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Revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira Graduada em Ciências Políticas e Econômicas Especialista em Administração Financeira Mestre em Desenvolvimento Econômico Regional Lilian Martins Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário Gisele Lozada Graduada em Administração de Empresas Especialista em Controladoria e Finanças Alexsander Canaparro da Silva Bacharel em Administração de Empresas MBA em Marketing Práticas Avançadas MBA em Comércio Exterior e Internacional Mestre em Administração Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147 R429 Realidade socioeconômica e política brasileira [recurso eletrônico ] / Daniele Fernandes da Silva... et al.; [revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira... et al.]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-450-2 1. Economia. I. Silva, Daniele Fernandes da. CDU 338 Políticas macroeconômicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as diferentes políticas macroeconômicas. Segmentar as políticas fiscais e monetárias. Explicar o desempenho dos instrumentos fiscal e monetário em curto prazo. Introdução Neste capítulo, você vai ver por que existe a necessidade de aplicação de políticas macroeconômicas, quais são as mais utilizadas pelos governos e de que maneira as políticas fiscais e monetárias se destacam como instrumentos essenciais para o equilíbrio da produção, do emprego e do nivel geral de preços de um país. A necessidade de políticas macroeconômicas A macroeconomia estuda o conjunto da economia, ou seja, de que forma agentes econômicos, famílias (consumidores), produtores e governo interagem de forma a produzir o bem-estar econômico para a sociedade no geral. Nessa interação, entra em destaque o mercado nominal e o mercado real. O mercado nominal é a parte que trata do dinheiro utilizado para transações (pagamentos de bens, insumos produtivos, salários, alugueis e outros) que passa por todo esse ciclo de agentes econômicos por meio dos intermediários financeiros (bancos comerciais, agências de fomento e outros). O mercado real se refere aos produtos, serviços e à mão de obra que circula pelo mesmo ciclo, só que de uma forma visualmente fácil de ser detectada, pois trata da produção nacional propriamente dita. Nesse contexto, surgem a demanda agregada e a oferta agregada, que se referem, respectivamente, a toda demanda de uma economia e a toda oferta de uma economia. Mas demanda e oferta de quê? Isso depende do mercado agregado do qual estivermos falando: se de bens e serviços, de moeda, de moeda estrangeira ou até mesmo do mercado de trabalho. Sim, embora todos esses mercados se entrelacem, podemos falar deles separadamente, e é isso que fazemos quando analisamos, por exemplo, os efeitos das políticas macro- econômicas sobre a economia. Mas, quem faz política macroeconômica? Sabemos que é o governo, mas para que ele faz essas políticas e por que ele interfere? Antes de respondermos tudo isso, temos que saber quais são as funções do governo. Um governo só existe porque o mercado privado por si só não é perfeito; consequentemente, o governo entra para, teoricamente, ajustar esses mercados. Em geral, o governo deseja ajustar os mercados de produtos, preços e produção, que estarão aqui entrelaçados em quase todas as análises. As principais funções do governo, então, são as seguintes (MANKIW, 2005): Função distributiva: objetiva distribuir melhor a renda entre os indiví- duos de uma sociedade, transferindo renda de uma classe mais favorecida para outra menos favorecida mediante impostos e/ou subsídios; Função estabilizadora: o governo tenta manter, com base em política macroeconômica, o máximo de crescimento da produção e de empregos, mas com estabilidade de preços; Função alocativa: o governo tenta corrigir falhas de mercado, como: poluição (externalidades negativas) e provisão de bens públicos (aqueles não servidos adequadamente pelo setor privado como, por exemplo, segurança nacional). Antes de entrar mais minuciosamente na forma com que faz política para cumprir suas funções, o governo traça metas ou objetivos que tendem a levá-lo ao cumprimento dessas funções e, dentre elas, as principais são: crescimento econômico: o governo tem como pretensão aumentar o PIB do país e, com isso, a renda nacional; crescimento do emprego: o crescimento do emprego ou o uso da quase totalidade da mão de obra de um país ou região sempre será almejada, pois os trabalhos e funções mudam e o país vai tendo que adequar a mão de obra disponível para isso; estabilidade de preços: quando se espera que o nível geral de preços não aumente ou caia muito a ponto de afetar negativamente as possi- bilidades de consumo e produção do país. Políticas macroeconômicas2 É óbvio que, em curto prazo, é bastante difícil alcançar todos os objetivos, mesmo porque eles podem colidir uns com os outros. Se desejo crescimento econômico em curto prazo, por exemplo, tenho que, de alguma forma, esti- mular o consumo e a produção, que pode fazer com que a inflação aumente. Além disso, o governo tem que saber se os consumidores estão propensos a consumir (demanda agregada) e se os produtores estão propensos a investir em produção (oferta agregada). Esses dois fatores envolvidos no processo são importantíssimos na equação para o sucesso das políticas de governo e para alcançar os objetivos. Se tudo que fosse produzido fosse consumido pela sociedade ou se toda demanda agregada tivesse oferta agregada no mesmo montante, o governo não precisaria interferir nessas relações. Você consegue imaginar uma economia em que as pessoas querem consumir e os produtores (porque são muitos) atendem ao desejo da sociedade? Não haveria desemprego e nem inflação, pois o mercado se autoajustaria. Contudo, como sabemos, os mercados têm imperfeições (como monopólios), de modo que não é bem assim que acontece. Se eu sou um produtor em um mercado monopolista (único no mercado) e não sou regulado pelo governo, se a demanda aumentar em um mundo capitalista, prefiro vender a um preço maior a oferecer maior quantidade da mercadoria (me daria mais trabalho e, provavelmente, estaria ganhando menos se a minha produção tem público fiel). Assim, a participação do governo tem importância, nem que seja apenas fiscalizando, regulando o mercado. Logo, as políticas macroeconômicas vêm justamente pra equilibrar essas relações. A política monetária é uma das mais importantes e serve para mexer na quantidade de moeda que existe na economia, ou seja, mexe, inicialmente, com o lado nominal da economia, dinheiro e inflação, mas, provavelmente, vai atingir também o emprego e a produção nacional. A política fiscal, por sua vez, está ligada aos gastos e receitas (impos- tos, sobretudo) do governo. Logo, mexe, inicialmente, com o lado real da economia, da produção e dos empregos, mas, provavelmente, vai atingir o mercado nominal. A política de renda tem como meta a função distributiva do governo, embora também sirva às outras funções, pois visa mexer diretamente na renda das pessoas mediante, por exemplo, a fixação de um salário mínimo. As políticas comerciais e cambiais estão ligadas ao comércio exterior e dependem de acordos comerciais do país com outros países e do seu regime de taxa de câmbio que, em uma economia aberta, deve atingir tanto o lado real quanto o lado nominal da economia. 3Políticas macroeconômicas Logo, uma economia aberta pode ser representada pela função PIB (y)= C + I + G + X – M, onde o PIB nacional ou renda nacional é a soma de consumo agregado, Investimento e Governo (que é positivo para gastos governamentais), exportações e negativo para importações. Principais políticas macroeconômicas: políticamonetária e fiscal As políticas fiscais e monetárias, apesar de atenderem a demanda da socie- dade a partir do governo, têm aplicações diferenciadas e pontos de partidas distintos. A política fiscal, por se tratar dos gastos e receitas do governo, tem seu ponto de alcance muito mais centrado no mercado real, ou seja, na demanda e na oferta agregada de bens e serviços. Foi muito defendida por John Maynard Keynes, após a Grande Depressão de 1929, para facilitar o aumento da demanda agregada e, por consequência, o aumento da produção nacional em curto prazo. A política monetária, como seu próprio nome diz, trata de controlar a quantidade de moeda na economia. Tem seu ponto central, então, no mercado nominal. Apesar disso, também tem como propósito afetar a capacidade de consumo e investimento de um país. É defendida fortemente pelos moneta- ristas, que colocam que ela pode ser aplicada imediatamente com um alcance também imediato como vantagem. Não obstante tudo isso, precisamos entender melhor essas duas políticas macroeconômicas, que são cruciais para a economia de qualquer país. Política monetária Esta política é uma das mais utilizadas pelo governo por ser de fácil aplicação, visto que pode ser imediatamente implementada, sem necessidade de aprovação do poder legislativo. Quem planeja a política monetária é diretamente o governo? Não, na ver- dade, é o Conselho Monetário Nacional, que tem como função não só fixar diretrizes para a política monetária, mas também para as políticas creditícias e cambiais. Atualmente, o seu presidente no país é o Ministro da Fazenda; também fazem parte o Ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e o Presidente do Banco Central. Políticas macroeconômicas4 Conheça a estrutura do Banco Central do Brasil no link a seguir: https://goo.gl/myaV4C Quem controla e executa as políticas monetárias é o Banco Central do Brasil (BCB), que tem como função, também, gerir o Sistema Financeiro Nacional, ser banco dos bancos (garantir o funcionamento solvente do sistema financeiro), banco emissor (cuida da emissão de moeda no país) e banqueiro do governo (administra e mantém as reservas internacionais). Aapesar de dizerem que o Banco Central é independente com a relação às suas políticas, não é bem assim que acontece: depende das decisões do CNM e o próprio presidente é indicado pelo governo. Assim, as políticas executadas pelo Banco Central são, na verdade, políticas que o governo quer seguir. O mercado monetário é formado pela oferta e pela demanda de moeda, sendo que o BCB controla a oferta e administra a demanda (de consumidores e produtores). Observe que, com isso, não afirmamos que o governo sabe exatamente quanto de moeda circula pelo país, mas tem uma estimativa que lhe permite a formulação de políticas. Assim, todo dinheiro que passa por nossa economia via mercado formal passa pelo Banco Central, seja moeda nacional ou estrangeira. Por isso, na hora que você estiver depositando ou tirando dinheiro de bancos por contas ou aplicações, saiba que o BCB observa os seus movimentos. Para entender melhor como é a atuação da política monetária, convém saber um pouco mais sobre a história da moeda e suas funções. A moeda é um instrumento devidamente regulamentado para realizar as transações econômicas, ou seja, serve para as transações de compra e venda de bens e serviços e para o mercado de ativos financeiros, mantendo o controle dos mesmos. Hoje em dia, a moeda no Brasil é fiduciária, de modo que você confia no governo que ela valha alguma coisa, pois não há lastro ou garantia em metais preciosos como antigamente. Assim, as políticas monetárias serão feitas com a base monetária que a economia tem. 5Políticas macroeconômicas Mas como surgiu a moeda? A moeda surgiu como uma necessidade da sociedade diante do seu crescimento e da quantidade cada vez maior da va- riedade de bens e serviços. Antes da existência da moeda, em sociedades menores e menos complexas, eram realizados escambos (trocas de bens por outros bens), em que a neces- sidade ditava como ia ser realizada a troca. Mas veja o quanto o processo era difícil, principalmente pela mensuração: quanto de um boi vale por troca de galinhas? Com o dinheiro, é relativamente fácil mensurar; porém, quando não há meio de troca, depende-se de percepção e da habilidade de quem troca “levar a melhor”. Depois disso, vieram as moedas-mercadoria, que se tratavam de bens que teoricamente eram escassos e bem aceitos na sociedade (uma condição essencial da moeda é a aceitação do público) e serviam como moeda de troca por outros bens. O sal foi moeda mercadoria por muito tempo, sobretudo em regiões europeias; sua aparente raridade e a função de conservação de alimentos em um período em que não havia sistema de refrigeração, deram-lhe esse status. Outros exemplos de moedas mercadorias: seda na Índia, pau-brasil e açúcar no Brasil e gado bovino na maioria dos países. As moedas-mercadoria, com o crescimento da economia, logo foram sendo substituídas pelos metais preciosos, como ouro, prata e bronze por serem ainda mais raros e de aceitação muita alta, sobretudo pelos nobres. Esses metais, em determinado tempo, foram sendo depositados em “casas especializadas” (que, mais tarde, seriam denominados bancos por serem intermediários financeiros) que, em troca, davam certificados de depósito para as pessoas que deixavam suas riquezas ali. Essas pessoas começaram a trocar esses certificados no mercado para compra de bens e serviços, o que deu origem ao papel moeda. Inicialmente, o papel-moeda era lastreado (garantido) por um percentual em ouro, ou seja, o país que tivesse mais ouro era o que conseguiria ter mais dinheiro e negociar no comércio internacional. Mas isso acabava por limitar a expansão da produção de bens e serviços por parte da maioria dos países, que não tinham como expandir sua base monetária também para realizar as trocas. Esse padrão foi abandonado por volta de 1920, quando os países acordaram que um país tem que ter meios de pagamentos para os seus bens e serviços e, se um país emitisse mais moeda do que realmente precisasse, quem pagaria o preço seria o próprio país, com a desvalorização de sua moeda frente às outras e a consequente inflação de sua economia (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). Logo, o papel-moeda é garantido por lei e é de fidúcia, de confiança. Políticas macroeconômicas6 As funções da moeda são: Instrumento ou meio de troca: facilita a troca de um bem ou serviço por outro bem e serviço. Exemplo: se fabrico bolsas que vendo por 200 reais, posso adquirir, com esse dinheiro, dois pares de sapatos por 100 reais cada par. Se não houvesse o meio de troca (reais), você imagina como seria essa negociação? Unidade de valor ou denominador comum monetário: significa que, com base na moeda, é possível se fazer contas e comprar qualquer bem, que é expresso da mesma forma: em valores monetários. Se não houvesse a moeda, você imagina como seria a contabilidade das empresas com tantas receitas, despesas e custos? Seria impraticável não ter uma moeda em comum. Essa é uma das razões que fazem do dólar uma moeda internacional praticamente obrigatória nas contas internacionais: com ele, é possível que os países façam comparações e possam comprar e vender com a mesma base monetária. Reserva de valor: significa que se você tem dinheiro em mãos (reserva), pode imediatamente realizar uma compra, é o ativo com maior liquidez. Para que você entenda o que é liquidez, imagine que tem uma casa, mas quer comprar carros e está sem dinheiro. Você terá que vender a casa (e isso leva tempo) e, então, adquirir os carros que tanto queria. Dificilmente você conseguiria vender os carros que deseja em troca de uma casa. Logo, casa é um ativo com pouca liquidez, é imobilizado.Apesar de o dinheiro ser uma reserva de valor, talvez não seja a melhor opção em uma economia com alta inflação, que corrói seu poder de compra. Guardar dinheiro embaixo do colchão não é uma boa pedida nesse caso! Consideram-se como tipos de moeda as moedas metálicas (para troco ou operações de pequeno valor), o papel-moeda (notas em papel) e a moeda escritural (os depósitos em conta corrente nos bancos comerciais). Esses meios de pagamento são chamados de ativos (M1) e envolvem tudo que pode ser pago à vista, sem sofrer correções monetárias, sem juros (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). Tudo que for a prazo, a crédito, ou mesmo sofrer correção mo- netária, passa a ser quase moeda – disso, surgem outras definições da mesma. Os bancos comerciais são chamados de multiplicadores de moedas, pois quando as pessoas colocam dinheiro no banco, parte desse dinheiro é empres- tada a outras pessoas, o que cria nominalmente mais moedas. Na verdade, a quantidade de moeda é a mesma, mas ela realiza diversas transações, o que amplia a base monetária. Isso justifica a importância de que o governo de um 7Políticas macroeconômicas país saiba sobre a quantidade de empréstimos dos bancos para entender como a moeda está sendo multiplicada e quanto há de moeda em poder do público para realizar transações, sejam financeiras ou produtivas. É importante salientar que o governo faz isso por meio do controle do endividamento (já que tudo que passa pelos bancos passa pelo BCB) e da propensão das pessoas de deixarem o dinheiro retido ou gastá-lo. Os principais instrumentos de política monetária que o governo utiliza para controlar a quantidade de dinheiro na economia, e assim atingir metas previamente calculadas, são: Emissão de moeda: quando se emite mais moeda pelo BCB, o governo aumenta a base monetária da economia ou está querendo expandir a quantidade de dinheiro na economia para fazer aumentar o consumo e a produção. Do contrário, uma queda da emissão da moeda consiste em reduzir a quantidade de moeda na economia e o consumo e, por consequência, a inflação. Hoje, dificilmente o governo usa esse artificio como política monetária. Taxa de redesconto: é o valor em percentual que o BCB cobra para emprestar dinheiro aos bancos comerciais. Sendo o BCB o banco dos bancos, ele empresta dinheiro aos bancos comerciais (bancos que têm conta corrente) e, se aumenta esta taxa, diminui a base que o banco tem para emprestar ao público – e o contrário também é verdadeiro. Taxa de reserva compulsória: é a taxa que o Banco Comercial tem que deixar retida dos depósitos à vista junto ao BCB. Exemplo: José depositou R$ 1.000,00 no Banco X. O Banco tem que deixar 40% do dinheiro, por exemplo, retido junto ao BCB e pode emprestar o resto (60% do valor). Se o governo aumentar essa taxa, significa que quer tirar dinheiro da economia; se ele diminuir, significa que quer aumentar essa quantidade. Operações de compra e vendas de títulos públicos: os títulos pú- blicos são instrumentos de política monetária, mas também criam endividamento interno para o governo; são certificados que o governo deve para quem os compra. Se o governo vender muitos títulos, ele quer tirar moeda de circulação (pois as pessoas estão aplicando, e não comprando). Se ele compra os títulos de volta, está querendo colocar mais moeda em circulação. Taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia): a taxa SELIC remunera os títulos públicos; assim, não seria incomum dizer que, se essa taxa está alta, o governo pretende reter moeda, já que está pagando mais por seus títulos – do contrário, quer expandir a quanti- Políticas macroeconômicas8 dade de moeda. A taxa SELIC também serve de parâmetro para todo mercado financeiro: quanto mais alta, maior a taxa para empréstimos dos bancos comerciais, por exemplo. Observe que todos esses instrumentos têm como objetivo mexer com a taxa de juros da economia para influenciar o consumo, a produção e o nível geral de preços. Assim, uma política monetária expansionista visa mexer nos instrumentos a fim de aumentar a base monetária, diminuindo a taxa de juros e aumentando o consumo e a produção. Já uma política monetária contracionista tende a aumentar a taxa de juros por meio dos instrumentos e diminuir consumo, inflação e produção. Como se “fabrica” dinheiro? No Brasil, a fabricação de dinheiro fica por conta da Casa da Moeda do Brasil (CMB), uma empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda, que fica no Rio de Janeiro e tem três fabricas de cédulas, de moedas e de gráfica, pois produz, também, passaportes com chip e selos fiscais, entre outros. Seu sistema de segurança é muito forte, inclusive em termos de funcionários, que têm que passar todo dia por sistemas de inspeção. Além da moeda nacional, a Casa da Moeda do Brasil fabrica moedas estrangeiras de países pequenos, devido à confiabilidade no processo de fabricação. Toda ordem de impressão de moeda nacional vem do BCB. Porém, hoje em dia, a impressão é feita muito mais para substituição de cédulas estragadas do que propria- mente para aumentar a base monetária. Esse processo tem um elevado custo para os cofres do Brasil! Vamos cuidar do nosso dinheiro? Conheça outros aspectos sobre a fabricação de dinheiro nos links a seguir: https://goo.gl/z8AZx3 https://goo.gl/JvzvPU 9Políticas macroeconômicas Política fiscal A política fiscal é simplesmente a atuação do governo sobre a demanda agregada de bens e serviços por meio de sua política de gastos e de receitas tributárias; influencia, sobretudo, a produção e o emprego. É principalmente mediante a política fiscal que o governo tenta atender suas funções alocativa, distributiva e estabilizadora. Sua implementação é bem mais complexa, pois depende de aprovação do Poder Legislativo por causa de requisitos constitucionais. Assim, em casos de urgência do governo, ele edita MPs (Medidas provisórias) para que a política passe a valer mais rápido, mas por apenas um período pré-determinado. Um exemplo no Brasil foi a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que durou um bom tempo, mas depois não foi aprovada pelo Congresso Nacional para ser permanente. Você sabe quais são as receitas e os gastos do governo? As receitas do governo estão centradas, principalmente, em seus impostos, que podem ser: Diretos: incidem diretamente sobre as pessoas, como o Imposto de Renda (IR); Indiretos: sua incidência se dá sobre os bens e serviços, como, por exemplo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), sob competência dos Estados, e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que compete ao governo federal; Progressivos: aumentam conforme a renda aumenta no caso do IR; Regressivos: tem relação inversa aos progressivos. Segundo muitos economistas, como no Brasil a distribuição de renda é bastante ruim, os impostos progressivos seriam mais adequados para a diminuição dessas desigualdades. Os gastos do governo estão centrados no oferecimento direto de bens e serviços para a economia por meio de empresas estatais, por exemplo, ou mesmo com subsídios que ajudem setores ou pessoas na economia para impulsionar a demanda nacional. Políticas macroeconômicas10 Exemplos de gastos públicos no Brasil são muitos: gastos com previdência, Bolsa Família, autarquias, repartições públicas, funcionalismo público, empresas públicas, investimentos em infraestrutura, segurança nacional, gastos com saúde, educação (os dois últimos com percentual instituído por lei). As políticas fiscais podem ser expansionistas, quando o governo diminui alguns impostos específicos para aumentar a renda nacional e/ou aumenta os gastos por via direta (o próprio governo comprando bens e serviços), e/ou indireta, disponibilizando renda para queas pessoas comprem mais e aumen- tem a produção nacional – o problema, aqui, é que a inflação tende a subir. As políticas podem ser também contracionistas, quando ocorre o inverso do exposto anteriormente –aqui, a produção nacional tende a cair. Peso dos impostos indiretos no Brasil comparado a outros países Os impostos indiretos que incidem sobre bens e serviços (como ICMS, PIS e COFINS) são os que mais penalizam os contribuintes no Brasil, que nem sentem que pagam tanto. Além do mais, acaba tributando proporcionalmente mais a classe de renda mais baixa. Veja a seguir, na Figura 1, a distribuição dos tributos em relação à arrecadação em diversos países. Figura 1. Distribuição dos tributos no Brasil e em outros países. Fonte: Lima (2017). 11Políticas macroeconômicas Desempenho dos instrumentos monetários e fiscais em curto prazo Os desempenhos das políticas monetárias e fiscais sobre a economia dependem muito de como a economia se encontra e da reação dos agentes econômicos, no caso, consumidores e produtores, diante das políticas adotadas. Não obstante, para o equilíbrio do mercado real e para o mercado monetário, seria interes- sante a adoção de políticas monetárias e fiscais conjuntas que equilibrem a economia de forma eficiente. O desempenho da política monetária depende, em grande parte, das res- postas dos bancos comerciais no que se refere às políticas aplicadas pelo BCB e do multiplicador monetário, de como ele reage com a maior ou menor oferta de moeda na economia. Um exemplo de problema que pode ocorrer em termos de política mone- tária é quando o governo reduz as taxas de empréstimos do BCB aos bancos comerciais e estes não repassam uma taxa menor ao consumidor de crédito. O intuito do governo era justamente fazer uma política monetária de estímulo ao consumo nacional ao liberar mais dinheiro via empréstimos para os bancos, que, no entanto, não colaboraram com o objetivo. Nesse caso, o que fazer? O governo brasileiro, em uma época da crise externa que assolou o mundo e diminuiu a demanda internacional a partir de 2008, fez essa política e depois obrigou, indiretamente, os bancos privados a baixarem suas taxas. Como? A partir dos bancos comerciais “públicos” Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (o Banco do Brasil é, na verdade, sociedade de economia mista, tendo o governo como majoritário), que tiveram suas taxas reduzidas; com a con- corrência, os bancos privados também tiveram que baixar as suas taxas para continuar a ter uma razoável demanda por crédito. A política fiscal, quando executada de maneira correta, realmente pode causar aumento da produção nacional, mas até que ponto é eficiente? Quando o governo aumenta o imposto de renda, por exemplo, para reduzir a renda das pessoas, reduzir a demanda agregada, ele pode estar arrecadando mais, mas será que as pessoas e empresas irão conseguir pagar regularmente ou a inadimplência aumentará? Nesse caso, o governo deve acompanhar muito os indicadores de inadimplência e de produção nacional e, assim, analisar a possibilidade de arrecadação, senão, a política pode ser contrária, ou seja, pela redução da demanda agregada, pode haver menos produção, menos emprego, todos terão que pagar menos impostos e a inadimplência aumentará muito. Nesse caso de mexer em impostos, é importante “acertar bem a mão” para que “o tiro não saia pela culatra”. Políticas macroeconômicas12 Quando o governo mexe com os gastos para aumentar a produção nacional, por exemplo, ele também tem que ser bem eficaz, pois pode estar criando despesa permanente e que faça aumentar a inflação. Tudo isso vai fazer com que a receita e/ou a despesa pública se modifiquem, podendo causar déficit nas contas primárias do governo (resultado negativo no período) e, por consequência, aumentar a dívida pública! Então, tem-se que observar atentamente os históricos das contas primárias e da dívida pública para que a aplicação de políticas fiscais seja eficaz. Políticas fiscais e monetárias: interação Como já vimos, as políticas fiscais e monetárias podem ser bem importantes para o país em termos de emprego, produção e controle da inflação. Mas será que as duas em conjunto podem ser ainda melhor? A resposta pode ser sim, se forem bem utilizadas. A política fiscal expansionista, por exemplo, tem a parte positiva de au- mentar o consumo e a produção em curto prazo, mas, por outro lado, tende a causar aumento nas taxas de juros (pois mais gente do setor privado vai querer consumir e/ou produzir) e na inflação. Uma política monetária de redução das reservas compulsórias e/ou redução da taxa de redesconto pode resolver esse problema no curto prazo, visto que faz com que os bancos tenham mais dinheiro para emprestar a taxas menores. Quando o governo faz uma política monetária mexendo nos títulos públicos, por exemplo, vendendo mais para tirar moeda da economia, ele provavelmente estará criando uma dívida interna maior, o que pode complicar suas contas no longo prazo. Nesse caso, terá que reduzir gastos em alguma área (política fiscal) para que não aumente o seu saldo negativo. Os defensores da política monetária argumentam que essa política mexe menos com a estrutura econômica e, portanto, é menos intervencionista e discrimina menos os setores individuais, pois uma manipulação da taxa de juros afeta praticamente todos de uma economia (VASCONCELLOS, 2014). Os que defendem a política fiscal colocam justamente como ponto posi- tivo que ela é muito mais profunda e tende a criar mudanças permanentes e necessárias para a economia. O fato é que a escolha governamental tem que estar centrada no estado atual da sua estrutura produtiva e financeira, e não apenas em um lado, para que a economia tenha possibilidades de mexer no que realmente possa fazer efeito no curto e no longo prazo (mudanças conjunturais e estruturais). 13Políticas macroeconômicas BANCO CENTRAL DO BRASIL. Entenda o CMN. Brasília, DF, 2018. Disponível em: <ht- tps://www.bcb.gov.br/Pre/CMN/Entenda%20o%20CMN>. Acesso em: 05 mar. 2018. BRASIL. Casa da moeda. Portal Brasil, Brasília, DF, 2009. Disponível em: <http://www. brasil.gov.br/economia-e-emprego/2009/11/casa-da-moeda>. Acesso em: 13 fev. 2018. BRASIL. Casa da Moeda do Brasil. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.casa- damoeda.gov.br/portal/>. Acesso em: 13 fev. 2018 LIMA, B. P. As injustiças tributárias do Brasil em 5 gráficos. Estadão, Economia & Negó- cios. 24/07/2017. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/blogs/nos-eixos/ as-injusticas-tributarias-do-brasil-em-5-graficos/>. Acesso em: 14 fev. 2018 MANKIW, N. G. Introdução à economia (Edição Compacta). São Paulo: Pioneira Thom- son Learning, 2005. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. Fundamentos de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Leituras recomendadas DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. Macroeconomia. 10. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. SAMUELSON, P. A. Economia. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. STIGLITZ, J. Introdução à Macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Atlas, 2002. Políticas macroeconômicas14
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