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Recurso Especial-Apresentação

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 874.976 - MT (2006/0173994-5)
 
RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RECORRENTE : UNIMED CUIABÁ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO 
ADVOGADO : NÚBIA NARCISO FERREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
RECORRIDO : LYDIO MAGALHÃES BANDEIRA DE MELLO 
ADVOGADO : ANDRÉA NEPOMUCENO CABRAL 
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE 
MEDICAMENTOS. OBRIGAÇÃO DE DAR. FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA. 
IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTO NÃO-REGISTRADO. 
IMPOSSIBILIDADE. 
1. Em princípio, a prestadora de serviços de plano de saúde está obrigada ao 
fornecimento de tratamento de saúde a que se comprometeu por contrato, pelo que 
deve fornecer os medicamentos necessários à recuperação da saúde do contratado. 
2. Contudo, essa obrigação não se impõe na hipótese em que o medicamento 
recomendado seja de importação e comercialização vetada pelos órgãos 
governamentais. 
3. Não pode o Judiciário impor a prestadora de serviços que realize ato 
tipificado como infração de natureza sanitária, previsto na Lei n. 6.360, art. 66, pois 
isso significaria, em última análise, a vulneração do princípio da legalidade previsto 
constitucionalmente.
4. Recurso especial provido. 
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, 
acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, 
conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. 
Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador 
convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. 
Ministro Relator. 
Brasília, 1º de dezembro de 2009(data de julgamento)
MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA 
Relator
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 874.976 - MT (2006/0173994-5)
 
RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RECORRENTE : UNIMED CUIABÁ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO 
ADVOGADO : NÚBIA NARCISO FERREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
RECORRIDO : LYDIO MAGALHÃES BANDEIRA DE MELLO 
ADVOGADO : ANDRÉA NEPOMUCENO CABRAL 
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA: 
Tratam os autos de ação cominatória com pedido de antecipação de tutela, na qual o 
ora recorrido, Lydio Magalhães Bandeira de Mello, objetivou fazer com que a Unimed atendesse 
as requisições de tratamento médico a que se obrigou sob pena de multa diária. 
Intencionava o autor que a Unimed providenciasse a importação de determinado 
medicamento prescrito pelo médico ou fornecesse os meios financeiros para que ele próprio o 
fizesse. 
A tutela antecipada foi concedida, e a questão, via agravo de instrumento, foi levada 
ao Tribunal, que, por sua vez, manteve a obrigação em acórdão assim ementado:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – PLANO DE SAÚDE – OBRIGAÇÃO DE 
FAZER – COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA COMO INSTRUMENTO 
COATIVO PARA OBTER O CUMPRIMENTO PELA ADMINISTRADORA – 
LEGALIDADE DA MEDIDA – AGRAVO IMPROVIDO.
Lícita se apresenta a imposição de multa diária cominada à empresa 
administradora de plano de saúde que se recusa a fornecer, espontaneamente, serviço 
de assistência médica e farmacêutica contratada com o usuário. Obrigação de fazer. 
Aplicação do § 4º do art. 461 do Código de Processo Civil.”
Em embargos declaratórios, o Tribunal determinou que o autor prestasse caução na 
forma do artigo 588, II, do Código de Processo Civil. 
A Unimed, então, aviou recurso extraordinário, não admitido na origem. Também 
aviou recurso especial, que foi admitido, alegando que ocorreram as seguintes violações legais:
I . violação do artigo 535, II, do Código de Processo Civil, ante o 
não-acolhimento dos embargos declaratórios;
I I . violação dos artigos 461, § 4º, e 461-A do Código de Processo Civil, tendo 
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em vista a cominação de multa diária, nada obstante ter-lhe sido imposta a obrigação de dar e 
não fazer, como requerido na inicial;
III. violação do artigo 18 da Lei n. 6.370/76, dos parágrafos 1º e 2º da Medida 
Provisória n. 2.190-34/2001, e do art. 10 da Lei n. 6.437/77, porque a obrigação que lhe foi 
imposta apresenta-se ilegal, uma vez que o medicamento em questão não está registrado na 
Anvisa. 
É o relatório. 
 
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RECURSO ESPECIAL Nº 874.976 - MT (2006/0173994-5)
 
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE 
MEDICAMENTOS. OBRIGAÇÃO DE DAR. FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA. 
IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTO NÃO-REGISTRADO. 
IMPOSSIBILIDADE. 
1. Em princípio, a prestadora de serviços de plano de saúde está obrigada ao 
fornecimento de tratamento de saúde a que se comprometeu por contrato, pelo que 
deve fornecer os medicamentos necessários à recuperação da saúde do contratado. 
2. Contudo, essa obrigação não se impõe na hipótese em que o medicamento 
recomendado seja de importação e comercialização vetada pelos órgãos 
governamentais. 
3. Não pode o Judiciário impor a prestadora de serviços que realize ato 
tipificado como infração de natureza sanitária, previsto na Lei n. 6.360, art. 66, pois 
isso significaria, em última análise, a vulneração do princípio da legalidade previsto 
constitucionalmente.
4. Recurso especial provido. 
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (Relator): 
A ação cominatória foi sustentada no seguinte: estava internado no Hospital Santa 
Paula o seu autor, portador de "CEC recorrente de laringe pós laringectomia total com recidiva 
pulmonar e hepática resistente a múltiplos esquemas de tratamento quimioterápico ", pelo que 
lhe foi indicado tratamento com medicamento denominado Erbitux, não comercializado no 
Brasil. 
Apesar de a Unimed demonstrar que o medicamento não estava registrado na Anvisa 
e que, por esse motivo e atenta à legislação em vigor, não poderia importá-lo, o MM Juiz 
concedeu a tutela antecipada, decisão confirmada pelo Tribunal a quo, determinado-se que se 
fizesse o depósito do valor necessário diretamente na conta do fornecedor, sob pena de multa 
diária. 
Daí o recurso especial, sustentado, principalmente, no fato de que a obrigação 
imposta à recorrente apresenta-se ilegal em face da lei vigente no País. 
a) Sobre a negativa de prestação jurisdicional
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Preliminarmente, não conheço do recurso especial por vulneração do artigo 535 do 
CPC, porquanto o não-acatamento das argumentações deduzidas nos embargos teve como 
conseqüência apenas decisão desfavorável aos interesses da embargante, não se verificando 
omissão.
O único ponto sobre o qual houve verdadeira omissão – prestação de caução nos 
termos do art. 588, II, do CPC – foi resolvido pelo Tribunal, que condicionou o cumprimento da 
obrigação à prévia prestação de caução idônea pelo autor da ação. 
Portanto, indiscutível que a prestação jurisdicional foi prestada sem máculas. 
b) Da ofensa ao artigo 18 da Lei n. 6.370/76, aos parágrafos 1º e 2º da Medida 
Provisória n. 2.190-34/2001, e ao artigo 10, IV, da Lei n. 6.437/77
A questão que se apresenta nos autos é pungente, mormente do ponto de vista do 
julgador, pois, de um lado, tem-se a recomendação médica de tratamento com medicamento de 
comercialização não autorizada no Brasil e, de outro, o perigo de morte, em relação ao paciente, 
autor da ação.
Em razão do princípio constitucional que assegura a todos o direito à saúde, este 
Tribunal, por meio das decisõesque profere, tem imposto ao Estado que forneça medicamento 
de que necessite pessoas carentes, idosos e tantas pessoas nas mais variadas situações. Também, 
em alguns casos, impõe-e tal obrigação a plano de saúde, a depender das peculiaridades 
constantes do caso concreto. 
Cito, a título de exemplo, o seguinte precedente: 
"RECURSO ESPECIAL. SUS. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. 
PACIENTE COM MIASTENIA GRAVIS . DIREITO À VIDA E À SAÚDE. DEVER 
DO ESTADO. COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA. ASTREINTES . INCIDÊNCIA 
DO MEIO DE COERÇÃO. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
1. Ação objetivando a condenação da entidade pública ao fornecimento gratuito 
dos medicamentos necessários ao tratamento de 'miastenia gravis'.
2. O Sistema Único de Saúde-SUS visa a integralidade da assistência à saúde, 
seja individual ou coletiva, devendo atender aos que dela necessitem em qualquer 
grau de complexidade, de modo que, restando comprovado o acometimento do 
indivíduo ou de um grupo por determinada moléstia, necessitando de determinado 
medicamento para debelá-la, este deve ser fornecido, de modo a atender ao princípio 
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maior, que é a garantia à vida digna. 
3. Configurada a necessidade do recorrente de ver atendida a sua pretensão 
posto legítima e constitucionalmente garantida, uma vez assegurado o direito à saúde 
e, em última instância, à vida. A saúde, como de sabença, é direito de todos e dever do 
Estado.
4. A função das astreintes é vencer a obstinação do devedor ao cumprimento da 
obrigação e incide a partir da ciência do obrigado e da sua recalcitrância. 
5. In casu , consoante se infere dos autos, trata-se de obrigação de fazer, 
consubstanciada no fornecimento do medicamento Mestinow 60 mg – 180 
comprimidos mensais, de forma contínua, durante o período necessário ao tratamento, 
a ser definido por atestado médico, cuja imposição das astreintes no valor de R$ 
300,00(trezentos reais) objetiva assegurar o cumprimento da decisão judicial e 
conseqüentemente resguardar o direito à saúde.
6. omissis
7. omissis
8. À luz do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, valor erigido com um 
dos fundamentos da República, impõe-se a concessão dos medicamentos como 
instrumento de efetividade da regra constitucional que consagra o direito à saúde.
9. Agravo Regimental desprovido." (AgRg no REsp n. 950.725-RS, relator 
Ministro Luiz Fux, DJe de 18.6.2008.)
Contudo, a hipótese dos autos contempla uma peculiaridade. A Unimed afirma que 
não está recusando o cumprimento do ajustado com o autor da ação, apenas não pode fornecer o 
medicamento em face de impedimento legal, já que se trata de medicação não registrada na 
Anvisa. 
Esse fato restou incontroverso nos autos, e o acórdão recorrido, sobre a questão, 
decidiu o seguinte:
“Não socorre a Agravante a alegada impossibilidade de importação do 
medicamento, por sua distribuidora própria, ante o fato de não encontrar-se o produto 
com registro na Anvisa. A medida deferida pelo juízo a quo deu-lhe a alternativa de 
repassar os recursos financeiros para que o remédio fosse adquirido diretamente pelo 
paciente, caso sua importação se revelasse impraticável por ele própria (agravante), o 
que lhe possibilita se desincumbir-se do encargo sem maiores embaraços” (fl. 270).
Tal decisão está em confronto com a lei em vigor. Com efeito, o artigo 12 da Lei n. 
6.360/76 estabelece que: 
Art. 12 - Nenhum dos produtos de que trata esta Lei, inclusive os importados, 
poderá ser industrializado, exposto à venda ou entregue ao consumo antes de 
registrado no Ministério da Saúde.
E a lei prevê penalidade para infração de seus dispositivos:
Art. 66. A inobservância dos preceitos desta Lei, de seu regulamento e normas 
complementares configura infração de natureza sanitária, ficando sujeito o infrator ao 
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processo e às penalidades previstos no Decreto-Lei nº 785, de 25 de agosto de 1969, 
sem prejuízo das demais cominações civis e penais cabíveis.
Parágrafo Único. O processo a que se refere este artigo poderá ser instaurado e 
julgado pelo Ministério da Saúde ou pelas autoridades sanitárias dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Territórios, como couber.
Já a Lei n. 6.437/77 estabelece que constitui infração sanitária importar 
medicamentos sem registro, ou licença, ou autorização do órgão sanitário competente (artigo 10, 
IV).
Por óbvio que a indicação de tratamento com medicamento não registrado, mesmo 
que subscrito por médico habilitado, não torna legal a importação de medicação de 
comercialização não autorizada no Brasil. Até o contrário, pois pode o médico sujeitar-se às 
penas da lei na referida hipótese. 
Tampouco a solução "alternativa" encontrada pelo Tribunal, isentando a Unimed de 
proceder à importação em seu próprio nome, mas, determinando-lhe que viabilize a importação 
por outrem, disponibilizando meio financeiro para tanto, pode transmutar em lícito o ato de 
importação de medicamento não-registrado. 
Ora, se a legislação em vigor veta a importação e comercialização de medicamentos 
não registrados nos órgãos competentes, está descrevendo uma conduta que considera proibida, 
não cabendo ao Judiciário impor ao recorrente que aja em confronto com a lei. 
Ante esse fato, a controvérsia encontra solução em um princípio constitucional, qual 
seja: o da legalidade, segundo o qual ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei. Trata-se de princípio genérico e abstrato, pois assegura a todos 
(com exceção do Estado) a realização de atos, permitindo condutas sobre as quais não incide 
nenhuma norma reguladora.
Nada obstante tais características, é de íntima aplicação em sede de direito penal, 
tributário e administrativo, dado que, nessas esferas, a lei define condutas permissivas e 
proibidas, não havendo permissão de generalidade. 
O império e a submissão ao princípio da legalidade conduzem a uma situação de 
segurança jurídica, pois exige-se a subordinação de todos à lei. 
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Complementando o raciocínio, o insigne doutrinador Celso Ribeiro Bastos leciona 
que “o princípio da legalidade mais se aproxima de uma garantia constitucional do que de um 
direito individual, já que ele não tutela, especificamente, um bem da vida, mas assegura, ao 
particular, a prerrogativa de repelir as injunções que lhe sejam impostas por uma outra via que 
não seja a da lei” (in Curso de direito constitucional, edição de 2002).
Diante de tais considerações, não vejo como o Judiciário possa afastar uma conduta 
tida por contravenção pela lei para impor a quem quer que seja que realize ato proibido. Cabe a 
ele, que é o Estado, a resolução dos conflitos de interesses; mas, evidentemente, isso não pode 
significar a imposição de condutas proibidas, sob pena de ferir esse princípio regulador e 
informador, que é uma garantia constitucional de liberdade ao jurisdicionados. 
Há, ainda, uma última questão a ser tratada. 
Pode-se objetar acerca do direito à saúde, que é assegurado a todos e constitui um 
dever do Estado, princípio este que vem embasando as decisões deste Tribunal acerca do 
fornecimento de medicamento gratuito pelo Estado, às quais me referi nas linhas acima. 
Se sopesado esse fato, poder-se-ia entender que, de um lado, este princípio 
constitucional de direito à vida e à saúde e, de outro, o da legalidade são conflitantes do ponto de 
vista do presente feito, pois estariam a indicar resultadosdistintos. 
Ocorre que não é o caso, e só fiz menção a isso para espancar quaisquer dúvidas. De 
fato, tem o recorrido o direito inarredável à saúde; contudo, não há nos autos indicações de que o 
tratamento prescrito pelo médico seja o único meio de recuperar sua saúde. 
O médico fez uma recomendação de tratamento e nada foi esclarecido sobre 
alternativas de forma que o tratamento pudesse ser viabilizado com eficácia por outros meios 
que não os mencionados nos autos. 
"ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE 
SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. PORTADORA DE 
PIODERMIA GANGRENOSA. AUSÊNCIA DE PROVA DE ADEQUAÇÃO DOS 
MEDICAMENTOS RECEITADOS PARA TRATAMENTO DA DOENÇA. 
DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO DEMONSTRADO.
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1. O direito constitucional de acesso a medicamentos depende de comprovada 
necessidade, reconhecida pela compatibilidade entre a doença do paciente e a 
prescrição médica.
2. Nos termos das informações prestadas pela autoridade impetrada, a 
Azatriopina e a Sulfassalazina não são medicamentos autorizados para tratamento da 
enfermidade (piodermia gangrenosa) da impetrante.
3. O Mandado de Segurança não é via adequada para análise de controvérsia 
relacionada à obrigatoriedade de a autoridade pública fornecer os medicamentos 
pleiteados se, para tanto, faz-se necessária a dilação probatória.
4. Recurso Ordinário não provido." (RMS n. 28.684-MG, relator Ministro 
Herman Benjamin, DJe de 21.8.2009.)
Portanto, nada indica que a importação de medicamento de comercialização não 
autorizada seja o único meio de restabelecer a saúde do recorrido. 
c) Violação dos artigos 461, § 4º, e 461-A, do Código de Processo Civil
A jurisprudência deste Tribunal é pacífica em permitir a fixação de multa 
cominatória pelo inadimplemento de obrigação de fazer, com o objetivo de vencer a resistência 
do devedor em cumprir a obrigação. Observe-se:
"RECURSO ESPECIAL – ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – 
ENTE PÚBLICO – FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS – OBRIGAÇÃO DE 
DAR – FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA – CABIMENTO – PRECEDENTES – 
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA – 
POSSIBILIDADE.
1 - A hipótese dos autos cuida da imposição de multa diária ao Estado do Rio 
Grande do Sul pelo não-cumprimento de obrigação de fornecer medicamentos à 
autora. Não se trata, portanto, de obrigação de fazer, mas de obrigação de dar.
2 - O artigo 461-A, § 3º, do CPC, estendeu a previsão de possibilidade de 
imposição de multa diária ao réu por atraso na obrigação de fazer (art. 461, § 4º) à 
obrigação de entrega de coisa. 
3 - Na espécie, deve ser aplicado idêntico raciocínio adotado por esta Corte no 
que se refere às obrigações de fazer pela Fazenda Pública, ou seja, de que 'o juiz, de 
ofício ou a requerimento da parte, pode fixar as denominadas astreintes contra a 
Fazenda Pública, com o objetivo de forçá-la ao adimplemento da obrigação de fazer 
no prazo estipulado' (AgRg no REsp 554.776/SP, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 
6.10.2003).
4 - Correto o Juízo de primeira instância ao condenar o Estado do Rio Grande 
do Sul a fornecer os medicamentos imprescindíveis à autora, portadora de problemas 
crônicos de visão, sob pena de imposição de multa diária no valor de R$ 300,00.
Recurso especial provido, para condenar o Estado do Rio Grande do Sul a 
fornecer os medicamentos imprescindíveis à autora, sob pena de imposição da multa 
diária já fixada em primeira instância." (REsp n. 852.084-RS, relator Ministro 
Humberto Martins, DJ de 31.8.2006.)
Contudo, essa discussão está prejudicada ante o acolhimento do recuso e o 
Documento: 933054 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/12/2009 Página 9 de 11
 
 
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afastamento da obrigação de fornecer o medicamento. 
d) Conclusão
Ante o exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para julgar a 
ação cominatória improcedente. 
É como voto. 
Documento: 933054 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/12/2009 Página 1 0 de 11
 
 
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 CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
 
 
Número Registro: 2006/0173994-5 REsp 874976 / MT
Números Origem: 12670 652006
PAUTA: 01/12/2009 JULGADO: 01/12/2009
Relator
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE MACEDO
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : UNIMED CUIABÁ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO
ADVOGADO : NÚBIA NARCISO FERREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
RECORRIDO : LYDIO MAGALHÃES BANDEIRA DE MELLO
ADVOGADO : ANDRÉA NEPOMUCENO CABRAL
ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Planos de Saúde
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos 
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador 
convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro 
Relator.
 Brasília, 01 de dezembro de 2009
TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
Secretária
Documento: 933054 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 14/12/2009 Página 1 1 de 11

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