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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

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AULA DIA 01/10/2014
PROFESSOR: ALEXSANDRO CAMARGO
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JURISDIÇÃO PENAL E CIVIL
A jurisdição penal: cuida dos conflitos disciplinados pelo Direito Penal comum e especial. É, pois, preposta à atuação das normas penais, que se caracterizam por definirem os fatos puníveis (crimes e contravenções) e lhes cominarem penas, que são as mais graves das sanções.
A jurisdição civil: por seu turno, define-se, segundo Rocha (2005, p. 93), “por exclusão da jurisdição penal. Tudo quanto não cabe na jurisdição penal, por exclusão, é jurisdição civil. Tem, pois, por objeto, todas as matérias que a lei não confia à jurisdição penal”.
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JURISDIÇÃO SUPERIOR E INFERIOR
Ada Grinover, menciona que é próprio da natureza humana o inconformismo, perante as decisões desfavoráveis do judiciário. Na maioria das vezes, a parte vencida quer nova oportunidade, para demonstrar suas razões e reivindicar novamente os seus direitos.
A classificação da jurisdição em superior e inferior se dá por conta da posição verticalizada dos órgãos judiciários na estrutura organizacional do Poder Judiciário.
Grinover e outros (2005, p. 155) resumem em breves linhas essa estrutura organizacional do Poder Judiciário. Ensinam eles que chama-se jurisdição inferior àquela exercida pelos juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início (competência originária): trata-se na Justiça Estadual, dos juízes de direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos órgãos a que cabem os recursos contra as decisões proferidas pelos juízes inferiores. O órgão máximo, na organização judiciária brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal.
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ATENÇÃO:
Essa divisão não possui conotação hierárquica, mas apenas distribuição de trabalho, conforme a competência de cada um desses órgãos. E se dá por conta da observação do princípio do duplo grau de jurisdição.
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1 – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
Procedimentos Especiais - Jurisdição Contenciosa
 Numa primeira parte do CPC, foram criados os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa cuja característica marcante é exatamente o CONTENCIOSO isto é: o litígio.
 São aqueles procedimentos que visam a criação de uma sentença com efeitos condenatórios, constitutivos ou declaratórios.
 Adoção de regras do procedimento comum 
 Apesar de que, em quase todos os procedimentos há um rito especial, quando o legislador percebe que a partir de um determinado momento pode se adotar o Procedimento Comum = Ordinário ele remete o operador do direito ao livro n° 1 - Parte Geral e Processo de Conhecimento.
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA
Nenhum poder estatal exerce com exclusividade suas funções inerentes. Pelo contrário, existem zonas de interseção nas quais podemos vislumbrar o exercício de atividades típicas de um dos poderes da República por outro, como, por exemplo, no julgamento pelo Congresso Nacional dos crimes de responsabilidade do Presidente da República.
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Da mesma forma o Judiciário exerce funções distintas daquela que lhe é inerente, ora assumindo função legislativa (regimentos internos dos tribunais), ora praticando atos de pura administração.
O Código de Processo Civil, em seu artigo 1º, divide a jurisdição civil em contenciosa e voluntária.
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A Jurisdição Contenciosa: é atividade inerente ao Poder Judiciário, com o Estado-Juiz substitutivamente às partes na solução do conflito, mediante o proferimento de sentença de mérito que aplique o direito ao caso concreto.
A Jurisdição Voluntária: para alguns doutrinadores, não é vista como jurisdição na específica acepção jurídica do termo, correspondendo mais a uma administração pública de interesses privados
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA
Didier (2003, p. 50) conceitua a jurisdição voluntária como “a atividade jurisdicional que integra a vontade das partes; sem a participação do Estado-juiz, tal interesse não poderia ser tutelado. Aqui, o órgão judicial atua como fiscalizador da produção de vontade”.
Assim a jurisdição voluntária se dá, no dizer do autor, como uma atividade integrativa e fiscalizadora, uma vez que há determinados atos jurídicos dos particulares que se revestem de tal importância, que os mesmos não poderiam se dar sem a participação do Estado-juiz.
Didier (2003, p. 50-52) fornece argumentos para os que entendem a jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados e para os que entendem a jurisdição voluntária como atividade jurisdicional. A seguir, apresentamos os argumentos presentes na defesa da jurisdição voluntária como administração pública dos interesses privados.
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE INTERESSES PRIVADOS (NATUREZA)
a) insuficiência de critério orgânico: não é por se tratar de atividades desenvolvidas pelo juiz que poderiam ser consideradas jurisdicionais; 
b) não atuação do direito: não se visa à atuação do direito ao caso concreto, mas sim à constituição de situações jurídicas novas;
c) não haveria substitutividade: o magistrado se insere entre os participantes do negócio jurídico, não os substituindo; 
d) não existência de lide: não há lide e sim concurso de vontades; 
e) interessados: como não há conflito, não haveria partes e sim interessados; 
f) não haveria ação: pois esta consiste no poder de exercitar o judiciário; 
g) não há processo: não havendo ação, também não haveria processo e sim procedimento; 
h) não haveria produção de coisa julgada material: os atos em jurisdição voluntária só produzem coisa julgada formal. O juiz nada declara com eficácia para fazer coisa julgada material.
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ATIVIDADE JURISDICIONAL
a) redação legal: o art. 1º do CPC fala em jurisdição voluntária: Art. 1º do CPC: “A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”; 
b) outros escopos: a jurisdição possui outros escopos que não a simples atuação do direito (que não lhe é característica exclusiva); 
c) preventividade: a lide jamais poderia ser da essência da jurisdição, pois, se assim o fosse, apenas as hipóteses de tutelas repressivas teriam esta qualidade. A jurisdição voluntária possui certa natureza preventiva; 
d) processo: a jurisdição voluntária se exerce por meio das formas processuais (petição inicial; sentença etc.), além do que, não seria razoável defender-se a inexistência de relação jurídica entre os interessados e o juiz; e) coisa julgada: não se trata de critério diferenciador do ato jurisdicional, pois há hipóteses de jurisdição contenciosa que não fazem coisa julgada material; 
f) conceito processual de parte: não há parte em sentido substancial, porquanto não haja conflito de interesse material. Mas parte é aquele que postula, daí ser inadmissível não ser parte nesta situação; 
g) substitutividade: o juiz intervém para assegurar a tutela de um interesse a que ele se mantém estranho, como terceiro imparcial mantendo sua independência.
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A jurisdição contenciosa, na lição de Coelho (2004, p. 191), “é a exercida em função de um conflito, litígio, ou, nas palavras de FRANCESCO CARNELUTTI, de um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. 
A doutrina costuma traçar um paralelo realçando as diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, que transcrevemos a seguir:
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA Atividade jurisdicional Atividade administrativa Composição de litígios Administração pública do direito privado Bilateralidade da causa Unilateralidade da causa, questionam-se os direitos ou obrigações de outrem, há contraditório ou possibilidade de contraditório, há jurisdição, há ação, há processo, Legalidade estrita, há coisa julgada, há revelia, qualquer prova pode ser determinada
de ofício Fonte
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Não se questionam obrigações ou direitos de outrem, não envolve partes, envolve apenas interessados, não há contraditório, não há jurisdição, não há ação, não há processo, mas apenas uma medida administrativa, não há obrigatoriedade de legalidade estrita, não há coisa julgada, não há revelia em regra, não há provas determinadas de ofício.
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DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
 A partir do artigo 1.103 o CPC adotou os Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária. Tais procedimentos têm características especiais. Ausência de Lide  Nestes procedimentos não há LIDE e, portanto, não há litígio. No Procedimento Contencioso há lide e, portanto, uma relação triangular: Autor/Juiz/Réu. No Procedimento Especial de Jurisdição Voluntária não há lide e a relação jurídica, muitas vezes, se estabelece de forma unilateral, ou seja, Juiz - Partes. Em havendo litígio ou a simples ameaça de litígio, o Juiz afasta-se encaminhando as partes para o rito contencioso.
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JURISPRUDÊNCIA 
Dos Procedimentos Especiais
Pedido de confirmação - Procedimento especial de jurisdição voluntária - impossibilidade de albergar embate sobre tema litigioso, como o atrelado a suposta nulidade do testamento, por infração ao art. 1627, 1/1, do Código Civil Remessa das partes às vias ordinárias, em processo contencioso - AG não provido. (TJSP - AI 98.248-4 - São Paulo - 10a COPriv. - ReI. Des. Quaglia Barbosa - 09,02.1999).
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RAZÃO DE SER JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
A finalidade dos procedimentos especiais de jurisdição voluntária é apenas de conferir ao ato praticado o crivo do Poder Judiciário, com vistas a afastar qualquer irregularidade no procedimento.
 O juiz, neste caso, tem amplos poderes de investigação como, aliás, reconhece o artigo 1107 do CPC.
 “Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegações; mas ao juiz é licito investigar livremente os fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas”.
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É bem verdade que o CPC dispõe sobre citação, em alguns casos. Todavia esta citação é apenas para integrar a relação jurídica e não para defender-se, pois não há lide. OBS. Havendo defesa, como já dito, o juiz afasta-se e remete as partes às vias ordinárias.
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
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Em função deste procedimento não há que se falar, também, em prazos peremptórios ou fatais conferindo-se ao Juiz uma liberdade maior em investigar a verdade.
 Outra diferença marcante entre a jurisdição voluntária e a contenciosa é que aqui se permite ao juiz agir de ofício, ou seja, o Juiz determinar a instauração do procedimento. Vejamos:
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CPC - Art. 1113. Nos casos expressos em lei e sempre que os bens depositados judicialmente forem de fácil deterioração, estiverem avariados ou exigirem grandes despesas para a sua guarda, o juiz, de ofício ou a requerimento do depositário ou de qualquer das partes, mandará aliená-los em leilão. Art. 1129 CPC: O juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer interessado, ordenará ao detentor de testamento que o exiba em juízo para os fins legais, se ele, após a morte do testador, não se tiver antecipado em fazê-lo. e assim por diante, como nos artigos 1142,1160,1171 e 1190.
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m diversas causas, principalmente de jurisdição voluntária poderá o Ministério Público agir como parte. É o caso, por exemplo da curatela e da interdição como nos informa o ...  CPC - Art. 1177. A interdição pode ser promovida: III - pelo órgão do Ministério Público. Nos Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária haverá participação do Ministério Público, quando ocorrer as hipóteses do artigo 82 ou no caso de o exigir o procedimento específico. 
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NATUREZA DA SENTENÇA FORMAL
Também não produzem coisa julgada as sentenças proferidas em processo de jurisdição voluntária. Nesses processos não há lide a ser decidida. A coisa julgada só existe em processos que decidem a lide. Há, apenas a coisa julgada formal que impede o reexame da causa no mesmo processo. Exemplo: Suponha-se um procedimento de Separação Judicial Consensual onde o Juiz indefira o pedido por falta de algum requisito. Suprido o requisito, podem as partes tornar ajuízo para satisfazer sua pretensão.
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NÃO EXISTE RIGOR
Quando se trata de Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária não há que se falar em rigorismo processual. Eventual erro na escolha do procedimento, quando se trata de procedimento de jurisdição voluntária não acarreta a extinção do processo ou indeferimento da inicial, desde que possa ser adaptado o procedimento e desde que esteja clara a intenção do autor. 
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA NOMINADA
O CPC enumerou diversos casos de jurisdição voluntária que serão estudados um a um. Em cada um deles o legislador adotou um procedimento apropriado, em face às circunstâncias.
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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA INOMINADA
O legislador prevendo os diversos casos em que seria necessária a atuação do Juiz em procedimentos não contenciosos, deixou explicitado no artigo 1103: Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo. É preciso prestar atenção, pois os artigos 1103 a 1112 trazem um procedimento especifico para os procedimentos especiais de jurisdição voluntária: inominados que não se aplica, obviamente, aos demais artigos (de jurisdição voluntária), vez que o diz o ...
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CPC - Art. 1103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo. ou seja, as disposições do ... 
Título II 
Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária 
Capítulo I 
Das disposições gerais Art. 1103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo. 
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PROCEDIMENTO INOMINADOS
Procedimentos Inominados - Mais Comuns Serão processados pelo rito geral - artigos 1103 a 1112, os procedimentos de: - alvará judicial; - homologação de acordo; - suprimento de idade para casamento; - suprimento de consentimento para casamento; - emancipação de órfãos; - sub-rogação de vínculo; - pedido de nomeação de curado e especial ao incapaz; e outras tantos procedimentos, para os quais não há rito especial.
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PETIÇÃO INICIAL
"CPC - Art. 1.104. O procedimento terá início por provocação do interessado ou do Ministério Público, cabendo-lhes formular o pedido em requerimento dirigido ao juiz, devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da providência judicial." Diz O artigo 1.104 que procedimento terá início por provação do interessado ou do Ministério Público, devendo o pedido ser instruído com as provas necessárias. A petição inicial deverá, é claro, na medida do possível, obedecer aos requisitos dos artigos 282 e 283 do CPC. Todavia, não há que se indeferir a petição inicial, pois como já foi dito não se pode aplicar aos procedimentos especiais de jurisdição voluntária o rigorismo da lei processual. 
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CITAÇÃO (SE HOUVER)
Art. 1105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério Público. Prazo para resposta  Art. 1106. O prazo para responder é de 10 dez) dias.  Oitiva da fazenda pública  Art. 1108. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse.  Questão controvertida  Se a questão for controvertida o Juiz encaminhará as partes para as vias ordinárias onde há espaço para discussão.
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AUDIÊNCIA PARA PRODUÇÃO DE PROVAS 
Art. 1107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegações; mas ao juiz é lícito investigar li¬vremente os fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas.  Sentença  Art. 1109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso
a solução que reputar mais conveniente ou oportuna.  Recurso Cabível : Apelação (Art.1110 CPC) Capacidade Postulatória é outra questão a ser examinada com muito cuidado. 
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Segundo o artigo 36 do Código de Processo Civil, a parte que não tem habilitação legal somente pode postular em juízo através de advogado. E parte, no sentido desse preceito processual, é quem vai a juízo pleitear algo.  Desse modo, no processo ou processamento de retição de casamento há partes, que somente podem postular em juízo através de advogado.  No caso em exame, entretanto, uma das partes não era advogado e compareceu pessoalmente a juízo - o que tornou nulo todo o processo ou procedimento, como bem decidiu o acórdão recorrido. (trecho do acórdão - STJ - 4ª Turma - RSTJ 25.20)
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A questão é por demais tormentosa, via de regra os procedimentos especiais tem um cunho social importante, razão pela qual aceita-se que o subscritor da petição inicial, muitas vezes, não tenha capacidade postulatória, desde que é, claro, seja a própria parte. Casos desta natureza é o procedimento criado pela Lei 8.560/92 (declaração de paternidade).
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Também há que se falar que o Juiz pode até agir de ofício. Também o Ministério Publico pode agir. Em razão disto, o procedimento de jurisdição voluntária pode ser interposto por quem não seja advogado. Via de regra, como se trata de sentença homologatória ou autorizativa não há que se falar em apelação e muito menos em ação rescisória. Quando muito há que se falar em ação para anulação de ato jurídico. 
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Referências Bibliográficas  GRECO FILHO, Vicente - Direito Processual Civil Brasileiro, 12ªedição. Saraiva, S. Paulo, 1997, 3º volume. NEGRÃO, Theotônio - Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor, 31ª edição. Saraiva, S. Paulo, 2.000. THEODORO JÚNIOR, Humberto - Curso de Direito Processual Civil, 17ª edição. Forense, Rio, 1998, volume III

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