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Caderno de Direito das Coisas - UNIRITTER

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1 
 
DIREITO DAS COISAS - VOLTAIRE DE FREITAS MICHEL – 2013/2 
 
LIVROS: 
WALD, Arnoldo. Direito das coisas. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 558 p. (Curso de Direito Civil Brasileiro). 
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Posse e propriedade. 3. ed. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2003. 179 p. 
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Direitos Reais Limitados. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora Ltda.- Livros, 2004. 161 p. 
 
PROGRAMA: 
1º parte – introdução aos direitos reais 
2º parte – teoria da posse 
3º parte – propriedade 
4º parte – direitos reais limitados: de fruição (art. 1225, CC) – usufruto, habitação, servidões, etc.; e de garantia (art. 1225, CC) – hipoteca, penhor e 
anticrese. 
 
I. DIREITO DAS COISAS – IDEIAS GERAIS 
1. Objeto do Direito das Coisas 
O direito das coisas abrange o conjunto das normas jurídicas que regulam as relações entre as pessoas e as 
coisas suscetíveis de apropriação, estabelecendo um vínculo imediato e direto entre o sujeito ativo (titular do direito) e a 
coisa sobre a qual o direito recai e criando um dever jurídico para todos os membros da sociedade. 
Relação Jurídica Obrigacional: há o sujeito ativo, sujeito passivo e o objeto da prestação. Os sujeitos são 
identificados. 
Relação Jurídica Real (res = coisa): o sujeito ativo é o titular do direito real, é o proprietário de alguma coisa. Não 
existe uma relação jurídica entre a pessoa com a coisa. Do direito real surge um dever do lado dos outros, que é o dever 
de abstenção (“direito de exclusão”), por parte do sujeito passivo. Numa relação jurídica real, o sujeito passivo é 
indeterminado ou absoluto. Ex.: Sujeito ativo tem um terreno. Sujeito passivo é o terceiro que não pode entrar no terreno, 
ou seja, todos os membros da sociedade não autorizados. 
Portanto, a diferença básica entre a relação jurídica obrigacional e a relação jurídica real é a determinação ou a 
indeterminação do sujeito passivo. 
2. Características dos Direitos Reais/Coisas 
a) Caráter Nacional: relacionado com direito comparado. O direito das coisas, em cada ordenamento jurídico, 
adquire características particulares. Há uma formação específica em cada ordenamento. O direito das coisas tem 
formação específica em cada sistema legislativo, e, num mesmo Estado, existem, muitas vezes, normas locais diversas 
que regulam, nas províncias, o direito das coisas. O direito das coisas assume características próprias de cada 
legislação e de cada época. 
b) Caráter de Ordem Pública: os direitos reais são baseados em normas cogentes, não são dispositivas. Não é 
possível inventar um novo direito real não previsto em lei, pois há o interesse social. A aplicação das normas, nesse 
caso, não pode ser afastada pela vontade dos particulares, pois poderia causar prejuízo a terceiros, diferente do que 
ocorre no direito obrigacional, onde, nos contratos as partes podem contratar segundo seus interesses, desde que não 
contraria a lei e que obedeça alguns preceitos. 
3. A Evolução dos Direitos Reais/Coisas 
a) “Sopro de Socialização”: o direito das coisas sofreu o sopro de “socialização”, pois cada vez menos a 
propriedade é vista com direito absoluto, e cada vez mais a propriedade é vista com consequências sociais. 
- Propriedade Medieval (Idade Média): a propriedade medieval é um poder fragmentado entre vários atores. É 
uma propriedade rural ou de pequenas localidades. A fonte da propriedade na Idade Média é o direito costumeiro ou 
local. Existiam as terras comuns (commons), que eram usufruídas por todos, sem que ninguém fosse proprietário. A 
2 
 
relação das pessoas com a coisa não estava baseada na propriedade da coisa. Existiam vários tipos de relação das 
pessoas com o bem. Não existia propriedade absoluta. Propriedade estava voltada à comunidade (era comunitária) 
- Propriedade “Alodial” ou Liberal (Séc. XVIII – XIX): alodial é sinônimo de propriedade absoluta. A concepção 
desta propriedade esta vinculada ao liberalismo jurídico. A propriedade é direito natural e absoluto do proprietário, que 
concentra todos os poderes do proprietário em apenas um indivíduo. A fonte da propriedade alodial é o Código 
Napoleônico. 
- Propriedade Social (final do Séc. XIX – XXI): lei fundamental de Bonn (art. 14), a propriedade obriga, ou seja, 
não é um direito que pode ser exercido de modo absoluto. Ela é também um ônus, existem deveres e obrigações que 
decorrem de seu caráter social. (Art. 1.228, CC - O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei 
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como 
evitada a poluição do ar e das águas). 
b) Expansão para outros ramos: contrato de promessa de compra e venda de bem imóvel, contrato que se 
destina a aquisição de um bem imóvel (Art. 1.225, VII, CC – são direitos reais (VII) o direito do promitente comprador do 
imóvel). O direito do promitente comprador nem sempre foi considerado um direito real. Esse contrato surgiu no direito 
das obrigações, nas relações contratuais, mas foi trazido para dentro dos direitos reais, pois devido à urbanização 
crescente foi necessário dar alguma segurança ao promitente comprador. Antigamente, o vendedor podia rescindir 
unilateralmente o contrato, pagando ao comprador as perdas e danos. Portanto, o legislador, pensando na segurança do 
promitente comprador, transformou o contrato de promessa de compra e venda em um direito real, mas, para ter eficácia 
como um direito real, é necessário a averbação do contrato na matrícula do imóvel. Assim, ao final das prestações será 
possível ao comprador exigir do vendedor a escritura pública definitiva de propriedade do imóvel e, caso o vendedor não 
queira dar, será assegurado ao comprador o ingresso de uma ação de adjudicação compulsória. 
Dessa forma, o legislador, ciente de que a proteção real é a melhor proteção que alguém pode ter, ele trouxe o 
contrato de promessa de compra e venda para dentro dos direitos reais, transformando-o em direito real o que era 
apenas uma relação obrigacional. Essa questão é uma tendência que se verifica em todos os direitos. Ou seja, a 
tendência nos direitos reais é a atribuição de efeitos reais a relações meramente obrigacionais. 
4. A Propriedade no Brasil 
Proprietário de um bem imóvel é aquele que consta na matricula do imóvel como sendo proprietário. Não adianta 
examinar contrato ou escritura, o que interessa é a matrícula do bem. 
No direito brasileiro há três fases de propriedade 
- Fase das Sesmarias: nasceu no direito português e foi transportado para o direito brasileiro. Passa a ser 
utilizado, no Brasil, após o fracasso das capitanias hereditárias, por D. Fernando I, em 1375 e permaneceu até 1822, 
quando foi extinto por D. Pedro. As sesmarias eram uma concessão de terras pelo poder público (Coroa) condicionada 
ao cultivo, quem não cultivasse perdia as terras. O proprietário é chamado de sesmeiro. 
- Fase das Posses (1822 até 1850): a propriedade era de quem exercia a posse sobre algum lugar e, além disso, 
todas as transferências de propriedade eram transferências de posse. Não havia registro público, era simplesmente uma 
situação de fato, o que gerava muita insegurança jurídica. O proprietário, nessa época, era o possuidor. 
Em 1850 foi promulgada a Lei 601, chamada de “lei de terras”. O objetivo dessa lei era dar alguma segurança 
jurídica para a propriedade agrária do Brasil. Através dessa lei, foi instituída a legitimação das posses, ou seja, quem 
tinha a posse mansa e cultivada de uma área até 1850, poderia requer, administrativamente, que fosse reconhecido o 
seu direito da posse e o Estado daria, então, uma certidão de posse da terra ao possuidor. 
Essa lei também introduziu no nosso direito a ideia de terra devoluta(devolvida), ou seja, terras que não 
estavam na posse da Coroa, nem na posse de nenhum particular, que não foram cultivadas pelo sistema das sesmarias, 
ou, ainda, as terras que não estivessem na mão dos indígenas, tornaram-se devolutas, terras que atribuídas (retomadas) 
3 
 
a Coroa. Essas terras, ainda hoje, pertencem a União. Com o reconhecimento de que as terras que estavam na posse 
de indígenas não eram devolutas, tem-se que foi reconhecido o direito as terras indígenas. 
 - Fase do Registro: a ausência de registro público representava um entrave ao desenvolvimento do país. 
Teixeira de Freitas fora contratado para elaborar um projeto de Código Civil (que ficou conhecido como esboço) e uma 
lei hipotecária (Lei Geral de Hipotecas). O Código Civil elaborado por Teixeira não entrou em vigor, mas 1864 foi criada e 
aprovada a primeira lei geral de hipotecas que já previa, em seu texto, um registro de imóveis. Esse registro de imóveis 
era essencial para que pudesse ser criada uma garantia hipotecária. Em razão do regime hipotecária, a taxa de juros do 
país caiu na época. A partir daqui, proprietário é quem possui o nome na matrícula do imóvel. 
5. Panorama Geral do Direito das Coisas na Legislação Brasileira 
O direito brasileiro é uma continuação do direito português em todas as suas características. Uma característica 
distintiva do direito português é a sua centralização, ou seja, o direito português é um direito criado de modo centralizado 
pelo rei português. Portanto, o direito português e, também, o brasileiro são direitos estritamente legislados. Isso inicia 
com as Ordenações Afonsinas de 1446, determinadas pelo rei Afonso. Essas ordenações foram sucedidas pelas 
Manuelinas e, após, pelas Filipinas. Essa última vigeu no nosso direito até o advento do Código Civil de 1916. 
O Código Civil de 1916 (Código de Bevilacqua) continuou a tradição de centralização e, além disso, tinha a 
pretensão de exaurir (esgotar) o direito civil, ou seja, tinha a pretensão de ser o Código total, sem deixar espaço para as 
leis esparsas, especiais ou extravagantes. 
Já o Código Civil de 2002 é um Código completamente diferente do de 1916. Diferencia-se pelo ponto de que 
esse código não tem que ser o código total, mas sim a espinha dorsal da ordem jurídica, ou seja, esse Código é o 
centro, mas todos os demais assuntos que específicos de outras áreas têm que ser tratado em legislação especial, 
extravagante ou esparsa. É, portanto, um Código descentralizado e que não visa ser exauriente. 
 
A propriedade é um feixe de direitos, de poderes. A propriedade é o direito real pleno, portanto, concentram-se 
na mão do proprietário todos os poderes inerentes à propriedade. Logo, o proprietário pode fruir, gozar, dispor, dar em 
garantia a propriedade, etc. A propriedade é um direito pleno porque esta completo, por isso o proprietário tem todos os 
poderes sob a sua propriedade. 
O direito real limitado são alguns poderes que são retirados da propriedade e que são utilizados em outra coisa e 
que recebem outro nome, pois deixa de ser propriedade. Ex.: direito real de habitação (art. 1.225, VI, CC) – a viúva tem 
esse direito, independente de meação, de herança ou de quem será o proprietário do bem. O proprietário, nesse caso, 
teria o direito real do bem, mas não será pleno, pois estará faltando o direito real de habitação. Quando a viúva vier a 
falecer, ou, ainda, se constituir nova família, o proprietário do imóvel volta a ter seu direito real pleno sobre o bem, 
retornando o direito real de habitação. Por essa razão, o direito de propriedade tem essa característica de elasticidade, 
pois o poder que foi retirado pode retornar ao seu tamanho original. 
 
II. DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS 
1. Direitos Absolutos e Relativos 
- Ações Reais (In Re): ações utilizadas para obter algo, que era buscar uma coisa que era sua, onde quer que 
ela estivesse e nas mãos de quem quer que ela estivesse. A ação real é uma ação que tem um sujeito passivo 
indeterminado. Equivale hoje aos direitos reais ou ao direito absoluto, o direito com um sujeito passivo indeterminado. 
- Ações Pessoais (In Personam): ações utilizadas para exigir uma prestação de alguém específico. A ação real é 
uma ação que tem um sujeito passivo determinado. Equivale hoje ao direito pessoal ou relativo. 
2. Classificação dos Direitos Absolutos 
Os direitos absolutos, que se caracterizam pela indeterminação do sujeito passivo, subdividem-se de acordo com 
o bem jurídico que protegem. 
4 
 
 - Direitos Reais: estabelece uma relação de uma pessoa e algo que é externo a ela (ex: apartamento, telefone 
dela). Os sujeitos passivos são todos aqueles que têm o dever real de respeitar o direito real dessa pessoa. É um direito 
absoluto porque há um sujeito passivo indeterminado e é real porque se relaciona com uma coisa (res). 
- Direitos de Personalidade (arts. 11 e ss do CC): também são direitos absolutos porque são todos os que tem o 
dever de respeitar esses direitos e, também, há um sujeito passivo indeterminado. No entanto, o bem a ser protegido 
está dentro da própria personalidade, não se ofende uma coisa, mas sim a própria pessoa., ou seja, os direitos absolutos 
a serem defendidos estão na própria pessoa do seu titular. 
3. Natureza do Dever Jurídico 
O que distingue a relação jurídica real da relação jurídica obrigacional é que na real há a imposição de um dever 
jurídico a um sujeito passivo indeterminado. Isso é uma característica dos direitos absolutos, que faz os direitos reais ser 
uma espécie. Os direitos reais tem sempre a imposição de um dever a todos. 
O dever que é imposto a todos em razão de uma relação jurídica real pode ser de três naturezas: dever de não 
fazer, dever de suportar e o dever de fazer. Diferentes direitos reais (art. 1.225, CC) vão impor, ao sujeito passivo 
indeterminado, deveres de naturezas diferentes. 
a) Dever de Não Fazer: impõe a todos os sujeitos passivos indeterminados um dever geral de não fazer. Ex.: 
direito de propriedade (direito real pleno) – dever de não ingressar na propriedade sem autorização de seu proprietário. 
b) Dever de Suportar: em alguns casos, o sujeito passivo, que é indeterminado, tem o dever jurídico de suportar 
uma ação do sujeito ativo. Ex.: direito real de servidão de passagem – servidão é um direito real limitado que se institui 
entre dois prédios, através de escritura pública, registrada na matrícula do imóvel. O prédio que vai suportar a servidão é 
o serviente, e o proprietário do serviente vai ser o sujeito passivo da servidão, vai ter que suportar a passagem do 
proprietário do imóvel dominante, que vai ser o sujeito ativo da servidão. 
c) Dever de Fazer: é quando se exige que o sujeito passivo faça alguma coisa. Ex.: promessa de compra e 
venda de bem imóvel – quando tiver averbado a promessa de compra e venda do imóvel na matrícula, o promitente 
comprador terá o direito de exigir a transferência de propriedade do promitente vendedor. 
4. Características dos Direitos Reais 
a) Taxatividade: no nosso direito, só são direitos reais aqueles previstos no artigo 1.225 do CC [São direitos 
reais: (I) a propriedade; (II) a superfície; (III) as servidões; (IV) o usufruto; (V) o uso; (VI) a habitação; (VII) o direito do 
promitente comprador do imóvel; (VIII) o penhor; (IX) a hipoteca; (X) a anticrese; (XI) a concessão de uso especial para 
fins de moradia; (XII) a concessão de direito real de uso]. O sujeito não tem liberdade de criar outros direitos reais que 
não os listados em lei. 
b) Caráter Erga Omnes: que se reflete no sujeito passivo indeterminado. Todos os membros da coletividade 
são sujeitos passivos na relação jurídica em que o sujeito ativo é titular do direito real. 
c) Exterioridade: pela exterioridade, os direitos reais se distinguem dos direitos de personalidade (outra 
categoria dos direitos absolutos). Nos direitosreais se tem vínculo com alguma coisa e os outros devem respeitar esse 
vínculo. Refere-se a bens corpóreos externos ou diferentes ao sujeito ativo. 
d) Ambulatoriedade: o direito real persegue a coisa, nunca se desprende dela. Ex.: bem hipotecado, servidão. 
e) Direito de Sequela: é o direito de buscar a coisa onde quer que ela esteja, nas mãos de quem quer que ela 
esteja, ou seja, é o poder de reivindicar judicialmente pela coisa. 
5. Classificação dos Direitos Reais 
a) Direitos Reais Limitados: os direitos reais limitados (DRL) podem ser de fruição ou de garantia. Esses 
direitos sempre abrangem algum ou alguns dos poderes dos proprietários, ou seja, o DRL é sempre um poder mutilado, 
pois foi retirado do proprietário algum ou alguns de seus poderes que foi atribuído à outra pessoa. 
- de Fruição: usufruto – sujeito ativo é o usufrutuário que pode usar, fruir e gozar da coisa. 
5 
 
- de Garantia: o poder que se suprimiu do proprietário é a disponibilidade do valor econômico da coisa. Ex.: 
hipoteca – o Banrisul é o meu credor hipotecário, ou seja, o meu apartamento garante o financiamento que fiz com o 
Banrisul. Se eu não pagar o financiamento, o banco pode pegar o bem e vender. Do valor da venda o banco salda a 
dívida e, se sobrar algum valor, repassa ao devedor (antigo proprietário do bem). 
b) Direito Real Pleno: os direitos reais plenos tratam da propriedade. Art. 1.228, CC - O proprietário tem a 
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou 
detenha. 
- Aspectos Internos ou Econômicos: o proprietário tem o direito de usar, gozar e fruir da coisa. 
- Aspectos Externos ou Jurídicos: o proprietário tem o direito de excluir terceiros e reivindicar o bem de 
terceiros, se o bem estiver com terceiros. 
 
III. INTRODUÇÃO À POSSE 
1. Conceito 
Há posse quando alguém mantem determinada coisa sob sua guarda e para seu uso ou gozo, tendo ou não a 
intenção de considera-la sua propriedade, independente de título ou fundamentação jurídica. A posse é o poder de fato 
que alguém exerce sobre uma coisa. Na maioria das vezes a pessoa que exerce a posse, o possuidor, é o proprietário 
da coisa, mas isso não é regra, necessariamente (ex.: carro alugado, apartamento alugado – não sou proprietária, mas 
na condição de locatário eu tenho a posse daquele bem). Pose é uma situação de fato a que a ordem jurídica atribui 
consequências jurídicas, sendo que a consequência mais dramática do exercício da posse é a usucapião (que devido à 
posse durante certo tempo e obervadas certas condições pode gerar direito à propriedade). 
1.1 Posse Ad Interdicta: é a posse que é protegida juridicamente pelas ações possessórias, ou seja, é aquela 
situação de fato que autoriza a ajuizar uma ação possessória. 
1.2. Posse Direta e Posse Indireta: o desdobramento da posse em posse direta em indireta pode se dar por: 
a) Direito Pessoal (contrato): locação de bem imóvel – o proprietário tem a posse indireta e o locatário tem a 
posse direta. O proprietário, possuidor indireto, não pode chegar na casa (de sua propriedade,mas não de sua posse 
direta) de madrugada querendo saber se há algo quebrado, tendo em vista que a posse do possuidor direto é protegida 
pelo direito. Se o proprietário resolver se instalar no imóvel, o locatário (possuidor direto) poderá ajuizar ação de 
reintegração de posse, para reaver a posse que o proprietário havia dado a ela por contrato. Portanto a posse do 
locatário é uma posse ad interdicta, pois com essa posse o possuidor direto pode ajuizar ação possessória contra o 
proprietário que é o possuidor indireto. 
b) Direito Real: pode-se dar através da constituição de um direito real, como o que ocorre com o usufruto. O 
usufrutuário exerce a posse direta e o nu proprietário exerce a posse indireta, por força de um direito real limitado (DRL). 
1.3. Posse Ad Usucapionem: é a posse que conduz a usucapião. A posse do locatário, por exemplo, é ad 
interdicta, mas não é ad usucapionem, tendo em vista que não há animus de dono. 
1.4. Detenção: quem exerce detenção é o detentor. A detenção é uma situação de fato não protegida pelo 
direito. O detentor não tem posse; logo, a pessoa que tem detenção jamais poderá ajuizar ação possessória ou usucapir 
o bem que ele tem a detenção. Ex.: caseiro. 
Em alguns casos, a detenção pode transformar-se em posse. Isso poderá ocorrer quando o detentor começa a 
exercer alguns dos poderes do proprietário, ou seja, quando o detentor começa, por exemplo, a pagar os impostos, 
cercar a propriedade, etc. Esse fenômeno denomina-se intervenção da posse. 
Propriedade: situação jurídica 
protegida pelo Direito. 
Posse: situação de fato 
protegida pelo Direito. 
Detenção: situação de fato não 
protegida pelo Direito. 
 
6 
 
2. Teorias Sobre a Posse 
a) Teoria Subjetiva ou das Vontades: surge com Savigny no inicio do século XIX. A sua primeira obra sobre 
posse é de 1803, intitulada “Tratado sobre a posse”. Essa teoria predominou nos códigos civis do século XIX. 
Então, para Savigny haverá posse quando houver corpus, vontade manter esse contato consigo (affectio 
tenendi) e intenção de dono (animus domini) por parte do possuidor. A posse é protegida na medida da subjetividade do 
agente. O agente, possuidor, acredita que tem direito aquele bem, que é o proprietário daquele bem. Todavia, haverá 
detenção quando falta a intenção do dono, quando não estiver presente o animus domini. Logo, segundo essa teoria, a 
distinção entre posse e detenção depende da subjetividade do agente que será verificada pela presença ou não do 
animus domini. Se houver, o agente tem posse; se não houver, o agente tem apenas detenção da coisa. 
b) Teoria Objetiva ou das Causae Detentionis: surge com Ihering. A sua grande obra sobre posse é de 1868, 
intitulada “Subsídios para uma teoria da posse”. Essa teoria passou a predominar nos códigos civis do século XX e, além 
disso, essa teoria foi à adotada no nosso direito positivo brasileiro em seus dois Códigos Civis. 
Então, para Ihering, haverá posse quando houver corpus e vontade de manter contato, a vontade basta. Haverá 
detenção quando a lei disser que não é, ou seja, quando estiver presente uma causa legal que diga que aquilo não é 
posse, mas detenção (ex.: art. 1198, CC: Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência 
para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas – trata-se do “fâmulo 
da posse”, que é o caseiro, o motorista ou até mesmo um empregado que tem a detenção de um bem da empresa). 
Os Códigos do século XX abandonaram a teoria subjetivista por causa da dificuldade de comprovação do 
animus domini. A vantagem da teoria objetiva sobre a subjetiva é que ela fixa uma regra geral, ou seja, tem posse e tem 
affectio será considerada posse, deixará de ser posse quando estiver presente uma causa legal de degradação da posse 
em detenção. Na teoria objetiva não se investiga a subjetividade do agente para distinguir posse de detenção, olha-se 
apenas para a vontade do agente. 
2.1. Questão Histórica das Teorias 
Savigny e Ihering eram romanistas que estudavam o direito romano. A base de estudos de ambos era o Corpus 
Iuris Civils de Justiniano, que é um juntamento de diversas coisas, entre elas, leis, pareceres, julgados (digesto) e aula 
(institutas). O Corpus Iuris Civilis é formado por vários elementos e esta organizado em quatro livros, onde as leis estão 
no Codex, os pareceres nos Respousae, os julgados no Digesto e as aulas, a explicação do direito romano nas 
Institutas. Esse código não tinha teoria, pois o direito romano caracterizava-se por ser um direito prático, pois o que o 
romano buscava era a solução do caso concreto. 
O direito romano tem sete séculos. Ao longo desses períodos, os problemas possessórios foram surgindo e os 
romanosachavam soluções variadas. Dessa forma, em um determinado período do direito romano prevaleceu um modo 
mais objetivo para determinar o que era posse e, em outro período, prevaleceu o modo subjetivo para determinar a 
posse. Savigny e Ihering não estavam errados com suas teorias, a questão é que ambos observavam períodos 
diferentes da história. 
7 
 
Até a fase pré-clássica, anterior ao Império, antes de 48 a.C., a grande problemática de posse que surgia era 
que uma parte das terras públicas (chamadas de “Ager Publciam”) eram entregues aos privados através de um contrato 
chamado “Precarium”. Por esse contrato, a qualquer momento essas terras podiam ser resgatadas pelo poder público, 
pois elas eram dadas a título precário. As pessoas que recebiam essas terras eram chamados de precaristas. O fato que 
ocorria era que em certo dia o precarista saia de sua terra e alguém invadia. O precarista tinha a posse, então ele dirigia-
se ao pretor. O pretor emitia uma ordem administrativa que determinava a reintegração do precarista na posse. Em 
nenhum momento se investigou se a pessoa era o proprietário ou não. Portanto, essa fase pré-clássica, que não 
pesquisa a subjetividade do agente, que não leva em consideração se a pessoa é o proprietário ou não, mas que apenas 
importa-se que o precarista tinha a posse. Foi esse fato que inspirou Ihering e a sua teoria objetiva. 
Savigny, por sua vez, inspirou-se em outra problemática que surgiu posterior na história que foi na fase clássica, 
fase do Império. Nesse período a problemática que surgiu era a questão da aquisição imperfeita ou “a non domino”, que 
era a aquisição feita por alguém através de alguém que não era dono, ou seja, que ele havia sido enganado. Essa 
pessoa tem a posse desse bem hoje, mas provavelmente ele terá que restituir o proprietário de fato. Os romanos 
estipularam que os efeitos da aquisição imperfeita, se a pessoa terá que restituir ou não, dependia da subjetividade ou 
da boa-fé do agente. Portanto, a teoria da posse, que surge a partir da aquisição imperfeita, foi o que inspirou Savigny e 
a teoria subjetiva. 
3. Natureza Jurídica da Posse 
A posse, no nosso direito positivo, não é um direito real, conforme disposto no art. 1.225 do CC, mas é um fato 
protegido pelo direito. O proprietário tem direito a posse do seu bem, do que é seu. Porém, existe uma posse que é 
simplesmente um poder de fato que é desvinculada de qualquer direito real. A posse é protegida pelo direito 
independente do título, isso ocorre para a manutenção da paz social e para a segurança jurídica. Há dois tipos de direito 
a posse, que são: 
- Ius Possidendi: é o direito à posse decorrente de um direito real, é o direito a posse com base no título, ou 
seja, é o direito do proprietário ou de qualquer outro titular de direito real que entrega a posse. O possuidor que tem o 
título pode ajuizar ação reivindicatória (ações petitórias) em que o objetivo é obter a posse de algo com base na 
propriedade. Logo, a causa de pedir desta ação é o título. 
Ex.: eu recebi de herança um apartamento, mas tem alguém ocupando o apartamento que eu desconheço. Eu, 
com o título, posso ajuizar uma ação reivindicatória para reaver o bem. 
- Ius Possessionis: é o direito a posse em si mesma, independente de título. A posse gira em torno de si 
mesma e é protegida pelo direito porque a ordem jurídica não quer que haja alteração na posse sem a decisão de um 
juiz, ou seja, não quer que haja uma alteração na situação fática sem a interferência do judiciário. O ius possessionis 
será deduzido através de uma ação possessória de reintegração de posse. Nessa ação de reintegração, a causa de 
pedir é a posse. As ações possessórias em geral, incluindo a de reintegração de posse, têm uma cognição sumária ou 
horizontalmente limitada que significa que em uma ação possessória há uma limitação de matérias que podem ser 
discutidas, nesse caso o limite da controvérsia é a posse. 
Ex.: eu passei a exercer a posse sobre uma chácara que não é minha, que eu nem sei de quem eu. Passei a 
exercer a posse exercendo os poderes de proprietário – cerquei, pago os impostos. Se alguém, na minha ausência, 
entrar na chácara o meu direito estará sendo esbulhado. Eu procurarei o Estado, através da via judicial, para retomar a 
minha posse mesmo não tem título e não sendo proprietária do terreno. 
4. Fundamento da Proteção Possessória 
Porque que a posse é protegida independentemente do título? 
Segundo Ihering, a proteção possessória é a primeira linha de proteção da propriedade. Para Pothier, a posse é 
uma presunção de propriedade. Já para Savigny, a posse é protegida, independentemente de título, pela questão da 
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segurança jurídica e da paz social. Descartaremos as ideias de Ihering e Pothier porque ambos vinculam a proteção 
possessória à propriedade, o que não é o caso, pois a posse é protegida independente de qualquer título. 
A exceção em que o proprietário poderá esbulhar a posse será quando (§1º, art. 1.210, CC): o possuidor 
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de 
defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 
 
IV. POSSE NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
1. Posse de Coisas e Posse “de Direitos” 
O nosso direito adotou o princípio da coisificação, a mesma posição que era adotada pelo direito romano. Esse 
principio significa que somente pode ser exercida a posse sobre bens corpóreos, ou seja, só existe posse sobre bens 
que tenham extensão física, móveis ou imóveis. 
Em nossa sistemática legal existem a posse de coisas (posse em que o possuidor atua como se proprietário 
fosse) e a posse de direitos reais limitados quando exteriorizáveis. Porém, na realidade não há posse de direitos e, 
consequentemente, toda a posse é de coisas. Denomina-se posse de direito aquela que apresenta o exercício de um 
direito real distinto da propriedade. 
A discussão sobre o exercício da posse sobre bens incorpóreos ressurgiu no direito brasileiro em 1896 com o 
“caso da escola politécnica do Rio de Janeiro”. 
Essa escola era uma escola federal e o presidente do Brasil, na época era Prudente de Morais. Nesse caso, 
ocorreu que uns alunos se desentenderam com um grupo de professores e exigiu da direção da escola a demissão 
desses professores. O diretor da escola, arbitrariamente, sem medida prévia, demitiu os professores. Essa decisão foi 
ratificada pelo presidente da República (Prudente de Morais, na época). Os professores, irresignados com a atitude, 
procuraram um dos melhores advogados da época que era Rui Barbosa. Rui Barbosa, diante dos fatos, ajuizou uma 
ação de reintegração de posse dos cargos, pedindo a restituição dos professores no cargo anterior para que a 
administração da escola os demitisse, posteriormente, obedecendo o devido processo legal (direito administrativo, direito 
a defesa). Rui Barbosa tinha, com essa ação, o objetivo de voltar atrás, restituir a situação ao estado anterior. 
A origem da tese de Rui Barbosa para a ação, de reintegração de posse de algo que não é corpóreo, foi retirada 
do direito canônico medieval. Esse direito é aplicado nas relações de dentro da igreja (relações de padres, bispos, 
administração da igreja). Nesse direito, sempre foi admitido que houvesse uma tutela possessória de uma relação 
jurídica, que alguém pudesse ajuizar uma ação em favor de algum membro da igreja para restituí-lo a uma situação 
anterior do mesmo sentido que seria uma reintegração de posse. Uma das justificativas da igreja que sempre se admitiu 
essa tutela é que dentro da igreja, do cargo, havia a implicação sobre um patrimônio físico da igreja. Então, por isso que 
no direito canônico se admitia uma ação possessória de relação jurídica de direitos pessoais. 
A tese defendida por Rui Barbosa não foi acolhida pelo STF e, também, nãoé admitida no nosso direito positivo. 
Além disso, atualmente, ajuizar uma ação possessória de um direito pessoal é um erro jurídico. O principal valor histórico 
dessa ação é que ela deu origem ao surgimento da teoria do Mandado de Segurança e, posteriormente, a ação de 
Mandado de Segurança. 
2. Posse e Detenção 
Há detenção quando o poder sobre uma coisa corpórea é exercido em nome alheio ou sobre coisa insuscetível 
de apropriação. No Código Civil não há uma definição de posse nem de detenção. Casos de detenção que aparecem no 
Código Civil Brasileiro: 
Art. 1.198, CC: Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, 
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas – trata-se do fâmulo da posse, que é 
o servidor que esta exercendo a posse em nome alheio. Quem tem a posse é o proprietário, o fâmulo só tem a detenção. 
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Art. 1.208, CC: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (...) – refere-se à tolerância, onde o 
proprietário tolera/suporta a posse que alguém esta exercendo sobre uma coisa sua. Ex.: deixo alguém estacionar seu 
carro no meu terreno. 
Os bens que são insuscetíveis de apropriação pelos privados não podem ser possuídos, como ocorre com os 
bens públicos, por exemplo. Também haverá detenção quando faltar affectio tenendi, ou seja, quando não houver 
vontade de manter a coisa consigo. 
Portanto, o nosso direito reconhece a detenção quando os poderes ao domínio são exercidos: em nome alheio 
ou segundo instruções de outrem; sem vontade do titular, tratando-se de simples contato material, ou; sobre coisas 
insuscetíveis de apropriação. 
3. Posse Direta e Indireta 
Acontece quando há desdobramento da posse. Há um possuidor que fica em contato direto com a coisa 
(possuidor direto ou posse imediata) e outro que detém apenas a propriedade (possuidor indireto ou posse mediata). A 
quebra da posse pode surgir por força de um direito pessoal (de um contrato. Ex.: contrato de locação, onde o locador é 
o possuidor indireto e o locatário o possuidor direto) ou de um direito real (de um direito real limitado sobre coisas 
alheias. Ex.: usufruto – nu proprietário que será o possuidor indireto e o usufrutuário que será o possuidor direto). 
A posse direta ou imediata é também denominada posse derivada, pois deriva de outra, sendo oriunda da 
transferência da posse pelo proprietário ou por outrem que a recebeu deste. A posse do proprietário é sempre indireta, 
embora possa ser posse plena, que abrange a direta e a indireta. 
Art. 1.197, CC: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito 
pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse 
contra o indireto. – tanto os possuidores indiretos como os diretos praticam sobre o objeto possuído atos que 
exteriorizam um dos poderes inerentes ao domínio e como tais merecem proteção interdital em caso de esbulho ou 
turbação. 
Dessa forma, tanto a posse direta como a indireta dão margem à proteção possessória contra terceiros. A única 
posse desdobrada que pode conduzir ao usucapião é a posse indireta, pois para o usucapião da propriedade exige o 
animus domini. A posse do possuidor direto se explica pela relação jurídica que ele tem com o proprietário ou com quem 
tem posse derivada deste. 
4. Posse Justa e Injusta 
O começo do exercício da posse não exige um título, não exige nenhuma formalidade, apenas a apropriação 
física. A posse justa ou injusta tem haver com a natureza do ato de apropriação. A posse justa é aquela que não teve 
inicio injusto, já a posse injusta é aquela que teve inicio a partir da força clandestinamente ou precariamente. Os efeitos 
atribuídos a essas posses dependeram do modo de como ela se iniciou. 
A posse justa é a que não foi adquirida violenta, clandestina ou precariamente (art. 1.200, CC). Já a posse 
injusta é aquela que teve inicio com a ofensa a um direito alheio, que tem algum dos vícios da posse que são, 
respectivamente, o roubo (violência), o furto (clandestinidade) e a apropriação indébita (precariedade da posse e recusa 
em devolver o objeto quando exigido pelo seu legitimo titular). 
A posse violenta (vis) é aquela que inicia com o uso de força, que é adquirida por violência física ou moral. A 
posse clandestina (clam) é aquela posse em que houve inicio oculto, é adquirida furtivamente, sem ciência dos 
interessados. Já a posse precária (precarium) é a posse em que houve um abuso de confiança por parte de quem se 
apropriou de determinado objeto por certo tempo, com base numa relação jurídica qualquer, e se recusa a devolvê-lo na 
época previamente fixada, ou seja, a partir do momento que essa posse perde o amparo jurídico ela torna-se precária. 
A posse violenta ou clandestina torna-se posse quando cessa a violência ou a clandestinidade (art. 1.208, CC - 
Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos 
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. – enquanto não cessar a violência 
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ou a clandestinidade a pessoa não terá a posse, mas sim detenção da coisa. Tornar-se-á possuidor quando cessar a 
violência ou a clandestinidade). A mesma regra não vale para a posse precária porque o que determina a transformação 
da posse justa em injusta é a perda do amparo jurídico na continuidade da posse da coisa, e não a violência ou a 
clandestinidade. 
5. Posse de Boa-Fé ou Má-Fé 
Nos direitos reais a boa-fé é sempre subjetiva. Tem boa-fé subjetiva aquele que ignora o vício ou obstáculo que 
impede a aquisição da coisa. A posse é de boa-fé quando o possuidor tem plena convicção da legitimidade de sua 
posse, pensando que a coisa possuída lhe pertence e desconhecendo o vício impeditivo da aquisição. A diferença de 
posse de boa-fé para posse justa é que na justa inexiste vício na sua aquisição, enquanto na de boa-fé o possuidor 
ignora a existência do vício mencionado . 
 Admite-se, para provar a boa-fé ou a má-fé, toda espécie de prova. Além disso, a boa-fé subjetiva admite prova 
em contrário, pois existe uma presunção de boa-fé em favor do possuidor que tem justo título (art. 1.201, CC - É de boa-
fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa). Justo título é um chamado 
título putativo (título que tem aparência de legitimidade), ou seja, é aquele que, em tese, é idôneo para transferir o 
direito, mas, no caso concreto, não é. Então, justo título é aquele título que dá uma legitimidade ao exercício da posse 
(ex.: contrato de gaveta). A presunção de boa-fé, em favor do possuidor que tem o justo título, pode cair, pois é uma 
presunção iuris tantum (presunção relativa que admite prova em contrário). 
6. Composse 
Consiste no exercício simultâneo por duas ou mais pessoas da posse sobre uma mesma coisa. Composse não é 
condomínio. As pessoas que tem a posse denominam-se compossuidores. Ex.: cônjuges (detêm a posse 
conjuntamente), herdeiros (no momento da abertura do inventário, todos detêm a posse). 
A composse pode ser pro indiviso ou pro diviso. Será pro indiviso quando houver posse exercida de modo 
simultâneo sem nenhuma delimitação, ou seja, quando diversas pessoas possuem, ao mesmo tempo, uma coisa na sua 
totalidade, sem nenhum podendo excluir a posse das outras (ex.: casal que tem um apartamento e utilizam o mesmo 
bem, eles têm a composse pro indiviso). Será, por sua vez, pro diviso quando existir uma delimitação física do bem, 
onde um possuidor exercerá a posse sobre uma parte do bem e outro, sobre a outra (ex.: duas casas no mesmo terreno, 
com uma posse sendo exercida por um em uma parte e outra por outro na outra parte). 
Qualquer dos compossuidores pode utilizar os interditos possessórios contra terceiros que venhama perturbar a 
sua posse. No conflito entre diversos compossuidores, cada um deles poderá recorrer aos interditos ou à ação petitória 
competente, de acordo com a origem da composse. 
 
V. AQUISIÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE 
1. Aquisição 
Sendo a posse uma situação de fato, o possuidor tem direito à proteção interdital pela circunstância de estar 
exercendo, sem violência e ostensivamente, um dos poderes inerentes ao direito de propriedade. 
O Código adotou a técnica da generalização para descrever como a posse é adquirida. Assim, o legislador do 
Código Civil de 2002 optou por não repetir a enumeração do Código anterior e estabeleceu que a posse se adquire 
“desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à 
propriedade” (art. 1.204, CC). Segundo esse dispositivo, não há uma modo especifico para a aquisição da posse, mas, 
no caso concreto, quando eu exerço algum poder inerente a propriedade eu estou adquirindo a posse. Portanto, a 
simples pretensão consciente da coisa importa criação da posse. 
A doutrina lista os modos mais comuns de aquisição da posse, que pode se dá por: 
a) Ato de Apreensão: que é, fisicamente, o tomar posse de alguma coisa. Ex.: encontrei um celular que eu me 
apodero, fisicamente, dele. Portanto, no momento em que eu tenho o contato físico eu já tenho a posse do bem. 
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b) Ato Jurídico Bilateral: é uma declaração de vontade que pode ou não tomar a forma de contrato, mas, em 
qualquer caso, essa declaração deverá obedecer os requisitos de validade dos atos jurídicos (art. 104, CC - A validade 
do negócio jurídico requer: (I) agente capaz; (II) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; (III) forma prescrita 
ou não defesa em lei). 
c) Sucessão Causa Mortis: no momento da abertura da herança, todo o patrimônio, automaticamente, se 
transfere aos herdeiros. No caso da posse, ocorre da mesma forma, imediatamente ela se transfere aos herdeiros, 
mesmo os herdeiros que não exercem a posse concretamente. Os herdeiros continuam de pleno direito a posse do de 
cujus (art. 1.207, CC - o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é 
facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais). 
d) Traditio Brevi Manu e Constituto Possessório: ocorre aquisição da posse sem alteração no mundo dos 
fatos, ou seja, a aquisição ocorre, meramente, no plano jurídico. 
Será “traditio brevi manu” quando recebo a posse (ex. 1: caseiro muda de emprego, mas que continuar morando 
na minha casa. Eu rescindo o contrato de trabalho dele como detentor e passo a alugar a casa. Portanto, o caseiro, que 
era detentor, passa a ser locatário e possuidor direto do bem. Ex. 2: locatário compra o bem, ou seja, ele passa de 
possuidor direto para possuidor). 
Será “constituto possessório” quando a posse sai de um e se incorpora em outro, ou seja, quem possui o título 
de proprietário, alienando o bem que lhe pertence, continua na posse dele por qualquer outro título (ex.: proprietário 
aliena o bem e permanece na posse a título de locatário. Ou seja, ele era proprietário e possuidor, agora se torna 
locatário e possuidor direto). O constituto possessório não se presume, devendo ser expressamente convencionado, 
clausula constituti. 
e) Tradição Simbólica: é quando entrego a posse através de um gesto, de um objeto ou de um símbolo. Ex.: 
empresto o meu carro por 30 dias. A pessoa terá a posse desde o momento em que entrego a chave. 
Art. 1.209, CC: A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem – 
esse dispositivo fixa uma presunção relativa de que quem tem a posse de um imóvel tem também a posse dos móveis 
que o guarnecem. 
2. Transmissão 
A transmissão da posse pode ser a título universal ou singular. 
a) Universal: é quando transfiro a posse de todo um patrimônio. Também é chamada de transmissão mortis 
causas ou sucessio possessionis. Há uma adição de posses obrigatória e continua com o mesmo caráter da posse do de 
cujus, isso significa que se a posse do de cujus era de má-fé, a posse dos herdeiros será de má-fé também e, portanto, 
deve alcançar o prazo estabelecido pela lei para o usucapião extraordinário. Porém, se a posse do de cujus era de boa-
fé, a posse dos herdeiros também será e, assim, devem alcançar o prazo estabelecido pela lei para usucapião ordinário. 
b) Singular: transmito a posse de apenas um bem. Pode ser por ato inter vivos (cessão de direitos 
possessórios) ou mortis causas/acessio possessionis (legado). Na acessio há adição de posse facultativa, ou seja, 
adiciono a posse se for conveniente, se eu quiser, não estou obrigado a adicionar a posse do meu antecessor para 
qualquer efeito. Nesse caso, o adquirente poderá obter a propriedade por usucapião ordinário, mesmo quando o 
antecessor era possuidor de má-fé. 
Posse sem justo título (má-fé) 15 anos Extraordinário 
Posse com justo título (boa-fé) 10 anos Ordinário 
 
3. Perda da Posse 
A perda da posse trata-se, também, de uma técnica de generalização, pois o Código, assim como na aquisição 
da posse, não elenca os casos em que se perde a posse. 
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Art. 1.223, CC: Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, 
ao qual se refere o art. 1.196. – ou seja, no momento em que o possuidor não consegue mais exercer nenhum poder 
sobre a coisa, ele perde a posse. 
Embora o Código não elenque os casos em que se perde a posse de fato, a doutrina lista três hipóteses, que 
são por: 
a) Fato da Coisa: a destruição ou o desaparecimento da coisa, faz com que o possuidor perca a posse sobre 
ela. Essa causa enfatiza a integridade física da coisa. 
b) Ato do Possuidor: é quando o próprio possuidor é causa da perda da posse. Isso pode ocorrer por abandono 
ou por transmissão. 
c) Ato de Terceiro: é quando o terceiro impede o possuidor de continuar exercendo a posse. A perda da posse 
por ato de terceiro chama-se, tecnicamente, de esbulho ou turbação. Será esbulho quando ocorrer à perda total da 
posse (o possuidor não exerce mais nenhum aspecto da posse, ele perdeu totalmente a posse) e, será turbação quando 
houver uma perda parcial da posse (ex.: vizinho que esta construindo e avança para o meu terreno). 
 
VI. EFEITOS MATERIAIS DA POSSE 
1. Frutos 
São os bens que são produzidos com regularidade por um bem principal. Os frutos podem classificar-se em: 
- Frutos Naturais: são aqueles que se renovam periodicamente por força da própria natureza do bem. Esses 
frutos podem, ainda, classificar-se em: 
• Frutos Percebidos ou Colhidos: são aqueles que já se destacaram fisicamente do bem. 
• Frutos Pendentes: são aqueles que ainda estão unidos a coisa principal. 
- Frutos Industriais: são aqueles que exigem uma transformação do homem sobre a natureza. 
- Frutos Civis: são as rendas que decorrem da sua utilização. Esses frutos, geralmente, exigem a existência de 
uma relação jurídica (ex.: contrato de locação). Esses frutos podem, ainda, classificar-se em: 
• Frutos Pendentes: são aqueles que ainda não venceram (ex.: aluguel que não venceu, lavoura que esta 
se formando). 
• Frutos Antecipados: são aqueles que foram colhidos antecipadamente. 
• Frutos Vencidos: são aqueles que venceram e não foram colhidos. 
Para definir os frutos que pertencem ao possuidor e os frutos que terão que ser restituídos ao proprietário, será 
necessário avaliar a boa-fé ou a má-fé do possuidor. 
- Possuidor de Boa-Fé: tem direito a todos os frutos percebidos, só terá o dever de restituir os que estão 
pendentes e os frutos antecipados e, por isso, terá direito a indenização pelas despesas de produção e custeio em 
relação a esses frutos para não haver enriquecimento sem causa. 
- Possuidor de Má-Fé: tem que restituir todos os frutos colhidos e percebidos e responde pelos que,por sua 
culpa, deixou de perceber. Não fica nada com ele. Porém, esse possuidor tem o direito de descontar (reembolsar) as 
despesas que teve para colher os frutos, para que não haja o enriquecimento sem causa por parte do proprietário. 
2. Benfeitorias 
São acréscimos feitos à coisa que lhe aumentam o valor. As benfeitorias podem ser: 
- Necessárias: são aquelas que mantêm a integridade do bem, que visam conservar e evitar a deterioração do 
bem, ou seja, são as despesas indispensáveis a conservação do objeto. 
- Úteis: aquelas que aumentam ou facilitam o uso do bem. 
- Voluptuárias: são aquelas que embelezam o bem. 
O possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias úteis e necessárias. Quanto às 
benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem direito de levantar, desde que não danifique a integridade da coisa. 
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Além disso, se o proprietário se dispuser a indenizar as benfeitorias voluptuárias, o possuidor não poderá levantar. O 
possuidor de boa-fé tem direito de retenção (jus retentionis), ou seja, ele pode permanecer na posse do bem até ser 
indenizado. 
O possuidor de má-fé tem direito, apenas, ao ressarcimento das benfeitorias necessárias, sem direito de 
retenção. 
 Possuidor de Boa-Fé Possuidor de Má-Fé 
Necessárias direito de indenização e retenção. direito a indenização. 
Úteis direito de indenização e retenção. não tem direito a nada. 
Voluptuárias pode levantar ou, se o proprietário quiser, pode ser indenizado. 
pode levantar, se não puder não tem 
direito a indenização. 
 
O valor a ser indenizado será conforme comprovação. Para o possuidor de boa-fé será pelo valor atual. Já para 
o possuidor de má-fé, o reivindicante pode optar pelo valor atual ou pelo seu custo (art. 1.222, CC: O reivindicante, 
obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; 
ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual). 
3. Ressarcimento de Danos 
Para analisar a responsabilidade do possuidor em relação ao prejuízo causado durante a sua posse, é 
necessário verificar o tipo de posse. 
- Possuidor de boa-fé: responderá pelos prejuízos que ele causar, porém, o reivindicante tem que provar a 
culpa do possuidor de boa-fé (art. 1.217, CC - O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, 
a que não der causa). 
- Possuidor de má-fé: responde pela perda, deterioração ou destruição da coisa, ou seja, responde por tudo. O 
possuidor de má-fé exime-se da responsabilidade, apenas, se ele comprovar que o dano ocorreria ainda que o bem 
estivesse com o reivindicante. Nesse caso, há presunção juris tantum, ou seja, inverte-se o ônus da prova, pois o ônus é 
do possuidor de provar que o dano ocorreria independentemente de quem estivesse na posse. 
 
VII. EFEITOS OU PROTEÇÃO PROCESSUAIS DA POSSE 
1. Proteção Possessória e Proteção Petitória 
1.1. Proteção Possessória 
É aquela empregada para proteger o ius possessionis, que é o direito à posse em si mesmo, ou seja, é aquele 
que se dirige ao juiz dizendo-se possuidor, não precisa ser o proprietário. Essa proteção dar-se-á através das ações 
possessórias, que são as ações que protegem a posse. As três principais ações possessórias são o interdito proibitório, 
interdito (ação) de manutenção e a ação de reintegração. Nessas ações, há uma causa de pedir específica que é a 
posse, não se discute a propriedade, ou seja, o autor postulará em juízo a posse porque era possuidor e perdeu a posse. 
As três ações possessórias clássicas distinguem-se pelo grau de agressão. A agressão contra a posse pode ter 
três níveis, podendo ser iminente (prestes a acontecer. Ex.: sem terra estão próximo da minha propriedade dizendo que 
vão invadir), atual (esta ocorrendo, mas ainda não perdi totalmente a posse) ou consumada. Em cada uma dessas 
circunstâncias será empregada uma ação específica. Contra a agressão iminente emprega-se a ação de interdito 
proibitório; contra a agressão atual emprega-se a ação de manutenção de posse (pois ocorreu apenas uma turbação); já 
contra a agressão total ajuíza-se a ação de reintegração de posse (pois, nesse caso, já houve um esbulho da posse). 
As ações possessórias têm três características, que são: 
- Fungibilidade: fungibilidade significa uma pela outra. Na posse, a sequência de fatos é dinâmica, ou seja, as 
agressões contra a posse podem mudar rapidamente (ex.: possuidor ajuizou uma ação de interdito proibitório, mas 
quando chega na mesa do juiz já ocorreu uma agressão ou a pessoa já perdeu a posse. Assim, o que o autor irá querer 
do juiz não será mais uma determinação para não ocorrer o esbulho ou turbação, mas sim a reintegração). Dessa forma, 
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para o juiz não dar sentença ultra petita, nas ações possessórias, admite-se a fungibilidade (art. 920, CPC - A 
propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a 
proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados). 
- Caráter Dúplice: autor pede em face do réu e o juiz, ao dar a sentença, irá acolher ou não o pedido do autor. 
Em razão da congruência que deve existir entre o pedido e a sentença, o autor não pode sair condenado da ação, 
exceto se houver reconvenção. Dessa forma, as ações dúplices são aquelas que, independente de reconvenção, o autor 
poderá vir a ser condenado. As ações possessórias têm caráter dúplice porque na contestação o réu poderá alegar que 
o possuidor era ele e que o autor é o esbulhador (art. 922, CPC - É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o 
ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do 
esbulho cometido pelo autor). 
- Cognição Limitada: cognição quer dizer conhecimento, é aquilo que pode ser apreciado. Cognição limitada nas 
ações possessórias é uma cognição limitada horizontalmente, ou seja, o único tema que pode ser debatido nessas 
ações é a posse (art. 1210, §2º, CC - Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou 
de outro direito sobre a coisa). Arguir em contestação a propriedade é inútil, pois é vedado pelo nosso ordenamento 
jurídico, trata da vedação a exceptio proprietatis. 
1.2. Proteção Petitória 
É aquela empregada para proteger o ius possidendi, que é o direito à posse com base no título. Essa proteção 
ocorrerá através da ação reivindicatória (que é a ação do proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário). 
Essa ação é uma espécie das ações petitórias, que tem como causa de pedir o título e não a posse. Nas ações 
reivindicatórias fala-se em proteção petitória, pois há uma ação cuja base é o título. 
2. Desforço Pessoal 
É uma modalidade de proteção da posse extrajudicial. É a proteção da posse executada pelo próprio possuidor 
com suas próprias forças. O desforço pessoal precisa ser imediato e moderado, pois se trata de um caso específico de 
legítima defesa. É necessário que seja imediato, pois Código Civil esclarece que o ato só será legitimo quando o 
possuidor turbado ou esbulhador o fizer logo (art. 1.210, §1º, CC - O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se 
ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do 
indispensável à manutenção, ou restituição da posse). 
Segundo a doutrina e jurisprudência, o possuidor indireto pode praticar o desforço pessoal em nome do 
possuidor direito, assim como o detentor que tem o direito e o dever de proteger a posse do possuidor proprietário. 
3. Interdito Proibitório 
É o instrumento processual empregado quando existe uma ameaça de turbação ou esbulho contra a minha 
posse, ou seja é a ação intentada pelo possuidor receoso de ter sua posse turbada ou esbulhada. O requerente deve 
provar a sua posse, a ameaça de turbação ou de esbulhopor parte do réu e o justo receio de que venha a ser violada a 
sua posse. Essa ação preventiva visa a estabelecer uma pena pecuniária no caso de descumprimento da ordem. 
Art. 932, CPC: O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar 
ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu 
determinada pena pecuniária, caso transgrida o preceito – trata da cominação de multa pecuniária para o caso de 
descumprimento. 
Art. 933, CPC: Aplica-se ao interdito proibitório o disposto na seção anterior. 
4. Interditos (Ação) de Manutenção e Reintegração 
Ambas são ações ordinárias com uma fase preliminar especial. Após, ela prossegue como uma ação ordinária 
qualquer. Na fase preliminar especial são apreciadas as medidas liminares possessórias, que pode ser de manutenção 
ou de reintegração de posse. Essa fase só ocorrerá quando houver posse nova ou posse de força nova. Quando a ação 
possessória for contra posse velha ou posse de força velha não haverá essa fase preliminar. Força nova é quando o 
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esbulho aconteceu antes de ano e dia (menos de um ano e um dia), será posse velha quando for mais de ano e dia 
(mais de um ano e um dia). Quando a ação é ajuizada menos de ano e dia, a lei presume a existência do periculum in 
mora e fumus boni iuris, mas é necessário comprovar a posse e o esbulho ou turbação. 
O juiz pode deferira à liminar analisando apenas a prova documental (art. 928, CPC - Estando a petição inicial 
devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de 
reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para 
comparecer à audiência que for designada). Se o juiz não se convencer ele poderá marcar audiência de justificação de 
posse, para produzir prova testemunhal. Essa liminar é vedada no caso de ação contra a Fazenda Pública, pois não 
pode ser deferida a medida liminar sem prévia oitiva (art. 928, § único, CPC - contra as pessoas jurídicas de direito 
público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes 
judiciais). 
5. Embargos de Terceiro 
Esses embargos protegem o possuidor ou o proprietário contra decisões judiciais proferidas em ações nas quais 
ele não foi parte, mas que alcançam os seus bens ou bens que ele possui. O caso típico de embargos de terceiro é 
quando um bem, que pertence a mim ou que esta sob a minha posse, é penhorado em uma execução em que não fui 
parte. Portanto, essa ação serve para proteger tanto a minha propriedade quanto a posse de um bem que eu tenha e 
que foi objeto de uma constrição judicial. 
Os embargos de terceiros tem um rito especial e esta disposto nos art. 1.046 a 1.054 do CPC. 
Esses embargos não têm a natureza incidental que tem os embargos de devedor. Os embargos de terceiro são 
uma ação independente que insurge contra uma constrição judicial (penhora, arresto, sequestro). 
Art. 1.046, CPC - Quem, não sendo parte no processo (ou seja, não foi parte no conhecimento, nem na 
execução), sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de 
penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer 
que Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos. 
Art. 1.046, § 1º, CPC - Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor. – então, 
se tens apenas a pose do bem, poderá ajuizar um embargos de terceiro possuidor. Agora se tu és proprietário e 
possuidor, ajuizará embargos de terceiro de senhor e possuidor. 
Esses embargos, portanto, é uma espécie de ação possessória com uma especificidade, que é que a turbação 
ou esbulho ocorreu por determinação judicial em feito que o possuidor ou proprietário não foram parte. 
Art. 1.049, CPC - Os embargos serão distribuídos por dependência e correrão em autos distintos perante o 
mesmo juiz que ordenou a apreensão. 
Esses embargos são admissíveis a qualquer tempo no processo de conhecimento, desde que não tenha o ato 
decisório transitado em julgado, e, no processo de execução, até cinco dias depois da arrematação, da adjudicação ou 
da remição, mas antes da assinatura da respectiva carta. 
6. Ação de Imissão de Posse 
Essa ação não é uma ação possessória. Essa ação era prevista como um procedimento especial no CPC de 
1939, porém, no CPC de 1973 não foi repetida. Existe, contudo, um consenso na doutrina que embora essa ação não 
esteja prevista no CPC atual ela ainda é possível. 
Segundo Ovídio, essa ação de imissão de posse é uma ação petitória. Nesse caso, se é uma ação petitória não 
se busca o ius possessionis (que é próprio das ações possessórias, ou seja, é proteger a posse pela posse). Na ação 
petitória de imissão de posse busca-se o ius possidendi, que é o direito à posse com base em título. 
O CPC anterior listava três casos em que essa ação seria cabível, que seria 
- “aos adquirentes de bens para haver a respectiva posse contra os alienantes ou terceiros que os detenha”. Ou 
seja, a propriedade de um bem móvel transmite-se com a tradição. Logo, se não houve a tradição não houve 
16 
 
transferência de propriedade (sem direito a ação reivindicatória) e nem de posse (sem direito a ação de reintegração). 
Porém, se houve o pagamento pela coisa adquirida, a única via de se ter a propriedade e a posse é através da ação de 
imissão de posse. 
- “aos administradores e demais representantes das pessoas jurídica de direito privado para haverem de seus 
antecessores a entrega dos bens pertencentes a pessoa representada”. 
- “aos mandatários para receberem dos antecessores a posse dos bens do mandante”. Mandatário é aquele que 
ira exercer a posse em nome do mandante. No caso, houve uma substituição de mandatário. O bem continua sob a 
posse do primeiro mandatário. Assim, o novo mandatário, que não é proprietário e nem nunca teve a posse, para reaver 
a posse em nome do mandante poderá ajuizar a ação de imissão de posse. 
Reintegração – na petição inicial de 
uma ação de reintegração de posse, o 
autor dirá: “eu tinha a posse, fui 
esbulhado. Quero a posse de volta”. 
Imissão – “eu não tenho, nem tive, a 
posse, mas tenho direito a posse com 
base no título ou negócio translativo 
da posse”. – cognição limitada ao 
direito à posse, pois não se discute a 
validade do título, a sua origem, etc. 
Reivindicatória – na petição inicial de 
uma ação reivindicatória o autor dirá: 
“eu tenho a propriedade, não tenho a 
posse. Eu quero a posse”. – é uma 
ação plenária, pois se discute todos 
os aspectos (posse e título). 
 
Essa ação, portanto, é uma ação petitória, cuja base é o título ou o negócio translativo da posse, contudo é uma 
ação de cognição limitada ao direito à posse, pois não se discute a validade do título, a sua origem, etc. O proprietário de 
um bem pode optar por ajuizar a ação de imissão de posse em detrimento da ação reivindicatória, pois na ação de 
imissão a discussão é limitada apenas a posse, sem discussão do título em si. 
7. Competência para Ações Petitórias e Possessórias 
Bem Móvel: Art. 94, CPC - A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens 
móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu – ou seja, discute a posse ou a propriedade de um 
automóvel, por exemplo, o foro competente será o do domicílio do réu. 
Bem Imóvel: Art. 95, CPC - Nas ações fundadas em direito real (ações petitórias) sobre imóveis é competente o 
foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio 
sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.– 
ou seja, será competente: 
Foro da situação da coisa 
direito real sobre imóvel ou quando tratar de questões de 
vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e 
nunciação de obra nova. 
Foro do domicílio do réu ou de eleição direito real sobre imóvel não listado na outra coluna (ou seja, quando tratar de propriedade e servidão, basicamente). 
 
8. Outorga Uxória e Legitimação Passiva 
Art. 10, CPC - O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre 
direitos reais imobiliários – ou seja, para um dos cônjuges propor, por exemplo, ação reivindicatória ou de usucapião, é 
necessário do consentimento do outro cônjuge. 
Ações Petitórias: para as ações petitórias, aplicam-se as regras do art. 10, §1º, I e IV do CPC. Nessas ações 
há um litisconsorte ativo e passivo necessário. 
Art. 10, § 1º, CPC – Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações: (I) que versem sobre 
direitos reais imobiliários; (IV) - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre 
imóveis de um ou de ambos os cônjuges. – ambos serão citados porque se trata de litisconsorte passivo necessário. 
Ações Possessórias: para as ações possessórias, aplica-se a regra do art. 10, §2º do CPC. Nessas ações, o 
litisconsorte ativo e passivo não é necessário, depende das circunstâncias fáticas. 
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Art. 10, § 2º, CPC – Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é 
indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticados. – ex.: casal de sem terra, ambos esbulham a 
minha posse, nesse caso, ambos serão demandados na ação, os dois estarão no pólo passivo. 
 
VIII. PROPRIEDADE: IDEIAS GERAIS 
1. Teorias Sobre a Propriedade 
Propriedade, filosoficamente falando, é poder usar uma coisa e excluir as outras desse uso, ou seja, é o uso 
exclusivo de alguma coisa, é poder se apropriar de algum bem material e dizer que é seu e não de outro. 
Há três grandes teorias sobre a justificativa da existência da propriedade. Cada uma trata de diferentes modos 
de alocação dos bens, ou seja, como os bens devem ser distribuídos entre as pessoas. 
a) Utilitária: segundo os defensores dessa corrente as regras sobre propriedade determinam a alocação dos 
bens, quem tem o direito de preservar o que é como seu. Essas regras de alocação existem para que haja um melhor 
aproveitamento dos bens, para que haja uma maior produção de riquezas, para que haja uma melhor preservação da 
propriedade. 
Ex.: tragédia das terras comunais – se entrego um pedaço de terra para um grupo de pessoas sem atribuir o que 
é de quem, cada um deles irá buscar extrair maior beneficio pra si preservando-se de qualquer prejuízo, ou seja, o que 
eu produzo não é de ninguém, se é de todo mundo, as pessoas vão querer tirar mais para si e não repor. Então, os 
utilitaristas dizem que se entrego um bem para ser usufruído de modo comunal, sem regras, o que haverá é cada um 
dos agentes extraindo para si o máximo, até o exaurimento total daquele bem. 
Segundo os utilitaristas, conseguimos extrair mais riqueza, mais coisas boas, mais produção, comida, dinheiro, 
etc., quando as coisas estão divididas de certo modo. Ou seja, podemos organizar essa distribuição de um modo que 
gere mais riqueza. Então, segundo a posição utilitarista o que é de todo mundo não é de ninguém. Tem que ser criadas 
algumas regras que potencializem o uso dos bens (ex.: concentração de grandes empresas – o utilitarista diria que se eu 
permito que uma empresa compre a outra, até termos o monopólio de uma única empresa, haverá prejuízo para o 
consumidor. Dessa forma, para os utilitaristas, as regras da propriedade têm que impedir o monopólio para evitar o 
prejuízo para todos). 
O utilitarista não há a favor nem do monopólio, nem da pluralidade. O utilitarista é a favor de que existe um modo 
de alocação que produza uma maior quantidade de benefícios para um maior número de pessoas. Portanto, o foco 
dessa concepção é o benefício para a comunidade. Para os utilitaristas, a propriedade privada se justifica na media em 
que ela gerar um maior beneficio para a coletividade. 
b) Liberal Clássica: segundo essa teoria, tudo que for feito com o produto do meu trabalho e da minha 
inteligência é meu, é do indivíduo, pois o que é de minha propriedade mesmo é o meu corpo e o meu cérebro. Quando 
há mistura do meu trabalho com alguma coisa da natureza eles se fundem e tornam-se meu (teoria da mistura). 
Segundo essa teoria, não existe um limite para a quantidade de propriedade que o individuo pode adquirir, desde que 
tenha uma origem legítima no trabalho e na inteligência do próprio individuo. 
Portanto, essa concepção é individualista e trata da propriedade como um direito natural ilimitado. Reconhece 
poucos limites para acumulação de propriedade. Assim, o foco da propriedade dessa concepção é o indivíduo em si. 
Para os liberalistas, a propriedade é um direito natural ilimitado, desde que tenha sido adquirido com o esforço do próprio 
indivíduo, independente do impacto que isso possa ter na comunidade. 
c) Tomista ou Aristotélica: para essa corrente, o modo de alocação de propriedade, o modo como se 
distribuem os bens materiais, não deve levar em consideração nem exclusivamente os aspectos individuais (teoria 
liberal) e nem só os benefícios para todos (teoria utilitarista). Segundo essa concepção, a alocação da propriedade deve 
atender ao objetivo de permitir que as pessoas se desenvolvam, ou seja, a propriedade serve para o florescimento das 
pessoas. Essa teoria leva em consideração quanto a propriedade é importante para desenvolver outros aspecto da vida 
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do individuo e nem só o aspecto econômico (ex.: direito real de habitação da viúva – o direito real da viúva continuar 
morando onde vivia com seu marido, constitui-se na questão de que aquela propriedade, aquele bem físico, 
impregnaram-se na pessoa dela, em sua felicidade, no seu horizonte de vida). Para essa teoria, os bens servem para 
permitir que as pessoas floresçam e desenvolvam as suas potencialidades. Portanto, o foco dessa concepção é que a 
alocação da propriedade serve para o florescimento das pessoas. 
Além disso, essa teoria justifica certa redistribuição de bens, ou seja, que seja retirado dos que tem muito para 
dar para quem não tem nada. Assim, será possível que essa pessoa consiga um mínimo material para florescer. Para 
essa teoria, a propriedade se justifica na medida em que ela é o apoio material para que as pessoas possam 
desenvolver as suas potencialidades. 
2. Conceito 
A propriedade é o direito real mais amplo e consiste no direito perpetuo de usar, fruir e dispor de um bem. Na 
estrutura da propriedade há uma parte externa e outra que é interna. 
A estrutura externa da propriedade diz respeito à relação do proprietário com terceiros. Nessa estrutura há dois 
aspectos importantes, que são o direito de excluir (excluo os outros do uso do meu bem) e o direito de reivindicar (direito 
de sequela) - Art. 1.228, CC - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do 
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Essa estrutura, portanto, importa o direito de exigir a 
abstenção dos terceiros em relação ao objeto de propriedade do titular. 
A estrutura interna diz respeito ao modo como eu uso, que representa pra mim como proprietário, ou seja, é o 
poder complexo e exclusivo do proprietário sobre a coisa. A estrutura interna representa três poderes, que são: Jus 
Utendi (usar), Jus Fruendi (fruir) e Jus Dispoendi (dispor). Esses poderes são os aspectos econômicos, funcionais do 
bem que são atribuídos ao proprietário. Essa estrutura não leva em consideração terceiros, é a relação do proprietário 
com o bem. 
3. Características do Direito de Propriedade 
a) Exclusividade: o direito de propriedadeinclui o direito de excluir terceiros de sua propriedade, de excluir 
terceiros do uso, da fruição, de qualquer contato com a sua propriedade. Essa regra da exclusão esta presente no art. 
1.231 do CC (“a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário”). A propriedade é exclusiva, por não 
se admitir que mais de uma pessoa possa exercer o mesmo direito sobre determinado objeto. 
Segundo Tupinambá, o condomínio (quando duas ou mais pessoas são proprietárias de um mesmo bem) é uma 
regra de exceção da exclusividade, pois quando existe um condomínio, um condômino não pode excluir o outro porque 
ambos são proprietários e ambos têm o direito de exercer a posse. Contudo, os condôminos podem excluir terceiros, 
mas não podem excluir entre si. Assim, a exclusividade persiste perante terceiros. 
b) Ilimitação: essa característica não quer dizer que a propriedade seja um direito absoluto. A propriedade, 
como qualquer direito na ordem jurídica, esta imersa em todo o sistema, portanto ela tem limitações. No entanto, a 
propriedade se distingue dos demais direitos reais limitados porque ela abrange todos os poderes do proprietário, 
enquanto os direitos reais limitados referem-se apenas a alguns poderes (ex.: usufruto, direito real de habitação, 
servidão). A propriedade e os direitos reais limitados estão expressos no art. 1.225 do CC [São direitos reais: (I) a 
propriedade; (II) a superfície; (III) as servidões; (IV) o usufruto; (V) o uso; (VI) a habitação; (VII) o direito do promitente 
comprador do imóvel; (VIII) o penhor; (IX) a hipoteca; (X) a anticrese; (XI) a concessão de uso especial para fins de 
moradia; (XII) a concessão de direito real de uso]. 
c) Elasticidade: a propriedade consiste num feixe de direitos. Eventualmente, ocorrerá de incidir sobre essa 
propriedade um direito real limitado. Nesse caso, a propriedade estará, temporariamente, restringida (ex.: sou 
proprietário de um imóvel, mas sobre esse imóvel existe um usufruto em favor da minha mãe. Eu tenho a nua 
propriedade, enquanto a minha mãe tem o usufruto. Nesse momento, eu estou restringida a usar e fruir do bem, pois 
quem tem esse poder é a minha mãe. Porém, no momento em que o usufruto se extinguir, os dois poderes que estavam 
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no poder do usufrutuário irão se incorporar no poder do proprietário, novamente). Dessa forma, no momento em que se 
extinguir o direito real limitado que esta limitando os poderes do proprietário, a propriedade voltará ao normal. Portanto, a 
característica da elasticidade significa que quando se perde a plenitude dos poderes da propriedade, em função de uma 
restrição dos direitos reais limitados, o proprietário tende a recuperá-la com a extinção dos direitos reais limitados 
existentes sobre o objeto (ex.: extinção do usufruto). 
d) Perpetuidade: o direito de propriedade é um direito perpetuo. Isso importa dizer que o fato de não exercê-lo 
não altera, em nenhum momento, a relação de propriedade do proprietário com o bem, ou seja, o não exercício de 
direito de propriedade não implica em sua extinção. Essa característica distingue das ações pessoais que, de regra, 
prescrevem, enquanto o direito de propriedade não prescreve. 
Os doutrinadores apresentam duas exceções à perpetuidade, que são: 
- Propriedade Revogável: é aquela que se extingue por fato inexistente e imprevisto no momento em que se 
constitui o direito. Ex.: donatário ingrato – se o donatário pratica um ato de ingratidão contra o doador, revoga-se a 
doação e o doador torna-se proprietário novamente (art. 555, CC - A doação pode ser revogada por ingratidão do 
donatário, ou por inexecução do encargo). A doutrina trata esse caso, portanto, como extinção de propriedade. Porém, 
segundo entendimento do professor, a propriedade não se extinguiu, houve apenas uma transferência, no momento da 
doação, mas que depois, por ato do donatário, voltou a ser do doador a propriedade. 
- Propriedade Resolúvel: é quando o próprio ato constitutivo da propriedade prevê a sua resolução pelo advento 
de termo ou condição, ou seja, esta previsto que em algum momento a propriedade vai se extinguir. Ex.: substituição 
fideicomissária [o testador transmite o seu bem para uma primeira pessoa que, após ocorrer o termo ou condição, 
transmitira para uma segunda pessoa (fideicomissário) a propriedade plena do bem – ex. nomeio minha filha 
fideicomitente, que se tornará proprietária do bem com a minha morte, para que tenha a propriedade resolúvel do meu 
apartamento até que meu neto (fideicomissário) termine a faculdade, ou seja, até que o termo ou a condição se 
implemente]. Segundo entendimento do professor, nesse caso não há uma extinção de propriedade, mas sim uma 
transferência de propriedade. 
* Usucapião: segundo entendimento do professor, a usucapião seria uma das exceções da perpetuidade, mas 
isso não é entendimento dos demais. A usucapião extingue o direito de propriedade porque é o modo originário de 
aquisição de propriedade, caracterizado pela ausência de relação jurídica entre o proprietário e o novo proprietário, pois 
entre o usucapido e o usucapiente não existe compra e venda, não existe doação, não existe nada. O direito de 
propriedade do usucapiente inicia do zero, ou seja, é um novo direito de propriedade e o anterior se extingue. Quando 
alguém usucape um bem, ele ingressa no patrimônio do usucapiente livre de quaisquer ônus. 
4. Propriedade na Constituição Federal de 1988 
A ideia de função social nas Constituições Brasileiras aparece desde 1934, ou seja, a Constituição de 1934 já 
mencionava que a propriedade deviria cumprir a sua função social. No art. 5º da CF/88, a propriedade é mencionada 
quatro vezes: 
- XXII: é garantido o direito de propriedade. 
- XXIII: a propriedade atenderá a sua função social. 
- XXVI: a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto 
de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de 
financiar o seu desenvolvimento – dentro das teorias da propriedade, podemos dizer que a ideia por traz deste inciso 
esta relacionada à teoria tomista ou aristotélica. 
- XXIX: a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como 
proteção as criações industriais, a propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo 
em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do país – esse inciso trata da propriedade 
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intelectual onde, por certo tempo, certas pessoas podem explorar essas descobertas. Decorrido certo tempo e 
apresentada certas condições, essas propriedades intelectuais podem cair no domínio público. 
Art. 170, CF: a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observando os seguintes princípios: (II) 
propriedade privada; (III) função social da propriedade. 
Art. 182, §2º, CF: a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de 
ordenação da cidade expressas no plano diretor – se a propriedade urbana não cumprir a função social, aplica-se o 
disposto nos incisos do §4º do mesmo art. 
Art. 182, §4º, CF: é facultado ao Poder Público municipal exigir do proprietário do solo urbano não edificado 
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: (I) 
parcelamento ou edificação compulsórios; (II) IPTU progressivo no tempo, ou; (III) desapropriação. 
5. Objeto e Extensão 
A propriedade se limita aos bens corpóreos, ou seja, coisas móveis, imóveis e semoventes. Então, o objeto do 
direito das coisas são os bens corpóreos, bens que tem corporeidade física. 
A propriedade imóvel tem um limite. O direito romano dizia que a propriedade ia

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