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Resumo Hermenêutica - aulas Norberto

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Página 1 de 36 
 
Hermenêutica Jurídica – 1º Semestre 
Resumo por Caroline Johann 
 
1. Formalismo jurídico: identificação entre Direito e texto legal. 
 
a) Afirmação da interpretação como atividade puramente cognitiva (isto é, não 
valorativa) dominada pelo silogismo¹. 
b) Subordinação do intérprete à vontade do legislador histórico. 
c) Ciência jurídica limitada à exposição da legislação, em suas conexões internas 
(intra e interlegislativas) 
 
2. Desgaste das premissas políticas do formalismo: crise do Estado Liberal e 
da democracia representativa. 
 
¹ Um silogismo (do grego antigo συλλογισμός, "conexão de idéias", 
"raciocínio"; composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo 
filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, 
constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a 
partir das duas primeiras, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. A 
teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles em Analíticos anteriores. 
Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a 
conclusão e dos quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, 
dos quais se infere a consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da 
conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo 
médio, e assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão dos 
seus termos. 
Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte: 
Página 2 de 36 
 
Todo homem é mortal. 
Sócrates é homem. 
Logo, Sócrates é mortal. 
 
3. Ascensão do Estado Social e Transformações do Direito. 
 
Estado Liberal (séc. XIX) 
 Tomou lugar do absolutismo 
 Primeiro modelo de Estado de Direito com características de 
democracia 
Confiança na “virtude” do Poder Legislativo → capaz de exercer plenamente 
a representatividade do povo. 
Se o povo elegesse os representantes, sua vontade estaria representada na 
elaboração das leis. 
Havia uma premissa política que sustentava o formalismo. Leis teriam sentido 
normativo, estando acima das demais fontes, que ficariam em segundo plano 
(interpretação do Direito é secundária e não pode mudar a lei). 
Neste contexto insere-se a escola francesa da Exegese: 
 Intérprete tem que buscar a interpretação de acordo com a lei (na 
direção pretendida pelo legislador). 
 Como? → Interpretação textual: limitada às palavras do texto. 
 Literalismo seria sempre a melhor opção → significado mais óbvio, 
mais juridicamente usado 
Limitação da ciência do Direito → papel do cientista limitado a uma 
descrição do ordenamento jurídico. Este deveria conhecer e descrever o conteúdo 
das leis, de forma sistemática. 
Página 3 de 36 
 
Características do ordenamento jurídico 
a) Pleno 
b) Consistente 
c) Determinado (dotado de certeza) 
 
a) Ordenamento Pleno 
Se é dotado de plenitude, não tem lacunas. Tudo que é necessário está 
regrado. Se uma demanda não é coberta, significa que não havia necessidade de 
regramento (princípio simplista) 
b) Ordenamento consistente 
Se o ordenamento é coerente, então tem ausência de antinomias profundas 
(afirmação simultânea de duas proposições contraditórias) → Sem contradições 
(incoerências). 
Antinomias profundas são aquelas de valor →antinomias simples são aceitas. 
Ex: 
 contrabando x importação de drogas ilícitas 
Lei geral x lei especial 
 
c) Ordenamento determinado 
Mito da “única interpretação correta” (certeza) 
Pode-se admitir que o Direito deveria ser assim → como uma aspiração. Mas 
dizer que o Direito é assim é um equívoco. 
 
Em meados do Séc. XIX o formalismo jurídico era duramente criticado e 
passou a ser repelido. As suas próprias características e idéias contribuíram para isso, 
além de outros fatores (sociais, econômicos,...). 
 
 
Página 4 de 36 
 
Revolução Industrial 
Provocou muitas transformações sociais e econômicas: 
 Êxodo rural: Imigração massiva para grandes centros urbanos. 
 Elevação do desemprego nestes centros. 
 Marginalização da sociedade. 
 Indústrias nascentes passaram a realizar produção em massa. 
 Aumento da criminalidade em função do surgimento de novos fatores 
criminológicos. 
 Surgimento de sindicatos 
 
Direito naquela época: 
 Ausência do Direito do trabalho, previdenciário, tributário, financeiro. 
 Na área trabalhista não havia idade mínima, não havia previsão de 
jornada de trabalho, crianças e gestantes trabalhavam indistintamente, não havia 
férias. 
 O Direito do Estado Liberal não era projetado para atender a esta nova 
realidade: estava em crise e havia necessidade de mudanças para acompanhar essas 
novas demandas sociais. 
 
Reações à superação do formalismo 
 
a) 2 linhas: 
 Positivismo jurídico moderno (Kelsen) 
 Aglomerado de correntes anti-formalistas 
 
b) Mudanças do Estado Liberal (com mínima intervenção estatal) para 
Democracia Social (bem-estar social e máxima intervenção estatal → Inglaterra, 
países escandinavos, Holanda, Bélgica. 
 
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c) Estado Social não respeita a divisão clássica dos poderes, 
principalmente pela deficiência do Legislativo, que não consegue acompanhar as 
mudanças sociais. 
 
d) Executivo passou a realizar a função Legiferante: Decreto-Lei, 
Medida Provisória. 
 
e) Interpretação autêntica (Kelsen): o juiz faz a interpretação autêntica, 
ou seja, ele decide conforme sua interpretação. Maior liberdade interpretativa: 
 
 O juiz deveria perseguir a interpretação correta, não a única, mas 
sempre com fundamentação, para que as pessoas entendessem e pudessem 
concordar com a decisão. 
 Lançar mão de boa argumentação 
 Não cabia aos juristas analisar a qualidade da decisão. 
 
2) 
Comandos (mandamentos) 
Uma das principais características do Direito: é um conjunto de prescrições 
(mandamentos ou comandos). 
Estes comandos estão divididos em vários níveis: alguns mais abrangentes, 
como a Constituição; outros bem específicos, como as normas de um condomínio, 
por exemplo. 
 
Comunicação 
 a transmissão dos comandos ocorre por um meio de comunicação. 
 Normalmente o meio utilizado é a escrita. 
Página 6 de 36 
 
 Cada um que lê um comando o interpreta de uma forma. 
Não é possível que a interpretação seja feita de qualquer forma pelos 
operadores do Direito, em função da repercussão social, econômica e outras. 
 Não pode haver subjetividade na interpretação. 
 Há necessidade de disciplina. 
 O intérprete é responsável pala repercussão da sua interpretação → 
quem julga o caso concreto tem um nível de responsabilidade maior. 
 
 
Linguagem jurídica 
A linguagem jurídica é uma linguagem natural. 
 A linguagem natural é a utilizada no cotidiano para a comunicação. 
 Esta linguagem não tem um repertório limitado, pode até mesmo ser 
considerada infinita. 
 
Gramática normativa 
 Uma tentativa de impor, pelo sistema educacional, uma linguagem, uma 
convenção. 
 É uma forma de padronizar a linguagem. 
O legislador faz um esforço no sentido de padronizar a linguagem, evitando, 
por exemplo, a utilização de estrangeirismos ou gírias na escrita das leis. 
 Ex: na definição de homicídio utiliza o verbo matar ao invés de 
“apagar” 
Além deste esforço, há necessidade de cuidados com algumas dimensões da 
linguagem: 
Página 7 de 36 
 
1) Dimensão semântica: sentido das palavras, cuidado com o significado 
atribuído às palavras. 
 
2) Dimensão sintática: combinação das palavras. O lugar da palavra no 
texto, contextualização. 
 
3) Dimensão pragmática: interpretaçãocomo atividade política, 
ideológica. Qual a finalidade do texto? Interpretar à luz do que se pretende alcançar 
com aquela norma, à luz do que quis o legislador alcançar com aquela norma. 
 Ex: Constituição dos EUA. O texto é o mesmo há muito tempo, mas o 
entendimento do texto muda ao longo do tempo (interpretação progressiva). 
 
 
 
 
Limitações da Linguagem: 
Ambigüidade 
 Uma palavra pode ser lida simultaneamente como portadora de 
diversos significados. → um número limitado deles. 
 Várias opções na INTERPRETAÇÃO SEMÂNTICA. 
 
Vagueza 
 Palavra com significado muito aberto (grande amplitude semântica). 
 Dificuldade de adotar um dos seus significados → dificuldade de 
interpretação semântica. 
Página 8 de 36 
 
 Como resolve? Atribuindo um significado de acordo com a finalidade 
da lei (pragmatismo) 
↓ 
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA: se preocupa com os fins do Direito, com 
a finalidade da norma que está sendo interpretada. 
 
Segurança jurídica 
 As pessoas precisam de certa previsibilidade da atuação do Direito. O 
Direito tem que ser previsível em sua resposta à sociedade. 
 Não significa que não pode inovar. 
 Há certo grau de incerteza, mas não absoluta. 
Ex: há garantias de estabilidade processual: 
1) Duplo grau de jurisdição 
2) Contraditório e ampla defesa. 
A busca da justiça não dá ao intérprete carta branca para encontrar o Direito 
de qualquer maneira. 
 A busca pela justiça segue um caminho orientado. 
 Há exigência de fundamentação racional na interpretação 
 Limites impostos para a Justiça garantem a segurança jurídica 
Ex: coisa julgada: debate jurídico em dado momento chega ao fim. 
_________________________________________________________________________________ 
A Hermenêutica se constrói como uma teoria dogmática que expressa como 
deve-ser interpretado o Direito. 
Os conceitos, as premissas e princípios formulam-se como orientações sobre 
os objetivos e os propósitos da interpretação e dessas orientações deduzem-se 
regras hermenêuticas. 
Página 9 de 36 
 
Três critérios básicos para proposição de um quadro esquemático dos 
métodos de interpretação: 
a. Coerência ou correção: busca do sentido correto com exigência de um 
sistema hierárquico de normas e conteúdos normativos. 
b. Consenso: busca do sentido funcional com respaldo social. 
c. Justiça: busca do sentido justo com exigência de que sejam atendidos 
os objetivos axiológicos do Direito: estar de acordo com o padrão dominante de 
valores em determinada sociedade. 
Métodos hermenêuticos: são regras técnicas que visam a obtenção de um 
resultado. 
 
1. O texto normativo como limite positivo da interpretação. 
A lei se tornou o veículo da produção jurídica no Estado Moderno e no Estado 
Contemporâneo. 
 Em função disso, a interpretação jurídica acaba sendo 
preponderantemente interpretação das leis. 
 Isso não significa “só interpretação da lei”. 
 Significa que a interpretação textual (do texto da lei) acaba sendo o 
ponto de partida para a interpretação jurídica. 
Limite positivo: de onde eu inicio, dá idéia de inclusão. Significa que não pode 
desconsiderar o texto normativo, tem que ser feita a partir do texto normativo. 
 
 
 
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2. Interpretação gramatical e dimensão sintática da interpretação 
jurídica 
Já que o texto é o ponto de partida da interpretação, há necessidade de 
entendimento do texto. Antes de ser uma interpretação jurídica, é uma interpretação 
lingüística. A primeira etapa da interpretação é a interpretação gramatical 
 dimensão sintática da interpretação jurídica (relação sintática entre os 
diferentes termos utilizados no texto normativo). 
 o significado isolado da palavra depende da forma como está inserida 
no texto. 
 
Problemas sintáticos referem-se a: 
a. Questão léxica: conexão das palavras nas sentenças. 
b. Conexão de uma expressão com outra expressão dentro de um 
contexto. 
c. Conexão das sentenças num todo orgânico. 
Léxico poderia ser definido como o acervo de palavras de um determinado 
idioma. Em outras palavras, é todo o conjunto de palavras que as pessoas de uma 
determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito. 
Quando se enfrenta uma questão léxica, a doutrina fala em interpretação 
gramatical. 
 
3. Interpretação lógica e sistemática: pretensão de consistência do 
ordenamento. 
4. Quando se enfrenta problemas lógicos, a doutrina fala em interpretação 
lógica. 
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5. A interpretação lógica lida com as palavras da lei na forma de conceitos. 
Inconsistências ocorrem quando se usa o mesmo termo em normas diferentes, com 
conseqüências diferentes. 
6. Ex: tributo em sentido amplo e estrito. 
7. Uma única lei ou código pode possuir centenas de artigos e estes 
devem ser coerentes uns com os outros. Além disso, as leis devem ser coerentes 
umas com as outras. Não poderia haver antagonismos. 
Lógica: coloca em relação diferentes dispositivos jurídicos, de modo que 
possam ser comparados. 
Exemplo: lei nova x lei velha. Quando não ocorre revogação expressa, há 
necessidade de análise das leis. 
Interpretação lógica é capaz de ordenar o Direito, pondo fim a dúvidas 
geradas por leis ou artigos aparentemente antagônicos. 
 
Sistemática: atribuir coerência ao Direito como um todo → tentativa de 
atribuir coerência ao todo do ordenamento jurídico. Busca de uma totalidade 
coerente. 
 
Quando se enfrenta problemas lógicos, a doutrina fala em interpretação lógica. 
A interpretação lógica lida com as palavras da lei na forma de conceitos. Inconsistências 
ocorrem quando se usa o mesmo termo em normas diferentes, com conseqüências 
diferentes. 
Ex: tributo em sentido amplo e estrito. 
Uma única lei ou código pode possuir centenas de artigos e estes devem ser coerentes 
uns com os outros. Além disso, as leis devem ser coerentes umas com as outras. Não 
poderia haver antagonismos. 
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8. Interpretação literal, restritiva e extensiva: dimensão semântica da 
interpretação. 
A dimensão sintática está diretamente relacionada com a dimensão semântica. 
Esta não é focada na relação das palavras umas com as outras, mas na relação destas 
com o mundo. É focada no significado de cada palavra. 
A semântica busca o significado do termo utilizado no texto normativo. 
 Ex: o que significa a palavra “livro”? Um livro eletrônico pode ser 
considerado “livro”? Tem implicação, por exemplo, quando se trata de imunidade 
tributária. 
 
 
Três caminhos podem ser utilizados na interpretação semântica: 
a) Literal: significado de uso mais comum na linguagem jurídica 
(majoritário) 
Ex: a palavra “pena” é utilizada no sentido de “sanção” 
Nem sempre há unanimidade no entendimento de qual o sentido literal. 
Ex: “livro” na lei significa “livro de papel”? 
 
b) Restritivo: atribuição de significado mais específico, com pretensão de 
exatidão. 
Ex: definição do crime de bigamia utiliza a palavra casamento. 
A interpretação utilizada é a de casamento formal, no sentido específico do 
código civil. 
 
c) Extensivo: amplitude semântica maior. Utilização do significado mais 
abrangente. 
 
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 Significado do termo “homem” 
Literal, mais comum: pessoa humana do sexo masculino. 
Extensiva: palavra homem utilizada para fazer referência a toda humanidade. 
 → todos os homens são iguais em direitos... 
Restritiva: pessoa humana do sexo masculino com mais de 18 anos. 
 
 Não há regra para a adoção de um ou outro significado. A interpretação 
literal nem sempre será a mais correta. 
 
 
9. Interpretaçãoteleológica: pretensão de realizar, através da 
interpretação, os fins do direito. 
“telos” = objetivo, finalidade, meta. 
 Importância dos fins que o direito pretende atingir, das finalidades do 
Direito: bem comum, igualdade, liberdade,... 
 Quando os fins colidem uns com os outros, há necessidade de 
interpretação teleológica. 
 Ex: direito à informação x direito à privacidade. 
 
 
 
10. Interpretação histórica, social e econômica: dimensão pragmática e 
contexto interpretativo. 
Contexto da interpretação: Direito tem objetivo de resolver situações 
concretas. Contexto do caso concreto tem que ser levado em conta no momento da 
interpretação. 
Dimensão pragmática do Direito: contexto real em que os fatos estão 
acontecendo. Aspectos econômicos, históricos e sociais devem se considerados. 
Página 14 de 36 
 
Exemplo: 
 Contratos sensíveis a mudanças econômicas → contrato com base em 
moeda estrangeira. 
 “Pacta sunt servanda”: uma vez pactuado, deve ser cumprido. É 
condicionado à cláusula “rebus sic standibus” → se as coisas permanecerem como 
estão. 
 Alteração drástica no câmbio interfere naquele contrato. Necessidade 
de ação revisional! 
 Não mais usada nos dias atuais. 
 
V ou F 
As interpretações, analógica e extensiva, fornecem os principais meios de 
superar as antinomias jurídicas*, ao passo que a interpretação sistemática está a 
serviço do preenchimento de lacunas da integração do direito. 
* antinomias jurídicas: é uma contradição real ou aparente entre leis ou entre 
disposições de uma mesma lei, dificultando-se assim sua interpretação. 
Analogia e interpretação extensiva → preenchimento das lacunas do direito 
Interpretação sistemática → superação de antonímias. 
 
Formalismo jurídico: única interpretação correta. 
 
- Superação do formalismo jurídico: não há uma única interpretação 
correta, mas há uma pretensão de plenitude do direito. É uma pretensão, pois na 
realidade, o ordenamento jurídico: 
1) tem natureza falha e lacunosa; 
2) tende à obsolescência. 
 
Página 15 de 36 
 
 Lacunas ocorrem devido à crescente desatualização do Direito: o Direito 
não consegue acompanhar a evolução da sociedade. 
 
- Por que deve existir pretensão de plenitude? 
 Necessidade de justiça e segurança jurídica: resposta para as demandas 
da sociedade → litígios, acordos, conflitos. 
 
 Exemplos: evolução do conceito de família, adultério deixou de ser 
crime. 
 
- Admitimos que existam lacunas, faz parte da natureza do Direito → mas 
como suprir essas lacunas? 
 
1º passo: Reconhecer as lacunas 
 
 Se determinada situação não é tratada pelo Direito, por que concluímos 
que ela deveria ser? 
 Como reconhecemos as lacunas? Não há uma regra! 
 Critérios: justiça, equidade ou outro que permita perceber que uma 
situação não abrigada pelo Direito deveria sê-lo. 
 Ex: união homoafetiva. 
 
2º passo: Interpretar o Direito → Interpretação analógica ou extensiva. 
 
 Direito não pode ser indiferente diante das demandas da sociedade! 
Mas tem que ser criterioso em relação ao momento (caso concreto) no qual vai 
aplicar a analogia/extensão: 
Ex: lei Maria da Penha para homens, direito de sucessão em relações 
homoafetivas. 
 
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Interpretação analógica 
 
Disposição Normativa 
 ↓ 
Situação Fática Prevista ≈ Situação Fática não prevista 
Casamento homem x mulher Casamento homoafetivo. 
 
Análise do caso concreto para verificar a validade da interpretação analógica 
naquele caso. Ex: herança. 
Interpretação extensiva 
 
 Trabalho com a dimensão semântica do Dispositivo Normativo. 
 Uma palavra que tem diversos sentidos → posso atribuir um sentido 
mais amplo. 
 
Ex: imunidade de impostos a livros. O termo livro refere-se ao livro de papel. 
 Interpretação extensiva: livro é um diz respeito a qualquer tipo: mídia, 
e-book, papel. 
 
 
Interpretação teleológica 
 
 É o grande apoio para as duas anteriores. 
 Por que aplicar a interpretação analógica ou extensiva? Justifica a 
utilização da interpretação. 
 Havendo uma justificativa, aplica-se a interpretação analógica ou 
extensiva. 
 
 
5) 
Página 17 de 36 
 
1) Pretensão de consistência do direito: o “sistema jurídico” 
 
Para os formalistas, o Direito era visto como uma unidade coerente: um 
conjunto coordenado e coerente de princípios e normas. 
A interpretação sistêmica tem grande importância na interpretação jurídica, 
assim como a Lógica (utilização do silogismo). Mas nem sempre é possível a 
aplicação da lógica. 
 
Formalistas: 
1) Pretendiam defender uma limitação do papel do intérprete, de uma 
postura mais cautelosa. Defendiam que a interpretação fosse mais silogística possível. 
Quando houvesse dúvida, ele deveria se preocupar com o que o legislador havia 
pensado quando concebeu a lei. 
2) O sistema jurídico seria um sistema logicamente coerente, seria perfeito 
do ponto de vista do encadeamento lógico dos seus componentes. 
3) O sistema jurídico não apresentaria qualquer contradição, não 
apresentariam quaisquer antinomias. 
4) Antinomias (contradição entre duas leis, oposição a duas teses): ou 
não existiriam ou seriam puramente aparentes. 
 
Caso do Direito Penal: dúvida quanto ao enquadramento de um crime. Eu 
trouxe cocaína da Bolívia, onde é enquadrado. 
Formalistas: são conflitos aparentes da norma (falsas antinomias) e devem ser 
facilmente resolvidas. Como resolver? 
 Conceito ultrapassado: não são conflitos aparentes, são conflitos reais! 
 
Critério: Princípio da especialidade: no conflito da norma genérica com a 
norma específica, prevalece a específica. 
Exemplo: importei cocaína, não é contrabando, é tráfico de drogas. 
 
Página 18 de 36 
 
Outros critérios 
- Hierárquico (CF x normas infraconstitucionais) 
- Competência 
 
Idéia do sistema formalista foi sendo desprestigiado ao fim do século XIX, 
início do século XX. Por quê? Aos intérpretes não cabia refletir sobre os valores. 
Deveriam se ater à letra da lei. Não havia preocupação com a unidade de valores por 
parte do jurista. Quem se preocupava com os valores era o Legislativo. 
 
 
 
2) Unidade lógica e unidade de valores: antinomias superficiais e 
antinomias profundas 
 
A idéia de sistema se divide em dois aspectos: 
a) Unidade lógica 
b) Unidade de valores (axiológica) 
 
A natureza do Direito é de caos. O Direito somente terá uma estrutura 
ordenada em função da interpretação sistemática. Assim, ocorre uma tentativa de 
fazê-lo parecer um sistema. 
 → Mas nunca será um sistema perfeito. 
 
Unidade lógica: consegue-se dar ao Direito maior unidade lógica por meio de 
algumas técnicas, como o silogismo. Ex: interpretação gramatical, lógica, corretiva. 
Buscando-se a unidade lógica, consegue-se resolver problemas de antinomias 
superficiais. 
 
Unidade de valores: no caso de haver profundas (graves) antinomias, há 
dúvida em relação aos valores jurídicos. 
Página 19 de 36 
 
Ex: em dada situação processual, ocorre dúvida entre os princípios da 
celeridade e da formalidade. 
Ex: garantia da ordem pública x presunção de inocência. 
Ex: liberdade de expressão x direitos de personalidade, vida privada. 
 
Não era considerada pelos formalistas. 
Intérprete se obriga a questionar/analisar os valores que sustentam o Direito. 
Que tipo de interpretação pode auxiliar o intérprete neste caso? 
 
 Interpretação teleológica: além de servir para o preenchimento das 
lacunas, tem o fim de sistematizar o direito, como uma unidade de valores. 
 
 Exige uma visão amplado direito. 
 
 Intérpretes utilizam a interpretação teleológica para tentar afastar estas 
antinomias profundas. 
 
 Ainda não há um modelo padrão a ser adotado nestes casos, mas 
tenta-se resolver estas antinomias pela utilização de um sistema aberto de princípios 
e regras. 
 
3) Sistema aberto de princípios e regras: as diferentes modalidades de 
norma jurídica e a flexibilidade da interpretação 
 
 Tentou-se, nas últimas décadas, desenvolver um modelo de 
interpretação que fosse flexível, mas que tivesse algumas âncoras que impusessem 
limites ao intérprete. 
 
 É uma revisão da ideia positivista de sistema jurídico. → Para o 
formalismo o sistema era tido como fechado, limitado ao direito positivo vigente. 
Página 20 de 36 
 
 
 Passou-se a admitir que o Direito vigente não fosse apenas o Direito 
positivado, mas que também fossem incluídos conceitos, princípios, aspectos sociais, 
culturais, econômicos, morais que influenciam os juristas. Daí ser chamado “sistema 
aberto”. 
 
 São reconhecidas as influências não jurídicas que o Direito sofre: sociais, 
econômicas, culturais. Esses aspectos são filtrados e influenciam a interpretação. 
 
As normas jurídicas se dividem em dois grandes grupos: 
 
1) Regras: normas jurídicas mais simples. Deixam clara a consequência de 
sua aplicação. 
 
Estrutura da modalidade jurídica chamada de regra: 
→ Se “A” é, deve ser “B” 
 
Sua interpretação não depende tanto da argumentação. Muitas vezes se 
resolve pelo silogismo (lógica) → enquadramento de uma situação fática na norma. 
 
2) Princípios: normas propositalmente redigidas de forma mais vaga ou 
mais ambígua. Consequência de sua aplicação é deixada em aberto. Abertura 
semântica maior. 
São os princípios que permitem a busca da unidade de valor: dão flexibilidade 
ao Direito por utilizarem linguagem mais aberta, menos precisa. 
 
Ex: fundamentos e princípios do Estado Brasileiro: dignidade da pessoa 
humana, pluralismo político, autodeterminação dos povos. 
 
 
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4) Conflitos de interesses juridicamente protegidos e ponderação de 
princípios 
 
Há situações fáticas onde se chocam interesses antagônicos. Chocam-se 
interesses jurídicos igualmente protegidos. 
 
Ex: Se há conflito entre a Liberdade de informação e o direito de privacidade, 
há necessidade de realizar a ponderação de princípios. 
 Publicação em jornal do nome dos servidores de determinado órgão 
com respectivos salários. Juiz autorizou publicação da relação cargo x salário, sem 
nome de funcionários. Atendeu aos dois princípios. 
 
5) Ativismo judicial e interpretação criadora 
Atualmente o STF tem perfil ativista. 
Modo de dizer o direito pelo Poder Judiciário, ora fiscalizando, 
estabelecendo, determinando a execução da lei, ora garantindo, esclarecendo, 
gerenciando e ordenando o cumprimento de políticas públicas, a fim de resolver 
problemas da realidade imediata como na casuística apresentada inicialmente. 
Ex: STF utilizando a interpretação extensiva do termo cônjuge, da união 
estável, positivando um Direito (cria um direito constitucional). 
 O STF ampliou a constituição, criando um direito. 
 É uma prática que se assemelha a uma Emenda Constitucional. 
Esta atitude do Judiciário coloca em cheque a divisão dos poderes! 
 
6) 
 Martin Heidegger foi filósofo, escritor, professor universitário, reitor e um 
dos grandes pensadores do século 20. 
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lançou a idéia de que quando a gente interpreta não estamos somente 
tentando descobrir um significado objetivamente dado, portanto pelo nosso estudo 
e intelecção, e sim queremos compreender, nesse esforço de compreender acabamos 
experimentando um pouco da nossa situação de vida. Sendo não só descoberta de 
nosso estudo, mas de nós mesmos. 
Heidegger afirmava que nosso conhecimento depende de nosso interesse no 
sentido de motivação, saber por que se quer saber e por que se quer dar alguma 
finalidade a este saber. Se nosso conhecimento está vinculado ao nosso interesse, 
assim nosso conhecimento não é neutro ou puramente objetivo, sendo movido por 
um interesse ou meta ao alcançar é um conhecimento subjetivo. Na nova visão, não 
há como separar-se SUJEITO COGNISCENTE do OBJETO (pois nos projetamos no 
objeto estudado), como ocorre no tradicional – tratado como dogma o sujeito e o 
objeto totalmente separados, não se comunicando. 
 
 
A NOVA HERMENÊUTICA DE H. G. GADAMER 
Foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores expoentes da 
hermenêutica filosófica. Sua obra de maior impacto foi Verdade e método. A 
hermenêutica avança ainda aos um passo entrando na sua fase linguística, com a 
controversa afirmação de Gadamer de que um ser pode ser compreendido é 
ilinguagem. A hermenêutica é um encontro com o Ser através da linguagem. 
Ultimamente, Gadamer defendeu o caráter linguístico da própria realidade humana, e 
a hermenêutica mergulha nos problemas puramente filosóficos da relação e da 
realidade. 
Gadamer afirma que temos uma carga cultural, de conhecimento e 
experiências, que nos permitem interpretar e ao mesmo tempo nos limita a 
interpretação ficando refém do nosso próprio preconceito, das próprias idéias, 
limitando a interpretação, direcionando-a. Para o Gadamer devemos ter auto-
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conhecimento, pois este é o único caminho para não nos bitolar, tendo assim 
consciência da nossa própria condição, admitindo que somos agente historicamente 
condicionado, entendendo de que maneira o meio nos criou, que somos 
historicamente situados. A viabilidade da interpretação depende de possuirmos 
ferramentas elementares e consciência disso, conhecendo a própria condição. 
Assim a teoria da argumentação é necessária para a linguagem interpretativa. 
 
O sujeito historicamente situado traz consigo uma pré-compreensão, relativa 
sua vivência, não limitando-o a neutralidade e sim pelo contrário, traz uma série de 
cargas. Com sua pré-compreensão pessoal, não sendo sujeito isolado, estando 
inserido em um panorama evolutivo, deve saber qual a tradição que o circunda, qual 
o ambiente que está em sua volta, devendo conhecer o acervo de interpretações 
jurídicas – tradição interpretativa do direito = cultura jurídica. Fazendo uma leitura 
própria da tradição, a sua maneira. 
 
IDEIA DA FUSÃO DOS HORIZONTES 
O intérprete do direito é praticamente um intérprete de texto 
Respeitando a origem do texto, levando em conta os valores vigentes a época 
que o texto foi produzido, não é a idéia do formalismo (reproduzir o significado do 
legislador histórico) e sim saber que o texto foi concebido em determinado horizonte 
histórico, fundindo-o com o atual, fazendo uma síntese que respeita o horizonte 
histórico, mas atualiza, sendo uma idéia fiel do que se tem por tradição. 
 
A idéia forte da fusão de horizonte e o círculo hermenêutico, proposto por 
Gardam, há uma evolução permanente e os movimentos de interpretação, parte do 
interpretar é olhar para trás e continuamente encaminhar atualização do que já vinha 
se entendendo anteriormente, por isso é muito útil ao intérprete saber as decisões 
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passadas, para saber o que o conhecimento histórico pensou, e fornecer um 
entendimento futuro. 
_____________________________________________________________________ 
- Revalorização da retórica de Aristóteles: uso argumentativo dos topoi 
(lugares comuns da argumentação) 
- Constatação das limitações da prova demonstrativa, da “lógica da 
verdade”. 
- Pensamento tópico-problemático: tecido de premissas plausíveis, legítimas 
pelo consenso. 
- Pluralismo jurídico: tolerânciae respeito à diferença → diálogo entre 
posições inconciliáveis e esforço de consenso. 
- Argumentos quase-lógicos, persuasão e convencimento: em que se apóia 
a interpretação? 
 
Autores da nova argumentação 
Gadamer 
Perelman → fundou a nova retórica 
Viehweg → fundou a retórica tópica. Livro: Tópica e Jurisprudência 
 tópica de Aristóteles (topoi) 
 no sentido de ciência do Direito (ciência jurídica) 
Buscam valorização da obra de Aristóteles (da retórica Aristotélica): houve 
necessidade de estudo da retórica aristotélica para possibilitar a sua aceitação, já que 
a retórica era entendida como um discurso destinado a enrolar, enganar os outros. 
 
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Ciências da natureza diferentes das humanas 
Ciência da natureza: 
→ sustentada em uma prova que não admite contestação (axiomas). Foi 
comprovado cientificamente → axiomas se aplicam à natureza. 
→ cuidado: não é axioma → não admite contestação, mas não foi 
comprovado. 
 Ciências humanas: 
→ na cultura (ciências humanas ou sociais) não existe uma lógica da verdade, 
não é possível uma prova demonstrativa. As afirmações são relativas a um 
determinado tempo, determinado lugar, a um determinado estado do mundo das 
idéias. 
→ aquilo que se afirma não é necessariamente verdadeiro, é verossímil 
(que se acredita ser verdade). O que é verossímil muda conforme o momento 
histórico e sofre influência da cultura, da moral. 
Viehweg 
A idéia dominante de sistema jurídico era ligada à idéia de lógica de verdade. 
Chegou-se a conclusão de que essa forma de interpretação não resolvia os 
problemas do Direito. Havia necessidade de dar atenção às peculiaridades do 
caso concreto, e, a partir daí, aplicar o Direito. 
O jurista deve, em um primeiro momento, olhar para o problema, depois 
entender o problema e, por fim, verificar a demanda (aplicabilidade) do Direito 
→ Há necessidades de aplicação do Direito? Qual a justiça que se busca naquele caso 
concreto? 
 Jurista não poderia utilizar um argumento sistemático focado no Direito. 
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 Necessidade de utilizar argumentos com premissas e fundamentos 
plausíveis → aceito ainda que com algumas reservas, pode ser aceito dentro de certas 
condições. 
 Busca-se o consenso. 
 
Sistemática: jurista tenta enquadrar o caso concreto em algum dispositivo 
legal. 
Tópica: tentativa de construir uma decisão sob medida para o caso concreto. 
Para isso, se deve utilizar argumentos que sejam aceitos, que gozem de certa 
simpatia das pessoas (topoi). São argumentos que tendem a obter adesão 
(aceitação). 
 Estes argumentos acabam se tornando lugar comum da argumentação, 
por se repetirem. A maior parte deles são apelos ao senso comum (aquilo com que as 
pessoas tendem a concordar). 
 Topoi é plural. → Topos = lugar 
 Não são axiomas¹, são argumentos aceitáveis, plausíveis (não é 
unanimidade) 
 O senado tem encontrado dificuldade de atualizar o direito, atendendo 
as demandas da sociedade. Assim, o Judiciário vai avançando sobre a área de 
atuação do Legislativo. No Brasil, STF tem “atropelado” o Congresso, adotando 
uma posição de ativismo jurídico. No caso dos direitos dos homossexuais, foi 
praticamente feita uma Emenda Constitucional. 
 Há um processo de aperfeiçoamento do Direito, no sentido de exigir um 
esforço de se atingir um consenso pela via da argumentação, não pela persuasão 
(apelo ao sentimento, à emoção). A interpretação deve se apoiar no convencimento, 
não na passionalidade, no discurso emotivo. ¹ AXIOMA – Algo que se tem como 
verdade, sem ser provado: ex. DEUS. 
8) 
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1. Peculiaridade da hermenêutica constitucional – V. Barroso 
2. A grande maioria dos países, nos dias atuais, adota a Constituição 
escrita e rígida: com regras de alteração mais rigorosas, em comparação às demais 
normas. 
3. Portugal → saindo de ditadura (Salazar) 
4. Espanha → saindo de ditadura (Franco) 
5. Ambos tiveram constituições de democratização na década de 70 e 
influenciaram a CF/88do Brasil. Ainda hoje, constitucionalistas desses países 
influenciam nossa doutrina (Ex: Canotilho-POR). 
 
Supremacia da Constituição: vale para Direito Nacional infraconstitucional → 
ocupa posição hierárquica superior às demais normas. 
Nos dias atuais, há um direito multilateral, em função da criação de 
organismos supranacionais. Por exemplo, o Tratado de Roma criou o Tribunal Penal 
Internacional. Se um brasileiro nato é condenado pelo Tribunal Penal Internacional e 
se encontra em território brasileiro, como o Brasil reconhece o Tribunal, ocorrerá a 
entrega - não será considerada extradição. 
Presença de normas de organização do Estado: repartição das competências 
de cada órgão. 
Presença de normas que veiculam princípios: são escritas em linguagem 
aberta. 
Ex: CF, Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa 
do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
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 Documento jurídico e político: estarão consolidadas as escolhas políticas 
fundamentais de um país → Estado Democrático, separação dos poderes, sufrágio 
universal², Forma e Sistema de Governo, Direitos individuais e coletivos, etc. 
→ influencia na interpretação: ocorrerá a interpretação politizada. 
Ex: STF muda interpretação de alguns assuntos, conforme o momento. 
 
² VOTO 
 
Quando uma Constituição está ultrapassada, podem ocorrer as seguintes 
situações: 
a. Muda-se a Constituição; 
b. Reforma-se a Constituição por meio de emendas; 
c. Legislador infraconstitucional trata de matéria que deveria ser 
constitucional, por meio de leis infraconstitucionais → por vezes, projetos são 
barrados antes da promulgação; por vezes as leis são consideradas inconstitucionais 
após sua vigência. 
d. Interpretação constitucional. 
 
6. Hermenêutica e supremacia da constituição: quem cuida da 
Constituição? 
a. No sistema europeu se entrega o controle jurisdicional a um órgão que 
não faz parte do judiciário: Tribunal Constitucional. Foi criado quase 100 anos após 
a criação do sistema americano. 
b. Nos EUA, em 1803, decisão do Julgamento de Marbury (Governador) x 
Madison (Deputado). O Governador criou lei que determinava a nomeação de juízes 
pelo Governador. O deputado não concordou, alegando inconstitucionalidade da lei. 
 A Suprema Corte determinou que ela própria seria a responsável 
pelo controle da constitucionalidade das leis. 
 O tema foi centro de grandes debates, pois os juristas não concordavam 
com este poder dado à Suprema Corte, mas com o tempo foi aceito. 
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A maioria dos países adotou o sistema americano. Algumas exceções: na 
França o controle é feito por um Conselho Jurisdicional. Na Inglaterra não há 
controle jurisdicional. 
 
No Brasil adota-se um sistema híbrido: uma mistura do sistema europeu e 
do sistema americano. 
Sistemas de controle jurisdicional da constitucionalidade dos atos normativos 
do Estado (atos legislativos, atos administrativos, decisões judiciais). 
 
Americano: 
 Concreto: no julgamento de cada caso. 
 Difuso: em todas as instâncias (qualquer juiz) podem declarar 
inconstitucionalidade. 
 Decisões dos juízes valem para aquele processo → “inter partes” 
 Decisões dos Tribunais vinculam juízes subordinados 
 Decisões dos Tribunais Superiores vinculam Tribunais e juízesEuropeu continental - inspirado em Kelsen: 
 Abstrato: não ocorreria sobre casos concretos, controle recairia sobre o 
texto da lei. 
 Concentrado: criação de um único órgão responsável pelo 
pronunciamento de constitucionalidade de lei (Tribunal Constitucional). 
 
7. Atualidade da polêmica entre Kelsen e Schmitt: judicializar a 
política ou politizar a justiça? 
Schmitt: CF é demasiadamente política para que seu controle seja entregue a 
um órgão jurisdicional. 
Este controle deveria ser do Executivo. 
 
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Kelsen: Ninguém é bom juiz dos seus próprios atos. Não se pode esperar que 
o Executivo ou Legislativo se autocontrolem. 
 Decisões recentes do STF: está adotando uma postura de ativismo 
judicial → atitude voltada para a política. Ex: decisão da união estável aplicada aos 
casais homoafetivos. → politização da justiça. 
 
 
 
8. Princípios da interpretação constitucional (V. K. Hesse) 
Práticas que os tribunais têm seguido na Interpretação das Constituições 
Capítulo do Hesse xerox – pág. 65 a 74 
a. Unidade da Constituição: unidade de valores, de princípios 
(interpretação teleológica). A CF tem que ser lida como uma totalidade, onde todas 
as partes estão de acordo com certos valores essenciais (interpretação sistemática). 
 
b. Concordância prática: tem a ver com a concretização dos princípios 
constitucionais, com a eficácia dos princípios. Os princípios devem ser harmonizados 
e compatibilizados. Princípios são mandados de otimização: otimização de valores. 
Princípios devem ser observados e ponderados na análise do caso concreto. 
 
c. Competência funcional: A CF define os órgãos e define o que cada um 
faz, reparte as competências. 
 
d. Efeito integrador: quando se interpreta a Constituição e há conflito, 
deve-se optar por aquela que reforce a unidade da Constituição. 
 
e. Força normativa da constituição: A constituição deve ser preservada, 
mas, ao mesmo tempo, ela deve se atualizar. Deve-se encontrar um equilíbrio, deve-
se permitir que ela seja atualizada e, ao mesmo tempo, perdure ao longo do tempo 
→ atualizá-la sem descaracterizá-la. 
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f. Interpretação conforme a Constituição: permite que uma lei seja 
compatibilizada com a Constituição e assim permaneça válida. Se houver muita 
frequência na declaração de inconstitucionalidade das leis, haverá insegurança 
jurídica. Sempre que possível, a lei deve ser interpretada conforme a Constituição. 
 
9. A metódica jurídica estruturante de F. Müller 
A interpretação jurídica se dá em duas etapas: 
1) 1ª Etapa: programa da norma → mais concentrada no texto normativo. 
Busca de tudo que o texto pode oferecer. 
2) 2ª Etapa: âmbito da norma → leva em conta o contexto em que a 
norma foi aplicada, observação de um recorte da realidade no qual a norma foi 
inserida (contexto social, político, cultural, econômico). 
 
 Norma resulta da soma do Programa normativo ao Âmbito da 
norma → norma resulta da interpretação do texto normativo. 
 
Segundo Muller há duas Etapas: 
 1 – programa da norma jurídica 
 2 - âmbito da norma (fatos relacionados a questão jurídica) 
=> Norma jurídica = programa da norma + âmbito da norma 
Norma Jurídica existe após a interpretação, anterior a esta há um texto 
normativo, que não é norma jurídica propriamente dita. 
____________________________________________________________________________ 
Interpretação: - literal; - restritiva; - extensiva. 
Depende do contexto em que a interpretação está se dando e os princípios 
que cercam o direito em questão (ex, direito de trabalho pode exercer diferente 
interpretação pelo direito financeiro). 
Ambigüidade das palavras – portadora de diversos significados. 
 
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Vagueza – é a amplitude semântica, tem-se espaço que deve ser preenchido, 
muitas vezes a atribuição do significado é afinidade. Obriga praticamente a sair da 
palavra e procurar o significado em outro lugar. 
Interpretação teleológica – importa com os fins perseguidos pelo direito –> 
preocupa com fins do direito. 
Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.277: Voto do Ministro Celso de 
Mello 
 
O presente trabalho tem por finalidade realizar uma análise dos argumentos 
utilizados no voto do Ministro Celso de Mello por ocasião do julgamento da Ação 
Direta de Inconstitucionalidade número 4.277 (ADI 4.277), sob a luz dos métodos de 
interpretação jurídica. Não será motivo de argumentação neste trabalho o fato de ter 
ocorrido ou não ativismo judicial por parte do STF. 
 
A Procuradora-Geral da República propôs, em 2 de julho de 2009, Argüição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 178) para: 
a) declarar a obrigatoriedade do reconhecimento, como entidade familiar, da 
união entre pessoas do mesmo sexo, desde que atendidos os mesmos requisitos 
exigidos para a união estável entre homem e mulher; e b) declarar que os direitos e 
deveres dos companheiros nas uniões estáveis estendem-se aos companheiros nas 
uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. Sustenta a requerente que o não 
reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar fere 
os princípios da dignidade humana (art. 1º, inciso III, da CF), da igualdade (art. 5º, 
caput), da vedação de discriminação odiosas (art. 3º, inciso V), da liberdade (art. 5º, 
caput) e da proteção à segurança jurídica (art. 5º, caput). 
(BRASIL, 2011 (a), p.45) 
 
Trata-se, então, de ADI com pedido de interpretação conforme a Constituição 
Federal do art. 1.723 do CCB, para que se reconheça sua incidência também sobre a 
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união entre pessoas do mesmo sexo, de natureza pública, contínua e duradoura, 
formada com o objetivo de constituição de família. 
 
 
entre as duas formas de constituição de um novo núcleo doméstico” (BRASIL, 
2011 (c), p. 44). O Ministro considerou que ‘entidade familiar’ deve ser entendida 
como sinônimo de ‘família’. 
Tendo em vista estas considerações, será realizada a partir de agora uma 
análise do voto do Sr. Ministro Celso de Mello na ADI 4.277. 
 
3.1 Interpretação gramatical 
 
O texto da lei é o ponto de partida da interpretação e, assim sendo, há 
necessidade de entendimento do texto. 
“[...] mudou-se o paradigma da família: de uma entidade fechada dentro de 
si, válida por si mesma, passou a existir somente em função do amor entre os 
cônjuges/companheiros, tendo em vista que a sociedade passou a dar mais 
relevância à felicidade, portanto à afetividade amorosa, do que à mera 
formalidade do casamento civil ou a qualquer outra forma preconcebida de família. 
Nesse sentido, o reconhecimento do ‘status’ jurídico-familiar da união 
estável, por si, alçou o afeto à condição de princípio jurídico implícito, na medida 
em que é ele, afeto (amor romântico, no caso)... 
realiza uma análise do conceito de união estável, uma das novas formas de 
entidade familiar contempladas na nossa Carta Magna. 
Assim, impositivo reconhecer a existência de um gênero de união estável 
que comporta mais de uma espécie: união estável heteroafetiva e união estável 
homoafetiva. Ambas merecem ser reconhecidas como entidade familiar. 
Havendo convivência duradoura, pública e contínua entre duas pessoas, 
estabelecida com o objetivo de constituição de família, mister reconhecer a existência 
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de uma união estável. Independente do sexo dos parceiros, fazem jus à mesma 
proteção. 
 
 
3.2 Interpretação histórica, sociológica e evolutiva 
para analisar as condições históricas de uma norma, “recomenda-se ao 
intérprete o recurso aos precedentes normativos, isto é, de normas que vigoraram no 
passado e que antecederamà nova disciplina para, por comparação, entender os 
motivos condicionantes de sua gênese (COMEÇO). 
O Ministro também cita que esse tratamento preconceituoso dado às relações 
homoafetivas esteve, desde aqueles tempos, sempre presente em nosso 
ordenamento jurídico, dando como exemplo a tipificação, como crime militar, da 
prática de relações homoafetivas no âmbito das organizações militares (Código Penal 
Militar, Art. 235). 
Concluindo esta etapa da argumentação, defende que este tratamento 
preconceituoso, excludente e discriminatório apresentado não pode mais ser 
dispensado a ninguém, até mesmo em função de previsão constitucional de 
“não discriminação”. 
 
3.3 Interpretação conforme a Constituição e Interpretação Sistemática 
De acordo com Luís Roberto Barroso, “no estudo da presunção de 
constitucionalidade das normas jurídicas [...] uma norma não deve ser declarada 
inconstitucional [...] quando, entre interpretações plausíveis e alternativas, exista 
alguma que permita compatibilizá-la com a Constituição”. (BARROSO, 2009, p. 193). 
Este é o princípio da Interpretação conforme a Constituição. 
“a Constituição interpreta-se como um todo harmônico, onde nenhum 
dispositivo deve ser considerado isoladamente”. 
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
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do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes:” (CF/88, Art. 5º) 
 
No voto do Ministro Celso de Mello, foram os métodos de interpretação 
conforme a Constituição e interpretação sistemática. Acerca da igualdade e não 
discriminação, cita o Ministro a abordagem do Grupo Arco-Íris de Conscientização 
Homossexual: 
 
Com efeito, sabe-se que a Constituição, em que pese o seu caráter 
compromissório, não é apenas um amontoado de normas isoladas. Pelo contrário, 
trata-se de um sistema aberto de princípios e regras, em que cada um dos 
elementos deve ser compreendido à luz dos demais. A noção de sistema traduz-se 
num importantíssimo princípio de hermenêutica constitucional, que é o da unidade 
da Constituição. (...). No sistema constitucional, existem princípios fundamentais que 
desempenham um valor mais destacado no sistema, compondo a sua estrutura 
básica. (2008 apud MELLO, 2011, P. 20, grifo nosso). 
 
3.4 Interpretação Teleológica e Axiológica 
“A lei sempre visa aos fins sociais do direito e às exigências do bem comum, 
ainda que, de fato, possa parecer que eles não estejam sendo atendidos.” 
 
A intenção do Ministro, com estas citações, foi a de embasar a tese de que o 
objetivo do legislador constitucional, ao redigir o § 3º do art. 226, era a de 
ampliação do conceito de família, estendendo a proteção do Estado a outras 
entidades familiares. Para reforçar esta tese, citamos o § 4º do Art. 226: “Entende-se, 
também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes.” É essa mais uma demonstração da intenção de inclusão do 
legislador. 
 
3.5 Interpretação Extensiva 
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“na interpretação extensiva, partimos de uma norma e a estendemos a casos 
que estão compreendidos implicitamente em sua letra ou explicitamente em seu 
espírito.” E segue, para que não se confunda os conceitos: “na analogia (...) o caso 
é omisso, tanto na letra, quanto no espírito de qualquer norma do ordenamento.” 
(FERRAZ JUNIOR, 2008, p. 279). 
Celso de Mello conclui que o legislador teve intenções de ampliação do 
conceito de família (interpretação extensiva) e, assim sendo, não poderia este 
dispositivo servir de base para interpretação restritiva. Analisemos novamente o 
dispositivo: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
(...) § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o 
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em 
casamento.”

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