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Coletânea de textos
 Disciplina: COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
 Professor: Flávio 
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ESTÁGIO - Hábito de ler e fazer esporte desenvolvem habilidades
A inexperiência não é problema para quem busca o primeiro estágio: boa parte do mercado não exige vivência corporativa. "O candidato que sempre se destaca é o que tem postura, comunicação clara e interesses definidos", lista Andrea Aikawa, 34, gerente de recrutamento e seleção do Citibank Brasil. Já Thomaz Meirelles, 44, gerente de desenvolvimento organizacional da GlaxoSmithKline, valoriza comportamento de alta performance, como inovação, flexibilidade, comunicação e trabalho em equipe. Esportes coletivos afiam essas competências, diz Sofia Esteves, 46, presidente do Grupo DMRH. "Leitura amplia a capacidade de análise; trabalho voluntário estimula a sensibilidade ao outro e melhora a capacidade de trabalho em equipe." Para quem nunca trabalhou, a dica de Alexandre Oliveira, 38, gerente nacional de estágios da Gelre, é participar de empresa júnior ou diretório acadêmico e ter vivências no exterior. "É mais fácil se adaptar a uma empresa global." (ECL) (Folha de SP, 17/08/2008)
PORTUGUÊS - Boa redação diferencia os candidatos a trainee
Como candidatos a trainee têm currículos parecidos, o "desempate" geralmente depende de uma boa redação -uma das etapas das provas. "Não adianta ter boas idéias e não conseguir expressá-las", diz Augusto Costa, diretor-geral da Manpower. Para ele, erro de português denota desleixo. Ao redigir o currículo, é bom ser seletivo com os cursos e apontar só os que tiverem relação com a vaga pretendida. Para quem vai fazer a inscrição online, Maiti Junqueira, gerente da área de jovens profissionais da Across, recomenda ter em mente o que pensa da empresa e quais são as expectativas em relação a ela. "Essas perguntas sempre ficam por último, quando o candidato já está cansado, mas estão entre as mais importantes." Cada empresa tem um processo seletivo próprio, mas em geral as etapas são preencher formulário virtual, fazer provas e passar por dinâmica de grupo e entrevistas com gestores. Neste ano, o Unibanco mudará uma das fases de sua seleção. Para evitar desistência de candidatos de outros Estados, a dinâmica de grupo será feita em cinco cidades além de São Paulo: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Porto Alegre. (RGV) (Folha de SP, 17/08/2008)
AQUECIMENTO - Currículo e dinâmica identificam potencial
CANDIDATOS DEVEM FAZER PESQUISA SOBRE A EMPRESA E MOSTRAR TER METAS CLARAS
É hora de se apresentar à empresa. Desde o currículo até a entrevista, haverá uma bateria de testes para identificar no candidato características que ela valoriza: capacidade de análise e síntese, iniciativa e habilidade para trabalhar em equipe. O ponto de partida é o currículo, com informações essenciais e diferenciais. "Não pode ter 200 páginas. Deve ser enxuto, conciso", crava Ricardo Dreves, 51, diretor-geral da consultoria Dreves & Associados. "Excesso de informação pode ser considerado falta de foco", diz Fátima Domingues, 49, consultora de RH da Manager. Nele vão dados pessoais, formação (ensino médio só é incluído se tiver sido técnico), idiomas (com nível de domínio), conhecimentos de informática e experiências profissionais. Quem nunca fez estágio deve incluir as principais atividades na faculdade. Como há pouco a relatar, experiências como trabalho voluntário, intercâmbio e atividades ou cursos extra-curriculares são bem-vindas. "Podem fazer a diferença", explica Luiz Bueno, 41, gerente de recrutamento e seleção da Novartis. 
Cara a cara
O próximo teste é a dinâmica em grupo. Geralmente reproduz situações do dia-a-dia da empresa -instigando a solução de casos-, abre espaço para discussão ou simula reuniões. "A idéia é avaliar a capacidade de argumentação e a maneira de se relacionar com os colegas", afirma Sofia Esteves, presidente do Grupo DMRH. Em dinâmicas e entrevistas, avalie o clima antes de falar. "Perceba se deve falar mais ou se está sendo prolixo", diz. Ter objetivos claros e expressá-los com coerência é fundamental. Para Dreves, "quem mostra que não sabe direito o que está fazendo no processo seletivo ou não consegue demonstrar um interesse genuíno pela vaga não é aprovado". Sobressai-se quem optou por concorrer à vaga após pesquisar sobre a empresa e o mercado. "O processo seletivo é de escolha mútua", define Alexandre Oliveira, gerente nacional de estágios da Gelre. (ECL) (Folha de SP, 17/08/2008)
LIÇÃO
No 4º ano de administração da Universidade Ibirapuera, Yasmin Lingoist , 21, não conseguiu chegar ao fim de um processo de trainee em 2007. Resolveu se preparar melhor: assumiu a presidência da empresa júnior da faculdade, fez estágio e assessora uma professora em suas palestras. (Folha de SP, 17/08/2008)
A DEDO
Entrar na empresa júnior da faculdade de economia não foi diferencial para Vitor Souza, 23. "Só me colocava no mesmo patamar dos outros. Concorria com quem tinha vivência no exterior." Ele participou de vários processos seletivos, e um dos estágios que conseguiu foi por indicação de amigo. (Folha de SP, 17/08/2008)
O futuro do emprego
O aumento do PIB nos últimos anos, como era de esperar, beneficiou o mercado de trabalho.
Os dados do IBGE referem-se apenas a seis regiões metropolitanas, e há poucos indicadores no país que reflitam períodos longos de tempo. Mesmo assim, é possível inferir tendências.
A taxa de desemprego passou por duas fases nos últimos 20 anos. A primeira foi de aumento persistente, entre 1990 e 1998, quando subiu de 9% para cerca de 13%, oscilando nessa faixa até 2003. Em 2004 começou a segunda fase, de declínio acelerado para o patamar atual, próximo a 7%.
Além da queda do desemprego, a qualidade da geração de postos de trabalho mudou nos últimos anos: a proporção de empregos com carteira assinada cresceu de 57%, há 10 anos, para 64%.
Os anos 1990 foram marcados pela estabilização da economia e forte ajuste na indústria. Mas parte do ganho de produtividade do setor decorreu de demissões em massa, com aumento da informalidade -o que é ruim para a economia como um todo.
O reencontro com o crescimento nos últimos anos mostrou as vantagens do aumento da produtividade associado à criação de empregos de qualidade.
O fortalecimento das relações de trabalho explica parte importante da expansão do crédito e do varejo verificada nos últimos anos. Ao lado dos programas de renda mínima e dos aumentos do salário mínimo, foi uma das causas da redução da pobreza.
Por outro lado, níveis de ocupação não vistos há décadas têm criado riscos inflacionários. Há sinais de escassez em certos setores, e os salários na construção civil crescem no ritmo de 15% ao ano.
O grande desafio para os próximos governantes será melhorar o investimento no chamado capital humano e modernizar a ainda deficiente legislação trabalhista.
(Editorial, Folha de SP, 20/06/2010)
Mão de obra qualificada é novo gargalo
Em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas, índice recorde
Engenheiros e nutricionistas estão entre as ocupações com maior sobra de vagas; baixo nível de escolaridade está entre as explicações - JULIANNA SOFIA - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA 
A escassez de mão de obra qualificada levou o Brasil a bater recorde de sobra de vagas no mercado de trabalho formal em 2009. Dados obtidos pela Folha sobre o desempenho do Sine -rede pública de agências de emprego- mostram que 1,661 milhão de postos de trabalho oferecidos pelas empresas no ano passado não foram preenchidos por esse sistema.
Apesar do estrago causado pela crise global na geração de empregos formais em 2009 (pior saldo anual desde 2003), a oferta de vagas nas agências do Sine foi a maior da década: 2,7 milhões.
A taxa de preenchimento de empregos apurada pelo Sine ficou em 39%, ante 42% em 2008 e 48% em 2007. Esseindicador considera a relação entre o número de vagas disponíveis na rede e o total de pessoas que conseguiram colocação no mercado por meio do sistema público. Em 2008, o excedente de vagas atingiu 1,458 milhão.
O principal motivo para o não preenchimento dos postos é a falta de qualificação da mão de obra, o que compreende baixo nível de escolaridade, carência de preparo técnico e pouca experiência.
Apesar da sobra de vagas pelo sistema Sine, a taxa de desemprego no ano passado ficou em 8,9%, segundo dados do IBGE -percentual pouco acima dos 7,9% registrados em 2008.
A tendência é que a situação se agrave neste ano, quando são esperados aumento da atividade econômica e maior oferta de emprego. A dificuldade de as empresas encontrarem trabalhadores qualificados já é considerada um gargalo comparável à falta de infraestrutura/logística e à elevada carga tributária.
Ranking - O excedente de postos de trabalho captado pelo Sine ocorreu tanto em profissões de nível superior quanto em atividades com menor escolaridade, mas que necessitam de conhecimento técnico.
Ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho a pedido da Folha revela que entre as ocupações com maior sobra de vagas estão engenheiros civil e mecânico, nutricionista e farmacêutico. Também faltaram auxiliares de linha de produção, pedreiros e operadores de telemarketing. Nas estatísticas oficiais, ainda aparecem eletricistas, torneiros mecânicos e funções ligadas ao setor naval.
"Isso mostra o aquecimento da economia, que fez com que fossem geradas tantas vagas em 2009. Mas também traz uma decepção: o Brasil não tem mão de obra qualificada suficiente", disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "Intensificamos os programas de qualificação, mas não dá para tapar o sol com a peneira. Não é possível atender à demanda."
Segundo ele, o governo federal investiu no ano passado R$ 600 milhões no conjunto de programas de qualificação profissional. Para 2010, a previsão é de R$ 800 milhões.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, entre os trabalhadores com nível superior, a falta de profissionais com especialização foi mais crítica. "A taxa de preenchimento para nível superior foi de apenas 22%. Para o grupo com menor escolaridade, o índice foi de 39,2%."
Construção civil - Para o economista, não causou surpresa a sobra de vagas nos principais setores listados no ranking, pois estaria relacionada à retomada da economia. "Engenheiro e pedreiro são profissões ligadas à construção civil. O setor cresceu muito nos últimos anos e houve avanço na formalização. Já o fraco desempenho do setor até 2003 desencorajou a formação de profissionais. Formar um engenheiro leva algum tempo."
A falta de pessoal qualificado nas carreiras mais técnicas também pode ser associada a outros fatores, na opinião do presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman.
"Pode ser que as vagas estejam sendo oferecidas em Pernambuco e os engenheiros estejam em Minas Gerais, por exemplo. Pode haver um problema de falta de informação recíproca e de localização", diz. 
(Folha de SP, 14/02/2010)
Alta rotatividade também é motivo para sobra de vagas no mercado 
A alta rotatividade da mão de obra no Brasil é apontada como outro importante fator para a sobra de vagas no mercado de trabalho formal, diz o Ministério do Trabalho. Em 2009, 16,2 milhões de trabalhadores foram contratados pelas empresas, mas outros 15,2 milhões de profissionais foram demitidos.
A explicação é que o "giro" excessivo acaba criando desajustes no mercado. "O governo está preparando um diagnóstico sobre a questão da alta rotatividade para tentar resolver essas distorções", diz Rodolfo Torelly, diretor do ministério.
Ele aponta ainda questões como a localização do trabalhador e o perfil específico procurado pela empresa como outros elementos que pesam no momento da seleção. "Mas, no geral, há necessidade de mais qualificação", acrescentou.
Ele diz ainda que as vagas que sobram no Sine podem ser preenchidas de outras formas. Essas informações, no entanto, não são capturadas pela rede pública de agências de emprego e ficam de fora das estatísticas do governo. "Há outros instrumentos: tem o parente que indica alguém para a empresa, tem jornal, tem até a tabuleta na porta da fábrica."
Com base nas informações consolidadas sobre o comportamento do mercado e a sobra de vagas, o Ministério do Trabalho deverá orientar o foco de suas políticas públicas de emprego. "Estamos agora cruzando as informações sobre os Estados, para ver onde há mais necessidade de qualificação e em que áreas", diz o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
(Folha de SP, 14/02/2010)
Indústria precisa formar 3 milhões ao ano até 2014
Estudos realizados pela indústria apontam para um aumento do desequilíbrio entre oferta e procura por mão de obra qualificada até 2014, exigindo a formação profissional de cerca de 3 milhões de trabalhadores por ano para atender a demanda do setor.
Segundo o gerente do Observatório Ocupacional do Senai, Márcio Guerra, desde o ano passado o descompasso vem sendo provocado pela nova onda de investimentos na economia, pelo crescimento acelerado do emprego, pela exigência de maior qualificação devido aos avanços tecnológicos e ainda por conta do baixo nível da qualidade de ensino no Brasil.
"Para resolver o problema, é necessário haver articulação e antecipação", afirma Guerra. Segundo ele, as projeções da indústria sinalizam que as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste deverão apresentar crescimento da busca por trabalhadores acima da média.
"Os Estados dessas regiões deverão demandar mais mão de obra qualificada, não só por conta do maior volume mas também pela diversificação das atividades", completou.
No setor da construção civil, sondagem realizada pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em dezembro do ano passado mostra que o segundo maior problema enfrentado pelos empresários em 2009 foi a falta de trabalhador qualificado. O principal entrave foi a elevada carga tributária.
"Vamos sentir mais ainda nos próximos anos. Isso não é problema só para este ano, porque a formação leva tempo. Quanto mais qualificado precisa ser o trabalhador, maior é a dificuldade para encontrá-lo", disse o presidente da Cbic, Paulo Safady. "O que nos preocupa muito é que nunca mais na vida teremos o volume de mão de obra na construção civil como houve no passado."
No Distrito Federal, os atuais 80 mil trabalhadores do setor da construção civil já não são suficientes para atender as necessidades da região.
"Brasília virou o maior canteiro de obras do Brasil. As empresas começaram a trazer trabalhadores do Maranhão, do Piauí e de Goiás que já atuam no setor", afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília, Edgar de Paula Viana.
(Folha de SP, 14/02/2010)
Indicação é principal ferramenta de contratação 
Diante das dificuldades em conseguir profissionais qualificados no mercado, a construtora Brookfield Incorporações vai buscar talentos dentro da universidade. "Frequentamos as feiras das principais instituições de ensino de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro em busca de profissionais em formação", afirma a superintendente de recursos humanos Lygia Villar.
"Com o mercado aquecido, sentimos dificuldade com contratação, então valorizamos os estagiários."
Já para encontrar profissionais para atuar diretamente nas construções, como eletricistas, pedreiros e auxiliares, são os próprios engenheiros que selecionam os candidatos utilizando uma técnica simples: colocam uma placa em frente ao canteiro de obras.
Outra estratégia utilizada nesse mercado é montar um banco de dados com informações de profissionais que atuam na área.
"Mas a indicação é a principal ferramenta", afirma Valéria Fernandes, diretora de recursos humanos da construtora e incorporadora Even.
Fernandesdiz ainda que as empresas enfrentam concorrência de outros setores. "Muito engenheiro civil saiu de sua área em busca de outras oportunidades."
Demora - No setor de análises clínicas, a busca por um profissional que possua as características necessárias ao cargo pode levar meses. Maurício Rossi, diretor de RH da Roche Diagnóstica, diz que, para encontrar um vendedor para atuar na área de coagulação, demorou cinco meses. "Usamos muita indicação, porque esse é um mercado muito específico", afirma.
Apesar de postos do Sine/ CAT (Central de Apoio ao Trabalhador) como o da região central de São Paulo, um dos maiores do país, oferecerem vagas até para enólogos, profissionais qualificados dificilmente procuram esses locais.
"Mesmo não alcançando esse público mais qualificado, não deixamos de oferecer essas vagas e as divulgamos para criar uma cultura de integração", afirma a gerente da unidade, Roseli Maria Saccardo. O posto atende, em média, de 650 a 700 pessoas por dia, de segunda a sexta. 
(PAULA NUNES) (Folha de SP, 14/02/2010)
Porto de Santos vai dobrar capacidade até 2013
Maior porto da América Latina vai movimentar a mesma quantidade de contêineres que todos os outros portos brasileiros juntos
Renée Pereira, de O Estado de S. Paulo
O Porto de Santos, maior da América Latina, vai dobrar de tamanho até 2013. Sozinho, terá capacidade para movimentar a mesma quantidade de contêineres que todos os outros portos brasileiros juntos: 8 milhões de teus (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Hoje esse número está em 3,2 milhões de teus, afirma o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), José Roberto Correia Serra.
Segundo ele, o aumento da capacidade é resultado de uma série de ampliações, compra de equipamentos de última geração e a entrada em operação de novos projetos privados. Dois deles vão representar 65% de toda ampliação de Santos. O maior é a Embraport, terminal construído na margem esquerda do complexo santista pela Odebrecht Transport, DP World e Grupo Coimex. O empreendimento, de R$ 2,3 bilhões, terá capacidade para 2 milhões de teus e 2 bilhões de litros de etanol.
Na margem direita, está sendo construído o novo terminal da Brasil Terminais Portuários (BTP), controlado pela Europe Terminal. Também vai movimentar contêineres e granéis líquidos, a exemplo da Embraport. Na primeira fase, serão 1,1 milhão de teus e 1,4 milhão de toneladas de líquidos. O investimento total é da ordem de R$ 1,8 bilhão, especialmente por causa das soluções ambientais - o terminal está sendo construído numa área usada por mais de 50 anos como descarte de resíduos do Porto de Santos.
Tanto no caso da Embraport como no da BTP, as operações serão antecipadas para outubro do ano que vem, afirma Serra. Nesse primeiro ano, os dois projetos vão acrescentar cerca de 700 mil teus à capacidade do porto. O restante fica para 2013. O presidente da Codesp lembra que outros operadores do porto, como Santos Brasil, Libra e Tecondi, fizeram investimentos importantes, que vão resultar em aumento da expansão. A compra de equipamentos, por exemplo, eleva a quantidade de movimentos que as empresas podem fazer por hora. 
Há ainda investimentos na infraestrutura existente para ampliar a capacidade de movimentação de granéis (líquidos e sólidos). A Copape, localizada na Ilha do Barnabé, iniciou as obras de construção de dois píeres, no valor de R$ 80 milhões. Além disso, a Codesp vai investir R$ 200 milhões no reforço de 1 quilômetros (km) de cais nos trechos operados pela Copersucar e pela Cosan. A obra vai permitir que navios de açúcar e soja aproveitem ao máximo sua capacidade e saiam mais cheios dos terminais, diz Serra.
Gargalo. Segundo ele, com esses investimentos, o importante agora é focar na operação do porto e no acesso terrestre, que não dá conta nem para atender o volume atual. "Do jeito que está não dá para aproveitar todo o aumento da capacidade." Uma prioridade será ampliar a participação da ferrovia em Santos - com expansão do sistema de cremalheira e com o Ferroanel. O executivo diz que apenas 1% da movimentação de contêiner e 10% dos granéis é feita pelos trilhos. O objetivo é elevar a participação média para 25%.
Hoje o porto recebe cerca de 14 mil caminhões por dia, nas duas margens. Cerca de 85% desses veículos chegam entre 8 da manhã e 18 horas. "Falta inteligência de agendamento da carga no porto. O caminhão sai do destino e acha que pode desembarcar em Santos a qualquer hora. Isso precisa mudar." Caso contrário, diz Serra, não adiantará nada investir nas perimetrais de Santos (margens direita e esquerda) e no mergulhão (passagem subterrânea no Valongo).
Além disso, Santos começará a implementar o sistema de tráfego marítimo para controlar desde a chegada do navio, atracação no cais até a saída de Santos. "Esse programa permitirá o tráfego duplo no canal de acesso do porto. Também podemos monitorar a pirataria, a meteorologia, as ondas, os ventos, etc. Com isso, haverá redução do tempo de entrada e saída das embarcações e ganhos de custos." 
A implementação do Porto sem Papel, pela Secretaria de Portos, também deverá ajudar a acelerar as operações em Santos. Trata-se de um sistema que vai integrar os seis órgãos públicos - Polícia Federal, Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade portuária, Vigilância Agropecuária Internacional e Marinha do Brasil - de forma a evitar a duplicação de informações e de formulários.
02 de janeiro de 2012 | 22h 47
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia%20brasil,porto-de-santos-vai-dobrar-capacidade-ate-2013,98029,0.htm
Porto de Santos atinge recorde de movimentação
Fluxo de cargas negociadas no porto paulista atingiu 89 milhões de toneladas nos 11 primeiros meses deste ano 
Agência Estado
SÃO PAULO - A movimentação de cargas no Porto de Santos atingiu novo recorde entre janeiro e novembro. Com leve alta de 0,02% sobre o mesmo período do ano passado, o volume transacionado a partir do porto paulista atingiu cerca de 89 milhões de toneladas nos 11 primeiros meses deste ano. Segundo dados da Companhia Docas do Estado São Paulo (Codesp), responsável pela administração do local, as exportações corresponderam a 64,8% do total movimentado no período (57,63 milhões de toneladas).
Os principais destaques ficaram por conta do açúcar, da soja e do milho. No acumulado até novembro, os três produtos movimentaram 15,96 milhões de toneladas, 11,16 milhões de toneladas e 4,32 milhões de toneladas, respectivamente. "A soja sobressaiu-se pelo crescimento de 6% na comparação com o mesmo período de 2010", destacou a Codesp.
As importações responderam por 31,20 milhões de toneladas, ou aproximadamente 35,1% da movimentação, com uma alta de 7,2% em relação ao mesmo período do ano passado. "O adubo manteve o expressivo crescimento observado nos últimos onze meses, chegando a 3,40 milhões de toneladas", citou a Codesp em comunicado. O volume representa um incremento de 73,1% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
O Porto de Santos movimentou US$ 108,5 bilhões em mercadorias no período, sendo US$ 57,6 bilhões em exportações e US$ 50,9 bilhões em importações. Nas exportações, os destaques foram os Estados Unidos e a China, com US$ 6,02 bilhões (10,5% do total exportado) e US$ 6,01 bilhões (10,4%), respectivamente. Nas importações, os dois países voltaram a se destacar, com US$ 8,85 bilhões (17,4% do total importado) e US$ 8,76 bilhões (17,2%), respectivamente.
29 de dezembro de 2011 | 16h 56
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Com atraso na infraestrutura, Brasil vai desperdiçar novo canal do Panamá (28/07/2013-03h10)
DIMMI AMORA - DE BRASÍLIA
Um novo caminho está se abrindo para o comércio exterior do Brasil com seus principais parceiros, os países asiáticos. Mas atrasos na infraestrutura de transportes local podem fazer o país perder, ao menos inicialmente, essa oportunidade.
Ao custo de R$ 11 bilhões, a ampliação do canal do Panamá vai quase dobrara capacidade atual de transporte de carga da superlotada passagem na América Central, por onde trafega grande parte das mercadorias que cruzam o Atlântico e o Pacífico.
O novo canal pode reduzir custos do comércio exterior brasileiro. Mas isso só será concretizado se o país efetivar as obras em estradas e ferrovias que farão a ligação de regiões produtoras ao Norte do país --especialmente de grãos-- com o Panamá.
O canal foi aberto em 1914. Em 2006, a empresa que o administra percebeu que sua capacidade de transporte de carga --de cerca de 750 milhões de toneladas anuais-- não suportaria o crescimento do comércio exterior.
Em 2013, ela chegou ao teto. O projeto é alcançar uma capacidade de fluxo de 1,2 bilhão de toneladas até 2025.
Cerca de 60% das obras estão concluídas. Os responsáveis pelo projeto acreditam que o novo canal estará em operação em junho de 2015. A previsão inicial era 2014.
O novo canal permitirá o uso de navios com mais que o dobro da capacidade atual. Isso porque as eclusas (mecanismo que permite a navegação em locais com desnível de água) atuais comportam navios de 290 metros de cumprimento e 12 metros de profundidade. Com as obras, passarão a atender navios de 400 metros por 15,2 metros.
	
	Editoria de Arte/Folhapress
	
	
	
	
BENEFÍCIOS
Para o Brasil, o novo canal poderá beneficiar as regiões Norte e Nordeste. Nelson Carlini, conselheiro da empresa de logística Logz, lembra que um navio que vai de Belém (PA) à China pelo Panamá chega três dias e meio antes do que se for pela Argentina (por onde gasta 45 dias).
"Isso [três dias a mais] hoje custa US$ 150 mil", calcula Nelson Carlini, apontando que o principal beneficiado será o setor agropecuário.
Luiz Fayet, consultor de logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, diz que 80 milhões de toneladas de soja e milho (57% do total) foram produzidas ao norte do país em 2012.
Dessa produção, apenas 25 milhões foram consumidos ou exportados pela região Norte. Um excedente de 55 milhões de toneladas desceu para o sul, provocando o caos logístico da última safra.
Essa situação torna os custos internos de transporte da soja no Brasil quatro vezes superiores aos dos concorrentes. Se os produtos agrícolas não forem escoados pelo Norte, a diferença de custo em relação aos produtos norte-americanos será ainda maior.
A BR-163, as ferrovias Norte-Sul e Transnordestina e novos terminais portuários em Belém (PA) e Itaqui (MA) seriam as vias para ligar regiões produtoras com a saída pelo norte e, de lá, ao Panamá. Para a próxima safra, em 2014, há alguma chance de a BR-163 estar pronta. As outras obras, só para a de 2015, se não sofrerem novos atrasos.
	
	Editoria de Arte/Folhapress
	
	
	
	
REVOLUÇÃO
As obras no canal são consideradas como uma nova revolução no setor logístico. Mathieu Floriani, diretor nas Américas da Deustch Post DHL, maior empresa do mundo em logística, indica que 28% das cargas da costa do Pacífico dos EUA vão se transferir para o Atlântico.
Portos americanos no Atlântico já estão em ampliação para receber navios maiores. Isso deve tornar mais barato o custo de transporte de mercadorias do país.
Michael Wilson, vice-presidente de operações na América da Hamburg Sud, uma das maiores operadoras de navios do mundo, diz que o novo canal será uma grande oportunidade para todos os países do Atlântico. Ele pondera que os portos precisam estar preparados para a maior quantidade de navios de contêineres que vão operar.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/07/1317918-com-atraso-na-infraestrutura-brasil-vai-desperdicar-novo-canal-do-panama.shtml
Considerações em torno do ato de estudar – Paulo Freire
Toda bibliografia deve refletir uma intenção fundamental de quem a elabora: a de atender ou a de despertar o desejo de aprofundar conhecimentos naqueles ou naquelas a quem é proposta. Se falta, nos que a recebem, o ânimo de usá-la, ou se a bibliografia em si mesma, não é capaz de desafiá-los, se frustra, então a intenção fundamental referida. 
A bibliografia se torna um papel inútil, entre outros, perdido nas gavetas das escrivaninhas. 
Essa intenção fundamental de quem faz a bibliografia exige um triplo respeito: a quem ela se dirige, aos autores citados e a si mesmos. Uma relação bibliográfica não pode ser uma simples cópia de títulos, feita ao acaso, ou por ouvir dizer. Quem a sugere, deve saber o que está sugerido e por que o faz. Quem a recebe, por sua vez, deve ter nela, não uma prescrição dogmática de leituras, mas um desafio. Desafio que se fará mais concreto na medida em que comece a estudar os livros citados e não só a lê-los por alto, como se os folheasse, apenas. 
Estudar é, realmente um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma postura crítica sistemática. Exige disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a. 
Isto é, precisamente, o que a “educação bancária”* não estimula. Pelo contrário, sua tônica reside fundamentalmente em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade. Sua “disciplina” é a disciplina para a ingenuidade em face do texto, não para a indispensável criticidade. 
Este procedimento ingênuo ao qual o educando é submetido, ao lado de outros fatores, pode explicar as fugas ao texto, que fazem os estudantes, cuja leitura se torna puramente mecânica, enquanto, pela imaginação, se deslocam para outras situações. O que se lhes pede, afinal, não é a compreensão do conteúdo, mas sua memorização. Em lugar de ser o texto e sua compreensão, o desafio passa a ser a memorização do mesmo. Se o estudante consegue fazê-lo, terá respondido ao desafio. 
Numa visão crítica, as coisas se passam diferentemente. O que estuda se sente desafiado pelo texto em sua totalidade e seu objetivo é apropriar-se de sua significação profunda. 
Esta postura crítica, fundamental, indispensável ao ato de estudar, requer de quem a ele se dedica: 
a)     Que assuma o papel de sujeito deste ato. 
Isto significa que é impossível um estudo sério se o que estuda se põe em face do texto como se estivesse magnetizado pela palavra do autor, à qual emprestasse uma força mágica. Se se comporta passivamente, “domesticamente”, procurando apenas memorizar as afirmações do autor. Se se deixa “invadir” pelo que afirma o autor. Se se transforma numa “vasilha” que deve ser enchida pelos conteúdos que ele retira do texto para pôr dentro de si mesmo. 
Estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. É perceber o condicionamento histórico-sociológico do conhecimento. É buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Desta maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim à sua atitude crítica em face dele. 
A atitude crítica no estudo é a mesma que deve ser tomada diante do mundo, da realidade, da existência. Uma atitude de adentramento com a qual se vá alcançando a razão de ser dos fatos cada vez mais lucidamente. 
Um texto estará tão melhor estudado quando, na medida em que dele se tenha uma visão global, a ele se volte, delimitando suas dimensões parciais. O retorno ao livro para esta delimitação aclara a significação de sua globalidade. 
Ao exercitar o ato de delimitar os núcleos centrais do texto que, em sua interação, constituem sua unidade, o leitor crítico irá surpreendendo todo um conjunto temático, nem sempre explicitado no índice da obra. A demarcação destes temas deve atender também ao referencial de interesse do sujeito leitor. 
Assim é que, diante de um livro, este sujeito leitor pode ser despertado por um trecho que lhe provoca uma série de reflexões em torno de uma temática que o preocupa e que não é necessariamente a de que trata o livro em apreço. Suspeitada a possível relação entre o trecho lido e sua preocupação, é o caso, então, de fixar-sena análise do texto, buscando o nexo entre seu conteúdo e o objeto de estudo sobre que se encontra trabalhando. Impõe-se-lhe uma exigência: analisar o conteúdo do trecho em questão, em sua relação com os precedentes e com os que a ele se seguem, evitando, assim, trair o pensamento do autor em sua totalidade. 
Constatada a relação entre o trecho em estudo e sua preocupação, deve-se separá-lo de seu conjunto, transcrevendo-o em uma ficha com um título que o identifique com o objeto específico de seu estudo. Nestas circunstâncias, ora pode deter-se, imediatamente, em reflexões a propósito das possibilidades que o trecho lhe oferece, ora pode seguir a leitura geral do texto, fixando outros trechos que lhe possam aportar novas meditações. 
Em última análise, o estudo sério de um livro como de um artigo de revista implica não somente numa penetração crítica em seu conteúdo básico, mas também numa sensibilidade aguda, numa permanente inquietação intelectual, num estado de predisposição à busca. 
b)     Que o ato de estudar, no fundo é uma atitude frente ao mundo. 
Esta é a razão pela qual o ato de estudar não se reduz à relação leitor-livro, ou leitor-texto. 
Os livros em verdade refletem o enfrentamento de seus autores com o mundo. Expressam este enfrentamento. E ainda quando os autores fujam da realidade concreta estarão expressando a sua maneira deformada de enfrentá-la. Estudar é também e sobretudo pensar a prática e pensar a pratica é a melhor maneira de pensar certo. Desta forma, quem estuda não deve perder nenhuma oportunidade, em suas relações com os outros, com a realidade, para assumir uma postura curiosa. A de quem pergunta, a de quem indaga, a de quem busca. 
O exercício desta postura curiosa termina por torná-la ágil, do que resulta um aproveitamento maior da curiosidade mesma. 
Assim é que se impõe o registro constante das observações realizadas durante uma certa prática; durante as simples conversações. O registro das idéias que se têm e pelas quais se é “assaltado”, não raras vezes, quando se caminha só por uma rua. Registros que passam a constituir o que Wright Mills chama de “fichas de idéias”**. 
Estas idéias e estas observações, devidamente fichadas, passam a constituir desafios que devem ser respondidos por quem as registra. 
Quase sempre, ao se transformarem na incidência da reflexão dos que as anotam, estas idéias os remetem a leituras de textos com que podem instrumentar-se para seguir em sua reflexão. 
c)     Que o estudo de um tema específico exige do estudante que se ponha, tanto quanto possível, a par da bibliografia que se refere ao tema ou ao objeto de sua inquietude. 
d)     Que o ato de estudar é assumir uma relação de diálogo com o autor do texto, cuja mediação se encontra nos temas de que ele trata. Esta relação dialógica implica na percepção do condicionamento histórico-sociológico e ideológico do autor, nem sempre o mesmo do leitor. 
e)     Que o ato de estudar demanda humildade. 
Se o que estuda assume realmente uma posição humilde, coerente com a atitude crítica, não se sente diminuído se encontra dificuldades, às vezes grandes, para penetrar na significação mais profunda do texto. Humilde e crítico, sabe que o texto, na razão mesma em que é um desafio, pode estar mais além de sua capacidade de resposta. Nem sempre o texto se dá facilmente ao leitor. 
Neste caso, o que deve fazer é reconhecer a necessidade de melhor instrumentar-se para voltar ao texto em condições de entendê-lo. Não adianta passar a página de um livro se sua compreensão não foi alcançada. Impõe-se, pelo contrário, a insistência na busca de seu desvelamento. A compreensão de um texto não é algo que se recebe de presente. Exige trabalho paciente de quem por ele se sente problematizado. 
Não se mede o estudo pelo número de páginas lidas numa noite ou pela quantidade de livros lidos num semestre. 
Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.
Apagão logístico impede o avanço do agronegócio
País deixa de produzir 3 milhões de toneladas por falhas na estrutura logística
Porto maranhense de Itaqui, estratégico, está no limite e com obras atrasadas; sem ele, opções para o Norte e o Nordeste estão a 3.000 km 
AGNALDO BRITO - ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA) 
A safra recorde de 65,1 milhões de toneladas de soja no país, um dos itens que mais contribuíram para o superavit de US$ 24 bilhões da balança comercial brasileira em 2009, vai agravar a situação do já caótico sistema portuário brasileiro, que depende de obras que integram a carteira de prioridades do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
As consequências, segundo especialistas e produtores, serão a perda de produção por causa da precária infraestrutura para escoamento, custos de exportação US$ 45 por tonelada mais caros do que os principais concorrentes internacionais e uma desorganização do já confuso sistema de escoamento da safra em virtude dos limites dos portos brasileiros.
O Ministério da Agricultura estima que 20 milhões de toneladas de grãos produzidas no país são desviadas para portos muito mais distantes do que sugere qualquer planejamento logístico, situação que afeta em cheio a renda do produtor rural e realimenta um paradoxo que tem se tornado recorrente no setor agrícola: a renegociação de dívidas por falta de renda.
Projeto de papel
A Folha percorreu mais de 2.000 km entre a capital e o interior do Maranhão -Estado que freia a produção por falta de porto-, conversou com produtores, líderes do setor agrícola e governos e constatou que a infraestrutura para transporte de grãos em escala prevista para o porto de Itaqui, no topo do Brasil, está só no papel.
Idealizado em 2004 e prometido para entrar em operação (pelo menos parcialmente) em 2007, o Tegram (Terminal de Grãos do Maranhão), com sorte, terá a primeira fase pronta em 2012. A licitação está prometida para abril. Etapa inicial que elevaria a capacidade de recepção e embarque de soja de 2 milhões para 7 milhões de toneladas.
A estrutura corrigiria também uma situação inédita: reduzia o custo da logística ferroviária, que hoje é igual ao custo rodoviário (US$ 75 por tonelada). "Isso é uma aberração", diz José Hilton, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão. A ferrovia Norte-Sul, que alcança Itaqui, ficará ociosa. Poderá, diz Marcelo Spinelli, diretor de logística da Vale, transportar 8 milhões de toneladas. Itaqui só tem capacidade para receber 2 milhões, em estrutura mantida pela própria Vale, no porto Ponta da Madeira.
O projeto completo para grãos em Itaqui, cujo prazo ninguém se atreve a arriscar, elevaria a capacidade do porto para 13 milhões de toneladas. Seria então a maior porta de saída do agronegócio graneleiro do país, papel exercido hoje pelos longínquos portos de Santos e Paranaguá, hoje responsáveis por receber e transferir para navios aproximadamente 18 milhões de toneladas por ano, exatamente por deficiência nas saídas do Norte.
A despeito da distância de Santos e Paranaguá em relação a promissoras regiões produtoras como Tocantins, Piauí, Maranhão, oeste baiano e norte do Mato Grosso, os portos do Sul seguem como principal destino dos grãos dessas regiões.
Segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), entre todas as saídas dos chamados corredores Centro-Norte, Porto Velho (RO) é a que mais se destaca. O porto recebe a produção de Rondônia e do noroeste de Mato Grosso. De Porto Velho partem barcaças para transbordo em navios transoceânicos em Itacoatiara (AM) e Santarém (PA).
As duas outras opções são Vila do Conde (PA) e Itaqui, no Maranhão, considerado o melhor porto para esse fim, seja pela posição geográfica (quatro dias mais perto da Europa e da América do Norte), seja pela capacidade de receber navios gigantes, algo impossível nos portos de Santos e Paranaguá.
O efeito desse bizarro modelo logístico acaba de ser calculado. Além da perda de renda do produtor, que pode variar de R$3 a R$ 4 por saca de soja, o país já renuncia à produção agrícola pela simples razão de que produzir dá prejuízo.
Levantamento realizado pelo Ministério da Agricultura e pela CNA mostra que a fronteira agrícola do Nordeste e norte do Centro-Oeste já deixou de produzir 3 milhões de toneladas de soja devido ao apagão portuário, volume que retira do país, neste momento, o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão em divisas, cifra considerável se for levado em conta o fato de que, no ano passado, o complexo soja rendeu US$ 17 bilhões em receitas ao Brasil.
(Folha de SP, 07/02/2010)
Perda por logística precária pode chegar a US$ 2 por saca 
Ferido, Arlindo Fucina, então com 15 anos, apanhou um punhado de terra e arremessou para o alto. Fez isso várias vezes. Por sorte, funcionou. O socorro salvou sua vida depois de cair sob um trator. Gaúcho de Palmeira das Missões, Fucina é hoje um preocupado produtor no Maranhão.
Vai colher 18 mil toneladas de soja, um recorde preocupante. Quanto vai custar o transporte de tudo isso para o porto? Fucina avalia que gastará US$ 2 por saca. A precária logística maranhense lhe custará US$ 600 mil. É um custo alto, quase 10% do valor atual da saca. É o custo real da ineficiência logística do país.
"Com US$ 2 a mais por saco de soja, reduziria a dependência financeira que tenho das tradings, poderia fazer investimento na fazenda, abrir mais áreas de produção. É só me devolver esses US$ 2 para ver o que eu poderia fazer", diz.
Idone Luiz Grolli, produtor de uma área de 2.600 hectares também em Balsas, estima em US$ 200 mil o corte de renda da safra 2009/2010 em decorrência do custo de transporte para os portos. A produção é negociada com as tradings (Bunge, Cargill), que descontam do produtor o custo logístico. "Quanto mais renda na mão do produtor, menor a dependência financeira, menor o custo financeiro, menor a pressa de vender quando o preço está ruim", diz.
Grande trading maranhense, a Ceagro avisa que a fronteira agrícola do cerrado nordestino parou de crescer. "Simplesmente não dá mais para abrir áreas. O porto estrangulou. Sem o Tegram, não há como ter escoamento", diz Max Bonfim, encarregado de negociar áreas de produção em Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, região conhecida como "Mapitoba".
O custo de US$ 75 por tonelada, tanto para o transporte ferroviário como para o rodoviário, é pesado demais para uma região a cerca de 800 km do que todos afirmam ser a melhor saída para o agronegócio.
Com a colheitadeira no campo, Deone Sandri abriu a safra do Nordeste brasileiro. A boa produção exige bom transporte. E aí... "Tivemos problemas em 2009. Perdemos 5% da produção devido aos congestionamentos nos portos", diz.
Como Fucina, a agricultura arremessa terra ao alto para que o país perceba como está o setor que responde por 42% das exportações nacionais.
(Folha de SP, 07/02/2010)
Ministro nega apagão e diz que custo no Brasil é "europeu"
O ministro da SEP (Secretária Especial de Portos), Pedro Brito, afirma que o Brasil está longe de ter um apagão nos portos e que o custo portuário, diante da atual movimentação, é comparável ao que é cobrado na Europa.
"Para a escala de movimentação de cargas nos portos brasileiros, nossos custos são comparáveis aos dos portos europeus e mais baixos que os custos nos Estados Unidos", diz.
O ministro nega haver no país um apagão portuário, mesmo diante da supersafra que começa a ser carregada para os portos. "Essa expressão não traduz em absoluto a situação do setor portuário. Eu diria que estamos a anos-luz de qualquer possibilidade de apagão", afirma o ministro.
Para sustentar o argumento, ele diz que toda a demanda do agronegócio exportador foi atendida no ano passado. Mais: o ministro afirma que sobra espaço nos portos do país.
Mal ou bem, a exportação agrícola, avaliada em US$ 64,8 bilhões em 2009, de fato passou pelos portos do país. Mas a questão é como e a que custo a produção agrícola alcançou os portos. O Ministério da Agricultura afirma que as condições de transporte e logística para parte da produção agrícola brasileira estão longe de ser adequadas. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirma que a situação, em algumas regiões, já representa um freio para a produção.
"As condições logísticas estão quase inviabilizando a região norte do Mato Grosso. Temos hoje cerca de 20 milhões de toneladas de grãos que são escoadas por portos inadequados, distantes das zonas de produção", diz. Para compensar, o governo libera R$ 1 bilhão para minimizar o impacto do custo de transporte.
Para Stephanes, o atraso do projeto do porto de Itaqui se explica pela "incompetência" dos governos. Segundo o ministro da Agricultura, no entanto, mesmo a estrutura de Itaqui ainda não será suficiente para o agronegócio.
Stephanes defende a implantação da hidrovia Teles Pires/ Tapajós como solução para o escoamento da produção de Mato Grosso -o maior produtor de grãos do país- rumo ao porto de Santarém (PA). O problema é o arranjo da hidrovia dentro do desenho que o setor elétrico pretende dar aos aproveitamentos hidrelétricos. (AB)
(Folha de SP, 07/02/2010)
Faltam trilhos - ABRAM SZAJMAN
APÓS PASSAR incólume pela crise financeira internacional, o Brasil é apontado pela unanimidade dos analistas como um dos principais líderes na retomada do crescimento da economia mundial. 
Internamente, a previsão é de que o PIB volte a crescer em ritmo superior a 5% ao ano, mantendo o processo de redução da pobreza e inclusão de milhões de pessoas nos mercados de trabalho e de consumo. Por essas conquistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas desfruta de índices inéditos de popularidade entre os brasileiros como também recebe prêmios e homenagens internacionais. Todo o prestígio acumulado pelo país contribuiu para que se destacasse no âmbito dos Brics e do G20 e ainda fosse escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. 
Em contraste com esse cenário idílico, porém, somos surpreendidos por imagens na televisão que por vezes parecem nos mostrar que "o Haiti é aqui", como diz a canção de Caetano Veloso. São famílias inteiras soterradas sob os desmoronamentos causados pelas chuvas do verão, enquanto outras carregam, com água pela cintura, eletrodomésticos comprados à prestação e ainda não pagos, em desesperada tentativa de salvar das enchentes um patrimônio que é pequeno, mas fruto de tanto esforço. 
Longe de serem obras do acaso, essas e outras ocorrências -como o blecaute que escureceu vários Estados no ano passado, os constantes atrasos aéreos, as estradas esburacadas, as ferrovias sucateadas e os portos saturados- são heranças de décadas de falta de planejamento, execução e manutenção da infraestrutura urbana, energética e de transportes. 
Vez por outra, quando há uma tragédia que apenas evidencia o descalabro, como os grandes desastres aéreos, as autoridades vêm a público anunciar que vão fazer e acontecer para organizar o setor. Passa o tempo, a imprensa esquece o assunto e os passageiros continuam martirizados em bancos estreitos no interior das aeronaves e fora delas, nos poucos e defasados aeroportos que não conseguem atender com qualidade um movimento sempre crescente. 
Já na década de 1940, o previdente líder empresarial Roberto Simonsen advertia que nenhum país cresce e aparece sem uma base que dê sustentação à sua produção e ao seu comércio externo. Dos gargalos que ele identificava -fornecimento de energia elétrica, organização dos transportes, mobilização de várias fontes de combustíveis e criação de uma indústria de base-, só os dois últimos foram razoavelmente desobstruídos ao longo de mais de sete décadas. 
Na questão dos transportes, tanto urbano como de carga, estamos na situação oposta a que se encontrava o governo de Washington Luís (1926-1930), para quem "governar era abrir estradas". 
Naquela época, o país inteiro tinha menos de 100 mil automóveis. Hoje, com nossas cidades e estradas congestionadas pelo transportesobre pneus, poderíamos dizer que governar é assentar trilhos, sejam de metrô, de trens metropolitanos ou de carga. 
Porém, enquanto ferrovias como a Norte-Sul, a Transnordestina e o ansiado trem-bala entre São Paulo e Rio permanecem como miragens, o metrô paulistano avança a passos de cágado, com a implementação de apenas 1,5 km por ano desde o início de sua construção, em 1968. 
Inexiste uma ação coordenada entre os três níveis de governo, responsáveis pelas questões de infraestrutura, para o equacionamento dos problemas mais agudos, o que se verifica tanto no episódio das enchentes que assolam o Sul e o Sudeste como na crônica seca do Nordeste. 
Para além da visibilidade eleitoral que possam ter programas como o PAC, é preciso fazer muito mais para que nossas cidades -onde efetivamente vivem as pessoas e onde acontecerão os jogos da Copa e da Olimpíada- deixem de parecer acampamentos medievais, sem lei e sem adequados serviços públicos, com a população entregue à própria sorte. 
Esse é o debate que precisa prevalecer na campanha eleitoral que se avizinha. Se por um lado já está definido aonde o Brasil pode e quer chegar -ao topo da liderança mundial-, resta saber como iremos até lá. O trem do desenvolvimento econômico e social não se move por meio de discursos. 
Para isso faltam trilhos, tanto no sentido figurado como no literal. 
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ABRAM SZAJMAN, 70, empresário, é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos conselhos regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio), e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
(Folha de SP, 07/02/2010)
VLADIMIR SAFATLE - Salário máximo
Falta uma oposição de esquerda no país. A última eleição demonstrou que todos aqueles que procuraram fazer oposição à esquerda do governo acabaram se transformando em partidos nanicos. Uma das razões para tanto talvez esteja na incapacidade que tais setores demonstraram em pautar o debate político. 
Contentando-se, muitas vezes, com diatribes genéricas contra o capitalismo, eles ganhariam mais se seguissem o exemplo do Die Linke, partido alemão de esquerda não social-democrata e único dentre os partidos europeus de seu gênero a conseguir mais que 10% dos votos. 
Comandado, entre outros, por Oskar Lafontaine, um ex-ministro da economia que saiu do governo Schroeder por não concordar com sua guinada liberal, o partido demonstrou grande capacidade de especificação de suas propostas e de seus processos de aplicação. Eles convenceram parcelas expressivas do eleitorado de que suas propostas eram factíveis e eficazes. 
Por outro lado, foram capazes de abraçar propostas que outros partidos recusaram, trazendo novas questões para o debate político, como a bandeira da retirada das tropas alemãs do Afeganistão. 
Por fim, não temeram entrar em coalizões programáticas como aquela que governa Berlim. Isso demonstra que eles são capazes de administrar e que sua concepção de governo não é uma abstração espontaneísta. Esses três pontos deveriam guiar aqueles que gostariam de fazer oposição à esquerda no Brasil. 
Um exemplo de novas pautas que poderiam animar o debate político brasileiro foi sugerida pelo provável candidato de uma coligação francesa de partidos de esquerda, Jean-Luc Mélenchon. Ela consiste na proposição de um "salário máximo". Trata-se de um teto salarial máximo que impediria que a diferença entre o maior e o menor salário fosse acima de 20 vezes. Uma lei específica também limitaria o pagamento de bonificações e stock-options. 
Em uma realidade social de generalização mundial das situações de desigualdade extrema -outra face daquilo que certos sociólogos chamam de "brasialinização"-, propostas como essa têm a força de trazer, para o debate político, a necessidade de institucionalização de políticas contra a desigualdade. 
Em um país como o Brasil, onde a diferença entre o maior e o menor salário em um grande banco chega facilmente a mais de 80 vezes, discussões dessa natureza são absolutamente necessárias. Elas permitem a revalorização de atividades desqualificadas economicamente e a criação da consciência de que a desigualdade impõe "balcanização social", com consequências profundas e caras. Discussões como essas, só uma esquerda que não tem medo de dizer seu nome pode apresentar. 
VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna. (Folha de SP, 25/01/2011)
RUBEM ALVES -Onde está Deus?
EU ESTAVA AINDA NA CAMA gozando a deliciosa sensação de aconchego, oscilando entre a realidade e o sonho... Para entrar no mundo liguei a televisão.
Apareceram ante os meus olhos cenas surrealistas, de fim do mundo: tsunami nas montanhas, rostos cobertos de lama, lágrimas escorrendo nos rostos, as águas em fúria, o esforço impotente dos vivos na sua vã tentativa de encontrar as centenas de mortos, os esquifes não chegavam, as explicações das autoridades, a mulher que chorava tinha escrito na camiseta que vestia a afirmação confiante "sou feliz", quem está com Deus é feliz...
Comecei a me comover. Mas logo a televisão me salvou. Que máquina maravilhosa essa que, num momento mágico muda a realidade.
Esqueci-me do apocalipse que me assustara e vi-me transportado para um outro mundo. Nesse novo mundo todos usavam camisetas onde estava escrito a seguinte frase: "Sou feliz".
Tudo era festa! Homens falantes e confiantes, mulheres com longos cabelos sedosos, shoppings abarrotados com pessoas em busca da felicidade, proclamavam automóveis, fogões, liquidações sem juros, geladeiras, gerentes sorridentes oferecendo o dinheiro dos seus bancos. Até os pobres podem ser felizes! Agradeci a minha felicidade.
Mas o mais importante: moro num apartamento no 11º andar, é muito alto e sólido, estou a salvo da fúria dos rios e das chuvas.
Lembrei-me então das palavras tranquilizantes da Bíblia, palavras de Deus, ditada por Ele desde toda a eternidade: "Mil cairão à sua direita e 10 mil à sua esquerda, mas nenhum mal o atingirá" (Salmo 91).
Conclusão lógica: nenhum mal estava me atingindo; logo, eu estava sob a proteção divina.
Os mortos, não. Não estavam deitados em verdes pastos sob a proteção do Pastor, como diz o salmo 23. Estavam enterrados sob a lama.
Logo, eles faziam parte dos mil à minha direita e dos 10 mil à minha esquerda.
"Palavra do Senhor! Graças a Deus!"
Engenheiros e autoridades discutiam o que poderia ter sido feito para evitar a catástrofe.
Homens ímpios: não mencionaram "rezar". Deus não poderia ter evitado tudo. Com a palavra os teólogos, o Papa, os templos cheios de fiéis...
Deus é onisciente? É.
Sabe desde toda a eternidade o que aconteceu, o que acontece e o que acontecerá.
Deus é onipresente? É.
Ele está em todos os lugares, na fundura dos rios, na fúria dos mares, nas erupções dos vulcões, nos navios que afundam, nas crianças que nascem, nos velhos que morrem.
E Ele é onipotente? Sim.
Com um piscar de olhos Ele pode criar um universo. Com um piscar de olhos Ele abriu as águas do mar Vermelho. Com um piscar de olhos Ele ordenou o dilúvio. Com um piscar de olhos Ele poderia ter evitado tudo...
No dia seguinte ao ataque terrorista nas torres do World Trade Center, o jornal "The New York Times" publicou um editorial com o título: "Onde estava Deus quando isso aconteceu?"
É a única coisa que tenho a dizer. (Folha de SP, 25/01/2011)
HÉLIO SCHWARTSMAN - De essências e oportunidades
SÃO PAULO - Há algo de indigno na demissão de Pedro Abramovay da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas. Ao que consta, ele perdeu o cargo por ter defendido o fim da prisão para pequenos traficantes. Pode parecer uma mudança radical, mas a proposta do ex-secretário era apenas consagrar num projeto de lei entendimento do Supremo que respalda o uso de penas alternativas para a lei de drogas. Sem demérito ao pretório excelso, o STF, não é bem uma célula revolucionária. O Judiciário é (ou deveria ser) o poder essencialmente conservador da República.É aí, no "essencialmente", que reside o problema. Por mais que queiramos analisar uma questão de modo racional, esbarramos no essencialismo inato de nossas mentes: estamos sempre em busca de definições que encerrariam a natureza secreta das coisas.
Há aí várias implicações. De um lado, isso nos leva, por exemplo, a ser observadores detalhistas, que tentam ler em pistas externas a verdadeira essência dos objetos. Outros subprodutos são o prazer que extraímos de jogos e da arte.
Só que o essencialismo também nos faz acreditar em deuses e na astrologia e abraçar teses maniqueístas: um traficante é alguém que participa do mal e deve, portanto, ser atirado na cadeia.
O ponto é que essas categorias essenciais estão em nossas cabeças, mas não necessariamente no mundo. A natureza prefere o gradualismo. O sujeito que vende um pouco de droga para sustentar sua dependência é traficante ou viciado? E o que, por amizade, oferece cocaína a um conhecido?
Aqui, ou operamos com categorias mais flexíveis, ou vamos lotar nossas cadeias sem resultados no controle das drogas. Dilma e o ministro José Eduardo Cardozo conhecem o problema. Lamentavelmente, trocaram o essencialismo ligeiramente libertário da esquerda pelo essencialismo puritano de seus novos aliados políticos. O nome desse processo é oportunismo. (Folha de SP, 25/01/2011)
CARTA DO LEITOR
Infraestrutura
"Há alguns anos que se prega que as empresas devem absorver os doutores formados nas nossas universidades de excelência para promover os verdadeiros saltos tecnológicos que colocariam o país em posição confortável de competição internacional e bem-estar para a população. Mas o que vemos, como bem mostrou o editorial "Inovar para sobreviver" [ontem], é uma falta de preocupação dos empreendedores, que se contentam em adaptar técnicas e metodologias importadas, pois alegam que o investimento no salário de um doutor é alto. 
Uma das consequências nefastas da situação se vê na reportagem "Apagão logístico impede avanço do agronegócio" [Dinheiro, ontem]. 
No mundo todo, trem é o mais barato dos transportes terrestres e aqui a falta de tecnologia e de inovação no setor leva a custos quase proibitivos para escoar a produção agrícola. Chegamos a ter a segunda maior malha férrea do mundo e hoje o sistema -reduzido, sucateado- ainda possui altos custos." 
ADILSON ROBERTO GONÇALVES, professor da Escola de Engenharia de Lorena - USP (Lorena, SP) 
"Peca esta Folha ao não aproveitar a oportunidade do tema proposto para discorrer sobre a importância de privilegiar as hidrovias brasileiras no contexto das necessidades de escoamento de produção agrícola deste país. As vantagens da utilização de terminais multimodais com hidrovias interligadas a ferrovias e rodovias neste imenso país estão mais que comprovadas. Além das vantagens intrínsecas das hidrovias (economia de combustível, menor poluição, relação custo/benefício favorável), o Brasil possui algumas dezenas de milhares de quilômetros de rios disponíveis para uso deste meio de transporte." LUIZ ANTONIO PEREIRA DE SOUZA (São Paulo, SP) (Folha de SP, 08/02/2010)
Infraestrutura - "No artigo "Faltam trilhos" ("Tendências/Debates", 7/2), Abram Szajman aponta problemas de infraestrutura que impedem o crescimento do país. Na mesma edição, a reportagem "Apagão logístico impede avanço do agronegócio" (Dinheiro) mostra o problema no escoamento da produção de soja no Norte/Nordeste. No dia 6, em Cotidiano, o texto sobre as falhas de fornecimento de energia elétrica na Grande São Paulo deixa implícito que há também aqui um grande empecilho aos investimentos.
E recentemente a Folha apontara problemas nas rodovias que contribuem seriamente para a ocorrência de acidentes graves.
Falta de energia, rodovias inseguras, dificuldades para escoar a produção, tudo isso representa custo e desestimula investimentos produtivos.
Com as atuais condições de infraestrutura, fica difícil acreditar num crescimento sustentável. Parece que estamos diante de um "voo de galinha".
Acho que já passou da hora de ser feito um trabalho sério no Brasil. O presidente circulando pelo mundo para receber prêmios e elogios, governadores preocupados com as próximas eleições e prefeitos cuidando só dos interesses de seus mentores não vão nos levar a lugar nenhum.
Levar mais de uma hora do aeroporto de Guarulhos à avenida Paulista (isso quando não há alagamento na marginal Tietê), ser obrigado a passar uma carga por São Paulo para fazer uma entrega no porto de Santos e ter que utilizar rodovias ruins -muitas já saturadas e sem pontos seguros de ultrapassagem, como a BR-101 entre RJ e ES- tornam difícil acreditar em crescimento.
Ainda não somos um país desenvolvido, grande. Do jeito que as coisas vão, nem emergentes somos. Estamos mais para imergentes."
ALMIR SANI MOREIRA (São Paulo, SP) (Folha de SP, 14/02/2010)
Salário máximo 
Muito interessante o texto de Vladimir Safatle ("Salário máximo", Opinião, ontem). No entanto acho um pouco problemático o uso do amorfo partido alemão Die Linke como um bom exemplo de oposição. Esse é totalmente fracionado em sua base, juntando pseudo-social-democratas de esquerda com maoístas-leninistas, cuja liderança dirige Porsche e defende o comunismo. Enquanto o Die Linke junta esse emaranhado de esquerdistas (em parte) frustrados e declarados politicamente "mortos", o surgimento dos partidos "nanicos" no Brasil simboliza o fato de que aqui partidos nascem e morrem como moscas, já que o que conta é achar um meio de chegar ao tão sonhado paraíso, Brasília, e não àquilo que defendem. DIEGO CURVO (São Paulo, SP) (Folha de SP, 26/01/2011)
Onde está Deus? 
O escritor Rubem Alves, diante da tragédia que assolou a região serrana do Rio e ceifou centenas de vidas, perguntou: "Onde está Deus?" (Cotidiano, ontem). Talvez a melhor resposta para essa pergunta tenha sido dada pelo também escritor Elie Wiesel, Nobel da Paz. Numa ocasião em que era prisioneiro num campo de concentração nazista, diante da agonia de uma criança judia na forca, ele foi indagado raivosamente por outro prisioneiro sobre o paradeiro de Deus naquele momento trágico. E assim respondeu: "Onde está Deus? Está pendurado ali, naquela forca". TÚLLIO MARCO SOARES CARVALHO (Belo Horizonte, MG) (Folha de SP, 26/01/2011)
Drogas 
Perfeita a análise de Hélio Schwartsman ("De essências e oportunidades", Opinião, ontem). Sou professora e trabalhei em escola voltada para jovens e adultos. O público dessa modalidade é formado por trabalhadores e jovens de classes populares que abandonaram a escola e tentam voltar a estudar. Entre os alunos há os chamados "pequenos traficantes", que vendem droga para jovens da classe média. Eles veem nessa atividade uma oportunidade de ganho "fácil". Eles precisam, sim, é de boa escola. Na cadeia, darão início ao "bate e volta da prisão". GRAÇA SETTE (Belo Horizonte, MG) 
Nós, pais, queremos diminuir ou, preferencialmente, eliminar a existência de oportunidades para a venda de drogas aos nossos filhos. Isso só será possível se mantivermos os traficantes longe das escolas, baladas etc. Penas alternativas não os tiram do vício nem de perto de nossos filhos. Ao contrário, continuam a retroalimentar os ciclos. FABIO SCHEPSELEVITZ (São Paulo, SP) (Folha de SP, 26/01/2011)
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FERREIRA GULLAR - Quando dois e dois são quatro
TALVEZ SEJA esta a última vez que escreva sobre o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil. Com alívio o vi terminar o seu mandato, pois não terei mais que aturá-lo a esbravejar, dia e noite, na televisão, nem que ouvir coisas como esta: "Ele é tão inteligente que fala todas as línguas sem ter aprendido nenhuma". Pois é, pena que não fale tão bem português quanto fala russo.
É verdade que tivemos, ainda, que aturá-lo nos três últimos dias do mandato, quando "inaugurou" obras inexistentes e fez tudo para ofuscar a presidente que chegava.
Depois de passar a faixa, foi para um comício em São Bernardo, onde, até as 23h, continuavaberrando no palanque, do qual nunca saíra desde 2002.
Aproveitou as últimas chances para exibir toda a sua pobreza intelectual, dizendo-se feliz por deixar o governo no momento em que os Estados Unidos, a Europa e o Japão estão em crise.
Alguém precisa alertá-lo para o fato de que a crise, naqueles países, atinge, sobretudo, os trabalhadores. Destituído de senso crítico, atribui a si mesmo ("um torneiro mecânico") o mérito de ter evitado que a crise atingisse o Brasil. Sabe que é mentira mas o diz porque confia no que a maioria da população, desinformada, acreditará.
Isso dá para entender, mas e aqueles que, sem viverem do Bolsa Família nem do empréstimo consignado, veem nele um estadista exemplar, que mudou o Brasil? É incontestável que, durante o seu governo, a economia se expandiu e muita gente pobre melhorou de vida. Mas foi apenas porque ele o quis, ou também porque as condições econômicas o permitiram?
Vamos aos fatos: até a criação do Plano Real, a economia brasileira sofria de inflação crônica, que consumia os salários. Qual foi a atitude de Lula ante o Plano Real? Combateu-o ferozmente, afirmando que se tratava de uma medida eleitoreira para durar três meses.
À outra medida, que veio consolidar o equilíbrio de nossa economia, a Lei de Responsabilidade Fiscal, Lula e seu partido se opuseram radicalmente, a ponto de entrarem com uma ação no Supremo para revogá-la. Do mesmo modo, Lula se opôs à política de juros do Banco Central e ao superávit primário, providências que complementaram o combate à inflação e garantiram o equilíbrio econômico. Essas medidas, sim, mudaram o Brasil, preservando o valor do salário e conquistando a confiança internacional.
Lembro-me do tempo em que o preço do pão e do leite subia de três em três dias. Quem tinha grana, aplicava-a no overnight e enriquecia; quem vivia de salário comia menos a cada semana.
Se dependesse de Lula e seu partido, nenhuma daquelas medidas teria sido aplicada, e o Brasil -que ele viria a presidir- seria o da inflação galopante e do desequilíbrio financeiro. Teria, então, achado fácil governar?
Após três tentativas frustradas de eleger-se presidente, abandonou o discurso radical e virou Lulinha paz e amor. Ao deixar o governo, com mais de 80% de aprovação, afirmou que "é fácil governar o Brasil, basta fazer o óbvio". Claro, quem encontra a comida pronta e a mesa posta, é só sentar-se e comer o almoço que os outros prepararam.
A verdade é que Lula não introduziu nenhuma reforma na estrutura econômica e social do país, mas teve o bom senso de dar prosseguimento ao que os governos anteriores implantaram. A melhoria da sociedade é um processo longo, nenhum governo faz tudo. Inteligente, mas avesso aos estudos, valeu-se de sua sagacidade, já que é impossível conhecer a fundo os problemas de um país sem ler um livro; quem os conhece apenas por ouvir dizer não pode governar.
Por isso acho que quem governou foi sua equipe técnica, não ele, que raramente parava em Brasília. Atuou como líder político, não como governante, e, se Dilma fizer certas mudanças, pouco lhe importará, pois nem sabe ao certo do que se trata. Para fugir a perguntas embaraçosas, jamais deu uma entrevista coletiva. Afinal, ninguém, honestamente, acredita que com programas assistencialistas e aumento do salário mínimo se muda o Brasil.
O tempo se encarregará de pôr as coisas em seu devido lugar. O presidente Emílio Garrastazu Médici também obteve, em 1974, 82% de aprovação. 
(Folha de SP, 16/01/2011)
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Faça uma mulher feliz – Danuza Leão
Se um dia você encontrar num jantar aquela mulher que um dia fez parte de sua vida, seja extremamente delicado, sobretudo se o caso acabou por culpa sua. Comece olhando para ela com ar de imensa surpresa e alegria, muita alegria (mas que fique claro que é uma alegria mesclada de saudade). E que seus olhos brilhem de felicidade ao vê-la.
Comece dizendo que ela está mais linda do que nunca; pergunte pela vida, refira-se a detalhes do passado, tipo "e aquele quadro que você tinha, nunca vi tão lindo"; depois vá entrando, lenta mas gradualmente, em assuntos mais pessoais. Pergunte pela empregada (pelo nome), lembrando de um prato maravilhoso que ela fazia, e depois diga que tem saudades do gato. Ponto: você já arrasou.
Não deixe de notar que ela está diferente, com o cabelo mais curto e mais claro (mulher a-do-ra isso); pergunte depois se ela continua achando graça em cozinhar e acrescente que nunca mais comeu uns ovos mexidos como os que ela fazia. É claro que essa indagação pressupõe o desejo de saber se ela algum dia pôs os pés na cozinha depois dos tempos em que vocês se amavam, e se ela der a entender que nunca mais, é quase uma confissão de que em sua vida (dela) nunca mais houve um homem como você. Bom, não?
Mais tarde, quando estiverem a uns oito metros de distância, olhe para ela como se fosse a primeira vez que a estivesse vendo; olhe fixamente e continue olhando até ela perceber. Nesse momento, dê um sorrisinho muito discreto e totalmente cúmplice, daqueles que só vocês dois vão entender. Se estiver com um copo na mão, erga-o (não mais do que dois centímetros), como se estivesse brindando ao passado (ou ao presente ou ao futuro, nunca se sabe), para ela morrer de felicidade.
Durante a noite, não chegue muito perto: nada mais obsceno do que uma paquera vencida. Um ex deve deixar claro que aquela mulher tem um lugar especial em sua vida, mas guardar uma certa distância, sem fazer jamais a gracinha de tentar qualquer aproximação física, nem para ajudá-la a levantar, se ela tropeçar e cair. O clima deve ser de quase cerimônia e de um certo medo, medo de um choque elétrico se por acaso as peles se tocarem -isso sem que uma só palavra tenha sido dita. Emocionante, não?
Nessa noite, um sacrifício em nome dos velhos tempos: fique longe de qualquer mulher, nem que uma dessas deusas que só namoram playboys ricos te mande um torpedo. Fique longe dela (ELA), mas não a perca de vista um só instante. É preciso que a cada vez que ela olhar você a esteja olhando, não como se estivesse se matando de saudades, mas lembrando dos velhos tempos, de como nunca mais encontrou uma mulher que se comparasse a você, ah, como foi idiota.
E prepare-se para o grand finale. Trate de ir embora antes dela, para dar a impressão de que a festa não está interessando, que nada no mundo pode interessar, sem ela perto. E quando for se despedir, na hora de dar aqueles dois beijinhos tão civilizados, sussurre em seu ouvido "Você foi a mulher de minha vida".
Mesmo que não seja verdade.
(Danuza Leão, Folha de São Paulo, 21/11/2004)
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Talvez: a pior das palavras – Danuza Leão
UM FIM DE caso -quem nunca passou por isso?
Casos costumam acabar: ou se abandona ou se é abandonado, e as duas hipóteses são penosas e dolorosas. Qual a pior? As duas são péssimas, pois ninguém pode imaginar, enquanto o amor existe, que ele um dia pode morrer. 
Deixar quem já foi tanto em nossa vida é horrível, e ir levando, sem vontade, pior ainda. Como dizer "não quero mais você"? Como dizer que prefere ser infeliz sozinha do que continuar com ele, já sabendo que não vai dar? Se despedidas são sempre difíceis, imagine dizer adeus a um homem que você amou, com quem dividiu a cama e os sonhos. 
É muita crueldade, e ninguém gosta de ser cruel. A crueldade só se justifica em circunstâncias muito especiais e por justíssima causa: se ele tiver nos deixado por outra, por exemplo. Ser deixada é difícil, sobretudo para as que nunca imaginaram que isso poderia acontecer. Aliás, não imaginaram, não: só não quiseram ver. 
Não é preciso ser a rainha da inteligência para perceber quando as coisas começam a mudar, e quando a certeza chega, o melhor é respirar fundo e sair antes, para preservar pelo menos o amor próprio. Mas se você prefere achar que é só uma crise, é bom estar preparada para o que der e vier -e que costuma vir. 
Quando mulheres são deixadas, é sempre igual. Se ele sumir, "ah, mas que cafajeste"; se disser "nãoestou mais a fim", só trucidando, e se concluir com um "vamos ser amigos", só matando. E todas as abandonadas acabam dizendo sempre a mesma coisa: "tudo bem, mas não precisava ser daquela maneira". Como se houvesse maneira certa de acabar um caso. 
Mas quem é deixado precisa aprender a se defender, e o tipo de desfecho está em suas mãos. Ele começa a ficar vago e um dia diz que precisa de um tempo? Pois responda, de bate pronto, que ele tem razão, até já havia pensado nisso, emendando imediatamente com um "preciso sair voando, tenho hora marcada para discutir um trabalho novo, outra hora a gente se fala, tá?" 
Esse texto deve ser dito num tom ameno e tranqüilo, seguido de um tchau e um beijinho no rosto, daqueles que só se dá numa amiga de quem se gosta muito. 
Deixe para chorar depois, quando estiver sozinha e com o telefone fora do gancho. Pense: se fizer uma grande cena, ele vai achar você uma chata, o que não é nada bom. Na hora em que um homem começa a dizer, meio sem jeito, que andou pensando e tal e coisa, é porque já acabou. 
Quem insinua que quer ir já foi. Tente pensar que aquela pessoa com quem viveu momentos tão bons tem o direito de tentar ser feliz, mesmo que essa maneira seja sem você. Seria de grande generosidade, mas é difícil, eu sei; impossível, eu diria. 
Amores podem ir e vir, sobretudo quando os novos não dão certo, e tudo pode acontecer, até mesmo um dia ele querer voltar. E se você não resistir e cair nos braços dele, em pouco tempo estará querendo se matar, quando ele te deixar de novo. 
Mas se o coração ainda estiver doendo muito, mesmo morrendo de vontade, diga um belo não, com um lindo sorriso, e vai ter um dos maiores e inesquecíveis prazeres da vida. Aliás, melhor ainda: faça bastante charme e dê muitas esperanças, para que ele fique bem enlouquecido. Não há nada melhor do que enlouquecer um homem que nos deixou. (Folha de São Paulo, 02/07/2006)
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Um avô – Danuza Leão
PARIS - Eu já estava no meio do jantar quando eles chegaram e se sentaram na mesa ao lado. Ela uma senhora vaidosa, com os cabelos pintados, brincos, anéis, essas coisas que nós mulheres gostamos de usar. Ele, um senhor já bem senhor, daqueles que só se vêem na França. Um senhor daqueles bem idosos de antigamente.
Pequeno, magro, os cabelos completamente brancos cortados curtos, olhos azuis e bochechas rosadas. Como era inverno, ele, muito elegante, usava um suéter, um paletó de tweed, um cachecol e um gorrinho de lã que tirou, assim que se sentou à mesa. Dava para perceber que devia cheirar a lavanda. A pele era fina, e sem uma só ruga. O casal não tinha a rapidez da juventude; o andar era lento, os gestos, vagarosos, e as palavras, calmas. Ele ajudou-a a tirar o casaco, esperou que ela se sentasse (na banqueta ao meu lado) e só então se sentou, diante dela. 
Levaram um bom tempo para escolher o que iam comer, e era comovente ver como ele procurava saber do que ela gostaria, e dando sugestões; delicado, sempre muito atento a tudo que ela dizia, e sem nenhuma impaciência ou pressa, características dos muito jovens. E falavam baixinho. 
A garrafa de vinho chegou, ele provou primeiro, disse ao garçom que estava aprovada; serviu a sua dama, em primeiro lugar, depois a ele mesmo. 
Pediram uma grande bandeja de frutos do mar, e a cada um que comiam, faziam um comentário; como a maioria dos franceses, eles conheciam o assunto. Deixaram para o final um siri imenso, e com toda a calma do mundo -e com pinças especiais- tiraram até o último pedacinho da carne, sempre comentando sobre o que estavam comendo. Deram toda a importância do mundo ao jantar, e depois da conta paga -sem pressa- ele se levantou, puxou a mesa para que sua companheira pudesse sair, ajudou-a a colocar o cachecol, o casaco, depois vestiu o seu, colocou o gorrinho na cabeça e saíram, ela na frente, ele atrás. 
Imagino que já tivessem passado há um bom tempo dos 80, mas ainda tinham o prazer da boa mesa, da boa companhia. Seriam casados? 
Acho que não, velhos casais não costumam ter tantos assuntos, e raramente saem sozinhos para jantar. 
Fiquei pensando em como gostaria de ter tido um avô como ele. Um avô que me levasse a um restaurante quando eu era criança, me fizesse conhecer os mistérios das ostras, a reconhecer um bom vinho. Um avô que me ensinasse, pelo exemplo, a ser gentil, atenta aos outros, que puxasse a cadeira para mim, que me desse muita atenção, aquela que só se dá às pessoas de quem se gosta muito. Que me forçasse, delicadamente, a pedir uma sobremesa; que me perguntasse, antes de pedir a conta, se eu estava contente, e que quando saíssemos, de mãos dadas, parasse para me comprar um saquinho de chocolates, assim por nada, só porque isso é coisa de avô. 
Um avô que cheirasse a lavanda como ele devia cheirar, calmo como ele, gentil como ele, com os olhos tão azuis quanto os dele, e que gostasse muito de mim. 
Só que aos três anos eu já não tinha mais nenhum avô, e como nunca tive, nunca me ocorreu que eles me faziam falta. 
Mas nessa noite -e pela primeira vez- pensei em como seria bom ter tido um avô que gostasse muito de mim. 
(Danuza Leão, Folha de SP, 20/01/2008)
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O olhar de meu pai - Luís Nassif
Antes dos 13 anos, declarei guerra a meu pai. Eu passara para o terceiro ano do ginásio, mudou o irmão Marista titular da classe, e tive a oportunidade de tirar o primeiro lugar, algo que não conseguira nos dois anos anteriores.
Fui para casa de boletim na mala e peito estufado, e o velho nem ligou. À noite, no encontro de pais e alunos no Marista, um pai chegou perto de nós, saudou o meu feito e indagou se manteria a colocação. Seu Oscar respondeu, irritado: "Problema dele". Anos depois, Chafik, seu melhor amigo, me contou que ele não se conformara com minha decisão de, aos 12 anos, me tornar jornalista, e não seu sucessor na Farmácia Central.
Desde aquela noite de 1963 um muro se ergueu entre nós. No mês seguinte caí para 7º da classe, no terceiro mês para 15º, do quarto mês em diante fui o último para o todo e sempre. Puni o seu Oscar a cada prova malfeita, a cada gazeta engendrada, a cada rebelião contra os irmãos. Mas, nos momentos cruciais, consegui o seu apoio, especialmente no dia em que o reitor Lino Teódulo foi à minha casa com acusações falsas, em represália à minha militância estudantil. Disse-lhe na cara que ele estava mentindo, e meu pai me apoiou.
Nem isso quebrou as nossas barreiras. Eu chegava em casa antes de meu pai chegar, refugiava-me na tia Rosita na hora do jantar. Depois, quando ele descia de novo para fechar a farmácia, corria para casa, para dormir antes que ele voltasse de vez. Mas de manhã bebia cada som que ele emitia, cada gesto de ansiedade, andando para lá e para cá no corredor de casa, os gemidos de quem carrega os fardos do mundo. E me punia por não poder ajudá-lo.
Ao longo da vida, guardei em frascos de cristal os poucos momentos de emoção que consegui compartilhar com ele, como o garimpeiro que procura a pepita na bateia. Registrei seu choro na morte da tia Marta, as lágrimas na missa de sétimo dia do vô Issa, seu sogro, a última ida a Poços de Caldas, para ser informado da morte de seu melhor amigo, e seu olhar quando divisou a cidade ao longe. Mais tarde, acompanhei seu silêncio quando tia Rosita morreu. Não contamos nada para ele, e ele nunca mais perguntou dela, para não ouvir a resposta que temia.
E me lembrei para sempre do dia em que o critiquei na casa do vô Issa por ter comprado um bilhete de loteria enquanto estávamos acampados por lá, procurando casa para alugar em São Paulo. Ele saiu para a rua, fui atrás e pedi a Deus as palavras que me permitissem explicar o que sentia. Abracei-o, aquele homem alto, chorando, e falei, falei e falei, disse-lhe que ele continuava o centro da família e que minha preocupação era apenas para que não demonstrasse desespero indo atrás de miragens. E só serenei quando ele se acalmou e me olhou com olhar de pai agradecido.
O segundo derrame chegou 12 anos depois do primeiro.

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