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TCC - Victor Amadeu Santos (109 04087)

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
FACULDADE DE ECONOMIA 
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
 
 
 
 
VICTOR AMADEU OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS 
 
 
 
ECONOMIA DO CRIME 
Teorias sobre as causas da criminalidade com destaque 
na literatura nacional sobre a teoria econômica do crime 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói - RJ 
2013 
 
 
 
VICTOR AMADEU OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ECONOMIA DO CRIME 
Teorias sobre as causas da criminalidade com destaque 
na literatura nacional sobre a teoria econômica do crime 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em 
Ciências Econômicas da Universidade Federal 
Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do 
Grau de Bacharel em Ciências Econômicas. 
 
 
 
 
Orientador: Prof.PhD Cláudio Consídera 
 
 
 
 
 
Niterói - RJ 
2013 
 
Setembro/2013 
VICTOR AMADEU OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS 
 
 
ECONOMIA DO CRIME 
Teorias sobre as causas da criminalidade com destaque 
na literatura nacional sobre a teoria econômica do crime 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em 
Ciências Econômicas da Universidade Federal 
Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do 
Grau de Bacharel em Ciências Econômicas. 
 
 
Banca examinadora 
 
 
_____________________________________________________ 
Prof. PhD.Cláudio Consídera (Orientador) 
Faculdade de Economia – Universidade Federal Fluminense 
 
 
_____________________________________________________ 
Prof. PhD. Renaut Michel (Examinador I) 
Faculdade de Economia – Universidade Federal Fluminense 
 
 
____________________________________________________ 
Prof. Diogo Braga (Examinador II) 
Faculdade de Economia – Universidade Federal Fluminense 
 
 
Niterói - RJ 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. 
Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória sofrerá também uma derrota. 
Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...” 
Sun Tzu
 
RESUMO 
Diante dos danos causados pela violência à sociedade, esse trabalho busca entender e 
identificar os determinantes socioeconômicos que influenciam a criminalidade brasileira, a 
partir da teoria econômica do crime de Becker (1968), dos estudos teóricos e empíricos sobre 
a criminalidade no Brasil e da revisão bibliográfica de autores nacionais e internacionais. O 
enfoque econômico do crime aborda as escolhas realizadas pelos indivíduos e explica o 
comportamento criminoso como um processo de decisão racional, no qual o indivíduo age 
como um agente econômico que avalia custos, benefícios e riscos antes de praticar um ato 
ilícito. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre a teoria econômica 
do crime e os trabalhos empíricos sobre a criminalidade brasileira, visando identificar as 
possíveis variáveis e fatores socioeconômicos que motivam esse comportamento desviante, e 
traçar um perfil que possa servir de subsídio para a elaboração e implementação de políticas 
eficientes para o controle e redução da criminalidade. 
 
Palavras-chave: teoria econômica do crime – escolha racional – comportamento criminoso – 
atividade ilegal 
 
SUMÁRIO 
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1 
CAPÍTULO 2 – TEORIAS SOBRE A CRIMINALIDADE 4 
2.1 Teorias das patologias individuais 5 
2.2 Teoria da desorganização social 7 
2.3 Teoria do estilo de vida 8 
2.4 Teoria do aprendizado social 9 
2.5 Teoria do controle social 10 
2.6 Teoria do autocontrole 11 
2.7 Teoria da anomia 12 
2.8 Teoria interacional 14 
CAPÍTULO 3 – TEORIA ECONÔMICA DO CRIME 15 
3.1 Modelo de Gary Becker 15 
3.1.1 Danos 19 
3.1.2 Custos de apreensão e condenação 20 
3.1.3 Oferta de ocorrências criminais 21 
3.1.4 Punição 25 
3.1.5 Gastos privados 31 
3.1.6 Conclusões de Gary Becker 33 
3.2 Estudos posteriores à teoria de Gary Becker 34 
CAPÍTULO 4 – LITERATURA NACIONAL SOBRE A CRIMINALIDADE 41 
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO 51 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54
1 
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 
 De acordo com a pesquisa, realizada em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Opiniões 
Públicas e Estatísticas (IBOPE), a segurança pública é a terceira maior preocupação dos 
brasileiros, segundo 13,0% dos entrevistados, ficando atrás somente da educação, com 16,0% 
e saúde, com 41,0%. Temas como: o desemprego, a inflação, os juros altos e impostos 
elevados não são mais as principais preocupações da opinião pública e, por outro lado, a 
criminalidade vem ganhando importância e atenção especial da sociedade, pois os elevados 
custos associados a esse fenômeno impõem restrições sociais, econômicas e afetam grande 
parcela da população. 
 Nos últimos dez anos, houve um aumento do número de estudos sobre a criminalidade 
no Brasil, inclusive entre os economistas, refletindo a preocupação com as perdas e danos que 
o crime provoca à sociedade e os elevados custos socioeconômicos envolvidos. Estimativas 
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) demonstram que a violência e o enorme 
contingente da população carcerária brasileira geram custos à sociedade em torno de 10,5% 
do PIB em razão das despesas com serviços como: atendimento hospitalares, efetivo policial, 
aparatos de segurança pública, sistema judicial, e das perdas no setor de turismo, atividades 
econômicas, investimentos externos, entre outras receitas indiretas. Além disso, os custos em 
segurança privada aumentaram 25,0% em dez anos, alcançando o faturamento recorde de 
R$32 bilhões em 2012, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Vigilância 
(ABREVIS), impactando nos custos de serviços e preço final de artigos comercializados, 
pressionando a inflação. 
 O fenômeno da criminalidade é um problema social, econômico e político de 
importância inquestionável. É um problema social, pois afeta a qualidade e expectativa de 
vida da população, é um problema econômico, pois limita o potencial de desenvolvimento das 
economias, e é um problema político, pois as ações necessárias para combater o crime 
envolvem a participação ativa dos governos e a alocação de recursos públicos escassos em 
detrimento de outros objetivos de políticas públicas. (ARAÚJO JR. e FAJNZYLBER, 2001) 
 Apesar dos estudos teóricos e da série de trabalhos empíricos, não se chegou a uma 
conclusão a respeito da melhor proposta de política pública de redução da criminalidade. 
Alguns pensadores políticos e autoridades competentes sugerem que o crime deve ser 
combatido com ênfase na repressão policial, o que não se mostra eficiente a partir de dados 
estatísticos e teste de significância, e outros argumentam que o comportamento criminoso é 
2 
um fenômeno oriundo das condições econômicas e sociais e que políticas devem ser 
desenvolvidas visando os seus determinantes. Desta forma, entender as causas da 
criminalidade seria fundamental para a correta formulação e implementação de políticas que 
permitiriam a prevenção e redução do crime e da violência. 
 O objetivo deste trabalho é, justamente, contribuir para o entendimento do fenômeno 
da criminalidade no Brasil, realizando uma extensa revisão bibliográfica e analisando,segundo o conceito econômico, o processo decisório individual que motiva um agente a 
ingressar na criminalidade. Para isso, além deste primeiro capítulo introdutório, este trabalho 
é composto por outros quatro. O segundo capítulo discorre sobre as teorias não econômicas 
sobre a criminalidade e analisa o que motiva um indivíduo a transgredir a ordem social e 
cometer um ato ilícito para satisfazer os seus desejos pessoais, a partir de estudos oriundos de 
diversas disciplinas como: biologia, psicologia, psiquiatria, criminologia, geografia, política, 
sociologia e direito. 
 No terceiro capítulo, é apresentado o referencial teórico sobre a teoria da escolha 
racional, a qual suporta as pesquisas empíricas e estudos econômicos sobre a criminalidade. É 
explicada e analisada a teoria econômica do crime, desenvolvida por Becker (1968) e as 
contribuições de Ehrlich (1973), Block e Heineke1 (1975 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 
2004), Eide2 (1994 apud BRENNER, 2001), Levitt (1996), entre outros, que interpretam a 
atividade criminosa como uma atividade econômica ilegal, e não, como uma atividade 
oriunda de patologias e/ou desvios sociais. Estes autores analisam o crime segundo a teoria 
racional da escolha individual, em que o indivíduo, compara as expectativas de lucro e de 
risco no mercado de trabalho legal e na atividade ilegal, crime. 
 No quarto capítulo, são apresentadas as contribuições, de cunho econômico, sobre as 
causas da criminalidade no Brasil a partir da revisão bibliográfica da literatura nacional. São 
destacados os estudos de autores como: Pezzin3 (1986 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), 
Andrade e Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida 
(2002), Cerqueira e Lobão (2003a), Lobo e Fernandez (2003), Almeida (2007), entre outros; 
assim como a metodologia e as variáveis utilizadas pelos mesmos. Por fim, no quinto 
capítulo, são resumidos os principais resultados encontrados nos estudos brasileiros sobre a 
criminalidade, é feito uma breve análise sobre a segurança pública no Brasil e são 
                                                            
1 BLOCK, M. K. e HEINECKE, J. M. A labor theoretic analysis of the criminal choice. American Economic 
Review, v.65, p.314-325, 1975. 
2 EIDE, E. Models of crime. University of Oslo. n.C1, Noruega, 1994. 
3 PEZZIN, L. Criminalidade urbana e crise econômica. São Paulo: IPE/USP, 1986. 
3 
determinadas as possíveis causas da criminalidade brasileira; imprescindível para formulação 
de políticas de contenção criminal, conforme Cerqueira e Lobão (2004): 
Do ponto de vista da intervenção pública para a manutenção da paz social, não 
importa conhecer a verdade. Importa, antes de mais nada, reconhecer se em uma 
determinada região há alguma regularidade estatística entre aqueles fatores 
criminogênicos [sic], concretos (presença de armas, drogas etc.), ou imaginários 
(supervisão familiar, reconhecimento etc.), e, além disso, saber se o Estado possui 
instrumentos para intervir nessa regularidade, direta ou indiretamente, com a 
participação da própria sociedade. As teorias de causação [sic] do crime, ao 
lançarem luz sobre determinadas variáveis e sua epidemiologia, permitem que o 
planejador do Estado escolha dentre inúmeras variáveis aquelas que supostamente 
devem ser as mais importantes. Os modelos empíricos, ao detalharem a metodologia 
de aferição, possibilitam a centralização das atenções e dos escassos recursos 
públicos em algumas poucas variáveis, que podem não explicar uma verdade 
universal, mas interferem decisivamente (com maior probabilidade) na dinâmica 
criminal daquela região onde se quer intervir. (2004, p.234) 
 Sendo assim, ao explorar e identificar quais variáveis são mais significantes ao 
processo decisório de ingresso na criminalidade, é possível traçar o perfil criminológico 
brasileiro e determinar as características socioeconômicas que motivam à ilegalidade, 
permitindo a elaboração de política mais eficiente para redução dos crimes motivados por 
fatores econômicos como: tráfico de drogas, furto e roubo, crimes estes responsáveis por 
71,2% dos aprisionamentos no Brasil, segundo dados de 2012 do Departamento Penitenciário 
Nacional (DEPEN). 
4 
CAPÍTULO 2 – TEORIAS SOBRE A CRIMINALIDADE 
 Este capítulo discorre sobre as teorias não econômicas sobre a criminalidade e analisa 
o que motiva um indivíduo a transgredir a ordem social, cometendo um ato ilícito para 
satisfazer os seus desejos pessoais. 
 Diversos autores, de diversas épocas diferentes, elaboraram estudos para entender o 
comportamento criminoso, o qual pode ser explicado por diversas disciplinas como: biologia, 
psicologia, psiquiatria, criminologia, geografia, política, sociologia, direito e economia. 
Segundo Cano e Soares4 (2002 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004) é possível separar as 
disciplinas sobre as causas do crime em cindo grupos distintos: 
a) teorias que tentam explicar o crime em termos de patologia individual; b) teorias 
centradas no homo economicus [sic], isto é, no crime como uma atividade racional 
de maximização do lucro; c) teorias que consideram o crime como subproduto de 
um sistema social perverso ou deficiente; d) teorias que entendem o crime como 
uma conseqüência [sic] da perda de controle e da desorganização social na 
sociedade moderna; e) correntes que defendem explicações do crime em função de 
fatores situacionais ou de oportunidades. (2004, p.236) 
 Lombroso5 (1968 apud BRENNER, 2001), buscou, nas disciplinas biológicas, 
psicológicas e psiquiátricas, determinar a causa geral que explica o comportamento criminoso 
e as formas de erradicação da criminalidade, como uma doença. Outros autores se basearam 
nas disciplinas políticas e sociológicas, relacionando o crime com o aprendizado, controle e 
desorganização social, teorias com grande robustez empíricas e contributivas ao tema. 
 No que tange o ramo do direito, Smith (1988), em sua obra magna A riqueza das 
nações, foi um dos primeiros autores a desenvolver uma análise sobre o crime segundo os 
direitos de propriedade individual. Ele afirmou que o principal propósito do governo é a 
manutenção da justiça, como forma de evitar que os membros da sociedade roubem a 
propriedade alheia e tomem para si o que não lhes pertence, dando a cada indivíduo a posse 
assegurada de sua propriedade. Essa definição legal sobre o crime é aceita até hoje, pois, 
segundo Brenner (2001), crime por definição é [...] “um ato de transgressão de uma lei 
vigente na sociedade. A sociedade define, através de seus representantes, o que é um ato 
ilegal via legislação e pela prática do Sistema de Justiça Criminal.” (2001, p.32) 
                                                            
4 CANO, I. e SOARES, G. D. As Teorias sobre as Causas da Criminalidade. Rio de Janeiro, IPEA. Manuscrito, 
2002. 
5 LOMBROSO, C. Crime, its Causes and Remedies (Traduzido para o inglês por H. P. Horton, N. J. Montclair e 
S. Patterson), 1968. 
5 
 Analisando o crime pela disciplina econômica, Becker (1968) se destaca como o 
principal e precursor dessa linha de análise sobre a criminalidade. Ele elaborou um modelo 
microeconômico onde os indivíduos decidem se irão cometer um ato criminoso, ou não, 
segundo escolhas racionais oriundas de cálculos entre seus custos e benefícios. 
Gary Becker (1968), com o artigo seminal Crime and Punishment: An Economic 
Approach, impôs [sic] um marco à abordagem sobre os determinantes da 
criminalidade ao desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso decorreria 
de uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos esperados aí envolvidos, 
comparados aos resultados da alocação do seu tempo no mercado de trabalho legal. 
Basicamente, a decisão de cometer ou não o crime resultaria de um processo de 
maximizaçãode utilidade esperada, em que o indivíduo confrontaria, de um lado, os 
potenciais ganhos resultantes [sic] da ação criminosa, o valor da punição e as 
probabilidades de detenção e aprisionamento associadas e, de outro, o custo de 
oportunidade de cometer crime, traduzido pelo salário alternativo no mercado de 
trabalho. (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, p.247) 
 Entretanto, mesmo a teoria econômica da escolha racional, oriunda dos estudos de 
Becker (1968), a qual será devidamente detalhada no terceiro capítulo desta monografia, não é 
autossuficiente e apresenta lacunas que devem ser preenchidas com análises sobre o 
comportamento humano. Por mais que a ciência econômica já tenha avançado nos estudos 
sobre a criminalidade, ainda são necessárias observações de outras disciplinas, supracitadas, 
para se entender as motivações e as causas do ato criminoso. Becker (1968) destaca que 
outras variáveis devem ser consideradas na escolha do indivíduo entre o mundo do crime e 
mercado legal de trabalho como: idade, nível de educação, riqueza, antecedentes criminais, 
nível de inteligência e criação recebida pela família. 
 Desta forma, serão apresentadas, a seguir, as teorias que contribuem para o 
esclarecimento do comportamento humano e identificar, a partir de uma breve revisão 
bibliográfica sobre o tema, quais são as variáveis que devem ser levadas em consideração na 
escolha do indivíduo entre o crime, a ilegalidade, e o mercado de trabalho, a legalidade. 
 
2.1 Teorias das patologias individuais 
 Uma das primeiras teorias desenvolvidas para se explicar a criminalidade, foi a teoria 
das patologias individuais. Segundo esta teoria, o indivíduo com características genéticas 
específicas são mais propensos a cometer um crime, partindo do princípio que alguns 
indivíduos já nascem sendo criminosos em potenciais. 
6 
 Esta teoria foi formulada a partir dos estudos de Lombroso6 (1968 apud BRENNER, 
2001), médico-cirurgião e cientista que adicionou às pesquisas legais sobre a criminalidade, 
estudos científicos psicológicos e psiquiátricos, onde [...] “criminosos seriam um tipo de 
indivíduo inferior, que se caracterizaria por desordens mentais, alcoolismo, neuroses, entre 
outras particularidades” (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, p.237) e biológica, [...] “na qual a 
formação óssea do crânio e o formato as orelhas, entre outras características, constituíram 
indicadores da patologia criminosa.” (ibidem, p.237), dando ao indivíduo criminoso uma 
constituição física e características mentais distintas, como testas e/ou mandíbulas avantajadas 
e baixa inteligência. 
 Entretanto, estudos sobre a criminalidade, com base em dados estatísticos, 
demonstraram que doenças e singularidades psicológicas não são representativas como causa 
de ocorrência criminal, conforme afirmado por Eide7 (1994 apud BRENNER, 2001): 
Cleptomania pode ser um sintoma de neurose compulsiva, mas seguramente só uma 
parte muito pequena dos furtos, podem [sic] ser atribuídos a esta doença. A calúnia 
pode estar relacionada com mania de perseguição, e desvios de conduta sexual, 
podem levar à realização de agressões nesta área, mas muitos crimes deste tipo são 
também realizados por pessoas normais. (2001, p.155) 
 Após estudos e pesquisas demonstrarem que não há nenhuma diferença significativa 
entre indivíduos criminosos e não criminosos, essa teoria perdeu força e abriu espaço para 
estudos nas áreas da neurobiologia do crime e a biologia social, que relacionam características 
bio-psicológicas do indivíduo criminoso à sua vida e relações sociais, ou segundo Cano e 
Soares8 (2002 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004): 
[...] Por esta visão, o crime, particularmente o homicídio, decorreria da necessidade 
consciente ou inconsciente do indivíduo de preservar sua linha genética. Essa 
hipótese explicaria por que haveria maiores taxas de filicídios ou de abusos de 
crianças por pais que não os biológicos. (2004, p.237) 
 Há um consenso entre os estudiosos da criminologia que, além das disfunções e 
desvios dos indivíduos criminosos, aspectos sociais e culturais são fundamentais para se 
determinar o que motiva um indivíduo a cometer um ato criminoso, e é por este caminho que 
teorias mais atuais vêm sendo desenvolvidas. 
 
                                                            
6 LOMBROSO, C. Crime, its Causes and Remedies (Traduzido para o inglês por H. P. Horton, N. J. Montclair e 
S. Patterson), 1968. 
7 EIDE, E. Models of crime. University of Oslo. n.C1, Noruega, 1994. 
8 CANO, I. e SOARES, G. D. As Teorias sobre as Causas da Criminalidade. Rio de Janeiro, IPEA. Manuscrito, 
2002. 
7 
2.2 Teoria da desorganização social 
 A teoria da desorganização social é uma teoria bem mais complexa do que a teoria das 
patologias individuais, pois não leva apenas em consideração o indivíduo, mas todo o 
ambiente social que o cerca. O processo de socialização e formação cultural é o que forma o 
caráter, virtude, moral e ética do indivíduo, e, segundo esta teoria, a criminalidade seria 
resultado de falhas ou desarranjos na organização das redes familiares, sócio-educativas e de 
amizades, que desvirtuariam e impediriam a correta formação social do indivíduo. Uma 
melhor definição desta teoria seria: 
Trata-se de uma abordagem sistêmica cujo enfoque gira em torno das comunidades 
locais, sendo estas entendidas como um complexo sistema de redes de associações 
formais e informais, de relações de amizade, parentesco e outras que, de alguma 
forma, contribuam para o processo de socialização e aculturação do indivíduo. Essas 
relações seriam condicionadas por fatores estruturais, como status econômico, 
heterogeneidade étnica e mobilidade residencial. Além destes, a teoria tem sido 
estendida [sic] para comportar outras variáveis, como fatores de desagregação 
familiar e urbanização. (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, p.238) 
 No que tange as redes familiares, os desarranjos e desestruturação dessa rede podem 
ser causados pela: ausência da mãe e/ou do pai, a falta de supervisão ou orientação dos 
responsáveis, tratamento violento ou ríspido aos filhos e a falta de imposição de limites; [...] 
“questões de educação familiar inadequada (famílias grandes demais, existência de parentes 
criminosos, falta de apego com os pais, má criação educacional, etc.) tem poder de influenciar 
na conduta futura [...] podendo resultar na formação de um criminoso contumaz.” 
(BRENNER, 2001, p.235) 
 No que tange a formação educacional, há uma relação evidente entre o abandono 
escolar e a criminalidade. A falta de educação e de orientação na escola pode causar uma 
difícil socialização, falta de disciplina, rebeldia e frustrações com os resultados obtidos, 
baixos salários e estagnação profissional, ocasionados pela baixa escolaridade e pela falta 
qualidades pessoais necessárias para o mercado de trabalho legal; o que incentiva o indivíduo 
a buscar fontes ilegais de renda para satisfazer suas aspirações pessoais. Para alguns autores, a 
adesão escolar deve ser incentivada como forma de diminuir a criminalidade e garantir um 
futuro melhor ao jovem em formação, como destaca Brenner (2001) em sua obra: 
Nas escolas, talvez devam ser pensadas soluções alternativas para os que não de 
adaptam, que deem [sic] menos ênfase ao volume de conteúdo e dediquem mais 
tempo ao esporte, de uma maneira mais próxima ao nível profissional, para de 
alguma forma, redundar em uma profissão futura, ou mesmo simplesmente 
8 
desenvolver mais disciplina e dedicação para alcançar um objetivo nobre a médio 
prazo. (2001, p.247) 
 Teorias baseadas em interações sociais são amplamente estudadas e têm apresentado 
resultados favoráveis em análises empíricas sobre taxas de criminalidade, pois os fatores que 
vêm apresentando estatísticas significativas, emordem de significância, são: a desagregação 
familiar, taxa de urbanização, idade, desigualdade e baixo nível educacional. 
 
2.3 Teoria do estilo de vida 
 Diferentemente das teorias supracitadas, a teoria do estilo de vida não analisa 
diretamente as motivações e o comportamento individual, mas sim, o indivíduo em si; melhor 
dizendo, analisa o estilo de vida do indivíduo, seus hábitos e rotinas, tanto por parte do 
criminoso quanto da vítima. 
 Pela ótica da vítima, as oportunidades oferecidas que influenciam o criminoso e a 
própria vitimização do indivíduo, dependem de variáveis como: capacidade de proteção 
pessoal, natureza do delito, atrativos aparentes das vítimas, nível de exposição à riscos e a 
proximidade da vítima ao agressor. Dessa forma, quanto maiores as facilidades oferecidas 
pela vítima em potencial, também serão maiores as chances de um criminoso em potencial 
cometer um delito. Segundo Cerqueira e Lobão (2004): 
Essa abordagem assume como hipótese implícita a existência de três elementos: uma 
vítima em potencial, um agressor em potencial e uma tecnologia de proteção ditada 
pelo estilo de vida da vítima em potencial. Nesse caso, quanto maior a provisão de 
recursos por proteção, maiores os custos de se perpetrar o crime e menores as 
oportunidades para o agressor. (2004, p.240) 
 Pela ótica do criminoso, segundo Gonçalves e Vieira (2005), devem ser analisadas as 
condições pessoais e sociais que aumentam a predisposição para uma vida criminosa, 
irresponsável e violadora de regras sociais, como: a necessidade constante de estímulos e 
sensações, a escolha por um estilo de vida antissocial, a auto-desculpabilização (utilizando 
justificações irrelevantes para os atos cometidos), o curto-circuito (afastando e eliminando 
emoções), a permissividade, o controlo do meio, o sentimentalismo (aparentando ser boa 
pessoa e ter qualidades), o super otimismo (tendo uma visão irreal dos seus atributos e da 
capacidade de evitar as consequências das suas ações), a indolência cognitiva (procurando 
comportar-se segundo a lei do mínimo esforço) e a inconsistência (agindo com falta de 
9 
perseverança para efetuar qualquer tarefa que exija esforço). Alguns exemplos foram 
destacados pelos autores Gonçalves e Vieira (2005): 
O estilo de vida de um criminoso caracteriza-se pela irresponsabilidade na escola, no 
trabalho e em casa, a que se alia uma propensão para o envolvimento em atividades 
marcadas pela indiferença, a desinibição, a impulsividade e a auto-
desresponsabilização [sic], tais como o abuso de álcool e drogas, a promiscuidade 
sexual, o vício do jogo e a ostentação de tatuagens. Este retrato completa-se com o 
início precoce na violação de normas, regras e costumes sociais, para além de 
ofensas persistentes aos direitos e à dignidade das outras pessoas. De acordo com a 
maior ou menor presença de distorções cognitivas e a forma como estas se 
“encaixam” irá predominar um estilo de criminal em detrimento de outros ou, nos 
casos mais problemáticos, podem co-existir [sic] mais do que um senão todos os 
estilos, (2005 p. 83) 
 A teoria do estilo de vida é utilizada em trabalhos empíricos baseados em pesquisas de 
vitimização. Entretanto, como esta teoria se baseia apenas no estilo de vida do indivíduo, algo 
discricionário e sem um padrão definido, não ficam evidentes as causas que levam alguns 
indivíduos a escolher uma vida criminosa e muito menos como essa atitude ilegal pode se 
difundir na sociedade. Essa falta de padrão comportamental impede a elaboração de políticas 
de segurança pública aplicáveis, pois seria uma agressão à constituição e à liberdade 
individual impor um estilo de vida padrão e socialmente aceito, como forma de controle do 
crime. 
 
2.4 Teoria do aprendizado social 
 Diferentemente das teorias abordadas anteriormente, segundo Sutherland9 (1973 apud, 
Cerqueira e Lobão, 2004), a teoria do aprendizado social analisa o processo de determinação 
do comportamento, favoráveis ou desfavoráveis ao crime, baseado em experiências 
individuais, a partir de interações entre familiares, amigos e da comunidade que cerca o 
indivíduo. 
 Os efeitos dessa interação social são indiretos e suas influências são captadas pela 
variável determinação favorável do crime (DEF) que não pode ser determinada diretamente e, 
sim, como resultado de uma série de outras variáveis: [...] “grau de supervisão familiar; 
intensidade de coesão nos grupos de amizade; existência de amigos que foram, em algum 
momento, pegos pela polícia; percepção dos jovens acerca de outros jovens na vizinhança que 
                                                            
9 SUTHERLAND, E. H. “Development of the Theory”, in K. Schuessler (ed.), Edwin Sutherland on Analyzing 
Crime. Chicago, IL, Chicago University Press, p. 30-41, 1973 
10 
se envolvem em problemas; e se o jovem mora com os pais.” (CERQUEIRA e LOBÃO, 
2004, p.241) 
 De acordo com estudos empíricos recentes relacionados à teoria do aprendizado social 
os fatores que mais influenciam os indivíduos, principalmente os jovens em formação, a 
cometer crimes são: estrutura familiar desagregada, baixo nível educacional, falta de 
oportunidades, problemas na vida profissional, convívio em focos de conflitos, tensão social e 
a existência de parentes e/ou amigos presos. Essa influência pode ser observada nos estudos 
de Thornberry10 (1996 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004) que evidencia a forte relação 
entre o comportamento criminoso do indivíduo e a amizade deste com grupos delinquentes, o 
que confirma a importância desta teoria para a compreensão do comportamento criminoso. 
 A seguir, de encontro com as teorias expostas até este item, são apresentadas teorias 
que tentam explicar por que alguns indivíduos se abstêm de cometer delitos, seja por razões 
individuais ou pelo controle da sociedade. 
 
2.5 Teoria do controle social 
 Ao contrário das teorias anteriores, que tinham como objetivo explicar o que leva os 
indivíduos a cometerem crimes, atuando de forma ilegal e não acatando as normas estipuladas 
pela sociedade, através da legislação e da prática do sistema de justiça criminal, a teoria do 
controle social analisa porque alguns indivíduos se abstêm de cometê-los. 
 Segundo Cerqueira e Lobão (2004) os elementos dissuasivos, ou elementos que 
incentivam o indivíduo a não cometer um crime e agir conforme os padrões sociais, seria a 
ligação, o envolvimento, que o indivíduo em questão tem com a própria sociedade ou a crença 
e concordância desse indivíduo com o trato ou acordo social; [...] “quanto maiores forem os 
seus elos com a sociedade e maiores os graus de concordância com os valores e normas 
vigentes, menores seriam as chances de esse ator se tornar um criminoso.” (2004, p.242) 
 Para Viapiana (2006), o comportamento criminoso das pessoas pode ser freado pelas 
sanções legais ou extralegais. Da mesma forma, Cerqueira e Lobão (2004) afirmam que a 
formação moral e religiosa dos indivíduos, nível educacional, vínculos familiares e 
comunitários servem como freios ao cometimento de crimes, segundo a ótica das sanções de 
                                                            
10 THORNBERRY, T. P. “Empirical Support for Interactional Theory: A Review of the Literature”, in J. D. 
Hawkins (ed.), Some Current Theories of Crime and Deviance. New York, Cambridge University Press, p. 198-
235, 1996. 
11 
natureza extralegal; e o efeito dissuasão, sob o aspecto legal, depende da eficácia das ações 
policiais e da justiça na detenção e contenção dos criminosos. 
 
2.6 Teoria do autocontrole 
 A teoria do autocontrole, desenvolvido por Gottfredson e Hirschi11 (1990 apud 
VIAPIANA, 2006), afirma que o comportamento desviante de um indivíduo criminoso é 
resultadode falhas que ocorreram no sistema de controle social, teoria elucidada 
anteriormente. 
 O indivíduo criminoso apresenta um comportamento irregular, pois não desenvolveu 
mecanismos psicológicos de autocontrole na infância até o início da adolescência, entre dois e 
treze anos de idade, devido às falhas de imposição e instrução de limites, educação e condutas 
ético-morais, durante a fase de formação. 
[...] Tal “anormalidade” decorreria de deformações no processo de socialização da 
criança, motivadas pela ineficácia na conduta educacional ministrada pelos pais, que 
falharam em não impor limites e estabelecer limites à criança, seja por conseqüência 
[sic] da falta de uma supervisão mais próxima, ou seja, por negligenciar eventuais 
faltas de comportamento da criança, não impondo relativas punições à mesma, 
endossando assim o seu comportamento egoísta. (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, 
p.243) 
 O indivíduo que não desenvolveu de forma correta os mecanismos psicológicos de 
autocontrole na infância torna-se um adulto impulsivo, com baixo autocontrole, com 
tendência a cometer atos ilegais para obtenção de bens e benefícios desejados de longo e/ou 
curto prazo. A diferença entre o indivíduo com e sem a formação correta do autocontrole é 
justamente a forma e os atos cometidos para suprir seus desejos. Enquanto os indivíduos, com 
autocontrole, desenvolvem habilidades através da educação e do esforço próprio, outros 
indivíduos, sem autocontrole, não conseguem esperar esse tempo de desenvolvimento e 
preferem obter os benefícios de forma mais rápida e fácil, agindo de forma ilegal e cometendo 
atos criminosos. Para Viapiana (2006): 
O ponto central da teoria do autocontrole é que existe um elemento comum em todos 
os atos desviantes e/ou crimes, sejam eles leves ou graves, que consiste 
precisamente na existência de um agressor não contido, disposto a correr o risco de 
arcar com custos de longo prazo em troca de benefícios pessoais imediatos. Não 
                                                            
11 GOTTFREDSON, D. C. e HIRSCHI, T. A General Theory of Crime. Stanford, CA, Stanford University Press, 
1990. 
12 
existe diferença nos benefícios desejados; afinal, todos almejam as mesmas coisas – 
dinheiro, poder, bens materiais, sexo, enfim. (2006, p.109) 
 Falhas no processo de formação do indivíduo podem resultar na criação de um 
criminoso em potencial. A teoria do autocontrole analisa o crime como consequência da 
ausência do controle social na fase da infância e pré-adolescência, sendo assim, programas de 
apoio à criança, seja na instituição familiar ou escolar, pode ser uma forma eficiente para a 
diminuição das taxas de criminalidade. 
 
2.7 Teoria da anomia 
 A teoria da anomia, que significa ausência ou inexistência de normas ou leis (do grego 
anomos + omos) é uma das mais tradicionais e estudadas explicações a respeito do 
comportamento criminoso. Essa teoria foi elaborada por Durkheim (2002), afirmando que o 
crime é um fenômeno essencialmente social e não patológico, pensamento comum da época, e 
ocorre quando há o rompimento da consciência coletiva, normas, costumes e crenças da qual 
a Lei e o Estado devem ser os guardiões, ocorrendo a perda da regulação social e abrindo 
espaço para condutas ilegais. Nas palavras do próprio autor: 
[...] a gênese e o crescimento da anomia é resultante de um processo em movimento 
e não simplesmente como uma condição que ocasionalmente surge. Devido à sua 
posição objetivamente desvantajosa no grupo, assim como as diferentes 
configurações de personalidade, alguns indivíduos são sujeitos, mais do que outros, 
às tensões que surgem da discrepância entre os objetivos culturais e os meios 
efetivos para a sua realização. Conseqüentemente [sic], eles são mais vulneráveis ao 
comportamento desviado. Em alguma proporção de casos, também dependentes da 
estrutura de controle do grupo, esses afastamentos das normas institucionais são 
socialmente recompensados pelo bom “êxito” de alcançar as metas. Porém, estes 
modos desviados de alcançar os objetivos ocorrem dentro de sistemas sociais. Em 
conseqüência [sic], o comportamento desviado afeta não somente os indivíduos que 
primeiramente se laçam a ele, mas, de certo modo, afetam também outros indivíduos 
com quem eles somente se interrelacionam [sic] no sistema. Uma freqüência [sic] 
crescente de comportamento desviado, mas “bem sucedido”, tende a diminuir e, até 
mesmo, como possibilidade extrema, a eliminar a legitimidade das normas 
institucionais para os demais componentes do sistema. O processo aumenta assim a 
extensão da anomia dentro do sistema, de modo que outros indivíduos sob forma de 
comportamento desviado à leve anomia, que a princípio prevalecia, chegam assim a 
proceder, quando a anomia se espalha e é intensificada. Isto, por sua vez, cria uma 
situação mais agudamente anômica [sic], para outros indivíduos do sistema social, 
que de inicio seriam menos vulneráveis. Desta forma, a anomia e as proporções 
crescentes de comportamento desviado podem ser concebidas como interatuantes 
[sic], num processo de dinâmica social e cultural, com conseqüências [sic] 
13 
cumulativamente destruidoras da estrutura normativa, a menos que entrem em jogo 
mecanismos de controle e de retenção. (2002, p. 255) 
 A partir da ideia de Durkheim (2002), Merton12 (1938 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 
2004) desenvolveu uma teoria, adicional à teoria da anomia original, de que o indivíduo é 
motivado a cometer um ato criminoso, dada a sua própria impossibilidade, real ou fictícia, de 
conseguir bens e atingir metas desejadas por ele, como, por exemplo, o sucesso econômico e 
social. Dada a complexidade do tema, Cerqueira e Lobão (2004), dividiram a teoria em três 
perspectivas diferentes, conforme a citação abaixo: 
[...] A necessidade de operacionalizar essa teoria, ou de elaborar variáveis ou 
questões que traduzam o sentido da mesma, fez com que surgissem três perspectivas 
distintas quanto à sua aferição, que encaram a questão a partir de: a) diferenças das 
aspirações individuais e os meios econômicos disponíveis, ou expectativa de 
realização; b) oportunidades bloqueadas; e c) privação relativa. (2004, p.245) 
 Analisando cada uma dessas perspectivas, é entendido que: a primeira (diferenças das 
aspirações individuais e os meios econômicos disponíveis, ou expectativa de realização) 
analisa o processo de anomia como resultado da diferença entre as aspirações individuais 
versus expectativas reais; a segunda (oportunidades bloqueadas) o indivíduo acredita que não 
consegue alcançar o sucesso social-econômico por razões que não consegue controlar; e a 
terceira (privação relativa) enfatiza a distância entre o ideal de sucesso da sociedade, onde 
alguns alcançam, e a realidade vivida pelo indivíduo, que se torna extrema e considerada de 
muita importância. 
 Essa teoria, mesmo tendo quase cem anos, é bem atual, pois pode ser aplicada sobre a 
sociedade moderna para explicar porque determinados membros da sociedade como, em geral 
os que pertencem às classes de menor poder aquisitivo, estão mais propensos a cometer 
crimes. A sociedade atual supervaloriza a riqueza material e o estilo de vida como símbolos 
do sucesso, mas por outro lado, há falhas de acesso como: condições desiguais de acessos aos 
meios legítimos para atingir objetivos pessoais e distribuição de oportunidades extremamente 
desiguais. 
 São justamente esses diferenciais e frustrações decorrentes da defasagem entre desejos 
individuais, os meios socialmente existentes para satisfazê-los e as divergências sociais 
existentes, que instigam alguns membros da sociedade a efetuar atos ilícitos para preencher 
essas lacunas, promovendo o aumento da criminalidade principalmente em áreas urbanas e 
com desigualdades de todosos tipos. 
                                                            
12 MERTON, R. K. “Social Structure and Anomie”. American Sociological Review, vol. 3, p. 672-682, 1938. 
14 
2.8 Teoria interacional 
 Thornberry13 (1996 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004) desenvolveu essa teoria 
utilizando uma abordagem dinâmica, causas e consequenciais simultâneas e recíprocas que 
ocorrem ao longo do tempo, para explicar o comportamento criminoso, diferentemente das 
outras teorias que interpretam esse comportamento como um conjunto de processos sociais 
unilaterais. 
 Para analisar essa teoria e detalhá-la melhor, Entorf e Spengler14 (2002 apud 
CERQUEIRA e LOBÃO, 2004) [...] “destacam que há dois elementos importantes 
sustentando essa abordagem: a perspectiva evolucionária e os efeitos recíprocos.” (2004, 
p.247). Sob a perspectiva evolucionária, o crime não é constante na vida do indivíduo, e sim, 
irregular, com fases: inícialmente, em torno dos doze ou treze anos de idade, meio, por volta 
dos dezesseis e dezessete anos e fim, por volta dos 30 anos de idade. O período intermediário, 
entre os dezesseis ou dezessete anos, é a fase mais importante, pois é quando o indivíduo 
intensifica o seu envolvimento com as atividades criminosas. Os efeitos recíprocos referem-se 
à própria dinamicidade da teoria, pois analisa causas e efeitos de forma mútua, ou melhor, [...] 
“dizem respeito às virtuais endogeneidades das variáveis explicativas entre si e delas com 
relação ao que se deseja explicar.” (ibidem, p.247) 
 Essa teoria, se baseia nas teorias da associação diferencial e do controle social, pois 
utilizam as mesmas variáveis para explicar as causas da criminalidade e seus agentes 
propulsores, como: laços afetivos com os pais, desempenho escolar, envolvimento social, 
ligação com grupos criminosos, imposição de limites por parte dos pais, entre outros. 
 Assim como as outras teorias revisadas neste capítulo, a teoria interacional analisa o 
ato criminoso segundo uma ótica social e segundo patologias e desvios comportamentais do 
indivíduo. No próximo capítulo, será analisada a criminalidade segundo uma ótica econômica, 
onde o indivíduo, não necessariamente dotado de patologias e de desvios de ordem social, 
avalia racionalmente os benefícios, custos e riscos esperados da ação criminosa, comparando 
aos resultados da alocação do seu tempo no mercado de trabalho legal. 
                                                            
13 THORNBERRY, T. P. “Empirical Support for Interactional Theory: A Review of the Literature”, in J. D. 
Hawkins (ed.), Some Current Theories of Crime and Deviance. New York, Cambridge University Press, p. 198-
235, 1996. 
14 ENTORF, H. e SPENGLER, H, “Socioeconomic and Demographic Factors of Crime in Germany: Evidence 
from Panel Data of the German States”. International Review of Law and Economics, vol. 20, p. 75-106, 2000. 
15 
CAPÍTULO 3 – TEORIA ECONÔMICA DO CRIME 
 Diferentemente das teorias abordadas no capítulo anterior, a teoria econômica do 
crime analisa a atividade criminosa como uma atividade econômica ilegal, e não, como uma 
atividade oriunda de patologias e/ou desvios sociais. 
 Este capítulo discorre sobre as principais teorias elaboradas para determinar a 
criminalidade a partir de pressupostos econômicos, preconizadas pelo modelo de Becker 
(1968) e incrementadas pelas contribuições posteriores de Ehrlich (1973), Block e Heineke15 
(1975 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Eide16 (1994 apud BRENNER, 2001), Levitt 
(1996), entre outros. 
 
3.1 Modelo de Gary Becker 
 Becker (1968) foi um dos primeiros estudiosos a estudar o crime como uma atividade 
puramente econômica. O crime pode ser definido como: 
Although the word ‘crime’ is used in the title to minimize terminological 
innovations, the analysis is intended to be sufficiently general to cover all violations, 
not just felonies – like murder, robbery, and assault, which receive so much 
newspaper coverage – but also tax evasion, the so-called white-collar crimes, and 
traffic and other violations. Looked at this broadly, ‘crime’ is an economically 
important activity or ‘industry’, notwithstanding the almost total neglect by 
economists. (BECKER, 1968, p.170) 
 Em seu artigo Crime and Punishment: An Economic Approach, Becker (1968) 
desenvolveu um modelo teórico microeconômico sobre a criminalidade, onde a decisão de 
cometer ou não um crime era tomada pelo indivíduo a partir dos benefícios e custos esperados 
do ato criminoso em comparação aos ganhos da alocação de seu tempo no mercado de 
trabalho legal. 
 Segundo esta teoria, o indivíduo se comporta como um maximizador racional e 
comete um crime somente se a utilidade esperada de uma atividade ilegal exceder a utilidade 
que obteria se empregasse seu tempo e seus recursos em uma atividade legal, fazendo a 
escolha com o maior retorno. O agente econômico é, na verdade, egoísta e racional, e visa à 
maximização da utilidade, prazer, e a minimização de seus custos, sofrimentos. Os criminosos 
                                                            
15 BLOCK, M. K. e HEINECKE, J. M. A labor theoretic analysis of the criminal choice. American Economic 
Review, v.65, p.314-325, 1975. 
16 EIDE, E. Models of crime. University of Oslo. n.C1, Noruega, 1994. 
16 
em potencial atribuem um valor monetário ao crime, e comparam este valor ao custo 
monetário envolvido na realização do mesmo, que inclui os custos de planejamento e 
execução, o custo esperado de serem detidos e condenados, e o custo de oportunidade, isto é, 
a renda que não obterão enquanto estiverem fora do mercado de trabalho legal. Para Becker 
(1993) a racionalidade existente na teoria econômica do crime [...] “implies that some 
individuals become criminals because of the financial and other rewards from crime 
compared to legal work, taking account of the likelihood of apprehension and conviction, and 
the severity of punishment.” (1993, p.390) 
 O comportamento criminoso é, na verdade, um comportamento humano em situação 
de escassez, onde os indivíduos têm desejos que podem ser satisfeitos cometendo crimes, o 
que implica em custos como o risco de ser capturado e punido (BALBINOTTO, 2003). Nesse 
sentido, a teoria econômica utilitarista do crime, substitui a teoria das patologias individuais, 
dos desvios psicológicos e da anomia por uma teoria puramente econômica, onde o crime é 
uma atividade como outra qualquer, onde o agente faz uma escolha econômica e busca 
maximizar os seus ganhos. 
 Para formular a teoria econômica do crime, Becker (1968) une a teoria do bem-estar 
com a do problema do agente-principal, onde a sociedade é o principal, os criminosos são os 
agentes, e o problema, previsto na teoria, é que os objetivos do principal e dos agentes são 
divergentes. Os criminosos possuem desejos ilimitados e a sociedade dispõe de recursos 
limitados, o que causa o conflito de objetivos entre o principal e o agente, que é intensificado 
pela impossibilidade do principal saber o comportamento dos agentes, dada as falhas de 
mercados existentes pela assimetria de informações. 
 O modelo de Becker (1968), conhecido como rational criminal model (RCM), não 
leva em consideração questões éticas e/ou morais, pressupondo que as pessoas são criminosas 
em potencial, indivíduos racionais que fazem escolhas e estão sujeitos a comparações entre 
ganhos e custos esperados, com o resultado incerto de sucesso ou de condenação. Pela teoria 
econômica racional do crime, algumas pessoas se tornam criminosas por questão de escolhas 
individuais, pois seus ganhos e custos são diferentes das demais. O autor aborda o crime 
como uma atividade econômica como qualquer outra, tendo como única diferença a sua 
ilegalidade e os elevados custossociais, e a decisão de investir ou cometer um crime depende 
das expectativas de retorno. 
 Para calcular a utilidade esperada e entender melhor quais são os fatores levados em 
consideração ao se planejar um ato criminoso, é utilizada a equação utilitarista do modelo, 
desenvolvida por Becker (1968): 
17 
EUi = pi Ui(Yi - fi) + (1 − pi)·Ui(Yi) 
 Onde EUi é a função utilidade do indivíduo; pi é a probabilidade do indivíduo de ser 
encontrado e condenado; Yi é o rendimento monetário do crime e fi são as punições no caso do 
indivíduo ser preso e condenado. Segundo a equação do modelo, se o rendimento monetário 
do crime Yi for superior que a probabilidade do indivíduo ser descoberto, condenado e punido 
pelo ato criminoso pi e fi, a utilidade esperada EUi será positiva e o indivíduo, teoricamente, 
escolheria cometer um crime e atuar na ilegalidade. Nas palavras do próprio autor: 
[...] Both pj and fj might be considered distributions that depend on the judge, jury, 
prosecutor, etc., that j happens to receive. Among other things, Uj depends on the p's 
and f's meted out for other competing offenses. For evidence indicating that 
offenders do substitute among offenses, see Smigel (1965)The utility expected from 
committing an offense is defined as EUj = pjU(Yj -fj) + (1 -pj)Uj (Yj), where Yj is 
his income, monetary plus psychic, from an offense; Uj is his utility function; and fj 
is to be interpreted as the monetary equivalent of the punishment. Then […] as long 
as the marginal utility of income is positive. One could expand the analysis by 
incorporating the costs and probabilities of arrests, detentions, and trials that do not 
result in conviction. (BECKER, 1968, p.177) 
 O modelo teórico microeconômico contido nesta teoria aborda a escolha do indivíduo 
maximizador de utilidade esperada frente a duas situações distintas e opostas: de um lado os 
ganhos potenciais de um ato criminoso e a probabilidade de punição, e de outro, o custo de 
oportunidade de praticar o ato criminoso, medido pela renda obtida no mercado de trabalho 
legal. Se a vantagem esperada for maior que o risco, medida pela probabilidade de ser pego e 
condenado, o agente racional irá cometer o crime, caso contrário, se o valor da punição do ato 
for elevado e o risco do crime superar os ganhos potenciais, a decisão racional será por não 
cometer do crime. A análise sobre a decisão de cometer um ato criminoso pode ser comparada 
à decisão de investimento quanto à análise de riscos, possibilidade de ganhos e posição do 
indivíduo à exposição ao risco. 
 Segundo esta abordagem, o criminoso em potencial calcula os possíveis ganhos da 
atividade ilegal e os compara com os ganhos reais no mercado legal e sua disposição para 
cometer um crime, segundo o seu nível de exposição ao risco. Desta forma, se a renda no 
mercado de trabalho legal for inferior aos custos-benefícios e a probabilidade de ser pego e 
condenado for menor que o risco que ele está disposto a correr, o indivíduo irá optar pelo 
crime como forma de obtenção de renda. 
 Com a finalidade de tornar mais simples e objetiva o entendimento sobre a teoria 
econômica do crime de Becker (1968), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) elaboraram uma 
equação que resume e identifica as variáveis mais importante deste modelo: 
18 
NBi = li − ci − wi − (pr·pu) 
 Onde NBi é o benefício líquido do indivíduo i; li é o valor monetário do ganho do 
crime, loot; ci é o custo de planejamento e execução do crime; wi é o custo de oportunidade, 
baseado na renda da atividade legal; pr é a probabilidade de captura e condenação; pu é o 
valor monetário do castigo. 
 Entre essas variáveis, as que estimulam o indivíduo a não cometer um crime e atuar no 
mercado de trabalho legal, fatores positivos, são: renda, benefícios, educação, oportunidades 
de crescimento, entre outros. Os fatores negativos deterrence são as variáveis que 
desestimulam o indivíduo a cometer um crime, via aumento dos riscos e dos custos como: 
nível de policiamento, eficiência do aparato da justiça criminal, severidade da lei, punições 
entre outros. Segundo Becker (1968) o cálculo das punições deve ser calculado via otimização 
das condições e recursos disponíveis, como forma de minimização dos custos sociais do 
crime, visando o bem-estar geral da sociedade. 
 Essa equação possibilita a previsão e entendimento da resposta dos criminosos frente 
às mudanças dos custos e benefícios. O maior rigor das atividades de execução penal, 
aumenta a probabilidade pr de punir o criminoso, do mesmo modo que a elevação das 
punições, aumenta a severidade pu do castigo empregado. Desta forma, o risco de se cometer 
um ato criminoso aumenta e o número de indivíduos racionais disposto a infringir a lei 
diminui, dado o aumento do risco da atividade ilegal. 
 Becker (1968) demonstrou matematicamente que a relação entre p e f, da equação de 
utilidade esperada EU original do modelo, é negativa sobre o montante de retorno esperado, 
pois acréscimos em p e/ou f alteram a utilidade esperada do indivíduo, podendo torná-la 
negativa e dissuadindo-o a cometer crimes. 
 Segundo Becker (1968) o modelo de combate ao crime e otimização dos recursos deve 
ser dividido em cinco categorias distintas: o número de crimes e o custo social destes, o 
número de crimes e a punição imposta, o número de crimes, prisões e condenações e o gasto 
público com polícia e judiciário, o número de condenações e o custo das penitenciárias e 
outros tipos de punições, e o número de crimes e o gasto privado com proteção e apreensão. 
 Como analisado, o comportamento criminoso pode ser reprimido e incentivado através 
de variáveis deterrence e uma melhor distribuição dos recursos da economia. Nos próximos 
itens, são estudadas detalhadamente cada uma das categorias que explicam, segundo este 
modelo, os gastos públicos e privados com a criminalidade e, segundo a análise de Becker 
19 
(1968), qual o critério mais eficiente de políticas de combate ao crime, para obter de forma 
eficaz os benefícios da justiça com o menor custo à sociedade e maior bem-estar social. 
 
3.1.1 Danos 
 Becker (1968) inicia a análise sobre como combater o crime de forma eficiente por 
esta categoria, representada pela perda social que tende a aumentar se o nível da atividade 
causadora de dano, o crime, aumenta como na relação abaixo: 
H = H(O) 
H’ = dH / dO > 0 
 Onde H é o dano geral causado pelas atividades criminosas e O é o nível de atividade 
criminal. O entendimento sobre os efeitos do dano à sociedade é parecido ao de 
externalidades em deseconomias. [...] “From this perspective, criminal activities are an 
important subset of the class of activities that cause diseconomies, with the level of criminal 
activities measured by the number of offenses.” (BECKER, 1968, p.173). Desta forma, 
segundo o modelo, quando há um aumento do número de crimes, há uma elevação dos 
ganhos, G, dos agentes criminosos: 
G = G(O) 
G’ = dG / dO > 0 
 Desta forma, o dano à sociedade pode ser calculado pela diferença entre o dano geral 
causado pelo crime, H(O) e os ganhos do criminoso, G(O), traduzido como o custo líquido, 
D(O), da atividade criminosa, descrito como: 
D(O) = H(O) – G(O) 
 Um ponto importante elucidado por Becker (1968), é que os criminosos recebem 
ganhos marginais decrescentes G’’<0 e causam danos marginais H’’>0 crescentes à 
sociedade. Sendo assim, os danos marginais à sociedade D’’ gerados pelas atividades 
criminosas, será crescente D’’>0. O custo do crime para a sociedade é sempre maior do que 
aquilo que se espera de retorno da atividade criminosa, causando malefícios e perda de bem-
estar para a sociedade: 
20 
D’’ = H’’ – G’’ > 0 
 Entretanto, como ambas as variáveis equacionadas,H e G, apresentam derivações 
positivas, H’>0 e G’ > 0, o sinal de D’ depende de seus valores quantitativos ou de sua 
magnitude relativa (BECKER, 1968), desta forma: 
D’(O) > 0 
Para O > 0 
 Becker (1968) conclui esse item alertando o leitor que, para a elaboração do modelo, 
algumas variáveis subjetivas foram suprimidas da análise e não foram contabilizados dentro 
dos custos do crime, prejuízos líquidos para a sociedade, dado os seus efeitos indiretos. Um 
bom exemplo é o custo do assassinato, medido pela perda no lucro das vítimas e que exclui, 
entre outras coisas, o valor sobre a própria vida. Alguns outros exemplos, citado na obra 
original, são: 
[...] the cost of gambling excludes both the utility to those gambling and the 
"external" disutility to some clergy and others; the cost of "transfers" like burglary 
and embezzlement excludes social attitudes toward forced wealth redistributions and 
also the effects on capital accumulation of the possibility of theft. (BECKER, 1968, 
p.174) 
 
3.1.2 Custos de apreensão e condenação 
 Conforme apresentado anterormente, as atividades criminosas causam danos e 
prejuízos para toda a sociedade, sendo assim, o Estado incorre em custos para combater o 
crime e reduzir as mazelas causadas por essa atividade ilegal. Entretanto, a apreensão e a 
condenação dos agentes criminosos geram custos à sociedade pelo próprio aparato necessário 
para a efetiva aplicação da lei penal. 
 Becker (1968) afirma que quanto mais policiais, promotoria e equipamento 
especializado, maior é a facilidade de se descobrir e condenar o agente criminoso. Essa 
combinação entre mão de obra humana m, realizada pela polícia e funcionários da esfera 
judiciária, materiais r e capital c, pode ser mensurada pela função de produção do total de 
variáveis alocadas f(m, r, c) denominada por Becker (1968) como uma variável A. 
A = f(m, r, c) 
21 
 Uma vez conhecido os custos de cada variável, m, r e c, elevações do aparato 
necessário para efetiva apreensão e condenação dos agentes criminosos resultariam em 
elevações dos custos, C, conforme a equação abaixo: 
C = C(A) 
C’ = dC / dA > 0 
 Sendo o custo calculado a partir da função de produção f e dos preços de m, r e c, 
Becker (1968) afirma que os custos serão menores quanto menores forem os custos de mão de 
obra e maiores forem os avanços tecnológicos e periciais para as análises criminais. Do 
original: 
It would be cheaper to achieve any given level of activity the cheaper were 
policemen, judges, counsel, and juries and the more highly developed the state of the 
arts, as determined by technologies like fingerprinting, wiretapping, computer 
control, and lie-detecting. (1968, p.174) 
 Uma vez que, o número de condenações está relacionado com o montante investido no 
aparato criminal A e na quantidade de ocorrências criminais O a mensuração empírica 
proposta no modelo é de que há uma razão entre as ocorrências que se tornam condenações e 
a totalidade de ocorrências criminais. Essa razão é uma probabilidade p: 
A ≈ p·O 
Sendo C = C(A) 
Logo C = C(p·O) 
C = C (p, O, a) 
 Onde a variável a representa prisões e outras determinantes da atividade. Desta forma, 
um aumento da probabilidade de condenação ou do número total de ocorrências, resultaria em 
aumento do custo total. (BECKER, 1968) 
 
3.1.3 Oferta de ocorrências criminais 
 Becker (1968) inicia a análise sobre a oferta de ocorrências criminais citando as 
divergências existentes entre as teorias das patologias individuais, de cunho biológico, a teoria 
22 
da associação diferencial e a do controle social, teorias de cunho sociais. Entretanto, segundo 
o autor, mesmo essas teorias sendo tão divergentes, elas apresentam um ponto em comum: se 
as variáveis determinantes do crime, de cada um das teorias, forem mantidas constantes e 
houver um aumento na probabilidade de condenações e/ou prisões, o número de ocorrências 
criminais diminuiria, uma vez que o risco seria maior e os benefícios não tão atrativos. 
(BECKER, 1968) 
 Desta forma, uma mudança na probabilidade de apreensão e prisões tem um efeito 
maior do que uma mudança na pena, como afirmado por Lord Shawness17 (1965 apud 
BECKER, 1968, p.176): [...] “Certainty of detection is far more important than severity of 
punishment”. 
 Essa análise sobre a oferta do crime difere de todas as outras teorias, pois faz uma 
análise puramente econômica, partindo do pressuposto que um indivíduo cometerá um crime 
se a utilidade esperada da ilegalidade exceder a utilidade que ele obteria caso tivesse utilizado 
seu tempo e seus recursos em alguma outra atividade. Sendo assim, a escolha pelo crime se 
comporta como uma análise de investimento como qualquer outra dentro da economia, como 
afirmado pelo próprio autor: 
The approach taken here follows the economists' usual analysis of choice and 
assumes that a person commits an offense if the expected utility to him exceeds the 
utility he could get by using his time and other resources at other activities. Some 
persons become "criminals," therefore, not because their basic motivation differs 
from that of other persons, but because their benefits and costs differ. I cannot pause 
to discuss the many general implications of this approach, except to remark that 
criminal behavior [sic] becomes part of a much more general theory and does not 
require ad hoc concepts of differential association, anomie, and the like, nor does it 
assume perfect knowledge, lightening [sic]-fast calculation, or any of the other 
caricatures of economic theory. (BECKER, 1968, p.176) 
 A partir desta explicação teórica, fica evidente que existe uma relação entre o número 
de ocorrências criminais Oi e a probabilidade de condenação pi, a punição fi e outras variáveis 
exógenas ui como: os ganhos da atividade legal ou ilegal, a frequência de prisões e a vontade 
individual de se cometer um ato ilegal. Dessa forma, a oferta de ocorrências criminais que um 
indivíduo pode vir a cometer, responde à função abaixo: 
Oi = Oi(pi, fi, ui) 
                                                            
17 SHAWNESS, L. Crime Does Pay because We Do Not Back Up the Police, "New York Times Magazine, June 
13. 1965. 
23 
 A probabilidade de um indivíduo ser apanhado e condenado, a severidade da pena e os 
custos de oportunidade em atuar nessa atividade ilegal repercutem diretamente na atuação das 
pessoas na atividade criminal. Entretanto, somente os criminosos presos são condenados, 
assim como somente os condenados são punidos, desta forma há uma discriminação de preços 
price discrimination e uma incerteza, de modo que se o ofensor for condenado, ele pagará fi 
pelo crime e não pagará nada caso não seja. Um aumento da probabilidade de condenação pi 
e/ou da severidade da punição fi reduziria a utilidade esperada de um crime e, portanto, 
tenderia a reduzir o número de crimes, quer porque a probabilidade de pagar um maior preço 
e/ou o preço em si aumentaria. (BECKER, 1968) 
 Conforme elucidado no início deste capítulo, Yi é o rendimento monetário do crime e a 
utilidade esperada do crime pelo indivíduo EUi é calculado pela equação: 
EUi = pi·Ui (Yi − fi) + (1 − pi) Ui (Yi) 
∂E(Ui) / ∂pi = Ui(Yi − fi) - Ui(Yi) < 0 
∂E(Ui) / ∂fi = -pi·Ui’(Yi − fi) < 0 
 Desta forma, tanto um aumento da probabilidade de condenação pi e/ou da severidade 
da punição fi reduziria a utilidade esperada da atividade criminal, o que induziria a queda do 
número de infrações, conforme observado nas derivações parciais abaixo: 
Opi = ∂Oi / ∂pi < 0 
Ofi = ∂Oi / ∂fi < 0 
 As variáveis exógenas ui também influenciam o número de ocorrências criminais. Um 
aumento do ganho esperado em atividades legais aumentaria os custos de oportunidade deatuar na atividade ilegal, aumentaria a obediência às leis via elevação dos níveis educacionais, 
conforme a teoria do autocontrole e a do controle social, e reduziria os inventivos de se 
cometer um ato criminoso. Além disso, mudanças na forma das penalidades como a alteração 
da legislação de pagamento de multas para reclusão/prisão, pode reduzir o número de 
ocorrências, pelo menos temporariamente já que eles não podem ser cometidos na prisão. 
Desta forma, o potencial criminoso enfrenta uma escolha entre cometer ou não um crime, 
optando por praticá-lo se a relação custo benefício for positiva, depende do grau de aversão 
do indivíduo ao risco, da probabilidade de ser punido, do tipo e duração da pena e dos ganhos 
auferidos com o ato criminoso. 
24 
 Segundo Becker (1968), há uma importante relação entre as variáveis e os efeitos 
causados por elas quando alteradas. Caso haja um aumento da probabilidade de condenação pi 
e esse aumento for compensado por uma redução percentualmente idêntica da severidade da 
punição fi, de forma a não alterar o ganho esperado do crime, mas que eleve o nível de risco 
da atividade criminosa, essa alteração de pi mudaria a utilidade esperada, tornando o crime 
não mais vantajoso ao indivíduo tomador de decisão. 
This approach also has an interesting interpretation of the presumed greater response 
to a change in the probability than in the punishment. An increase in p, 
"compensated" by an equal percentage reduction in f1 would not change the 
expected income from an offense 17 but could change the expected utility, because 
the amount of risk would change. It is easily shown that an increase in p1 would 
reduce the expected utility, and thus the number of offenses, more than an equal 
percentage increase in fi8 if j has preference for risk; the increase in fj would have 
the greater effect if he has aversion to risk; and they would have the same effect if he 
is risk neutral."9 The widespread generalization that offenders are more deterred by 
the probability of conviction than by the punishment when convicted turns out to 
imply in the expected-utility approach that offenders are risk preferrers [sic], at least 
in the relevant region of punishments. (BECKER, 1968, p.178) 
 O total de crimes na sociedade seria a soma de todos os crimes cometidos pelos i 
indivíduos, apresentando as mesmas relações de dependência do conjunto de pi, fi e ui. Mesmo 
que essas variáveis sejam diferentes entre as pessoas em decorrência de diferenças na 
inteligência, idade, educação, histórico penal, riqueza, família, entre outros, Becker (1968) 
simplifica a equação de número de ocorrências criminais, considerando os valores individuais 
de pi, fi e ui por seus valores médios, p, f e u: 
O = O(p, f, u) 
 As propriedades individuais são mantidas e a função tem um caráter negativo ou 
inverso com p e f, sendo mais sensível à primeira do que à última se, e somente se, os 
infratores têm preferência ao risco. O [...] “crime pays or crime does not pays” (BECKER, 
1968, p.179) dependendo do nível de risco que o criminoso está disposto a correr e à 
quantidade de ganho que ele deseja auferir do delito. O risco não é diretamente relacionado à 
eficiência da polícia ou à quantidade de recursos gastos em combate ao crime, mas os valores 
de p e f podem ser alterados por estes recursos e políticas públicas, alterando o nível de risco e 
influenciando na escolha individual. (BECKER, 1968) 
 
25 
3.1.4 Punição 
 O objetivo de Becker (1968) ao fazer uma análise sobre a punição é identificar quais 
variáveis são mais significantes ao modelo e propor uma otimização dos recursos para 
minimizar os custos sociais das atividades criminosas em benefício de um bem-estar maior 
para toda a sociedade. O custo social total das punições é a soma entre o custo para os 
criminosos mais os custos, ou menos os ganhos, para os demais membros da sociedade, desta 
forma, o bem-estar social pode ser comparado ao bem-estar econômico. 
 A sociedade mede as perdas sociais das ofensas e das próprias punições, o que pode 
ser constatado pelas diversas críticas sobre o alto custo para o Estado da manutenção dos 
presídios e dos programas de auxílio monetário aos dependentes dos condenados. Para Becker 
(1968), essas críticas são totalmente coerentes, pois os custos de aprisionamento são altos aos 
membros da sociedade como os gastos em: aparato policial de guarda e supervisão, 
manutenção, comida, entre outros. 
 Para o criminoso, o custo de ser encarcerado pode ser calculado pelo somatório de 
todas as perdas e os ganhos que não podem ser obtidos devidos à restrição em consumo e 
liberdade, ganhos estes que variam de indivíduo para indivíduo. Sendo assim, o custo de uma 
punição tende a ser maior para indivíduos que conseguiriam ganhos maiores fora da prisão e 
quanto maior for o período de reclusão, uma vez que ganhos e consumo são positivamente 
relacionados ao tamanho da pena. Os custos sociais, escritos em termos dos custos para o 
criminoso, podem ser verificados na equação abaixo: 
f ’ ≡ b·f 
 Onde f ’é o custo social e b é a forma da pena, caracterizado pelo coeficiente que 
transforma a severidade da punição f em f ’. O tamanho de coeficiente b varia de forma 
relevante entre diferentes tipos de pena, apresentando sinal positivo e maior que um b > 1 
para penas de reclusão e de caráter não pecuniário. Além disso, como discutido no parágrafo 
anterior, o custo de uma pena a ser cumprida tende a ser maior para indivíduos que 
conseguiriam ganhos maiores fora da prisão, desta forma, o coeficiente b será maior para 
jovens em centros de detenção e adultos em prisões e perto de um b → 1 para liberdade 
condicional ou regimes abertos e semiabertos. 
 Por outro lado, os custos de apreensão e condenação de criminosos são afetados por 
uma variedade de fatores. Investimentos em tecnologia, aumento do efetivo policial e 
26 
aumento da eficiência judiciária elevaria a probabilidade de condenação p e reduziria o 
número de ocorrências, permitindo uma mudança na severidade da punição f. 
The cost of apprehending and convicting offenders is affected by a variety of forces. 
An increase in the salaries of policemen […], while improved police technology in 
the form of fingerprinting, ballistic techniques, computer control, and chemical 
analysis, or police and court "reform" [sic] with an emphasis on professionalism and 
merit, would tend to reduce both, not necessarily by the same extent. Our analysis 
implies, therefore, that although an improvement in technology and reform may or 
may not increase the optimal p and reduce the optimal number of offenses, it does 
reduce the optimal f and thus the need to rely on severe punishments for those 
convicted. Possibly this explains why the secular improvement in police technology 
and reform has gone hand in hand with a secular decline in punishments. (BECKER, 
1968, p.188) 
 Becker (1968) elaborou uma equação para calcular as perdas sociais causadas pelos 
crimes e pelos custos relativos à criminalidade, com o objetivo de estipular quais as variáveis 
mais importantes para minimizar as perdas: 
L = L (D, C, b·f, O) 
∂L / ∂D > 0 
∂L / ∂C > 0 
∂L / ∂b·f > 0 
 Onde L são as perdas sociais, D é o somatório dos custos H e ganhos sociais G, 
conforme item 3.1.1 Danos, C é o custo de se combater o crime, b·f corresponde à f ’ e O o 
número de ocorrências criminais. Entretanto, é mais convencional e transparente analisar as 
perdas segundo uma formulação mais genérica, na qual a função de perda é idêntica ao 
somatório total dos retornos dos crimes, condenações e penas como em: 
L = D(O) + C(p, O) + b·f·p·O 
 As variáveis b·f·p·O é o total da perda social devido às penas, uma vez que b·f é a 
perda para cadaocorrência penalizada e pO é o número de ocorrências penalizadas. As 
variáveis sujeitas ao controle social direto são: a quantidade de recursos alocados em combate 
ao crime C, a pena por ocorrência se condenado f e a forma da pena b. Uma vez escolhidas 
essas variáveis através das funções de D, C e O, são indiretamente determinados os valores 
para p, O, D e a perda de L. (BECKER, 1968) 
27 
 A variável correspondente à probabilidade de condenação p é a variável que mais afeta 
as perdas sociais L, uma vez que variações de p mudam o número de ocorrências O que por 
sua vez alteram os danos D, custos C e b·f·p de forma mais significativa que alterações na 
severidade das punições f. Segundo Becker (1968): 
If the supply of offenses depended only on pf-offenders were risk neutral-a 
reduction in p "compensated" by an equal percentage increase in f would leave 
unchanged pf, 0, D(O), and bpfO but would reduce the loss, because the costs of 
apprehension and conviction would be lowered by the reduction in p. The loss 
would be minimized, therefore, by lowering p arbitrarily close to zero and raising f 
sufficiently high so that the product pf would induce the optimal number of offenses. 
A fortiori, if offenders were risk avoiders, the loss would be minimized by setting p 
arbitrarily close to zero, for a " compensated " reduction in p reduces not only C but 
also 0 and thus D and bpfO. (1968, p.184) 
 Sobre as punições, se os custos de apreender, condenar e punir os infratores forem nulos 
e se cada ofensa causar mais danos do que os ganhos privados, a perda social de infrações 
pode ser minimizada se for aplicado penas suficientemente elevadas para os crimes e se o 
poder de condenação do judiciário for crível aos olhos dos criminosos, assim como descrito 
por Bentham18 (1931 apud BECKER, 1968, p.191) "The evil of the punishment must be made 
to exceed the advantage of the offense". A pena pode ser considerada o preço de um crime, 
portanto a prisão é o preço em unidade de tempo que o criminoso paga pelo delito que 
cometeu, e as multas, como apresentado a seguir, é o preço em unidade monetária. 
 
Multas 
 As multas são um tipo específico de punição, a qual o criminoso, quando apreendido, 
é condenado a pagar um valor monetário como pena, ou seja, o custo de uma pena tem sua 
severidade mensurada quantitativamente em moeda. As multas se diferem das punições 
baseadas em aprisionamento, pois geram um ganho social para a sociedade, equivalente ao 
ganho privado da atividade ilegal, via transferência monetária entre o infrator e a sociedade. 
 Conforme apresentado, no item 3.1.4 Punição, o objetivo das punições é minimizar a 
perda social e dependem do dano total causado pelos criminosos, compensando os custos de 
seu delito como também os prejuízos que causam à sociedade. Becker (1968) identifica nas 
multas uma forma de otimização das punições, afirmando que são formas eficientes de 
punição e de alocação ótima de recursos para a sociedade, pois o valor monetário de uma 
                                                            
18 BENTHAM, Jeremy. Theory of Legislation. New York: Harcourt Brace Co. 1931. 
28 
multa deve ser igual ao prejuízo causado pelo ato criminoso, minimizando as perdas e 
compensando a sociedade. Além disso, as multas podem ser utilizadas como artifício 
complementar da pena de aprisionamento e como forma de intimidação dos criminosos em 
potencial, elevando os riscos da atividade criminosa e a severidade da punição. Além disso, a 
teoria explica que: 
f ’ ≡ b·f 
 Onde f ’é o custo social e b é a forma da pena, caracterizado pelo coeficiente que 
transforma a severidade da punição f em f ’. O tamanho de coeficiente b varia de forma 
relevante entre diferentes tipos de pena, apresentando sinal positivo e maior que um b > 1 
para penas de reclusão e de caráter não pecuniário. Entretanto, as multas não objetivam a 
prisão do criminoso condenado e o custo de apreensão e condenação do mesmo não geram 
custo à sociedade f ‘igual à zero, então: 
f ’ ≡ b·f = 0 
Então b ≈ 0 
Logo D’(O) = 0 
 A equação acima determina um nível ótimo de ocorrências criminais O*, onde a multa 
e a probabilidade de ser preso devem ser mantidas a níveis que induzam o crime somente até 
o nível O*. O valor monetário das multas V tende a ser igual ao ganho marginal privado G’ e 
ao dano marginal H’ causado pelo crime no nível ótimo de ocorrências criminais O*, como 
nas equações abaixo: 
V = G’(O*) 
 Conforme apresentado em 3.1.1 Danos, o dano à sociedade pode ser calculado pela 
diferença entre o dano geral causado pelo crime H(O) e os ganhos do criminoso G(O), 
traduzido como o custo líquido D(O) da atividade criminosa. 
D(O) = H(O) – G(O) 
Como D’(O) = 0 
Logo D’(O*) = H’(O*) – G’(O*) = 0 
Então G’(O*) = H’(O*) 
29 
V = H’(O*) 
 Nas punições pecuniárias, as multas, os custos de apreensão e condenação são 
assumidos como zero f ’ ≡ b·f = 0, desta forma, o valor monetário das penas se iguala ao valor 
das multas impostas: 
V = f 
f = H’(O*) 
 Entretanto, se o custo de apreensão e condenação não fosse igual à zero, a condição 
ótima teria de incorporar os custos marginais juntamente com os danos marginais: 
L = D(O) + C(p, O) + b·f·p·O 
D’(O*) + C’(p, O*) = 0 
 Ainda, se a probabilidade de condenação p fosse unitária: 
D’(O*) + C’(1, O*) = 0 
 Como O* > 0 logo C’ > 0 requer que D’ < 0 ou que o ganho marginal exceda a 
externalidade do dano marginal, que se traduz para um número menor de ocorrências 
criminosas do que em D’ = 0. Sendo assim, as multas f serão iguais à soma do dano marginal 
e dos custos marginais: 
D’(O*) = H’(O*) – G’(O*) = 0 
D’(O*) + C’(1, O*) = 0 
Logo D’(O*) = – C’(1, O*) 
Então – C’(1, O*) = H’(O*) – G’(O*) 
G’(O*) = H’(O*) – C’(1, O*) 
f = H’(O*) + C’(1, O*) 
 A multa deve contemplar todos os custos sociais. “In other words, offenders have to 
compensate for the cost of catching them as well as for the harm they directly do, which is a 
natural generalization of the usual externality analysis.” (BECKER, 1968, p.192) 
30 
 A partir dessa equação e do entendimento geral sobre a aplicação das multas, Becker 
(1968) apresenta uma equação geral de otimização, na qual a multa é fixa e não a 
probabilidade de apreensão, como em uma situação real: 
D’(O*) + C’(p, O*) + Cp(p, O*)·(1/ Op) = 0 
 Essa mudança de fixação de variáveis implicaria em D’(O*) > 0 e, sendo assim, o 
número de ocorrências O só poderia exceder o número ótimo O* quando os custos forem 
iguais à zero. Os custos de apreensão e condenação aumentariam ou diminuiriam o número 
ótimo de ocorrências criminais dependendo da relação das penas a serem alteradas devido a 
uma mudança via multas ou via probabilidade de apreensão. Entretanto, se ambas estão 
sujeitas ao controle público, a probabilidade ótima de condenação seria arbitrariamente perto 
de zero. (BECKER, 1968) 
 
Conclusão sobre as formas de punição 
 As multas têm algumas vantagens sobre a aplicação de outras punições, pois 
compensam a sociedade pelo custo causado pelo crime, preservam recursos, punem os 
criminosos de forma justa e simplificam o cálculo de otimização das penas. Para Becker 
(1968) a multa seria preferível como forma de punição, pois ela pode maximizar a utilidade 
dos recursos públicos e restabelecer perdas econômicas da sociedade, compensando a 
sociedade de forma monetária, diferentemente das penas de reclusão que não criam condições 
de compensação e ainda fazem com que a sociedade gaste recursos adicionais para manter o 
criminoso aprisionado. 
 Outra vantagem reside no processo de elaboração da pena. A utilização de multas 
requer, apenas, o conhecimento dos ganhos, danos da atividade criminosa e

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