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Interpretação e elementos essenciais

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INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
Introdução - O Código Civil é lacônico ao tratar de interpretação do negócio jurídico. Ele o faz em três artigos:
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
Outros aspectos - Ao lado dos mencionados dispositivos, foram sendo construídos alguns critérios interpretativos pela doutrina, jurisprudência, bem como existem outros dispositivos sobre a interpretação de negócios específicos, como ocorre com os artigos 843, 819 e 1899 do Código Civil. 
Das regras tradicionais de contratação:
Doze regras de interpretação contratual propostas por Pothier, e incorporadas ao Código Civil Napoleônico, que são atuais até hoje:
1ª. Nos contratos, o que mais interessa é a intenção comum das partes e não o sentido literal das palavras. [Atente-se para a expressão “intenção comum” e não apenas “intenção das partes”]
 2ª. Quando uma cláusula admitir dois sentidos, deve ser interpretada de modo a que produza algum efeito. [Sugere-se uma interpretação funcional do contrato]
3ª. As expressões que possuem um duplo sentido interpretam-se de acordo com a natureza do contrato. [A interpretação deve dar ao contrato os seus efeitos normalmente esperados]
4ª. As expressões ambíguas interpretam-se de acordo com os costumes do país. [São os usos e costumes atuando como fonte do direito]
5ª. Os costumes locais estão subentendidos em todo contrato. [Os usos e costumes são utilizados para suprir as lacunas do contrato]
6ª. Na dúvida, os contratos interpretam-se contra o estipulante. [O erro de formulação deve ser imputado ao credor]
7ª. As cláusulas contratuais devem ser interpretadas umas em relação às outras. [O contrato forma um conjunto único e não um amontoado de cláusulas]
8ª. As cláusulas compreendem apenas o objeto do contrato, e não coisas não cogitadas. [A interpretação não pode desviar o fim contratual]
9ª. Os bens singulares estão todos englobados, formando uma universalidade. [Esta regra visa proteger a integralidade do objeto contratual]
10ª. Um caso expresso para exemplificar uma obrigação não restringe o vínculo.
11ª. Uma cláusula expressa no plural decompõe-se muitas vezes em cláusulas singulares.
12ª. O que está no fim do período relaciona-se com todo ele e não só com a parte antecedente, se com aquele concordar em número e gênero.
Dos elementos dos negócios jurídicos
Introdução – Os elementos dos negócios jurídicos, historicamente, podiam ser divididos em três categorias: essentialia negotii, acidentalia negotii e naturalia negotti. 
Tal classificação hoje leva em consideração também os três planos do negócio jurídicos: existência, validade e eficácia. 
Conceito de elementos essenciais: Os elementos essenciais são aqueles sem os quais os negócios não têm existência válida. Segundo Arnaldo Rizzardo: “A fim de se considerarem válidos os negócios jurídicos, alguns requisitos devem conter, sendo essenciais os que dizem com a sua própria formação. Não se confundem com os pressupostos, que são anteriores e primeiros, compreendendo a estrutura externa, ou os elementos constitutivos, desdobrados nas partes ou pessoas que participam da relação, na vontade, no seu objeto ou finalidade, e na regra jurídica incidente”.
Requisitos de validade – análise da norma. Os requisitos de validade estão basicamente dispostos no artigo 104 e seguintes. Para facilitar a compreensão, façamos a transcrição da norma.
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato.
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

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