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O papel da vontade e os Atos Jurídicos

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Atos jurídicos – Aspectos introdutórios
I – O papel da vontade na nomogênese (origem das normas) jurídica: A atividade do homem desenvolve-se em dois momentos distintos: conhecer e querer. Pelo primeiro apreendem-se os objetos e, pelo segundo, exercita-se uma faculdade em direção a um fim ou valor. A vontade, segundo Francisco Amaral, portanto, é questão que interessa à psicologia (a vontade é um impulso para algo, realização de um valor eticamente conhecido, atuando no mundo do “ser”), à ética (a vontade é uma disposição moral para desejar algo) , à filosofia (vontade é a atividade a que se atribui absoluta subsistência e se converte, por isso, em substrato de todos os fenômenos) e ao direito (a vontade é um dos principais motores para criação, modificação ou extinção de relações jurídicas, sendo regulada no mundo do “dever ser”).
I.1) Liberdade é a possibilidade do sujeito agir de acordo com a sua vontade. Juridicamente, é a possibilidade de a pessoa atuar com eficárica jurídica, possibilitando ao sujeito criar, modificar ou extinguir relações jurídicas. Encarada objetivamente é o poder de regular tais relações, dando-lhe conteúdos e efeitos determinados, reconhecidos e protegidos por lei.
II.2) A esfera de liberdade de que o agente dispõe no âmbito jurídico chama-se autonomia, direito de reger-se pelas próprias normas. Assim, genericamente, a autonomia da vontade seria o princípio de direito privado pelo qual o agente tem a possibilidade de praticar um ato jurídico, determinando-lhe o conteúdo, a forma e os efeitos. Concretamente, chama-se de autonomia privada a própria criação de normas jurídicas individuais a partir do próprio comportamento, complementando o ordenamento estatal. Outros estabelecem a diferença ao afirmar que a autonomia da vontade era a antiga denominação de princípio que trazia a impressão de ser fenômeno puramente volitivo, enquanto a autonomia privada revelaria a existência de freios ao poder da vontade.
II – Autonomia privada. Conceito, natureza, âmbito de atuação e limites – A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de sua própria vontade, as relações de que participam, estabelecendo-lhes o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica. É um dos princípios fundamentais do sistema de direito privado num reconhecimento de âmbito particular de atuação com eficácia normativa. Trata-se de projeção, no direito, do personalismo ético, concepção axiológica da pessoa como centro e destinatário da ordem jurídica privada, sem que a pessoa humana, embora formalmente revestida de titularidade jurídica, nada mais seria do que mero instrumento a serviço da sociedade. É sistema informador do sistema jurídico, funcionando como diretriz ou justificadora da configuração e funcionamento do próprio sistema. É ainda critério de interpretação (art. 112, 114, 819 e 1899 do C. Civ.). É por causa de tal princípio que se entendem a maior parte das normas jurídicas de direito como dispositivas e, as cogentes, devem ser interpretadas restritivamente.
II.1) Limites – ordem pública, bons costumes e boa-fé.
III – Fundamentos da autonomia privada. A liberdade e o personalismo ético. O direito civil tem por fundamento a igualdade entre os homens e foi elaborado historicamente em torno do reconhecimento de uma esfera de soberania individual, que tem suas manifestações no princípio da liberdade, com referência às pessoas, propriedade, com referência aos bens e contrato, com referência às atividades econômicas. Em termos imediatos, fundamento da autonomia privada é a liberdade individual, que filosoficamente refere-se ao poder de se optar por algo e juridicamente à possibilidade de praticar ou não, segundo motivações subjetivas, todo ato não ordenado nem proibido pelo ordenamento, ou mesmo de exercer ou não direitos que nos são assesgurados.
III.1) A liberdade jurídica se concretiza em duas manifestações: a) subjetiva, que é o estabelecimento, modificação ou extinção de relações jurídicas e b) objetiva, que é a normativização ou regulação jurídica dessas relações. O princípio da autonomia privada submeteu-se, nas últimas décadas, a um processo de revisão crítica, sendo reduzido pelo crescente intervencionismo estatal. Por outro lado, a mundialização da economia, com o crescente uso de contratos, o reconhecimento de uma pluralidade de fontes de direito e a arbitragem apontam para um recrudescimento da sua utilidade.
IV – A formação histórica do conceito. Fatores morais, políticos e econômicos na sua formação. Seu antecedente imediato é o individualismo, que traça o primado do homem frente à sociedade. Politicamente opõe-se ao estatismo, confundindo-se, no campo econômico, com as ideias liberais. Quanto à teoria das fontes do direito, admite ser o indivíduo a única fonte de regras do direito e a causa final de toada a atividade jurídica das Instituições, notadamente do Estado. 
Historicamente, o liberalismo deita raízes em Roma na lex privata, com importantes influências do cristianismo (colocando o homem no centro das reflexões e dogmatizando a declaração de vontade como fonte de obrigações), dos glosadores (que prestigiavam a autonomia da vontade no campo internacional), do direito natural (que considerava as liberdades individuais como fundamento e fim do direito), dos contratualistas (o homem é um ser essencialmente livre, mas abdica conscientemente de parte de sua liberdade por meio do contrato social) e de Kant.tem por fundamento a igualdade entre os homens e foi elaborado historicamente em torno do reconhecimento de uma esfera de soberania individual, que tem suas manifestações no princípio da liberdade, com referência às pessoas, propriedade, com referência aos bens e contrato, com referência às atividades econômicas. Em alguns países, a própria vontade é tida como fonte de direito, pensamento que não encontra respaldo no Brasil.
V – A função histórica da autonomia privada. Função ideológica. A autonomia da vontade traduz um poder de disposição diretamente ligado ao direito de propriedade, dentro do sistema de mercado da circulação dos bens por meio de troca, e de que o instrumento jurídico próprio é o negócio jurídico. Inicialmente seus fundamentos são a liberdade e a igualdade formal, posteriormente cambiada pela material. 
VI – Consequências da autonomia privada. Seu campo de incidência mais fecundo é a liberdade contratual, donde decorrem a força obrigatória dos contratos e sua relatividade. Podemos apontar ainda como consequências o consensualismo, a natureza supletiva das normas de direito privado e a teoria dos vícios de consentimento. No campo sucessório, há que se destacar a liberdade para testar. Na parte geral, a ideia de que os negócios jurídicos seriam fontes de direito também são implicações do princípio. Constitucionalmente, tem sede material no princípio da liberdade de iniciativa. 
A liberdade de contratar manifesta-se nos seguintes aspectos: liberdade de contratar, de escolher as partes do contrato, de estabelecer o tipo, o conteúdo, a forma e os efeitos do contrato.
VII – Críticas à autonomia privada. O desenvolvimento econômico trouxe novas figuras jurídicas – a empresa, o contrato de adesão, a massificação das relações jurídicas, entre outras inovações, que tornaram obsoletas as velhas respostas jurídicas. O individualismos passou a ser visto com maus olhos, pois, filosoficamente, o homem seria um animal social, o que indicaria uma contradição com o princípio estudado. Moralmente, há grande dificuldade em se harmonizarem liberdade e igualdade, o que faz com que o legislador limite a liberdade individual em prol da igualdade material. Economicamente, já se constatou que o mercado, por si, não pode regular isoladamente os meios de produção, sob pena de aprofundamento de crises cíclicas. Assim, no campo do direito privado, cada vez mais corrente é a expressão socialização do direito civil.
VIII – O intervencionismo estatal.
IX – A funcionalização dos institutos de direito privado. A autonomia privada emuma perspectiva funcional. Os direitos não existem por si, mas devem ser dotados de certa eficácia. A consequência imediata da afirmação é que os direitos passam a ser limitados por suas funções, evitando-se o abuso. Os interesses da sociedade, assim, sobrepõem-se ao indivíduo. Nascem, assim, os conceitos de função social da propriedade e dos contratos.
Ato jurídico em sentido estrito - entende-se por ato jurídico em sentido estrito o “fato jurídico que tem por elemento nuclear do suporte fáctico manifestação ou declaração unilateral de vontade cujos efeitos jurídicos são prefixados pelas normas jurídicas e invariáveis, não cabendo às pessoas qualquer poder de escolha da categoria jurídica ou de estruturação do conteúdo das relações jurídicas respectivas.”
Exemplos:
(a) atos jurídicos “stricto sensu ” reclamativos, consubstanciados em reclamações ou provocações, como acontece na interpelação para constituir o devedor em mora ou para que o credor exerça seu direito de escolha nas obrigações alternativas;
(b) atos jurídicos “stricto sensu ’’ comunicativos, constituídos por comunicações de vontade, que, de regra, têm a finalidade de dar ciência a alguém, figurante de uma relação jurídica, do querer de quem faz a comunicação — a essa categoria pertencem, por exemplo, a comunicação de escolha da prestação, a permissão para sublocar (quando exigida no contrato);
(c) atos jurídicos "stricto sensu” enunciativos, que consistem em exteriorizações (comunicações) de conhecimento (de representação) ou de sentimento, como o reconhecimento de paternidade e de maternidade fora do casamento, a confissão, o perdão, a quitação e. g.;
(d) atos jurídicos “stricto sensu" mandamentais, que se configuram em manifestações de vontade que se destinam a impor ou proibir um determinado procedimento por parte de outra pessoa; exemplos: a manifestação do proprietário para exigir que o dono do prédio vizinho proceda à sua demolição ou reparação, quando ameaça ruína (Código Civil, art. 1.280); o “prévio aviso” ao vizinho de que utilizará o seu prédio temporariamente quando seja imprescindível à reparação ou limpeza, construção ou reconstrução de sua casa (Código Civil, art. 1.313);
(e) atos jurídicos “stricto sensu ” compósitos, que consistem em manifestações de vontade que não bastam em si, pois necessitam de outras circunstâncias para se completarem, como é o caso, v. g ., da constituição de domicílio (fixação de residência + ânimo definitivo — Código Civil, art. 70), da gestão de negócio (vontade de gerir negócio alheio + efetiva gestão, Código Civil, art. 861). Essa categoria de ato jurídico stricto sensu, apesar da parte fáctica que integra seu suporte, não configura nem se confunde com os atos-fatos jurídicos, porque nestes, nos atos-fatos, a vontade é irrelevante, enquanto naqueles, o ato volitivo expresso constitui elemento nuclear do suporte fáctico.

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