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Falsidade material e ideologica

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Por Ian Ganciar Varella 
 
Esse Artigo tem como propósito apresentar um pouco mais sobre os conceitos, 
características e também as distinções desses dois institutos penais. 
Características da falsidade material 
O agente imita a verdade, quer falsificando quer alterando, dando uma aparência de 
autenticidade. Como o que se falsifica é a forma, a materialidade gráfica, visível, do 
documento, pode ser averiguada por perícia. 
Características da falsidade ideológica 
O agente omite a verdade; insere ou faz inserir declaração falsa ou diversa da que devia 
ser escrita. Como o que se falsifica é o conteúdo intelectual do documento, não pode ser 
averiguada por perícia, senão por outros meios de prova. Quanto à sua forma, à sua 
materialidade gráfica, visível, o documento é autêntico. Na falsidade ideológica não há 
rasura, emenda, acréscimo ou subtração de letra ou algarismo, mas o seu conteúdo não 
exprime a verdade. 
Distinções 
A falsidade ideológica está prevista no artigo 299 do Código Penal. Ela ocorre quando 
alguém altera a verdade em documento público ou documento particular verdadeiro. 
Vejamos: 
“Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou 
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o 
fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente 
relevante: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos e multa, se o documento é 
público, e reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento é particular”. 
Possuindo assim 3 núcleos do tipo: 
1. “Omitir” declaração que devia constar do documento. 2. “Inserir” no documento 
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita. 3. “Fazer inserir” no documento 
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita: 3.1 Fazer inserir declaração falsa. 
3.2. Fazer inserir declaração diversa da que devia ser escrita. 
Já a falsidade material, está prevista nos artigos 297 e 298 do Código Penal. Ela ocorre 
quando alguém imita ou altera documento público ou documento particular verdadeiro. 
Vejamos: 
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento 
público verdadeiro: [...] Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento 
particular ou alterar documento particular verdadeiro: [...] 
Por fim, insere-se neste artigo o entendimento de Damásio de Jesus, que assim entende 
os dois institutos: 
“Na falsidade material o vício incide sobre a parte exterior do documento, recaindo 
sobre o elemento físico do papel escrito e verdadeiro. O sujeito modifica as 
características originais do objeto material por meio de rasuras, borrões, emendas, 
substituição de palavras ou letras, números, etc. 
(..) Na falsidade ideológica (ou pessoal) o vício incide sobre as declarações que o 
objeto material deveria possuir, sobre o conteúdo das idéias. Inexistem rasuras, 
emendas, omissões ou acréscimos. O documento, sob o aspecto material é verdadeiro; 
falsa é a idéia que ele contém. Daí também chamar-se ideal. Distinguem-se, pois, as 
falsidades material e ideológica.” (Damásio E. De Jesus, in ‘Código Penal Anotado’, 
ed. Saraiva, 1994, p. 771) 
JULGADOS E EMENTAS SOBRE O TEMA: 
1 - USO DE RECIBOS IDEOLOGICAMENTE FALSOS. DECLARAÇÃO DE 
IRPF. TIPIFICAÇÃO. 
Constitui mero exaurimento do delito de sonegação fiscal a apresentação de recibo 
ideologicamente falso à autoridade fazendária, no bojo de ação fiscal, como forma de 
comprovar a dedução de despesas para a redução da base de cálculo do imposto de 
renda de pessoa física (IRPF), (Lei n. 8.137/1990). Na espécie, o paciente, em 
procedimento fiscal instaurado contra terceira pessoa (psicóloga), teria apresentado 
recibo referente a tratamento não realizado, para justificar declaração anterior prestada à 
Receita Federal por ocasião do recolhimento do seu IRPF. Segundo se afirmou, o falso 
teria sido cometido única e exclusivamente com o objetivo de reduzir ou suprimir o 
pagamento do imposto de renda. Assim, em consonância com o enunciado da Súm. N. 
17 desta Corte, exaurida a potencialidade lesiva do documento para a prática de outros 
crimes, a conduta do falso ficaria absorvida pelo crime de sonegação fiscal. Noticiou-se, 
por fim, o adimplemento do débito fiscal, oriundo da referida sonegação, na esfera 
administrativa. Nesse contexto, a Turma determinou o trancamento da ação penal – por 
falta de justa causa – instaurada contra o paciente com fulcro nos arts. 299 e 304 ambos 
do CP. HC 131.787-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2012. 
2 - GRATUIDADE JUDICIÁRIA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. FALSIDADE. 
A Turma reiterou o entendimento de que a apresentação de declaração de pobreza com 
informações falsas para obtenção da assistência judiciária gratuita não caracteriza os 
crimes de falsidade ideológica ou uso de documento falso. Isso porque tal declaração é 
passível de comprovação posterior, de ofício ou a requerimento, já que a presunção de 
sua veracidade é relativa. Além disso, constatada a falsidade das declarações constantes 
no documento, pode o juiz da causa fixar multa de até dez vezes o valor das custas 
judiciais como punição (Lei n. 1.060/1950, art. 4º, § 1º). Com esses fundamentos, o 
colegiado trancou a ação penal pela prática de falsidade ideológica e uso de documento 
falso movida contra acusado. HC 217.657-SP, Rel. Min. Vasco Della Giustina 
(Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em 2/2/2012. 
3 - USO. DOCUMENTO FALSO. AUTODEFESA. IMPOSSIBILIDADE. 
A Turma, após recente modificação de seu entendimento, reiterou que a apresentação de 
documento de identidade falso no momento da prisão em flagrante caracteriza a conduta 
descrita no art. 304 do CP (uso de documento falso) e não constitui um mero exercício 
do direito de autodefesa. Precedentes citados STF: HC 103.314-MS, DJe 8/6/2011; HC 
92.763-MS, DJe 25/4/2008; do STJ: HC 205.666-SP, DJe 8/9/2011. REsp 1.091.510-
RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 8/11/2011. 
4 - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
E FALSIDADE IDEOLÓGICA – 1 
Ao aplicar a Súmula Vinculante 24 (“Não se tipifica crime material contra a ordem 
tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento 
definitivo do tributo”), a Turma deferiu habeas corpus para determinar, por ausência de 
tipicidade penal, a extinção do procedimento investigatório instaurado para apurar 
suposta prática de crimes de falsidade ideológica e contra a ordem tributária. Na 
espécie, o paciente, domiciliado no Estado de São Paulo, teria obtido o licenciamento de 
seu veículo no Estado do Paraná de modo supostamente fraudulento — indicação de 
endereço falso —, com o fim de pagar menos tributo, haja vista que a alíquota do IPVA 
seria menor. Inicialmente, salientou-se que o STJ reconhecera o prejuízo do habeas lá 
impetrado, em face da concessão, nestes autos, de provimento cautelar. Em seguida, 
observou-se que a operação desencadeada pelas autoridades estaduais paulistas 
motivara a suscitação de diversos conflitos de competência entre órgãos judiciários dos 
Estados-membros referidos, tendo o STJ declarado competente o Poder Judiciário 
paulista. Aquela Corte reconhecera configurada, em contexto idêntico ao dos autos do 
writ em exame, a ocorrência de delito contra a ordem tributária (Lei 8.137/90), em 
virtude da supressão ou redução de tributo, afastada a caracterização do crime de 
falsidade ideológica (CP, art. 299). Reputou-se claro que o delito alegadamente 
praticado seria aquele definido no art. 1º da Lei 8.137/90, tendo em conta que o crimen 
falsi teria constituído meio para o cometimento do delito-fim, resolvendo-se o conflito 
aparentede normas pela aplicação do postulado da consunção, de tal modo que a 
vinculação entre a falsidade ideológica e a sonegação fiscal permitiria reconhecer, em 
referido contexto, a preponderância do delito contra a ordem tributária. HC 101900/SP, 
REL. MIN. CELSO DE MELLO, 21.9.2010. (HC-101900) 
5 - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO: CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
E FALSIDADE IDEOLÓGICA – 2 
Ademais, determinou-se que, o reconhecimento da configuração do crime contra a 
ordem tributária, afastada a caracterização do delito de falsidade ideológica, tornaria 
pertinente a invocação, na espécie, da Súmula Vinculante 24. Destacou-se que, 
enquanto não encerrada, na instância fiscal, o respectivo procedimento administrativo, 
não se mostraria possível a instauração da persecução penal nos delitos contra a ordem 
tributária, tais como tipificados no art. 1º da Lei 8.137/90. Esclareceu-se ser 
juridicamente inviável a instauração de persecução penal, mesmo na fase investigatória, 
enquanto não se concluir, perante órgão competente da administração tributária, o 
procedimento fiscal tendente a constituir, de modo definitivo, o crédito tributário. 
Asseverou-se, por fim, que se estaria diante de comportamento desvestido de tipicidade 
penal, a evidenciar, portanto, a impossibilidade jurídica de se adotar, validamente, 
contra o suposto devedor, qualquer ato de persecução penal, seja na fase pré-processual 
(inquérito policial), seja na fase processual (“persecutio criminis in judicio”), pois 
comportamentos atípicos não justificariam a utilização pelo Estado de medidas de 
repressão criminal. HC 101900/SP, rel. Min. Celso de Mello, 21.9.2010. (HC-101900)

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