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Conversão do negócio nulo - Carlos da Mota Pinto

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o m p o s l ç S o e I m p r e s s ã o 
OIUBBA EDITORA, L.DA
CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO
Professor da Faculdade de Direito de Coimbra
TEORIA GERAL
DO
DIREITO CIVIL
3.‘ EDIÇÃO ACTUALIZADA
12.“ REIMPRESSÃO
A8VNOADOMNES
C O I M B R A E D I T O R A 
1 9 9 9
630 Teoria Ocrai do Direito Civil
certas cláusulas por violarem o artigo 280.° 0 , não é nulo 
todo o contrato, entrando o direito supletivo no lugar das 
cláusulas nulas; é essa a única solução favorável ao interesse 
da parte que não elaborou os dispositivos contratuais e é esse 
interesse que está na base da nulidade das cláusulas.
208. O problema da conversão dos negócios jurídicos.
I — Os termos do problema. — Trata-se de saber se, 
declarado nulo ou anulado totalmente um negócio, este não 
produzirá quaisquer efeitos negociais ou se, dados certos 
requisitos, não poderá reconstituir-se, com os materiais do 
negócio totalmente inválido, um outro negócio, cujo resultado 
final económico-jurídico, embora mais precário, se aproxime 
do tido em vista pelas partes com a celebração do contrato 
totalmente inválido 0 . Não se trata de uma tutela das partes 
em oposição à autonomia privada, pois deve atender-se ao 
sentido da vontade das partes e às suas representações sobre 
os interesses respectivos. É certo que não se trata, aqui como 
na redução, de uma interpretação, de uma averiguação de 
uma vontade empírica como uma realidade psicológica, mas 
trata-se como que de uma «colaboração» do ordenamento jurí­
dico com a vontade das partes no sentido de dar expressão 
a uma vontade potencial, não formulada, alargando assim o 
campo de acção da autonomia privada.
Por exemplo, será possível:
a) a conversão duma venda de imóveis feita por escrito 
particular, portanto, nula por vício de forma, numa pro-
O Cf r. Mota Pinto), Contratos de adesão, in RDES, ano xx (1973), 
pág. 143 e in Revista Forense, Rio de Janeiro, vol. 257.
(*) Pode igualmente equacionar-se o problema da conversão e, 
verificados os respectivos requisitos, responder-ste-lhe afirmativamente, 
quando o negócio, em vez de inválido, for inefioaz.
Teoria Geral do Facto Jurídico 631
messa de compra e venda, com o (resultado prático de levar 
à perda ou à restituição em dobro do preço pago (arts. 441.® 
e 442.°)?
b) a conversão da venda de parte determinada da coisa 
comum, feita pelo comproprietário, em venda da parte ideal 
do vendedor?
c ) a conversão da doação de um prédio contido numa 
herança indivisa em doação do respectivo valor (*).
II —' Requisitos de admissibilidade. — A doutrina nacional 
e estrangeira é largamente favorável à conversão dos negócios 
jurídicos, exigindo, todavia, certos requisitos de admissibili­
dade Q. Esses requisitos são os seguintes:
1) É necessário que o negócio inválido contenha os requi­
sitos essenciais de forma e substância (capacidade, objecto, 
vontade), necessários para a validade do negócio sucedâ­
neo («ersatz»). Assim, a venda verbal de imóveis é inconver- 
tível em promessa de compra e venda, dado o artigo 410.°, 
n.° 2.
(!) A conversão deverá normalmente ter lugar no caso da alí­
nea a), mas já dejpenderá das circunstâncias, como se verá pela exposi­
ção subsequente,, no caso da alínea b); quanto à hipótese, referida cm c), 
a jurisprudência sustentou a nega/tiva (Acórdãos do STJ, de 17-2-1888 
e 13-12-1889), mas vieüo, posteriormente (Acórdãos do STJ, dè 25-5-1924 
e 26-7-1940), a admitir que a liberalidade era válida ean valor, se os bens 
doados não vierem a caber em partilha ao doador (cfr. Justiça Portu* 
guesa, 1941, pág. 102 e segs., onde a hipótese é, correctamente, lencarada 
à luz da conversão dos negócios jurídicos).
O Outros exemplos de conversão:
a) Pode converter-se um pacto de preferência com eficácia real, 
nulo por vício de forma (art. 421.°), num pacto de preferência com 
eficácia obrigacional (art. 415.°)?
b) Pode converter-se uma confirmação de negócio nulo em ren o 
vação do mesmo negócio, se é que este último efeito não se obterá , 
muitas vezes, em sede interpretativa?
632 Teoria Geral do Direito Civil
2) Exige-se que a vontade hipotética ou conjectural das 
partes seja no sentido da conversão. Só haverá conversão, 
quando se imponha a conclusão de que as partes teriam 
querido o negócio sucedâneo se, na hipótese de se terem aper­
cebido do vício do negócio principal, não pudessem tê-lo cele­
brado sem essa deficiência. Trata-se de um requisito cuja exis­
tência deve ser averiguada à luz das particularidades do caso 
concreto.
Os efeitos económicos do negócio sucedâneo não podem 
exceder os eifeitos visados com o negócio inválido, pois isso 
contrariaria uma vontade hipotética construída sobre a base 
do negócio principal (p. ex., a constituição nula de um penhor 
de ooisas não pode transformar-se numa transmissão de pro­
priedade em garantia). A conversão é um meio adequado à 
realização, embora de forma mais limitada, dos fins das partes 
e corresponde à avaliação de interesse em que se basearam. 
Terá, portanto, lugar sempre que seja de presumir que as par­
tes, na falta da obtenção do resultado económico completo, 
teriam pretendido ao menos a realização parcial ou incompleta 
dos seus fins.
3) Ê frequentemente exigido pela doutrina que o negó­
cio sucedâneo diga respeito ao mesmo objecto material a 
que respeitava o negócio principal. Tal exigência é, porém, 
criticável, sendo preferível dizer-se que a conversão deve 
manter-se dentro do domínio negociai traçado pelas partes. 
Tal formulação exprime a ideia de que a vontade hipotética 
deve inferir-se da concordante finalidade jurídico-económica 
tida em vista pelas partes 0 (cfr. art. 293.° — «quando o fim 
prosseguido pelas partes permite supor») (2).
O Cfr. Eduardo Correia, in Boletim da Faculdade de Direito, 
vol. xxiv, 1948, pág. 387.
(*) Há que averiguar se as pairtes não terão atribuído um «peso» 
especial à forma jurídica escolhida, caso em que se denegará a con­
versão.
Teoria Geral do Facto Jurídico 633
Diversamente do que pretende F lu m e 0 não é necessário 
que o negócio sucedâneo tenha sido «realmente celebrado» 
como parte separável do negócio inválido. Esta situação não 
seria de conversão, mas de redução. Basta, para haver conver­
são, a prova de uma vontade hipotética nesse sentido (o resul­
tado não se produz automaticamente), mesmo que nada corres­
pondente ao negócio sucedâneo tenha sido «realmente cele­
brado».
III — Admissibilidade da conversão no nosso direito. 
— A conversão é genericamente regulada no artigo 293.°, onde 
são formulados requisitos coincidentes com os enunciados 
pela doutrina 0 . Acentue-se, a este propósito, que, diversa­
mente do que sucede com a redução dos negócios jurídicos, 
a conversão exige a prova da vontade hipotética ou conjectural 
das partes, não tendo lugar em caso de dúvida.
Deve entender-se, também, com fundamento nos arti­
gos 239.° e 334.°, que a conversão poderá ter lugar, indepen­
dentemente da vontade hipotética das partes, se a boa fé 
assim o exigir.
Para além desta norma — artigo 293.° — que resolve, em 
geral, o problema da conversão dos negócios jurídicos, 
a produção do mesmo fenómeno é, sem atender à vontade hipo­
tética, expressamente determinada em disposições particulares 
(conversão «ope legis»): artigo 946.°, n.° 2 (conversão legal das 
doações por morte em disposições testamentárias); artigo 1416.°, 
n.° 1 (nulidade do acto constitutivo da propriedade horizontal, 
por falta de requisitos legais^ implicando constituição de uma 
comptropriedade); artigo 2251.°, n.° 2 (legado de coisa alheia
O iFlume, ob. cit., § 329-C.
(*) No direito anterior ao novo Código Civil, era já admitida a 
conversão, não havendo texto algum a contrariá-la e, pelo contrário, 
havendo, pelo menos, dois artigos que estabeleciam casos nítidos de 
conversão: o artigo626.°, § 2.°, do Código Comercial, que continua em 
vigor, e o artigo 1801.° do Código Civil de Seabra.
634 Teoria Qeral do Direito ClvU
quo o testador supunha própria, convertido em legado do valor 
dessa coisa) Q) (*).
IV — A conversão e certas figuras próximas.
a) A conversão e a validade do negócio dissimulado na 
simulação relativa: o negócio dissimulado é realmente querido, 
enquanto o negócio sucedâneo, na conversão, corresponde 
apenas à vontade hipotética das partes.
b) A conversão dos negócios nulos ou anuláveis e a cha­
mada conversão formal dos negócios jurídicos: nesta última 
hipótese, não se trata, verdadeiramente, de conversão de 
negócios jurídicos, mas do simples aproveitamento de um 
documento, nulo enquanto documento de certo tipo, como 
documento menos solene (uma escritura pública, ferida de 
nulidade, poderá valer como documento particular, desde 
que subscrita pelas partes) (3).
c) A conversão e os negócios jurídicos com vontade 
alternativa: os negócios jurídicos com vontade alternativa
(*) Erguendo objecções à qualificação desta hipótese como con­
versão «ope legis», em virtude de haver alteração do objecto material 
do negócio, cfr. Castro Mendes, ob. cit., pág. 449. Não nos parece, 
todavia, justíficar^sie, como escrevemos (supra, u , 3) e resulta do 
artigo 293.*, a inclusão da identidade de objecto material entre os 
requisitos da conversão.
(*) Igualmente, da aplicação dos artigos 962.°, n.° 2, e 2289.°, pode 
resultar uma espécie de conversão — uma conversão quantitativa, «para 
mais»—, pois, se o testador instituir um fideicomisso em dois graus, 
a deixa (herança ou legado) de propriedade temporária ao primeiro 
fideicomissário (ou segundo fiduciário) amplia-se para um legado ou 
herança definitivos e perfeitos.
C) Cfr. Manuel de Andrade, pág. 436. Não se trata aqui de uma 
verdadeira conversão, porque o negócio continua a valer do mesmo 
modo— suposto, como é óbvio, que a lei o não obrigue a maior forma­
lismo que o do documento menos solene. Um caso sui generis é o da 
letra, que não podendo valer como tal, por falta dos requisitos legais, 
serve entretanto como prova da dívida subjacente que determinou 
a sua subscrição (Lei Uniforme, art. 2.°, a contrario).
Teoria Geral do Faoto Jurídico 635
são negócios em que as partes prevêem, desde logo, a hipó­
tese de o negócio visado, em primeira linha, ser nulo ou ine­
ficaz e manifestam a vontade de, nessa hipótese, valer um 
negócio de conteúdo diverso, que, de algum modo, satisfaz, 
em segunda linha, o seu interesse; o negócio sucedâneo 
assenta aqui na vontade real das partes, enquanto na con­
versão se baseia na vontade hipotética. -Um exemplo de negó­
cio com vontade alternativa é aquele a que se refere o Acórdão 
da Relação de Lisboa de 24 de Julho de 1964 0 ; trata-se de as 
partes realizarem uma promessa de compra e venda de um 
andar de um prédio em regime de propriedade horizontal, 
mas, prevendo a possibilidade de este negócio ser nulo, esti­
pularem que, nessa hipótese, passará a vigorar um arrenda­
mento.
O Cfr. Jurisprudência das Relações, tomo rv, ano x, pág. 691.

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