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Antinomia entre o Marco Civil e o Código de Defesa do Consumidor em matéria de Responsabilidade civl dos provedores_Part.2

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10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Impulsionados com a chegada da Internet, os novos campos da tecnologia 
da informação são uma grande conquista para a humanidade, não há dúvidas de que 
eles concederam uma ampla democratização do acesso e do fluxo da comunicação. 
 
 É indiscutível o fato de que vivemos num mundo onde as relações sociais 
pela Internet são, em sua maioria, bem maiores que as pessoais, fato esse que traz à 
tona alguns assuntos aqui discutidos e de grande repercussão na nossa esfera social e 
de interesse comum. 
 
 O caráter aberto, interativo e global da Internet, somado aos baixos custos 
de transação que apresenta como tecnologia, produz um grande impacto numa ampla 
categoria de questões pertencentes à ciência jurídica: os conceitos de tempo, espaço, 
fronteira estatal, lugar, privacidade, bens públicos, sem esquecer-se das regras no 
campo da propriedade e da defesa do consumidor. 
 
 A Internet é uma realidade crescente na sociedade de consumo, onde a 
cada dia vão se multiplicando os acessos e as transações realizadas através desta rede 
mundial. Em decorrência do uso massificado da Internet, considerado hoje como um 
fenômeno de consumo, é necessário o estudo sobre sua estrutura física, quais foram os 
desafios que a internet trouxe para o Estado e sobre a forma que os profissionais do 
direito estão aplicando as normas frente às atividades desenvolvidas na Rede Mundial 
de Computadores. 
 
 É nessa panorama que, através do método dedutivo de raciocínio e com 
base em revisão de literatura, o presente texto monográfico buscar explanar no seu 
segundo tópico qual o conceito de internet, passando por uma breve análise histórica, 
com o objetivo de mostra como desencadeou sua origem, com que finalidade foi criada, 
quais ferramentas compõe esse sistema de comunicação, em especial os provedores 
de serviços, que são objetos definidores, conforme atividades desempenham, do 
11 
 
regime de responsabilização civil, e consequentemente a sistemática do funcionamento 
da Rede das redes. 
 
 No terceiro capítulo foram abordadasas consequências decorrentes do 
crescimento exponencial do número de usuários de internet, como, por exemplo, o 
dever do Estado de procurar solucionar os conflitos de interesses derivados do mau dos 
serviços disponíveis, nesta terra aparentemente sem lei que é a Rede mundial de 
computadores, tendo em vista que, até pouco tempo atrás, os usuários tinham como 
amparo judicial, para as ilegalidades cometidas no mundo virtual, tão somente o Código 
Civil e o Código de Defesa do Consumidor.Surgindo, dessa forma, para o Estado, a 
necessidade de elaborar uma legislação específica que concedesse aos usuários da 
Rede uma maior proteção a seus direitos básicos. Eis que surge a Lei nº 12.965/2014, 
conhecida como Marco Civil da Internet, que na visão de Binicheski (2015), surgiu com 
a expectativa de esclarecer impasses referentes à disciplina da responsabilidade civil 
imputada aos provedores de internet. 
 
 Desse modo, ainda no terceiro capítulo, o presente trabalho realiza uma 
breve abordagem doutrinária sobre responsabilidade civil, mostrando algumas das suas 
principais classificações e características. 
 
 No quarto e último capítulo, encontra-se a problemática do presente estudo, 
mostrando as contradições existentes no Ordenamento Jurídico brasileiro quando se 
trata da responsabilidade civil dos provedores de aplicações de internet, que segundo 
Cavalcanti (2014), o Marco Civil imputa ao provedor de aplicações uma 
responsabilidade civil judicializada e subjetiva, enquanto que o Código de Defesa do 
Consumidor traz uma responsabilidade civil extrajudicial e objetiva. Sobrando, desta 
maneira, para os profissionais do direito o árduo dever de harmonizar o sistema 
normativo, buscando, em cada caso concreto, aplicar a lei mais adequada, conforme 
dispõe a jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores. 
 
 
12 
 
2 A REDE DAS REDES 
 
 Depreender o que é e como funciona a sistemática da Internet torna-se uma 
tarefa fundamental para qualquer tentativa de desenvolvimento de um estudo sobre a 
tutela jurídica de um direito neste âmbito, em nosso caso específico, a proteção dos 
direitos da personalidade. 
 
 A ideia da Internet surgiu em centros de pesquisa militares nos EUA, passou 
por um período de incubação em instituições acadêmicas e depois chegou ao uso 
cotidiano. 
 
 A nova sociedade da informação seria uma congregação de tecnologias de 
tal modo relacionadas entre si que o mundo contemporâneo teria acesso a uma 
quantidade de informação sequer imaginada em outras épocas. Nunca se viu um 
acesso tão grande, tão facilitado à informação como te observa na atualidade. 
(DRUMMOND, 2003, p.1) 
 
 Na nova era digital, a Internet passou a ser fundamental, possuindo 
ferramentas necessárias para simplificar o cotidiano de todos. 
 
 A chegada das novas tecnologias da comunicação, em especial a Internet, o 
acesso e a disseminação de dados e informações ganharam uma extensãonão 
imaginável para os protótipos tecnológicos de algumas décadas atrás.A interligação de 
computadores por meio da Internettrouxe grandes mudanças e inovações para o campo 
da comunicação, tendo em vista o surgimento de inúmeros serviços e recursos que 
antes não estavam inseridos no cotidiano da sociedade. 
 
 As redes eletrônicas de computadores proporcionam a seus usuários o 
acesso a fontes inesgotáveis de informação, além de uma comunicação a baixo custo. 
De acordo com o Guia do usuário Internet/Brasil (1996, p.2), “Elas interligam pessoas 
para os mais variados fins e têm contribuído para ampliar e democratizar o acesso à 
13 
 
informação, eliminando barreiras como distância, fronteiras, fuso horário, etc”. 
 
2.1 BREVE HISTÓRICO DA INTERNET 
 
 O nascimento da rede mundial de computadores ocorreu na segunda 
metade da década de 1960, dentro do contexto da Guerra Fria.As grandes potências da 
época, Estados Unidos da América (a partir de agora EUA) e a extinta União Soviética, 
disputavam uma corrida tecnológica. Pereira (2003) relata que, a situação de 
inferioridade tecnológica enfrentada pelos EUA no começo da Guerra Fria – pelo fato 
da União Soviética ter dado o estopim da corrida tecnológica ao lançar o Sputnik, um 
satélite artificial, no ano de 1957 – o país decidiu criar a ARPA – Advanced Research 
Project Agency (Agência de Projeto de Pesquisas Avançadas).A prioridade da ARPA 
era a criação de um sistema de telecomunicação que resistisse a um possível ataque 
bombista nuclear soviético, visando tornar ininterrupta a corrente de comando entre as 
bases militares dos EUA, o que deu origem a uma rede de computadores de longa 
distância, a ARPANET. 
 
 Nesse contexto, PAESANI (2000, p.25), relata que: “A solução aventada foi 
a criação de pequenas redes locais (LAN), posicionadas nos lugares estratégicos do 
país e coligadas por meios de redes de telecomunicação geográficas (WAN)”. Diante da 
possibilidade de uma das cidades sofrer um ataque nuclear, esse conglomerado de 
redes de comunicação, garantiriam a troca contínua dos dados entre as cidades 
coligadas remanescentes. 
 
 As investigações da ARPA se baseavam na hipótese de realizar a 
transferência de mensagens, de uma base militar para a outra, de forma fragmentada 
pela rede de comunicação, onde se uniriam novamente ao chegar ao destino final 
estabelecido. Isso significa dizer que as mensagens tinham que ser capazes de 
percorrer rotas alternativas, caso algum ponto da rota pré-estabelecida houvesse sido 
destruído, para chegar ao seu destino, tendo em vista que a mensagem estava sendo 
enviada na forma de blocosseparados, ou seja, fragmentados. Nesse contexto, Pereira 
14 
 
(2003, p.23) faz a seguinte observação: 
 
Como primeira conclusão, podemos afirmar que o surgimento de uma de 
comunicação segura e capaz de suportar um possível ataque nuclear 
passava, obrigatoriamente, pelo desenvolvimento da tecnologia de 
fragmentação das mensagens em blocos, em partes ou packets 
(pacotes). 
 
 Com o desenvolvimento dessa tecnologia utilizada,packet switching 
(comutação de pacotes) a ARPANET sofreu um ampliação bastante significativa, 
mesmo que morosa. Todavia, a comunicação entre os computadores interligados nessa 
Rede das redes, era ainda muito restrita, sendo permitida a troca de dados, somente, 
entre máquinas que houvesse compatibilidade de fatores técnicos, tais como mesmas 
interfaces, mesma velocidade de transmissão entre outros. 
 
 Entretanto, foi a partir da década de 1970 que surgiu o termo Internet. Esta 
década foi fundamental para a mudança de padrão de conexão que permitiu que os 
atuais protocolos de Internet nascessem. São os denominados protocolos TCP/IP, 
vindos de trabalhos experimentais em cooperação entre a ARPA e outras agências. 
 
 Nesse sentido, Paezani (2000, p.25) expõe: 
 
[...] a decolagem da Internet ocorreu no ano de 1973, quando Vinton 
Cerf, do Departamento de Pesquisa avançada da Universidade da 
Califórnia e responsável pelo projeto, registrou o (protocolo TCP/IP) 
Protocolo de Controle da Transmissão/Protocolo Internet. 
 
 As funções desses protocolos podem ser resumidas da seguinte forma: o 
protocolo IP encarrega-se de encaminhar adequadamente os pacotes de informação 
pela Rede, enquanto o protocolo TCP é o responsável por dividir a informação em 
pacotes na sua origem para depois recompô-los no destino. 
 
 O modelo de protocoloTCP, o qual se estabelece como suporte para a 
tecnologia da Internet, permitia que diversos computadores estabelecessem uma 
comunicação entre si sem que houvesse uma homogeneidade dos fatores técnicos. 
15 
 
Hoje em dia, esse protocolo, juntamente como protocolo IP são necessários e, ao 
mesmo tempo, básicos para a transmissão de dados pela Rede. 
 
 Esse protocolo se refere a um conjunto de instruções que informa aos 
computadores conectados à Internet quea troca de informaçõesdeve ser realizada de 
tal forma para que possam ser compreendidas por outros computadores. Para Ercilia e 
Graeff (2008, p. 13), o protocolo TCP/IP “é como se fosse a língua falada por todos os 
computadores que fazem parte da rede”. 
 
 Vale ressaltar que, no início da década de 1980, quando a ARPANET tomou 
oficialmente como padrão os protocolos TCP/IP, a Rede teve um crescimento 
geométrico bastante significativo, na medida em que inúmeras novas redes, inclusive 
de outros continentes,passaram a se conectar a ela. Ainda no início dessa década, 
surgiu o “Personal Computer”(Computador Pessoal), os conhecidos PCs. Trata-se de 
uma geração de computadores de pequeno porte e baixo custo, destinados ao uso 
pessoal. Esse fato foi de grande importância para o desenvolvimento e aprovação da 
futura rede Internet. Pereira (2003, p. 29), explica: 
 
Com o crescimento da Internet, já não era possível, e tampouco viável, 
saber todos os “nomes” das máquinas (computadores) conectadas a ela. 
Esse fato deu origem à necessidade de desenvolvimento de um sistema 
de identificação para o grande número de computadores conectados 
entre si (Internet). Essa tarefa foi realizada por três cientistas, a saber: 
Jon Postel, Paul Mockapetris e Craig Partridge. Estes investigadores 
desenvolveram, no ano de 1983, um sistema denominado DNS (Domain 
Name System), o qual possibilita a identificação e a localização das 
máquinas conectadas à Internet. Sem dúvida, esse foi um 
acontecimento que teve, em seu momento, muita importância para a 
história e o desenvolvimento de Rede das redes. Se não existisse o 
sistema DNS, ousamos afirmar que seria praticamente impossível o 
funcionamento, ao menos como a vemos atualmente, da Internet. 
 
 Esse sistema trata-se de uma enorme base de dados que está distribuída 
por toda a Internet. Sua principal utilidade é facilitar a busca de direções IP numéricos 
de computadores host (computadores/servidores que possibilita acesso a outros 
computadores em uma rede) da rede, baseando-se nos nomes (de domínio) dos 
16 
 
mesmos. 
 
 O que realmente determinaria o sucesso da Internet seria um acontecimento 
que marcou um antes e um depois na história da Internet foi a criação da World Wide 
Web (Teia de Alcance Mundial, também conhecido como WWW, w3, W3 ou 
simplesmente web).A web é um sistema de informação baseado na tecnologia de 
hipertextos. Onde a informação é lida de forma mais eficiente numa tela interativa, 
podendo estar ela em qualquer formato, tais como textos, gráficos, imagens fixas ou em 
movimento entre outros, e que se torna facilmente acessível aos usuários mediante o 
uso de programas navegadores para a Internet, os chamados browsers. 
 
 Importa mencionar que os browsers são aplicativos que permitem a 
visualização de vários tipos de informação e navegação pela Internet, em específico 
pela web. Pois como afirma Pereira (2003, p.31): “Tecnicamente são aplicações de 
hipertextos que facilitam a navegação pelos servidores de informação na Internet. 
Funcionalmente, possuem tecnologia multimídia, o que torna interativa e fácil à 
navegação pela Rede”. 
 
 O uso da Internet como sistema de comunicação e forma de organização 
explodiu nos últimos anos do segundo milênio. “No final de 1995, o primeiro ano de uso 
disseminado da World Wide Web, havia cerca de 16 milhões de usuários de redes de 
comunicação por computador no mundo. No início de 2001, eles eram mais de 400 
milhões”, sustenta Castells (2003, p.8). 
 
 Em 1994, finalmente, a internet sai do meio acadêmico passando a ser 
comercializada para o público em geral.No Brasil, a EMBRATEL lançou umserviço 
comercial de Internet,com conexão internacional de 256 Kbps em caráter experimental, 
ondeforam escolhidos cinco mil usuários para testar o serviço ofertado. 
 
 No final do primeiro semestre do ano 1995, o serviço começou a funcionar 
de forma definitiva e, como forma de evitar o monopólio,por parte do Estado,da internet 
17 
 
no Brasil, o Ministério das Comunicações manifestou sua posição, em público,a favor 
da exploração comercial da Internet no país. 
 
 A partir de então, a Rede das redes virou assunto nas telenovelas passou a 
ser até capa de revistas, se popularizando paulatinamente, crescendo de maneira 
assustadora. Em 1996, grandes portais e provedores de conexão à Internet fora 
implantados no Brasil e, em 1998, “o país já ocupava o 19º lugar em número de hosts 
no mundo e o liderava o pódio na América do Sul. No continente americano, ficava 
atrás apenas dos EUA e Canadá”.(ARRUDA, 2011) 
 
 Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e 
Estatística – IBOPE mostra que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de 
usuários ativos na internet, com 52,5 milhões de usuários, o Estados Unidos está 
isolado no topo do rankingcom 198 milhões de usuários e na segunda posição vem o 
Japão com 60 milhões. Esses dados são relativos a dezembro de 2012. 
 
2.2 O QUE É INTERNET? 
 
 A Internet é uma enorme rede de escala mundial que apresenta um elevado 
número de computadores de toda parte do mundo interligados entre si. Essas ligações, 
por sua vez, podem ser feitas de diversas maneiras, sendo as mais comuns: satélites, 
cabos e redes telefônicas. Sua propagação é um pouco similar à de rede telefônica. Há, 
no entanto, uma fundamental diferença entre uma rede telefônica e uma redede 
computadores, considerando que cada computador pode obter e fornecer, ao comando 
do usuário, uma infinita quantidade de informações que dificilmente seriam conseguidas 
por meio de telefonemas. 
 
 No campo da comunicação, a Internet é um meio que oportuniza, pela 
primeira vez, a comutação de informação de muitos com muitos, num momento 
conveniente, em escala global. 
 
18 
 
 A este respeito, é esclarecedor transcrever o conceito trazido por Pereira 
(2003, p.35): 
 
[...]a Internet não é uma simples rede mundial de redes de 
computadores que possibilita o acesso e intercâmbio de informações, 
bem como a utilização de serviços em nível mundial, incluindo a 
possibilidade de comunicação entre máquinas (leia-se computadores). 
Essa é uma idéia equivocada. A realidade mostra-nos que a Rede das 
redes é extremamente complexa. Está formada por muitas sub-redes, 
por um número incomensurável de sistemas e plataformas. 
 
 O Ministério das Comunicações traz na Portaria nº. 148, de 31 de maio de 
1995, a seguinte definição: “Internet: nome genérico que designa o conjunto de redes, 
os meios de transmissão e comutação, roteadores, equipamentos e protocolos 
necessários à comunicação entre computadores, software e dados contidos nestes 
computadores”. 
 
 Essa comunicação entre tantas redes e sistemas diferentes é viável devido a 
um protocolo de comunicação,como já visto anteriormente, chamado TCP/IP. 
 
“[...] é a interligação de milhares de dispositivos do mundo inteiro, 
interconectados mediante protocolos (IP, abreviação de Internet 
Protocol). Ou seja, essa interligação é possível porque utiliza um mesmo 
padrão de transmissão de dados. A ligação é feita por meio de linhas 
telefônicas, fibra óptica, satélite, ondas de rádio ou infravermelho. A 
conexão do computador com a rede pode ser feita direta ou através de 
outro computador, conhecido como servidor. Este servidor pode ser 
próprio ou, no caso de provedores de acesso, de terceiro. O usuário 
navega na internet por meio de um browser, programa usado para 
visualizar páginas disponíveis na rede, que interpreta as informações do 
website indicado, exibindo na tela do usuário textos, sons e imagens. 
São browsers o MS Internet Explore, da Microsoft, o Netscape 
Navigator, da Netscape, Mozila, da The Mozilla Organization com 
cooperação da Netscape, entre outros”. (PINHEIRO, 2009, p.14) 
 
 Compreende-se que a Internet é uma imensa rede de computadores à qual 
governos, instituições, grandes corporações e usuários comuns têm acesso, tornando 
as distâncias do mundo bem menores do que se poderia imaginar a bem pouco tempo 
atrás. 
19 
 
 A internet é uma rede livre, sem governança centralizada ou políticas de 
acesso e uso com relação a qualquer uma de suas aplicações tecnológicas. Cada rede 
constituinte estabelece suas próprias políticas. Somente as definições de excesso dos 
dois principais espaços de nomes na internet (o espaço de endereçamento IP e DNS) 
são administradas por uma entidade mantenedora, a Corporação da internet para 
Atribuição de Nomes e Números (ICANN). A padronização dos protocolos de núcleo 
(IPv4 e IPv6) e a sustentação técnica são missões responsáveis pela comunidade do 
Internet Engineering Task Force (IETF), ambas são entidades sem fins lucrativos com 
interesses públicos e de caridadecompostas por participantes internacionais vagamente 
filiados, onde qualquer pessoa pode associar-se contribuindo com a perícia técnica. 
 
 Ao referir-se a tal assunto, Castells (2003, p.32), diz que: 
 
[...]o que na verdade surpreende é ter a Internet alcançado essa relativa 
estabilidade em seu governo sem sucumbir seja à burocracia do 
governo dos EUA, seja ao caos de uma estrutura descentralizada. Que 
isso não tenha ocorrido foi a proeza desse cavalheiros da inovação 
tecnológica: Cerf, Kahn, Postel, Berners-Lee e muitos outros, que 
realmente buscaram manter a abertura da rede para seus pares com 
forma de aprender e compartilhar. Nessa abordagem comunitária à 
tecnologia, o patriciado meritocrático encontrou-se com a contracultura 
utópica na invenção da Internet e nas preservação do espírito de 
liberdade que está na sua fonte. A Internet é, acima de tudo, uma 
criação cultural. (CASTELLS, 2003, p.32) 
 
 Por a Internet apresentar-se como uma organização livre, não significa dizer 
que nenhum grupo a controla ou a mantém economicamente. Pelo contrário, muitas 
organizações privadas, universidades e agências governamentais sustentam ou 
controlam parte dela. Todos trabalham juntos, numa aliança organizada, livre e 
democrática. Organizações privadas, variando desde redes domésticas até serviços 
comerciais e provedores privados da Internet que vendem acesso à rede mundial de 
computadores. 
 
 
 
20 
 
2.3 PROVEDORES DE SERVIÇO DE INTERNET 
 
 Para que uma máquina conecte-se a Internet, faz-se necessária a figura do 
provedor de Internet. No acesso à Internet estão envolvidas duas espécies de 
provedores: o provedor de acesso e o provedor de serviço de telecomunicação. Esse 
fornece a conexão entre a máquina e o local onde estão localizados os servidores do 
provedor de acesso a Internet, já aquele tem a função de conectar um computador à 
Internet, possibilitando a navegação na web. 
 
 O advogado, Marcel Leonardi (2005, p.26), identifica que “o provedor de 
serviços de Internet é o gênero do qual as demais categorias (provedor de backbone, 
provedor de acesso, provedor de correio eletrônico, provedor de hospedagem e 
provedor de conteúdo) são espécies”. Quanto à natureza jurídica do provedor, o jurista 
sustenta que “é a pessoa natural ou jurídica que fornece serviços relacionados ao 
funcionamento da Internet, ou por meio dela”. 
 
 No momento presente, é normal que um mesmo provedor ofereça vários 
tipos de serviços aos seus usuários, amplificando a quantidade de ofertas para muito 
além do padrão, que, por sua vez, acaba confundindo os consumidores desses serviços 
quanto as diferentes espécies de provedores. 
 
 Essa confusão é comum devido a uma grande parte dos provedores de 
serviços de Internet atuar como provedores de acesso, conteúdo, informação, 
hospedagem e correio eletrônico. 
 
 Todavia, existe uma diferença conceitual entre estes provedores e é de 
relevante importância fazer essa distinção e compreender quais atividades são 
desempenhadas por eles, e os seus respectivos contornos técnicosem termos de 
apuração do regime de responsabilizaçãocorrelato de tais empresas, que altera 
conforme a atividade específica executada. 
 
21 
 
2.3.1 Provedor de Backbone 
 
 Pela concepção de Leonardi (2005, p. 21), os provedores de backbone, 
também conhecidos como “espinha dorsal” são aqueles que, mantém uma estrutura de 
redes com capacidade de manipular imensa quantidade de informações, compostas por 
roteadores de tráfego ligados uns aos outros por circuitos de alta velocidade. Tais 
infraestruras são disponibilizadas, geralmente a título oneroso, aos provedores de 
hospedagem e aos provedores de acesso, e são considerados imprecindíveis para o 
funcionamento da Rede dentro do país. 
 
 O backbone representa o estado máximo de hierarquia de uma rede de 
computadores. Baseado em estruturas físicas pelas quais percorre a quase 
integralidade dos dados transmitidos por meio da Internet, e é frequentemente 
constituído de múltiplos cabos de fibra ótica de alta velocidade. 
 
 Nesse sentido, vale a pena observar a seguinte citação: 
 
Entidade mantenedora de rede de longa distância (WAN), de âmbito 
multirregional ou nacional, com o objetivo básico de “repassar” 
conectividade à rede através de vários pontos-de-presença 
judiciosamente distribuídospela região a ser coberta. A Internet é uma 
coleção dessas redes, mantidas por provedores de backbone. No Brasil, 
um potencial provedor de serviços de backbone deverá contratar linhas 
de uma empresa que prevê meios para a comunicação digital: linhas 
telefônicas discadas ou dedicadas, circuitos digitais, rede de fibras 
ópticas, canais de satélite. (Guia do usuário Internet/Brasil, versão 2.0, 
abril 1996, Documento n. RNP/RPU/0013D, Código CI-005, p. 37) 
 
 O provedor de backbone oferece conectividade, comercializando acesso à 
sua infraestrutura a outras empresas que, por conseguinte, fazem a revenda de acesso 
ou hospedagem para consumidores/usuários finais, ou então simplesmente empregam 
a rede com finalidades institucionais internos. Dificilmente, o consumidor/usuário final, 
que se conecta a Internet por meio de um provedor de acesso ou hospedagem, 
manterá algum contato com o provedor de backbone. 
 
22 
 
2.3.2 Provedor de Acesso ou Provedor de Conexão 
 
 As pessoas podem ter acesso à Internet de várias maneiras, tanto por 
conexões diretas quanto por meio de empresas, instituições de ensino, cafés, livrarias 
entre outros que disponibilizem o acesso de forma gratuita ou onerosa, neste caso, 
cobrando certa quantia conforme o tempo de utilização. Entretanto, para que essas 
entidades ou usuários tenham acesso à Rede das redes, faz-se necessário contratar 
provedores comerciais de acesso. 
 
 O provedor de acesso é aquele que se conecta a um provedor de backbone 
por meio de um canal de boa qualidade e comercializa conectividade na sua zona de 
atuação para outros provedores de pequeno porte, instituições e principalmente a 
usuários individuais, por intermédio de linhas dedicadas, sejam elas telefônicas ou não. 
 
 Sobre o provedor de acesso, Leonardi (2005, p. 23) o define como pessoa 
jurídica “responsável por fornecer serviços que consistem em possibilitar o acesso de 
seus consumidores à Internet. Normalmente, essas empresas dispõem de uma 
conexão a um backbone ou operam sua própria infraestrutura para conexão direta”. 
 
 Os serviços prestados pelo provedor de acesso podem ser gratuitos ou não, 
e como já vimos, ele proporciona ao usuário do serviço o acesso a conteúdo de 
máquinas ligadas à Internet, permitindo-lhe receber e fornecer dados deste, passando o 
usuário, por sua vez, a fazer parte da Rede das redes enquanto conectado.Nesse 
sentido: 
 
Quando se trata de provedor de acesso comercial, o serviço é prestado 
de modo oneroso, mediante remuneração direta, paga pelo consumidor 
(variável conforme a velocidade e forma de conexão, o tempo de acesso 
e a utilização de serviços adicionais), ou de modo aparentemente 
gratuito para o consumidor, mediante remuneração indireta, paga pelos 
anunciantes e pelas companhias telefônicas. Os primeiros veiculam 
seus produtos nos programas de discagem oferecidos por tais 
provedores e enviam propaganda pelo correio eletrônico a seus 
usuários, entre outras práticas comerciais, enquanto as segundas 
dividem com esses provedores parte da receita adicional oriunda do 
23 
 
aumento do número de pulsos gastos pelo usuário em razão do tráfego 
de dados através do sistema de telefonia. (LEONARDI, 2005, p.24) 
 
 Deve-se ter em mente que o provedor de acesso apenas oferece o acesso à 
Internet. Sendo desnecessário o fornecimento, concomitantemente, de serviços 
acessórios, tais como hospedagem de páginas, locação de espaço em disco rígido, 
correio eletrônico entre outros,bastando apenas que viabilize a conexão dos 
computadores de seus usuários à Internet. 
 
2.3.3 Provedor de Correio Eletrônico 
 
 Apesar da grande maioria dos provedores de acesso oferecer, 
acessoriamente, conta de correio eletrônico, há diversas outras empresas que prestam 
o serviço exclusivo de correio eletrônico.É importante reconhecer que provedores de 
correio eletrônico e provedores de acesso são serviços diversos e não podem ser 
confundidos. 
 
 Leonardi (2005, p.24) ao analisar a avaliação de desempenho dos 
provedores de acesso, alude que: 
 
Os serviços de correio eletrônico dependem necessariamente da 
existência de acesso prévio à Internet. Seu funcionamento é 
relativamente simples: o provedor de correio eletrônico fornece ao 
usuário um nome e uma senha para uso exclusivo em um sistema 
informático que possibilita o envio e recebimento de mensagens. Além 
disto, disponibiliza, também, espaço limitado em disco rígido em um 
servidor remoto para o armazenamento de tais mensagens. O usuário, 
quando desejar, pode optar por descarregar as mensagens em seu 
próprio computador, removendo-as ou não do servidor, ou simplesmente 
acessá-las diretamente no servidor sem descarregá-las, através da 
world wide web, utilizando para tanto, em qualquer caso, o nome e 
senha exclusivos fornecidos pelo provedor. 
 
 Em decorrência do serviço prestado, o provedor de correio eletrônico, como 
os demais provedores, é livre para fixar o preço do serviço, conforme as necessidades 
do cliente, sendo possível também determinar algumas restrições de uso do sistema, 
tais como disseminação de vírus, envio exagerado de mensagem eletrônica de 
24 
 
propaganda comercial não solicitada, e muitas outras práticas consideradas ilícitas no 
campo da Internet. 
 
2.3.4 Provedor de Hospedagem 
 
 A definição de Provedor de Hospedagem, conforme os ensinamentos de 
Leonardi (2005, p.25) é umaempresa que fornece o serviço de armazenamento de 
dados em servidores próprios de acesso remoto, de forma onedora ou gratuita, 
possibilitando o acesso de terceiros a esses dados, em conformidade com os termos e 
condições estabelecidas com o contratante do serviço. 
 
 Além da cessão de espaço em disco rígido, para armazenamento de dados, 
de acesso remoto, esses provedores podem disponibilizar outros serviços adicionais, 
como, por exemplo, backup periódico de conteúdo do sítio eletrônico armazenado, 
locação de servidores e/ou equipamentos informáticos, entre outros. Destarte, os 
serviços oferecidos pelos provedores de hospedagem são fundamentais para o 
funcionamento da web, e intrínseco aos provedores de conteúdo, os quais necessitam 
de tais serviços para publicar informações na rede. Nessa ótica, Leonardi (2005, p. 26), 
faz a seguinte consideração: 
 
Assim como os provedores de acesso e de correio eletrônico, os 
provedores de hospedagem podem prestar seus serviços de modo 
oneroso – mediante remuneração direta, paga pelo consumidor, variável 
de acordo com o volume mensal de tráfego de dados utilizado pelo web 
site, espaço disponível em disco rígido para armazenamento das 
informações, sistemas de segurança porventura adotados e outros 
serviços adicionais utilizados, ou de modo aparentemente gratuito para o 
consumidor – mediante remuneração indireta, como a venda dos dados 
cadastrais do usuário a empresas interessadas, anúncios do provedor e 
de terceiros inseridos em todas as páginas por ele criadas (normalmente 
sob a forma de banners59 ou janelas pop-up60), divulgação dos 
serviços do provedor no nome de domínio utilizado pelo web site, envio 
de propaganda pelo correio eletrônico, entre outras práticas 
convencionais no fornecimento de tais serviços. 
 
 O usuário é livre para escolher aquele provedor de hospedagem que melhor 
supra suas necessidades conforme as condições de armazenamento e o acesso aos 
25 
 
conteúdos que deseja disponibilizar por meio da Internet. 
 
 Em síntese, é de grande importância mencionar que o provedor de 
hospedagem, não tem a função de fiscalizar as informações guardadas em seus 
servidores, função esta de responsabilidade, em regra, exclusiva dos provedores de 
conteúdo. 
 
2.3.5 Provedor de ConteúdoConforme leciona Leonardi (2005, p.27), o provedor de conteúdo é toda 
pessoa jurídica ou natural que disponibiliza na Internet as informações criadas ou 
desenvolvidas pelos provedores de informação, utilizando para armazená-las os 
serviços de um provedor de hospedagem ouservidores próprios. 
 
 O provedor em análise, na maioria das vezes, tem a possibilidade de exercer 
um controle editorial preliminar sobre o conteúdo que o usuário do serviço publicar, 
classificando o tipo da informação a ser apresentada aos demais usuários antes de 
disponibilizá-la na Rede. 
 
 Diversos são os exemplos de provedores de conteúdo, e são mais comuns 
do que podemos imaginar, por está presente no dia-a-dia dos usuários da rede das 
redes, tendo em vista que englobam desde pessoas naturais que disponibilizam na 
rede mundial de computadores um blog pessoal ou um website qualquer a grandes 
portais de imprensa. 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
3 DIREITO E INTERNET 
 
 Desde o final do século XX, a tecnologia da informação vem se tornando 
mais acessível e abrangente, diante da rapidez e da praticidade da comunicação digital, 
a utilização de computadores ou de qualquer outra nova ferramenta eletrônica para a 
realização de tarefas como o armazenamentos de dados, a troca de informações entre 
pessoas situadas em localidades extremas do planeta, entre outras atividades, no 
instante de um clique, tem se tornado cada vez mais intensa. 
 
 Com o crescimento exponencial do número de usuários de internet no Brasil, 
surgiu, de forma paralela, diversos questionamentos relacionados às práticas de 
utilização dos serviços da rede mundial de computadores, sobre os temas, na maioria 
das vezes vinculados a violação de direitos fundamentais do ser humano. 
 
 Na mesma linha de raciocínio, Ferreira e Ferreira (2015) apresentam três 
características como justificativas do crescimento e da má utilização dos serviços da 
Word Wide Web: 
 
No Brasil, e em diversos países do mundo, a universalização no emprego dessa 
comunicação em rede demandou o estabelecimento de regras de uso e 
convivência, principalmente por se tratar de um tipo de comunicação que 
apresenta três características bastante peculiares e interligadas: 
- Rapidez, com envio e recepção da informação em tempo real, tomando 
proporções multiplicadoras que fogem ao controle do próprio emissor; 
- Integração, agregando várias pessoas e grupos diferentes, on-line, de forma a 
estabelecer novas interpretações e comentários que geram outras informações 
que se multiplicam com sentidos heterogêneos; e 
- Insegurança, causada pela aparente distância física e pelo suposto isolamento 
do emissor, que do seu espaço privado desenvolve a sensação de afastamento 
da esfera pública controlada pelo poder estatal, gerando assim uma percepção 
de desmando e impunidade em um território aparentemente livre e sem 
ordenamento. 
 
 Nesse sentido, é de grande importância ressaltar que, a muito pouco tempo 
atrás não havia no ordenamento jurídico brasileiro nenhuma norma jurídica que 
regulamentava ou determinava limites aos mais variados modelos de fluxo e acesso a 
27 
 
dados na rede mundial de computadores. Desse modo, os usuários tinham como 
amparo judicial, para as ilegalidades cometidas no mundo virtual, somente o Código 
Civil e o Código de Defesa do Consumidor. 
 
 Então, diante dessa carência de uma legislação específica, os usuários se 
encontravam cada vez mais desamparados diante das novas práticas de ilicitudes e 
decorrentes violações aos valores intrínsecos dos direitos humanos no meio digital, o 
Estado deparou-se com a necessidade de fazer de alguma forma cessar ou diminuir a 
prática online dessas ilegalidades, e foi depois de várias conversas, palestras, 
discussões sobre o tema, audiências públicas, com o objetivo de encontrar novos 
caminhos para regular a utilização dos serviços de internet com respeito aos preceitos 
constitucionais, direito, deveres e garantias dos usuários da rede das redes, sucedeu 
na elaboração da Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet. 
(SOARES, 2014) 
 
Segundo Binicheski (2015), o Marco Civil da Internet (MCI) surgiu com a 
expectativa de esclarecer impasses referentes à interpretação quanto à disciplina da 
responsabilidade civil imputada aos provedores de internet. No entanto, a respectiva lei 
tratou também de outros assuntos tão quanto importantes como liberdade de 
expressão, privacidade, bloqueio e retirada de informações ofensivas à honra e a 
imagem dos internautas disponíveis na rede, por intermédio de interferência judicial, 
entre outros. 
 
A partir de agora, irei dar maior ênfase a responsabilidade civil, em especial a 
responsabilidade civil dos provedores de internet, expor suas características e algumas 
de suas classificações com base na Lei nº 10.406, de janeiro de 2002 - Código Civil 
Brasileiro, na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 - Código de Defesa do 
Consumidor, na Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 - Marco Civil da Internet, na 
doutrina e nas jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal 
Federal, com o propósito de mostrar qual a norma mais apropriada para a aplicação na 
realidade fática. 
28 
 
3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 Tendo em vista que a Internet se tornou um meio de comunicação de massa 
e, que se encontra numa realidade crescente de consumo dos serviços por ela 
oferecidos, decorre a necessidade de um estudo sobre cada hipótese de 
responsabilidade com o objetivo de coibir possíveis práticas abusivas. 
 
 Como forma de introduzir a responsabilidade, vale registrar a feliz 
observação feita por Aguiar Dias (1994 apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, 
p.1), ao notar que: “Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da 
responsabilidade”. 
 
 Em outras palavras, qualquer atuação consubstanciada pelo homem eclode 
a necessidade de responsabilizá-lo pelos atos praticados por ele, o que proporciona o 
advento da sua responsabilidade, seja exercendo uma atividade comum de 
consciência, seja convivendo com seus semelhantes em sociedade. 
 
 Sobre a definição do conceito de responsabilidade, Gagliano e Pamplona 
Filho (2009, p.1-2), comentam que: 
 
A palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo latino respondere, 
significando a obrigação de que alguém tem de assumir com as 
consequências jurídicas de sua atividade, ainda, a raiz latina de 
spondeo, fórmula através da qual se vincula, no Direito Romano, o 
devedor nos contratos verbais. 
 
 Destarte, a responsabilidade se refere ao dever de arcar com o próprio 
comportamento ou por ações praticadas por um terceiro, desde que esse esteja sobre 
sua custódia, que resultem em qualquer tipo de prejuízo, ou seja, destina-se em 
restabelecer a harmonia e o equilíbrio quebrado pelo dano que compõe a causa 
geradora da responsabilidade civil. 
 
 A este respeito, é esclarecedor transcrever a concepção de Venosa (2012, 
29 
 
p.1), o qual esclarece que: 
 
Em princípio, toda atividade que acarreta prejuízo gera responsabilidade 
ou dever de indenizar. Haverá, por vezes, excludentes, que impedem a 
indenização [...] o termo responsabilidade é utilizado em qualquer 
situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as 
consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, 
toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. 
Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto 
de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar. 
 
 Assim, fica aparente que toda ação do homem adentra ou, pelo menos, 
reflete no âmbito daresponsabilidade, seja ela moral e/ou jurídica.Esta decorre apenas 
da violação de normas jurídicas, enquanto que a primeira é mais ampla, visto que pode 
ser decorrente tanto de normas jurídicas como morais, concomitantemente ou não.Para 
Gonçalves (2012, p.20): 
 
A responsabilidade moral e a religiosa, contudo, atuam no campo da 
consciência individual. O homem sente-se moralmente responsável 
perante sua consciência ou perante Deus, conforme seja ou não 
religioso, mas não há nenhuma preocupação com a existência de 
prejuízo a terceiro. Como a responsabilidade moral é confinada à 
consciência ou ao pecado, e não se exterioriza socialmente, não tem 
repercussão na ordem jurídica. Pressupõe, porém, o livre-arbítrio e a 
consciência da obrigação. 
 
 Desse modo, ficou claro que a responsabilidade moral, não produz efeitos na 
esfera jurídica, reproduzindo, tão somente, efeito no subconsciente do indivíduo, por 
sentir-se moralmente responsável por desobedecer a ensinamentos religiosos ou 
princípios pessoais. 
 
 Por conseguinte, é notório que a responsabilidade surge, em regra, como 
uma consequência negativa jurídica patrimonial decorrente da violação de uma 
obrigação. Sendo a responsabilidade considerada como uma espécie de sombra da 
obrigação. Sobre este aspecto, Gonçalves (2012, p.20-21) ressalta que: 
30 
 
 
A obrigação nasce de diversas fontes e deve ser cumprida livre e 
espontaneamente. Quando tal não ocorre e sobrevém o 
inadimplemento, surge a responsabilidade. Não se confundem, pois, 
obrigação e responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre 
espontaneamente a primeira. A responsabilidade é, pois, a 
consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação 
obrigacional. 
 
 Portanto, entende-se que responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, 
decorrente da violação de uma obrigação. Esta, por fim, será sempre um dever jurídico 
originário.Isto é, quando uma pessoa assume o compromisso de prestar um 
determinado serviço a outrem, contrai uma obrigação, um dever jurídico originário. Caso 
deixe de prestar o serviço, não cumprindo com a obrigação, transgredindo o dever 
jurídico originário, surge daí a responsabilidade, um dever jurídico sucessório, como um 
dever de reparar o prejuízo decorrente do não cumprimento de uma obrigação. 
 
 Todavia, apesar dessa analogia, a responsabilidade pode surgir 
independentemente da obrigação ou vice-versa. De igual modo, Gonçalves (2012, 
p.21), enfatiza que: 
 
Malgrado a correlação entre ambas, uma pode existir sem a outra. As 
dívidas prescritas e as de jogo constituem exemplos de obrigação sem 
responsabilidade. O devedor, nestes casos, não pode ser condenado a 
cumprir a prestação, isto é, ser responsabilizado, embora continue 
devedor. Como exemplo de responsabilidade sem obrigação pode ser 
mencionado o caso do fiador, que é responsável pelo pagamento do 
débito do afiançado, este sim originariamente obrigado ao pagamento 
dos aluguéis. 
 
 Quando uma dívida prescreve, caduca o direito do credor de exigir o 
adimplemento da obrigação, pelo fato do devedor estar isento da responsabilidade 
apesar da obrigação persistir. O mesmo acontece com as dívidas advindas de jogos, 
nesse caso, por ser uma atividade não regulamentada por lei, o motivo pelo o devedor 
ser isento da responsabilidade jurídica. 
 
 Já no caso de responsabilidade sem obrigação, o fiador é responsável, mas 
31 
 
não é obrigado. Visto que a obrigação de pagar o aluguel cabe a pessoa do inquilino, 
caso este não venha a cumprir sua obrigação é que entra a figura do fiador como o 
sujeito que afiança ou assegura o cumprimento de deveres e obrigações do inquilino. 
 
 As convicções da responsabilidade civil almejam restaurar uma estabilidade 
patrimonial e moral violada, onde um dano não concertado é um fator de agitação 
social. A contemporaneidade busca abranger cada vez mais o dever de indenizar, 
auferindo novos horizontes, afim de que cada vez menos permaneçam danos 
irressarcíveis. 
 
. Por consequência, cada vez mais o exame em torno da culpa tem decaído, 
“a responsabilidade com culpa ou subjetiva ocupa atualmente local secundário, pois 
existem inúmeras situações legais de responsabilidade objetiva ou sem culpa” 
(VENOSA, 2012, p.2). O passado evidencia as dificuldades que as vítimas tinham de 
provar a culpa do agente causador do dano, aonde se exigia, em muitos casos, a 
produção de provas um tanto complicadas. Dessa maneira, o declínio da culpa mostra-
se evidente, apesar de ser, ainda, considerada como regra pelo Código Civil de 2002. 
 
3.1.1 Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva 
 
 Muito tem a se discutir quando o estudo recai em torno da culpa. De acordo 
com o fundamento que se atribua à responsabilidade, a culpa sempre será ou não 
apontada como elemento da obrigação de reparar o dano. 
 
 Ao analisar individualmente a culpa, na atualidade, a jurisprudência nos 
remete a conceitos cada vez mais abrangentes, ou até mesmo, à tendência de não 
considerá-la como elemento necessário para o dever de indenizar. Porém, nem sempre 
foi assim. 
 
 Perante a teoria clássica, se tinha como fundamento da responsabilidade a 
culpa. Essa teoria, também conhecida como teoria subjetiva, ou teoria da culpa, 
32 
 
identifica a culpa como fundamento da responsabilidade civil. Logo, só haverá 
responsabilidade, depois que provada a presença da culpa. 
 
 Sobre o assunto, Gonçalves (2012, p.48) relata que: 
 
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia 
de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto 
necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a responsabilidade 
do causador do dano somente se configura se agiu com o dolo ou culpa. 
 
 Para teoria subjetiva, exigi-se que, a vítima lesada, em busca de reparação, 
comprove a culpa do agente, por ser pressuposto necessário do dano, ou seja, esta 
culpa, de natureza jurídica cível, só se caracterizará quando comprovada a prática de 
ato ilícito pelo agente causador do dano, seja dolosa ou culposa. 
 
 Ainda que a responsabilidade civil subjetiva tenha sido adotada como regra 
pelo Código Civil brasileiro de 2002, como se pode verificar em seus arts. 186 e 927, 
caput, os quais estabelecem que, só há o dever de reparação do dano, quando 
presente os seguintes requisitos: ação, omissão, nexo causal, dano e culpa. Todavia, 
há várias situações em que o ordenamento jurídico pátrio imputa a responsabilidade 
civil a alguém independente de culpa. A este respeito, Gonçalves (2012, p.50), 
esclarece que: 
 
A responsabilidade subjetiva subsiste como regra necessária, sem 
prejuízo da adoção da responsabilidade objetiva, em dispositivos vários 
e esparsos. Poderiam ser lembrados, como de responsabilidade 
objetiva, em nosso diploma civil, os arts. 936, 937 e 938, que tratam, 
respectivamente, da responsabilidade do dono do animal, do dono do 
prédio em ruína e do habitante da casa que caírem coisas. E, ainda, os 
arts. 929 e 930, que preveem a responsabilidade por ato lícito (estado 
de necessidade); os arts. 939 e 940, sobre a responsabilidade do credor 
que demanda o devedor antes de vencida a dívida ou por dívidas já 
pagas; o art. 933, pelo qual os pais, tutores, curadores, empregados, 
donos de hotéis e de escolas respondem, independentemente de culpa, 
pelos atos danosos causados por seus filhos, pupilos, curatelados, 
prepostos, empregados, hóspedes, moradores e educandos; o parágrafo 
único do art. 927, que trata da obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a 
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por 
33sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
 Imperiosa é a responsabilidade civil objetiva, que vem ganhando, cada vez 
mais, adeptos que defendem uma teoria de reparação do dano independentemente de 
culpa. Dentre as teorias, a que procurar justificar a responsabilidade civil objetiva é a 
teoria do risco. 
 
 É oportuno lembrar que a teoria do risco não despreza a culpa, mas sim se 
presume. Isso significa uma degradação do elemento etiológico fundamental da 
reparação. 
 
 Sobre a teoria do risco, Venosa (2012, p.6), descreve que: 
 
Trata-se da denominada teoria do risco criado e do risco benefício. O 
sujeito obtém vantagens ou benefícios e, em razão dessa atividade, 
deve indenizar os danos que ocasiona. Levando-se em conta o rumo 
que tomou a responsabilidade objetiva, a teoria da responsabilidade civil 
deixa de ser apoiada unicamente no ato ilícito, mas leva em conta com 
mais proeminência o ato causador do dano. Busca-se destarte evitar um 
dano injusto, sem que necessariamente tenha como mote principal o ato 
ilícito. 
 
 Isto quer dizer que, as teorias objetivistas da responsabilidade civil, buscam 
ao máximo a questão da reparação do dano, com fundamento no risco da atividade 
exercida pelo agente.Essa teoria surgiu no final do século XIX e teve sua origem na 
França, país responsável por sua consolidação doutrinária, expansão e avanços da 
responsabilidade civil. Desde seu surgimento, se refletiu bastante sobre a 
reestruturação dos dogmas, os quais partiam de uma noção que só havia 
responsabilidade com culpa. 
 
 Portanto, muitas foram as leis esparsas sancionadas, que tinham como 
influência a tese da responsabilidade objetiva, como, por exemplo, o Código de Defesa 
do Consumidor, o Código Brasileiro de Aeronáutica, a Lei de Acidentes do Trabalho e 
várias outras. 
 
34 
 
 É oportuno lembrar que, apesar do Código Civil brasileiro regulamentar 
inúmeros casos especiais em que se aplicam a responsabilidade objetiva, aderiu como 
regra geral à responsabilidade civil, que tem como fundamento a ideia da culpa. Reale 
(1978 apud GONÇALVEZ, 2012, p.51), faz a seguinte associação: 
 
Responsabilidade subjetiva, ou responsabilidade objetiva? Não há que 
fazer essa alternativa. Na realidade, as duas formas de responsabilidade 
se conjugam e se dinamizam. Deve ser reconhecida, penso eu, a 
responsabilidade subjetiva como norma, pois o indivíduo deve ser 
responsabilizado, em princípio, por sua ação ou omissão, culposa ou 
dolosa. Mas isto não exclui que, atendendo à estrutura dos negócios, se 
leve em conta a responsabilidade objetiva. Este é um ponto 
fundamental. 
 
 Assim, no Brasil, vige uma regra geral dual de responsabilidade civil. 
“Portanto, na ausência de lei expressa, a responsabilidade pelo ato ilícito será subjetiva, 
pois esta é ainda a regra geral no direito brasileiro” (VENOSA, 2012, p.13).Enquanto 
isso, coexiste com a responsabilidade objetiva, onde, em casos excepcionais, o juiz 
poderá aplicá-la no caso que examina, em razão da atividade de risco desenvolvida 
pelo agente causador do dano, conforme o disposto no parágrafo único do art. 927 do 
Código Civil em vigor. 
 
3.1.2 Responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual 
 
 Via de regra a obrigação de reparar um dano surge da prática de um ato 
ilícito. A grande questão nesse tema é saber se o ato ilícito, causador do prejuízo, 
ocorreu em função da violação de um mandamento legal, contratual ou negócio jurídico 
unilateral. 
 
 De início é interessante destacar a observação feita por Gagliano e 
Pamplona Filho (2009, p.16-17), onde eles comentam que: 
 
[...] se o prejuízo decorre diretamente da violação de um mandamento 
legal, por força da atuação ilícita do agente infrator (caso do sujeito que 
bate em um carro), estamos diante da responsabilidade extracontratual 
[...] pro outro lado, se, entre as partes envolvidas já existia norma 
35 
 
jurídica contratual que as vinculava, e o dano decorre justamente do 
descumprimento de obrigação fixada neste contrato, estaremos diante 
de uma situação de responsabilidade contratual. 
 
Desta forma, a responsabilidade civil contratual surge do inadimplemento de 
uma obrigação prevista em um contrato existente entre as partes. Isto é, o dever de 
reparar, é resultado da violação de norma contratual previamente fixada pelas partes. 
 
Já na responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, a obrigação de 
reparar é decorrente da violação direta de uma normal legal, ou seja, é derivado de 
uma infração a um dever de conduta, um dever legal. 
 
Ao tratar deste assunto, Venosa (2012, p.22), comenta que,“quem transgride 
um dever de conduta, com ou sem negócio jurídico, pode ser obrigado a ressarcir o 
dano. O dever violado será ponto de partida, não importando se dentro ou fora de uma 
relação contratual”. Continua o autor: 
 
A doutrina contemporânea, sob certos aspectos, aproxima as duas 
modalidades, pois a culpa vista de forma unitária é fundamento genérico 
da responsabilidade. Uma e outra fundam-se na culpa. Na culpa 
contratual, porém, examinamos o inadimplemento como seu fundamento 
e os termos e limites da obrigação. Na culpa aquiliana ou extranegocial, 
levamos em conta a conduta do agente e a culpa em sentido lato [...]. 
 
 Consequentemente, é notório, que o conceito amplo de culpa, representa o 
elemento subjetivo, nem sempre é indispensável, em consequência da possibilidade de 
haver responsabilidade civil independentemente de sua apreciação, conforme as 
hipóteses excepcionais previstas em lei, ou quando a atividade desenvolvida pelo 
agente causador do dano, normalmente, apresentar risco para os direitos de outrem. 
 
 Outro aspecto de grande importância, diz respeito ao ônus da prova. Quando 
a responsabilidade civil for contratual, cabe à vítima, apenas, comprovar que a 
obrigação não foi cumprida, visto que neste caso, via de regra, a culpa é presumida, 
ficando o devedor com o ônus de provar que não agiu com culpa ou a ocorrência de 
alguma das excludentes previstas em lei: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou 
36 
 
força maior, conforme o estabelecido nos artigos 389 e seguintes do Código Civil 
brasileiro, que trata do inadimplemento das obrigações e também nos artigos 394 e 
seguinte da mesma lei, que versa sobre as consequências da mora. 
 
 Enquanto que na responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, 
disciplinada pelo Código Civil nos artigos 186 a 188, sob o título “Dos Atos Ilícitos”, 
complementando essa regulamentação os artigos 927 e seguinte do mesmo código, o 
ônus da prova cabe à vítima, ou seja, cabe ao autor da ação provar que o fato se 
ocorreu por culpa do agente. Assim, a vítima tem menores probabilidades de obter 
condenação do agente causador do dano ao pagamento da indenização. 
 
 Há quem reprove essa dualidade de tratamento. São os aderentes da tese 
monista ou unitária, “que entendem pouco importar os aspectos sob os quais se 
apresente a responsabilidade civil no cenário jurídico, pois uniformes são os seus 
efeitos” (GONÇALVEZ, 2012, p.45). 
 
 Na realidade, praticamente as soluções são equivalentes para os dois 
aspectos. Pois, o que realmente requer para a configuração da responsabilidade, tanto 
em um como em outro, são três requisitos: ato ilícito, dano e nexo causal. 
 
 Esta tese unitária ou monista é, atualmente, dominante na doutrina. Porém, 
como bem ressalva Gonçalves (2012, p.45), “[...] Nos códigos de diversos países, 
inclusive no Brasil, tem sido, contudo, acolhida a tese dualista ou clássica, embora 
largamente combatida”. 
 
3.1.3 Responsabilidade civil nas relações de consumo 
 
 Determina a CartaConstitucional em seu art. 5º, inciso XXXII, que o “Estado 
promoverá na forma da lei, a defesa do consumidor”. Em obediência a essa 
determinação, foi elaborada a Lei n. 8.078/90, que entrou em vigor em março de 1991, 
a qual estabelece normas de proteção e defesa do consumidor. 
37 
 
 
 A promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) representa uma 
revolução para o direito brasileiro e, em especial, para o instituto da responsabilidade 
civil. “Trata-se de codificação moderna, na qual motivos de seus princípios são 
inovadores, mesmo se comparados com a ordem internacional”, comenta Venosa 
(2012, p.236). Diante do desenvolvimento que as sociedades de consumo atingiram, os 
direitos do consumidor surgem como forma de proteção do indivíduo, neste contexto 
vale a pena observar a seguinte citação: 
 
Com a evolução das relações sociais e o surgimento do consumo em 
massa, bem como dos conglomerados econômicos, os princípios 
tradicionais de nossa legislação privada já não bastavam para reger as 
relações humanas, sob determinados aspectos. E, nesse contexto, 
surgiu o Código de Defesa do Consumidor, atendendo a princípio 
constitucional relacionado à ordem econômica. Partindo da premissa 
básica de que o consumidor é a parte vulnerável das relações de 
consumo, o Código pretende restabelecer o equilíbrio entre os 
protagonistas de tais relações. Assim, declara expressamente o art. 1º 
que o referido diploma estabelece normas de proteção e defesa do 
consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem pública e de 
interesse social. (GONÇALVES, 2011, p.23) 
 
 O legislador pátrio estabeleceu conceitos objetivos referentes às partes da 
relação de consumo, fugindo das tradicionais definições proferidas pela legislação 
estrangeira. Consoante o artigo 2º do CDC, consumidor “é toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Nota-se que tanto a 
pessoa jurídica como a pessoa natural são consideradas consumidores, sempre que 
destinatários finais. Além das pessoas jurídicas, devem ser inseridas nesse conceito as 
entidades com personificação anômala, como o espólio, a massa falida e o condomínio. 
 
 Inovadora é a posição do Código de Defesa do Consumidor, ao incluir a 
pessoa jurídica na definição do consumidor, colocando-a na mesma condição e 
circunstância de vulnerabilidade nas relações de consumo. 
 
 Do outro lado da relação jurídica encontra-se o fornecedor, estando suas 
características definidas no artigo 3º do CDC: 
38 
 
 
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional 
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização 
de produtos ou prestação de serviços. (BRASIL, 1990). 
 
 Mais uma vez, a referida lei trás uma definição abrangente, atingindo todos 
os que participam da fabricação e distribuição de bens e/ou serviços. O produtor ou 
fabricante é o elemento mais importante das relações de consumo, tendo em vista que 
é ele quem domina a fabricação e introduz o produto perigoso no mercado, que 
chegaàs mãos dos comerciantes ou distribuidores já pronto para o consumo. 
 
 Quanto a responsabilidade nas relações de consumo, Gonçalves (2011, 
p.23), comenta que: 
 
No sistema da legislação consumerista, tanto a responsabilidade pelo 
fato do produto ou serviço como oriunda do vício do produto ou serviço 
são de natureza objetiva, prescindindo do elemento culpa a obrigação 
de indenizar atribuída ao fornecedor. Em linhas gerais, estipula-se 
reparação de danos, tanto patrimoniais como morais, na tutela da 
própria Constituição de 1988 (art. 5º, V) e sem prejuízo de 
sancionamentos outros cabíveis. Compreendem-se, em seu contexto, 
tanto danos a pessoa com a bens, prevalecendo a obrigação de 
ressarcimento nos casos de vício, falta ou insuficiência de informações, 
ou seja, tanto em razão de problemas intrísecos como extrínsecos do 
bem ou do serviço. 
 
 Mencionado isto, nos termos do artigo 12 do CDC, o fornecedor só ficará 
isento de responsabilidade quando provar que não colocou o produto no mercado, que 
a culpa é exclusiva de terceiro ou do consumidor ou que, embora haja colocado o 
produto no mercado, o defeito inexiste. 
 
 Outra característica importante é que o Código de Defesa do Consumidor, 
partindo da premissa da vulnerabilidade e da hipossuficiência do consumidor, aplica-se 
a favor deste, a inversão do ônus da prova no processo civil, dentre outras facilidades 
para a defesa de seus direitos. 
39 
 
3.2 LEI Nº 12.965/14 – MARCO CIVIL DA INTERNET (MCI) 
 
 A expansão da rede mundial de computadores trouxe novos desafios no 
campo do direito, alguns desses desafios encontraram barreiras na própria legislação, 
empurrando os usuários para um verdadeiro limbo. Com a Lei no12.965/2014, 
conhecida como marco civil da internet, resultado de vários debates em âmbito jurídico, 
houve uma regulamentação do uso da internet no país , e de certa forma abriu-se um 
campo de cobertura legal para os milhões de usuários da internet no Brasil.Dessa forma 
o marco civil assinalou o acesso à internet como um instrumento essencial ao exercício 
da cidadania e da liberdade de expressão, elevando-o a um novo patamar 
constitucional. 
 
 As disposições preliminares são apresentadas no primeiro capítulo, 
abrangendo os princípios básicos norteadores da lei, estabelecendo diretrizes para a 
atuação da esfera governamental em relação à matéria.Fundamenta, sobretudo, o 
respeito à liberdade de expressão, reconhecendo a importância da rede mundial de 
computadores e entendendo a sua submissão aos direitos humanos.Dessa forma, o 
artigo 3odeixa claro que tais princípios não excluem outros previstos em ordenamento 
jurídico pátrio relacionados à matéria ou em tratados internacionais em que a República 
Federativa do Brasil seja signatária. Por fim o artigo 5o delimita conceitos 
(internet,terminal,endereço de protocolo de internet, entre outros) que terão efeitos 
práticos na aplicabilidade da lei. 
 
 Os direitos e garantias dos usuários da rede são versados no capítulo II da 
lei, nesse ponto a lei traz aspectos importantes correlacionados à violação da 
intimidade e da vida privada do usuário, protegendo-o e indenizando-o por possível 
dano material e moral.Dessa forma a legislação estabelece o dever da proteção à 
intimidade, privacidade, da honra e da imagem dos cidadãos.Com isso, a lei imputa aos 
provedores de conexão e de acesso diversos deveres, como por exemplo, a adequação 
técnica necessária para o cumprimento legal. 
 
40 
 
 Decerto o capítulo que instiga um maior debate é o terceiro, nele o marco 
civil expressa a neutralidade da rede, ou seja, prima por um acesso igualitário.Dessa 
forma há uma imposição legal de que todos os provedores/operadoras não podem 
estabelecer pacotes de preços diferenciados para acesso com exclusividade a 
determinados sites da rede.O provedor de conexão deve funcionar apenas como uma 
“ponte” entre o usuário e a internet não tendo poder legal para definir que domínio deve 
ser utilizado, de forma imparcial o provedor ligaria o mundo físico ao espaço cibernético 
sem nenhum juízo de valor.Ainda no terceiro capítulo , a seção II legisla sobre a 
proteção aos registros , aos dados pessoais e às comunicações, nesse ponto a lei 
estabelece que a os registros de conexão devem ser guardados e mantidos sob sigilo 
durante o período de 1(um) ano.Já os registros de acesso a aplicações de internet, na 
provisão de conexão é vedada a guarda e na provisão de aplicações deve ser mantido 
sob sigilo pelo prazode 6(seis) meses.Outro ponto do referido capítulo a ser discutido é 
a seção III, que trata da responsabilidade civil, no cenário anterior ao marco civil, o STJ 
entendia que os provedores de aplicações que mantivessem serviços de redes sociais 
deveriam retirar, em até 24 horas do recebimento da notificação, publicações ofensivas 
à pessoa.Com o marco civil o provedor não tem responsabilidade sobre o conteúdo 
gerado por terceiro, ele só será responsabilizado caso não forneça algum dado 
requisitado, seja retirando algum conteúdo ou mesmo desobedecendo a uma ordem 
judicial.A quarta seção e última do capítulo III refere-se à requisição judicial dos 
registros,cabendo a parte interessada requerer ao juiz que ordene ao responsável pela 
guarda o fornecimento dos dados necessários com o objetivo de formar material 
probatório em processo judicial cível ou penal. 
 
 O capítulo quatro argumenta sobre a atuação do poder público, o artigo 24 
do referido capítulo traz as diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios para o desenvolvimento da rede no país.Outros aspectos 
ainda incluem o acesso digital a todos os interessados, a educação digital, a promoção 
da cultura e da cidadania, a melhoria da infraestrutura e a busca pela diminuição das 
desigualdades do país a partir das tecnologias de informação e comunicação. 
 
41 
 
 Por fim, o quinto e último capítulo assegura o direito de escolha ao usuário 
de programa de computador em seu terminal para o exercício de controle de material 
impróprio para seus filhos menores.Atesta ainda o exercício da lei em caráter individual 
e coletivo, e conclui registrando a aplicação da lei em âmbito nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
4 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE 
APLICAÇÕES DE INTERNET 
 
 Antes de entrar na discussão da problemática do presente texto monográfico, 
se faz necessário buscar o conceito de Provedor de Aplicação de Internet (PAI) trazido 
de forma não muito clara pelo Marco Civil da Internet. 
 
4.1 O PROVEDOR DE APLICAÇÕES DE INTERNET 
 
 À vista disso, surge a pergunta: o que é Provedor de Aplicações de internet? 
 
 Nos termos do artigo 15 do Marco Civil (BRASIL, 2014), o provedor de 
aplicações é aquele “constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa 
atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos”. Não 
obstante, o inciso VI do artigo 5º da mesma lei traz mais uma definição sobre 
aplicações de internet, considerando como “o conjunto de funcionalidades que podem 
ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet”. 
 
 Então, num primeiro momento, pode-se dizer que Provedor de Aplicação de 
Internet é uma expressão que descreve qualquer organização, grupo ou empresa que 
proporcione aos usuários um conjunto de funcionalidades podem ser acessadas por 
meio de um computador conectado à internet. 
 
 Dessa forma, pode-se tirar uma conclusão inicial que não se enquadra na 
expressão acima citada, o provedor de backbone (provedor de infraestrutura) e o 
provedor de acesso ou conexão, este último pela própria distinção feita pelo Marco Civil 
da Internet em seu texto entre provisão de aplicações e provisão de conexão de 
internet. 
 
 Segundo Ceroy (2014), está incluso dentro do conceito de Provedor de 
43 
 
Aplicações o provedor de conteúdo, o provedor de hospedagem e o provedor de correio 
eletrônico. Consequentemente o termo em análise abrange também o provedor de 
serviços, uma vez que ambos os provedores estão intimamente entrelaçados. 
 
 Dando continuidade ao tema, ainda no artigo 15, caput, traz uma grande 
contribuição para se chegar a uma definição final de provedor de aplicação de internet. 
Dispõe o referido artigo que: 
 
Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de 
pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, 
profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos 
registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente 
controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do 
regulamento. 
 
 Um julgamento apressado desse dispositivo, de acordo com Ceroy (2014), 
“poderia nos levar à conclusão de que somente as pessoas jurídicas, organizadas, 
profissionais e com fins econômicos estariam abarcadas pelo conceito de PAI. Nada 
mais equivocado”. 
 
 Todavia, o parágrafo primeiro do artigo 15 do Marco Civil desfaz o mal-
entendido ao frisar que: 
 
Ordem judicial poderá obrigar, por tempo certo, os provedores de aplicações de 
internet que não estão sujeitos ao disposto no caput a guardarem registros de 
acesso a aplicações de internet, desde que se trate de registros relativos a fatos 
específicos em período determinado. 
 
 Assim sendo, Ceroy (2014) nos conduz ao conceito de Provedor de 
Aplicação, de forma bem coerente, ao dizer que: 
 
Provedor de Aplicação de Internet (PAI) é um termo que descreve 
qualquer empresa, organização ou pessoa natural que, de forma 
profissional ou amadora, forneça um conjunto de funcionalidades que 
podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet, não 
importando se os objetivos são econômicos. 
 
44 
 
 Por conseguinte, perante estas informações apresentadas podemos concluir 
que, independentemente do interesse econômico, a empresa, a organização ou a 
pessoa natural que, de forma amadora ou profissional, forneça um conjunto de 
funcionalidades que podem ser acessadas por meio de qualquer máquina conectada à 
rede mundial de computadores, são consideradas Provedores de Aplicações de 
Internet. 
 
4.2 DA ANTINOMIA JURÍDICA ENTRE O CÓDIGO DE DEFESA DO 
CONSUMIDOR E O MARCO CIVIL DA INTERNET EM MATÉRIA DE 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 Quando o tema é responsabilidade civil dos Provedores de Aplicações de 
Internet, surge para os operadores do direito um dilema. De um lado está o Código de 
Defesa do Consumidor e do outro lado está o Marco Civil da Internet, ambas as leis 
trazem consigo uma grande e importante gama de garantias, deveres e direitos 
fundamentais. 
 
 Dessa maneira, fica delegado aos profissionais do direito, o trabalhoso dever 
de harmonizar o ordenamento jurídico, apurando, em cada caso concreto, qual será a 
lei que deverá prevalecer no confronto com o sistema normativo pátrio. 
 
 Analisando o artigo 19 do Marco Civil (BRASIL, 2014), que trata da 
responsabilidade civil do provedor de aplicações, traz em seu texto o seguinte 
desfecho: 
 
Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a 
censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser 
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado 
por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as 
providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e 
dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado 
como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. 
 
 Em outras palavras, o referido artigo designa ao provedor de aplicações de 
45 
 
internet, sujeito prestador de serviços, uma responsabilidade civil subjetiva e 
judicializada, visto que ele só será responsabilizado civilmente por conteúdo gerado por 
terceiro caso desobedeça a uma ordem judicial específica, para tornar indisponível o 
conteúdo ofensivo, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço. 
 
 Pois bem, nos deparamos aqui com uma antinomia quanto à 
responsabilidade civil desses provedores, uma vez que o Código de Defesa do 
Consumidor assenta uma responsabilidadeobjetiva e extrajudicial frente aos 
fornecedores de produtos e/ou serviços. 
 
 Ora, não há dúvidas quanto à natureza jurídica do provedor de aplicações 
fixada pelo artigo 15 do Marco Civil e descrita no tópico anterior, se enquadra 
perfeitamente na definição trazida pelo artigo 3º do CDC (BRASIL, 1990). 
 
 Nessa perspectiva, Cavalcanti (2014) faz a seguinte observação em seu 
texto: 
 
Assim, “fornecedor” é um gênero do qual o “provedor de aplicações de 
internet” é espécie, pois se este provedor de aplicações de internet 
exerce atividade econômica, obviamente visa o lucro. 
Conseguintemente, também possui uma clientela e um destinatário final. 
 
 O autor supracitado busca agregar a definição de “provedor de aplicações de 
internet” com a de “fornecedor”, com a finalidade de aplicar a tais provedores a 
classificação da responsabilidade civil firmada pelo Código de Defesa do Consumidor, 
qual seja, responsabilidade objetiva e extrajudicial. Vejamos tal pensamento: 
 
Assim, não há a menor razão de excluir os provedores de 
aplicações de internet do campo de aplicação do CDC e despojar 
os consumidores de direitos já consolidados, como é o caso de se 
ver indenizado pela responsabilização objetiva do fornecedor. O 
Marco Civil, ao reverso, impõe a judicialização compulsória do 
conflito de interesses, o que além de onerar substancialmente o 
consumidor, só apura responsabilidade do provedor em caso de 
desobediência à ordem judicial. Sem embargo, o artigo 19 do 
Marco Civil traz um maior ônus econômico ao consumidor, que terá 
46 
 
que levar obrigatoriamente seu caso à justiça para ver solucionado 
seu problema, amargando inevitável retardo na solução de lesões 
irreparáveis ou de difícil reparação.(CAVALCANTI, 2014). 
 
 Consequentemente, por qual motivo a imunidade à responsabilidade objetiva 
e a disparidade de tratamento a favor dos provedores de aplicação de internet? 
 
 Ora, à luz do Princípio Constitucional da Isonomia, parece ser correto e 
coerente o posicionamento adotado pelo autor, que na sua perspectiva o provedor de 
aplicações é uma organização capitalista como qualquer outra, não havendo lógica 
alguma em privilegiá-los com um tratamento mais vantajoso em comparação as demais 
organizações capitalistas, logo não poderia ficar isento do procedimento mais severo 
situado no Código de Defesa do Consumidor. 
 
 Essa tese da responsabilidade objetiva do provedor, por sua vez, encontra-
se gerealmente ancorada em dois fundamentos: o primeiro no defeito da prestação de 
serviço na relação de consumo, ou seja, quando o provedor ao tomar ciência do 
conteúdo nocivo, falha ao tentar removê-lo, mediante requisição da vítima; e o segundo 
na caracterização da atividade de risco, ao impor àquele o dever de monitoramento, 
fiscalização e filtragem dos conteúdos gerados por terceiros. 
 
 Mas o que acontece é que a jurisprudência e a doutrina majoritária, segundo 
Leite e Lemos (2014, p. 798), procuraram pesquisar não somente se existe risco na 
atividade, fato constante na grande maioria das situações cotidianas, mas também se o 
risco apresentado pelo serviço fornecido é maior do que o risco habitual, 
caracterizando-se como alguma coisa extraordinária e específico da conduta em 
análise. 
 
 Por essa ótica, e se contrapondo à aplicação da responsabilidade objetiva 
aos provedores, explana Barbagalo (2003, p. 361): 
 
Entendemos que as atividades desenvolvidas pelos provedores de 
serviços na Internet não são atividades de risco por sua própria 
47 
 
natureza, não implicam em riscos para direitos de terceiros maior que os 
riscos de qualquer atividade comercial. E interpretar a norma no sentido 
de que qualquer dano deve ser indenizado, independentemente do 
elemento culpa, pelo simples fato de ser desenvolvida um atividade uma 
atividade, seria, definitivamente aonerar os que praticam atividades 
produtivas regularmente, e consequentemente atravancar o 
desenvolvimento. 
 
 O posicionamento que atribui o risco de forma inerente às atividades típicas 
da internet acabou retrogredindo e o Superior Tribunal de Justiça, várias vezes, se 
contrapôs a esse entendimento. Como se pode observar: 
 
Ementa: RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO 
ELETRÔNICO ERESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. 
PROVEDOR SEM CONTROLE PRÉVIO DE CONTEÚDO. ORKUT. 
BUSCA MENSAGEM OFENSIVA.RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
NÃO CARACTERIZADA. SÚMULA 7/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. AGRAVO 
DESPROVIDO. 1. Este Tribunal Superior, por seus precedentes, já se 
manifestou no sentido de que: I) o dano moral decorrente de mensagens 
com conteúdo ofensivo inseridas em site por usuário não 
constituirisco inerente à atividade desenvolvida pelo provedor da 
internet, porquanto não se lhe é exigido que proceda a controle prévio 
de conteúdo inserido e disponibilizado por usuários, pelo que não se lhe 
aplica a responsabilidadeobjetiva, prevista no art. 927 , parágrafo único , 
do CC/2002 ; II) a fiscalização prévia dos conteúdos postados não é 
atividade intrínseca ao serviço prestado peloprovedor no ORKUT. 2. 
Haverá responsabilidade subjetiva do provedor, quando: I) ao ser 
comunicado de que determinado texto ou imagem tem conteúdo ilícito, 
por ser ofensivo, não atua de forma ágil, retirando o material do ar 
imediatamente, passando a responder solidariamente com o autor direto 
do dano, em virtude da omissão em que incide; II) não mantiver um 
sistema ou não adotar providências, que estiverem tecnicamente ao seu 
alcance, de modo a possibilitar a identificação do usuário responsável 
pela divulgação ou a individuação dele, a fim de coibir o anonimato. STJ 
- AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL AgRg no REsp 
1395803 RJ 2012/0241230-5 (STJ) 
 
 Então, nesse ponto, o Marco Civil acertou ao afastar a responsabilidade de 
natureza objetiva, pelo simples fato de exibir o conteúdo ilícito, seja com base na tese 
do risco da atividade desenvolvida, seja com base na falha do serviço prestado, 
adotando o posicionamento da responsabilidade subjetiva dos provedores. 
 
 Entretanto,quando o Marco Civil, acertadamente, segue no sentido da 
48 
 
responsabilidade subjetiva, seu texto erra ao impor a judicalização obrigatória do 
conflito de interesse, ou seja, compele ao usuário, vítima de infrações cometidas na 
internet ou por meio da internet, um procedimento mais moroso e até mesmo mais 
oneroso, conseguintemente, também, mais agravoso, aumentando as chances do 
usuário incorrer em um dano irreparável ou de difícil reparação. 
 
 Nessa panorama, Leite e Lemos (2014, p. 810), faz a seguinte observação: 
 
Por outro lado, se o Marco Civil aponta o sentido da responsabilidade 
subjetiva, o mesmo também se divorcia do entendimento de que os 
provedores deveriam ser responsabilizados se, uma vez tornados 
cientes do conteúdo reputadamente ilícito, não tomam providências para 
a sua remoção. Aqui reside talvez uma das mais acesas controvérsias 
da Lei, já que o Marco Civil apenas considera que os provedores 
poderiam ser responsabilizados se não cumprissem ordem judicial para 
a retirada do conteúdo. 
 
 É notável que a lei recém-promulgada atribui mais um ônus à vítima, a qual 
precisará pleitear no judiciário a retirada do conteúdo infringente, que segundo Martins 
(2014), “além de provocar o aumento da extensão do dano, uma vez que o mesmo 
ficará mais tempo disponível na rede”. 
 
 Ness sentido, Cavalcante (2014) chega a seguinte conclusão: 
 
Enfim, o Marco Civil é uma verdadeira mãe para os provedores de 
aplicações, que terão algumas obrigações burocráticas de 
armazenamento, é verdade, mas ficarão livres do dever de indenizar 
o internauta lesado com a previsão legal do

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