óvulo.
Este pequeno livro refere-se ao período pré-natal. E o pré-natal abrange tudo o que se passa da concepção ao nascimento. Mas eu, assim como Nilsson, vou recuar para o período anterior à concepção. E é para este período que solicito sua especial atenção, uma vez que é minha convicção de que tudo que ocorre com o ser, desde os primórdios de sua existência biológica - portanto, desde que foi óvulo por um lado e espermatozóide por outro lado -, tem registro, e que este registro, feito por meio de memória celular, está guardado nos nossos arquivos de memória, uma espécie de banco de dados inconsciente.
Muito bem: vamos então inicialmente nos deter no "nascimento" e trajetória do espermatozóide na direção ao lugar de seu encontro com o óvulo.
Considerarei como seu "nascimento" o momento em que, depois de ter permanecido armazenado no saco escrotal de seu pai por um período de aproximadamente dois meses, é ejaculado dentro da vagina daquela que virá a ser sua mãe, em companhia de mais algumas centenas de milhões a ele iguais.
O meio ambiente com que se deparam estes pequenos viajantes pode ser bastante hostil a eles, pois o meio vaginal pode apresentar, ocasionalmente, condições desfavoráveis: um teor de acidez acima do que a natureza do espermatozóide pode suportar, agindo sobre suas caudas e paralisando-as. De seu lado, no entanto, os espermatozóides secretam uma enzima que tem o poder de neutralizar esta condição desfavorável, permitindo ­lhes avançar. Alguns sucumbem, porque são mais fracos; outros perdem-se no meio do caminho. Os melhores nadam, agitando suas caudas, que são o seu meio de locomoção. Atravessam o útero, depois de terem penetrado pela cérvix; alguns desorientam-se; outros, no entanto, são "chamados" pelo óvulo. Explico: sabe-se hoje que o óvulo "escolhe" os espermatozóides dentre os quais irá selecionar aquele pelo qual irá se deixar penetrar para tanto, as células que envolvem o óvulo secretam uma substância química que atrai a uns mas não a outros.
Finalmente, o pequeno punhado de sobreviventes que restou daquela multidão inicial aproxima-se das cercanias do óvulo, depois de ter nadado contra a corrente e de ter enfrentado Outro inimigo mortal: as células assassinas do sistema irnunológico da mãe, cuja missão é detectar todo e qualquer corpo estranho e atacá-lo para matar.
Espertos, os diminutos espermatozóides "vestem" uma capa protetora para esconder os seus antígenos, com o que conseguem burlar a vigilância da sentinela postada para não deixá­-los passar. Após atravessar as linhas inimigas, um pequeno grupo de sobreviventes chega às portas do óvulo, que para eles se configura imenso: o óvulo é 85 mil vezes maior do que o espermatozóide! Cercam-no, nadando em volta. 
Um punhado começa a operação "penetração": trabalham em equipe, secretando a enzima cujo efeito é dissolver a membrana protetora que envolve o óvulo e permitir a passagem de um. Finalmente um consegue! Pula para dentro, literalmente mergulhando de cabeça. Neste momento, uma contra-ordem elétrica se produz na membrana do óvulo, que se fecha, impedindo qualquer outro de entrar. 
A cabeça do espermatozóide mergulha dentro do óvulo. Mas a cauda, aquele seu precioso instrumento de locomoção que lhe dava liberdade, fica de fora, é amputada no momento da penetração.
 E agora que a cabeça do espermatozóide está dentro do óvulo, o que acontece com ela? Pois bem, ela estufa, aumenta quatro vezes de tamanho em relação à dimensão original e abre­ se, dando passagem ao núcleo contido dentro dela, núcleo este que traz toda a bagagem genética do pai. 
Uma vez liberado, ele se encaminha em direção ao núcleo que o óvulo liberou. É um indo em direção ao outro, em movi­mento de mútua atração, até que se encontram abrindo-se um para o outro num grande amálgama fusional. 
Antes de prosseguir, volto-me para a odisséia do óvulo, que também navegou - embora bem menos do que o espermatozóide e em águas bem menos perigosas e turbulentas. 
 Ele é um só, enquanto o espermatozóide era um entre centenas de milhões. É grande, forte, com uma reserva protéica muito maior do que a do espermatozóide. 	
 E, sobretudo, ele está dentro de sua própria "casa". Ou melhor, dentro da casa de sua própria mãe. O ambiente que o cerca é um ambiente familiar. O óvulo não é, nem se sente, atacado. Sua composição genética é a mesma das demais células daquele corpo de mãe. Não há antígenos seus mobilizando ataque de anticorpos.Não há nenhuma guerra a declarar. Não há sentinelas inimigas a burlar. Nem soldado inimigo postado para atacá-lo e exterminá-lo.
É verdade que sofre uma queda, uma experiência deveras desagradável: ao ser expelido pelo ovário, cai na cavidade abdominal, sem direção; lá os extensores da trompa o apanham para conduzi-lo ao duto no qual irá se encontrar com o seu par.
Não possui mobilidade própria; é carregado pelos cílios da trompa, que o vão levando devagarzinho em direção àquele lugar onde deverá se "casar" com o seu par.
Voltemos ao encontro e casamento. Um dentro do outro. O pequenino contido pelo grande, o grande contendo o pequenino. Podemos considerar que neste momento dá-se o primeiro nascimento do novo ser. Tão logo fundem-se os núcleos e é produzido o amálgama cromossômico, o óvulo deixa de ser o que era antes, o espermatozóide deixa de existir na sua identidade original, e nasce o novo ser, ao qual vou chamar de concepto.
E o que acontece com o concepto tão logo ele passa a existir? Ocorrem duas coisas ao mesmo tempo, uma positiva e outra negativa.
A positiva é que dentro dele se dá uma explosão de vida: há uma fantástica expansão em relação ao estado anterior de compressão dos gens existentes antes da liberação, expansão esta que, ao se dar, libera muita energia.
A negativa é que, tão logo ele passa a existir, é identificado como corpo estranho pelo sistema imunológico da mãe. Explico: a bagagem genética do óvulo que era da mãe foi acrescida da bagagem genética do espermatozóide que era do pai. A nova composição genética contém a mistura dos dois, constituindo, portanto, uma bagagem genética diferente da ovular original, que chama contra si os anticorpos defensores do organismo materno.
Por que assinalo isso com tanta ênfase? Porque, como você leve se lembrar, já mencionei que tudo o que se passa com o novo ser, desde a emissão de cada uma das duas células básicas componentes, tem um registro que fica guardado em nossos 1rquivos de memória.
Por conseguinte, o movimento de ataque ao novo ser por parte do organismo materno recebe um importante registro: o primeiro registro do sentimento de rejeição. Constitui-se neste momento a primeira matriz deste sentimento, que é um sentimento dramático, possante, tão conhecido da grande maioria dos seres humanos que a ele costumam reagir com muito sofrimento.
Este ataque por parte do sistema imunológico da mãe ao concepto, além de resultar no imprint da matriz do sentimento de rejeição, também irá cunhar o imprint da matriz de um outro sentimento - ou afeto - muito básico e fundamental: o da angústia, angústia de aniquilamento, de vida colocada em uma situação de risco extremo, vida ameaçada de ser destruída.
Retomando a descrição: o óvulo acaba de ser fecundado, há fusão dos núcleos, um novo amálgama celular. Vinte horas depois da fusão, dar-se-á a primeira divisão celular, a partir do que a cada doze ou quinze horas, dar-se-á nova divisão. As divisões continuam: serão quatro, depois oito, dezesseis, trinta e duas células e assim por diante. Este estágio é conhecido pelo nome de mórula, porque sua aparência lembra a de uma amora. A mórula continua sua descida pela trompa, levada pelos cílios. Este tempo de percurso dentro da trompa é muito crítico: o concepto está exposto aos ataques fisiológicos provenientes do organismo materno, que ameaçam a sua sobrevivência. As estatísticas informam que cerca de 75% dos óvulos fecundados são destruídos na trompa antes de alcançarem o útero. Portanto, aqueles que o alcançam - e isso se referem a todos nós que estamos no mundo - podem ser considerados sobreviventes. 
Nos dez dias que se seguem à concepção, este pequeno aglomerado de células em constante multiplicação faz a sua descida até o útero. O blastócito, composto agora de cerca de cem células, atravessa uma abertura estreita existente na passagem entre a trompa e o útero e, num formidável salto, despenca como uma bola no vazio.
Abro parênteses para o seguinte comentário: não será o registro mnêrnico desta experiência celular o responsável pelo prazer que certas pessoas têm em darem saltos no vazio, como os pára-quedista por exemplo? Ou pelo temor de alturas que outros manifestam? Ou ainda, como no caso do cineasta Spielberg, pelo gosto em reproduzir situações dramáticas, em que este perigo é encenado mediante pontes que se rompem por cima de precipícios, deixando os personagens pendendo em situações de extremo perigo entre a vida e a morte, sem saber qual será o desfecho final?
Fecho parênteses. O blastócito, após ter aterrisado no útero, vai procurar um lugar para se nidar. Movimenta-se sobre a mucosa, procurando um lugar seguro - o "seu" lugar - para se implantar. Mas antes precisa romper a bainha contensora, uma espécie de invólucro protetor que o envolve. Quebra-a, livra-se dela: a massa celular está agora liberada para se ligar à membrana acolhedora do útero. Há novamente registro de um movimento de grande expansão-é a massa celular saindo do estado de compressão. Neste momento, inicia-se a nidação: da massa celular saem raízes que vão se fixar na parede uterina.
 Este momento marca novo e importante registro de contenção adotiva: agora é o útero adotando o concepto.
	Contam-nos os imuno-embriologistas que neste instante se produz uma espécie de pacto de não-agressão no nível celular: o blastócito produz um muco cujas propriedades químicas visam neutralizar o efeito provocado pelos antígenos sobre a mucosa do útero, que de outra forma responde com irritação agressiva, visando a sua destruição e conseqüente eliminação. Com freqüência, porém, tal pacto não se realiza. Instala-se então uma guerra: o concepto, movido pelo seu instinto de vida, trava verdadeira batalha para sobreviver, enquanto, do outro lado, o organismo materno - movido por sua vez pelo seu instinto de vida - defende-se do "invasor-agressor". Também desta experiência, de nidação ou implante, ficarão registros significativos na nossa matriz básica, seja do sentimento de adoção, de aceitação e acolhida, seja do sentimento de rechaço ou rejeição.
No blastócito, começa a diferenciação celular: uma parte se destina à formação do embrião e outra parte se destina à formação da placenta, que é um órgão do embrião formado a partir de células suas.
 Com quatro semanas o embrião mede seis milímetros, tem um corpo com uma cabeça, um tronco e uma cauda. Apresenta rudimentos de cérebro, espinha, tubo digestivo. O sistema nervoso começa a se formar no 18º dia, quando também se formam rudimentos dos olhos. A boca abre-se pela primeira vez em torno do 28º dia e o coraçãozinho rudimentar começa a bater, bombeando sangue para o fígado e a aorta.
Com cinco semanas, mede um centímetro. Começam a despontar pernas e braços. Surgem pela primeira vez movimentos bruscos, espontâneos.
Com seis semanas, o embrião mede um centímetro e meio. O seu coraçãozinho apresenta de 140 a 150 batimentos por minuto, duas vezes mais que o de sua mãe. Suas mãozinhas estão desenvolvendo dedos.
A partir deste momento, o embrião responde ao toque com movimentos amplos e generalizados. Começam a aparecer os primeiros reflexos: se sua mãozinha ou pezinho tocar a parede do útero, os dedos ou artelhos se contrairão.
Se for feito um eletroencefalograma, seu traçado será semelhante ao do adulto.
Com sete ou oito semanas, o embrião é capaz de realizar movimentos muito simples de flexão de um braço ou de uma perna, pulso, cotovelo ou joelho. Um ligeiro toque em sua face fá-lo-á desviar a cabeça. 
O movimento é vital para o bom desenvolvimento dos os­ sos, das juntas e das experiências sensoriais do feto - ou embrião --, incluindo aquelas que derivam do movimento, e que são essenciais para o desenvolvimento de seu cérebro. 
O sangue do embrião absorve proteínas, gorduras e açúcar da placenta para o constante processo de construção de suas células, e oxigênio para alimentar o processo. 
Com oito semanas, ele mede quatro centímetros; neste ponto do desenvolvimento, os biólogos e embriologistas passam ase referir ao ser-em-desenvolvimento como feto. 
De feto a bebê
O feto vive dentro de um saco amniótico contendo um líquido que o acolchoa e protege. Este líquido tem um teor de salinidade semelhante ao do mar primitivo. Nesse meio ambiente flutuante e sem peso, os membros e o corpo têm amplo espaço para se movimentar, mantendo suas articulações flexíveis.
 Dentro cio seu corpinho, todos os órgãos já estão no devi­ do lugar: tudo o que se encontra em um ser humano a termo já está formado. 
Ele agora é capaz de movimentar a cabeça, os braços e o tronco com facilidade. Se a palma de sua mão for tocada, ele reage, fechando-a. Responde às mudanças de posição de Sua mãe. Se Os seus lábios ou o seu nariz forem roçados, responde com um movimento de curvatura do pescoço para se afastar do estímulo. Se um fio de cabelo esbarrar em sua face, afasta a cabeça e estica os bracinhos para afastar o cabelo. Fetos de oito semanas foram vistos fazendo um movimento para afastar ou apanhar com a mão a agulha introduzida por ocasião do exame de amniocentese.
Sua placenta produz os hormônios necessários para manutenção da gravidez.
	Entre a 10º e a 12º semana após a concepção, o feto come­ um vigoroso programa de exercitação física, rolando de um lado para o outro estendendo e flexionando as costas e o pesco­ " agitando os bracinhos, dando chutes e flexionando os pés. Esta movimentação se mantém, sem muita alteração, por todo tempo da gestação. É uma movimentação graciosa e espontânea, uma coordenação que revela um tipo de inteligência direcional.
 Com doze semanas, mede sete centímetros e meio, pesa quatorze gramas. É capaz agora de movimentar todas as articulações de um braço ou de uma perna. Além de chutar e virar os és, dobra os dedos, franze a fronte, aperta o:, lábios, abre a oca, coça a cabeça, faz caretas, esfrega os olhos e engole o liquido amniótico. 
Os seus pulmõezinhos primitivos e vazios expandem-se e contraem-se como se estivessem ensaiando para quando precisar deles no momento do nascimento.
Se seus lábios forem tocados, ele responde com um movimento de sucção. Se suas pálpebras forem tocadas, responde contraindo-as em vez de jogar o corpinho todo para trás, como fazia antes.
 Começa a chupar o dedo.
	Fetos da mesma idade começam a revelar variações individuais­: suas feições começam a se diferenciar; também começam a ficar evidentes diferenças nas expressões faciais.
Com quatorze semanas, engole, chupa e respira. É capaz de movimentar os braços juntamente com as pernas e, às vezes, pode-se ver o feto com as mãozinhas levantadas. Começa a apresentar expressões faciais de agrado ou desagrado.
 Com quinze semanas o feto apresenta todos os movimentos presentes em fetos a termo.
Com dezesseis semanas, além de levantar as sobrancelhas, fazer caretas, coçar a cabeça e esfregar os olhos, começa a desenvolver o sentido do paladar. Nesta idade, as papilas gustativas já estão desenvolvidas, e surgem as preferências de gosto: o feto faz caretas e pára de engolir quando uma gota de substância amarga é colocada no líquido amniótico, enquanto uma gota de substância doce provoca a aceleração da ingestão do líquido. Reage da mesma maneira à nicotina e ao álcool ingeridos pela mãe, com o que evidencia o desagrado que lhe causam.
 Na 19º semana, os seus movimentos começam a ficar mais coordenados, contrastando com os movimentos iniciais, que eram reflexos mais primitivos. Começa a dar "passos"; é capaz de ficar ereto e impulsionar o corpinho para a frente, sustentando-se sobre uma das mãos.
Na 26ºsemana da gestação, o feto abre os olhos pela primeira vez e, a partir deste momento, comportar-se-á como um recém-nascido; fecha os olhos quando dorme e abre-os quando está acordado.
 Com 28 semanas todos os fetos sadios piscam os olhos.
 Até o sétimo mês o feto pode movimentar-se livremente, até mesmo virar cambalhotas.
Mas a partir do oitavo mês, o ambiente torna-se mais apertado e quase todo o espaço disponível está por ele ocupado. Começará então a fazer os movimentos preparatórios necessários para o seu nascimento. Ao sentir-se pronto e maduro, organiza­-se para prosseguir o seu desenvolvimento fora do corpo de sua mãe e separado dela.
DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES
SENSO - PERCEPTIVAS DO FETO
	o nome deste capítulo também poderia ser "capacidades cognitivas do feto", ou ainda "inteligência do feto".
Como todos os tipos de aprendizado são constatados nas primeiras horas e dias após o nascimento, conclui, se que o aprendizado deve começar antes.
Estudos sobre o recém-nascido apontam -- como já disse anteriormente - para o período pré-natal como origem da capacidade de aprendizado.
O período de nove meses que vai da concepção ao nasci, mento, antes oculto e misterioso, agora cada vez mais ilumina, do pela ciência tem,nos revelado a presença de sinais de comportamento inteligente a partir do início do período gestacional.
Se conceituarmos inteligência como a capacidade para (a) autogerir-se mentalmente; (b) adaptar, se e adequar, se a situações novas; (c) selecionar condições; e (d) aproveitar experiências - o que implica aprendizado e memória -, podemos concluir que de fato elas estão presentes no feto desde o período inicial da gestação.
Para ilustrar o que acabei de afirmar, vou comentar algumas pesquisas realizadas visando à aferição da presença e do desenvolvimento de diversas funções senso-perspectivas no feto.
 Começarei pelo relato de uma experiência realizada em 1982 pelo pesquisador norte-americano Anthony DeCasper, que desenvolvimento da função auditiva no feto.
 DeCasper instruiu um grupo de mulheres grávidas para lente, duas vezes por dia, lessem em voz alta, cinco semanas antes do parto, determinada história infantil. Três dias após o nascimento, duas historinhas diferentes foram lidas para os recém-nascidos: aquela que suas mães haviam lido para eles durante a gravidez e uma outra, desconhecida. As reações dos idos foram registradas num dispositivo ligado a um aparelho medidor de sucção. Observou-se que os bebês revela­te preferência pela história conhecida, sugando com maior freqüência quando esta lhes era lida.
 Reações observadas em embriões e fetos a determinadas situações apontam para a existência de respostas emocionais de medo pânico e choque em determinadas circunstâncias, de mulheres grávidas em estado de estresse permanente apresentaram batidas cardíacas mais aceleradas, e embriões submetidos ao exame de amniocentese revelaram sensí­vel alteração em sua atividade respiratória, a qual baixou con­sideravelmente, mantendo a alteração de 24 a 48 horas após a o exame. Pesquisa realizada na Suécia revelou que _ observados reagiram à amniocentese, perdendo o ritmo dos batimentos cardíacos: o coraçãozinho começou a ra­tear quatro minutos depois de iniciada a experiência, mantendo-se com batimentos baixos pelo espaço de dois minutos. Evidências de ­presença de emoção no feto foram observadas por meio do fenômeno do vagitus uterinus, que é um tipo de choro no feto.
 A filmagem do feto evidenciou que ele ingere o líquido ela boca aberta com nove e meia semanas gestacio­nais. Papilas gustativas aparecem com sete semanas de gravidez e amadurecem aos cem dias. Acredita-se que elas começam a funcionar 26 semanas antes do nascimento, colocando o feto em contato gustativo com as várias substâncias químicas pre­sentes no líquido amniótico.
A atividade de engolir notada primeiramente às doze se­manas passa a ser uma atividade constante. No terceiro trimes­tre, o feto bebe e digere entre quinze e quarenta mililitros por hora, pelo que recebe quarenta calorias de alimento por dia. O obstetra neozelandês Albert Liley - a quem podemos conside­rar pioneiro en "fetologia", desde a apresentação em um con­gresso de psiquiatria, vinte anos atrás, do trabalho intitulado "O feto como personalidade" - constatou que uma desnutrição intra-uterina acentuada é uma realidade para certos fetos; conjecturou que apatia e anorexia podiam acompanhareste estado inanição intra-uterina.
 O sugar é uma atividade primeiro observada às nove se­\manas. Como passatempo parece ser uma atividade inata e é tão freqüente que certos bebês nascem com um calo em seu polegar. Os dedos e os artelhos também costumam ser chupa­dos, donde se conclui que a coordenação mão-boca apresenta­da pelo recém.-nascido começa muito tempo antes do nasci­mento. Sua interação táctil com o cordão umbilical também é uma atividade que começa cedo no útero.
Quanto a audição, fetos observados entre as 16 e 32 sema­nas de gestação foram vistos reagindo com um piscar de olhos, ou com um estremecimento do corpo ou dos membros, a ruídos aplicados ao abdômen da mãe. Os ultra-sonografistas observam que o feto reage com sobressaltos a qualquer ruído repentino.
Experiência realizada em maternidade inglesa revelou que fetos de quatro a cinco meses acalmavam-se quando escutavam música de Viva di e Mozart, e ficavam agitados ao som de Brahms, Beethoven e rock, com o que pareciam revelar desagrado.
 A existência de condicionamento pré-natal para música foi constatada em recém-nascidos cujas mães cantarolavam determinada cantiga popular durante todo o período gestacio­o submetidos a testes após o nascimento, estes bebes evidenciaram preferência pela melodia conhecida, enquanto e bebês de controle não evidenciou tal preferência. Outra pesquisa, realizada com um grupo de bebês expostos re­gularmente durante o período gestacional a determinado tema musical tocado pela televisão, revelou que estes bebês paravam entravam no "estado de alerta tranqüilo" ao ouvi­musical conhecido, o mesmo não acontecendo com os bebês do grupo de controle.
 Gestantes observam que seus fetos reagem com pulos a toques de buzina, fogos de artifício, toque de tambor ou aplausos em concertos, e com hiperatividade a filmes violentos.
 Pesquisas realizadas com uso de tecnologia avançada na Escandinávia revelaram que os fetos recebiam e armazenavam padrões de fala que lhes eram transmitidos pelas suas mães. Fotografias e filmes mostraram que os fetos exercitavam dentro amniótico movimentos neuromusculares que leva­. contato com o ar - ao choro e à vocalização. Estu­dando gravações de choro de prematuros extremos de novecentos gramas, verificou-se, em alguns casos, uma correspondência específica do choro com as entonações, ritmos e outros fala de suas mães. Estes espectogramas coinciden­tes de mãe e feto por volta dos cinco meses são evidencia não apenas da presença da audição como também da linguagem no útero. A equipe de pesquisadores encontrou outra evidência ia de linguagem no feto: recém-nascidos, de mães mudas, que não choram ao nascer, ou que, tendo chorado, apre­m choro estranho como se lhes tivessem faltado aulas no útero.
 Segundo estudiosos do assunto, o feto ouve a voz de sua mãe já no quarto mês de gestação, e a qualidade desta comunicação pode influenciar, no futuro, seu desejo de comunicar-se: caso a voz da mãe seja cronicamente áspera e zangada, poderá ficar associada a uma experiência desagradável e afetar a sua futura disposição para a escuta e a comunicação.
O acima mencionado Anthony DeCasper descobriu que os recém-nascidos discriminam e preferem a voz de sua mãe a outras vozes, conhecimento que devem adquirir durante sua experiência intra-uterina. São capa;:es de variar a freqüência de sua sucção para obter o som da voz de sua mãe, em vez do som de outra voz feminina.
O aprendizado por imitação envolve processamento vi­sual. Constatou-se capacidade imitativa em prematuros de 35 semanas: são capazes de discriminar e imitar expressões faciais do adulto, expressando alegria, felicidade, tristeza ou surpresa.
	A observação por ultra-som revelou gestos cheios de in­tenção e sentido desde muito cedo. Observou-se que o feto desloca-se no útero para fugir de um bombardeamento ultra­-sonográfico de um feixe de luz.
 Os fetos expressam estados emocionais de agrado e desa­grado por me: o de seu comportamento, movimentando-se. Os pontapés e a hiperatividade são reações pelas quais comuni­cam desagrado pelo som de uma música mais violenta, ao bater de tambores, a filmes de guerra ou de violência, a desastres naturais ou situações traumáticas vividas pela mãe que nela produzam uma perturbação emocional.
E o chore expressa dor, angústia ou sofrimento.
Reações de susto são evidenciadas por alterações somáticas no feto: const3tou-se aumento excessivo e descontrolado de seus batimentos cardíacos, de sua movimentação e atividade intra-uterina após o orgasmo masculino ou feminino.
Quanto à. experiência onírica do feto, sabe-se hoje que começa a sonhar a partir da 23ª semana gestacional. Sonhar é importante, é um meio de elaborar experiências internas. Supõe-se que os fetos sonhem com qualquer experiência que tenham tido até então.
Durante o sono com sonhos, observam-se alterações nas expressões faciais, que revelam perplexidade, desprezo, ceticismo ou divertimento por meio de caretas, choramingos, soluços, sorrisos, estremecimentos do rosto e das extremidades, alteração no ritmo dos batimentos cardíacos e respiratórios, mudanças bruscas de posição de membros e corpo.
Sorrisos no feto: os primeiros sorrisos ocorrem durante o sono com sonhos. Expressam um estado emocional prazeroso. Antigamente, costumava-se negar o significado dos primeiros sorrisos observados em recém-nascidos; dizia-se que eram gases ou espamos musculares. No entanto, os sorrisos são expressões preciosas de sentimentos; representam comunicações significativas e positivas a serem consideradas e valorizadas. Alguns Recém-nascidos chegam a dar risadas enquanto estão dormindo. Tanto os sorrisos quanto as risadas representam experiências cognitivas: são pensamentos acompanhados de uma emoção de alegria. 
A PERSONALIDADE DO FETO
Soa estranha a você a afirmação de que o feto tem uma personalidade?
Vamos por partes. Se você tem filhos ou irmãos, você acha que eles são iguais? Desde criança, desde que eram pequenini­nhos, você teve oportunidade de observá-los: cada um deles tinha um modo próprio de ser, um jeito seu, bem diferente dos outros filhos ou irmãos, não é mesmo?
No entanto, todos eles são filhos dos mesmos pais, criados dentro da mesma casa, no mesmo ambiente familiar sujeitos à mesma educação, aos mesmos modelos de pai e mãe. Quantas vezes você teve oportunidade de observar e de fazer o comen­tário: "Como é possível que irmãos possam ser tão diferentes?" ou: "Nem parecem irmãos".
Pois bem, já tivemos oportunidade de mencionar que to­das aquelas capacidades e habilidades apresentadas pelo re­cém-nascido não surgiram de repente. No capítulo anterior, as­sinalamos em que momento evolutivo do pequeno ser elas foram surgindo.
Somos a primeira geração - note bem, este é um privilégio considerável-a ter acesso a todo o imenso cabedal de informações obtidas por meio do ultra-som. Podemos observar e o feto, o embrião, o concepto e, ainda antes deste, as duas células reprodutoras que a ele deram origem, quer por meio do ultra-som, da filmagem direta de imagens dentro do corpo.
 Antes porém de lhe falar a respeito do que a moderna tecnologia tem-nos permitido saber a respeito da personalidade do feto, vou-me deter na consideração de o que vem a ser temperamento, caráter e personalidade.
 O temperamento é o conjunto de disposições biológicas e psicológicas do indivíduo que determina o seu caráter. O cará­1 vez, é o modo próprio de que é dotado determinado para reagir. E a personalidade é o conjunto dos mo­os de ser, de se comportar, de reagir e de sentir que do indivíduo tem e que o diferenciam de outros in­divíduos.
 Portanto, é a sua personalidade - que inclui o seu tem­ e o seu caráter - que define a sua identidade e o de outros indivíduos. Podemos nos voltar agora para realidade do feto.
 Acabamos de ver que a personalidade seria então o con­junto de modos próprios de ser, reagir, sentir, comportar-se en­fim. Decorre então que entram como fatores componentes e determinantesda personalidade, o que o indivíduo adquire por registro das suas próprias experiências vivenciais, as­) a herança genética que ele recebe de seus pais - lembra-se da carga genética que o espermatozóide traz no núcleo contido em sua. cabeça e que entrega ao óvulo quando se encontra, dando-se então a mistura das bagagens :Ia mãe naquilo a que me referi como amálgama?
 De importância fundamental para o conhecimento do surgimento das características individuais de personalidades no ser humano é uma pesquisa que está sendo desenvolvida em anos recentes por uma psicanalista italiana residente em Milão, de nome Alessandra Piontelli. É até mesmo minha opinião a de que a pesquisa desenvolvida pela doutora Piontelli nestes últimos quinze anos irá revolucionar o enfoque e o entendimento psicanalítico da mente humana.
Vou lhe contar em que consiste o trabalho de pesquisa a que a doutora Piontelli vem se dedicando. Tendo feito o seu treinamento psicanalítico na Inglaterra, dedicou-se durante largos anos à técnica de observação de bebês desenvolvida pela psicanalista kleiniana inglesa Ester Bick, na década de 1960.
De volta à Itália, ocorreu à doutora Piontelli estender a técnica de observação de bebês ao período pré-natal. O desejo de aprofundar seus conhecimentos sobre este período teve re­lação com a sua experiência enquanto analista: trabalhando com crianças pequenas, algumas muito perturbadas, e também\ com pacientes adultos com comprometimentos emocionais gra­ves, começou a esbarrar com freqüência em material obvia­mente pertencente ao período intra-uterino. Como também continuasse o seu trabalho de observação de bebês, sua atenção foi despertada para as evidentes diferenças caracteriológicas individuais nos recém-nascidos a cujos partos assistia.
Começou a se colocar perguntas quanto à origem do cará­ter definido, já tão evidentemente manifesto no momento do nascimento: alguns bebês nascem com uma disposição eviden­te para a vida, enquanto outros surpreendem pela apatia. Também a intrigava a questão referente às diferenças individuais entre os bebês: por que certas crianças não conseguem esque­cer o seu passado pré-natal? Por que outras a ele retomam sem­pre que as circunstâncias externas se lhes configuram adversas? Trata-se de um fator genético ou ambiental formativo ou constitucional? Para realizar a pesquisa, adotou o seguinte procedimento: escolhidas as mães cujas gestações iria acompanhar, estabeleceu com elas que compareceriam regularmente, uma vez por mês, ao hospital em que trabalhava, e pelo período de uma hora submeter-se-iam a uma observação por meio de ultra­som. Combinou também com as mães que assistiria ao nasci­mento e acompanharia os bebês com observações semanais durante todo o primeiro ano de vida.
 Vamos agora ao observado por ela nesta experiência com fetos de aproximadamente a 14ª semana de gestação.
 Em primeiro lugar surpreendeu-se com a riqueza, variedade e comp­lexidade de movimentos que pôde observar nos fetos nos estágios mais iniciais da gravidez: ela os via chupando, sendo, se coçando, esfregando os pezinhos e as mãozinha . Supreendeu-a também a liberdade de movimentos que desfrutava dentro do líquido amniótico.
 Sua atenção foi chamada para as diferenças individuais de cada feto: cada um adotava posturas próprias diferentes das dos demais e relacionava-se de maneira muito peculiar com o intra-uterino e com os seus objetos de relação, a placenta ­ cordão umbilical. Cada feto apresentava um de sem­m comportamento muito próprio e marcante, provocando naqueles que assistiam ao exame exclamações do tipo: “Que bebê calmo!", "Este vai ser um nervosinho", "Como este é pensativo", "Esta vai ser uma bailarina", "Olha este usando a placenta de travesseiro!", "Como trata mal o seu cordão umbi­lical!”
 Nas observações realizadas nos meses subseqüentes ao nasci­doutora Piontelli constatou que as crianças continuavam a apresentar as mesmas características por ela observadas durante o período pré-natal e por ocasião de seu nascimento.
Estendeu também a sua pesquisa a pares de gêmeos. Suas s, após ter acompanhado algumas gestações gemelares - gêmeos não univitelinos -, são valiosíssimos subsídios para este novo ramo da ciência constituído pela psicologia pré-natal. Destacarei alguns aspectos de suas conclusões finais:­
·	em cada par de gêmeos havia uma notável diferença no temperamento de cada um. Por exemplo, enquan­to um se revelava dotado de evidente vitalidade, pro­curando contato físico com o seu par, o outro apresen­tava-se retraído, pouco ativo, pouco afetivo, fugindo e evitando o contato, recorrendo a gestos agressivos e por vezes violentos, para repelir os avanços do irmão.
·	os padrões de conduta observados tanto nos fetos das gestações singulares como naqueles de gestações ge­mel ares mantiveram-se com as mesmas característi­cas no período pós-natal, tendo sido também observa­dos no decorrer de todo o primeiro ano de vida.
·	nos pares de gêmeos, observou-se também um padrão de conduta inter-relacional, que apareceu desde muito cedo no período gestacional, mantendo..se com as mesmas ca­racterístic1s durante todo o tempo da experiência intra­uterina, continuando no período pós-natal.
 Conclui-se, portanto que:
a) os padrões de conduta e de temperamento aparecem desde muito cedo no período gestacional, tanto em fetos de concepções singulares como naqueles de con­cepções gemelares não univitelinas;
b) as características individuai3 que puderam ser obser­vada:, desde muito cedo mantiveram-se e continuara pré-natal;
c) as diferenças de personalidade, evidentes e marcantes já em fetos de quatro meses, serão características indi­viduais das suas respectivas personalidades pós-natais;
d) as características individuais estão presentes desde o tempo mais inicial; as peculiaridades básicas aparece­ram desde as primeiras observações, mantendo-se por todo o tempo da vida intra-uterina e manifestando-se com as mesmas peculiaridades na vida pós-natal.
 Concluindo este capítulo podemos afirmar que os fetos diferem em suas identidades individuais assim como diferem as pessoas das outras. Portanto, o feto tem, sim, uma perso­nalidade marcante e bem-definida que se manifesta desde o começo de sua existência intra-uterina, e será aquela mesma ticas os pais irão conhecer logo depois que este TI como no decorrer do seu primeiro ano de vida.
 É no período pré-natal que o indivíduo revela o seu caráter individual que mais tarde continuará a desenvolver com as mesmas características observadas desde o início.
 Para finalizar este capitulo chamo a sua atenção, caro leitor, para a citação de Freud que figura no início deste livro, e cuja procedência pode agora ser aferida por estudos como este realizado pela doutora Piontelli, confirmando, setenta e tantos anos depois, a sua extraordinária intuição e genialidade: “Há muito mais continuidade entre a vida intra-uterina e a primeira infância do que a impressionante caesura do ato do nascimento nos permite saber.”
MEMÓRIAS PRÉ-NATAIS E DO NASCIMENTO
	Você se lembra quando, em capítulo anterior, mencionei que, com freqüência crescente, psicoterapeutas das mais di­,versas correntes têm-se deparado com evidências de memórias pré-natais na experiência clínica com seus pacientes?
	Deter-me-ei agora sobre este fato.
	Desde o final do século XIX, vários profissionais da saúde começaram a recorrer à hipnose para alcançar melhores resul­tados terapêuticos. Em tempos mais recentes, juntaram-se a eles também psicólogos e psicoterapeutas de orientações várias. No exercício de seu trabalho, alguns desses profissionais come­çaram a observar fatos surpreendentes: algumas pessoas, sob o efeito do transe hipnótico, regrediam espontaneamente a me­mórias do seu nascimento e de sua vida pré-natal. Mas, apesar do aparecimento reiterado destas memórias, elas em geral eram negadas por falta de uma explicação plausível.
	Contudo, a constatação da existência de memórias pré­ nataise do nascimento em crianças e adultos expandiu-se. As capacidades cognitivas do recém-nascidos como tive oportunidade de comentar- viveram a ser conhecidas e ficou evidente que não poderiam ter sido adquiridas na vida intra-uterina sem existência de uma memória. Por outro lado, especialistas nos alertam de que não é certo referir-se ao sistema nervoso do recém-nascido como "imaturo"; a mielinização insuficiente, à qual outrora se atribuía a falta de condições do feto competências, é hoje declarada irrelevante. Por outro lado, sabemos hoje que sete semanas depois da concepção há endorfinas circulando no organismo do embrião. Isso indica que os sistemas endócrino e imunológico - que constituem partes vitais de um sistema de intercomunicação - estão se desenvolvendo e funcionando mais rapi2amente do que o cérebro.
 A crescente prática de terapias regressivas por meio de hipnose, drogas ou técnicas respiratórias tem fornecido evidência cada vez maior, da existência de registros experiências traumáticas ocorridas tanto no nascimento como no período pré-natal, na concepção, e até mesmo antes dela.
 Também a psicanálise tem flagrado no aqui-agora do encontro analíticas evidências de registros traumáticos pertencentes a um período muito inicial da existência. Tais registros acabam por figurar determinados padrões mentais que, uma vez decifrados, permitem que se estabeleça a sua conexão com lógicas iniciais que lhes teriam dado origem: constata-se que suas raízes encontram-se em situações pertencentes ao primórdios biológicos da existência, entre a pré-concepção e o nascimento, quando ocorrem, e ficam registradas, que representam risco real para a. existência daquele ser.
 Contar-lhe-ei agora algo mais a respeito dos conhecimentos mais recentes adquiridos sobre memória, considerada modernamente como a faculdade que acumula informações.
 Por algum tempo, na década de 1960, alguns pesquisadores consideraram que a memória se encontrava nas moléculas do RNA. Mas com as revelações recentes de que as células nervosas estão em constante e freqüente processo de renovação por substituição, a hipótese referente ao RNA deixou de ser considerada, uma vez que há memórias que permanecem intactas por muito tempo, em certos casos por até quase um século.
 A verdadeira complexidade da memória é uma descoberta muito recente. Pesquisas em neurociência têm revelado a existência de novos processos e novas cronologias cerebrais relevantes para o funcionamento da memória. Enquanto no passado os psicólogos e neurologistas relacionavam memória com córtex cerebral e presença de linguagem verbal, os pesquisadores modernos propõem que a memória não fica restrita ao cérebro e que o seu armazenamento dá-se fora dele. Testes realizados por meio de tecnologia altamente sofisticada - a tomografia por emissão\ de prótons - revelam a ocorrência de alterações químicas e elétricas em um único neurônio como resultado de aprendizado; observou-se também que uma única molécula de substância é capaz de, instantaneamente, alterar a sua conformação dentro da membrana para assumir identidades diferentes.
Enquanto em um passado relativamente próximo, delimitações claras separavam os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, demarcando os respectivos territórios dos especialistas, os estudiosos do assunto atualmente concordam em que a memória não constitui apenas um, mas vários sistemas, nem sempre unificados e que funcionam independente, automática e deliberadamente.
Existem tipos diferentes de memória regidos por sistemas diversos. Por exemplo, existe memória recente e memória antiga, memória semântica, auto-biográfica, afetiva perceptiva, motora, de reconhecimento, de recordação; existem registros ou imprints embrionários e existe o que eu denomino”memória celular”. Por “memória celular” refiro-me aos registros mnêmicos (imprints) das experiências pelas quais passam as duas células reprodutoras básicas - espermatozóide e óvulo - e o concepto até depois da nidação, quando surge o embrião. Vários destes ­tipos de memória vão além do substrato neurológico atribuía a contenção da memória e a possibilidade do seu funcionamento.
 Até o advento destes novos conhecimentos éramos ensi­nados que o cérebro do recém-nascido não estava devidamente, era incompleto, subdesenvolvido, pesando apenas na parte de seu peso definitivo, e estava longe de estar completamente mielinizado ("mielinização" é o processo de maturação da célula nervosa).
 Sabemos hoje que o funcionamento da memória independe e do peso do cérebro, e que a mielinização não é ra a condução do estímulo nervoso e que esta tam­:senta o único meio de comunicação dentro do sis­tema nervoso.
 Essas novas aquisições de conhecimentos permitem que se dê agora credibilidade às numerosas evidências de memórias e traumas de nascimento que se têm apresentado nos últimos cem anos. Por outro lado, o emprego cada vez maior de técnicas as regressivas, bem como os avanços da psicanálise têm apontado para a presença de imprints de vivências traumáticas, tanto pré-natais como ao nível da concepção e até mes­mo anteriores a ela.
 A manifestação de memórias pré-natais tem sido rica, variada e indubitável, clamando pela necessidade de formulação de novas teorias a respeito do funcionamento da memória. Ela hoje tende a ser considerada mais como um processo do que e em um lugar determinado.
 Nesse sentido duas descobertas complementares feitas em 1985, fruto de pesquisas em neurocondutores, resultaram em importantes propostas que vêm revolucionar o conhecimento na área: a do neurocirurgião australiano Richard Bergland e a da pesquisadora Candace Pert.
Bergland propõe que se considere o cérebro como uma glândula gigante, uma vez que hoje se sabe que: (a) ele é produ­tor de hormônios; (b) contém receptores para hormônios pro­duzidos em outras partes do corpo; (c) é banhado por hormônios que percorrem as fibras de nervos individuais. Segundo sua óti­ca, os sistemas nervoso e endócrino devem ser considerados como integrados, uma vez que os hormônios produzidos pelo cérebro percorrem as fibras dos nervos individuais, e toda ativi­dade em que o cérebro se engaja envolve hormônios. Bergland dá destaque ao fato de se localizarem em todo o corpo os hormônios que impulsionam o cérebro, donde a "substância" do pensamento se encontra espalhada pelo corpo todo. Por sua vez, Candace Pert, pesquisando neuropeptídeos - moléculas\ fabricadas pelas células nervosas -, constatou que cerca de sessenta deles, cada um destinando-se a receptores específicos, constituem o principal meio de veiculação de informações dentro do cérebro e do corpo. Tendo sido feito o seu mapeamento por meio de moléculas radioativas, verificou - se serem os neuropeptídeos os que conectam os três sistemas -- o nervoso, o endócrino e o imunológico.
Há lugares fixos de receptores para neuropeptídeos espa­lhados por todo o corpo e pelo cérebro, transformando o corpo­cérebro em um único sistema de comunicação interacional. Assim, o corpo-cérebro representaria o substrato físico da me­mória - ou mente - que, além deste substrato físico, conta ainda com um outro substrato, imaterial: a informação que circula dentro ele.
Veja, caro leitor, estou considerando mente algo diferente de cérebro. Não se localiza apenas na cabeça, mas sim em todo o corpo, e pode expressar-se por meio de outras vias que não as estritamente intelectuais.
 Direi agora algo a respeito das memórias pré-natais propriamente como e quando começou-se a observar a sua existência.
 Já mencionei que memórias pré-natais e referentes ao nas­cimento começaram a aparecer espontaneamente durante sessões de pacientes hipnotizados para outros fins e que os terapeutas não sabiam como interpretar, uma vez que ainda não existiam os conhecimentos que permitissem lhes dar validade.
 Freud, já em 1900, em A interpretação dos sonhos, referia-se de fantasias relacionadas com a vida intra-uterinacimento. Ilustra com alguns sonhos de pacientes, que faz acompanhar do comentário: "Sonhos como este são sonhos nascimento". E diz: "O ato do nascimento é a primeira experiência de angústia do indivíduo, vindo a se constituir na fonte e no protótipo do afeto de angústia". E, em 1909 acres­centa: “Aprendi a levar em conta as fantasias relacionadas com a vida intra-uterina. Elas explicam o terror manifestado por cer­e serem enterradas vivas e justificam a crença na uma vida após a morte que nada outro é senão a projeção no futuro da misteriosa experiência do período anteri­or ao nascimento". Menciona também sonhos em que o sonhador se via flutuando, ou igual a uma bola ou uma pequena esfe­ra, sem que ele, Freud, possuísse ainda elementos que lhe permitissem atribuir os significados que somos hoje capazes de lhes dar, em função do que agora sabemos: trata-se de imagens rela­cionadas com vivências extremamente precoces, pertencentes ao período celular.
 Será na Inglaterra e América do Norte que, no decorrer da década de 1970, fora do âmbito da psicanálise propriamente dita, dar-se-á um verdadeiro boom na exploração dos níveis mais profundos da mente por meio de terapias regressivas.
 Nos Estados Unidos e Canadá atualmente há grande número de terapeutas que, mediante o emprego de técnicas regressivas variadas, trabalham com resgate de memórias tanto pré-natais como de nascimento, traumáticas e não-traumáticas, assim como daquelas relacionadas com a experiência da concepção e elos momentos que se seguem a ela - a experiên­cia na trompa, a nidação - e todas; as experiências celulares anteriores à concepção - do óvulo e do espermatozóide. Estas situações têm sido trabalhadas visando à investigação e tam­bém a um efeito terapêutico - segundo crêem estes terapeutas - mediante a promoção de catarses dos pontos de trauma.
O norte.-americano David Chamberlain trabalha explorando, sobretudo as memórias do nascimento, mediante empre­go da técnica ele hipnose. Em um livro publicado em 1988 rela­ta suas experiências clínicas, fornecendo evidência da veraci­dade das informações referentes a detalhes de nascimentos obtidas em sessões de hipnose com pacientes, e confirmadas \ por suas mães, igualmente submetidas à hipnose.
Grof, pioneiro no emprego do LSD para efeito de regressões profundas desde a década de 1960, acumulou e publicou vastíssimo material recolhido em sessões de regressões com pa­cientes sobre registros inconscientes existentes na mente, dos traumas experimentados durante o processo do nascimento. Relata em seus livros as formas em que se encontram represen­tadas na mente as várias etapas - sentidas e registradas como traumáticas e ameaçadoras - do nascimento.
Josephine Van Husen, empregando outras técnicas regres­sivas, recolheu vasto material sobre registros mentais traumáticos de pacientes que sobreviveram a tentativas de aborto e de sobreviventes de abortos praticados em que um gêmeo teria sido abortado.
Tanto o material recolhido por ela como aquele recolhido por Grof evidenciam as profundas marcas deixadas na mente por estas experiências traumáticas pré-natais, cujas repercussões psicológicas se manifestam na vida pós-natal.
O californiano William Emerson e o australiano Graham Farrat, promovendo regressões mediante o emprego de técnicas respiratórias, buscam criar situações que permitam a descarga catártica da experiência traumática original, relacionada com o nascimento e com todo o período pré-natal, considerando os imprints, mais iniciais, desde a emissão do espermatozóide, do óvulo, o encontro dos dois, a concepção, a multiplicação celular, a descida pela trompa, a queda no útero, o implante e demais registros traumáticos ocorridos durante a experiência intra-uterina.
Emerson desenvolveu uma técnica pioneira por meio da qual diagnostica e trata recém-nascidos marcados por traumas pré e perinatais, obtendo - segundo suas observações e depoimentos - uma completa remissão dos sintomas.
O trabalho clínico destes terapeutas tem fornecido subsídios para o conhecimento da existência e operância dos traumas pré0natais. Porque este quer sejam natais, pré-natais, do momento da concepção ou anteriores a ela, têm o poder de reger a conduta pós-natal, determinando padrões psicopatológicos, psicossomáticos e de comportamento, num movimento regido por repetição compulsiva que somente pode ser desfeita mediante a identificação verbalizada - interpretação portanto - ou ab-reação catártica (descarga emocional terapêutica) seguida de uma verbalização que conceitua.
É neste ponto que o caminho da psicologia pré-natal cruza com o da psicanálise. É minha opinião que precisamente nos pontos de registros traumáticos pré-natais é que se encontram estabelecidas as raízes mais profundas de determinadas psicopatologias, bem como de afecções psicossomáticas, objeto por excelência da psicanálise. Considero que todas as experiências biológicas pelas quais passa o ser desde a sua pré-concepção até o seu nascimento, ficam registradas em uma matriz básica inconsciente.
E, como já dizia Freud em 1900: “No inconsciente nada se esgota, nada é passado nem esquecido (...) e o que costumamos descrever como sendo o nosso caráter baseia-se nos traços mnêmicos de impressões, sendo que aquelas que maior efeito têm sobre nós são precisamente as que raramente virão a ser conscientes”.
COMUNICAÇÃO INTRA- UTERINA 
ENTRE MÃE E BEBÊ
	Existe uma comunicação entre mãe e feto durante todo o período gestacional. Esta comunicação se dá por meio de tr	
vias: a do comportamento, a da fisiologia e a via empática.
 Vamos examinar inicialmente como se dá a comunicação pela via fisiológica, uma vez que é por seu intermédio que as emoções da mãe são veiculadas ao bebê.
Até há relativamente pouco tempo achava-se que a placenta funcionava como uma barreira protetora, deixando passar apenas os nutrientes e impedindo que substâncias nocivas chegassem ao feto.
Hoje esta noção mudou radicalmente: sabe-se que a placenta não funciona como barreira protetora, tampouco filtra subs­tâncias tóxicas ou nocivas ao bebê dentro do útero de sua mãe.
Sabe-se hoje que quaisquer substâncias ingeridas pela mãe são passadas ao feto. Assim, o fumo, o álcool e as drogas atra­vessam a placenta e afetam nocivamente o bebê. Por outro lado, as perturbações emocionais maternas que nela provocam alterações neuro-hormonais, ou em sua pressão arterial, também irão repercutir sobre o estado neurofisiológico do feto. Ou seja, seu estado emocional.
 Como ocorre isso?
 Todo e qualquer estado de perturbação emocional da mãe de qualquer pessoa - é acompanhado por alterações bioquímicas: as suas células nervosas passam a secretar quantidades maiores de determinadas substâncias nem'o­do que aquelas que são normalmente secretadas está tranqüila. Os neuro - hormônios que o organis­mo passa a produzir quando ela está emocionalmente perturbada são lançados na sua corrente sangüínea e, através dos ao feto pelo cordão umbilical.
 Dá-se o nome genérico de catecolaminas às substâncias neuro-hormonais secretadas em níveis aumentados pelo organismo da mãe quando ela está em um estado emocional de maior tensão, ao qual hoje em dia se denomina estresse. As catecolaminas podem atravessar a placenta, provocando no feto um estado de perturbação semelhante àquele sentido pela mãe.
 Uma catecolamina da qual você certamente já ouviu falar é a adrenalina. A adrenalina é aquela substância que nossa glândula supra-renal secreta quando levamos um susto, fazendo disparar nosso coração, suar frio, deixando-nos trêmulos.
 Outras catecolaminas menos conhecidas por pessoas leigas são a noradrenalina, a serotonina, a oxitocina, a epinefina, a norepinefrina e a dopamina. Todas elas, uma vez lançadas na corrente sangüínea, produzem sensações psicológicas associa­das ao temor e à angústia. Quando presentes na corrente sanguínea da mãe, atravessam a barreira placentária entrando na corrente sangüínea que abastece o feto por meio do cordão umbilical.O feto irá então sentir a mesma perturbação emocional ­pela mãe: temor e angústia. Portanto, o temor e a angustia transmitidos ao feto pela mãe têm, na sua origem, um caráter eminentemente fisiológico.
 Outros estados emocionais da mãe, além daqueles relacionados com temor e angústia, também causam nela alterações neuro-hormonais que irão afetar o bebê: são os seus estados de tristeza profunda, depressão ou melancolia. Nestes estados ocor­rem alterações neuro-hormonais (bioquímicas) com uma série de substâncias, dentre as quais, principalmente, a elevação do nível de cortisol, que, lançado na corrente circulatória, pode afetar fisiologicamente o feto ou provocar nele uma reação do "fechar-se" em uma espécie de "escudo protetor" para ficar ao abrigo do efeito doloroso causado por tais substâncias.
Nos estados de depressão e de melancolia da mãe, além de o feto ser afetado fisiologicamente - leia- se, emocional­mente -, pode ocorrer outra agravante: a mãe, solicitada pela sua tristeza profunda ou entregue à sua depressão, deixa de estar afetivamente disponível para ele, deixando-o só.
No entanto, a disponibilidade afetiva - que faz parte da\ via de comunicação empática - parece ser de fundamental importância para o feto. Tudo leva a crer que ele necessita de ajuda da mãe para processar as impurezas e toxinas por ela produzidas e por ela a ele passadas, das quais ele sente necessidade de se livrar mediante uma desintoxicação realizada pela sua mãe para ele. Mas, se o estado emocional da mãe não favorece tal disponibilidade, se ela retira sua libido do contato com este hóspede passageiro que ela se dispôs a albergar, ela o deixa abandonado a uma situação de injusta sobrecarga e desampa­ro, com a qual ele sozinho não tem condições de lidar.
A disponibilidade afetiva da mãe é fundamental para que ocorra o desenvolvimento psico-afetivo do indivíduo, de célula a feto, de feto a bebê, de bebê a criança.
As lesões provocadas na estrutura emocional do ser por acidentes graves ocorridos na comunicação entre a mãe e o bebê durante o período pré-natal vão constituir imprints traumáticos, cujos efeitos propagar-se-ão, seguindo o modelo de propagação das ondas acústicas, vida afora.
 De recursos dispõe uma mulher grávida para efetuar um contato deliberado com seu bebê pré-natal?
 Ela pode, em vários momentos do dia, dedicar a ele uma ida: com ele conversando baixinho contando da suas atividades e ocupações, dos preparativos feitos para recebe-los cantarolando cantigas de ninar, acariciando-o com ternura através do seu ventre, dedicando-lhe muito carinho. Nestas conversas intimas, dentre outras, ela poderá também lhe explicar o que teria transtornando emocionalmente poucos momentos antes.
 Certas perturbações emocionais são inevitáveis e fazem parte do cotidiano de qualquer grávida. Mas é importante lembrar da existência de recursos como o acima mencionado, mediante o qual é possível abrandar e até mesmo neutralizar o seu efeito negativo: quando a mãe vive momentos de estresse agudo ou alguma situação de perturbação emocional, o feto é inundado como já vimos por uma descarga neuro-hormonal de substancias fisiológicas que lhe causam sensações de pânico ou angustia profunda.. Em tais momentos, o pequeno ser, que não conta ainda com recursos próprios para discernimento ou discriminação, experimenta uma sensação muito radical de aniquilamento ou de ameaça de extermínio total.
 As marcas deixadas por tais situações vão se constituir em imprints negativos, núcleos geradores de pessimismo e desperança. As conversas tranqüilizadoras que a mãe pode ter com o seu bebê visam restituir a ele a sensação de segurança, otimismo e esperança, reforçando e reassegurando a permanência do vínculo de vida entre ambos.
 Os sentimentos negativos de abandono, desamparo, pessimismo, desesperança, desconfiança têm suas raízes fincadas na experiência pré-natal. Lembre-se de que, desde as primeiras situações da vida biológica, houve experiências de rechaço fisiológico e rejeição imunológica, que também receberam imprints, deixando marcas negativas. A partir destas, no decorrer da vida, são emitidos sinais negativos do tipo: “não sou desejado”, “não sou querido”, “não sou aceito”, “não sou acolhido”, “não pertenço”, reproduzindo, em outro nível, a angústia sentida pelo ser por ocasião do primeiro registro pré-natal.
Como você está vendo, a experiência intra-uterina não tem aquela conotação de segurança absoluta que antigamente lhe era atribuí-la.
Para concluir, desejo fazer um último assinalamento: neste período absolutamente inicial da existência, a todo trauma bio­lógico corresponde um correlato psíquico.
ORGANIZAÇÕES QUE SE DEDICAM
AO ESTUDO DOS PERÍODOS PRÉ E PERINATAL
 Com freqüência, nas páginas deste livro, você tem lido a frase: "nestes últimos vinte e cinco anos...", E isso mesmo, e vou usá-la outra vez agora, para dizer que nestes últimos vinte e cinco anos adquirimos mais informações sobre os bebês, nos mais variados estágios de sua gestação, do que durante todo o tempo precedente. Como já mencionei antes, somos a primeira geração a possuir pleno e factual conhecimento a respeito do que se passa com os bebês durante os nove meses em que habi­tam o ventre de suas mães e de tudo o que são capazes de fazer durante este período.
A aquisição deste saber resulta de uma nova forma de co­laboração entre profissionais de todos os ramos da ciência, ul­trapassando os limites das diferentes disciplinas, integrando os conhecimentos provenientes de pesquisas realizadas nas mais diversas áreas específicas e criando uma nova enciclopédia de conhecimentos que de muito supera o conhecimento acumula­do anteriormente, disponível em qualquer um dos ramos inde­pendentes.
Com o intuito de potencializar a divulgação deste novo saber, assim como promover maior e melhor intercâmbio entre os pesquisadores existentes, um grupo de psicanalistas de língua alemã criou, em 1972, em Viena, na Áustria, a primeira nada ao estudo das questões referentes ao período pré-natal.
Pouco depois, tão logo se percebeu a amplitude e abrangência deste novo campo do conhecimento, esta entidade, que hoje leva o nome de Sociedade Internacional de Psicologia e Medicina Pré e Perinatal, expandiu-se para abrigar especialistas e pesquisadores de várias outras disciplinas.
A ISPPM - como é conhecida - realiza, desde a sua fundação, congressos internacionais trienais, dos quais participam obstetras, ginecologistas, sociólogos, antropólogos, endocrinologistas, psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, pedagogos, educadores, neurologistas, neuro-endocrinologistas, neuro-imunologistas, psicoterapeutas de orientações várias, como atesta o recém-publicado volume de mais de seiscentas páginas contendo 55 trabalhos selecionados dentre os apresentados no congresso de 1986 realizado em Badgastein, Austrália.
Em 1983, em Toronto, Canadá, o psiquiatra e psicoterapeuta Thomas Verny, inteirado dos trabalhos desenvolvidos pela ISPPM e ele próprio sensível à presença de imprints pré-natais traumáticos e não-traumáticos na mente de seus pacientes, organizou o I Congresso Internacional de Psicologia Pré e Perinatal, e nesta mesma ocasião fundou a Associação Norte Americana de Psicologia Pré e Perinatal - PPPANA, a qual continua, bienalmente, a realizar congressos.
Os trabalhos apresentados neste I Congresso também foram publicados em 1987. Trata-se de uma compilação organizada por Verny contendo dezoito trabalhos da maior relevância, selecionados dentre os que foram apresentados naquele Congresso, fruto de pesquisas especializadas no desenvolvimento pré-natal de funções tais como audição, memória, experiência emocional e afetiva, bonding e empatia.
Com a criação da PPPANA, inaugurou-se um espaço para troca de idéias; e experiências entre profissionais de várias áreas, interessados na investigação dos aspectos psicológicos da con­cepão, da gestação, do nascimento e do período pós-natal. Tal necessidade se fizera sentir em virtude de as associações

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