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DIMENSÕES HISTÓRICAS DOS DIREITOS HUMANOS

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Direito - Direitos Humanos - Gassen Gebara - UNIGRAN 
11
Aula 01
DIREITOS HUMANOS:ELMENTOS DE DEFINIÇÃO
Sem menosprezar o estudo relativo à ontologia dos direitos humanos, esse material, 
no âmbito circunscrito, compreende os direitos humanos como aqueles correspondentes ao 
conteúdo das declarações e trados internacionais sobre o tema. Isso aqui se justifica, pois a 
preocupação manifesta é a de analisar o conjunto de normas que, mal ou bem, traduzem os 
valores e as preocupações relacionadas como fundamentais para a existência digna dos seres 
humanos e da Humanidade.
Como salientado, a contemporaneidade dos direitos humanos é marcada justamente 
por sua positivação internacional, o que possibilita a conversão, em obrigações jurídicas, de 
pretensões e interesses fundados na formulação jusnatural da dignidade humana. /demais 
disso, a investigação quanto à ontologia e à evolução histórica dos direitos humanos, não 
menos importante, não constitui pressuposto necessário para a tarefa que ora se propõe, além 
de terem aquelas recebido, até hoje, maior atenção que os aspectos aqui destacados. 
Portanto, emprega-se a expressão “direitos humanos” ao invés de outras – como 
“direitos do homem”, “direitos fundamentais” ou liberdades públicas” -, embora todas sejam 
amplamente utilizadas pela doutrina, havendo quem até se refira aos “direitos humanos fun-
damentais”. No caso em comento, a opção dá-se especialmente para acompanhar a nomen-
clatura dos tratados internacionais sobre a matéria.
Ainda assim, necessária a menção à já tradicional distinção entre direitos humanos 
e direitos fundamentais, de que faz exemplo a lição de Oscar Vilhena, para quem a estes de-
signa “o conjunto de direitos da pessoa humana expressa ou implicitamente reconhecidos por 
DIMENSÕES HISTÓRICAS DOS 
DIREITOS HUMANOS
Direito - Direitos Humanos- Gassen Gebara - UNIGRAN
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uma ordem constitucional”1. 
Como se verá no curso desse material, A respeito do tema doutrina Fábio Konder 
Comparato ao tratar da obrigatoriedade dos direitos fundamentais: “é aí que se põe a distin-
ção, elabora pela doutrina jurídica germânica, entre direitos humanos e direitos fundamen-
tais. Estes últimos são os direitos humanos reconhecidos como tal pelas autoridades às quais 
se atribui o poder político de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no plano 
internacional; são os direitos humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados 
internacionais”2.
Daí por que muitos autores – e mesmo a Constituição Federal – empregam “direitos 
fundamentais” em lugar de “direitos humanos”, sendo certo que ambas as denominações, 
embora referentes a um conjunto de direitos com conteúdos semelhantes, designam universos 
distintos.
Sobre essa matéria, Ingo Wolfgang Sarlet publicou no site CONJUR, em 23 de ja-
neiro de 2015, artigo intitulado As aproximações e tensões existentes entre os Direitos Huma-
nos e Fundamentais, do quais é possível extrair algumas conclusões mais largas, transcritas 
adiante. 
Já é do conhecimento comum que tanto na doutrina, quanto no direito positivo (cons-
titucional ou internacional), são largamente utilizadas outras expressões que não a de direitos 
fundamentais, tais como “direitos humanos”, “direitos do homem”, “direitos subjetivos pú-
blicos”, “liberdades públicas”, “direitos individuais”, “liberdades fundamentais” e “direitos 
humanos fundamentais”, isso apenas para referir algumas das mais importantes, o que apenas 
revela o quanto, pelo menos do ponto de vista terminológico, não se registra um consenso, in-
clusive quanto ao significado e conteúdo de cada termo utilizado, muito embora em diversos 
casos apenas se trate de uma eleição de rótulo distinto para o mesmo conteúdo. É, por outro 
lado, significativo que na literatura filosófica, na esfera política e social, mas também nos 
meios de comunicação e na literatura em geral, o termo preferido seja o de direitos humanos, 
sem que se tenha, no mais das vezes, preocupação sequer em traçar um marco distintivo em 
relação a outras categorias. Em suma, o que parece prevalecer, nesse contexto, é a ideia de 
que os direitos humanos são sempre fundamentais, ainda que nem isso esteja sempre clara-
mente enunciado quando se fala em direitos humanos no dia-a-dia. Isso apresenta reflexos 
até mesmo do ponto de vista institucional, pois em geral o que se verifica é a existência e 
ampla difusão de comissões de direitos humanos (e não comissões de direitos fundamentais), 
assim como de organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas aos direitos humanos, 
igualmente privilegiando tal opção terminológica.
Aliás, tal diversidade semântica se reflete inclusive no texto da nossa Constituição 
Federal de 1988, onde encontramos expressões como: a) direitos humanos (artigo 4º, inciso 
II); b) direitos e garantias fundamentais (epígrafe do Título II, e artigo 5º, parágrafo 1º); c) 
direitos e liberdades constitucionais (artigo 5º, inc. LXXI) e d) direitos e garantias individuais 
1 Direitos fundamentais. Uma leitura da jurisprudência do STF, São Paulo, Malheiros editores, 2006, p. 6.
2	 A	afirmação	histórica	dos	direitos	humanos,	São	Paulo,	Saraiva,	1999,	p.	46.
Direito - Direitos Humanos - Gassen Gebara - UNIGRAN 
13
(artigo 60, parágrafo 4º, inciso IV). Também aqui segue válida a indagação se o constituinte 
estava a contemplar em todos os casos a mesma coisa ou se também no direito constitucional 
positivo brasileiro há espaço para uma distinção entre direitos fundamentais e outras figuras, 
tal como é o caso dos direitos humanos. Por outro lado, a referência genérica, na epígrafe do 
Título II, aos “Direitos e Garantias Fundamentais”, representou uma novidade em relação 
ao direito constitucional positivo brasileiro anterior, pois em nenhuma outra constituição 
se lançou mão da expressão direitos fundamentais: na Constituição de 1824, falava-se nas 
“Garantias dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros”, ao passo que a Consti-
tuição de 1891 continha simplesmente a expressão “Declaração de Direitos” como epígrafe 
da Secção II, integrante do Título IV (Dos cidadãos brasileiros). Na Constituição de 1934, 
utilizou-se, pela primeira vez, a expressão “Direitos e Garantias Individuais”, mantida nas 
Constituições de 1937 e de 1946 (integrando o Título IV da Declaração de Direitos), bem 
como na Constituição de 1967, inclusive após a Emenda nº 1 de 1969, integrando o Título da 
Declaração de Direitos.
Com isso, os constituintes de 1987-88, de modo mais ou menos consciente, acaba-
ram aderindo a uma tradição que, embora encontre algumas manifestações anteriores, pode 
ter o seu marco inaugural atribuído à Lei Fundamental da Alemanha, de 1949, mas que aca-
bou sendo objeto de ampla recepção pelo menos no constitucionalismo ocidental, chegando, 
muito também pela influência de constituições como, entre outras, a de Portugal (1976), 
Espanha (1978), Turquia (1982), Holanda (1983), até chegar ao Brasil. Aliás, mesmo na 
França, onde por tanto tempo predominou a expressão “liberdades públicas” já de há muito e 
cada vez mais se recorre ao termo direitos fundamentais, que, de resto, também foi adotado 
no plano europeu, na Carta de Direitos Fundamentais da Europa, aprovada em 2000 e que 
se fez vinculativa quando da incorporação ao Tratado de Roma e sua respectiva entrada em 
vigor (2009).
Mas a adesão expressa a certa terminologia (direitos e garantias fundamentais), pelo 
menos para efeito de abarcar as diversas categorias de direitos que integram os diferentes 
capítulos do Título II da CF/88 (dos direitos e deveres individuais e coletivos, dos direitos 
sociais, da nacionalidade, dos direitos políticos e dos partidos políticos) não implica auto-
maticamente a adoção de um determinado conceito de direitos fundamentais e muito menos 
explica, por si só, se tal conceito abrange o de direitos humanos (ou lhe é equivalente),ou 
mesmo se existem diferenças substanciais (no sentido do conceito subjacente) entre direitos 
fundamentais, direitos humanos e os demais termos utilizados ao longo do texto constitucio-
nal, tal como indicado.
No que se poderia aqui designar de uma primeira aproximação por exclusão, cabe 
referir que a tendência registrada no âmbito da moderna doutrina sobre o tema é a de afastar 
cada vez mais a utilização de termos como “liberdades públicas”, “liberdades fundamentais”, 
“direitos individuais” e “direitos públicos subjetivos”, “direitos naturais”, “direitos civis”, 
assim como as suas variações, especialmente por se tratar de termos que, ao menos na condi-
Direito - Direitos Humanos- Gassen Gebara - UNIGRAN
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ção de termos genéricos, anacrônicos e, de certa forma, divorciados do estágio atual da evo-
lução dos direitos fundamentais no âmbito de um Estado (democrático e social) de Direito, 
até mesmo em nível do direito internacional, além de revelarem, com maior ou menor inten-
sidade, uma flagrante insuficiência no que concerne à sua abrangência, visto que atrelados 
a categorias específicas do gênero direitos fundamentais ou direitos humanos. Precisamente 
pelo fato de nosso intento é o de privilegiarmos a adoção de um conceito genérico, não pre-
tendemos adentrar o exame do significado específico ou mesmo das diferenças entre os diver-
sos termos referidos, mas sim, de uma terminologia e respectivo conceito que seja ao mesmo 
tempo capaz de abarcar as diferentes espécies de direitos e de ser internamente coerente do 
ponto de vista formal e material: em suma, de um conceito consistente e constitucionalmente 
adequado.
Já por tal razão é que assume especial significado a clarificação da distinção entre as 
expressões “direitos fundamentais” e “direitos humanos”, nada obstante, como já anunciado, 
também se verifique uma corrente confusão entre os dois termos, confusão esta que se revela 
como inaceitável a depender do critério adotado. Quanto a tal ponto, não há dúvidas de que 
os direitos fundamentais, de certa forma, são também sempre direitos humanos, no sentido de 
que seu titular sempre será o ser humano, ainda que representado por entes coletivos (grupos, 
povos, nações, Estado). Fosse apenas por este motivo, impor-se-ia a utilização uniforme do 
termo “direitos humanos” ou expressão similar, de tal sorte que não é nesta circunstância que 
encontraremos argumentos idôneos a justificar a distinção.
Em que pese os dois termos (“direitos humanos” e “direitos fundamentais”) sejam 
comumente utilizados como sinônimos, a explicação corriqueira para a distinção é de que o 
termo “direitos fundamentais” se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos 
e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado (como é 
o caso, dentre tantos, de José Joaquim Gomes Canotilho) ao passo que a expressão “direi-
tos humanos” guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se 
àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente 
de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à valida-
de universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter 
internacional (Jorge Miranda). Mas também tal definição não é a única disponível, seja para 
direitos fundamentais, seja para o caso dos direitos humanos.
Com efeito, não é incomum que o conceito de direitos humanos seja equiparado 
ao de direitos naturais, na condição de direitos inatos e inalienáveis de todo e qualquer ser 
humano, muito embora também aqui existam diversas alternativas para a justificação de um 
conceito de direitos humanos. Mas independentemente da existência, ou não, de direitos 
do homem (ou direitos humanos) na perspectiva de uma doutrina do direito natural, o fato 
é que a própria positivação em normas de direito internacional e de direito constitucional 
interno, já revelou a dimensão histórica e relativa dos direitos humanos e também dos direi-
tos fundamentais (conforme, por exemplo, já defendia Norberto Bobbio, no seu A Era dos 
Direito - Direitos Humanos - Gassen Gebara - UNIGRAN 
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Direitos). Todavia, não devemos esquecer que, na sua vertente histórica, os direitos humanos 
(internacionais) e fundamentais (constitucionais) radicam no reconhecimento, pelo direito 
positivo, de uma série de direitos do homem que constituíam a pauta dos autores adeptos do 
direito natural. Por outro lado, é possível admitir (ainda que se cuide de algo polêmico) que 
independentemente da existência dos direitos humanos e dos direitos fundamentais, sigam 
existindo direitos de natureza supra estatal, com validade universal, que inclusive vinculam 
e limitam as maiorias constituintes, ao passo que os direitos fundamentais correspondem aos 
direitos fundados no pacto constituinte e que limitam as maiorias parlamentares, que destaca 
a pertinência da diferenciação conceitual entre direitos humanos e fundamentais, justamente 
no sentido de que os direitos humanos, antes de serem reconhecidos e positivados nas Cons-
tituições (quando então se converteram em direito positivado e assumiram a condição de di-
reitos fundamentais), integravam apenas uma espécie de moral jurídica universal, de tal sorte 
que os direitos humanos referem-se ao ser humano como tal (pelo simples fato de ser pessoa 
humana) ao passo que os direitos fundamentais (positivados nas Constituições) concernem às 
pessoas como membros de um ente público concreto.
Ora, a compreensão (muito popular atualmente) de que direitos humanos são direitos 
de cunho moral, visão que também a compartilhada por autores como Robert Alexy, não é 
incompatível com a simultânea condição de direitos (humanos e/ou fundamentais) consa-
grados no plano do direito positivo. O mesmo é possível afirmar em relação às concepções 
que buscam justificar a distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais com base 
no critério da titularidade, ou seja, do sujeito dos direitos, de tal sorte que direitos humanos 
teriam sempre como titular o sujeito-pessoa natural, ao passo que a titularidade dos direitos 
fundamentais poderia ser atribuída também a sujeitos fictos, inclusive pessoas jurídicas e qui-
çá mesmo sujeitos de direitos que não integram a espécie humana, como dá conta a discussão 
em torno dos direitos dos animais ou da natureza não humana em geral, o que, contudo, não é 
o tema de hoje. De qualquer sorte, como o nosso propósito não é o de apresentar os diversos 
conceitos (e respectivas justificações) possíveis de direitos humanos do ponto de vista filosó-
fico, mas sim o de sustentar uma distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais do 
ponto de vista jurídico-positivo, afinada com a evolução no plano do reconhecimento jurídico 
internacional e constitucional, é para essa direção que encaminhamos a presente abordagem. 
Na próxima coluna teremos ocasião de avançar com o tema e de demonstrar al-
guns de seus reflexos mais importantes. De outro vértice, aprendemos que historicamente 
a afirmação de que os direitos humanos opõem-se contra a onipotência do poder, conforme 
a função política expressada na Declaração de Direitos de Virgínia (1776), PÉREZ LUÑO 
explica que tais direitos podem ser definidos como "um conjunto de faculdades e instituições 
que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igual-
dade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos, 
nacional e internacionalmente".
Deduzido esse brevíssimo conceito, tem-se que considerar que os direitos do homem 
Direito - Direitos Humanos- Gassen Gebara - UNIGRAN
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emergiram em um cenário onde o pano de fundo era o surgimento da classe burguesa, tendo 
sido influenciados pelo respectivo contexto ideológico. Nada obstante a crítica marxista a 
eles, afirmando serem a manifestaçãodos interesses e do ideário burguês, tem-se, de fato, 
que a chamada primeira dimensão dos direitos humanos, erigida pelo pensamento liberal, 
constitui-se em direitos individuais, como os direitos de participação política, as garantias 
processuais e o direito de propriedade.
Objetiva e efetivamente, essa primeira dimensão fundamenta-se em um sistema de 
valoração com matriz individualista. Esses direitos individuais são, em suma, os civis e os 
políticos 3, enquanto que os sociais são os de coletividade ou sociais básicos, culturais e eco-
nômicos e, mais modernamente4 , dos direitos ao bem estar social ou do estado-providência 
(walfare state), conforme adiante deduzido. Doutrinariamente esses direitos são catalogados 
em gerações ou em dimensões.
A existência de várias dimensões é perfeitamente compreensível, já que decorrem da 
própria natureza humana: as necessidades do homem são infinitas, inesgotáveis, o que expli-
ca estarem em constante redefinição e recriação, o que, por sua vez, determina o surgimento 
de novas espécies de necessidades do ser humano. Daí falarem-se em diversas dimensões de 
projeção de tutela do Homem, o que só vem confirmar a tese de que não há um rol eterno e 
imutável de direitos inerentes à qualidade de ser humano, mas sim, ao contrário, apenas um 
permanente e incessante repensar dos Direitos. De qualquer forma, em sua totalidade, esses 
direitos encarnam a dignidade do homem.
Costuma-se dividir os direitos humanos fundamentais, comumente, em três gerações 
ou dimensões, como características próprias dos momentos históricos que inspiraram a sua 
criação5. Os direitos da primeira dimensão são os direitos da liberdade e da legalidade, os 
primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e 
políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural 
do constitucionalismo do Ocidente. Os direitos da primeira dimensão ou direitos da liberdade 
têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atri-
butos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são 
direitos de resistência ou de oposição perante o Estado6. 
Alguns desses direitos são: Devido processo legal – due process of law; Inviola-
bilidades; Proibição de confisco (inviolabilidade das propriedades, ou a justa e prévia inde-
nização daquelas propriedades cuja necessidade pública, legalmente comprovada, exija o 
3 Destacados mais adiante.
4	 O	marco	histórico	desse	estado	é	a	segunda	guerra	mundial	ou,	claro,	as	constituições	que	vieram	após	esse	conflito,	baseadas	na	Declaração	
Universal dos Direitos Humanos, ONU, 1948.
5 A despeito de algumas controvérsias sobre o precursor dessa visão dos direitos humanos em gerações ou dimensões, defende Antônio 
Augusto Cançado Trindade que essa foi utilizada inauguralmente em 1979, pelo tcheco Karel Vasak, em aula inaugural no Curso do Instituto 
Internacional dos Direitos do Homem, em Estraburgo, que busca tão somente estabelecer uma ordem cronológica em que surgiram essas ger-
ações, com base no lema da revolução francesa (liberdade, igualdade e fraternidade).
6 As constituições “liberais” previam tão somente os direitos individuais. Algumas exceções podem ser citadas, eis que as Constituições da 
França de 1791, do Império, de 1824 e da Bélgica, 1831 previam timidamente alguns direito sociais - Será criado e organizado um estabelec-
imento geral de socorros públicos para criar as crianças expostas, aliviar os pobres enfermos e prover trabalho aos pobres válidos que não o 
teriam achado. Será criada uma instrução pública comum a todos os cidadãos, gratuita em relação àquelas partes de ensino indispensáveis para 
todos os homens, e cujos estabelecimentos serão distribuídos gradativamente numa relação que combine com a divisão (administrativa) do 
reino. 
Direito - Direitos Humanos - Gassen Gebara - UNIGRAN 
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sacrifício); Taxação com representação; Presunção de inocência; Acesso igualitário a cargos 
públicos; Propriedade privada; Igualdade formal (todos são – ABSTRATAMENTE - iguais 
perante a lei); Liberdades públicas (reunião, associação, manifestação de pensamento, de ex-
pressão cultural, artística, confissão religiosa, *não se falava até então em sindicalização ou 
direito a greve (direitos correlatos aos sociais/trabalhistas, se só serão mencionados na cons-
tituição francesa de 1848, de brevíssima duração – até 1852, quando é restaurado o Império, 
com Napoleão III) ; Direito de ir e vir (habeas corpus); Segurança privada; Devido processo 
legal ou princípio da proporcionalidade (entre o delito e a pena).
DOCUMENTOS DOS EUA: Declaração da Virgínia (Estados Unidos -1776) ; De-
claração da independência americana – 1776; Constituição dos EUA, 1787; Bill of Rights 
americano (1791) – inserida na Constituição como “emendas” neste mesmo ano.
DOCUMENTOS DA FRANÇA: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
(França - 1789) ; Constituições Francesas, 1791 e 1793. A Constituição hoje vigente é a pro-
mulgada em 1958.
Destacam-se também: Constituição Espanhola (Cadiz), 1812; Constituição Portu-
guesa, 1820/22;Constituição Imperial do Brasil, 1824 ; Constituição Belga, 1831.
As primeiras décadas do século XIX é marcada pela afirmação do Estado liberal 
– erigido sobre o aspecto dos direitos individuais – e pelo fenomenal desenvolvimento da 
economia industrial. Para o liberalismo, apegado à lição iluminista de supervalorização da 
lei, o Estado tinha na Constituição a sua mais forte plataforma jurídica. Note-se que a pró-
pria Declaração francesa de 1789, no seu artigo 16, patenteou a obrigatoriedade de um texto 
constitucional composto precipuamente da decisão dos poderes e da declaração de direitos, 
com suas garantias. 
Para a própria lei, afinada que era com a mentalidade juspositivista do século XIX, o 
sentido de Constituição era justamente este: era explicita a legalidade e organiza as garantias 
(essas ainda muito restrita e com pouca normatividade). E o Estado Constitucional, oriundo 
das teses liberais, não era apenas um Estado abstencionista, cunhado pelos interesses burgue-
ses em contraposição ao absolutismo intervencionista: era uma sistemática de explicitações, 
erigido a partir do ideal de que o poder existe com base no consentimento das pessoas, e que 
deve garantir a elas uma série de liberdades. 
O Estado constitucional não era apenas um Estado com limitações, mas intrinse-
Direito - Direitos Humanos- Gassen Gebara - UNIGRAN
18
camente limitado. Essa estrutura ideológica levou, na prática, ao surgimento de um Esta-
do impregnado de um formalismo que, ao não refletir sobre a distinção entre legalidade e 
legitimidade, afigurou-se excludente. Assim é que a igualdade, solenemente estampada na 
Declaração de 1789, não passou de expressão retórica: os privilégios formais do antigo re-
gime chegaram a ser suprimidos, porém nada concretizou quanto à desigualdade econômica 
e patrimonial. 
Na ordem política que se instaurou, as pessoas passaram a ser iguais perante a lei 
(abstratamente iguais; o homem não era considerado materialmente, como um ser humano 
real, único, inconfundível, com defeitos, deficiências, qualidades, excepcionalidades), ar-
quitetada como padrão de igualdade entre todos os seres humanos, mas que não operou uma 
modificação das condições materiais das classes populares, e a liberdade, desvirtuada na prá-
tica, passou a ser utilizada pelo homem burguês como capacidade ilimitada de exercer a sua 
iniciativa, a sua criatividade e os seus direitos individuais. 
Com a ascensão da burguesia à posição de classe dominante, acelerou-se o industria-
lismo e suas já conhecidas implicações sócio-econômicas e culturais, abrindo passagem para 
um novo estádio de consciência sobre as necessidades básicas do ser humano. O desenvolvi-
mento do capitalismo industrial,propiciando a urbanização e concentrando mão-de-obra as-
salariada, nomeadamente nas fábricas, fez com que se desenvolvesse uma nova classe social 
– o proletariado, que seria a classe operária urbano-industrial. 
Justamente com a Revolução Industrial estruturou-se o Estado capitalista Liberal: o 
Estado do “laissez-faire”, da abstenção, da não-intervenção, da liberdade de iniciativa e de 
contrato (o que, absolutamente, não se confunde com livre iniciativa ou livre concorrência); o 
Estado “gendarme”, que consistiu em garantir a livre atuação das forças do mercado, fundado 
na premissa de que, se todos defendessem os seus próprios interesses, o interesse coletivo 
seria automaticamente defendido. 
O Estado que excepcionou o capital em prejuízo do trabalho, em nome do direito 
de cada indivíduo contratar livremente com seu semelhante, sem a proteção e a fiscalização 
estatal – o que unicamente significou a liberdade dos assalariados se colocarem nas mãos dos 
empregadores (o mais fraco economicamente sucumbe ao mais forte; é excluído, devorado 
por ele).
Evidente aí a enorme contradição entre os princípios apregoados nas declarações de 
direitos e a realidade cotidiana de amplos setores da sociedade, especialmente numa certa 
fase do capitalismo industrial. O proletariado, induvidosamente, estava dominado a todo o 
tipo de exploração: jornada de trabalho excessiva (de 14 a 16 h/dia); remuneração indigna; 
condições laborais insalubres; insegurança no trabalho; abusiva situação trabalhista de mu-
lheres e crianças; desemprego e miséria crescentes; péssimas condições de vida (moradia, 
saúde, alimentação, educação), dentre outros aspectos. 
Nesse palco, presentes situações cruéis e desumanas, o proletariado reagiu do modo 
como podia: com greves, agitações e rebeliões por toda parte, como as revoluções de 1848, 
Direito - Direitos Humanos - Gassen Gebara - UNIGRAN 
19
ocorridas na França e na Alemanha, ou a célebre “Comuna” de Paris (1871), movimentos 
primordialmente operários na sua origem. 
Esse novo perfil que caracteriza a Europa do século XIX, com todas as suas nuances, 
possibilitou o desenvolvimento da crítica social, do ideário socialista de doutrinas alternati-
vas, do sindicalismo e da organização política da classe operária e demais setores populares. 
No cenário de embates promovidos pelos operários, muito evidente no século XIX, 
surgiu o sindicalismo. O ambiente que lhe foi adequado foi o das associações de auxílio mú-
tuo, que remontam o século XV, o movimento operário ganhou força graças à conquista de 
liberdade de organização classista, primeiramente na Inglaterra (através de lei aprovada pelo 
Parlamento, em 1824) e, mais tarde, de modo gradual, no restante da Europa (constituição 
francesa, 1848) e nos Estados Unidos. 
Os sindicatos conservavam pontos de sintonia com o socialismo e o anarquismo. 
Na Inglaterra, o sindicalismo assumiu feição reformista, da qual a “Trade Union” foi exem-
plo típico – as reivindicações eram majoritariamente de índole econômica, sem cogitar as 
alterações da estrutura político-institucional. Na França e na Itália, a ação sindical adotou 
tendência predominantemente revolucionária – objetivou a emancipação proletária por meio 
de mudanças radicais na sociedade. 
Nesse mesmo ponto, brotaram o anarquismo e o comunismo (socialismo). Um e 
outro propugnavam, em primeiro, a abolição da propriedade privada – um dos mais insinu-
antes direitos individuais albergados pelas declarações iluministas – bem como o fim das 
diferenças de classe. Buscavam, também, a destruição daquele modelo de Estado (liberal), 
considerado um instrumento de opressão dos trabalhadores a serviço da burguesia. 
Para os socialistas, de um modo geral, o Estado burguês deveria ser substituído pelo 
Estado proletário, que aplainaria as desigualdades sociais. Já os anarquistas postulavam a 
substituição do Estado pela cooperação de grupos associados (mecanismos de controle es-
pontâneo da sociedade). Dentre os mais notáveis anarquistas sobressaem, inicialmente, Pierre 
Joseph Proudhon e, um pouco mais adiante, Leão Tolstoi, Piotr Kropotkin e Michael Baku-
nin. Entre os socialistas/comunistas: Henry de Saint-Simon, Louis Blanc, Augusto Blanqui e 
Charles Fourier – denominados de “utópicos” e, Karl Marx e Friedrich Engels – fundadores 
do socialismo “científico”. Mais tarde, os marxistas se dividiram em ortodoxos e revisionis-
tas. 
Em fevereiro de 1848, com a parceria de Engels, Marx publicou o “Manifesto Co-
munista”, candente conclamação à adesão e às lutas proletárias e inequívocas fonte irradia-
dora do futuro comunismo. Mas foi a partir do texto “A Questão Judaica”, cinco anos antes, 
que Marx passou a denunciar a concepção liberal-burguesa dos direitos humanos, expressa 
nas declarações americana (1776) e Francesa (1789), negando sua universalidade e identifi-
cando-se com os interesses da classe social dominante. 
O pensamento marxista cimenta-se na sociedade ocidental de meados do século 
XIX, extremamente individualista, injusta e desigual, e que converteu o trabalho num ins-
Direito - Direitos Humanos- Gassen Gebara - UNIGRAN
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trumento de dominação. As incisivas investidas de Marx contra a declaração francesa, de 
1789, apontavam, aliás, para uma contrafação do ideal de direitos humanos comuns a todos. 
O detalhe, nesse tocante, é que o problema não era de fundo, e sim de forma, o que é percep-
tível na análise de Fábio Konder COMPARATO: “os direitos humanos do homem, distintos 
dos direitos do cidadão, foram apresentados como direitos do homem egoísta, separado dos 
outros indivíduos e da comunidade, porque a burguesia do período da alta acumulação capi-
talista passara a subordinar a liberdade e a igualdade à propriedade”7. 
A Igreja Católica mostrou alguma sensibilidade em relação às questões sociais que 
surgiram do século XIX, a despeito de sua reticência inicial, reunida à leitura limitada da-
quela realidade. Diante da gravidade da “questão social” (conflito entre capital x trabalho), 
ao mesmo tempo em que buscava se contrapor à doutrina marxista e amenizar os efeitos do 
capitalismo, o Papa Leão XIII denunciava com veemência os abusos e as injustiças pratica-
dos por “um pequeno grupo de ricos e opulentos” e, contrariando a posição liberal-capitalista 
de então, defendia a tese do dever do Estado de intervir no campo econômico-social, através 
de medidas em prol dos interesses da classe operária – incluindo o direito de organização 
sindical – e da proteção dos direitos de todos os cidadãos, especialmente “dos fracos e dos 
indigentes”8. 
7 A Estraneidade dos Direitos Humanos na América Latina, in Revista LatinoAmericana de Derechos Humanos – 2, Lima, Red LA / MIIC, 
Fev/1989.
8 Encíclica Rerum Novarum, de 1891.

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