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Apostila Jurídica

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Introdução ao estudo da Psicologia: Psicologia científica e senso comum. 
Objetos de estudo da Psicologia. Fenômenos psicológicos. (AULA 1) 
Segundo VIEGAS (2007), são quatro os tipos do conhecimento: 
Ideológico ou senso comum => conhecimento passado de geração em geração. 
Religioso => origem do homem, seus mistérios e princípios morais. 
Filosófico => origem e o significado da existência humana. 
Científico => Conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de 
estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Deve ser obtido de maneira 
programática, sistemática e controlado, para que se permita a verificação de sua validade. 
Psicologia do senso comum => se adquire informalmente - não proporciona diretrizes para a 
avaliação de questões complexas. As pessoas geralmente confiam muito na intuição, na 
lembrança de experiências pessoais ou nas palavras de alguma autoridade. 
Psicologia: origens e objetos 
Origem => Surgiu enquanto ciência a partir do 1º laboratório criado por Wilhelm Wundt. 
Objetos => comportamento e processos mentais. 
1. Comportamento => toda forma de resposta ou atividade observável realizada por um ser vivo. 
2. Processos mentais => experiências subjetivas – sensações, percepções, sonhos, 
pensamentos, crenças, sentimentos. 
“Ciências Psicológicas” 
A Psicologia possui diferentes objetos de pesquisa. 
Escola behaviorista => estímulos ambientais, os experimentos. Dedica-se ao estudo das 
interações entre o individuo e o ambiente, entre as ações do individuo (suas respostas) e o 
ambiente (as estimulações). S ―> R 
Escola gestaltica => os mecanismos da percepção e sua influência sobre o comportamento 
humano; Para os gestaltistas, entre o estimulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo, 
encontra-se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados 
importantes para a compreensão do comportamento humano. 
Escola psicanalítica => comportamento anormal e suas injunções inconscientes. 
Por fim a “Psicologia Jurídica” => seu objeto de estudo localiza-se nas relações e interações 
entre o indivíduo, o Direito e o Judiciário. (psicossocial) 
Psicologia: origens e objetos 
A história da psicologia enquanto ciência inicia-se em 1879 quando na Universidade de Leipzig, 
Alemanha, o médico, filósofo e psicólogo alemão, Wilhelm Wundt, funda o primeiro grande 
laboratório de pesquisa em psicologia. Antes de Wundt a psicologia era tida, simplesmente, 
como um ramo da filosofia. 
Em sentido lato, a psicologia teria por objetos de pesquisa o “comportamento” e os 
“processos mentais” de todos os seres vivos. (DAVIDOFF, 2001; MORRIS; MAISTO, 2004; 
MYERS, 1999) Define-se por comportamento toda forma de “[...] resposta ou atividade 
observável realizada por um ser vivo.” (WEITEN, 2002, p. 520) Por seu turno, processos 
i
mentais aludiriam às “[...] experiências subjetivas que inferimos através do comportamento – 
sensações, percepções, sonhos, pensamentos, crenças, sentimentos.” (MYERS, 1999, p.2) 
“Ciências Psicológicas” 
A partir de uma reflexão epistemológica mais precisa, verifica-se que a Psicologia possuiria, de 
fato, diferentes objetos de pesquisa e, por conta disto, diferentes métodos e técnicas de 
pesquisa. Nas palavras de Japiassu: “Por isso, talvez fosse preferível falarmos, ao invés de 
“Psicologia”, em “Ciências Psicológicas.” (1983 p.24-6)” Por exemplo, no que concerne aos 
processos mentais podemos citar os mecanismos da percepção e sua influência sobre o 
ii
comportamento humano (objeto da escola gestaltica); em relação ao comportamento anormal 
iii
e suas injunções inconscientes, as pesquisas da escola psicanalítica. No que pese o 
comportamento e suas relações com os estímulos ambientais, os experimentos da escola 
iv
behaviorista e assim sucessivamente. 
Por fim, recentemente na história da Psicologia no Brasil institucionalizou-se, a partir das 
v
possibilidades (e, concretamente, das demandas) interdisciplinares entre o Direito, o 
Judiciário Brasileiro e a Psicologia, um novo e vasto campo de pesquisa; uma nova prática 
para o psicólogo: a “Psicologia Jurídica”. Seu objeto (que, a nosso ver, carece ser precisado) 
localiza-se nas relações e interações entre o indivíduo, o Direito e o Judiciário. Na busca pelo 
ideal de Justiça e pela promoção dos direitos humanos, o psicólogo surge, portanto, como um 
ator importante, contribuindo, a partir do seu saber e da sua prática, para a afirmação da 
dignidade humana. 
Psicologia científica e psicologia do senso comum 
Todos nós usamos o que poderia ser chamado de psicologia de senso comum em nosso 
cotidiano. Observamos e tentamos explicar o nosso próprio comportamento e o dos outros. 
Tentamos predizer quem fará o que, quando e de que maneira. E muitas vezes sustentamos 
opiniões sobre como adquirir controle sobre a vida (Ex: o melhor método para criar filhos, fazer 
amigos, impressionar as pessoas e dominar a cólera). Entretanto, uma psicologia construída a 
partir de observações casuais tem algumas fraquezas críticas. 
O tipo de psicologia do senso comum que se adquire informalmente leva a um corpo de 
conhecimentos inexatos por diversas razões. O senso comum não proporciona diretrizes 
sadias para a avaliação de questões complexas. As pessoas geralmente confiam muito na 
intuição, na lembrança de experiências pessoais diversas ou nas palavras de alguma 
autoridade (como um professor, um amigo, uma celebridade da TV). 
A ciência proporciona diretrizes lógicas para avaliar a evidência e técnicas bem raciocinadas 
para verificar seus princípios. Em consequência, os psicólogos geralmente confiam no método 
científico para as informações sobre o comportamento e os processos mentais. 
Perseguem objetivos científicos, tais como a descrição e a explicação. Usamprocedimentos 
científicos, inclusive observação e experimentação sistemática, para reunir dados que podem 
ser observados publicamente. Tentam obedecer aos princípios científicos. Esforçam-se, por 
exemplo, por escudar seu trabalho contra suas distorções pessoais e conservar-se de espírito 
aberto. 
Ainda assim, os cientistas do comportamento não estão de acordo quanto aos pressupostos 
fundamentais relacionados aos objetivos, ao objeto primeiro e aos métodos ideais. Como 
outras ciências, a psicologia está longe de ser completa. Existem muitos fenômenos 
importantes que não são ainda compreendidos. As pessoa não devem esperar uma 
abordagem única do objeto da psicologia ou respostas para todos os seus problemas. 
(AULA 2) 
PERSONALIDADE: FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO. DESENVOLVIMENTO 
PSICOSSOCIAL 
PERSONALIDADE => origina-se do latim “persona”. 
SIGMUND FREUD 
Estrutura e Dinâmica da Personalidade - (De acordo com a teoria psicanalitica) 
Id – O id é a fonte da energia psíquica (libido). É de origem orgânica e hereditária. Apresenta 
a forma de instintos que impulsionam o organismo. Está relacionado a todos os impulsos não 
civilizados, de tipo animal, que o indivíduo experimenta. . Não tolera tensão. Seu o nível de 
tensão é elevado, age no sentido de descarregá-la. É regido pelo princípio do prazer. Sua 
função e procurar o prazer e evitar o sofrimento. Localiza-se na zona inconsciente da mente. O 
Id não conhece a realidade objetiva, a "lei" ética e social, que nos prende perante a 
determinadas situações devido as conclusões da interpretação alheia. Por isso surge o Ego. 
Ego – Significa “eu” em latim. E responsável pelo contato do psiquismo com o mundo objetivo 
da realidade. O Ego atua de acordo com o princípio da realidade. Estabelece o equilíbrio entre 
as reinvindicações do Id e as exigências do superego com as do mundo externo. É o 
componente psicológico da personalidade. As funções básicas do Ego são: a percepção, a 
memória, os sentimentos e os pensamentos. Localiza-se na zona consciente da mente. 
Superego – Atua como censor do Ego. É o representante interno das normas e valores sociais 
que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigos e recompensas impostos à 
criança.
São nossos conceitos do que é certo e do que é errado. O Superego nos controla e 
nos pune (através do remorso, do sentimento de culpa) quando fazemos algo errado, e 
também nos recompensa (sentimos satisfação, orgulho) quando fazemos algo meritório. O 
Superego procura inibir os impulsos do Id, uma vez que este não conhece a moralidade. É o 
componente social da personalidade.As principais funções do Superego são: inibir os impulsos 
do id (principalmente os de natureza agressiva e sexual) e lutar pela perfeição. Localiza-se 
consciente e pré-consciente. 
1. Pelo Id o empregado deixaria de comparecer ao trabalho num belo dia ensolarado, dedicando-
se a uma aprazível atividade de lazer: uma pescaria, um cinema, etc. 
2. O Ego aconselharia prudência e buscaria uma oportunidade adequada para essas atividades. 
3. O Superego diria ser inaceitável faltar com um compromisso assumido, por exemplo, com o 
supervisor ou colegas de trabalho. 
Os três sistemas da personalidade não devem ser considerados como fatores independentes 
que governam a personalidade. Cada um deles têm suas funções próprias, seus princípios, 
seus dinamismos, mas atuam um sobre o outro de forma tão estreita que é impossível separar 
os seus efeitos. 
Níveis de Consciência da Personalidade 
Para Freud, os três níveis de consciência são: consciente, pré-consciente e inconsciente. 
Consciente – inclui tudo aquilo de que estamos cientes num determinado momento. Recebe 
ao mesmo tempo informações do mundo exterior e do mundo interior. 
Pré-consciente – (ou sub-consciente) – se constitui nas memórias que podem se tornar 
acessíveis a qualquer momento, como por exemplo, o que você fez ontem, o teorema de 
Pitágoras, o seu endereço anterior, etc. É uma espécie de “depósito” de lembranças a 
disposição, quando necessárias. 
Inconsciente – estão os elementos instintivos e material reprimido, inacessíveis à consciência 
e que podem vir à tona num sonho, num ato falho ou pelo método da associação livre. Os 
processos mentais inconsciente desempenham papel importante no funcionamento 
psicológico, na saúde mental e na determinação do comportamento. 
O que seria então Personalidade? 
A personalidade é uma estrutura interna, formada por diversos fatores em interação. Não se 
reduz a um traço apenas, como a autodeterminação ou um valor moral. Pode ser muito ou 
pouco valorizada. Não importa. Uma pessoa mesmo sem valores, mal formada, com falhas 
morais ou limitações psicológicas, não deixa de ter personalidade porque tem uma estrutura 
interna, embora defeituosa. 
Também, a personalidade não é a simples soma ou justaposição de elementos, mas um todo 
organizado e individual, produto de fatores biopsicossociais. 
1. Nos fatores biológicos estão: o sistema glandular e o sistema nervoso. 
2. Entre os fatores psicológicos estão: o grau e as características de inteligência, as emoções, 
os sentimentos, as experiências, os complexos, os condicionamentos, a cultura, a instrução, os 
valores e vivências humanas. 
3. Nos grupos sociais: como a família,a escola, a igreja, o clube, vizinhança, processa-se a 
interação dos fatores sociais. 
Concluindo, a personalidade seria um conjunto de características que diferenciam os 
indivíduos. 
PSICOSE 
Psicose é um termo psiquiátrico genérico que se refere a um estado mental no qual existe uma 
"perda de contacto com a realidade". Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer, irá 
variar de caso a caso, alucinações ou delírios, desorganização psíquica que inclua pensamento 
desorganizado e/ou paranóide, acentuada inquietude psicomotora, sensações de angústia 
intensa e opressão, e insônia severa. Tal é frequentemente acompanhado por uma falta de 
"crítica" ou de "insight" que se traduz numa incapacidade de reconhecer o carácter estranho ou 
bizarro do comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades 
de interacção social e em cumprir normalmente as atividades de vida diária. 
Como tal, a psicose pode ser causada por predisposição genética, fatores exógenos orgânicos 
mas desencadeados por fatores ambientais, psicossociais, com acentuadas falhas no 
desempenho de papéis, na comunicação, no autocontrole, no comportamento da afetividade, 
na percepção sensorial, na memória, no raciocínio, no pensamento e linguagem. Há perda do 
senso da realidade e da capacidade de testá-la e, em casos extremos, do autoconhecimento, 
deixando opaciente de cuidar-se no aspectos mais triviais, como a alimentação e a higiene 
pessoal. 
Na psicanálise, a psicose causou dificuldades teóricas para Freud, mas não para Lacan. Se o 
primeiro demonstrou-se hesitante em enquadrá-la teoricamente, concentrando-se na neurose, 
Lacan, tomando-a constantemente em suas conferências, associou-a à forclusão do nome-do-
pai.Conceito forjado por Jacques Lacan para designar um mecanismo específico da psicose, 
através do qual se produz a rejeição de um significante fundamental para fora do universo 
simbólico do sujeito. Quando essa rejeição se produz, o significante é foracluído. Não é 
integrado no inconsciente, como no recalque, e retorna sob forma alucinatória no real do 
sujeito. 
NEUROSE 
O termo neurose foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1769 para indicar 
"desordens de sentidos e movimento" causadas por "efeitos gerais do sistema nervoso". Na 
psicologia moderna, é sinônimo de psiconeurose oudistúrbio neurótico e se refere a 
qualquer desordem mental que, embora cause tensão, não interfere com o pensamento 
racional ou com a capacidade funcional da pessoa. Essa é uma diferença importante em 
relação àpsicose, desordem mais severa. 
A neurose, na teoria psicanalítica, é uma estratégia ineficaz para lidar com sucesso com algo, o 
que Sigmund Freudpropôs ser causado por emoções de uma experiência passada causando 
um forte sentimento que dificulta reação ou interferindo na experiência presente. Por exemplo: 
alguém que foi atacado por um cachorro quando criança pode terfobia ou um medo intenso de 
cachorros. Porém, ele reconheceu que algumas fobias são simbólicas e expressam um medo 
reprimido. 
Há muitas formas específicas diferentes de neurose: piromania, transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC), ansiedade,histeria (na qual a ansiedade pode ser descarregada como um 
sintoma físico), e uma variedade sem fim de fobias. 
Todas as pessoas têm alguns sintomas neuróticos, freqüentemente manifestados nos 
mecanismos de defesa do egoque as ajudam a lidar com a ansiedade. Mecanismos de defesa 
que resultam em dificuldades para viver são chamados "neuroses" e são tratados 
pela psicanálise, psicoterapia/aconselhamento, ou outras técnicas psiquiátricas. 
PERVERSÃO 
Perversão é um termo usado para designar o desvio, por parte de um indivíduo ou grupo, de 
qualquer doscomportamentos humanos considerados normais e/ou ortodoxos para um 
determinado grupo social. Os conceitos denormalidade e anormalidade, no entanto, variam no 
tempo e no espaço, em função de várias circunstâncias. 
A perversão distingue-se da neurose e da psicose como modo de funcionamento e 
organização defensiva do aparelho psíquico. O termo é também freqüentemente utilizado com 
o sentido específico de perversão sexual, ou desvio sexual. 
*Alucinação é a percepçãoreal de um objeto que não existe, ou seja, são percepções sem 
um estímuloexterno. Tudo que pode ser percebido pelos 5 sentidos (audição, visão, tato, olfato 
e gustação) pode também ser alucinado. 
* Segundo Kraepelin, "Delírios são idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à 
correção por meio do argumento". Bleuler, por sua vez, dizia que " Idéias Delirantes são 
representações inexatas que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por 
uma necessidade interior. 
Exemplo: Um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de 
quatro dedos da mão direita começou apresentar uma expressiva inadequação afetiva (ao 
invés de aborrecido, mostrava-se feliz) e com um delírio no qual julgava-se Deus, cheio de 
poderes, auto suficiente
e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele 
duvidavam. Resumidamente, está claro que tal ideação emancipada da realidade era por 
demais compreensível: tratava-se de um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em 
COMPENSAÇÃO à mutilação e deficiência o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de 
uma Idéia Deliróide (ou um Delírio Secundário), o qual habitualmente pode fazer parte de numa 
Reação Psicótica Aguda. 
(AULA 3) 
GÊNERO 
É a construção cultural coletiva dos atributos da masculinidade e feminilidade. Esse conceito foi 
proposto para distinguir-se do conceito de sexo, que define as características biológicas de 
cada indivíduo. 
Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que chamamos 
de socialização de gênero,baseado nas expectativas que a cultura tem em relação a cada 
sexo. Dessa forma, a identidade sexual é algo construído, que transcende o biológico. 
O sistema de gênero ordena a vida nas sociedades contemporâneas a partir da linguagem, dos 
símbolos, das instituições e hierarquias da organização social, da representação política e do 
poder. Com base na interação desses elementos e de suas formas de expressão, distinguem-
se os papéis do homem e da mulher na família, na divisão do trabalho, na oferta de bens e 
serviços e até na instituição e aplicação das normas legais. 
A estrutura de gêneros delimita também o poder entre os sexos. Mesmo quando a norma legal 
é de igualdade, na vida cotidiana encontramos a desigualdade e a iniqüidade na distribuição do 
poder e da riqueza entre homens e mulheres. 
Durante séculos, as mulheres foram educadas para submeterem-se aos homens. A 
"domesticação" da mulher foi conseqüência da necessidade dos homens assegurarem a posse 
de sua descendência. O fato de que a maternidade é certa e a paternidade apenas presumível 
(ou incerta) sempre foi um fantasma para a organização da cultura patriarcal. O controle da 
sexualidade e da vida reprodutiva da mulher garante a imposição das regras de descendência 
e patrimônio e, posteriormente, um sistema rígido de divisão sexual do trabalho. Assim, a 
mulher passa a ser tutelada por algum homem, seja pai, tio ou marido. 
Este sistema de divisão sexual do trabalho, cuja finalidade primeira foi a de regulamentar a 
reprodução e organizar as famílias, acabou por dar aos homens e mulheres uma carga 
simbólica de atributos, gerando uma correlação entre sexoe personalidade que foi interpretada 
como característica inerente aos sexos. Atribuiu-se à natureza de homens e mulheres aquilo 
que era da cultura. Pensar que a mulher é frágil e dependente do homem ou que o homem é o 
chefe do grupo familiar pode levar as pessoas a concluírem que é natural que os homens 
tenham mais poderes que as mulheres e os meninos mais poderes que as meninas. 
Este tipo de pensamento sempre justificou o autoritarismo masculino, interpretando a violência 
do homem contra a mulher como algo natural. Isso impregnou de tal forma nossa cultura que, 
assim como muitos homens não assumem que estão sendo violentos, muitas mulheres 
também não reconhecem a violência que estão sofrendo. 
Sexo e gênero 
1. sexo e gênero não são sinónimos. 
1. Sexo => diz respeito às características fisiológicas relativas à procriação, à reprodução 
biológica - diferenças sexuais são físicas. 
1. Gênero => seria determinado pelo processo de socialização e outros aspectos da vida em 
sociedade e decorrentes da cultura, que abrange homens e mulheres desde o nascimento e ao 
longo de toda a vida - diferenças de género são socialmente construídas. 
1. Gênero => conjunto de arranjos através dos quais a sociedade transforma a biologia sexual em 
produtos da atividade humana e nos quais essas necessidades transformadas são satisfeitas. 
Este sistema incluiria vários componentes, entre outros adivisão sexual do trabalho e 
definições sociais para os géneros e os mundos sociaisque estes conformam. 
A questão da hierarquia de gênero 
1. O patriarcado é uma forma de hierarquia, em que os homens detêm o poder e as mulheres são 
subordinadas. 
1. Numa sociedade patriarcal, a autoridade social efetiva sobre as mulheres é exercida através 
dos papéis de pai e de marido. Sob as condições patriarcais, as mulheres às vezes exercem 
autoridade através do papel de mãe em oposição aos outros papéis familiares, tais como 
esposa, filha, irmã, ou tia. 
1. O poder social atualmente é identificado com atributos considerados como masculinos. 
Pessoas do sexo masculino ou feminino podem desempenhar papéis, através dos quais o 
poder pode ser exercitado, mas eles permanecem como papéis masculinos. 
1. A posição de gênero é um dos eixos essenciais para a manutenção do poder na hierarquia 
social, que é essencialmente masculina no seu topo e tem estratégias de fragmentação (por 
classes, por idades, por grupos ou culturas minoritárias). Assim, essa hierarquia nos leva a 
viver rivalidades e lutas entre pessoas jovens e idosas, pobres e ricas, negras e brancas, 
mulheres e homens. Essas relações antagónicas estruturam a dependência e a submissão. 
O que é subordinação e como se expressa? 
1. Subordinação pode ser definida como uma relativa falta de poder. Em termos de autoridade 
social, um grupo subordinado tem pouco ou nenhum controle sobre a tomada de decisões que 
afetam o futuro daquele grupo. 
1. Podemos falar em subordinação de gênero quando as mulheres não estão no controle das 
instituições que determinam as políticas que afetam as mulheres, tais como os direitos repro-
dutivos ou a paridade nas práticas de emprego. Discriminação nos salários e nas promoções 
são exemplos da subordinação das mulheres na nossa sociedade. 
AULA 4 – ESTUDO PSICOSSOCIAL DA FAMÍLIA 
O Direito de Família até 1988. 
1. Á época do início da vigência do Código Civil (1916). 
1. Família somente a constituída pelo casamento. 
1. Gerador de vínculo indissolúvel entre os cônjuges. 
1934 => Transformou-se em norma constitucional, princípio mantido na Carta de 1937e nas 
Constituições que se seguiram (1946, 1967, 1969). 
1. Até 1934 apenas o casamento civil era reconhecido. 
1. A mulher => relativamente incapaz, passando a ser assistida pelo marido nos atos da vida 
civil. 
Ao marido competia: 
1. A chefia da sociedade conjugal; 
1. Administrar o patrimônio familiar. 
2. Autorizar a profissão da mulher. 
1. As relações sem casamento eram moral, social e civilmente reprovadas. 
1. Os filhos eram classificados e conseqüentemente discriminados em função da situação jurídica 
dos pais. 
1. Legítimos =>concebidos na constância do casamento e os legalmente presumidos. 
1. Ilegítimos => os que não procediam de justas núpcias, aqueles que não tinham sua filiação 
assegurada pela lei. 
Distinguiam-se os ilegítimos em: 
1 - Naturais => os que nasciam de homem e mulher entre os quais não havia impedimento 
matrimonial. 
2 - Espúrios => aqueles que descendiam de pessoas impedidas de casar por parentesco, 
afinidade ou casamento subsistente. 
1. Adulterinos. 
2. Incestuosos (até 1989 não podiam ser reconhecidos). 
Em 1941 =>Lei de Proteção da Família - os filhos adulterinos e incestuosos continuavam 
excluídos da proteção. 
Três grandes alterações legislativas marcaram o meado do século: 
1 - A admissão do reconhecimento dos filhos adulterinos; 
2 - A emancipação da mulher casada; 
3 - A dissolubilidade do vínculo matrimonial. 
Primeira alteração: 
1949 => permitiu-se o reconhecimento do filho havido fora do matrimônio desde que dissolvida 
a sociedade conjugal (exigência que se manteve até 1977). 
O segundo grande marco da evolução do Direito de Família: 
1962 => Estatuto da Mulher Casada que promoveu a emancipação da mulher e a colocou na 
posição de colaboradorado marido. 
1. Deixava de ser relativamente incapaz. 
1. Passando a ter tratamento igualitário para a prática dos atos da vida civil (isonomia entre 
marido e mulher que viria a se consolidar plenamente em 1988). 
A terceira grande alteração legislativa: 
1977 => Lei do Divórcio – indissolubilidade do casamento. 
O Direito
de Família após 1988. 
1. Família não mais se origina apenas do casamento. 
1. Duas novas entidades familiares passaram a ser reconhecidas: 
1 - A constituída pela união estável; 
2- A formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 
1. A dissolução do casamento foi facilitada, diminuindo-se o prazo para um ano, se precedida de 
separação judicial, e para dois anos no caso de separação de fato. 
Quanto aos filhos: 
1. Garantidos foram aos filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, iguais 
direitos e qualificações, proibidas qualquer designações discriminatórias. 
1. Dentre os membros da família ganharam tratamento próprio à criança e oadolescente, sendo 
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar-lhes, com absoluta prioridade, os direitos 
especificamente enumerados na Constituição Federal. 
O Novo Papel dos Integrantes das Entidades Familiares. 
1. A instituição familiar, idealizada pelo legislador de 1916, cede lugar a seus integrantes, 
igualados em direitos e obrigações. 
1. A comunidade familiar, haja ou não casamento, deixou de ser um ente abstrato, adquirindo 
concretude no afeto e na solidariedade que une seus membros. 
1. O afeto => elemento identificador das entidades familiares levando ao surgimento da família 
eudemonista. 
1. A preservação da liberdade de escolha e o direito de assumir os próprios desejos geraram a 
possibilidade de transitar de uma estrutura de vida para outra que pareça mais atrativa e 
gratificante. 
1. A proteção assegurada histórica e unicamente ao casamento passou a ser concedida à família. 
A Constituição Federal de 1988: 
1. Além do casamento foram reconhecidas outras entidades familiares, ainda que elencadas 
somente a união estável entre um homem e uma mulher e a comunidade dos pais com seus 
descendentes. 
Segundo Paulo Luiz Lobo: 
1. Norma de inclusão - o que não permite excluir qualquer entidade que preencha os requisitos 
daafetividade,estabilidade e ostensividade. 
1. Uniões homoafetivas => vêm sendo reconhecidas pela jurisprudência como entidades 
familiares. 
1. Não só a família, mas também a filiação foi alvo de profunda transformação. 
1. No confronto entre a verdade biológica e a realidade vivencial, a jurisprudência passou a 
atentar ao melhor interesse de quem era disputado por mais de uma pessoa. 
1. O prestígio à afetividade fez surgir uma nova figura jurídica, a filiação socioafetiva, que 
acabou se sobrepondo à realidade biológica. 
1. A moderna doutrina não mais define o vínculo de parentesco em função da identidade 
genética. A valiosa interação do direito com as ciências psicossociais ultrapassou os limites do 
direito normatizado e permitiu a investigação do justo buscando mais a realidade psíquica do 
que a verdade eleita pela lei. 
1. A definição da paternidade está condicionada à identificação da posse do estado de filho, 
reconhecida como a relação afetiva, íntima e duradoura, em que uma criança é tratada como 
filho, por quem cumpre todos os deveres inerentes ao poder familiar: cria, ama, educa e 
protege. 
Processo Grupal (AULA 5) 
1. A nossa vida cotidiana é demarcada pela vida em grupo => As pessoas precisam combinar 
algumas regras para viverem juntas. 
EX: Se estiver num ponto de ônibus às sete horas da manhã, eu preciso ter alguma certeza de 
que o transporte aguardado passará por ali mais ou menos neste horário. Alguém combinou 
isso com o motorista. Ao chegar à escola, encontro colegas que também têm aulas no mesmo 
horário. 
1. A esse tipo de regularidade normalizada pela vida em grupo, chamamos 
de institucionalização. 
↓ 
Regularidade comportamental normatizada pela vida em grupo. 
O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO 
1. Berger e Luckmann => começa com o estabelecimento de regularidades comportamentais. 
2. As pessoas vão, aos poucos, descobrindo a forma mais rápida, simples e econômica de 
desempenhar as tarefas do cotidiano. 
TAREFAS 
↓ 
HÁBITOS => se estabelecem quando as tarefas repetem-se muitas vezes. 
↓ 
TRADIÇÃO => se impõe porque é uma herança dos antepassados. 
↓ 
INSTITUCIONALIZAÇÃO => quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde 
a referência de origem (o grupo de antepassados), dizemos, então, que essa regra social foi 
institucionalizada. 
INSTITUIÇÕES, ORGANIZAÇÕES E GRUPOS. 
Instituição => é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano como estatuto de verdade, 
que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas, em geral. 
1. Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização. 
Organizações => representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da 
sociedade. 
Ex: um Ministério, como, por exemplo, o Ministério da Saúde; uma Igreja, como a Católica; 
uma grande empresa, como a Volkswagen do Brasil. 
1. Portanto, a organização é o pólo prático das instituições. 
1. O elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade é o grupo — o lugar 
onde a instituição se realiza. 
1. Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras (portanto, um campo abstrato), e se 
a organização é a forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, 
por sua vez, realiza as regras e promove os valores. 
1. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. E 
também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade — 
ora controlado, submetido de forma acrítica a essas regras e valores, ora sujeito da 
transformação, da rebeldia, da produção do novo. 
O que se entende por "grupo"? 
Olmsted (1970, p. 12) => entende grupo como "uma pluralidade de indivíduos que estão em 
contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que estão conscientes de que 
têm algo significativamente importante em comum". 
1. Pode-se definir o grupo como um todo dinâmico (o que significa dizer que ele é mais que a 
simples soma de seus membros), e que a mudança no estado de qualquer subparte modifica o 
estado do grupo como um todo. 
1. O grupo se caracteriza pela reunião de um número de pessoas (que pode variar bastante) com 
um determinado objetivo, compartilhado por todos os seus membros, que podem desempenhar 
diferentes papéis para a execução desse objetivo. 
1. A coesão é a forma encontrada pelos grupos para que seus membros sigam as regras 
estabelecidas. 
↓ 
Esta "certeza" da fidelidade dos membros é o que chamamos de coesão grupal. 
Tipos de grupo 
1. O grupo primário se caracteriza pela presença de laços afetivos íntimos e pessoais entre seus 
membros, pela espontaneidade no comportamento interpessoal, por possuir objetivos comuns 
(apesar de não necessariamente explícitos). A família é o exemplo de grupo primário por 
excelência. Nela, o objetivo comum em geral não está explicitado, e pode ser simplesmente a 
convivência. É o caso, também, da "turma" ou "gangue" juvenil, outro exemplo típico de grupo 
primário. 
1. O grupo secundário, por sua vez, não se constitui num fim em si mesmo, mas num meio para 
que seus componentes atinjam fins externos ao grupo. É o caso de um grupo de estudo, que 
se dissolverá quando tiver concluído sua tarefa. As relações interpessoais num grupo secun-
dário costumam ser mais "frias", impessoais, racionais e formais. 
Dentro dos grupos => existemo clima grupal e a influência das lideranças na produção da 
atmosfera dos grupos. 
Kurt Lewin => argumentava que o clima democrático, autocrático ou o laissez-
fairedependiam da vocação do grupo e do estabelecimento de lideranças que os viabilizassem. 
Autocrático => estabelece sozinho as normas do grupo. 
Democrático => decide junto com o grupo as diretrizes, de modo que todos saibam 
antecipadamente o que vai acontecer. 
Laissez-faire=> não atua como coordenador, deixando completa liberdade de ação ao grupo. 
O que se entende por liderança? 
Ação que auxilia o grupo a atingir seus objetivos dentro de uma determinada situação. 
PAPÉIS SOCIAIS 
Posição 
1. Entende-se por "posição" a localização de uma
pessoa no grupo ou organização. Uma 
"localização" é definida pelos direitos e obrigações que regulam a interação do indivíduo que a 
ocupa com os demais, de outras posições. 
1. No grupo familiar, por exemplo, costumeiramente há diferentes posições: a de pai, de mãe, de 
filho, e pode haver outras. 
1. Em nossa sociedade, a posição de pai implica determinadas obrigações para com os filhos, 
como a de garantir-lhes a alimentação, moradia, proteção, etc. Também implica certos direitos, 
como o de ser obedecido e respeitado. Por sua vez, a posição de filho confere o direito de ser 
protegico, alimentado, etc., e o dever de obedecer e respeitar. 
1. Todos nós ocupamos, simultaneamente, muitas posições. Ao mesmo tempo, uma mulher pode 
ser mãe, operária de uma fábrica, membro do Clube de Pais e Mestres da escola de seus 
filhos, etc. 
Status 
É um conceito tão vinculado ao de posição que alguns autores empregam os dois termos 
indiscriminadamente. Há, porém, diferenças que a maioria dos estudiosos coloca. 
1. Statusse refere, em geral, à importância relativa de diferentes posições e pessoas para o 
grupo ou organização. 
1. Esse valor diferenciado vai refletir-se também sobre os direitos e deveres. Assim, por exemplo, 
atribui-se, costumeiramente, maior status ao diretor de uma empresa do que ao chefe de 
departamento e entende-se que o diretor deverá conhecer mais a respeito do funcionamento 
global da empresa e que assumirá maior parcela de responsabilidades sobre ela. 
OBS: Apesar de "posição" e statusserem conceitos bastante relacionados pode-se distingui-
los lembrando que posição é a localização de um elemento do grupo em relação aos demais e 
que status se refere a importância de uma posição em relação às outras. 
Conceito de papel social 
1. Entende-se por papel o comportamento que se espera de quem ocupa uma dete minada 
posição com determinado status. 
1. Assim, por exemplo, esperam-se certos comportamentos de um pai: que sustente os filhos, que 
proveja sua alimentação e educação, etc. O conjunto destes comportamentos constitui o papel 
de um pai na nossa sociedade. Em outra sociedade, com outra cultura, os comportamentos 
esperados podem ser muito diferentes. 
(AULA 6) EXCLUSÃO SOCIAL 
DEFINIÇÃO: 
1. Pode designar desigualdade social, miséria, injustiça, exploração social e econômica, 
marginalização social. 
1. Exclusão é "estar fora", à margem, sem possibilidade de participação, seja na vida social como 
um todo, seja em algum de seus aspectos. 
1. Exclusão social aplicável à realidade de uma sociedade capitalista => "excluídos são todos 
aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores" 
(Martine Xiberas). 
1. Excluídos no nível de grupos sociais: 
1. minorias étnicas (indígenas, negros); 
2. minorias religiosas; 
3. minorias culturais. 
1. Excluídos de gênero: mulheres e crianças. 
1. Excluídos em termos de opção sexual: homossexuais e bissexuais. 
1. Excluídos por idade: crianças e idosos. 
1. Excluídos por aparência física: obesos, deficientes físicos, pessoas calvas, pessoas mulatas 
ou pardas, portadores de deformidades físicas, pessoas mutiladas. 
1. Excluídos do universo do trabalho: desempregados e subempregados, pessoas pobres em 
geral. 
1. Excluídos do universo sócio-cultural: pessoas pobres em geral, habitantes de periferia dos 
grandes centros urbanos. 
1. Excluídos do universo da educação: os pobres em geral, os sem escola, as vítimas da 
repetência, da desistência escolar, da falta de escola junto a seus lares; deficientes físicos, 
sensoriais e mentais. 
1. Excluídos do universo da saúde: pobres em geral, doentes crônicos e deficientes físicos, 
sensoriais e mentais. 
1. Excluídos do universo social como um todo: os portadores de deficiências físicas, 
sensoriais e mentais, os pobres, os desempregados. 
Outros conceitos de exclusão social: 
1. "...uma impossibilidade de poder partilhar, o que leva à vivência da privação, da recusa, do 
abandono e da expulsão, inclusive, com violência, de um conjunto significativo da população - 
por isso, uma exclusão social e não pessoal. Esta situação de privação coletiva é que se está 
entendo por exclusão social. Ela inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, 
não acessibilidade, não representação pública..." (Aldaísa Sposatti, 1996 - Assistente Social, 
atual Secretária de Bem Estar Social da Prefeitura de São Paulo). 
1. "...um processo (apartação social) pelo qual denomina-se o outro como um ser "à parte", ou 
seja, o fenômeno de separar o outro, não apenas como um desigual, mas como um "não-
semelhante", um ser expulso não somente dos meios de consumo, dos bens, serviços, etc., 
mas do gênero humano. É uma forma contundente de intolerância social..." (Cristóvão 
Buarque, professor, ex-reitor da Universidade de Brasília, ex-governador do Distrito Federal e 
atual Ministro da Educação). 
1. Segundo Buarque, a exclusão social passa a ser vista como um processo presente, visível e 
que ameaça confinar grande parte da população num apartheid informal, expressão que dá 
lugar ao termo “apartação social”. Para ele, fica evidente a divisão entre o pobre e rico, em que 
o pobre é miserável e ousado enquanto o outro se caracteriza como rico, minoritário e 
temeroso. 
1. "... a desafiliação (exclusão) ... representa uma ruptura de pertencimento, de vínculos 
societais... /... o desafiliado (excluído) é aquele cuja trajetória é feita de uma série de rupturas 
com relação a estados de equilíbrio anteriores, mais ou menos estáveis, ou instáveis..." (Robert 
Castel). 
1. “...a desqualificação: processo relacionado a fracassos e sucessos da integração.../...a 
desqualificação social aparece como o jnverso da integração social. Õ Estado é então 
convocado a criar políticas indispensáveis à regulação do vínculo social, como garantia da 
coesão social (Paugam, 1991, 1993). 
1. “...a desinserção trabalhada por Gaujelac e Leonetti (1994) como algo que questiona a própria 
existência das pessoas enquanto indivíduos sociais, como um processo que é o inverso da 
integração.../..."é o sistema de valores de uma sociedade que define os "fora de norma " como 
não tendo valor ou utilidade social", o que conduz a tomar a desinserção como fenômeno 
identitário na "articulação de elementos objetivos e elementos subjetivos ". 
(AULA 7) PRECONCEITO, ESTEREÓTIPOS E DISCRIMINAÇÃO. 
ESTEREÓTIPOS: A BASE COGNITIVA DO PRECONCEITO 
1. Na base do preconceito estão as crenças sobre características pessoais que atribuímos a 
indivíduos ou grupos, chamadas de estereótipos. 
1. O estereótipo, em si, é frequentemente apenas um meio de simplificar e "agilizar" nossa visão 
do mundo. 
1. Gordon Allport referia-se ao ato de estereotipar como fruto da "lei do menor esforço". 
1. Nossos limitados recursos cognitivos, diante de um mundo cada vez mais complexo, é que nos 
fazem optar por estes atalhos, que se às vezes nos poupam, cortando significativamente o 
caminho, em outras, nos conduzem aos indesejáveis becos do preconceito e da discriminação. 
ROTULAÇÃO 
1. A rotulação seria um caso especial do ato de estereotipar. Em nossas relações interpessoais, 
facilitamos nosso relacionamento com os outros se atribuirmos a eles determinados rótulos 
capazes de fazer com que certos comportamentos possam ser antecipados. 
Exemplo: quando um gerente rotula um empregado de "preguiçoso", ele "prevê" determinados 
comportamentos que este empregado deverá exibir frente a certas tarefas. 
1. Profecia auto-realizadora => induzir o rotulado a se comportar da maneira que esperamos. 
1. Ideologia inconsciente => conjunto de crenças que aceitamos implícita e não conscientemente. 
Um exemplo disto pode ser visto nas relações de género. 
ESTEREÓTIPOS E GÊNERO 
1. Papeis pré-determinados para homens e mulheres. 
Exs: o estereótipo ligando os homens às funções de "herói" e as mulheres às de "mães" está 
profundamente entranhado na cultura. 
A norma genérica dominante ainda exige dos homens que sejam machistas, narcisistas, 
onipotentes,
impenetráveis e ousados. Qualquer desvio em relação a esta norma pode 
significar fracasso, debilidade ou sinal de homossexualismo. 
ESTEREÓTIPOS E ATRIBUIÇÃO 
1. O preconceito pode apresentar-se também via atribuição de causalidade. 
1. A ação de uma pessoa => deduções acerca dos motivos que possam ter causado aquele 
comportamento. E o preconceito frequentemente contamina nossas percepções. 
Ex: um padre saindo de um prostíbulo. 
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO 
1. Se o estereótipo é a sua base cognitiva, os sentimentos negativos em relação a um grupo 
constituiriam o componente afetivo do preconceito, e as ações, o componente comportamental. 
1. O preconceito é uma atitude: uma pessoa preconceituosa pode desgostar de pessoas de 
certos grupos e comportar-se de maneira ofensiva para com eles, baseada em uma crença 
segundo a qual possuem características negativas. 
Uma atitude é composta: - de sentimentos (componente afetivo), 
- predisposições para agir (componente comportamental) e 
- de crenças (componente cognitivo). 
1. O preconceito poderia ser definido como uma atitude hostil ou negativa com relação a 
um determinado grupo, não levando necessariamente, pois, a atos hostis ou comportamentos 
persecutórios. 
1. Discriminação=> refere-se à esfera do comportamento (expressões verbais hostis, condutas 
agressivas, etc.). 
1. Sentimentos hostis + a crenças estereotipadas =>deságuam numa atuação que pode variar de 
um tratamento diferenciado a expressões verbais de desprezo e a atos manifestos de 
agressividade. 
O PAPEL DO BODE EXPIATÓRIO 
1. Procuramos transferir nossos sentimentos de raiva ou de inadequação, colocando a culpa de 
um fracasso pessoal em algo externo ou sobre os ombros de uma outra pessoa. 
(AULA 8)COMPORTAMENTO ANTI-SOCIAL E VIOLÊNCIA. 
Violência é um comportamentoque causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. 
Tipologia 
Embora a forma mais evidente de violência seja a física, existem diversas formas de violência, 
caracterizadas particularmente pela variação de intensidade, instantaneidade e perenidade. 
Violência física => Ocorre quando uma pessoa, que está em relação de poder em relação à 
outra, causa ou tenta causar dano não acidental, por meio do uso da força física ou de algum 
tipo de arma que pode provocar ou não lesões externas, internas ou ambas. Segundo 
concepções mais recentes, o castigo repetido, não severo, também se considera violência 
física. 
Violência sexual =>É toda a ação na qual uma pessoa em relação de poder e por meio de 
força física, coerção ou intimidação psicológica, obriga uma outra ao ato sexual contra a sua 
vontade, ou que a exponha em interações sexuais que propiciem sua vitimização, da qual o 
agressor tenta obter gratificação. 
1. Estupro =>O estupro é todo ato de penetração oral, anal ou vaginal, utilizando o pênis ou 
objetos e cometido à força ou sob ameaça, submetendo a vítima ao uso de drogas ou ainda 
quando esta for incapaz de ter julgamento adequado. A definição do Código Penal, de 1940, 
delimita os casos de estupro à penetração vaginal, e mediante violência. Esta definição é 
considerada restrita e atualmente encontra-se em revisão. A nova redação propõe definição 
mais ampla, que acompanha as normas médicas e jurídicas preponderantes em outros países. 
2. Sexo forçado no casamento =>É a imposição de manter relações sexuais no casamento. 
Devido a normas e costumes predominantes, a mulher é constrangida a manter relações 
sexuais como parte de suas obrigações de esposa. 
3. Assédio sexual =>O assédio sexual pode ser definido por atitudes de conotação sexual em que 
haja constrangimento de uma das partes, através do uso do poder de um(a) superior na 
hierarquia, reduzindo a capacidade de resistência do outro. 
Abuso sexual na infância ou na adolescência 
Define-se como a participação de uma criança ou de um adolescente em atividades sexuais 
que são inapropriadas à sua idade e seu desenvolvimento psicossexual. A vítima é forçada 
fisicamente, coagida ou seduzida a participar da relação sem ter necessariamente a 
capacidade emocional ou cognitiva para consentir ou julgar o que está acontecendo (Gauderer 
e Morgado, 1992). 
1. Abuso incestuoso => Consiste no abuso sexual envolvendo pais ou outro parente próximo, os 
quais se encontram em uma posição de maior poder em relação à vítima. 
Violência psicológica =>É toda ação ou omissão que causa ou visa a causar dano à auto-
estima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. 
Violência econômica ou financeira =>São todos os atos destrutivos ou omissões do(a) 
agressor(a) que afetam a saúde emocional e a sobrevivência dos membros da família. 
Violência institucional =>Violência institucional é aquela exercida nos/pelos próprios serviços 
públicos, por ação ou omissão. Pode incluir desde a dimensão mais ampla da falta de acesso à 
má qualidade dos serviços. Abrange abusos cometidos em virtude das relações de poder 
desiguais entre usuários e profissionais dentro das instituições, até por uma noção mais restrita 
de dano físico intencional. 
COMPORTAMENTO ANTI-SOCIAL 
O comportamento antissocial é caracterizado pelo desprezo ou transgressão 
das normas da sociedade, em alguns casos com comportamento ilegal. 
Indivíduos antissociais frequentemente ignoram a possibilidade de estar afetando 
negativamente outras pessoas, por falta de empatia com o sofrimento de outrem - por exemplo, 
produzindo ruído excessivo em um horário inapropriado ou fazendo abertamente comentários 
ou julgamentos negativos. 
O termo antissocial também é aplicado erroneamente a pessoas com aversão ao convívio 
social, introvertidas, tímidas ou reservadas. 
Clinicamente, antissocial aplica-se a atitudes contrárias e prejudiciais à 
sociedade (sociopatia/psicopatia), não a inibições ou preferências pessoais. 
O comportamento antissocial pode ser sintoma de uma psicopatologia em psiquiatria: o 
transtorno de personalidade antissocial. 
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL. 
A psicopatia (ou sociopatia) é um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de 
caráter, ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos 
alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso eculpa para atos cruéis e inflexibilidade 
com castigos e punições (disciplina paterna inconsistente). 
Embora popularmente a psicopatia seja conhecida como tal, ou como "sociopatia", 
cientificamente, a doença é denominada como sinônimo do diagnóstico do transtorno de 
personalidade antissocial. 
A psicopatia parece estar relacionada a algumas importantes disfunções cerebrais, sendo 
importante considerar que um só único fator não é totalmente esclarecedor para causar o 
distúrbio; parece haver uma junção de componentes. Embora alguns indivíduos com psicopatia 
mais branda não tenham tido um histórico traumático, o transtorno - principalmente nos casos 
mais graves, tais como sádicos e serial killers - parece estar associado à mistura de três 
principais fatores: 
1. disfunções cerebrais/biológicas ou traumas neurológicos, 
2. predisposição genética 
3. e traumas sociopsicológicos na infância (ex, abuso emocional, sexual, físico, negligência, 
violência, conflitos e separação dos pais etc.). 
Todo indivíduo antissocial possui, no mínimo, um desses componentes no histórico de sua 
vida, especialmente a influência genética, entretanto, nem toda pessoa que sofreu algum tipo 
de abuso ou perda na infância irá tornar-se uma psicopata sem ter uma certa influência 
genética ou distúrbio cerebral; assim como é inadimissível afirmar que todo psicopata já nasce 
com essas características. Portanto, a junção dos três fatores torna-se essencial; há de se 
considerar desde a genética, traumas psicológicos e disfunções no cérebro (especialmente no 
lobo frontal e sistema límbico). 
Código Penal 
Do ponto de vista penal existe o dilema, amplamente discutido, sobre se uma personalidade 
doente é imputável, especialmente se é de origem psicótica. Mesmo que se trate de uma 
personalidade doente (exemplos: pessoassádicas, violadoras,
etc.) há tendência para sustentar 
que há uma punição correspondente, dado que, mesmo doente, a pessoa mantém consciência 
dos seus atos e pode evitar cometê-los. 
O direito penal usa como formas de classificar a capacidade mental do agente: entendimento 
por parte do agente se o ato que ele cometeu é ilegal e se mesmo sabendo que é ilegal, 
consegue se autodeterminar, ou seja, consegue não cometer o ato. 
Os psicopatas, no entanto, muitas vezes conseguem entender que seus atos são errados, 
porém não conseguem se autodeterminar com relação ao seu entendimento, ocasionando com 
isso os crimes bárbaros, podendo os psicopatas tornarem-se assassinos em série. 
AULA 9 - Início da relação entre a Psicologia e o Direito 
1. Psicologia do Testemunho: avaliação da veracidade de relatos de acusados e de testemunhas, 
fundamentando-se em estudos experimentais sobre memória e percepção. 
1. A “Psicologia do Testemunho” historicamente a primeira grande articulação entre Psicologia e 
Direito. 
1. Metodologia: uso de instrumentos de medida considerados objetivos, que possibilitavam 
comprovações matemáticas. Utilizavam-se, sobretudo, testes psicológicos. 
1. Final do século XIX => a Psicologia privilegiava o método científico empregado pelas Ciências 
Naturais (Biologia possibilidade de explicação dos comportamentos humanos), dando ênfase a 
uma prática profissional voltada, quase que unicamente, à perícia, ao exame criminológico e 
aos laudos psicológicos baseados no psicodiagnóstico. (Altoé, 2001). 
1. Psicologia Jurídica no Brasil: 1945 - Manual de Psicologia Jurídica, de Mira y Lopez: psicologia 
como ferramenta para avaliação e diagnóstico de criminosos e infratores. 
Contribuições da Psicologia: 
• detectar a mentira; 
• descobrir causas subjetivas para desvio de normas sociais; 
• indicar técnicas para alteração do comportamento anormal; 
• classificar as pessoas (conforme hereditariedade, caráter, constituição física e psíquica); 
• avaliar condições de discernimento ou sanidade mental das partes; 
• determinar a periculosidade dos indivíduos. 
Perícia: avaliação de condições psicológicas com a finalidade de responder a quesitos 
formulados por operadores do Direito -> atividade avaliativa e de subsídio às decisões judiciais. 
O trabalho do psicólogo => Pode auxiliar e nortear a atuação de advogados, promotores, juízes 
reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais profissionais na 
construção de um saber que auxilie a expressão da Justiça, permitindo ao juiz aplicar a Lei, 
dentro dos fins sociais, visando a uma relação democrática, justa e igualitária (Verani, 1994.) 
ou prejudicar e alongar o processo por vários anos, sem diminuir o conflito e a dor dos 
envolvidos, através da restrição de seu exercício profissional à elaboração de laudos ou 
pareceres psicológicos, por vezes conclusivos, fechados e, portanto, iatrogênicos (alteração 
patológica provocada no paciente por tratamento errôneo ou inadequado), como antes. 
Lei Jurídica X Lei Simbólica. 
Psicanálise e Direito 
LIVRO: Direito de Família e Psicanálise. Rumo a uma Nova Epistemologia 
GROENINGA, G. e PEREIRA, R.C. Direito de Família e Psicanálise — Rumo a uma nova 
epistemologia. RJ: Imago, 2003. 
• SUJEITO DO DIREITO/ SUJEITO DO DESEJO E A LEI 
A primeira lei é uma lei de Direito de Família: a lei do pai e o fundamento da lei (Rodrigo da 
Cunha Pereira) 
Kelsen (Teoria Geral das Normas) e Freud (Totem e Tabu) 
A ideia de Lei 
A partir do momento em que o homem passou a "viver-con" (conviver), ele começou a 
estabelecer leis para normalizar esse convívio. 
Kelsen => norma é um comando de conduta, o dever-ser de conduta. A norma legislada 
formalmente pelo Estado é a emanação de um poder, autorizado por uma norma anterior que é 
a lei básica de um Estado: a Constituição. Esta por sua vez, é baseada em uma constituição 
anterior e assim sucessivamente até que se chegue à primeira assembleia, que talvez tenha 
originado a primeira constituição. Chegaremos aí a uma norma fundante do sistema jurídico, 
que é a norma fundamental. 
Esta norma fictícia, a que se refere Kelsen, autorizadora de todo o sistema jurídico e na 
verdade de todas as leis jurídicas e morais, é a norma fundante, pressuposto de validade de 
todas as normas. 
Freud em seu texto Totem e Tabu => nos remete também às primeiras leis do homem. 
Descreve o "tabu" como o código de leis não escrito mais antigo do mundo, anterior a qualquer 
espécie de religião. Nesse trabalho, Freud nos remete a um lugar de surgimento da lei, que é 
anterior ao culto das religiões e das prescrições das religiões mais primitivas. 
1. De onde vem essa norma? 
1. Essa norma não pode ser posta em questão e isso parece significar que é porque ela é 
fundada pelo inconsciente. 
1. Essa lei inconsciente é dada pelo que Freud chamou de lei do incesto, ou depois Lévi-Strauss 
ou Lacan, como a Lei do Pai, que é exatamente a Lei (inconsciente) que possibilita a 
passagem da natureza para a cultura, (p. 24). 
1. Essa obra veio demonstrar que o incesto é a base de todas as proibições. É então a primeira 
lei. A lei fundante e estruturante do sujeito, consequentemente da sociedade e obviamente do 
ordenamento jurídico. " [...] podemos dizer que é exatamente porque o homem é marcado pela 
Lei do Pai que se torna possível e necessário fazer as leis da sociedade onde ele vive, 
estabelecendo um ordenamento jurídico" (p. 27). 
1. Lei do incesto => fundamento da cultura, da linguagem, das relações entre os homens. 
1. Ao abordar a norma fundamental, e no regressus infínitum a norma fictícia, não estaria Kelsen 
falando da mesma norma fundamental, a lei do simbólico de Freud e Lévi-Strauss? 
1. "Os conceitos interdisciplinares de direito e psicanálise, a partir de Freud e Kelsen, nos 
autorizam a dizer que a primeira lei, a lei fundante, fundamentadora e organizadora da cultura, 
uma lei de Direito de Família. [...] é a Lei do Pai, que é a base de sustentação e a partir da qual 
se torna possível o ordenamento jurídico sobre a família (p. 29). 
Exemplo: A exogamia é a expressão do tabu do incesto => no nosso ordenamento, a tradução 
na lei do interdito básico encontra-se nos impedimentos para o casamento art. 1521 do Código 
Civil de 2002. 
PROGRAMA DE RÁDIO ESCUTAR E PENSAR RÁDIO MEC-AM 800 MHZ Transgressão2ª 
feira: 22/Dezembro/2003 
Quando afirmamos que alguém transgrediu, estamos dizendo que alguma coisa foi violada: 
uma regra, uma lei, um pacto, um contrato ou mesmo um acordo não falado, nem escrito entre 
duas ou mais pessoas. Quer dizer, alguma combinação foi desrespeitada. Pode ser uma leve 
ultrapassagem de algum limite estabelecido, sem maior gravidade, ou um ato violento com 
conseqüências danosas. 
Se pensarmos na sociedade, por exemplo, há uma série de contratos sociais que exigem 
responsabilidade dos governantes, daqueles que detém algum tipo de poder. Aí, qualquer ato 
ilícito tem conseqüência sobre inúmeras pessoas. É o caso das atuais denúncias envolvendo 
juizes, que nos deixam inseguros, já que justamente quem deveria cuidar do cumprimento das 
leis é o primeiro a usar seu poder pra transgredir. Será que os roubos feitos por poderosos 
acabam justificando roubos feitos pelos menos favorecidos? Se os que têm muito roubam, por 
que quem não tem nada não pode se aproveitar? 
Na verdade, o que estão em jogo são valores e princípios que organizam a vida civilizada. O 
processo do animalzinho humano até chegar a ser um homem civilizado é longo e trabalhoso. 
Esse processo inclui cuidados, nutrição, ensinamentos, e uma coisa muito importante que a 
gente quase não nota: a transmissão de códigos que caracterizam o indivíduo, e que são como 
marcas que ficam registradas dentro da mente. Essas marcas são heranças, que passam de 
geração em geração, há muitos milhares de anos, e que estabelecem certos limites pra vida 
em grupo. 
No plano da sexualidade, por exemplo, os tabus do incesto, e das gerações: não pode haver 
relações sexuais entre pai e filhos ou entre mãe e filhos. Tios e
avós devem respeitar os 
membros mais novos da família e não interagir sexualmente, o que seria um abuso. Enfim, 
algumas barreiras que vão se formando no nosso mundo psíquico, como nojo, horror e 
vergonha de certas práticas, nós vamos adquirindo desde a primeiríssima infância, na relação 
com aqueles que cuidam da gente, aqueles que exercem a função de pais. Esses códigos são 
como que depositados na cultura e transmitidos de geração em geração, através da linguagem 
verbal e também da não verbal, isto é, através do que se diz, das histórias que se conta, e 
também do que se passa através de atos, gestos, sinais...E isso tudo que é passado pra nós 
por uma figura de autoridade é que vai nos servir de referência. E nos dar condições de viver 
em sociedade. 
Então, existe uma lei que é transmitida de forma invisível, é uma lei simbólica. E que está 
inscrita internamente como uma tatuagem psíquica que sustenta a nossa existência. É um 
pacto que nos faz respeitar o próximo, e reconhecer as diferenças sexuais, sociais, 
geracionais, culturais. É mais ou menos como um contrato social e pessoal que a gente assina 
para poder ser humano,civilizado. Mas nem todo mundo têm esse contrato pessoal e social 
firmado dentro de si mesmo. Aí, o pacto fracassa. O indivíduo fica sem qualquer compromisso 
com o próximo e sem as barreiras que interditam o livre curso dos impulsos sexuais e 
agressivos. É quando o ser humano mata, abusa, destrói. A primeira pessoa com quem nos 
relacionamos no início da vida, a mãe, ou quem exerce essa função, é quem transmite as 
primeiras leis organizadoras da vida em sociedade, à medida que vamos sendo apresentados 
à linguagem. 
Logo, outras pessoas importantes nos deixam suas marcas pela vida afora, ou seja durante 
toda vida novos registros são internalizados. Então, a mensagem é a seguinte: aquilo que os 
adultos dizem, vivem e fazem têm incidência sobre crianças e adolescentes. Se existem 
abusos, violência e ausência de uma autoridade protetora, a resposta é quase sempre 
desestruturação, desamparo, loucura e mesmo a morte. 
AULA 10 - TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO. 
MEDIAÇÃO 
1. Meio alternativo de solução de conflitos, onde as partes se mantêm autoras de suas próprias 
soluções. 
1. Constitui-se em importante recurso de resolução alternativa de disputas nas situações que 
envolvem conflitos de interesses, aliados à necessidade de negociá-los. 
1. É um processo orientado a possibilitar que as pessoas nele envolvidas sejam co-autoras da 
negociação e da resolução dos seus conflitos. 
CONCEITUAÇÃO DE MEDIAÇÃO SEGUNDO VEZZULLA,1995 
Técnica de resolução de conflitos não adversarial que, sem imposições de sentenças ou laudos 
e com um profissional devidamente formado, auxilia as partes a acharem seus verdadeiros 
interesses e preservá-los num acordo criativo, onde as duas partes ganham. 
CONFLITO 
1. Desentendimento entre duas ou mais pessoas sobre um tema de interesse comum. 
1. O conflito surge ante a dificuldade de se lidar com as diferenças nas relações e diálogos, 
associada a um sentimento de impossibilidade de coexistência de interesses, necessidades e 
pontos de vista. 
1. Manifestação de insatisfação, ou de divergência, de idéias, percepções e opiniões. 
MEDIAÇÃO - OBJETIVO 
1. Estabelecer ou restabelecer diálogo entre as partes, para que delas surjam alternativas e a 
escolha de soluções. 
1. Prevista para ser célere, informal e sigilosa, atua propiciando redução de custos financeiros, 
emocionais e de tempo em função de, em curto espaço de tempo, promover a instalação de 
um contexto colaborativo em lugar de adversarial. 
MEDIAÇÃO – PROPOSTA 
1. Dar voz e vez àqueles que dela participam. 
1. Instrumento de negociação de interesses articula, durante todo o seu percurso, a necessidade 
de cada um com a possibilidade do outro, desde que dentro dos limites da Ética e do Direito. 
1. Possibilitar mudanças relacionais e conseqüente dissolução da lide. 
MEDIADOR, O QUE É? 
1. É um terceiro imparcial que, por meio de uma série de procedimentos próprios, auxilia as 
partes a identificar os seus conflitos e interesses, e a construir, em conjunto, alternativas de 
solução, visando o consenso e a realização do acordo. 
1. Atua como facilitador do diálogo entre partes, identificando e desconstruindo impasses de 
diferentes naturezas. 
1. Seu principal instrumento de intervenção são as perguntas. 
EM QUE CONTEXTO PODE SER APLICADA? 
1. Em qualquer contexto capaz de produzir conflitos que envolvam questões tais como: 
1. Comerciais; 
2. Trabalhistas; 
3. Comunitárias; 
4. Meio ambiente; 
5. Saúde; 
6. Família. 
“GÊNERO MEDIAÇÃO” ≠ “ESPÉCIE MEDIAÇÃO” 
1. O “gênero mediação” ou heterocomposição envolve desde métodos impositivos de 
resolução de conflitos (como a via judicial e a arbitragem), até métodos “amigáveis” (como a 
conciliação e a mediação propriamente dita). 
MÉTODOS BÁSICOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
1. Via judicial => o juiz aplica a lei à lide. Ele decide e impõe sua decisão às partes. 
1. Arbitragem => o árbitro decide e impõe sua decisão às partes. O processo é mais flexível 
(adaptável ao caso) que no judiciário. 
1. Conciliação => o conciliador conduz as partes na analise de seus direitos e deveres legais, 
buscando um acordo. As partes é que decidem os termos do acordo, mas o conciliador pode 
fazer sugestões e opinar quanto ao mérito da questão. Seu objetivo é o acordo. 
1. Mediação => o mediador facilita o dialogo entre as partes em ambiente de confidencialidade. O 
mediador busca o entendimento das partes pelas próprias partes. Ele não deverá opinar sobre 
o mérito da questão. O objetivo da mediação é a pacificação das partes. 
“ESPÉCIE MEDIAÇÃO” 
1. Método amigável de resolução de conflitos, com características processuais peculiares não 
obstante guarde grande grau de flexibilidade, que lhe permite adaptar-se às necessidades das 
partes caso a caso. 
1. A maioria dos conflitos não envolvem apenas direitos e deveres regulados por lei, mas muitos 
outros fatores que a lei não pode regular e que são de grande importância para a satisfação 
das partes. A proposta do mediador leva em conta estes fatores alheios ao ordenamento 
jurídico. 
CHAVE MESTRA DA MEDIAÇÃO => ACOLHIMENTO 
O mediador: 
1. acolhe 
2. Respeita 
3. Revaloriza 
4. Reconhece 
5. Considera, dá crédito. 
6. Compreende ( “não teve oportunidade de ser diferente”) 
7. Intervém e não exclui 
ETAPAS DA MEDIAÇÃO 
1. Entrevistas individuais; 
1. Identificação do problema; 
1. Determinação das necessidades subjacentes; 
1. Busca de opções e implicações; 
1. Construção de compromisso moral, redação e assinatura de acordo. 
1. As sessões individuais são utilizadas para o “desarme” (psicológico) do sujeito, 
1. Nesta etapa o mediador procura dar conotações positivas para o conflito 
1. É primordial, neste momento, escutar o que está oculto nas entrelinhas. 
JUSTIÇA RESTAURATIVA 
É um conceito novo de solução de conflitos que começa a ganhar corpo no Brasil. Constitui um 
novo paradigma criminológico, que reformula o modo convencional de definir crime e justiça, 
com grande potencial transformador do conflito na medida que intervêm de modo mais efetivo 
na pacificação das relações sociais. 
Mudança de foco. 
Na Justiça Restaurativa a questão central, ao invés de versar sobre culpados, é sobre quem foi 
prejudicado pela infração. Ao contrário da Justiça Tradicional, que se ocupa 
predominantemente da violação da norma de conduta em si, a Justiça Restaurativa ocupa-se 
das conseqüências e danos produzidos pela infração. 
A Justiça Restaurativa valoriza a autonomia dos sujeitos e o diálogo entre eles, criando 
espaços protegidos para a auto-expressão e o protagonismo de cada um dos envolvidos e 
interessados - transgressor, vítima, familiares, comunidades. 
Partindo daí, fortalece e motiva as pessoas para a construção de estratégias para restaurar os 
laços de relacionamento e confiabilidade social rompidos pela infração. 
Enfatiza o reconhecimento e a reparação das conseqüências, humanizando e trazendo
para o 
campo da afetividade relações atingidas pela infração, de forma a gerar maior coesão social na 
resolução do problema e maior compromisso na responsabilização do infrator e no seu projeto 
de ajustar socialmente seus comportamentos futuros. 
Ressignificação de papéis. 
Como na Justiça Restaurativa o foco muda do culpado para as conseqüências da infração, 
embora o ambiente de respeito para com a dignidade - capacidade e autonomia - do infrator, é 
a vítima quem assume um papel de destaque. Além disso, objetiva-se sempre a participação 
da comunidade. Procura-se mobilizar o máximo de pessoas que se mostrem relacionadas às 
partes envolvidas no conflito ou que possam contribuir na sua solução, abrindo espaço à 
participação tanto de familiares, amigos ou pessoas próximas do infrator ou da vítima, bem 
como de representantes da comunidade atingida direta ou indiretamente pelas conseqüências 
da infração. 
Valores Restaurativos. 
A ética restaurativa é uma ética de inclusão e de responsabilidade social, e promove o conceito 
de responsabilidade ativa, essencial à aprendizagem da democracia participativa, ao fortalecer 
indivíduos e comunidades para que assumam o papel de pacificar seus próprios conflitos e 
interromper as cadeias de reverberação da violência. 
AULA 11 -Guarda 
Aspectos destacados na guarda compartilhada 
É costumeiro afirmar que, com a separação do casal, a família não se dissolve, se transforma. 
São muitas as mudanças nos ciclos de vida familiares. Desde a regulamentação do divórcio no 
Brasil em 1977, a separação conjugal ficou cada vez mais como um fato presumido nas 
famílias. Quando não há possibilidade de reconciliação entre o casal, mesmo que tenham 
filhos, não existe mais aquela necessidade de permanecerem casados, como anteriormente. 
Segundo alguns especialistas, um dos motivos que desencadeiam distúrbios emocionais nos 
filhos é a convivência num lar em conflito permanente. Desta forma, entende-se que a 
separação conjugal deveria representar uma possível solução, mas infelizmente muitos casais 
encontram sérias dificuldades na reorganização desse sistema, inclusive na divisão de 
responsabilidades. Assim, o casal decide procurar um profissional que ajuizará ação 
competente, prosseguindo o feito até sentença judicial ou homologação de acordo que 
estabelecerá quem ficará com a guarda dos filhos, visitas, pagamento de alimentos e partilha 
dos bens. A questão é que guarda e o direito de visitas existe em função dos menores, com o 
objetivo de manter contato entre os filhos e os pais após a separação, contribuindo com a 
“homeostase” emocional dos envolvidos. 
Regulamentação de Visitas: um direito da criança 
A lei confere ao genitor que não possui a guarda, o direito de visitas, que constitui o direito de 
personalidade do filho de ser visitado não só pelos pais, como qualquer pessoa que por ele 
tenha afeto. Cabe salientar que o direito de visitas é extensivo aos avós, sendo muito comum 
requerer a regulamentação da visita mesmo em procedimento judicial consensual. Afinal, um 
dos objetivos da visita é o de fortalecer os laços de amizade entre pais, filhos e familiares, já 
enfraquecidos pelo processo de separação. 
Vantagens e Desvantagens da Guarda Compartilhada 
A guarda sempre se revelou um ponto delicadíssimo no direito de família, pois dela depende 
diretamente o futuro do menor. A guarda única ou exclusiva, aquela conferida a um só dos 
genitores, passou a ser insuficiente para atender as necessidades e interesses dos pais e 
principalmente dos filhos. Com as mudanças cada vez mais aceleradas na estrutura familiar, 
procuram-se novas modalidades de guarda capazes de assegurar aos pais uma repartição 
eqüitativa da autoridade parental, bem como aos filhos, que serve para amenizar os efeitos 
desastrosos na maioria das separações. Historicamente, a guarda compartilhada teve sua 
origem na Inglaterra, na década de 60, onde ocorreu a primeira decisão favorável. Estendeu-se 
a França e ao Canadá, chegando mais tarde ao Brasil e Estados Unidos. A guarda pode ser 
definida como o conjunto de deveres que os pais têm em relação à pessoa e aos bens dos 
filhos. O direito de guarda é antes de tudo um dever de assistência material e moral, devendo 
sempre ser levado em consideração o interesse do menor. Portanto, não se recomenda a 
pessoas inidôneas, imaturas ou portadoras de qualquer deficiência de natureza psíquica ou 
comportamental, podendo ser modificada a qualquer momento. 
Foram a partir dessas mudanças nos ciclos de vida familiares, como o surgimento de famílias 
monoparentais, que o compartilhamento da guarda passou a ser questionado. 
Importante destacar a diferença entre guarda alternada e guarda compartilhada ou conjunta. A 
primeira (alternada) tem como requisito básico a alternância de residência dos pais, por 
certos períodos. A segunda (compartilhada ou conjunta) baseia-se na residência fixa 
para o menor, partilham-se somente os direitos e deveres entre os pais. 
A guarda compartilhada ou conjunta é um dos meios de exercício da autoridade parental aos 
pais que desejam continuar a relação com os filhos quando ocorre a fragmentação da família. 
A justificativa para a adoção desse sistema está na própria realidade social e jurídica, que 
reforça a necessidade de garantir o melhor interesse da criança e a igualdade entre homens e 
mulheres na responsabilização dos filhos. A continuidade do convívio da criança com ambos os 
pais é indispensável para seu desenvolvimento emocional de forma saudável. 
No entanto, esta modalidade refere-se a um tipo de guarda onde os pais dividem a 
responsabilidade legal sobre os filhos, ao mesmo tempo em que compartilham suas obrigações 
pelas decisões importantes relativas à criança. Desta forma, evita a sobrecarga dos pais e 
minimiza o conseqüente impacto da ansiedade e do estresse sobre os filhos. Conclui-se que 
um dos pais pode manter a guarda material ou física do filho, porém ambos possuem os 
mesmos direitos e deveres para com o menor. 
A Guarda compartilhada ou conjunta privilegia a continuidade na relação da criança com seus 
genitores após a separação destes e ao mesmo tempo mantém ambos responsáveis pelos 
cuidados cotidianos relativos à educação e à criação do menor. A guarda compartilhada tem o 
apoio constitucional, por força do que prevê o art. 226, § 5º e § 7º da CF/88, ao estabelecer 
que os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo 
homem e pela mulher, além do estabelecido nos princípios da dignidade da pessoa humana. 
Também tem o apoio no Estatuto da Criança e do Adolescente e das disposições da Lei nº 
11.698, de 13 junho de 2008 que altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei nº 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 do novo Código civil, que tratam da proteção da pessoa dos filhos. 
Na realidade o maior interesse dos filhos está em conviver o máximo possível com ambos os 
pais, salvo exceções. Enfim, resta claro que o poder da guarda para a mãe, uma questão 
cultural, já não mais prevalece. A nítida preferência reconhecida à mãe para a guarda, já vinha 
sendo criticada como abusiva e contrária a igualdade, como supramencionamos no direito 
constitucional. No código de 1916, foi criado para acomodar as necessidades de uma 
sociedade quando a profissão da mulher era do lar, o que já não condiz com a nossa realidade, 
já que a mulher se tornou independente. 
Sem dúvida alguma não se pode deixar de ressaltar que o modelo de guarda compartilhada 
não deve ser imposto como solução para todos os casos, havendo situações em que o modelo 
é inadequado e até mesmo contra-indicado, como no exemplo da tenra idade dos filhos. 
As vantagens da guarda compartilhada são maiores que as desvantagens, basicamente em 
função de uma melhora na auto-estima do filho, melhora no rendimento escolar (enquanto que 
na guarda monoparental decai), diminuição do sentimento de tristeza, frustração, rejeição e do 
medo de abandono, já que permite o acesso sem dificuldade a ambos os pais. Também
ajuda 
na inserção da nova vida familiar de cada um dos genitores, além de ter uma convivência 
igualitária. 
Não são muitas as desvantagens neste tipo de guarda. Cabe lembrar que, através de 
informações fornecidas por psicólogas da teoria sistêmica, puderam constatar em seus 
consultórios no atendimento dos filhos (crianças e adolescentes) que o maior sintoma é a falta 
dos pais, o medo do abandono, as conseqüências de uma separação seja consensual ou 
litigiosa. Na guarda compartilhada o filho não perde o vínculo com os pais. Um triste exemplo e 
ao mesmo tempo muito comum de ocorrer é o pai pensar que se não é o guardião, deve 
manter-se distante da educação do filho, pois considera que a justiça dá plenos poderes a 
guardiã que detém a guarda. Alguns desses pais acabam por afastar-se de seus filhos 
provocando, sem dúvida alguma, sentimentos de angústia desnecessários. São os filhos quem 
acabam por pagar o maior tributo por tais comportamentos, visto que sofrem por viver em meio 
ao fogo cruzado de seus pais e podem apresentar sérios sintomas, como dificuldades afetivas, 
sociais e de aprendizado. 
Hodiernamente, a possibilidade jurídica da guarda compartilhada como mencionamos, leva em 
consideração as vantagens tanto para os genitores quanto aos filhos, restando aos operadores 
do direito ter a consciência do melhor interesse do menor. O promotor de justiça deve favorecer 
esta modalidade e o magistrado conceder a guarda compartilhada, salvo exceção. Filhos 
precisam igualmente do pai e da mãe. É necessário que um permita o direito de existência do 
outro na vida de seus filhos. A separação conjugal não pode se estender à ruptura parental, 
pois a criança precisa de ambos para ter um bom desenvolvimento cognitivo, psíquico e 
emocional. A guarda conjunta é o caminho possível para assegurar aos filhos de pais 
separados a presença contínua em harmonia de ambos os genitores. 
ALIENAÇÃO PARENTAL. 
Euclydes de Souza 
A alienação parental é a rejeição do genitor que "ficou de fora" pelos seus próprios 
filhos, fenômeno este provocado normalmente pelo guardião que detêm a exclusividade 
da guarda sobre eles (a conhecida guarda física monoparental ou exclusiva). 
Esta guarda única permite ao genitor que detêm a guarda com excluvidade, a capacidade 
de monopolizar o controle sobre a pessoa do filho, como um ditador, de forma que ao 
exercer este poder extravagante, desequilibra o relacionamento entre os pais em relação 
ao filho. A situação se caracteriza quando, a qualquer preço, o genitor guardião que quer 
se vingar do ex cônjuge, através da condição de superioridade que detêm, tentado fazer 
com que o outro progenitor ou se dobre as suas vontades, ou então se afaste dos filhos. 
Levando em consideração que as Varas de família agraciam as mulheres, com a guarda 
dos filhos, em aproximadamente 91% dos casos (IBGE/2002), salta aos nossos olhos 
que a maior incidência de casos de alienação parental é causada pelas mães, podendo, 
todavia ser causada também pelo pai, dentro dos 9% restantes. 
Concluímos assim, que o compartilhamento parental na criação dos filhos, anularia o 
excesso de poder uni-lateral, origem da alienação parental, trazendo a solução para este 
e vários outros problemas causados pela Guarda Única. 
Com o objetivo de ajudar aos pais a identificar quando é que seus filhos podem estar 
sendo vítimas da alienação parental, juntamos as seguintes situações que demonstram 
em menor ou maior grau o risco da rejeição paterna. 
• ...”Cuidado ao sair com seu pai . Ele quer roubar você de mim”... 
• ...”Seu pai abandonou vocês “... 
• ...”Seu pai não se importa com vocês”... 
• ...”Você não gosta de mim!Me deixa em casa sozinha para sair com seu pai”... 
• ...”Seu pai não me deixa refazer minha vida”... 
• ...”Seu pai é muito violento, ele vai te bater”... 
Com isso, ocorrem casos de crianças com problemas psicológicos diversos, onde vemos 
tais reflexos somatizados, de uma culpa que elas não tem, ora em forma mais grave, 
como o desvio de comportamento, e outras copiando o modelo materno ou paterno de 
forma inadequada. Outras características de mães, ou pais, que induzem a alienação 
parental aos filhos: 
• Cortam as fotografias em que os filhos estão em companhia do pai, ou então proíbe 
que as exponha em seu quarto. 
• Pais monoparentais, não participam ao pai que “ficou de fora” informações escolares 
como os boletins escolares, proíbe a entrada destes na escola, não fornece fotografias, 
datas de eventos festivos escolares e tentam macular a imagem do pai junto ao corpo 
docente do colégio. 
• Pais dessa natureza, não cooperam em participar de mediações promovidas por 
instituições que promovem a mediação entre casais em litígio, são freqüentemente 
agressivos, arrogantes, e exímios manipuladores. 
• Restringem e proíbem terminantemente, a proximidade dos filhos e parentes com os 
membros da família do ex-cônjuge. 
• Encaram o ex-cônjuge como um fator impeditivo para a formação de uma outra 
família (normalmente porque idealizam uma nova vida imaginando poder substituir a 
figura do pai pela a do padrasto, o que não seria possível com a proximidade do ex). 
• Pais que induzem a alienação parental, ao ser necessário, deixam seus filhos com 
babás, vizinhos, parentes ou amigos, mas nunca com o pai não residente, (mesmo que 
ele seja o seu vizinho), a desculpa clássica é: ” Seu pai está proibido de ver as crianças 
fora do horário pré-estipulado para ele “ , ” Seu pai só pode ficar com vocês de 15 em 
15 dias. Foi o Juiz que disse “ ou “ Não permito, porque seu pai vai interferir na rotina 
da nossa família” 
• Pais que induzem a alienação parental, normalmente são vítimas do seu próprio 
procedimento no futuro, sendo julgados pelos seus próprios filhos impiedosamente. 
• Tem crises de depressão e agressividade, exercendo violência física ou psicológica 
sobre seus filhos. 
• Fazem chantagem emocional sempre que possível, especialmente quando a criança 
está de férias com o pai não residente. 
• Não percebe o cônjuge na sua angustiante revolta e infelicidade que o seu “maior 
inimigo” poderia ser seu maior aliado, sendo enormemente beneficiada dividindo a 
responsabilidade no compartilhamento da guarda do filho, com o ex-cônjuge. 
• Muitas vezes negam ao pai não residente o direito de visitar seus filhos nos horários 
pré-estipulados, desaparecendo por semanas a fio, ou obrigando as crianças a dizerem, 
que não querem sair com o pai, não permitindo nem mesmo que ele se aproxime de sua 
casa, chamando a polícia sob a alegação que está sendo ameaçada ou perseguida. 
• Não permitem o contato telefônico do pai com o filho em momento algum, proibindo 
inclusive que o filho ligue para ele. 
• Proíbem a empregada doméstica de passar a ligação do pai ao seu filho. 
• Desaparece com o telefone celular que o pai dá para o filho. 
• Costumam fazer denunciações caluniosas de agressão, ameaça, crimes contra a honra, 
etc. 
• Agridem fisicamente o pai em locais não públicos, e imediatamente se deslocam para 
locais públicos, para forjar um pedido socorro por terem sido agredidas. 
• Freqüentemente ameaçam mudar-se para bem longe, os Estados Unidos ou uma cidade 
bem longe. 
BIBLIOGRAFIA: SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL (Por François 
Podevyn). 
LEI N° 11.698. DE 13 JUNHO DE 2008. 
e
Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, para 
instituir e disciplinar a guarda compartilhada. 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei: 
a
Art. 1 Os arts. 1.583 e 1.584 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, passam a 
vigorar com a seguinte redação: 
"Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. 
§ 1º - Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que 
o substitua (art. 1.584, §5°) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o 
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, 
concernentes ao poder familiar

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