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A evolução da intervenção do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica à luz do novo Código de Processo Civil - Kleydson Muniz da Silva

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1 
 
A evolução da intervenção do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica 
à luz do novo Código de Processo Civil 
 
 Kleydson Muniz da Silva1 
 Orientadora Prof.ª Sônia de Oliveira2 
 
Sumário: 1. Introdução, 2. O surgimento do Ministério Público: do 
Procurador do Rei à independência institucional. 3. Comparativo acerca da 
intervenção do Ministério Público entre o Código Buzaid e o NCPC. 
3.1.Definição de Interesse Público ou Social. 3.2. O papel do MP na defesa 
dos interesses dos incapazes. 3.3. Atuação nos litígios coletivos pela posse 
de terra rural ou urbana 4. Mandado de segurança. 5. Ação rescisória. 6. 
Conflito de competência. 7. Do fim da análise de admissibilidade recursal na 
apelação 8. Conclusão, 9. Referências. 
 
Resumo 
 
Esse artigo visa o estudo da análise da atuação do Ministério Público nos 
processos civis ou não penais, como fiscal da ordem jurídica, a fim de buscar o 
efetivo respeito ao papel institucional do Parquet, conforme preceituado nos arts. 
127 e 129 da Constituição Federal de 1988 e em contraponto à evolução normativa 
entre o Código Buzaid e o Código de Processo Civil de 2015, objetivando a 
racionalização de sua competência para o fortalecimento dessa instituição. 
 
Palavras chaves: Ministério Público; custos iuris; processo civil. 
 
1. Introdução 
 
Atualmente há muitas discussões acerca dos diversos meios processuais que 
justifiquem ou não a intervenção do órgão ministerial como fiscal da lei, ou melhor, 
como fiscal da ordem jurídica, segundo a nova nomenclatura. Em que momentos é 
necessária sua atuação intervencionista? O art. 82 do código Buzaid enumerou, de 
forma abstrata, os momentos em que se faz necessária a atuação do MP para 
 
1 Pós-graduando no curso de especialização em Direito Processual Civil pelo Centro 
Universitário Internacional UNINTER. Graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador. 
Assessor Jurídico no Ministério Público do Estado da Bahia. 
2 Mestranda em Direito na PUC/PR. Especialista em Direito Criminal pela Unicuritiba. 
Especialista em Direito do Trabalho pelo Centro Universitário UNINTER. Graduada em Direito pela 
PUC -PR. Advogada atuante nas áreas trabalhista e cível. Professora Orientadora de TCC no Centro 
Universitário UNINTER. 
2 
 
exercer sua função de fiscal, sendo, dentre elas, quando há interesses de incapazes 
a serem resguardados. 
Ocorre que a vagueza da antiga lei processual – bem como a complexidade 
dos casos processuais –, dificultavam a percepção da solução prática desse 
problema. Além disso, normas extravagantes também disciplinam acerca da 
obrigatoriedade da atuação ministerial, como a lei de Mandado de Segurança que 
determina a intimação do Ministério Público em todos os casos, em que pese exista 
discordância de parte da doutrina e jurisprudência, haja vista nem todos os casos de 
impetração do writ of mandamus evidenciarem o direito primário do Estado a ensejar 
a atuação meritória do órgão ministerial. 
De mais a mais, o novo Código de Ritos, em seu artigo 178, além de alterar a 
redação da antiga processual – acerca da atuação do Parquet – ainda que 
timidamente, trouxe um avanço: estabelece que não basta que a Fazenda Pública 
figure num dos polos da ação para justificar hipótese de intervenção do Ministério 
Público, reafirmando um entendimento já consolidado no Superior Tribunal de 
Justiça. 
No meio de todo esse cenário jurídico-legal, o Conselho Nacional do 
Ministério Público havia editado a Recomendação nº 16/2010 que estabelecia as 
possíveis hipóteses de desnecessidade de intervenção do órgão ministerial como 
custos legis, incluindo, por exemplo, o Mandado de Segurança, mesmo na vigência 
da imposição da Lei nº 12.016/2009. No entanto, a referida norma foi revogada, 
sendo substituída pela Recomendação nº 034/2016, com vistas a trazer um esforço 
conceitual daquilo que seja a relevância social a justificar a intervenção do Parquet. 
É essa polêmica que será tratada no artigo, mostrando os novos contornos 
desse papel do Ministério Público, sobretudo a partir de 18/03/2016, data da entrada 
em vigor3 do novo Código de Processo Civil. 
 
 
 
 
 
3 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Pleno do STJ define que o novo CPC entra em vigor no 
dia 18 de março. Disponível em 
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/Not%C3%ADcias/Not%C3
%ADcias/Pleno-do-STJ-define-que-o-novo-CPC-entra-em-vigor-no-dia-18-de-mar%C3%A7o 
Acessado em 28/03/2016. 
3 
 
2 – O surgimento do Ministério Público: do Procurador do Rei à independência 
institucional 
 
Para que se possa traçar as formas de intervenção do Ministério Público em 
processos civis ou não-penais, é importante, primeiramente, que se tenha em vista a 
mudança do papel desse órgão de mero fiscal da lei (ou custos legis) para fiscal do 
direito (ou custos juris), ou, até, como preferem alguns, custos societatis. 
Antes de adentrar, propriamente, na seara da atuação do Ministério Público 
brasileiro como custos juris, mister é que se faça um aparato histórico dessa 
instituição. 
O surgimento do Parquet é fato por demais controverso, havendo notícias 
que remontam o Egito Antigo, na figura dos magiaís; os tesmotetas, na Grécia do 
século VIII a.C., e os procuratores caesaris da Roma antiga (CASARA e MELCHIOR, 
2013). Entretanto, a teoria mais aceita remonta ao século XIV, na França, que, 
durante a ordenação de 25 de março de 1302, do reinado de Felipe IV, os chamados 
procuradores do rei (les gens du roi) deveriam prestar o mesmo juramento do juízo e 
lealdade à coroa, ou ao Estado-Rei. 
Em relação especificamente ao Ministério Público brasileiro, é importante, 
também, que se faça um esforço histórico para compreendê-lo, já que ele difere – 
em muitos casos – dos parquets de outros países. 
Em março de 1609, cria-se o Tribunal da Relação da Bahia, onde foi definida 
pela primeira vez a figura do promotor de Justiça que, juntamente com o Procurador 
dos Feitos da Coroa, Fazenda e Fisco, integrava o tribunal4. 
No Brasil, o MP, durante bastante tempo, fez parte do Poder Executivo sendo 
visto de forma mais restrita e tido apenas como mero fiscal da lei, quando muito. 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, houve uma reformulação 
conceitual acerca do órgão ministerial, visando dissociá-lo do Poder Executivo e 
colocá-lo como defensor da ordem jurídica5. Todavia, parte da doutrina ainda 
continuava (e continua) a tratá-lo apenas como custos legis. Nesse sentido, veja-se 
 
4 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. A História do Ministério Público no Brasil. 
Disponível em <http://www.cnmp.gov.br/portal_legado/comissoes2/94-institucional/ministerio-
publico/128-a-historia-do-ministerio-publico-no-brasil> Acessado em 30/03/2016. 
 
5 Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e 
individuais indisponíveis. (g.n.) 
4 
 
o que diz Fredie Didier6: 
 
Essa visão restritiva decorre também de certo silêncio da doutrina, que, em 
linhas gerais, persiste na análise do Ministério Público apenas na tradicional 
função de custos legis (“fiscal da ordem jurídica”, segundo o novo CPC), 
salvo quando se abordam questões envolvendo a legitimidade para ações 
coletivas. 
 
Porém, após a CF/88, e mais recentemente com o advento do Código de 
Processo Civil de 2015, essa visão do Ministério Público não pode mais ser aceita. 
Agora, não se vê mais o MP como “mero” fiscalda lei, mas sim como defensor do 
direito, custos iuris, ou fiscal da ordem jurídica. Nesse sentido, o NCPC veio, em 
grande parte, adequar-se ao papel do MP já desenhado pela CF/88. Robson Renault 
Godinho pontua o seguinte7: 
 
O novo CPC possui diversos dispositivos cuja finalidade é unicamente 
pedagógica: reproduzir normas constitucionais a fim de que, 
paradoxalmente, a consagração infraconstitucional sirva à efetividade da 
Constituição. Basta ter em conta a preocupação legislativa em explicar 
como se devem concretizar o princípio do contraditório e do devido 
processo legal, como nos artigos 9o, 10, 321, 373, § 1o, parte final, 489, § 1o, 
entre outros, para se constatar essa opção pela reprodução ou 
detalhamento de normas constitucionais. Por ser o primeiro Código debatido 
e editado em regime democrático, é natural essa opção pela expressa e 
didática constitucionalização das disposições processuais, sobretudo 
quando se revela cada vez mais necessária a afirmação insistente e 
reiterada, aproximando-se do truísmo, de normas constitucionais em um 
ambiente em que há um déficit de concretização de tais comandos. 
 
Para encarar a nova realidade do Parquet brasileiro, é necessário que se faça 
uma abordagem atenta acerca do novo papel a ser desempenhado pela instituição, 
em consonância com o novo Código de Ritos, em vigência desde 18/03/2016, 
editado em harmonia com a Carta Republicana. Para isso, irá se analisar os 
principais pontos de mudança com o novo CPC, acerca da atuação do Ministério 
Público no processo civil, harmonizando sua independência funcional à 
determinação da lei. 
 
 
 
6 DIDIER JR. Coleção repercussões do novo CPC. Ministério Público. Salvador: Juspodivm, 2015, 
p. 17. 
7 GODINHO, Robson Renault. Coleção repercussões do novo CPC. Ministério Público. Salvador: 
Juspodivm, 2015, p. 63. 
5 
 
3 – Comparativo acerca da intervenção do Ministério Público entre o Código 
Buzaid e o NCPC 
 
Assim estabelecia o código processual civil, acerca das hipóteses de 
intervenção do Ministério Público, in verbis: 
 
Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir: 
I – nas causas em que há interesses de incapazes; 
II – nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, 
curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de 
última vontade; 
III – nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e 
nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza 
da lide ou qualidade da parte. 
 
Em nova redação, as hipóteses de intervenção do Parquet foram elencadas 
no art. 178 do Novo Código de Processo Civil, ora transcrito: 
 
Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) 
dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou 
na Constituição Federal e nos processos que envolvam: 
 
I - interesse público ou social; 
II - interesse de incapaz; 
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. 
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, 
hipótese de intervenção do Ministério Público. 
 
Embora, para alguns autores8, a mudança trazida pelo novo códex processual 
tenha sido tímida – pela mesma falta de clareza sobre a função da instituição que a 
norma anterior padecia –, é preciso reconhecer o esforço do legislador, que nem 
sempre pode antever todas as situações práticas dentro ordenamento jurídico, sobre 
a evolução do papel ministerial 
E assim o fez, ao retirar, por exemplo, a referência expressa às causas 
concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, 
casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade, previstos no 
inciso II, artigos 82 do CPC/73. Nessas situações, desde que não envolvessem 
interesse de incapaz, já havia o entendimento consignando pela desnecessidade de 
intervenção ministerial. 
 
8 BERCLAZ, Márcio. O Novo CPC e a intervenção do Ministério Público: mudou-se não 
mudando. Disponível em http://justificando.com/2015/07/27/o-novo-cpc-e-a-intervencao-do-
ministerio-publico-mudou-se-nao-mudando/ Acessado em 04/04/2016. 
6 
 
3.1. Definição de Interesse Público ou Social 
 
A intervenção do Ministério Público no Processo Civil justifica-se nas 
situações especificadas na lei de forma a atender o seu papel Constitucional (art. 
127 e 129 da CFRB/1988), na defesa da ordem jurídica e do bem comum. 
Nesse sentido, a respeito do interesse público ou social de que fala a norma, 
corresponde ao interesse geral da coletividade diferentemente do interesse próprio 
da Administração, configurado na obrigação do governante em perseguir na 
consecução de seus fins, obrigatoriamente, o interesse público. 
Com efeito, o interesse público se distingue em interesse público primário e o 
interesse público secundário, os quais nem sempre caminham juntos. Aquele 
(interesse público primário) se relaciona, de fato, com aquilo que toca a toda 
coletividade, dizendo respeito efetivamente à preservação dos bens e interesses do 
grupo social. Enquanto que este (interesse público secundário) diz respeito ao 
interesse meramente econômico da pessoa jurídica de direito público e reflete o 
modo como o administrador deve enfrentar o interesse público. 
Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello9 o “interesse público, pois, é 
aquele que o ordenamento jurídico positivo qualifica como tal, por submetê-lo a um 
regime jurídico de direito público, dominado pelos princípios da supremacia do 
interesse público sobre o privado e da indisponibilidade do interesse público” 
Ao Ministério Público, seja como parte ou como fiscal da ordem jurídica, 
cumpre zelar pelo interesse público primário e que, repise-se, não se confunde como 
o interesse do ente público, cuja presença em um dos lados da demanda, de per si, 
não justifica a intervenção do Parquet no processo porque, para a defesa do 
interesse público secundário, existem as atividades de consultoria e assessoramento 
jurídico, sendo vedado ao Ministério Público, nos termos do art. 129, IX da 
Constituição Federal, a consultoria jurídica de entidades públicas. 
Rememore-se o quanto dito em linhas anteriores acerca da dissociação do 
papel ministerial em relação ao executivo. 
Ademais, importa salientar que a Lei n. º 8.625/93 reserva ao Ministério 
Público, uma vez solicitado pelo juiz, pela parte ou por sua iniciativa, avaliar, no caso 
concreto, a ocorrência de interesse público que justifique a sua intervenção (art. 26, 
 
9 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 22ª Ed., São Paulo, 
Malheiros, 2007. p. 60 
7 
 
VIII da LOMP). 
Nesse contexto, tendo em vista a alteração da redação do novo código 
processual, notadamente quando traz como hipótese de intervenção do MP a 
existência de “interesse público ou social”, fez com que o Conselho Nacional do 
Ministério Público editasse a Recomendação n.º 34/2016 que, em seu artigo 5º, 
envidou esforços para enumerar tais hipóteses, em termos práticos, senão vejamos: 
 
Art. 5º Além dos casos que tenham previsão legal específica, destaca-se de 
relevância social, nos termos do art. 1º, inciso II, os seguintes casos: 
I – ações que visem à prática de ato simulado ou à obtenção de fim proibido 
por lei; 
II – normatização de serviços públicos; 
III – licitações e contratos administrativos; 
IV – ações de improbidade administrativa; 
V – os direitos assegurados aos indígenas e às minorias; 
VI – licenciamento ambiental e infrações ambientais; 
VII – direito econômico e direitos coletivos dos consumidores;VIII – os direitos dos menores, dos incapazes e dos idosos em situação de 
vulnerabilidade; 
IX – ações relativas ao estado de filiação ainda que as partes envolvidas 
sejam maiores e capazes; 
X – ações que envolvam acidentes de trabalho, quando o dano tiver 
projeção coletiva; 
XI – ações em que sejam partes pessoas jurídicas de Direito Público, 
Estados estrangeiros e Organismos 
Internacionais, nos termos do art.83, inciso XIII, da Lei Complementar nº 
75/93, respeitada a normatização interna; 
XII – ações em que se discuta a ocorrência de discriminação ou qualquer 
prática atentatória à dignidade da pessoa 
humana do trabalhador, quando o dano tiver projeção coletiva; 
XIII – ações relativas à representação sindical, na forma do inciso III do 
artigo 114 da Constituição da República/88; 
XIV – ações rescisórias de decisões proferidas em ações judiciais nas quais 
o Ministério Público já tenha atuado 
como órgão interveniente; 
Parágrafo único. Os assuntos considerados relevantes pelo planejamento 
institucional (Art.1º, inciso I) são equiparados aos de relevância social. 
 
Deve-se ter em mente, na esteira do próprio ato normativo (art. 2º), que se 
trata de recomendação de caráter não vinculativo e exemplificativo, mormente em 
respeito ao princípio da independência funcional inerente à atividade-fim do membro 
do Ministério Público (art. 127, §1º da CFRB/1988). 
Caso curioso gira em torno da prescindibilidade da intervenção do Parquet 
nas causas fiscais, conforme entendimento há tempos cristalizado no verbete n° 189 
da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, mas agora foi positivado no parágrafo 
único do art. 178 do NCPC, pelo qual aponta que a participação da Fazenda Pública 
não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público. 
8 
 
Arrematando o quanto já foi dito até agora, a atuação ministerial, nos termos 
do art. 178, inciso I, depende da existência de interesse público primário ou social, 
sendo que a simples presença da Fazenda na demanda não justifica a intervenção 
do Parquet, quando não evidenciado o referido interesse público, posto que vedado 
de maneira expressa pela Constituição Federal, em seu artigo 129, IX, ao Ministério 
Público, a defesa e consultoria de entes públicos. 
 
3.2. O papel do MP na defesa dos interesses dos incapazes 
 
Segundo a Norma Maior, incumbe ao Ministério Público a defesa da ordem 
jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e a defesa dos interesses 
individuais indisponíveis. 
É cediço que, pela defesa dos interesses individuais indisponíveis, incluem-
se, aí, os incapazes, menores e idosos em situação de vulnerabilidade (art. 5º, inciso 
VIII da Recomendação nº 34/2016). Nesse contexto, assim como a norma 
processual anterior, o novo CPC ratifica a obrigatoriedade de intervenção do MP nas 
causas em que há interesses de incapazes, inclusive como substituto processual. 
A matéria acerca da incapacidade encontra-se regulamentada no Código Civil, 
que, agora com redação dada pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com 
Deficiência), informa que são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os 
atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos; e relativamente incapazes os 
maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, os ébrios habituais, os viciados 
em tóxico e aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir 
sua vontade e os pródigos. 
Relativamente aos menores de 18 (dezoito) anos, cujos direitos e garantidas 
encontram guarida no Estatuto da Criança e do Adolescente, a intervenção do MP é 
obrigatória em todos os processos e procedimentos seja como agente ou como 
fiscal da ordem jurídica. O direito dos indígenas e suas comunidades encontra 
amparo na Constituição Federal, sendo, igualmente, obrigatória a intervenção do 
Ministério Público em todos os atos do processo (art. 232), cujos direitos e deveres 
estão devidamente regulados no Estatuto do Índio. 
Um tema de grande relevância, no que tange à atuação ministerial, insere-se 
na defesa dos direitos dos doentes mentais, notadamente nos conhecidos processos 
9 
 
de interdição. Sem querer afastar-se do tema proposto, é de se notar a evidente 
alteração que o Estatuto da Pessoa com Deficiência promoveu ao retirar o doente 
mental do rol das pessoas absolutamente incapazes. 
Sobre o tema, Paulo Lôbo10 assim pontua: 
 
 "não há que se falar mais de 'interdição', que, em nosso direito, sempre 
teve por finalidade vedar o exercício, pela pessoa com deficiência mental 
ou intelectual, de todos os atos da vida civil, impondo-se a mediação de 
seu curador. Cuidar-se-á, apenas, de curatela específica, para 
determinados atos. 
 
Assim, observa-se um certo descompasso entre as duas normas, pois o Novo 
CPC é inteiramente estruturado no processo de interdição, como se nota do 
tratamento constante entre os seus arts. 747 a 758, pelo que caberia ao legislador 
consertá-lo. Independentemente dessa incongruência, em todos os casos em que se 
discutir a capacidade de alguém por força de doença mental faz-se imperiosa a 
atuação ministerial, senão vejamos: 
 
Estatuto da Pessoa com Deficiência 
Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os 
interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao 
juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do 
interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, 
no que couber, às disposições do Código de Processo Civil. (g.n.) 
 
CPC/2015 
 
Art. 752. Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o 
interditando poderá impugnar o pedido. 
 
§ 1º O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica. (g.n.) 
 
Havia grande celeuma acerca da possibilidade da nomeação do 
representante ministerial para atuar como curador especial à lide nos processos de 
interdição. Obviamente, nesses processos, é necessária a nomeação de um curador 
especial, haja vista existir grande possibilidade de conflito de interesses entre o 
requerente e o requerido (art. 9º, inciso I do CPC/73 e art. 72, inciso I do NCPC). 
Ocorre que os membros do Parquet, quando recebiam tal incumbência do 
magistrado, acertadamente agravavam dessa decisão por entender que esse mister 
 
10 LÔBO, Paulo. Com os avanços legais, pessoas com deficiência mental não são mais 
incapazes. Disponível em < http://www.conjur.com.br/2015-ago-16/processo-familiar-avancos-
pessoas-deficiencia-mental-nao-sao-incapazes> 
10 
 
não atende ao comando constitucional. 
Da análise do código processual revogado, este estabelecia, no art. 1.182, 
§1º, que o Mistério Público representará o interditando nos autos do procedimento 
ou, quando for aquele o requerente, o curador à lide. 
Nada obstante essa previsão, tem-se que a intervenção do Ministério Público 
no Processo Civil justifica-se, como já dito, nas situações especificadas na lei de 
forma a atender o seu papel constitucional, na defesa da ordem jurídica e do bem 
comum, “sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de 
entidades públicas” (art. 129, IX). 
Com efeito, no âmbito da ação de interdição, descabe ao Parquet a 
representação do interditando, porquanto tal atribuição implicaria em desvirtuamento 
daquilo que foi estabelecido na carta republicana. O órgão ministerial, nesses casos, 
limita-se à atuação como fiscal da ordem jurídica, de forma imparcial, e não como 
defensor da pessoa que poderá ser privada da sua capacidade jurídica, posto que o 
Promotor de Justiça, no exercício de sua independência funcional, pode atuar, 
inclusive, em desfavor dos interesses do interditando, caso reste patente a 
incapacidadealegada. 
É preciso reconhecer, portanto, que o art. 1.182, §1º do revogado CPC/73 não 
encontrou consonância com a ordem constitucional, até porque a Carta Cidadã 
assegurou, nos termos do art. 5.°, inc. LV, aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes, sendo imprescindível a atuação do advogado como função essencial à 
justiça. 
Assim, lecionando sobre a matéria, Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de 
Andrade Nery in: Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 7. 
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, esclarecem que: 
 
"A lei processual pressupõe que o interesse público preponderante, no caso, 
é o do interditando, no sentido de não ser privado da regência de sua 
pessoa e bens (direitos fundamentais seus). O posicionamento do MP, como 
fiscal da lei, deve ser no sentido de produzir todas as provas necessárias 
para que se preserve esse interesse. Na medida em que vai formando 
convicção no decorrer do processo, nada impede que opine, a final, em 
favor da interdição. Deve o órgão do MP, contudo, ter a cautela de requerer 
ao juiz sempre a nomeação de defensor ao interditando, sob pena de 
nulidade, pelas razões a seguir expostas. Entendemos revogado o contido 
no CPC 1182 §2º. O juiz dará advogado sempre ao interditando, quando 
este ou parente seu (CPC 1182 §3º) não o tenha constituído. As razões são 
11 
 
as que seguem: a) a CF 5º LV garante aos litigantes em processo judicial e 
administrativo ampla defesa; b) a nova fisionomia jurídica do MP (CF 127 e 
129) impede que seus integrantes façam a representação judicial da parte 
ou do interessado (CF 129 IX); c) é indispensável a nomeação de advogado 
ao réu ou interessado como órgão essencial à administração da justiça (CF 
133); d) é obrigatória a prestação de assistência jurídica (e não meramente 
judiciária) aos necessitados (CF 5º, LXXIV e 134); e) é grave a medida que 
o procedimento visa impor ao interditando, limitando seus direitos 
fundamentais" (Código de Processo Civil Comentado e Legislação 
Extravagante 9ª ed. São Paulo Revista dos Tribunais 2006 p. 1082 e 1083 
notas 02 e 03 ao artigo 1182). 
 
Ademais, com o advento da Lei Complementar nº 80/94 – que regulamenta a 
atuação da Defensoria Pública – ratificou-se, a esta instituição, o exercício da 
curadoria especial nos casos previstos em lei (art. 4º, XVI), como forma de garantir 
os respeitos aos princípios constitucionais, notadamente do devido processo legal, 
ampla defesa e contraditório. 
Com o advento do NCPC, retirou-se do ordenamento jurídico a impropriedade 
legal que se permeava na norma processual anterior, conforme se verifica in verbis: 
 
Art. 72. Omissis: 
 
Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela 
Defensoria Pública, nos termos da lei. (g.n.) 
 
Art. 752. Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da 
entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido. 
 
§ 1o O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem 
jurídica. 
§ 2o O interditando poderá constituir advogado, e, caso não o 
faça, deverá ser nomeado curador especial. 
§ 3o Caso o interditando não constitua advogado, o seu 
cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá 
intervir como assistente. 
 
Outrossim, percebe-se que o artigo 1.770 do Código Civil, que possuía 
redação semelhante ao do art. 1.182, §1º do CPC/73, foi expressamente revogado 
pelo Novo Código de Processo Civil. Portanto, é de clareza solar o esforço que o 
legislador teve em sanar a incongruência legal, sendo vedada a nomeação do 
membro ministerial como curador especial à lide em processos de interdição. 
 
3.3. Atuação nos litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana 
 
As ações possessórias eram reguladas pelos artigos 920 a 933 do Código de 
12 
 
Processo Civil de 1973. No códex processual vigente elas foram disciplinadas no 
capítulo III. É importante destacar que esses dispositivos legais emprestam grande 
efetividade à defesa do direito de posse e, quando figurar no polo passivo um grande 
número de pessoas, atrairá a atuação do Ministério Público para atuar no feito, posto 
se tratar de matéria de interesse social: 
 
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não 
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal 
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. 
 
§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande 
número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que 
forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-
se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em 
situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. (g.n.) 
 
 Com efeito, é obrigatória a intervenção do Ministério Público nos litígios 
coletivos que versam sobre a posse de terra urbana ou rural, nos termos do art. 127, 
caput, c/c artigos 3º, 5º, inciso XXIII e 6º, da Constituição Federal, posto se discutir, 
nesses casos, o direito à moradia, à função social da propriedade, ao devido 
processo legal, à ampla defesa e ao direito à assistência social. 
 
4. Mandado de segurança 
 
 O mandado de segurança é o remédio constitucional (CF, art. 5º, LXIX e LXX) 
que visa proteger direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas 
data, afetado por ilegalidade ou abuso de poder perpetrado por autoridade pública, 
criado pela Lei nº 1.533/51 – e ratificado pela Lei n.º 12.016/2009, na qual possui 
previsão expressa acerca da obrigatoriedade da intervenção do Ministério Público na 
ação mandamental: 
 
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do 
art. 7o desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério 
Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 
(dez) dias. (g.n.) 
 
Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, 
os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá 
ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias. 
 
13 
 
Assim, depreende-se do texto legal a obrigatoriedade da intimação do 
membro do Ministério Público no âmbito dos mandados de segurança. Ocorre que, 
nem de longe, o assunto encontra-se pacificado. 
No II Encontro da 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público 
Federal11 foram lançados argumentos em prol e contra a obrigatoriedade de 
intervenção ministerial em todo e qualquer mandado de segurança, independe da 
matéria tratada. 
Dentre os argumentos a favor, além do imperativo legal, ponderou-se que a 
intervenção funcionava como ferramenta para defesa da ordem jurídica, do regime 
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127), 
inclusive dos direitos fundamentais individuais disponíveis, na qual se procede à 
fiscalização dos atos ilegais ou abusivos das autoridades públicas ou agentes 
administrativos. 
 Considerou-se, ainda, a imprescindibilidade da atuação historicamente 
proativa da instituição que lhe rendeu ao longo do tempo o respeito e a consideração 
perante a sociedade, sendo que a não-manifestação conclusiva nos mandados de 
segurança iria na contramão da história da Instituição, além de possibilitar a 
transferência para o Judiciário da definição acerca da existência, ou não, de 
interesse a ensejar a intervenção do Ministério Público, como já está ocorrendo 
atualmente; 
 Lado outro, justificou-se a desnecessidade de intervenção em todo e qualquer 
mandado de segurança, primeiro porque a Lei do Mandado de Segurança (LMS) 
apenas determinar a intimação do presentante ministerial, cabendo a este o juízo de 
valor acerca da necessidade da intervenção, levando-se em conta a sistemática da 
matériadebatida, ante os dispositivos constitucionais e do código de processo, e 
não a apenas a forma. 
 Quando ainda vigia a Recomendação nº 016/2010 do Conselho Nacional do 
Ministério Público, o artigo 5º, inciso XXII, trazia a desnecessidade de intervenção 
 
11 II ENCONTRO DA 1ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
FEDERAL. Intervenção do Ministério Público Federal em mandados de segurança. 
Disponível em http://www.mpf.mp.br/atuacao-
tematica/ccr1/atuacao/eventos/II%20Encontro%20Nacional/tema_1_mandado_seguranca.pdf 
Acessado em 15/05/2016. 
 
14 
 
ministerial nos mandados de segurança, em que pese tal orientação encontrasse 
certas ressalvas na comunidade jurídica. 
 O assunto encontra tamanha polêmica que foi pauta de Procedimento de 
Controle de Ato Administrativo nº 0.00.000.000818/2009-7912, apenso ao PCA nº 
0.00.000.000935/2007-7113, formulado por promotores de justiça do Ministério 
Público do Estado da Bahia para sustar os efeitos da Resolução nº 010/2003 do 
Colégio de Procuradores de Justiça do Estado da Bahia, que determinava a atuação 
do membro ministerial em todo e qualquer ação de mandado de segurança. 
 Com efeito, pautando-se na evolução do mister ministerial com o advento da 
magna carta de 1988 e seu descompasso com a lei do mandado de segurança, os 
membros ministeriais requereram que, “ao falecer qualquer indício de interesse 
social ou individual indisponível a ser tutelado pelo Ministério Público como fiscal do 
direito, a teor do que dispõe a Norma Fundamental, fiquem os membros 
dispensados de adentrar no mérito da questão posta em juízo”. 
No julgamento do PCA nº 0.00.000.000935/2007, o Relator, Conselheiro 
Cláudio Barros Silva, se pronunciou no seguinte sentido: 
 
“(...) Por fim, voto no sentido de que o Conselho Nacional recomende aos 
Ministérios Públicos que, no âmbito de sua autonomia, priorizem o 
planejamento das questões institucionais, destacando as que, realmente, 
tenham repercussão social, devendo, para alcançar a efetividade de suas 
ações, redefinir as atribuições através de ato administrativo e, também, 
repensar 
 
Embora haja certa resistência em vista do comando legal, podendo, inclusive, 
o agente ministerial quiçá ser passível de procedimento apuratório no âmbito da 
Corregedoria à qual se vincula, é necessário conferir pragmatismo à independência 
funcional, permitindo-se ao promotor de justiça avaliar pela necessidade ou não na 
apreciação meritória de determinado mandado de segurança. 
 Obviamente, quando pugnar pela desnecessidade de intervenção, deve fazê-
la, como se espera de qualquer ato, de forma fundamentada e diante das 
circunstâncias que rodeiam o caso concreto. 
 
12 Disponível em < http://millencastro.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/12/PCA-CNMP-Mandado-
de-Seguranca.pdf> Acessado em 20/06/2016. 
13 O julgamento do PCA nº 0.00.000.000935/2007-71, em 28 de abril de 2010, culminou na edição da 
Recomendação nº 16/2010, que dispôs sobre a atuação dos membros do Ministério Público como 
órgão interveniente no processo civil. 
 
15 
 
 A polêmica talvez só encontre desfecho quando da alteração da lei, como fez 
o legislador no NCPC, que dispensou a atuação do Parquet em processos de ação 
rescisória e conflito de competência, quando a matéria de fundo não justificar a sua 
atuação. 
 
5. Ação Rescisória 
 Havia certa obrigatoriedade da intervenção ministerial, na condição de custos 
legis, nas ações rescisórias, embora o código processual revogado não pugnasse, 
expressamente pela atuação do MP. 
 O CPC/73 apenas propugnava, no art. 487, inciso III, alíneas a e b, que o 
Ministério Público tinha legitimidade para propor ação rescisória se não foi ouvido no 
processo, em que lhe era obrigatória a intervenção ou quando a sentença fosse 
efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei. Tratou-se, portanto, da 
legitimidade ministerial enquanto agente. 
 No tocante à atuação como interveniente, dizia-se que o interesse público 
evidenciado – a justificar a atuação do Parquet nas ações rescisórias – seria o da 
defesa da coisa julgada que a mencionada ação buscava rescindir, independente da 
matéria de fundo que se discutia na ação originária. 
 Entretanto, com o advento do NCPC, a questão foi superada, ao se 
determinar, expressamente, que a atuação ministerial, como fiscal da ordem jurídica, 
no bojo do julgamento de ação rescisória, somente será necessária quando presente 
alguma das hipóteses enunciadas no art. 178, senão vejamos: 
 
Art. 967. Têm legitimidade para propor a ação rescisória: 
[...] 
III - o Ministério Público: 
a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; 
b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das 
partes, a fim de fraudar a lei; 
c) em outros casos em que se imponha sua atuação; 
IV - aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a 
intervenção. 
Parágrafo único. Nas hipóteses do art. 178, o Ministério Público será 
intimado para intervir como fiscal da ordem jurídica quando não for 
parte. (g.n.) 
 
 Deveras, quando na matéria de fundo, discutida nos autos de origem, 
descaber a intervenção ministerial, quando, por exemplo, revelar um interesse 
16 
 
meramente patrimonial da Fazenda Pública, por ocasião de manejo de ação 
rescisória, igualmente será desnecessária a intervenção do Parquet, por força do 
novo comando processual. 
 Já foi dito que a intervenção do Ministério Público no Processo Civil justifica-
se nas situações especificadas na lei, de forma a atender o seu papel Constitucional, 
na defesa da ordem jurídica e do bem comum. Nesse sentido, a respeito do 
interesse público ou social de que fala a norma, corresponde ao interesse geral da 
coletividade, diferentemente do interesse próprio da Administração, configurado na 
obrigação do governante em perseguir a consecução de seus fins, obrigatoriamente, 
o interesse público. 
 Ao Ministério Público, seja como parte ou como fiscal da ordem jurídica, 
cumpre zelar pelo interesse público primário e que, repise-se, não se confunde com 
o interesse do ente público, cuja presença em um dos lados da demanda, de per si, 
não justifica a intervenção do Parquet no processo porque, para a defesa do 
interesse público secundário, existem as atividades de consultoria e assessoramento 
jurídico, sendo vedado ao Ministério Público, nos termos do art. 129, IX da 
Constituição Federal, a consultoria jurídica de entidades públicas. 
 Portanto, tratando-se a matéria de fundo, discutida na ação originária, em 
situações que descoube a atuação ministerial, afasta, igualmente, a hipótese de 
subsunção da espécie em comento, posto que a forma, tão somente, não justifica a 
intervenção do Parquet. 
 
6. Conflito de competência 
 
 Situação semelhante ocorria nos processos de conflito de competência. A 
obrigatoriedade da intervenção ministerial, na condição de custos legis, in casu, 
revelava-se da imposição do CPC/73, senão vejamos: 
 
Art. 118. O conflito será suscitado ao presidente do tribunal: 
 
I - pelo juiz, por ofício; 
II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição. 
Parágrafo único. O ofício e a petição serão instruídos com os documentos 
necessários à prova do conflito. 
 
[...] 
 
17 
 
Art. 121. Decorrido o prazo, com informações ou sem elas, será ouvido, em 
5 (cinco) dias, o Ministério Público; em seguida o relator apresentará o 
conflito em sessão de julgamento. (g.n.) 
 
 No entanto, o artigo 951 do Código de Processo Civil de 2015, em seu 
parágrafo único, expressamente pontua que a atuaçãoMinisterial como fiscal da 
ordem jurídica, no bojo do julgamento de ação de conflito de competência, somente 
será necessária quando presente alguma das hipóteses enunciadas no art. 178, 
senão vejamos: 
 
Art. 951. O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das 
partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz. 
 
Parágrafo único. O Ministério Público somente será ouvido nos 
conflitos de competência relativos aos processos previstos no art. 178, 
mas terá qualidade de parte nos conflitos que suscitar. (g.n.) 
 
 É dizer, sendo a matéria de fundo, discutida na ação originária, movida por 
partes capazes e maiores, e o direito discutido for de caráter meramente patrimonial, 
disponível, não se vislumbrando o interesse público primário, não se configura 
obrigatória a atuação ministerial nos conflitos de competência. 
 
7 – Do fim da análise de admissibilidade recursal na apelação 
 
No âmbito do anterior códex processual, existia o que se chamava de dupla 
admissibilidade do recurso de apelação – o juiz fazia o primeiro juízo de 
admissibilidade e, caso entendesse admissível o recurso, o encaminhava ao juízo ad 
quem, que fazia o segundo e definitivo juízo de admissibilidade. 
Nesse sentido, havia dúvida acerca da prática de atos postulatórios pelo 
Promotor de Justiça ou Procurador da República em segundo grau, já que o juiz, ao 
exercer o juízo de admissibilidade, praticava típica função jurisdicional (o que se 
extrai do fato de que era necessário um parecer recursal, editado pelo Procurador de 
Justiça, como fiscal da lei). 
Não é difícil de perceber que, em situações como essas, existia, não raras 
vezes, divergência de opiniões entre a análise da admissibilidade recursal 
18 
 
protocolada pelo Promotor de Justiça14 e o parecer ministerial exarado pelo 
Procurador de Justiça. Com o novo CPC esse problema acabou. Assim, leciona 
Didier15: 
 
O novo CPC nesse particular veicula inovação que reforça de modo 
irretorquível o que foi dito e ainda encerra uma antiga polêmica: o art. 1.010, 
§3o, do novo CPC elimina a dupla admissibilidade do recurso de apelação; a 
partir da vigência do novo Código, portanto, a apelação será interposta em 
primeiro grau apenas por uma questão procedimental para facilitar o 
contraditório (art. 1.010, caput, e §§ 1o e 2o). Com isso, a postulação 
recursal propriamente dita será diretamente submetida ao Tribunal, cabendo 
ao juiz de primeiro grau apenas a função protocolar de preparação dos 
autos. 
 
A recomendação nº 34/2016 do Conselho Nacional do Ministério Público, 
seguindo a esteira da nova sistemática processual, estabeleceu ser prescindível a 
manifestação, em primeiro grau, acerca da admissibilidade de recurso, ressalvada 
disposição legal em contrário. 
 
8. Conclusão 
 
 O Ministério Público é uma instituição dinâmica, proativa e em constante 
evolução em seu mister, seja como parte, seja como órgão fiscalizador do direito. 
Embora o novo código de processo civil não tenha inserido grandes mudanças 
acerca do papel intervencionista do Parquet nos processos não penais, é evidente 
que se percebe uma maturidade do legislador infraconstitucional acerca do papel 
constitucional do MP. 
 A racionalização da intervenção ministerial nos processos cíveis deve ser 
estimulada por todos, assim como o Conselho Nacional do Ministério Público, que, 
ciente dos misteres da instituição, edita atos normativos a orientar todos os 
integrantes naquilo que a lei não foi precisa. 
 É com esse amadurecimento que alcançará o fortalecimento da instituição 
não apenas em seu interesse próprio, mas, principalmente, na defesa dos interesses 
de toda a coletividade. 
 
14 Muitas das vezes, o Promotor de Justiça lançava um verdadeiro parecer recursal nas 
hipóteses em que ao Juiz era facultado o juízo de retratação, nos termos do código processual 
revogado. 
15 DIDIER JR. Coleção repercussões do novo CPC. Ministério Público. Salvador: Juspodivm, 
2015, p. 26. 
19 
 
REFERÊNCIAS 
 
II ENCONTRO DA 1ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO FEDERAL. Intervenção do Ministério Público Federal em mandados 
de segurança. Disponível em http://www.mpf.mp.br/atuacao-
tematica/ccr1/atuacao/eventos/II%20Encontro%20Nacional/tema_1_mandado_segur
anca.pdf Acessado em 15/05/2016. 
 
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 22ª Ed., 
São Paulo, Malheiros, 2007. p. 60 
 
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a-intervencao-do-ministerio-publico-mudou-se-nao-mudando/ Acessado em 
04/04/2016 
 
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Publicações, 2002. 342 p. 
 
BRASIL. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. 
Diário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973. 
 
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e 
do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16 jul. 
1990. 
 
BRASIL. Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização 
do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de 
Processo Civil; e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do 
Brasil], Brasília 2006. 
 
CASARA, Rubens R. R.; MELCHIOR, Antonio Pedro. Teoria do processo penal 
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RENAULT GODINHO. Coleção repercussões do novo CPC. Ministério Público. 
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http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/Not%C3
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no-dia-18-de-mar%C3%A7o Acessado em 28/03/2016.

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