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IDENTIDADE PROFISSIONAL DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: A RE/CONSTRUÇÃO NA E PELA PRÁTICA PEDAGÓGICA Gislaine Azevedo da Cruz PPGEDU/UFGD Eixo Temático 3- Identidade e formação docente Resumo: O trabalho busca realizar uma breve reflexão com base num recorte de monografia sobre a identidade de professoras da educação infantil do Município de Dourados/MS, a partir das práticas pedagógicas desenvolvidas pelas docentes diariamente nos Centros de Educação Infantil, sendo a regente e a assistente. O foco será sobre realização docente, a definição profissional e as representações de “boas” professoras da educação, características essas que influenciam na construção e reconstrução das identidades das professoras da educação infantil, para tanto traremos ao texto alguns dos relatos obtidos. A partir da perspectiva da pesquisa qualitativa tendo como base os depoimentos coletados por meio de entrevistas semi-estruturas. Tendo ainda, como aporte teórico autores/as que abordam sobre: formação e trabalho docente, educação infantil e especificamente sobre identidade profissional. Deste modo, esperamos contribuir com a reflexão vigente acerca da valorização das profissionais da infância. Palavras-chave: Identidade docente. Práticas Pedagógicas. Educação Infantil. Introdução: a origem da pesquisa A pesquisa justificou-se pela necessidade de estudos a respeito da identidade de profissionais que trabalham com a educação infantil e a profissão docente, visando assim, contribuir para o avanço nas discussões vigentes a respeito do papel e valorização das profissionais que trabalham com as crianças de 0 a 5 anos de idade no sistema de ensino brasileiro, em um momento no Brasil em que se busca afirmar e conquistar os direitos das crianças pequenas e do trabalho docente de qualidade, no qual foi relegado durante muito tempo, ou mesmo, colocado em segundo plano em quase todos os âmbitos da sociedade brasileira. A escolha do tema proposto surgiu a partir de um trabalho realizado no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) de 2009 a 2010 a respeito da identidade das profissionais da educação infantil na cidade de Dourados. 2 Refletindo sobre os depoimentos das professoras participantes da pesquisa, que eram responsáveis pelas crianças menores do Centro de Educação Infantil Municipal (CEIM), passei a perceber que estas, não se enxergavam como docentes, por não possuírem “uma sala de aula” com todas as suas características e implicações de uma escola 1 , e principalmente pelas professoras de educação infantil, terem a função do cuidado, aproximando-as das funções maternas e também de papéis que muitas vezes não lhes caberia como, por exemplo: tia, enfermeira, psicóloga, entre outras. No CEIM as distinções são maiores, e existem mais diferenças de funções quando relacionamos a relação entre assistente e regente. Existe a partir destas nomenclaturas distintas, atribuídas as responsáveis pelo atendimento das crianças, onde cada profissional desenvolve funções distintas, a regente cabendo o planejamento e a assistente principalmente o cuidar. Atribuições diferentes que interferem assim, diretamente na construção e reconstrução da identidade profissional. Neste sentido proponho refletir sobre: Quais são as identidades profissionais construídas entre a regente e a assistente na prática pedagógica de professoras da educação infantil? Quem são essas profissionais? Como elas se reconhecem? Existem diferenças na identidade profissional entre regente e assistente? As duas se reconhecem como profissionais e professoras? Trabalho este, desenvolvido como monografia, defendido no ano de 2011, no entanto abordaremos especificamente sobre a realização docente, a definição profissional e as representações de “boas” professoras da educação, configurações essas que influenciam na construção e reconstrução das identidades das professoras da educação infantil, para tanto traremos ao texto alguns dos relatos obtidos. Utilizamos como metodologia do trabalho a pesquisa qualitativa, pois este tipo investigação possibilita a valorização de todos/as os/as envolvidos/as na investigação respeitando as peculiaridades dos sujeitos, bem como da pesquisadora e do pesquisador. Triviños (1987), Lüdke e André (1986), afirmam que a pesquisa qualitativa consiste, não apenas na quantificação de dados, mas, em uma análise de forma indutiva e dedutiva, buscando assim, averiguar e explicar a totalidade do fenômeno, desvelando 1 As docentes utilizam os termos sala de aula e escola, relacionando a educação infantil e o CEIM ao ensino de 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Na educação infantil são utilizados sala de atividades para designar o local em que desenvolvem os trabalhos com as crianças, e Centro Educacional local onde trabalham, sendo ainda responsável pelo atendimento de crianças de 0 a 4 anos de idade atualmente. 3 no caso, as práticas e ações desempenhadas pelas docentes em seu trabalho que não podem ser medidos ou quantificados. Na perspectiva da pesquisa qualitativa, utilizamos como instrumento de coleta de dados, entrevistas com duas profissionais que trabalham na Educação Infantil de um Centro de Educação Infantil no município de Dourados para estudo e análises, sendo ainda responsável pelas crianças menores no CEIM. As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas por meio da gravação, a partir de questões elaboradas de acordo com a proposta do trabalho. As participantes da pesquisa foram, uma professora regente da sala denominada de (R) na pesquisa e uma assistente nomeada de (A) 2 . Apesar destas profissionais, desenvolverem as mesmas tarefas cotidianamente no CEIM, existe a diferenciação de nomenclatura, e com elas papéis distintos entre assistente e regente, a partir dessas peculiaridades que permeiam a profissão e interferem diretamente na construção e reconstrução da identidade profissional destas docentes. Os estudos neste sentido estão pautados nos referencias relacionados as discussões sobre a identidade e identidade profissional docente, como será melhor explanado a seguir. 1. A identidade profissional docente A identidade de uma pessoa não se restringe a um documento, no qual são colocadas informações que revelam onde e quando nascemos. Pensar em identidade vai além de meros dados registrados em um papel, segundo Ciampa (2004) quando somos indagadas/os sobre: “Quem eu sou?” e “Quem somos?”, pensamos imediatamente em respostas que nos descrevem de forma geral, de maneira que diríamos a qualquer pessoa quando questionadas, mas ao final da resposta não nos é possível realmente conhecer o indivíduo. Ciampa (2004) afirma assim, que essas indagações em um primeiro 2 A Lei complementar nº118, de 31 de dezembro de 2007 da cidade de Dourados/MS que regulamenta o plano de cargos, carreira e remuneração profissional (PCCR) do município atualmente. O documento discute as atribuições e plano de carreira das profissionais de educação da Educação Infantil e Educação Fundamental Básico de Dourados. De acordo com ele, a profissionais que atuam na educação infantil recebem a nomenclatura de Assistente Pedagógico da Educação Infantil, sendo as designadas como regentes, e a assistente conforme o documento é nomeado de Assistente de Apoio Educacional. 4 momento parecem simples, mas quando decorridos algum tempo, e pensamos sobre quem somos e quem sou, passamos arefletir não em respostas simples, fáceis e rápidas, mas em características que nos constituí não apenas externa, mas internamente, e por fatores diversos, pois “[...] a identidade do outro reflete na minha e a minha na dele [...]” (CIAMPA, 2004, p.59). A identidade segundo o autor assim, deixa de ser algo fácil, como aparentava em um primeiro momento. Passamos então, conforme Ciampa (2004) aponta, a uma segunda indagação: Como compreender a identidade se esta é algo tão complexo? O autor revela que devemos partir do pressuposto que a identidade tem como princípio a igualdade e a diferença. A medida que buscamos ser iguais: nos direitos de ser mulher, homem, criança, profissional, valorização enquanto sujeitos, entre outras características, buscamos sucessivamente a diferenciação para não nos igualarmos aos demais, procuramos afirmar diariamente também, um diferencial. Algo que nos distingue nas atitudes, imagem externa, trabalho, ações, pensamentos entre outros, algo que nos permita ser “notados”. Ciampa (2004, p. 67) afirma que: “Em cada momento de minha existência, embora eu seja uma totalidade, manifesta-se uma parte de mim como desdobramento das múltiplas determinações a que estou sujeito.” Assim a identidade deve ser compreendida como única do indivíduo, mas saber que pertencemos e compomos uma sociedade com histórias próprias, tradições, regras, cultura, entre outras configurações diferentes, que contribuem para a construção de quem eu sou, mas também do quem somos nós de forma contínua. Nesta perspectiva de constância, de transformação e de mutação, Ciampa (2004, p. 74) afirma que: “Identidade é movimento, é desenvolvimento do concreto. Identidade é metamorfose. É sermos o Um e um Outro, para que cheguemos a ser Um, numa infindável transformação”. Nossas identidades assim são criadas e recriadas constantemente. A identidade conforme Gatti (1996) deve ser vista como um fruto das interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas e como expressão sócio- psicológica que interagem nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Mais especificamente sobre a identidade do professor Gatti (1996) afirma 5 que é a maneira única de ser e estar no mundo e no trabalho. Para a autora fatores como a motivação, os interesses, as expectativas e atitudes consistem em elementos multideterminantes para a construção da identidade, no caso a identidade profissional das profissionais de educação infantil. A questão da aquisição da identidade é amplamente discutida no domínio sociológico, psicológico, antropológico, dentre outros, sendo abordado por diferentes campos da ciência e podendo ter perspectivas diferentes, diferenciando-se em algumas questões, dependendo do referencial que se toma como referência, por isso pode ser encontrada relações tênues e conflitantes quanto à definição do conceito, isto porque se trata de um conceito polissêmico conforme Gatti (1996). Dubar (2005) afirma existir duas identidades, fazendo a distinção entre a identidade individual e a coletiva. Para ele, a identidade individual é uma construção interna, enquanto a identidade coletiva é desenvolvida por meio das relações externas entre o indivíduo constituindo a relação de sujeito/sociedade. O autor relata ainda, que a identidade não é algo dado, mas construído, reconstruído, mantido em relação dinâmica. Até mesmo em sua definição encontra diversas dificuldades em se estabelecer um termo único, pois se acredita que a identidade é criada com base na realidade, portanto de forma individual. São criadas categorias, no qual são criados sentimentos de pertença aos processos entre a identidade atribuída e a identidade aceita, construída por si e pelos outros. A identidade não pode ser forjada pelos demais, porém, não é construída sem a interferência destes conjuntos de elementos, pois estes são interligados. A identidade profissional é estabelecida com base nas atribuições das identidades adquiridas ao longo da vida de cada pessoa, desde a infância até mesmo na escolha da carreira profissional. A escola e instituições de educação infantil neste processo representará um dos principais meios para a construção e reconstrução da identidade. A identidade profissional será segundo Dubar (2005, p.150) uma: “[…] construção pessoal de uma estratégia identitária que mobilize a imagem de si, a avaliação de suas capacidades e a realização de seus desejos [...]”, sendo construídas assim, com base em suas identificações criadas na e pela profissão. Percebe-se que a formação da identidade não é algo pronto, acabado, mas que se modifica ao longo da vida constituindo o processo de socialização, de maneira 6 evolutiva e contínua, para Dubar (2005). Berger e Luckmann (1985), complementam que a identidade é construída de forma dialética, entre indivíduos, sendo influenciadas de acordo com as realidades vivenciadas por meio da estrutura social. Entendemos assim, a identidade como inseparável da relação entre indivíduos e a sociedade, pois, é por meio destas relações dialéticas que se constrói a identidade baseada na realidade social, estabelecendo-se como um fenômeno que é modificado ao longo da vida, mas que também transforma a realidade social. Neste sentido, as pessoas responsáveis pelo atendimento das crianças menores no decorrer da história desta modalidade de educação foram sendo modificadas, influenciando na construção e mesmo na desconstrução das identidades profissionais das professoras da educação infantil. Conforme aponta Assis (2009) mudanças, em relação a maneira de se entender a criança, a educação, o atendimento e o papel das profissionais da educação infantil e mesmo, o papel da mulher no país, compondo assim, as representações do ser e do fazer das profissionais de educação infantil hoje. A profissionalização das docentes, foi sendo perpetuadas historicamente pelos enfoques assistencialista principalmente, e recentemente pelo tripé do cuidar, educar e brincar. Com base nas reflexões de Assis (2009) essas mulheres que se dedicavam ao atendimento das crianças pequenas receberam de acordo com os lugares, diferentes nomenclaturas, sendo (eram/são) mulheres sem formação, com salários baixos, contribuindo para a relação conflituosa entre o cuidar e o educar. A relação estabelecida entre quem cuida, e quem educar, passam a perpetuar as discussões desta categoria profissional, tornando-se uma das principais dicotomias da educação infantil, já que a partir desta lógica houve a separação das funções das profissionais. Conforme destaca Assis (2009, p. 46) cria-se com esta divisão de tarefas: “[...] o auxiliar que cuida e o professor que educa”. Estas características estão intrinsecamente no ideário das mulheres que trabalham com as crianças pequenas nas instituições de educação infantil no país. Assis (2009) relata ainda que a partir desta lógica, as pessoas que atuam nesta categoria/carreira, muitas vezes não se compreendem como tendo uma função profissional, já que o trabalho se assemelha ao espaço privado e a função materna. A profissionalização e mesmo identidade das professoras da educação infantil se constituiu, e está ainda, em processo de construção e desconstruções, sendo permeadas 7 por características e concepções da educação destinadas as crianças de zero a cinco anos atualmente. Conforme mencionado, este é um recorte do trabalho de conclusão de curso, apresentaremos algumas possibilidades da pesquisa referentes a realização docente, a definição profissional e as representações de “boas” professoras da educação, configurações essas que influenciam na construçãoe reconstrução das identidades das professoras da educação infantil, para tanto traremos ao texto alguns do relatos obtidos. 2. Realização docente e definição profissional: reflexão-na-ação. A realização profissional e a definição de suas práticas são perguntas difíceis de serem respondidas de imediato. Refletir sobre as ações, posturas, visão da educação e das práticas desenvolvidas, a partir da maneira individual de se compreender enquanto profissional da educação, possibilitando assim, neste processo conflituoso de reflexão-na-ação a construção e reconstrução da identidade docente. Imbernón (2005) relata que não se aprende a ser professora e professor, mas é possível, apreender fundamentos para se criar uma base sólida que direcione as práticas e as ações a serem realizadas. As professoras em suas falas permitem compreender este processo de visão da educação infantil e a reflexão sobre suas próprias ações, quando apresentam a definição de si, enquanto relacionadas à profissão docente. Eu me defino uma educadora. Sempre procuro ficar a par de tudo. Até de como é a vida da família para entender a criança. Então acho que a gente se preocupa bastante. Até mais, muitas vezes, que os próprios pais. (A) Não sou nem metade do que desejaria ser, as vezes, me sinto impotente em determinadas situações, mas sempre que é preciso, brigo com coordenador, pai, em defesa do bem estar e desenvolvimento da criança e sinto que está é a coisa certa a ser feita. A minha responsabilidade com a criança termina quando começa a dos pais. Busco sempre o diálogo com a família. Já que nos vemos todos os dias. Apesar de não ser fácil este trabalho, no final tudo acaba bem e a criança vitoriosa. (R) As docentes falam ainda, sobre a realização profissional ao longo da carreira. No entanto estas realizações estão intimamente ligadas aos problemas que enfrentam, mas que permitem ter vitórias a partir da concepção de criança e infância que possuem. Conforme as docentes relatam, sobre suas realizações profissionais são: 8 Compreender que apesar de todas as dificuldades encontradas as crianças não desistem, elas evoluem dia a dia, isso nos orgulha. Ver seus primeiros passos, as primeiras palavras, os sorrisos, os choros, as quedas, o levantar. Essas coisas não têm preço. Temos oportunidade de ver dia a dia o que todos os pais perdem a evolução de seus filhos. (R) [...] É você vê, que no começo, pega os bebezinhos na faixa etária de dois meses e meio, três meses, quatro meses e no final do ano perceber, que haviam bebês que só choravam, ou que ficavam parados. Aqueles que você tinha que ficar mexendo com ele, de um lado para o outro. Que tinha que ficar motivando, você vê todo mundo andando. Ficar falando as primeiras frases. Eles cantando junto com a gente, bem assim... No ritmo. Mesmo que não saibam falar direito, eles vão fazendo o barulhinho igual. (A) As crianças são compreendidas por estas de forma muitas vezes romantizada, pelas características estarem diretamente relacionadas ao desenvolvimento das crianças. 3. A “boa” professora de educação infantil: representações e auto-imagem. A reflexão sobre suas ações, a definição de suas práticas apontadas pelas docentes, à visão de educação, compõe a identidade de maneira indissociável, juntamente com as atribuições construídas pela sociedade para as mulheres e as professoras da educação infantil, que foram sendo conforme Louro (2008) aponta reconstruídas, transformadas, aceitas, adaptadas ou rejeitadas ao longo da história. As percepções que estas professoras têm sobre outras docentes, interferem diretamente em suas práticas desenvolvidas, permitindo assim a construção, adaptação ou mesmo modelos a serem refutados. A respeito de modelos de “boas professoras” afirmam que: Um exemplo para mim? Tem a professora Sandra [...]. Ela fazia e acontecia com as crianças. Desenvolvia projetos, brincadeiras. Tudo ela estava pronta, então como era no início que eu entrei lá (no CEIM) tentei me espelhar muito nela. (A) Olha exemplos que eu tive, foi de professores até dos meus filhos. Mas hoje estão todas doentes. Tem uma que esta até readaptada, por que ficou com problemas na cabeça. Por que todo professor que quer inovar, que quer fazer alguma coisa diferenciada, de novo, acaba ficando doente. Por que não tem apoio. É perseguido. [...] Acaba ficando doente. Mas tem vários exemplos, mas que infelizmente estão nessa situação. Mas a gente não pode desanimar isso tem que fazer parte da gente. Mas que é difícil é. (R) 9 (R) releva que possui “boas” professoras como modelos, mas que muitas destas docentes, devido às inadimplências causadas pela falta de investimento na educação como um todo, em especial na educação infantil, a visão que as colegas de trabalho possuem sobre práticas diferentes acabam por desestimular, levando até mesmo a doenças e desistência da profissão docente. Paschoal e Machado (2009) neste sentido apontam, assim como (R), como sendo uma das dificuldades desta categoria profissional da educação infantil o esforço físico e psicológico, exigidos durantes as práticas pedagógicas desenvolvidas cotidianamente. Conforme as considerações de Nóvoa (1992b) que afirma, que é impossível estar separando o eu profissional do eu pessoal, a profissão docente é composta por todos esses elementos apresentados anteriormente, entre outras características que são constantemente criadas. A visão assim, de uma “boa” profissional de educação infantil, apontadas pelas professoras, são aquelas que o trabalho, não termina no fim do expediente no CEIM, tendo principalmente as crianças como centro das atividades, valorizando-as em todas as circunstâncias criadas diariamente. Segundo as docentes a boa professora de educação infantil tem que ser: [...] uma professora de atitude, que não abaixa a cabeça para seus patrões, nem para os pais que muitas vezes não tem responsabilidades com seus filhos. Seria uma professora que em defesa da criança enfrentasse todas as situações adversas para que os direitos dos pequenos sejam garantidos. Direitos esses, muitas vezes usurpados dos mesmos. Seria uma professora que não tratasse o aluno com indiferença, que vai além de sua função docente em defesa de uma formação integral, onde a afetividade esteja presente diariamente. (R) Eu acho que uma boa professora, tem que ser uma professora-educadora tem que estar preocupada com o desenvolvimento como um todo da criança. Não só como: eu vou ali só para ganhar meu dinheiro e pronto. Não. Tem que estar desenvolvendo com a criança dia a dia (atividades diferentes). Vendo as necessidades. Pegando no pé dos pais quando precisa. E não só assim: eu vou fazer a minha parte e pronto. Cada um, a parte da gente é bem ampla. Não é só chegar ali, brincar e pronto. (A) Desta forma a “boa” professora de educação infantil são aquelas que enfrentam e superam as dificuldades conforme vão surgindo, mas que apesar de todos os problemas existentes deve ter compromisso com a criança, independente dos conflitos que aparecem cotidianamente. O ser o e fazer das docentes são construídos e desconstruídos diariamente, sendo permeadas, por todas as características anteriores explicitadas, a identidade 10 profissional assim, pode ser apreendida tendo como base os relatos das professoras como algo complexo, mas que possibilita compreender um pouco sobre a implicações do fazer docente, e algumas características do ser das professoras. CONSIDERAÇÕES FINAIS: alguns apontamentos Pensar em identidade profissionalde docentes da educação infantil é algo novo e necessário, conforme os apontamentos teóricos utilizados ao longo do trabalho e os depoimentos das professoras entrevistadas. Foi possível compreender que a identidade é processo, que ocorrem mudanças constantemente, rodeadas por configurações que compõe a sociedade, possibilitando a construção e reconstrução de maneira dinâmica. Os estudos sobre a identidade profissional docente na educação infantil é recente, pois historicamente essa profissão foi pensada para mulheres, com funções e características relacionadas ao ser e ao fazer feminino. Assim foram sendo criados estereótipos do magistério principalmente as responsáveis pelas crianças menores, desvalorizando desta forma, as práticas desenvolvidas por estas docentes. Passou a relacionar a identidade ao ser e ao fazer da mulher, da mãe, da esposa, das “donas de casa”, papéis construídos histórico e socialmente ao longo da história, regidos pela lógica estereotipada da profissão docente como sendo algo feminino, e juntamente com estes atributos designadas as docentes, o ser foram sendo mudados. A forma de se pensar e compreender a criança, o ensino, a infância, as práticas, as significações atribuídas a educação infantil, passou a ter uma nova configuração para estas docentes desta etapa da educação, assim como o fazer, suas ações, concepções, e o ser, visão de educação, reflexão sobre suas práticas, definição, entre outras características que compõe a identidade profissional de forma indissociável foram e estão sendo mudadas. A identidade de uma pessoa, assim não se restringe apenas a um documento, no qual são colocadas informações que revelam onde e quando nascemos, mas é criada e recriada de forma dinâmica e constante, composta ainda por elementos que permitem a resignificações, muitas vezes de forma conflituosa, compondo deste modo o processo 11 de construção e reconstrução da identidade profissional, a partir da visão de si e as atribuições designadas pelos outros. Em virtude dos fatos abordados ao longo do trabalho foi possível compreendermos que a identidade profissional docente a partir das práticas pedagógicas, e das atribuições inerentes à profissão das duas profissionais de educação infantil de um Centro de Educação Infantil Municipal da cidade de Dourados/MS, são permeadas pelos ideais criados e cobrados pela sociedade, compondo suas ações diariamente de maneira imperceptível. As concepções de educação das profissionais de educação infantil, seus interesses e motivações, são algumas das características que compõe a construção da identidade profissional e contribui ainda para a construção da identidade pessoal. O trabalho docente é uma profissão dinâmica e permeada de dificuldades, no qual o processo de reflexão e criticidade muitas vezes são comprometidos a consciência do papel pedagógico desenvolvido e as contribuições no trabalho docente acontecem de maneira indissociável, assim como as funções desempenhadas não são fixas e rígidas, sendo flexíveis conforme as necessidades do processo educacional da educação infantil. A realização docente e a definição enquanto professoras, são baseadas em suas práticas e a reflexão de suas próprias ações, as características e significados para ser uma “boa” professora de educação infantil e as representações e auto-imagem criadas, aceitas ou mesmo rejeitadas, constitui em alguns dos elementos da identidade profissional, e que nos permitiu compreender que estas características mudam e são resignificadas constantemente. REFERÊNCIAS ASSIS, Muriane Sirlene Silva de. 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