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Francisco Amaral Professor Titular de Direito Civil e Romano na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro Da Academia Brasileira de Letras Jurídicas Da Accademia dei Giusprivatisti Europei Doutor Honoris Causa da Universidade Católica Portuguesa DIREITO CIVIL INTRODUÇÃO 6â Edição Revista e Aumentada de acordo com o novo Código Civil e leis posteriores RgNOVfíR Rio d e Janeiro • São Paulo • Recife 2006 ABPDEA AE AE IÄ ABPDEA Associação Brasileira pars a Proteção dot Direitos EriUortaU. g Atiloraü R ü S P E IT E O A l)T O II N à o F a ç a C o p i a CAPÍTULO XVIII Prescrição e Decadência Sumário: 1. O tempo como fato jurídico. 2. A relação jurídica e seu conteúdo. 3. Exigibilidade e exercício de direitos. 4. Prescrição. Conceito. Fundamento. Objeto. 5. Decadência. Conceito. Fundamento. Objeto. 6. Prescrição e decadência. Comparação. 7. Regras gerais da prescrição. 8. Renúncia da prescrição. 9. Impedimento e suspensão. 10. Interrupção da prescrição. 11. Prazos prescricionais. 12. Prazos de decadência. 13. Os prazos prescricionais em matéria de direito intertemporal. 1. O tempo como fato jurídico O tempo é fato jurídico natural de grande importância nas rela ções jurídicas pela influência que pode ter na gênese, exercício e perda dos respectivos direitos. Desde a concepção do ser humano, o tempo influi nas relações jurídicas de que o indivíduo participa. Até o nascimento, o ser em potência já é centro autônomo de direitos, sujeito de direitos; para certos setores da doutrina e da legislação mais recente tem, inclusi ve, personalidade jurídica. Até completar 16 anos, é absolutamente incapaz; aos 18, atinge a plena capacidade de fato, que lhe poderá, entretanto, ser antecipada pela emancipação aos 16 anos (CC, art. 52,1). Também com esta idade, o menor já pode exercer o comér cio, função pública e ser eleitor.1 1 A Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, estabelece que o voto é 561 Para efeitos penais, o menor com menos de 18 anos é inimputá* vel, sendo objeto da aplicação de normas especiais, devendo ser in ternado em estabelecimento próprio, se demonstrar excessiva pcri- culosidade.2 Na aplicação da pena, a idade é atenuante para os me nores de 21 e maiores de 70 anos. Para efeitos de cidadania, o .h maiores de 16 anos podem ser eleitores, mas só maiores de 18 anos podem ser eleitos vereadores, maiores de 21 anos, deputados fede rais ou estaduais e maiores de 35 anos, senadores ou presidentes da República. A idade de 60 anos garante prioridade às pessoas na efetivação dos seus direitos fundamentais e de personalidade, na forma da Lei nü 10.741, de 1Q de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso). Para fins de exercício profissional, menores de 18 anos não po dem trabalhar em indústrias insalubres, ou à noite; menores de 14 anos são impedidos de trabalhar, salvo como aprendizes.3 Embora tais condições sejam, na maioria, de direito público, é no campo do direito privado que se nota maior influência do tem po, tanto no nascimento quanto no exercício e extinção dos direi tos. Assim, por exemplo, nos negócios jurídicos a termo, inicial ou resolutivo, na abertura de sucessão provisória (CC, art. 26, CPC, art. 1.159) e em todos os casos em que o decurso do tempo provoque a extinção ou surgimento de direitos. A disciplina da influência do tempo nas relações jurídicas é ob jeto de três institutos de direito civil: a usucapião ou prescrição aqui sitiva, que leva à aquisição de direitos, a prescrição extintiva e a deca dência, que levam à extinção. O primeiro estuda-se na parte dos di reitos reais, por ser forma de aquisição da propriedade. Os demais, referentes aos direitos subjetivos in genere, disciplinam-se na parte geral do Código Civil. 2. A relação jurídica e seu conteúdo. A compreensão da importância do tempo como fato jurídico pressupõe o conhecimento da relação jurídica, na sua estrutura e função. facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (art. 14, § l2, II, c). 2 Constituição Federal, art. 228, e Lei nQ 8.069, de 13 de julho de 1990, art. 104. 3 Constituição Federal, art. 72, item XXXIII. Contém a relação jurídica vária* espécies de direitos, correspon dentes às diversas formas por que os sujeitos exercem o seu poder sobre o objeto da respectiva relação. As espécies mais importantes são o direito subjetivo, a preten são, o direito potestativo e as faculdades jurídicas. Direito subjetivo, como já estudado, é o poder que o ordena mento jurídico reconhece a alguém de ter, fazer ou exigir de ou trem determinado comportamento. E verdadeira permissão juríd i ca, ou ainda, é um poder concedido ao indivíduo para realizar seus interesses. Representa a estrutura da relação poder-dever, em que ao poder de uma das partes corresponde o dever da outra. Da infração desse dever resulta, nas relações jurídicas patrimo niais, um dano para o titular do direito subjetivo. Nasce, então, para esse titular, o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão, que permite a composição do dano verificado. A esse direito de exigir chama a doutrina de pretensão, por influência do direito alemão (BGB, § 194), principalmente Windscheid,4 que transferiu para o direito substantivo privado a actio, direito subjetivo processual do direito romano e do antigo direito comum alemão. Temos, então, a pretensão de direito privado distinta da pretensão de “proteção ju rídica”, ou “direito de ação”, que é o direito subjetivo público de invocar a tutela jurisdicional do Estado para a realização de seu direito, reparando-se o dano causado pelo agente infrator. A pretensão revela-se, portanto, como um poder de exigir de outrem um a ação ou omissão. E, para alguns, sinônimo de direito subjetivo, embora com conotação dinâmica, enquanto aquele é es tático e, para outros, ainda, uma situação jurídica subjetiva.5 A pretensão que nasce no momento em que o credor pode exi gir a prestação, e esta não é cumprida, causando lesão no direito subjetivo, pressupõe, assim, a existência de um crédito, com o qual não se confunde. Por exemplo, se o vendedor, em um contrato de compra e venda, se compromete a receber o preço em prestações mensais, vencíveis a cada dia 30, no momento em que fez o contrato tornou-se credor, titular de um crédito, mas o direito de exigir a prestação, que configura a pretensão, só nasce a cada dia 30, no respectivo vencimento, se não se verificar o pagamento. 4 Windscheid. Diritto delle Pandette, p. 183 e segs. 5 André Fontes. A pretensão como situação jurídica subjetiva, p. 66 e segs. Embora a pretenaâo acja um conceito técnico jurídico aplicável às várias espécies de relações jurídicas» em tese, é nas obrigações que ele encontra a sua natural aplicação. A sua função mais importante é a de traduzir uma legitimação material para exigir uma prestação determinada, o que a relaciona intimamente com o direito proces sual civil. Contraposto ao conceito de pretensão existe o de exceção, direi to que se tem de impedir a eficácia de um direito subjetivo de ou trem. Funciona como um contradireito ou, tecnicamente, um direito de negar o cumprimento da prestação devida, correspondente ;'i pretensão do credor. As exceções podem ser permanentes e transi tórias ou dilatórias. As primeiras impedem a “imposição judicial” da pretensão perpetuamente; as segundas, temporariamente. Na hipótese de exceção permanente, o crédito a que correspon de a respectiva prestação contrariada é tido como não subsistente, <* o exemplo mais notório dessa hipótese é a prescrição. Existem, porém, direitos subjetivos que não fazem nascer pre tensões, porque destituídos dos respectivos deveres. São direitos po- testativos. O direito potestativo é o poder que o agente tem de influirna esfera jurídica de outrem, constituindo, modificando ou extinguin do uma situação subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa se não sujeitar-se. São direitos potestativos o do patrão dispensar o em pregado, o do doador revogar a doação simples, o do representado revogar a procuração, o do agente ocupar res nullius, o de se aceitai ou não a proposta de contratar, o de se aceitar ou não herança, o de estabelecer uma passagem forçada para prédio encravado em outro. Como o direito potestativo é o dever de determinar mudanças na situação jurídica de outro sujeito, mediante ato unilateral, sem que haja dever contraposto e correspondente a esse poder, chama- se, também, direito formativo ou de formação. O lado passivo da relação jurídica limita-se a sujeitar-se ao exercício de vontade da outra parte. E não havendo dever, não há o seu descumprimento, não há lesão. Conseqüentemente, não há pretensão. O conceito de pretensão serve, assim, para distinguir os direitos subjetivos dos potestativos. Como estes não podem ser lesados, seus titulares não têm pretensão, como ocorre nos direitos subjetivos. As faculdades jurídicas são também poderes de agir contidos nos direitos subjetivos. Deles diferem porque neles estão contidas e, por isso, deles dependem. O direito subjetivo configura-se, assim, como uma faculdade ou um conjunto delas (v. capítulo V, item 11). Além dessas diversas espécies de direitos, outras noções se fazem indispensáveis para o perfeito entendim ento do que sejam a prescri ção e a decadência, como a de exigibilidade e de exercício desses direi tos. Exigibilidade é qualidade do direito que pode ser reclamado em pagamento. É típico das obrigações. Exercício é o uso que se faz de um direito. Com o fim de proteger a segurança e a certeza, valores funda mentais do direito moderno, limitam-se no tempo a exigibilidade e o exercício dos direitos subjetivos, fixando-se prazos maiores ou me nores, conforme a sua respectiva função. Para os direitos subjetivos, a lei fixa prazos mais longos, que po dem ser suspensos e interrompidos, durante os quais se pode exigir o cumprimento desses direitos, ou melhor, dos respectivos deveres. Já para os direitos potestativos, os prazos são mais rígidos, isso por que esses direitos devem exercer-se em brevíssimo tempo. Tal distinção é fundamental. Para as faculdades jurídicas, o tempo não conta. Como simples manifestações dos direitos subjetivos em que se contém, a falta de seu exercício não prejudica esses mesmos direitos. As faculdades jurídicas não se extinguem pelo decurso do tempo. In facultativis non daturpraescriptio (nas ações facultativas não corre a prescrição). O tempo é, assim, fator de limitação do exercício dos direitos. E a figura técnica que exprime a extinção dos direitos e suas preten sões pela inércia do respectivo titular no tempo devido é a chamada caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extinção de direitos em geral, e em sentido restrito, perda dos direitos potestativos quando toma o nome de decadência. Seu fundamento é o princípio da inad missibilidade da conduta contraditória.6 3 . Exigibilidade e exercício de direitos 4. Prescrição. Conceito. Fundamento. Objeto Com os elementos referidos, já é possível estabelecer-se o con ceito da prescrição e da decadência. Prescrição é a perda da pretensão em virtude da inércia do seu titular no prazo fixado em lei (CC, art. 189). Se o lesado pelo des- cumprimento do direito subjetivo não agir no período legal, invo- 6 Heinrich Lehmann. Tratado de derecho civil, p. 522. cando a tu tel ajuri adicional do Estado para a proteção do seu crédi to, extingue-se a sua pretensão de exigibilidade quanto ao seu direito subjetivo e permite a convalescença da lesão verificada no seu direi to subjetivo.7 De modo geral, a prescrição aplica-se apenas aos direi tos subjetivos patrimoniais, especificamente às obrigações em senti do técnico. A exceção, isto é, o direito de contrapor em defesa o direito com pretensão prescrita, prescreve no mesmo prazo da pretensão (GC. art. 190). A obrigação prescrita transforma-se, desse modo, em obrigação natural, que é aquela em que o credor não dispõe de ação judicial para exigir do credor o pagamento mas, no caso deste ser feito» pode retê-lo. Para que se configure a prescrição é preciso que se reúnam oh seguintes elementos: a) um direito subjetivo lesado, do que necessa riamente nasce uma pretensão de ressarcimento; b) a não exigência do cumprimento do respectivo dever, ou do ressarcimento do dano; c) o decurso do prazo que a lei estabelece para essa exigência. Reunidos tais elementos, estabelece o direito a perda da preten são não exercida. Justifica-se a prescrição pela necessidade de paz, ordem, segu rança e certeza jurídica. Não houvesse tal instituto, a qualquer mo mento poder-se-ia voltar a superadas pretensões e a antigos litígios. Pode-se assim dizer que, de modo geral, o que se protege é o interesse público,8 embora, de modo particular, se reconheça que a prescrição é imposta, tendo em vista, principal e imediatamente, o interesse do sujeito passivo e, secundária e mediatamente, o interes se geral. Com a prescrição pune-se também a negligência do titular do direito subjetivo lesado. A prescrição refere-se, portanto, a direito subjetivo já fixado c constituído em relação jurídica preexistente, de natureza patrimo nial. A prescrição ocorre, portanto, segundo respeitável opinião dou trinária, apenas no campo das obrigações,9 em direitos subjetivos patrimoniais e disponíveis. Sua razão de ser está em que a prescrição traduz a recusa da ordem jurídica em proteger a negligência do 7 San Thiago Dantas. Programa de direito civil, p. 399. 8 Aníbal de Castro. A caducidade na doutrina, na lei e na jurisprudência, p. 26. 9 Dias Marques. Noções elementares de direito civil, p. 108. credor, forçando o pronto exercício do seu direito, visando assim manter a certeza e a segurança nas relações jurídicas. A prescrição tem por objeto, então, direitos subjetivos patrimo niais e disponíveis, basicamente as obrigações. Não afeta por isso os direitos de personalidade, os direitos de estado e os direitos de fa mília, que são irrenunciáveis e indisponíveis. Os direitos ou as rela ções jurídicas afetadas pela prescrição são objeto de ações condena- tórias, que visam compelir o devedor a cumprir sua obrigação ou a puni-lo no caso de inadimplemento. A prescrição não opera, porém, de pleno direito. Deve ser ale gada pela parte interessada (CC, art. 193), como exceção, meio de defesa. 5. Decadência. Conceito. Fundamento. Objeto Decadência é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado em lei. Seu fundamento, como na prescrição, é a necessidade de certe za e segurança nas relações jurídicas, com paz e ordem na socieda de. Seu fim predominante é o interesse geral, ao contrário da pres crição em que o interesse básico é individual, do devedor da obriga ção. Seu objeto são os direitos potestativos, de qualquer espécie, dis poníveis e indisponíveis, direitos que conferem ao respectivo titular o poder de influir ou determinar mudanças na esfera jurídica de outrem, por ato unilateral, sem que haja dever correspondente, ape nas uma sujeição. A decadência traduz-se, portanto, em uma limitação que a lei estabelece para o exercício de um direito, extinguindo-o e pondo termo ao estado de sujeição existente. Aplica-se às relações que não contêm obrigações, sendo objeto de ação constitutiva. Na decadên cia, ainda, o prazo começa a correr no momento em que o direito nasce, surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo, o que não ocorre na prescrição, em que este só corre da lesão do direito subjetivo. O que se tem em mira é, portanto, o exercício do direitopotestativo, não a sua exigibilidade, própria da prescrição. O respectivo prazo é rigidamente fixado, sem possibilidade de inter rupção ou suspensão, e também menor do que o da prescrição. 568 Direito Civil — Introdução A decadência é estabelecida em lei ou pela vontade das partes em negócio jurídico,10 desde que se trate de matéria de direito dis ponível e não haja fraude às regras legais. Enquanto a prescrição deve ser alegada pela parte interessada, a decadência não é “susce tível de oposição, como meio de defesa”.11 6. Prescrição e decadência. Comparação Tanto a prescrição quanto a decadência são formas de extinção de direitos, constituindo-se ambas em prazos extintivos. No entanto, a doutrina tem procurado estabelecer alguns critérios diferenciado* res, apreciáveis quanto às semelhanças e quanto às diferenças. No caso das semelhanças, os pontos de identidade reúnem-se de acordo com três critérios: a própria natureza, o fundamento e o fator deter minante. Quanto à sua própria natureza, ambas são institutos jurídicos que se constituem em causa e disciplina da extinção de direitos. Quanto ao seu fundamento, baseiam-se no princípio de ordem pública que visa preservar a paz social, a certeza e a segurança no comércio ju rí dico. Quanto ao fator determinante, na verdade dois: a inércia don titulares dos direitos em questão e o decurso do tempo prefixado cm lei. No que respeita às diferenças, há também que distinguir: a) quanto ao objeto, a prescrição atinge pretensões de direito* subjetivos patrimoniais disponíveis, não afetando direitos indisponí veis, como os de personalidade, os de família, os de estado e tambem as faculdades jurídicas. A decadência atinge direitos potestativON, disponíveis ou indisponíveis. Todavia, a prescrição não opera dr pleno direito, devendo ser alegada como exceção ou defesa, pelo devedor, ao ser-lhe cobrada a prestação devida; b) na prescrição, o legislador visa consolidar um estado de fíito» transformando-o em estado de direito; na decadência, limita-se no tempo a possibilidade de exercício de direito, modificando-se uiílM situação jurídica;12 c) com a prescrição, pune-se a inércia no exercício de pretennAo que devia ser exercida em determinado período; na decadência» 10 Aníbal de Castro, p. 25. Cf. Código Civil português, art. 330a. 11 Aníbal de Castro, p. 152. 10 r«t UnrutHn pMc/TÍfirt«/» o AomAmiitéi n 499 Prescrição e Decadência 569 priva-se do direito quem deixou de exercê-lo na única vez que a lei concede.13 A decadência seria, portanto, decorrente da inobservân cia de um “ônus de observância peremptória de um termo, no exer cício de um direito potestativo, e a prescrição, a falta do exercício do direito em certo tempo”; d) na prescrição o prazo, começa a correr quando o direito sub jetivo é violado, momento em que nasce a pretensão do credor de ver cumprida a obrigação, ou ressarcido o dano a ele imposto pelo devedor inadimplente; na decadência, o prazo corre desde que o direito nasce;14 e) a prescrição supõe um direito (pretensão) nascido e efetivo, mas que pereceu pela falta do exercício da ação contra a violação sofrida; a decadência supõe um direito que, embora nascido, não se tornou efetivo pela falta de exercício.15 Quanto ao interesse que se visa proteger, como já exposto, a prescrição destina-se a favorecer, em primeiro lugar, o interesse par ticular do devedor. A decadência contempla o interesse geral de paz, certeza e segurança nas relações jurídicas. Quanto à natureza das ações em jogo, na prescrição deixa de exercitar-se uma ação que visa uma sentença destinada a permitir que o credor-vencedor possa exigir do devedor-vencido a prestação devida ou o seu equivalente valor, condenatória portanto, enquanto na decadência a ação c constitutiva, isto é, dá origem a uma nova situação jurídica; por outro lado, a prescrição inviabiliza a ação cre- ditória mas permite a retenção de eventual pagamento feito pelo devedor, o que transforma a dívida prescrita em verdadeira obriga ção natural (CC, art 882). No que respeita à fluência dos respectivos prazos, a prescrição interrompe-se por qualquer das causas legais incompatíveis com a inércia do sujeito; a decadência opera de maneira fatal, atingindo irremediavelmente o direito, se não for oportunamente exercido.16 A decadência não se suspende ou interrom pe pelas causas sus pensivas ou interruptivas da prescrição (CC, art. 207). Os prazos são peremptórios, fatais. Ainda quanto à função do prazo estabelecido, no caso de prescrição, a lei fixa o período de tempo em que deve 13 Francesco Messineo. Manuale di diritto civile e commercial#, I, p. 193. 14 Câmara Leal. Da prescrição e da decadência, p. 123. 15 [dem, ibidem. 16 Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de direito civiL li n. 410. vit«nw vnii —" iHklVWUyVW exercer-se o direito, enquanto na decadência o prazo limita o excu* cicio do direito. 7. Regras gerais da prescrição A prescrição está regulada na parte geral do Código Civil, arliUi 189 a 206. Suas regras são de ordem geral e de ordem especial. São de ordem geral as pertinentes à sua alegação e à extinção de direi* tos. Entre as primeiras temos: a) qualquer interessado, pessoa natural ou jurídica, pode alegar a prescrição, em qualquer grau de jurisdição (menos em recurso extraordinário, perante o Supremo Tribunal Federal)17 (CC, art, 193); no caso de incapazes, a prescrição deve ser alegada por seu# representantes. A possibilidade de invocar a prescrição constitui dl* reito subjetivo; b) o juiz não pode suprir de ofício a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz (CC, art. 194); c) a prescrição começa a correr do momento em que nasce o direito de exigir (pretensão) a reparação do dano. A prescrição ini ciada contra uma pessoa contínua a correr contra seu sucessor (CG, art. 196), seja herdeiro legatário ou cessionário; é o princípio dfcl accessio temporis\ d) prescrito o direito principal, prescritos seus acessórios. Assim, prescrita a pretensão de cobrar a dívida, prescritos os juros e os <iireitos reais que a garantiam como penhor ou hipoteca; e) os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou a alegarem oportunamente (CC, art. 195). £ . Renúncia da prescrição Entre as normas gerais da prescrição incluem-se ainda as que dizem respeito à renúncia. O devedor pode deixar de alegar a prescrição que o beneficia, a ^ la renunciando. E preciso, porém, que a prescrição esteja consu m ada e que a renúncia não prejudique terceiros. Prescrição consu m ada é a que teve seu prazo totalmente decorrido. 1 7 Washington de Barros Monteiro. Curso de direito civil Parte geral, p. 286. rr«9tnv«u v vwnuviwa 99 I A renúncia é o ato jurídico pelo qual o titular de um direito dele se desfaz,18 constituindo-se em um modo geral de extinção de direi to. Como ato jurídico que é, requer agente capaz. No caso da prescrição, a renúncia vale apenas se feita, sem pre juízo de terceiro, depois de consumada, quando já integra o patri mônio do prescribente (aquele em favor de quem ocorre a prescri ção) (CC, art. 191). Consumada a prescrição, o devedor tem seu patrimônio acresci do, pois deixa de indenizar o dano causado ao credor, com o não- pagamento da obrigação. Pode, entretanto, renunciar a essa vanta gem, desde que não prejudique terceiros, isto é, credores, os quais poderão opor-se a essa diminuição patrimonial que lhes reduz as garantias de recebimento de seu crédito. A renúncia pode ser expressa e tácita. Verifica-se esta quando o interessado pratica atos incompatíveis com a prescrição, como, por exemplo, o pagamento total ou parcial de dívida prescrita, a oferta de garantias ao credor, o pedidode prazo para pagamento, a nova ção ou qualquer outro ato que implique reconhecimento do direito de credor.19 A renúncia expressa é a que resulta de ato inequívoco do prescribente, para o que não impõe a lei forma determinada. Sendo instituto de ordem pública, as partes não podem conven cionar, por exemplo, renúncia à prescrição antes de decorrido o prazo legal. Não fosse assim, jamais se consumaria a prescrição, visto que, se admissível renúncia antecipada, uma cláusula inserta nos contratos sempre impediria que a prescrição se verificasse. Também inadmissível convenção sobre aumento ou encurtamento dos pra zos prescricionais (CC, art. 192). 9. Impedimento e suspensão O curso da prescrição pode ser impedido, suspenso e interrom pido por fatores diversos, obedecendo o impedimento, a suspensão e a interrupção a normas jurídicas de ordem pública contidas no Código Civil, arts. 197 a 204. Impedimento da prescrição é o obstáculo ao curso do respectivo prazo, antes do seu início. Constitui-se em um fato que não permite comece o prazo prescricional a correr. 18 Clóvis Beviláqua. Comentários ao Código Civil, art. 161 do Código de 1916. 19 Clóvis Beviláqua. Teoria geral do direito civil, p. 329. 572 Direito Civil — Introdução Suspensão é a cessação temporária do curso do prazo prescricio- nal sem prejuízo do tempo já decorrido. Resulta de fato surgido após o início do curso do prazo prescricional, suspendendo-o en quanto permanecerem tais causas e prosseguindo quando cessarem. Na suspensão, não se perde o tempo já decorrido. Cessando as cau sas suspensivas, a prescrição continua a correr, aproveitando-se o tempo anteriormente decorrido. Os prazos de decadência não ad mitem impedimento, suspensão nem interrupção, a não ser nos ca sos previstos em lei (CC, art. 207). Suspensa a prescrição, o direito subjetivo permanece inextinguí vel pelo decurso do tempo, embora inerte seu titular. O devedor fica também impossibilitado de invocar a prescrição contra o credor. Relativamente a terceiros, a suspensão beneficia todos os credores solidários, desde que a obrigação seja indivisível (CC, art. 201). Se não for, pode beneficiar apenas um desses credores. O impedimento e a suspensão são da mesma natureza pelo que, embora com diferenças técnicas, se reúnem no mesmo complexo de regras, arts. 197 a 201 do Código Civil. A lei estabelece as hipóteses de impedimento do curso prescri cional nos arts. 197; 198,1; 199,1, II e III, e de suspensão, no art. 198, II e III. O art. 197 determina não correr a prescrição entre os côn juges, na constância da sociedade conjugal; entre os ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; entre tutelados e curatela- dos e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela. Por analogia, não deve correr a prescrição entre os conviventes na vigên cia da união estável. O art. 198 dispõe ainda que não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes, os ausentes do país, em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios e contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas em tempo de guerra, mas corre a favor deles,20 isto é, as suas dívidas prescrevem, seus créditos, não. Na verdade, a primeira hipótese é de impedimento quando se refere aos menores de 16 anos, já que, contra esses, a prescrição jamais poderia começar a correr, podendo ser impedimento ou suspensão nos demais casos, conforme a incapacidade seja anterior ou super veniente ao início do curso prescricional. O dispositivo destina-se a proteger os que não podem exercer seus direitos, de modo absoluto, e os que se ausentam do país, por 20 Carvalho Santos. Código Civil brasileiro interpretado, III, p. 408. Prescrição e Decadência 573 motivo de serviço ou de guerra (contra non volentem agere nun currit praescriptio) ,21 O art. 199 completa os dois artigos anteriores, dispondo não correr a prescrição nos casos em que esteja pendente condição sus pensiva, em que não esteja vencido o prazo, ou em que seja penden te ação de evicção. No primeiro caso, subordinada a aquisição de um direito à condição suspensiva, somente depois desta realizada é que se adquire o direito e seu titular pode agir, sujeitando-se à pres crição eventual. Enquanto não existir o direito, não pode existir a pretensão e a respectiva ação que a assegura. No segundo caso, a observação é semelhante. Enquanto não vencido o prazo prefixado, o direito não se configura. Conseqüentemente, não há pretensão a prescrever. A última exceção do artigo significa que o adquirente de coisa não pode invocar a prescrição em seu favor, se terceiro propuser ação de evicção e enquanto não for essa julgada. O seguinte exemplo ilustra a hipótese: A compra um imóvel a J3, o qual, apesar da venda, se nega a entregá-lo ao comprador A , que dispõe de ação competente para exigir a entrega do imóvel e a imis- são na sua posse. A ação deve ser proposta no prazo de 10 anos, conforme o art. 205 do Código Civil. Esse prazo não correrá, toda via, se terceira pessoa, C, mover ação de evicção contra A , alegando ser dono do imóvel. Evicção é a perda de um direito sobre uma coisa em virtude de uma sentença que reconhece terceiro como titular desse direito. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença de finitiva (CC, art. 200). Só após decisão criminal, transitada em ju l gada, é que começa a correr o prazo prescricional22. O art. 201 é o último a contemplar o impedimento e a suspensão da prescrição. No caso de credores solidários, suspensa a prescrição em favor de um deles, só aproveitam os outros se o objeto da obri gação foi indivisível, que é aquela cuja prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico (CC, art. 258). 21 “Não corns a prescrição contra os que não podem agir voluntariamente," 99 Lot tifo. (lúditro Civil comentado, o. 539. 574 Dlnlto Civil — Introdução Aléra desses artigos do Código Civil, outros dispositivos existem, contidos em leis extravagantes, referentes a casos de impedimento e suspensão do curso da prescrição. 10. Interrupção da prescrição Interrupção da prescrição é o fato que impede o fluxo normal do prazo, inutilizando o já decorrido. Só pode ocorrer uma vez (CC, art. 202). Difere do impedimento e da suspensão pelos seguintes aspectos: a) no impedimento, a prescrição não corre; na suspensão, a prescrição corre até ser paralisada. Cessada a causa da paralisação, o curso anterior prossegue, valendo o prazo anteriormente decorri do. Na interrupção, paralisado o curso da prescrição, inutiliza-se o tempo anterior. Desaparecendo a causa interrompida, inicia-se novo prazo prescricional; b) no impedimento e na suspensão, os fatos que as determinam não dependem da vontade humana, são fatos objetivos. Na interrup ção, são fatos subjetivos, dependentes da vontade do agente. O Código Civil estabeleceu no art. 202 os fatos que interrompem a prescrição: I) despacho do juiz, mesmo incompetente, ordenando a citação, desde que o interessado a promova no prazo de 10 dias (CC, art. 202,1, combinado com o CPC, art. 219, §§ 1- e 22); II) protesto nas condições do inciso antecedente; III) protesto cambial; IV) apresentação do título de crédito em inventário ou em con curso de credores; V) qualquer ato judicial que constitua o devedor em mora; VI) qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que im porte reconhecimento do direito pelo devedor. A prescrição interrompida recomeça a correr do ato que a inter rompeu ou do último do processo para interrompê-la (CC, art. 202, parágrafo único). Na verdade, inexiste um processo específico para interromper a prescrição.O processo a que a lei se refere é o mesmo cuja citação inicial interrompeu a prescrição (art. 202,1). Desta for ma, a prescrição recomeça a correr a partir do último ato do proces so iniciado pela citação que a interrompeu. Tratando-se de inter rupção, inutiliza-se o tempo já decorrido. Quanto à legitimidade para promover a interrupção da prescri ção, qualquer interessado pode fazê-lo, por exemplo, o titular do rmggMtyav o uvwaunnvio wr i* direito cm via de prescrever, o seu representante legal, terceiro com legítimo interesse, como o credor do credor contra quem corre a prescrição, o fiador deste credor etc. (CC, art. 203). A prescrição m o se interrompe, porém, com a citação nula por vício de forma, por circunduta, ou por se achar perempta a instân cia ou a ação. Citação nula por vício de forma é a que não obedece aos requisitos que a lei estabelece para a realização desse ato. Com parecendo, porém, o réu para argüir a nulidade, e sendo esta decre tada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele, ou seu advo gado, for intimado da decisão (CPC, art. 214, § 2-). Citação circun duta é a que não produz efeitos por ter sido feita sem as prescrições legais, tendo caído em desuso essa denominação com o advento do Código de Processo Civil. Perempção da instância significa a extin ção do feito com absolvição da instância. Perempção da ação signi fica perempção do direito.23 São efeitos da interrupção da prescrição: a) inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido, começan do a correr novo prazo. O ato interruptivo é normalmente instantâ neo, mas a interrupção se faz por meio de citação pessoal ao deve dor. O reinicio da prescrição começa do último ato do processo (CC, art. 202, parágrafo único); b) o direito subjetivo atingido é beneficiado pela interrupção, dilatando-se o período para composição do dano; essa vantagem para o titular do direito subjetivo ofendido corresponde às desvan tagens para o prescribente, que vê retardado o benefício que lhe poderia advir da prescrição; c) a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; igualmente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica os demais co-obrigados (CC, art. 204). A interrupção por um dos credores solidários, aproveita aos ou tros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros (CC, art. 204, § l 2). Havendo solidariedade passiva, a interrupção contra um dos herdeiros de um dos co-devedores só prejudicará aos outros co-her- deiros e os outros co-devedores solidários se as obrigações forem indivisíveis (CC, art. 204, § 22). A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador (CC, art. 204, § 3-). 23 Wilson Bussada.. Código Civil brasileiro interpretado pelos tribunais, III, p. 172. 576 Direito Civil — Introdução 11. Prazos prescricionais O Código Civil brasileiro estabelece as regras e os prazos prescri cionais na Parte Geral (CC, arts. 205 e 206), deixando, em princípio, a disciplina dos prazos decadenciais para a Parte Especial. Os prazos prescricionais dividem-se em duas espécies: Prazo geral (prescrição comum ou ordinária) e prazos especiais (prescrição especial). O primeiro, mais longo e único, destina-se às ações de caráter ordinário. Os segundos, a certos direitos expressa mente mencionados. O prazo geral da prescrição está previsto no art. 205 do Código: “a prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe aja fixado prazo menor.” Os prazos especiais podem ser anuais, bienais, trienais, quadrie nais e qüinqüenais, como disposto no Código Civil, arts. 206, §§ 1u, 2S, 3Ô, 4Q e 5S. 12. Regras gerais da decadência A decadência, como já visto, difere da prescrição, no sentido d<? que é a perda de um direito potestativo, pela inércia do seu titular, no prazo que a lei estabelece. Ambas são formas de extinção de direitos. Salvo, porém, disposição em contrário, não se aplicam X decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição (CC, art. 207). No entanto, aplica-se à decadência 0 disposto nos arts. 195 e 198,1 (CC, art. 208). Sendo matéria de ordem pública, dispõe a lei (CC, art. 209) qu<? énula a renúncia à decadência fixada em lei, sendo de admitir-se, \\ cmtrario sensu, ser válida a renúncia à decadência estabelecida em negócio jurídico pelas partes24. No caso de decadência legal, deve o juiz conhecê-la de ofício (CC, art. 210). No caso de decadência convencional, o interessado, isto é, a parle a quem aproveita, pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação (CC, art. 211). 24 Renan Lo tufo, p. 559. Prescrição e Decadencia 577 13. Os prazos prescricionais em matéria de direito intertemporal Interessante questão de direito intertemporal, diretamente liga da à exigibilidade dos direitos, é o conflito de normas jurídicas no tempo, tendo por objeto a fixação de prazos prescricionais. 0 art. 6Q da Lei de Introdução ao Código Civil dispõe sobre a matéria, estabelecendo que “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” Idêntica disposição encontra-se na Constituição Fe deral, art. 5Q, XXXVI. Consagram-se assim os dois princípios teóri cos sobre a matéria: a) o do efeito imediato da lei, no sentido de que a lei nova se aplica imediatamente, isto é, no momento em que se torna obrigatória; e b) o da irretroatividade, segundo o qual os fatos ocorridos na vigência da lei antiga continuam por ela regidos, em nome da segurança jurídica. Quando uma lei nova entra em vigor, configuram-se três espé cies de situação jurídica: a) as pretéritas, iniciadas e findas antes da vigência da nova lei, b) as pendentes, iniciadas antes da vigência da lei e ainda não extintas, e c) as futuras, iniciadas após a vigência da lei nova e ainda não concluídas. No que diz respeito aos prazos prescricionais, o problema surge nas situações jurídicas pendentes (facta pendentia), quando a lei nova incide sobre um prazo em curso. As situações pretéritas, já consolidadas, estão a salvo da lei nova. Com ela, também, consoli- dar-se-ão as situações futuras. Somente no caso das situações em curso é que podem surgir os conflitos de leis no tempo. No caso da nova lei não estabelecer as regras de solução para os problemas advindos da sua vigência, a doutrina aponta os seguintes critérios:25 1 — Se a lei nova aumenta o prazo de prescrição ou de decadên cia, aplica-se o novo prazo, computando-se o tempo decorrido na vigência da lei antiga. II — Se a lei nova reduz o prazo de prescrição ou de decadência, há que distinguir: a) se o prazo maior da lei antiga se escoar antes de findar o prazo menor estabelecido pela lei nova, adota-se o prazo da lei anterior; 25 Wilson de Souza Campos Batalha. Lei de Introdução ao Código Civil, volume II, tomo I, p, 229 ci ncgn. 578 Direito Civil — Introdução b) se o prazo menor da lei nova se consumar antes de terminado o prazo maior previsto pela lei anterior, aplica-se o prazo da lei nova, contando-se o prazo a partir da vigência desta. Esses critérios foram consagrados no art. 169, 2a alínea da Lei de Introdução ao Código Civil alemão, segundo o qual “se o prazo de prescrição, conforme o Código Civil, é mais curto do que segundo as leis anteriores, computa-se o prazo mais curto a partir da entrada em vigor do Código Civil. Não obstante, se o prazo mais longo de terminado pelas leis anteriores expira mais cedo do que o prazo mais curto determinado pelo Código Civil, a prescrição se conserva com o fim do prazo mais longo”. Disciplinando a matéria dispõe o Código Civil no seu art. 2.028 que “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por esle Código e se, na data desua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”. Temos, assim, duas hipóteses de incidência do novo Código quanto às situações jurídicas pendentes: 1) O novo Código reduz o prazo de prescrição, a) e já decorreu mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada, como pode ser o caso, por exemplo, da pretensão dos credores de alimentos, de aluguéis, de rendas temporárias e vitalí cias, de prestação de juros de quaisquer outras prestações acessórias (CC, art. 206, §§ 2Q e 32). Nestes casos, aplica-se o prazo de lei anterior. b) e decorreu menos da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Aplica-se o prazo do novo Código, computado o prazo j<í decorrido na vigência da lei antiga. 2) O novo Código aumenta o prazo de prescrição. E o caso, por exemplo, do art. 206, § l e. Aumentando o novo Código o prazo de prescrição, aplica-se o novo prazo, computando-se o tempo decorrido na vigência do Códi go anterior. BIBLIOGRAFIA ABREU, José. Negócio Jurídico e sua Teoria Geral, Sâo Paulo, Saraiva, 1984. ADOMEIT, Klaus. Introducción a la Teoria delDerecho, Madrid, Edito rial Civitas, 1984. AFTALION, Enrique, GARCIA, Fernando e VILLANOVA, José. In- troducción al Derecho. Buenos Aires, Cooperadora de Derecho y Ciências Sociales, 1972. AGUIRRE y ALDAZ, Carlos Martínez de. El derecho civil a finales dei siglo XX, Madrid, Editorial Tecnossa. 1991 ALARCÃO, Rui de. Forma dos negócios jurídicos, in Boletim do Minis tério da Justiça n° 86, Lisboa, 1959. ____ . 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