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RECURSO DE REVISTA O recurso de revista é um recurso eminentemente técnico. Enquanto o recurso ordinário visa à reforma ou modificação do julgado, com ampla discussão de fatos e provas, o recurso de revista pretende a uniformização da jurisprudência, ou seja, a correta interpretação das leis pelos tribunais trabalhistas. Vale ressaltar que o recurso em estudo sofreu profundas modificações com o advento da Lei nº 13.015, de 21 de julho de 2014, que dispôs sobre o processamento de recursos no âmbito da Justiça do Trabalho. Essa lei teve quatro grandes escopos: I) consignar uma hipótese de inexigibilidade de depósito recursal; II) alterar os recursos dos embargos de declaração, do recurso de revista e dos embargos no TST; III) regulamentar de maneira pormenorizada o instituto do incidente de uniformização de jurisprudência; e IV) trazer o instituto dos recursos repetitivos para a Justiça do Trabalho, mormente na seara do recurso de revista. A ideia central da aludida lei foi tentar dar à Justiça do Trabalho consonância real com os princípios da efetividade, celeridade, razoável duração do processo e acesso à ordem jurídica justa. Os recursos classificam-se em recurso de natureza ordinária ou extraordinária, vejamos: “Súmula 126 do TST. Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, "b", da CLT) para reexame de fatos e provas.”; “Súmula 279 do STF. Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”. Importante saber que o recurso de revista é cabível apenas em dissídios individuais, o que significa dizer que não é apropriado em dissídios coletivos, sendo possível nas ações coletivas, como é o caso da ação civil pública. As hipóteses de cabimento no recurso de revista são: a) de decisão do TRT em recurso ordinário; e b) de decisão do TRT em agravo de petição. Não cabe recurso de revista em face de decisão do TRT em agravo de instrumento (Súmula 218 do TST). O recurso de revista somente será cabível quando: a) a questão for exclusivamente de direito; b) o recorrente estiver diante de uma das hipóteses específicas de cabimento de recurso de revista; e) a matéria estiver prequestionada; d) quando a causa oferecer transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social e jurídica ( art. 896-A, § 1°, CLT). As hipóteses específicas de cabimento do recurso de revista variam de acordo com o procedimento. Esclarece-se, desde logo, que os dissídios de alçada, sujeitos ao procedimento sumário, são de única instância. Da sentença proferida neste procedimento é cabível recurso apenas se houver violação à Constituição Federal. O STF e o TST entendem que nos dissídios de alçada é cabível o recurso ordinário e o recurso de revista para o TST, limitados a arguição de violação à Constituição, para somente então ser cabível recurso extraordinário para o STF, uma vez que a CLT prevê como hipótese de cabimento desses recursos a violação à Constituição. No procedimento sumaríssimo, o recurso de revista é oportuno quando o acórdão do TRT contrariar a Constituição Federal, súmula do TST, ou súmula vinculante do STF (art. 896, § 9º, da CLT). Não é hipótese de cabimento de recurso de revista neste procedimento a contrariedade à orientação jurisprudencial (Súmula 442 do TST). O recurso de revista na execução é admissível apenas se houver ofensa literal e direta à Constituição da República (art. 896, § 2. º, da CLT e Súmula 266 do TST). Entretanto, cabe recurso de revista por violação à lei federal, divergência jurisprudencial e ofensa à Constituição Federal (art. 896, § 10, da CLT) nas execuções fiscais e nas controvérsias da fase de execução que envolvam a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT). Não é servível ao conhecimento de recurso de revista aresto oriundo de mesmo Tribunal Regional do Trabalho, salvo se o recurso houver sido interposto anteriormente à vigência da Lei nº 9.756/98. No procedimento ordinário cabe, ainda, recurso de revista por divergência jurisprudencial na hipótese do art. 896, "b", da CLT, isto é, quando o acórdão recorrido der a este dispositivo de lei estadual, convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea "a" do art. 896 da CLT. Cumpre destacar quanto à divergência na interpretação de Lei Estadual, que somente poderá ocorrer no estado de São Paulo, único no qual existem dois TRTs (TRT da 2.ª e 5.ª Região), uma vez que eles podem interpretar a mesma lei de forma diferente. Saliente-se que os Tribunais Regionais deverão manter e dar publicidade as suas súmulas e teses jurídicas prevalecentes mediante banco de dados, organizando-as por questão jurídica decidida e divulgando-as, preferencialmente, na rede mundial de computadores (art. 6º, Ato 491, da Presidência do TST, referendado pelo Pleno do TST). O intuito é o de facilitar aos jurisdicionados a pesquisa sobre o entendimento predominante no Tribunal. O prequestionamento é pressuposto do recurso de revista, assim como dos demais recursos de natureza extraordinária. A matéria estará prequestionada quando houver sido tratada no acórdão impugnado (Súmula 297, I, do TST), ou melhor, o TST só conhecerá o recurso se houver manifestação explícita do TRT no acórdão sobre a discussão abordada no recurso de revista, inclusive quanto à matéria de ordem pública (OJ 62, SDI-I, TST). Contanto que o TRT não se pronuncie quanto à matéria impugnada, deverão ser opostos embargos de declaração com o objetivo de que se manifeste a respeito de tal matéria, sob pena de preclusão (Súmulas 297, II, e 184 do TST). Entretanto, se apesar de opostos embargos de declaração, o Tribunal não se manifestar em relação à matéria impugnada, será considerada prequestionada (Súmula 297 do TST). Assim, segundo o art. 896, §1º-A, I, CLT o recorrente deve indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista. O art. 896-A da CLT impõe como pressuposto de admissibilidade do recurso de revista a transcendência, regulamentando a matéria. O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. O juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela Presidência dos Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos intrínsecos e extrínsecos do apelo, não abrangendo o critério da transcendência das questões nele veiculadas (art. 896- A,§ 6°, CLT). Apenas o relator poderá realizar tal análise. Em face da decisão monocrática do relator que denegar seguimento ao recurso de revista por não demonstrar transcendência, cabe agravo para o colegiado (art. 896-A, § 2°, CLT). Interposto o agravo, o recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência, durante cinco minutos em sessão (art. 896-A, § 3°, CLT). Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tribunal (art. 896-A, § 4°, CLT). Em relação aos prazos, o recurso de revista é um dos recursos trabalhistas que obedecem ao prazo recursal uniforme de 8 dias, tanto para razões quanto para contrarrazões. O recurso de revista não é um recurso isento de preparo. Dessa forma, ao interpor o presente recurso, o recorrente deverá recolher as custas e o depósito recursal. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA(Embargos ao TST) Os embargos no TST tem dois momentos: 1º) antes da reforma oriunda da Lei nº 11.496/2007 – havia três espécies de embargos no TST, quais sejam: os embargos de divergência; os embargos infringentes; e os embargos de nulidade. 2º) após a reforma da Lei nº 11.496/2007 – os embargos de nulidade foram suprimidos do ordenamento processual trabalhista, de forma que subsistem apenas duas espécies de embargos no TST: os embargos de divergência; e os embargos infringentes. Os embargos ao TST por divergência ao TST serão julgados pela SDI, sendo cabíveis na hipótese de decisões de Turma do TST que contrariar: a) acórdão de outra Turma do TST; b) acórdão da SDI; c) súmula do TST; d) orientação jurisprudencial do TST; ou d) súmula vinculante do STF. A divergência apta a ensejar os embargos deve ser atual, não se considerando tal a ultrapassada por súmula do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (art. 894, § 2º, da CLT). Podemos citar como exemplo, que os embargos serão incabíveis apesar da divergência jurisprudencial, o caso em que o reclamante postula uma hora de intervalo intrajornada acrescida do adicional de 50% e reflexos, sustentando que este tem natureza salarial. Em defesa, a reclamada impugna o pedido de horas extras, bem como os reflexos e, quanto a este, argumenta que o pagamento da hora do intervalo suprimido no curso do contrato de trabalho acrescida de 50% tem natureza indenizatória, não gerando reflexos. Em sentença, o juiz defere o pedido principal e, entendendo que o intervalo tem natureza salarial, julga procedentes também os reflexos. A decisão é mantida em sede de recurso ordinário e de recurso de revista. O recurso de revista é julgado por uma das Turmas do TST. Com o intuito de recorrer desta decisão, a reclamada cogita em interpor os embargos ao TST por divergência, lembrando que são cabíveis da decisão de Turma do TST que contrariar acórdão de outra Turma ou da SDI. Apesar de encontrar decisão em sentido contrário de outra Turma do TST, defendendo a natureza indenizatória do intervalo, os embargos são incabíveis, pois a decisão recorrida, que sustenta a natureza salarial da verba deferida, está em consonância com a Súmula 437, III, do TST. O Ministro Relator denegará seguimento aos embargos: I - se a decisão recorrida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou com iterativa, notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, cumprindo-lhe indicá-la; II - nas hipóteses de intempestividade, deserção, irregularidade de representação ou de ausência de qualquer outro pressuposto extrínseco de admissibilidade. Da decisão denegatória dos embargos caberá agravo, no prazo de 8 (oito) dias. A natureza jurídica desse recurso é extraordinária, assim como o recurso de revista, o que significa dizer que a discussão travada será relacionada apenas a direito, isto é, aplicação da norma jurídica, não sendo possível ao recorrente a rediscussão de fatos e provas, nos termos da Súmula nº 126 do TST. Tendo em vista que o recurso de revista na execução é admissível somente quando houver ofensa à Constituição Federal (art. 896, § 2º, da CLT), da decisão da Turma do TST, proferida em recurso de revista na execução, serão admissíveis embargos ao TST, quando a decisão recorrida contrariar acórdão de outra Turma do TST ou da SDI, desde que diga respeito à interpretação da Constituição Federal, ou seja, a divergência hábil a ensejar o recurso de revista nesta fase processual condiciona-se à interpretação de dispositivo constitucional. A Lei nº 13.015/2014 incluiu mais uma hipótese de cabimento de recurso de revista no procedimento sumaríssimo, qual seja: confronto com súmula vinculante do STF. Observando o mesmo raciocínio, também serão admissíveis embargos ao TST quando demonstrada a divergência jurisprudencial entre Turmas do TST, fundada em interpretações diversas acerca de súmula vinculante. Note que os embargos ao TST por divergência tratam-se de recurso de natureza extraordinária e, como tal, exigem o prequestionamento, isto é, que a matéria recorrida tenha sido tratada no acórdão impugnado. No procedimento sumaríssimo, o necessário prequestionamento somente poderá ser alcançado quanto às matérias objeto do recurso de revista, quais sejam: a) violação à Constituição; b) contrariedade à súmula do TST; c) contrariedade à súmula vinculante do STF. Dessa forma, apenas nessas hipóteses caberão embargos ao TST no procedimento sumaríssimo. Algumas considerações importantes acerca do recurso: não cabem embargos de divergência se a controvérsia já estiver superada pela atual jurisprudência do TST, conforme disposição da Súmula nº 333 daquele tribunal, salvo se houver entendimento diverso do STF, nos termos da Súmula 401 daquele tribunal, haja vista que a última palavra sobre a interpretação de preceito constitucional é realizada por aquele órgão de cúpula do Poder Judiciário. A divergência será demonstrada conforme as disposições da Súmula nº 337 do TST, uma vez que esse recurso também é utilizado quando há divergência entre tribunais regionais do trabalho. Por fim, algumas diferenças entre recurso de revista e embargos de divergência: o objeto do recurso de revista consiste apenas em impugnar acórdão regional que contenha determinados vícios. Trata-se, portanto de recurso eminentemente técnico, cuja admissibilidade está subordinada ao atendimento de determinados pressuposto. Do que se vê, o recurso de revista não se destina a corrigir a má apreciação da prova produzida, ou a injustiça da decisão, mas tão somente, a interpretação correta da lei, pelos tribunais do trabalho. Já os embargos de divergência são admitidos sempre que houver divergência de decisões entre turmas do TST, entre turmas do TST e turmas da SDI, ou divergência de turma do TST e própria súmula do TST. Portanto, o momento processual para interposição do recurso de revista, é após proferido acórdão no TRT que viole lei federal, constituição ou dê interpretação divergente de julgados, já o momento processual para interposição de embargos de divergência é após o proferimento de acórdão do Recurso de Revista no TST, desde que haja divergência de turmas e para que seja julgado pela SDI, visando uniformizar a jurisprudência interna do TST. CORREIÇÃO PARCIAL (Reclamação correicional) A reclamação correicional, também chamada de correição parcial, é um procedimento administrativo regulamentado pelos Regimentos Internos dos Tribunais do Trabalho. No Processo do Trabalho, a correição parcial é mencionada no art. 709, II, da CLT. Em verdade, a reclamação correicional não é recurso, e sim um mero procedimento administrativo que visa sustar procedimentos do juiz que atentem contra a boa ordem processual vigente. A reclamação correicional deve preencher alguns requisitos, a saber: o ato deve ser atentatório à boa ordem processual; não deve haver recurso cabível contra este ato; deve ser demonstrado o prejuízo processual à parte recorrente do referido ato. Como exemplos de atos atentatórios à boa ordem processual passíveis de correição, podemos destacar o juiz que não julga o processo, estando este concluso para sentença há vários meses, ou mesmo a decisão do magistrado que ordena retirar dos autos uma contestação apresentada no prazo legal etc. A reclamação correicional é dirigida, em regra, ao corregedor do tribunal, sendo o prazo geralmente fixado pelos regimentos internos dos tribunais em cinco dias, contados da data da publicaçãodo ato ou despacho no órgão oficial ou da ciência inequívoca pela parte dos fatos relativos à impugnação. Em geral, a correição parcial é medida formulada no prazo de cinco dias pela parte interessada que se achar prejudicada por decisão judicial causadora de tumulto processual, da qual não haja recurso previsto em lei. A par da propalada inconstitucionalidade da medida por ausência de previsão legal, tem-se que o modo como vem sendo disciplinada a utilização da correição parcial pelos tribunais, acarreta desigualdade entre as partes, ferindo assim o princípio jurídico. A Consolidação das Leis do Trabalho prevê a correição parcial apenas a nível de Tribunal Superior do Trabalho, atribuindo competência ao Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho para decidir as reclamações (as quais não devem ser confundidas com as reclamações previstas nos arts. 274 a 280 do Regimento Interno desta Corte) contra os atos atentatórios da boa ordem processual praticados pelos Tribunais Regionais e seus Presidentes, quando inexistir recurso específico (CLT, art. 709, inc. II). Nem a Consolidação nem qualquer outra legislação esparsa institui a correição parcial no âmbito do processo trabalhista para as decisões dos Juízes Presidentes de Junta de Conciliação e Julgamento, nem para os atos desta. Contudo, a medida vem sendo ilegalmente disciplinada nos regimentos internos dos Tribunais Regionais do Trabalho, os quais não guardam uniformidade entre o procedimento e o fim. Um dos motivos para a proliferação da medida correicional das decisões interlocutórias (CLT, art. 893, § 1º, e Súmula n. 214/TST), quando ultrapassa os limites do âmbito administrativo para abranger questão processual. A medida tem sido também ilegalmente utilizada para prover questões disciplinares. Ressalte-se então que, ainda que na Justiça Comum a correição parcial possa funcionar como medida de âmbito administrativo e disciplinar, na Justiça do Trabalho há de se limitar apenas ao âmbito administrativo – embora assim ilegalmente não se venha utilizando -, posto que aquela de caráter disciplinar tipifica-se na representação, prevista nos artigos decidiu-se que os juízes, “não possuem capacitação para recorrer, em processo de reclamação correicional, ao fundamento de que os tribunais e juízes do trabalho são órgãos do Poder Judiciário da União. Caso a correição parcial possuísse caráter disciplinar, não haveria mero pedido de informações ao juiz, sendo-lhe facultada a defesa. Não seria também, em hipótese alguma, obstada a possibilidade de recurso ao juiz, ainda mais em se tratando de medida da qual possa lhe resultar alguma sanção. Em geral a correição parcial é medida cabível de pronunciamentos que importem inversão tumultuária de atos e fórmulas do procedimento, desde que sejam irrecorríveis. Em resumo, a finalidade desse instituto, em verdade, é a de corrigir atos ou omissões do juiz, que por abuso ou erro causam tumulto ou desordem no processo. Tem por escopo levar ao conhecimento do Tribunal Superior – no caso da Justiça do Trabalho, ao conhecimento do Juiz Corregedor -, a prática pelo juiz, de ato consistente em error in procedendo caracterizador inversão ou tumulto do procedimento processual, quando inexistir recurso previsto em lei. Vê-se que a correição parcial, ao lado das correições gerais periódicas, possui caráter administrativo/disciplinar, no processo civil, e administrativo, no processo do trabalho, destinando-se provocar a verificação pelo Tribunal, ou pela Corregedoria (caso da Justiça do Trabalho), da existência de erros de procedimentos do juiz, a fim de expedir-lhe instruções. Adstrita aos limites do controle administrativo/disciplinar, a correição parcial não se confunde com o controle processual sobre a atividade judicante. É de se notar, então, que a correição parcial não interfere diretamente no feito. Limita- se apenas a beneficiar as vítimas de erros ou abusos que provocam a inversão ou o tumulto da ordem processual, de forma a proporcionar a retomada de sua marcha à frente, através das orientações expedidas aos magistrados e, na Justiça Comum, eventualmente, nos casos mais sérios, de aplicação de sanções disciplinares. Como se vê, a correição parcial tem relação direta com a desordem processual. Isso implica dizer que refere-se a erros de procedimento, ou seja, diz respeito a erros que comprometem a forma dos atos processuais. A verificação de tais erros não ultrapassa os limites da estrutura externa da forma dos atos processuais, caracterizando-se pela desobediência à sequência imposta pela lei para a realização dos mesmos – procedimento. Embora a natureza jurídica da correição parcial seja efetivamente administrativo/disciplinar, não se há de negar que tem em alguns casos assumido um caráter de recurso, pelo desvirtuamento do instituto, onde através dela efetua-se controle processual. Na pratica, a Reclamação Correicional Trabalhista se caracteriza por ser um procedimento judicial que demanda uma pronta solução por parte do julgador, dada a gravidade do tumulto processual eventualmente oriundo do ato judicial praticado em uma ação trabalhista e, evidentemente, os possíveis prejuízos decorrentes do referido tumulto. Ressalte-se que o tumulto processual configura-se como uma situação atípica, em termos processuais, e, portanto, é da parte litigante que invoca o que ocorre apenas excepcionalmente o ônus de demonstrar. O autor da Reclamação Correicional Trabalhista deve provar de maneira inequívoca o tumulto processual e, por via de consequência, o prejuízo advindo do ato judicial atacado na Reclamação Correicional Trabalhista, devendo juntar à Exordial as provas de suas alegações. Caso a parte autora não tenha em seu poder as provas do tumulto processual deverá indicar claramente na petição inicial quem as possui e, por via de consequência, requerer, de maneira expressa, a sua apresentação ao Juiz-Corregedor. Não existe norma legal celetária ou na legislação laboral extravagante que vede ao Juiz-Corregedor solicitar, em diligência, os autos da Reclamatória Trabalhista para aferir o contexto probatório da Reclamação Correicional Trabalhista. Em outras palavras, o Juiz-Corregedor é facultado, desde que haja pedido expresso do autor da Reclamação Correicional Trabalhista na exordial da aludida ação, requisitar os autos da ação trabalhista para colher prova documental não acessível ao autor da Reclamação Correicional Trabalhista. Enquanto os autos da ação trabalhista estiverem com o Juiz-Corregedor a Reclamatória Trabalhista ficará com o seu andamento sobrestado, salvo, é claro, a apreciação e julgamento de medidas urgentes, as quais serão de competência do juízo da causa. Por fim, um pouco de conceito histórico: A supplicatio romana, que chegou a Portugal sob a denominação de sopricações, querimas ou querimônias, e que teria dado origem ao agravo de ordenação não guardada previsto nas Ordenações Filipinas, transmudou-se para o Brasil de outrora sob o nome de agravo por dano irreparável, trazido pelo Regulamento nº 737, de 25 de novembro de 1850, que aprovou o Código de Processo Comercial, remédio que cabia quando verificada a existência de um “dano irreparável às partes, causado pelos juízes através de despachos interlocutórios”. A medida surgiu inicialmente na época das codificações estaduais do processo, em nosso país, algumas vezes sob o nome de reclamação, cuja prática se enraizou nos regimentos internos dos tribunais e nas leis de organização judiciária, assim sobrevivendo até hoje. Devido à sua origem, a correição parcial, recurso judicial sui generis, que visa a corrigir, emendar, reformando ou cassando o ato impugnado,seria, portanto, um instituto “clandestino”, como diz Moniz de Aragão, expressão que, segundo Manoel Antônio Teixeira Filho, “bem se presta para identificar a forma pela qual a correição parcial ingressou em nosso meio jurídico”. Outros preferem chamá-la de “recurso censório”, concebido para qualificar a índole ditatorial da medida, uma vez que há razões históricas a justificar essa afirmação, pois outrora a competência para realizar correições era privativa do monarca, mediante Cartas de Justiça, cujo fato – segundo supomos – teria levado o eminente Pontes de Miranda a identificá-la como um “sinal de realismo ditatorial”, como lembra Teixeira Filho (in "Sistema de Recursos Trabalhistas", LTr, 6ª edição, 1992, pág. 394). Na Justiça do Trabalho, entretanto, a sua previsão não decorre apenas de norma estabelecida nos regimentos internos dos Tribunais Trabalhistas (TST e TRTs). O instituto é expressamente previsto na legislação. Entendeu-se, portanto, que o uso da correição parcial não ofende aos princípios constitucionais do contraditório, do devido processo legal e da ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes. Muito pelo contrário, o remédio ainda atende ao “direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade em abuso de poder”, assegurado na Lei Fundamental (art. 5º, XXXIV, alínea "a", da CF/88). Antes do tudo, cumpre esclarecer que a função correicional, autêntico instrumento de controle interno, no Judiciário é expressamente prevista no art. 96, inciso I, alínea "b", da Constituição Federal de 1988. Este dispositivo constitucional estabelece que compete privativamente aos tribunais organizar suas secretarias e serviços auxiliares e dos juízes que lhes forem vinculados, velando pelo exercido da atividade correicional respectiva. Assim, toda a atividade correicional deve ser organizada, privativamente, pelos Tribunais, tal como estabelece o texto constitucional. Aí está incluída a atividade correicional de caráter permanente, ordinária e parcial, que são as três espécies de correição exercidas pela Corregedoria. No exercício da correição permanente, o Corregedor Regional Trabalhista geralmente edita instruções ou provimentos para o regular funcionamento da Justiça, mantendo sob sua constante vigilância ou inspeção a atuação procedimental dos juízes presidentes de Juntas de Conciliação e Julgamento, juízos Substitutos, juízes Classistas e todos os serventuários da Justiça do Trabalho da Região. Ao exercer a correição ordinária o Corregedor Regional visita todos os órgãos do 1º grau de jurisdição, pelo menos uma vez por ano, para verificar a regularidade do seu desempenho. E ainda exerce a correição parcial, sempre que necessário (art. 682, XI, da CLT), ex-officio ou quando provocado por algum interessado contra ato judicial que tenha violado norma processual, ou seja, se o juiz tiver cometido errores in procedendo, nos casos em que não houver recurso legal, situações que a doutrina caracteriza como “vícios de atividade”, para distinguir dos “vícios de juízo” (Chiovenda). Os primeiros podem ser impugnados por meio de reclamação correicional; os últimos, posto que errores in indicando, só por via de recurso. Assim, como instrumento de controle interno, a atividade correicional (permanente, ordinária e parcial) deve mesmo ser prevista nos regimentos internos dos Tribunais. Por fim, conclui-se que a correição parcial não prejudica a concentração e a celeridade dos processos e, a reclamação correicional não suspende o curso do processo trabalhista. Ao contrário, a reclamação correicional pode ser proposta quando, por exemplo, não se cumpre tais princípios, notadamente o da celeridade, tão caro ao processo do trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, Leone. Manual de processo do trabalho / Leone Pereira. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva, 2018. SARAIVA, Renato. Processo do trabalho / Renato Saraiva, Aryanna Unhares. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Salvador: Juspodivm, 2018.
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