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Prescrição e Decadência - Francisco Amaral

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Prévia do material em texto

Francisco Amaral
Professor Titular de Direito Civil e Romano na Faculdade 
de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Da Academia Brasileira de Letras Jurídicas 
Da Accademia dei Giusprivatisti Europei 
Doutor Honoris Causa da Universidade Católica Portuguesa
DIREITO CIVIL 
INTRODUÇÃO
6â Edição 
Revista e Aumentada de acordo 
com o novo Código Civil e leis posteriores
RgNOVfíR
Rio d e Janeiro • São Paulo • Recife 
2006
ABPDEA
AE 
AE
IÄ
ABPDEA
Associação Brasileira pars 
a Proteção dot Direitos 
EriUortaU. g Atiloraü 
R ü S P E IT E O A l)T O II 
N à o F a ç a C o p i a
CAPÍTULO XVIII 
Prescrição e Decadência
Sumário: 1. O tempo como fato jurídico. 2. A relação jurídica e seu conteúdo.
3. Exigibilidade e exercício de direitos. 4. Prescrição. Conceito. Fundamento.
Objeto. 5. Decadência. Conceito. Fundamento. Objeto. 6. Prescrição e decadência. 
Comparação. 7. Regras gerais da prescrição. 8. Renúncia da prescrição.
9. Impedimento e suspensão. 10. Interrupção da prescrição. 11. Prazos 
prescricionais. 12. Prazos de decadência. 13. Os prazos prescricionais 
em matéria de direito intertemporal.
1. O tempo como fato jurídico
O tempo é fato jurídico natural de grande importância nas rela­
ções jurídicas pela influência que pode ter na gênese, exercício e 
perda dos respectivos direitos.
Desde a concepção do ser humano, o tempo influi nas relações 
jurídicas de que o indivíduo participa. Até o nascimento, o ser em 
potência já é centro autônomo de direitos, sujeito de direitos; para 
certos setores da doutrina e da legislação mais recente tem, inclusi­
ve, personalidade jurídica. Até completar 16 anos, é absolutamente 
incapaz; aos 18, atinge a plena capacidade de fato, que lhe poderá, 
entretanto, ser antecipada pela emancipação aos 16 anos (CC, art. 
52,1). Também com esta idade, o menor já pode exercer o comér­
cio, função pública e ser eleitor.1
1 A Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, estabelece que o voto é
561
Para efeitos penais, o menor com menos de 18 anos é inimputá* 
vel, sendo objeto da aplicação de normas especiais, devendo ser in­
ternado em estabelecimento próprio, se demonstrar excessiva pcri- 
culosidade.2 Na aplicação da pena, a idade é atenuante para os me­
nores de 21 e maiores de 70 anos. Para efeitos de cidadania, o .h 
maiores de 16 anos podem ser eleitores, mas só maiores de 18 anos 
podem ser eleitos vereadores, maiores de 21 anos, deputados fede­
rais ou estaduais e maiores de 35 anos, senadores ou presidentes da 
República.
A idade de 60 anos garante prioridade às pessoas na efetivação 
dos seus direitos fundamentais e de personalidade, na forma da Lei 
nü 10.741, de 1Q de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso).
Para fins de exercício profissional, menores de 18 anos não po­
dem trabalhar em indústrias insalubres, ou à noite; menores de 14 
anos são impedidos de trabalhar, salvo como aprendizes.3
Embora tais condições sejam, na maioria, de direito público, é 
no campo do direito privado que se nota maior influência do tem­
po, tanto no nascimento quanto no exercício e extinção dos direi­
tos. Assim, por exemplo, nos negócios jurídicos a termo, inicial ou 
resolutivo, na abertura de sucessão provisória (CC, art. 26, CPC, art.
1.159) e em todos os casos em que o decurso do tempo provoque a 
extinção ou surgimento de direitos.
A disciplina da influência do tempo nas relações jurídicas é ob­
jeto de três institutos de direito civil: a usucapião ou prescrição aqui­
sitiva, que leva à aquisição de direitos, a prescrição extintiva e a deca­
dência, que levam à extinção. O primeiro estuda-se na parte dos di­
reitos reais, por ser forma de aquisição da propriedade. Os demais, 
referentes aos direitos subjetivos in genere, disciplinam-se na parte 
geral do Código Civil.
2. A relação jurídica e seu conteúdo.
A compreensão da importância do tempo como fato jurídico 
pressupõe o conhecimento da relação jurídica, na sua estrutura e 
função.
facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (art. 14, § 
l2, II, c).
2 Constituição Federal, art. 228, e Lei nQ 8.069, de 13 de julho de 1990, art. 
104.
3 Constituição Federal, art. 72, item XXXIII.
Contém a relação jurídica vária* espécies de direitos, correspon­
dentes às diversas formas por que os sujeitos exercem o seu poder 
sobre o objeto da respectiva relação.
As espécies mais importantes são o direito subjetivo, a preten­
são, o direito potestativo e as faculdades jurídicas.
Direito subjetivo, como já estudado, é o poder que o ordena­
mento jurídico reconhece a alguém de ter, fazer ou exigir de ou­
trem determinado comportamento. E verdadeira permissão juríd i­
ca, ou ainda, é um poder concedido ao indivíduo para realizar seus 
interesses. Representa a estrutura da relação poder-dever, em que 
ao poder de uma das partes corresponde o dever da outra.
Da infração desse dever resulta, nas relações jurídicas patrimo­
niais, um dano para o titular do direito subjetivo. Nasce, então, para 
esse titular, o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão, que 
permite a composição do dano verificado. A esse direito de exigir 
chama a doutrina de pretensão, por influência do direito alemão 
(BGB, § 194), principalmente Windscheid,4 que transferiu para o 
direito substantivo privado a actio, direito subjetivo processual do 
direito romano e do antigo direito comum alemão. Temos, então, a 
pretensão de direito privado distinta da pretensão de “proteção ju ­
rídica”, ou “direito de ação”, que é o direito subjetivo público de 
invocar a tutela jurisdicional do Estado para a realização de seu 
direito, reparando-se o dano causado pelo agente infrator.
A pretensão revela-se, portanto, como um poder de exigir de 
outrem um a ação ou omissão. E, para alguns, sinônimo de direito 
subjetivo, embora com conotação dinâmica, enquanto aquele é es­
tático e, para outros, ainda, uma situação jurídica subjetiva.5
A pretensão que nasce no momento em que o credor pode exi­
gir a prestação, e esta não é cumprida, causando lesão no direito 
subjetivo, pressupõe, assim, a existência de um crédito, com o qual 
não se confunde. Por exemplo, se o vendedor, em um contrato de 
compra e venda, se compromete a receber o preço em prestações 
mensais, vencíveis a cada dia 30, no momento em que fez o contrato 
tornou-se credor, titular de um crédito, mas o direito de exigir a 
prestação, que configura a pretensão, só nasce a cada dia 30, no 
respectivo vencimento, se não se verificar o pagamento.
4 Windscheid. Diritto delle Pandette, p. 183 e segs.
5 André Fontes. A pretensão como situação jurídica subjetiva, p. 66 e segs.
Embora a pretenaâo acja um conceito técnico jurídico aplicável 
às várias espécies de relações jurídicas» em tese, é nas obrigações que 
ele encontra a sua natural aplicação. A sua função mais importante 
é a de traduzir uma legitimação material para exigir uma prestação 
determinada, o que a relaciona intimamente com o direito proces­
sual civil.
Contraposto ao conceito de pretensão existe o de exceção, direi­
to que se tem de impedir a eficácia de um direito subjetivo de ou­
trem. Funciona como um contradireito ou, tecnicamente, um direito 
de negar o cumprimento da prestação devida, correspondente ;'i 
pretensão do credor. As exceções podem ser permanentes e transi­
tórias ou dilatórias. As primeiras impedem a “imposição judicial” da 
pretensão perpetuamente; as segundas, temporariamente.
Na hipótese de exceção permanente, o crédito a que correspon­
de a respectiva prestação contrariada é tido como não subsistente, <* 
o exemplo mais notório dessa hipótese é a prescrição.
Existem, porém, direitos subjetivos que não fazem nascer pre­
tensões, porque destituídos dos respectivos deveres. São direitos po- 
testativos.
O direito potestativo é o poder que o agente tem de influirna 
esfera jurídica de outrem, constituindo, modificando ou extinguin­
do uma situação subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa se 
não sujeitar-se. São direitos potestativos o do patrão dispensar o em­
pregado, o do doador revogar a doação simples, o do representado 
revogar a procuração, o do agente ocupar res nullius, o de se aceitai 
ou não a proposta de contratar, o de se aceitar ou não herança, o de 
estabelecer uma passagem forçada para prédio encravado em outro.
Como o direito potestativo é o dever de determinar mudanças 
na situação jurídica de outro sujeito, mediante ato unilateral, sem 
que haja dever contraposto e correspondente a esse poder, chama- 
se, também, direito formativo ou de formação. O lado passivo da 
relação jurídica limita-se a sujeitar-se ao exercício de vontade da 
outra parte. E não havendo dever, não há o seu descumprimento, 
não há lesão. Conseqüentemente, não há pretensão.
O conceito de pretensão serve, assim, para distinguir os direitos 
subjetivos dos potestativos. Como estes não podem ser lesados, seus 
titulares não têm pretensão, como ocorre nos direitos subjetivos.
As faculdades jurídicas são também poderes de agir contidos nos 
direitos subjetivos. Deles diferem porque neles estão contidas e, por 
isso, deles dependem. O direito subjetivo configura-se, assim, como 
uma faculdade ou um conjunto delas (v. capítulo V, item 11).
Além dessas diversas espécies de direitos, outras noções se fazem 
indispensáveis para o perfeito entendim ento do que sejam a prescri­
ção e a decadência, como a de exigibilidade e de exercício desses direi­
tos. Exigibilidade é qualidade do direito que pode ser reclamado em 
pagamento. É típico das obrigações. Exercício é o uso que se faz de 
um direito.
Com o fim de proteger a segurança e a certeza, valores funda­
mentais do direito moderno, limitam-se no tempo a exigibilidade e 
o exercício dos direitos subjetivos, fixando-se prazos maiores ou me­
nores, conforme a sua respectiva função.
Para os direitos subjetivos, a lei fixa prazos mais longos, que po­
dem ser suspensos e interrompidos, durante os quais se pode exigir 
o cumprimento desses direitos, ou melhor, dos respectivos deveres. 
Já para os direitos potestativos, os prazos são mais rígidos, isso por­
que esses direitos devem exercer-se em brevíssimo tempo.
Tal distinção é fundamental.
Para as faculdades jurídicas, o tempo não conta. Como simples 
manifestações dos direitos subjetivos em que se contém, a falta de 
seu exercício não prejudica esses mesmos direitos. As faculdades 
jurídicas não se extinguem pelo decurso do tempo. In facultativis 
non daturpraescriptio (nas ações facultativas não corre a prescrição).
O tempo é, assim, fator de limitação do exercício dos direitos. E 
a figura técnica que exprime a extinção dos direitos e suas preten­
sões pela inércia do respectivo titular no tempo devido é a chamada 
caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extinção de direitos em 
geral, e em sentido restrito, perda dos direitos potestativos quando 
toma o nome de decadência. Seu fundamento é o princípio da inad­
missibilidade da conduta contraditória.6
3 . Exigibilidade e exercício de direitos
4. Prescrição. Conceito. Fundamento. Objeto
Com os elementos referidos, já é possível estabelecer-se o con­
ceito da prescrição e da decadência.
Prescrição é a perda da pretensão em virtude da inércia do seu 
titular no prazo fixado em lei (CC, art. 189). Se o lesado pelo des- 
cumprimento do direito subjetivo não agir no período legal, invo-
6 Heinrich Lehmann. Tratado de derecho civil, p. 522.
cando a tu tel ajuri adicional do Estado para a proteção do seu crédi­
to, extingue-se a sua pretensão de exigibilidade quanto ao seu direito 
subjetivo e permite a convalescença da lesão verificada no seu direi­
to subjetivo.7 De modo geral, a prescrição aplica-se apenas aos direi­
tos subjetivos patrimoniais, especificamente às obrigações em senti­
do técnico.
A exceção, isto é, o direito de contrapor em defesa o direito com 
pretensão prescrita, prescreve no mesmo prazo da pretensão (GC. 
art. 190).
A obrigação prescrita transforma-se, desse modo, em obrigação 
natural, que é aquela em que o credor não dispõe de ação judicial 
para exigir do credor o pagamento mas, no caso deste ser feito» 
pode retê-lo.
Para que se configure a prescrição é preciso que se reúnam oh 
seguintes elementos: a) um direito subjetivo lesado, do que necessa­
riamente nasce uma pretensão de ressarcimento; b) a não exigência 
do cumprimento do respectivo dever, ou do ressarcimento do dano;
c) o decurso do prazo que a lei estabelece para essa exigência.
Reunidos tais elementos, estabelece o direito a perda da preten­
são não exercida.
Justifica-se a prescrição pela necessidade de paz, ordem, segu­
rança e certeza jurídica. Não houvesse tal instituto, a qualquer mo­
mento poder-se-ia voltar a superadas pretensões e a antigos litígios.
Pode-se assim dizer que, de modo geral, o que se protege é o 
interesse público,8 embora, de modo particular, se reconheça que a 
prescrição é imposta, tendo em vista, principal e imediatamente, o 
interesse do sujeito passivo e, secundária e mediatamente, o interes­
se geral. Com a prescrição pune-se também a negligência do titular 
do direito subjetivo lesado.
A prescrição refere-se, portanto, a direito subjetivo já fixado c 
constituído em relação jurídica preexistente, de natureza patrimo­
nial.
A prescrição ocorre, portanto, segundo respeitável opinião dou­
trinária, apenas no campo das obrigações,9 em direitos subjetivos 
patrimoniais e disponíveis. Sua razão de ser está em que a prescrição 
traduz a recusa da ordem jurídica em proteger a negligência do
7 San Thiago Dantas. Programa de direito civil, p. 399.
8 Aníbal de Castro. A caducidade na doutrina, na lei e na jurisprudência, p. 26.
9 Dias Marques. Noções elementares de direito civil, p. 108.
credor, forçando o pronto exercício do seu direito, visando assim 
manter a certeza e a segurança nas relações jurídicas.
A prescrição tem por objeto, então, direitos subjetivos patrimo­
niais e disponíveis, basicamente as obrigações. Não afeta por isso os 
direitos de personalidade, os direitos de estado e os direitos de fa­
mília, que são irrenunciáveis e indisponíveis. Os direitos ou as rela­
ções jurídicas afetadas pela prescrição são objeto de ações condena- 
tórias, que visam compelir o devedor a cumprir sua obrigação ou a 
puni-lo no caso de inadimplemento.
A prescrição não opera, porém, de pleno direito. Deve ser ale­
gada pela parte interessada (CC, art. 193), como exceção, meio de 
defesa.
5. Decadência. Conceito. Fundamento. Objeto
Decadência é a perda do direito potestativo pela inércia do seu 
titular no período determinado em lei.
Seu fundamento, como na prescrição, é a necessidade de certe­
za e segurança nas relações jurídicas, com paz e ordem na socieda­
de. Seu fim predominante é o interesse geral, ao contrário da pres­
crição em que o interesse básico é individual, do devedor da obriga­
ção.
Seu objeto são os direitos potestativos, de qualquer espécie, dis­
poníveis e indisponíveis, direitos que conferem ao respectivo titular 
o poder de influir ou determinar mudanças na esfera jurídica de 
outrem, por ato unilateral, sem que haja dever correspondente, ape­
nas uma sujeição.
A decadência traduz-se, portanto, em uma limitação que a lei 
estabelece para o exercício de um direito, extinguindo-o e pondo 
termo ao estado de sujeição existente. Aplica-se às relações que não 
contêm obrigações, sendo objeto de ação constitutiva. Na decadên­
cia, ainda, o prazo começa a correr no momento em que o direito 
nasce, surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo, 
o que não ocorre na prescrição, em que este só corre da lesão do 
direito subjetivo. O que se tem em mira é, portanto, o exercício do 
direitopotestativo, não a sua exigibilidade, própria da prescrição. O 
respectivo prazo é rigidamente fixado, sem possibilidade de inter­
rupção ou suspensão, e também menor do que o da prescrição.
568 Direito Civil — Introdução
A decadência é estabelecida em lei ou pela vontade das partes 
em negócio jurídico,10 desde que se trate de matéria de direito dis­
ponível e não haja fraude às regras legais. Enquanto a prescrição 
deve ser alegada pela parte interessada, a decadência não é “susce­
tível de oposição, como meio de defesa”.11
6. Prescrição e decadência. Comparação
Tanto a prescrição quanto a decadência são formas de extinção 
de direitos, constituindo-se ambas em prazos extintivos. No entanto, 
a doutrina tem procurado estabelecer alguns critérios diferenciado* 
res, apreciáveis quanto às semelhanças e quanto às diferenças. No 
caso das semelhanças, os pontos de identidade reúnem-se de acordo 
com três critérios: a própria natureza, o fundamento e o fator deter­
minante.
Quanto à sua própria natureza, ambas são institutos jurídicos que 
se constituem em causa e disciplina da extinção de direitos. Quanto 
ao seu fundamento, baseiam-se no princípio de ordem pública que 
visa preservar a paz social, a certeza e a segurança no comércio ju rí­
dico. Quanto ao fator determinante, na verdade dois: a inércia don 
titulares dos direitos em questão e o decurso do tempo prefixado cm 
lei.
No que respeita às diferenças, há também que distinguir:
a) quanto ao objeto, a prescrição atinge pretensões de direito* 
subjetivos patrimoniais disponíveis, não afetando direitos indisponí­
veis, como os de personalidade, os de família, os de estado e tambem 
as faculdades jurídicas. A decadência atinge direitos potestativON, 
disponíveis ou indisponíveis. Todavia, a prescrição não opera dr 
pleno direito, devendo ser alegada como exceção ou defesa, pelo 
devedor, ao ser-lhe cobrada a prestação devida;
b) na prescrição, o legislador visa consolidar um estado de fíito» 
transformando-o em estado de direito; na decadência, limita-se no 
tempo a possibilidade de exercício de direito, modificando-se uiílM 
situação jurídica;12
c) com a prescrição, pune-se a inércia no exercício de pretennAo 
que devia ser exercida em determinado período; na decadência»
10 Aníbal de Castro, p. 25. Cf. Código Civil português, art. 330a.
11 Aníbal de Castro, p. 152.
10 r«t UnrutHn pMc/TÍfirt«/» o AomAmiitéi n 499
Prescrição e Decadência 569
priva-se do direito quem deixou de exercê-lo na única vez que a lei 
concede.13 A decadência seria, portanto, decorrente da inobservân­
cia de um “ônus de observância peremptória de um termo, no exer­
cício de um direito potestativo, e a prescrição, a falta do exercício 
do direito em certo tempo”;
d) na prescrição o prazo, começa a correr quando o direito sub­
jetivo é violado, momento em que nasce a pretensão do credor de 
ver cumprida a obrigação, ou ressarcido o dano a ele imposto pelo 
devedor inadimplente; na decadência, o prazo corre desde que o 
direito nasce;14
e) a prescrição supõe um direito (pretensão) nascido e efetivo, 
mas que pereceu pela falta do exercício da ação contra a violação 
sofrida; a decadência supõe um direito que, embora nascido, não se 
tornou efetivo pela falta de exercício.15
Quanto ao interesse que se visa proteger, como já exposto, a 
prescrição destina-se a favorecer, em primeiro lugar, o interesse par­
ticular do devedor. A decadência contempla o interesse geral de 
paz, certeza e segurança nas relações jurídicas.
Quanto à natureza das ações em jogo, na prescrição deixa de 
exercitar-se uma ação que visa uma sentença destinada a permitir 
que o credor-vencedor possa exigir do devedor-vencido a prestação 
devida ou o seu equivalente valor, condenatória portanto, enquanto 
na decadência a ação c constitutiva, isto é, dá origem a uma nova 
situação jurídica; por outro lado, a prescrição inviabiliza a ação cre- 
ditória mas permite a retenção de eventual pagamento feito pelo 
devedor, o que transforma a dívida prescrita em verdadeira obriga­
ção natural (CC, art 882).
No que respeita à fluência dos respectivos prazos, a prescrição 
interrompe-se por qualquer das causas legais incompatíveis com a 
inércia do sujeito; a decadência opera de maneira fatal, atingindo 
irremediavelmente o direito, se não for oportunamente exercido.16
A decadência não se suspende ou interrom pe pelas causas sus­
pensivas ou interruptivas da prescrição (CC, art. 207). Os prazos são 
peremptórios, fatais. Ainda quanto à função do prazo estabelecido, 
no caso de prescrição, a lei fixa o período de tempo em que deve
13 Francesco Messineo. Manuale di diritto civile e commercial#, I, p. 193.
14 Câmara Leal. Da prescrição e da decadência, p. 123.
15 [dem, ibidem.
16 Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de direito civiL li n. 410.
vit«nw vnii —" iHklVWUyVW
exercer-se o direito, enquanto na decadência o prazo limita o excu* 
cicio do direito.
7. Regras gerais da prescrição
A prescrição está regulada na parte geral do Código Civil, arliUi 
189 a 206. Suas regras são de ordem geral e de ordem especial. São 
de ordem geral as pertinentes à sua alegação e à extinção de direi* 
tos. Entre as primeiras temos:
a) qualquer interessado, pessoa natural ou jurídica, pode alegar 
a prescrição, em qualquer grau de jurisdição (menos em recurso 
extraordinário, perante o Supremo Tribunal Federal)17 (CC, art, 
193); no caso de incapazes, a prescrição deve ser alegada por seu# 
representantes. A possibilidade de invocar a prescrição constitui dl* 
reito subjetivo;
b) o juiz não pode suprir de ofício a alegação de prescrição, 
salvo se favorecer a absolutamente incapaz (CC, art. 194);
c) a prescrição começa a correr do momento em que nasce o 
direito de exigir (pretensão) a reparação do dano. A prescrição ini­
ciada contra uma pessoa contínua a correr contra seu sucessor (CG, 
art. 196), seja herdeiro legatário ou cessionário; é o princípio dfcl 
accessio temporis\
d) prescrito o direito principal, prescritos seus acessórios. Assim, 
prescrita a pretensão de cobrar a dívida, prescritos os juros e os 
<iireitos reais que a garantiam como penhor ou hipoteca;
e) os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação 
contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa 
à prescrição, ou a alegarem oportunamente (CC, art. 195).
£ . Renúncia da prescrição
Entre as normas gerais da prescrição incluem-se ainda as que 
dizem respeito à renúncia.
O devedor pode deixar de alegar a prescrição que o beneficia, a 
^ la renunciando. E preciso, porém, que a prescrição esteja consu­
m ada e que a renúncia não prejudique terceiros. Prescrição consu­
m ada é a que teve seu prazo totalmente decorrido.
1 7 Washington de Barros Monteiro. Curso de direito civil Parte geral, p. 286.
rr«9tnv«u v vwnuviwa 99 I
A renúncia é o ato jurídico pelo qual o titular de um direito dele 
se desfaz,18 constituindo-se em um modo geral de extinção de direi­
to. Como ato jurídico que é, requer agente capaz.
No caso da prescrição, a renúncia vale apenas se feita, sem pre­
juízo de terceiro, depois de consumada, quando já integra o patri­
mônio do prescribente (aquele em favor de quem ocorre a prescri­
ção) (CC, art. 191).
Consumada a prescrição, o devedor tem seu patrimônio acresci­
do, pois deixa de indenizar o dano causado ao credor, com o não- 
pagamento da obrigação. Pode, entretanto, renunciar a essa vanta­
gem, desde que não prejudique terceiros, isto é, credores, os quais 
poderão opor-se a essa diminuição patrimonial que lhes reduz as 
garantias de recebimento de seu crédito.
A renúncia pode ser expressa e tácita. Verifica-se esta quando o 
interessado pratica atos incompatíveis com a prescrição, como, por 
exemplo, o pagamento total ou parcial de dívida prescrita, a oferta 
de garantias ao credor, o pedidode prazo para pagamento, a nova­
ção ou qualquer outro ato que implique reconhecimento do direito 
de credor.19 A renúncia expressa é a que resulta de ato inequívoco 
do prescribente, para o que não impõe a lei forma determinada.
Sendo instituto de ordem pública, as partes não podem conven­
cionar, por exemplo, renúncia à prescrição antes de decorrido o 
prazo legal. Não fosse assim, jamais se consumaria a prescrição, visto 
que, se admissível renúncia antecipada, uma cláusula inserta nos 
contratos sempre impediria que a prescrição se verificasse. Também 
inadmissível convenção sobre aumento ou encurtamento dos pra­
zos prescricionais (CC, art. 192).
9. Impedimento e suspensão
O curso da prescrição pode ser impedido, suspenso e interrom­
pido por fatores diversos, obedecendo o impedimento, a suspensão 
e a interrupção a normas jurídicas de ordem pública contidas no 
Código Civil, arts. 197 a 204.
Impedimento da prescrição é o obstáculo ao curso do respectivo 
prazo, antes do seu início. Constitui-se em um fato que não permite 
comece o prazo prescricional a correr.
18 Clóvis Beviláqua. Comentários ao Código Civil, art. 161 do Código de 1916.
19 Clóvis Beviláqua. Teoria geral do direito civil, p. 329.
572 Direito Civil — Introdução
Suspensão é a cessação temporária do curso do prazo prescricio- 
nal sem prejuízo do tempo já decorrido. Resulta de fato surgido 
após o início do curso do prazo prescricional, suspendendo-o en­
quanto permanecerem tais causas e prosseguindo quando cessarem. 
Na suspensão, não se perde o tempo já decorrido. Cessando as cau­
sas suspensivas, a prescrição continua a correr, aproveitando-se o 
tempo anteriormente decorrido. Os prazos de decadência não ad­
mitem impedimento, suspensão nem interrupção, a não ser nos ca­
sos previstos em lei (CC, art. 207).
Suspensa a prescrição, o direito subjetivo permanece inextinguí­
vel pelo decurso do tempo, embora inerte seu titular. O devedor fica 
também impossibilitado de invocar a prescrição contra o credor. 
Relativamente a terceiros, a suspensão beneficia todos os credores 
solidários, desde que a obrigação seja indivisível (CC, art. 201). Se 
não for, pode beneficiar apenas um desses credores.
O impedimento e a suspensão são da mesma natureza pelo que, 
embora com diferenças técnicas, se reúnem no mesmo complexo de 
regras, arts. 197 a 201 do Código Civil.
A lei estabelece as hipóteses de impedimento do curso prescri­
cional nos arts. 197; 198,1; 199,1, II e III, e de suspensão, no art. 198, 
II e III. O art. 197 determina não correr a prescrição entre os côn­
juges, na constância da sociedade conjugal; entre os ascendentes e 
descendentes, durante o poder familiar; entre tutelados e curatela- 
dos e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela. Por 
analogia, não deve correr a prescrição entre os conviventes na vigên­
cia da união estável.
O art. 198 dispõe ainda que não corre a prescrição contra os 
absolutamente incapazes, os ausentes do país, em serviço público da 
União, dos Estados ou dos Municípios e contra os que se acharem 
servindo nas Forças Armadas em tempo de guerra, mas corre a favor 
deles,20 isto é, as suas dívidas prescrevem, seus créditos, não. Na 
verdade, a primeira hipótese é de impedimento quando se refere 
aos menores de 16 anos, já que, contra esses, a prescrição jamais 
poderia começar a correr, podendo ser impedimento ou suspensão 
nos demais casos, conforme a incapacidade seja anterior ou super­
veniente ao início do curso prescricional.
O dispositivo destina-se a proteger os que não podem exercer 
seus direitos, de modo absoluto, e os que se ausentam do país, por
20 Carvalho Santos. Código Civil brasileiro interpretado, III, p. 408.
Prescrição e Decadência 573
motivo de serviço ou de guerra (contra non volentem agere nun currit 
praescriptio) ,21
O art. 199 completa os dois artigos anteriores, dispondo não 
correr a prescrição nos casos em que esteja pendente condição sus­
pensiva, em que não esteja vencido o prazo, ou em que seja penden­
te ação de evicção. No primeiro caso, subordinada a aquisição de 
um direito à condição suspensiva, somente depois desta realizada é 
que se adquire o direito e seu titular pode agir, sujeitando-se à pres­
crição eventual. Enquanto não existir o direito, não pode existir a 
pretensão e a respectiva ação que a assegura. No segundo caso, a 
observação é semelhante. Enquanto não vencido o prazo prefixado, 
o direito não se configura. Conseqüentemente, não há pretensão a 
prescrever.
A última exceção do artigo significa que o adquirente de coisa 
não pode invocar a prescrição em seu favor, se terceiro propuser 
ação de evicção e enquanto não for essa julgada.
O seguinte exemplo ilustra a hipótese: A compra um imóvel a J3, 
o qual, apesar da venda, se nega a entregá-lo ao comprador A , que 
dispõe de ação competente para exigir a entrega do imóvel e a imis- 
são na sua posse. A ação deve ser proposta no prazo de 10 anos, 
conforme o art. 205 do Código Civil. Esse prazo não correrá, toda­
via, se terceira pessoa, C, mover ação de evicção contra A , alegando 
ser dono do imóvel. Evicção é a perda de um direito sobre uma coisa 
em virtude de uma sentença que reconhece terceiro como titular 
desse direito.
Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo 
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença de­
finitiva (CC, art. 200). Só após decisão criminal, transitada em ju l­
gada, é que começa a correr o prazo prescricional22.
O art. 201 é o último a contemplar o impedimento e a suspensão 
da prescrição. No caso de credores solidários, suspensa a prescrição 
em favor de um deles, só aproveitam os outros se o objeto da obri­
gação foi indivisível, que é aquela cuja prestação tem por objeto 
uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, 
por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do 
negócio jurídico (CC, art. 258).
21 “Não corns a prescrição contra os que não podem agir voluntariamente,"
99 Lot tifo. (lúditro Civil comentado, o. 539.
574 Dlnlto Civil — Introdução
Aléra desses artigos do Código Civil, outros dispositivos existem, 
contidos em leis extravagantes, referentes a casos de impedimento 
e suspensão do curso da prescrição.
10. Interrupção da prescrição
Interrupção da prescrição é o fato que impede o fluxo normal 
do prazo, inutilizando o já decorrido. Só pode ocorrer uma vez (CC, 
art. 202). Difere do impedimento e da suspensão pelos seguintes 
aspectos:
a) no impedimento, a prescrição não corre; na suspensão, a 
prescrição corre até ser paralisada. Cessada a causa da paralisação, 
o curso anterior prossegue, valendo o prazo anteriormente decorri­
do. Na interrupção, paralisado o curso da prescrição, inutiliza-se o 
tempo anterior. Desaparecendo a causa interrompida, inicia-se 
novo prazo prescricional;
b) no impedimento e na suspensão, os fatos que as determinam 
não dependem da vontade humana, são fatos objetivos. Na interrup­
ção, são fatos subjetivos, dependentes da vontade do agente.
O Código Civil estabeleceu no art. 202 os fatos que interrompem 
a prescrição:
I) despacho do juiz, mesmo incompetente, ordenando a citação, 
desde que o interessado a promova no prazo de 10 dias (CC, art. 
202,1, combinado com o CPC, art. 219, §§ 1- e 22);
II) protesto nas condições do inciso antecedente;
III) protesto cambial;
IV) apresentação do título de crédito em inventário ou em con­
curso de credores;
V) qualquer ato judicial que constitua o devedor em mora;
VI) qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que im­
porte reconhecimento do direito pelo devedor.
A prescrição interrompida recomeça a correr do ato que a inter­
rompeu ou do último do processo para interrompê-la (CC, art. 202, 
parágrafo único). Na verdade, inexiste um processo específico para 
interromper a prescrição.O processo a que a lei se refere é o mesmo 
cuja citação inicial interrompeu a prescrição (art. 202,1). Desta for­
ma, a prescrição recomeça a correr a partir do último ato do proces­
so iniciado pela citação que a interrompeu. Tratando-se de inter­
rupção, inutiliza-se o tempo já decorrido.
Quanto à legitimidade para promover a interrupção da prescri­
ção, qualquer interessado pode fazê-lo, por exemplo, o titular do
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direito cm via de prescrever, o seu representante legal, terceiro com 
legítimo interesse, como o credor do credor contra quem corre a 
prescrição, o fiador deste credor etc. (CC, art. 203).
A prescrição m o se interrompe, porém, com a citação nula por 
vício de forma, por circunduta, ou por se achar perempta a instân­
cia ou a ação. Citação nula por vício de forma é a que não obedece 
aos requisitos que a lei estabelece para a realização desse ato. Com­
parecendo, porém, o réu para argüir a nulidade, e sendo esta decre­
tada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele, ou seu advo­
gado, for intimado da decisão (CPC, art. 214, § 2-). Citação circun­
duta é a que não produz efeitos por ter sido feita sem as prescrições 
legais, tendo caído em desuso essa denominação com o advento do 
Código de Processo Civil. Perempção da instância significa a extin­
ção do feito com absolvição da instância. Perempção da ação signi­
fica perempção do direito.23
São efeitos da interrupção da prescrição:
a) inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido, começan­
do a correr novo prazo. O ato interruptivo é normalmente instantâ­
neo, mas a interrupção se faz por meio de citação pessoal ao deve­
dor. O reinicio da prescrição começa do último ato do processo 
(CC, art. 202, parágrafo único);
b) o direito subjetivo atingido é beneficiado pela interrupção, 
dilatando-se o período para composição do dano; essa vantagem 
para o titular do direito subjetivo ofendido corresponde às desvan­
tagens para o prescribente, que vê retardado o benefício que lhe 
poderia advir da prescrição;
c) a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos 
outros; igualmente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou 
seu herdeiro, não prejudica os demais co-obrigados (CC, art. 204).
A interrupção por um dos credores solidários, aproveita aos ou­
tros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário 
envolve os demais e seus herdeiros (CC, art. 204, § l 2).
Havendo solidariedade passiva, a interrupção contra um dos 
herdeiros de um dos co-devedores só prejudicará aos outros co-her- 
deiros e os outros co-devedores solidários se as obrigações forem 
indivisíveis (CC, art. 204, § 22).
A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica 
o fiador (CC, art. 204, § 3-).
23 Wilson Bussada.. Código Civil brasileiro interpretado pelos tribunais, III, p. 172.
576 Direito Civil — Introdução
11. Prazos prescricionais
O Código Civil brasileiro estabelece as regras e os prazos prescri­
cionais na Parte Geral (CC, arts. 205 e 206), deixando, em princípio, 
a disciplina dos prazos decadenciais para a Parte Especial.
Os prazos prescricionais dividem-se em duas espécies:
Prazo geral (prescrição comum ou ordinária) e prazos especiais 
(prescrição especial). O primeiro, mais longo e único, destina-se às 
ações de caráter ordinário. Os segundos, a certos direitos expressa­
mente mencionados.
O prazo geral da prescrição está previsto no art. 205 do Código: 
“a prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe aja 
fixado prazo menor.”
Os prazos especiais podem ser anuais, bienais, trienais, quadrie­
nais e qüinqüenais, como disposto no Código Civil, arts. 206, §§ 1u, 
2S, 3Ô, 4Q e 5S.
12. Regras gerais da decadência
A decadência, como já visto, difere da prescrição, no sentido d<? 
que é a perda de um direito potestativo, pela inércia do seu titular, 
no prazo que a lei estabelece. Ambas são formas de extinção de 
direitos. Salvo, porém, disposição em contrário, não se aplicam X 
decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem 
a prescrição (CC, art. 207). No entanto, aplica-se à decadência 0 
disposto nos arts. 195 e 198,1 (CC, art. 208).
Sendo matéria de ordem pública, dispõe a lei (CC, art. 209) qu<? 
énula a renúncia à decadência fixada em lei, sendo de admitir-se, \\ 
cmtrario sensu, ser válida a renúncia à decadência estabelecida em 
negócio jurídico pelas partes24.
No caso de decadência legal, deve o juiz conhecê-la de ofício (CC, 
art. 210).
No caso de decadência convencional, o interessado, isto é, a parle 
a quem aproveita, pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, 
mas o juiz não pode suprir a alegação (CC, art. 211).
24 Renan Lo tufo, p. 559.
Prescrição e Decadencia 577
13. Os prazos prescricionais em matéria de direito intertemporal
Interessante questão de direito intertemporal, diretamente liga­
da à exigibilidade dos direitos, é o conflito de normas jurídicas no 
tempo, tendo por objeto a fixação de prazos prescricionais.
0 art. 6Q da Lei de Introdução ao Código Civil dispõe sobre a 
matéria, estabelecendo que “A lei em vigor terá efeito imediato e 
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada.” Idêntica disposição encontra-se na Constituição Fe­
deral, art. 5Q, XXXVI. Consagram-se assim os dois princípios teóri­
cos sobre a matéria: a) o do efeito imediato da lei, no sentido de que 
a lei nova se aplica imediatamente, isto é, no momento em que se 
torna obrigatória; e b) o da irretroatividade, segundo o qual os fatos 
ocorridos na vigência da lei antiga continuam por ela regidos, em 
nome da segurança jurídica.
Quando uma lei nova entra em vigor, configuram-se três espé­
cies de situação jurídica: a) as pretéritas, iniciadas e findas antes da 
vigência da nova lei, b) as pendentes, iniciadas antes da vigência da 
lei e ainda não extintas, e c) as futuras, iniciadas após a vigência da 
lei nova e ainda não concluídas.
No que diz respeito aos prazos prescricionais, o problema surge 
nas situações jurídicas pendentes (facta pendentia), quando a lei 
nova incide sobre um prazo em curso. As situações pretéritas, já 
consolidadas, estão a salvo da lei nova. Com ela, também, consoli- 
dar-se-ão as situações futuras. Somente no caso das situações em 
curso é que podem surgir os conflitos de leis no tempo.
No caso da nova lei não estabelecer as regras de solução para os 
problemas advindos da sua vigência, a doutrina aponta os seguintes 
critérios:25
1 — Se a lei nova aumenta o prazo de prescrição ou de decadên­
cia, aplica-se o novo prazo, computando-se o tempo decorrido na 
vigência da lei antiga.
II — Se a lei nova reduz o prazo de prescrição ou de decadência, 
há que distinguir:
a) se o prazo maior da lei antiga se escoar antes de findar o prazo 
menor estabelecido pela lei nova, adota-se o prazo da lei anterior;
25 Wilson de Souza Campos Batalha. Lei de Introdução ao Código Civil, volume
II, tomo I, p, 229 ci ncgn.
578 Direito Civil — Introdução
b) se o prazo menor da lei nova se consumar antes de terminado 
o prazo maior previsto pela lei anterior, aplica-se o prazo da lei nova, 
contando-se o prazo a partir da vigência desta.
Esses critérios foram consagrados no art. 169, 2a alínea da Lei de 
Introdução ao Código Civil alemão, segundo o qual “se o prazo de 
prescrição, conforme o Código Civil, é mais curto do que segundo 
as leis anteriores, computa-se o prazo mais curto a partir da entrada 
em vigor do Código Civil. Não obstante, se o prazo mais longo de­
terminado pelas leis anteriores expira mais cedo do que o prazo 
mais curto determinado pelo Código Civil, a prescrição se conserva 
com o fim do prazo mais longo”.
Disciplinando a matéria dispõe o Código Civil no seu art. 2.028 
que “serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por esle 
Código e se, na data desua entrada em vigor, já houver transcorrido 
mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”.
Temos, assim, duas hipóteses de incidência do novo Código 
quanto às situações jurídicas pendentes:
1) O novo Código reduz o prazo de prescrição,
a) e já decorreu mais da metade do tempo estabelecido na lei 
revogada, como pode ser o caso, por exemplo, da pretensão dos 
credores de alimentos, de aluguéis, de rendas temporárias e vitalí­
cias, de prestação de juros de quaisquer outras prestações acessórias 
(CC, art. 206, §§ 2Q e 32). Nestes casos, aplica-se o prazo de lei anterior.
b) e decorreu menos da metade do tempo estabelecido na lei 
revogada. Aplica-se o prazo do novo Código, computado o prazo j<í 
decorrido na vigência da lei antiga.
2) O novo Código aumenta o prazo de prescrição.
E o caso, por exemplo, do art. 206, § l e.
Aumentando o novo Código o prazo de prescrição, aplica-se o 
novo prazo, computando-se o tempo decorrido na vigência do Códi­
go anterior.
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