Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Auditoria Contábil Auditoria Contábil Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2017 Williams Meirelles Conselho Editorial EAD Ana Patricia Barbosa Andréa de Azevedo Eick Astomiro Romais Claudiane Furtado Italo Ogliari Juliane Maria Puhl Gomes Lourdes da Silva Gil Luiz Carlos Specht Filho Maria Cleidia Klein Oliveira Rafael da Silva Valada Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-273-2 Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Igor Campos Dutra Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Setor Biblioteca EAD ULBRA Canoas M499c Meirelles, Williams Auditoria Contábil [online] / Williams Meirelles..[organizado por] Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). – Canoas: [S.n.], 2017. 153 p. : il. Versão online disponibilizada em 2018. 1. Contabilidade. I. Universidade Luterana do Brasil. II.Título. CDU 657 Prezados Alunos, após estudarmos as normas profissionais e técnicas de auditoria no semestre anterior, nossa disciplina de Auditoria Contábil terá como objeto de estudo os programas e procedimentos de auditoria contábil para os principais grupos de contas do Balanço Patrimonial e do Resultado, complementando assim nosso aprendizado sobre os trabalhos realizados pelos auditores. O objetivo proposto para o estudo desta disciplina é buscar demons- trar, de uma maneira mais prática, como são estruturados os programas de auditoria e também quais são os principais procedimentos e como estes são aplicados durante um trabalho de auditoria. Quanto à estrutura deste livro, ela é formatada em dez capítulos. Em cada capítulo, é apresentada uma introdução, na qual se busca dar ao lei- tor um indicativo inicial do que é conceituado no desenvolvimento teórico. Ainda são subdivididos em tópicos e subtópicos para que se tenha conheci- mento mais profundo de alguns conteúdos relevantes para o entendimento da atividade de auditoria. Após o desenvolvimento dos conceitos teóricos, também é apresentado um resumo de cada capítulo, titulado como recapi- tulando, no intuito de que se tenha uma síntese geral. Por fim, são elenca- das as referências e obras consultadas, as quais serviram de aporte teórico com a visão dos autores que discutem a atividade de auditoria, bem como Leis e Normas pertinentes a essa atividade. Ao final, ainda são apresen- tadas atividades que devem ser resolvidas com o propósito da fixação do conhecimento adquirido. Recomenda-se que os(as) alunos(as) não se limitem ao material di- dático apresentado, mas que se despertem à busca de leituras adjacentes que ampliem a bagagem teórica que é relevante e necessária à prática da profissão da contabilidade e auditoria. Apresentação 1 Planejamento e Programas de Auditoria ................................1 2 Auditoria nas Disponibilidades ............................................19 3 Auditoria nas Contas a Receber ..........................................33 4 Auditoria nos Estoques ........................................................48 5 Auditoria no Imobilizado .....................................................71 6 Auditoria em Contas de Passivo ..........................................83 7 Auditoria no PL ...................................................................96 8 Auditoria nas Contas de Resultado ....................................108 9 Eventos Subsequentes .......................................................118 10 Emissão do Relatório de Auditoria .....................................131 Sumário Williams Meirelles1 Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente, é professor dos cursos de Ciên- cias Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EaD. 2 Auditoria Contábil Introdução Neste primeiro capítulo, vamos revisar alguns temas já estuda- mos na disciplina de Auditoria – Normas e Controle Interno, principalmente com relação à etapa do planejamento do tra- balho, que serão importantes para o entendimento dos pro- gramas e consequentes procedimentos de auditoria que serão abordados ao longo dos demais capítulos deste livro. Bem-Vindos à Disciplina e bom estudo a todos! 1.1 Objetivos da auditoria independente A auditoria independente tem por objetivo “aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuá- rios. Isso é alcançado mediante a expressão de uma opinião pelo auditor sobre se as demonstrações contábeis foram ela- boradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade com uma estrutura de relatório financeiro aplicável” (NBC TA 200). Portanto, temos como objetivo do auditor independente a emissão de uma opinião sobre as demonstrações financeiras examinadas, cujas peças contábeis são:  Balanço Patrimonial  Demonstração do Resultado do Exercício  Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 3  Demonstração do Fluxo de Caixa  Demonstração do Valor Adicionado  Notas Explicativas Para atingir esse objetivo, o auditor independente necessita planejar adequadamente seu trabalho, avaliar o sistema de controles interno relacionado com a parte contábil e proceder à revisão analítica das contas do ativo, passivo, receitas e des- pesas, a fim de estabelecer a natureza, época e extensão dos procedimentos de auditoria, colher as evidências comprobató- rias das informações das demonstrações financeiras e avaliar essas evidências. Nesse contexto, o maior problema do auditor é a maneira de determinar a natureza, época e extensão dos procedimen- tos que serão executados, ou seja, até onde ele deve chegar, quanto será preciso investigar, quais as variáveis a serem con- sideradas, para se ter certeza de que as condições testadas (amostra) se referem também às que não foram (população) e, com isso, formar uma opinião definitiva sobre as áreas au- ditadas. Os procedimentos de auditoria são o conjunto de técnicas que permitem ao auditor obter evidências ou provas suficientes e adequadas para fundamentar sua opinião sobre as demons- trações contábeis auditadas e abrangem os testes de controle e os testes substantivos. Tratam-se das ferramentas que o audi- tor dispõe para cumprir seus testes de auditoria (o que fazer). Já os testes em auditoria constituem o processo pelo qual o auditor reúne seus elementos comprobatórios. Os testes po- 4 Auditoria Contábil dem ser aplicados em todas as transações ou em uma amostra representativa adequada. Tratam-se das ferramentas a serem utilizadas para a aplicação dos procedimentos (como fazer). Exemplo:se o objetivo da ação é determinar a existência de um bem (procedimento), o caminho a seguir é inspecioná-lo fisicamente (teste), buscando uma prova material satisfatória. Ao contrário das normas de auditoria – as quais se aplicam a todas as auditorias de demonstrações contábeis – os proce- dimentos podem variar de Entidade para Entidade, conforme seu tamanho, natureza, complexidade das operações e outras características específicas. A aplicação dos procedimentos de auditoria deve ser rea- lizada, em razão da complexidade e volume das operações, por meio de provas seletivas, testes e amostragens, cabendo ao auditor, com base na análise de riscos de auditoria e outros elementos de que dispuser, determinar a amplitude dos exa- mes necessários à obtenção dos elementos de convicção que sejam válidos para o todo. Na realização do seu trabalho, o auditor deve considerar os seguintes procedimentos técnicos básicos: a. Inspeção: exame de registros, documentos e de ativos tangíveis. b. Observação: acompanhamento de processo ou pro- cedimento quando de sua execução. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 5 c. Investigação e Confirmação: obtenção de informa- ções junto a pessoas ou entidades conhecedoras da transação, dentro ou fora da entidade. d. Cálculo: conferência da exatidão aritmética de do- cumentos comprobatórios, registros e demonstrações contábeis e outras circunstâncias. e. Revisão Analítica: verificação do comportamento de valores significativos, mediante índices, quocientes, quantidades absolutas ou outros meios, com vistas à identificação de situação ou tendências atípicas. 1.2 Etapas do trabalho de auditoria As principais etapas da auditoria são consideradas um roteiro para a sua realização, a seguir estão as seguintes etapas: 1.2.1 Etapa preliminar O trabalho de auditoria já começa em uma fase de pré-audi- toria, com a elaboração de um documento onde a administra- ção concorda com os termos do trabalho. Esse documento é um papel de trabalho e deve ser formu- lado pelo auditor independente endereçado à administração da auditada. 6 Auditoria Contábil Seria a abrangência do trabalho, a sua extensão, incluindo uma estimativa de horas por parte do auditor e também seus honorários. O que está envolvido durante esses dimensionamentos são: tipo e tamanho da entidade; o ramo de atividade (setor da economia) e produtos/serviços; quantidade de funcionários; unidades de negócios existentes e locais de armazenagem (es- tocagem); volume de faturamento e clientes existentes; estatuto social e organogramas; volume de lançamentos contábeis e das principais operações da entidade; sistema contábil existen- te (nível de informatização); principais aspectos dos controles internos mantidos – ambiente de controle. A reunião de informações através do dimensionamento ser- ve para elaborar essa concordância com os termos do traba- lho. 1.2.2 Planejamento O planejamento da auditoria envolve a definição de estratégia global para o trabalho e o desenvolvimento do plano de audi- toria. Compreende os exames preliminares das áreas, ativida- des, produtos e processos. Com base nesse exame, define-se a abrangência e a época do trabalho a ser realizado, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas pela Administração. O planejamento deve ser detalhadamente documentado e o plano de auditoria formalmente preparado em termos de natureza, oportunidade, extensão, equipe técnica e uso de es- pecialistas. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 7 O auditor deve atualizar e alterar a estratégia global de auditoria e o plano de auditoria sempre que necessário no curso da auditoria. É na fase de planejamento que são elaborados os pro- gramas de auditoria, que devem ser estruturados de forma a servir como guia e meio de controle de execução do trabalho, devendo ser revisados e atualizados sempre que necessário. De uma maneira bem resumida, o auditor avalia os ris- cos (estudados na disciplina anterior), determina um valor de Materialidade, que está diretamente ligada à relevância que um determinado fato tem em relação ao Relatório Financeiro Aplicável. A materialidade, o montante fixado pelo auditor, inferior ao considerado relevante para as demonstrações contábeis como um todo, “para adequadamente reduzir a um nível baixo a probabilidade de que as distorções não corrigidas e não de- tectadas em conjunto, excedam a materialidade para as de- monstrações contábeis como um todo”. A determinação de materialidade pelo auditor é uma ques- tão de julgamento profissional e é afetada pela percepção do auditor das necessidades de informações financeiras dos usuá- rios das demonstrações contábeis. Ela pode ser definida em nível global e em nível de conta individual. Apesar de ser determinada na fase de planejamento, ela pode ser revista durante todo o curso dos trabalhos de audito- ria, em decorrência de mudança nas circunstâncias que ocor- reram durante a auditoria (por exemplo, decisão de alienar 8 Auditoria Contábil grande parte dos negócios da entidade), novas informações, ou mudança no entendimento do auditor sobre a entidade e suas operações em decorrência da execução de procedimen- tos adicionais de auditoria. Definido o valor da Materialidade, o auditor avalia no Ba- lanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício da empresa que está sendo auditada, quais as contas são con- sideras significativas e consequentemente serão auditadas. As contas podem ser consideradas significativas, quer pela ma- terialidade, ou também pelo volume de transações ou risco da conta. Exemplo: as contas de disponibilidades mesmo não possuindo valores relevantes, são consideradas significativas devido fato de ser o meio pelo qual a empresa recebe e paga suas contas (volume e importância das transações. Tendo identificado as contas significativas, serão elabora- dos os programas de trabalho para cada uma dessas contas ou grupo de contas, e o auditor partirá para a fase de execu- ção desses programas. 1.2.3 Execução É na fase de execução que serão testados os Controles Inter- nos e também os Saldos Contábeis. Inicialmente, o ambiente de controles internos será testado, através dos Testes de Observações dos controles. Esses testes irão auxiliar o auditor na identificação dos riscos e consequen- temente irão influenciar na quantidade dos testes substantivos que serão executados. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 9 Relembrando que quanto maior a confiança deposita- da nos controles internos, menor será a quantidade de testes substantivos realizados, e vice-versa. Após testados os controles, os próximos e mais importantes testes serão os testes substantivos, que visam descobrir se os saldos registrados na contabilidade da empresa auditada real- mente estão corretos. Nos próximos capítulos deste livro, vamos verificar por áreas do Balanço Patrimonial e Resultado quais são os pon- tos de atenção do auditor com relação aos controles internos dessas áreas e também quais são os principais procedimentos aplicados para os testes substantivos (de saldos) das mesmas. 1.2.4 Emissão do relatório É o momento final do trabalho, consiste na avaliação das evi- dências obtidas durante toda a auditoria para a emissão do Relatório contendo a opinião do auditor. Por vezes, também são emitidos relatórios contendo recomendações a respeito do ambiente de controles internos e ambiente de negócios da em- presa auditada. No Capítulo 10 deste livro, vamos relembrar os tipos de relatórios que podem ser emitidos em consonância com as normas técnicas de auditoria, visto que estudamos os mesmo na disciplina anterior de Auditoria: Normas e Controle Interno e também iremos reforçar a estrutura desse relatório e faremosa leitura de um exemplo prático. 10 Auditoria Contábil 1.3 Programas de auditoria: contas do ativo e passivo O ativo é o grupo patrimonial em que se evidenciam as apli- cações de recursos das empresas, seus bens e direitos. Para elaboração e aplicação dos programas de auditoria em contas do Ativo, devemos sempre estar atentos aos objetivos a serem atingidos. Embora os objetivos de auditoria possam variar um pouco conforme o tipo do ativo que estará sendo avaliado, de maneira geral, esses objetivos acabam se aplicando a todos os tipos de ativos, vejamos:  Existência: verificar se o ativo realmente existe no pa- trimônio da empresa, este deverá ser descrito que foi confirmado, em alguns casos deverá contratar uma em- presa para fazer uma averiguação, verificando se ele realmente existe, tais como, diamante e produtos quími- cos exóticos.  Avaliação: verificar a valoração desses ativos, nos ca- sos, os que são mais comuns são os estoques, contas a receber e investimentos.  Autorização: verificar, através dos controles internos se há dentro da empresa uma organização em relação à autorização de compra, de crédito, de controle de esto- que.  Propriedade: verificar o título de propriedade do bem, como, por exemplo, um contrato e uma nota. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 11  Restrições: verificar se o ativo não está em comodato ou alienado.  Exatidão dos valores: verificar se estes são exatos. Uti- lidade: tirar conclusões a respeito do uso potencial da propriedade, verificando se os ativos não estão obsole- tos, como estoques antigos, bens que saíram de linha.  Apresentação nas demonstrações: verificar se os ativos estão corretamente apresentados nas demonstrações. As obrigações, que correspondem às fontes de recursos da empresa obtidos com terceiros, devem ser testadas para verifi- car se todas as dívidas estão registradas contabilmente e se de fato estão devidamente comprovadas. Portanto, os programas específicos para as contas de Passivos têm a finalidade de:  determinar se são pertencentes à empresa;  determinar se foram utilizados os princípios de contabili- dade geralmente aceitos, em bases uniformes;  determinar a existência de ativos dados em garantia ou vinculações aos passivos;  determinar se estão corretamente classificados nas de- monstrações financeiras. Após aprendermos os objetivos principais dos programas para as contas de Ativos e Passivos, apresento, a seguir, como exemplo, um papel de trabalho contendo um programa de auditoria, para verificarmos na prática como o mesmo é estru- turado, para nos próximos capítulos estudarmos esses progra- mas em diversas áreas das demonstrações contábeis. 12 Auditoria Contábil Quadro 1 Exemplo de Programa de Auditoria Exemplo de Programa de Auditoria Caixa e Bancos Empresa: Data base: Descrição do teste: Data: Elaborado por: Data: Revisado por: Área: AUDITORIA EM CAIXA E BANCOS REF. CB Procedimentos de Auditoria Sim Não N/A Observações Objetivos: Verificar se os saldos, movimentos e procedimentos: 1 – Seguiram os princípios contábeis quanto aos aspectos de escrituração; 2 – Estão representados por moeda nacio- nal; 3 – Não representam ativo fictício, ou omis- são de receitas; 4 – São comprovados por meio de docu- mentação e controles internos; 5 – São passíveis de atualização e remune- ração, bem como se as retenções de IRRF estão adequadas; 6 – Atendem às exigências de segregação de funções; Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 13 Procedimentos: 1 – Efetuar a contagem em caixa, verifi- cando quem assina e elabora o Boletim de Caixa, confrontando o mesmo com o razão contábil; 2 – Revisar documentos (por amostragem) do período auditado, averiguando os as- pectos fiscais e operacionais, e se condizem com a atividade fim da empresa; 3 – Verificar como são controladas e trata- das as pequenas despesas; 4 – Averiguar a existência, nos cofres da empresa, de vales, vale-refeição, vale- -transporte, cheques pré-datados e forma de contabilização, assim como a guarda segura de numerários; 5 – Averiguar a existência de cheques a compensar no passivo; 6 – Efetuar e revisar a conciliação bancária, correlacionando o extrato com o razão contábil; 7 – Averiguar (por amostragem) se os lan- çamentos efetuados nas contas de bancos conta corrente e caixa atendem à legislação vigente, escrituração e aspectos fiscal, contábil e societário; 8 – Verificar se a escrituração está devida- mente fundamentada em documentação inidônea e autorizada por pessoa compe- tente; 9 – Verificar o saldo contábil das aplicações financeiras, as apropriações dos rendimen- tos e IRRF a compensar, correlacionando com os extratos; 10 – Demonstrar o saldo médio bancário referente ao período auditado e averiguar possíveis distorções com a realidade econô- mica da empresa; 14 Auditoria Contábil 11 – Obter a composição das principais despesas bancárias, averiguando as suas origens; 12 – Verificar a existência de procuração, poderes, quem assina, certificando-se da vigência; 13 – Avaliar os meios de pagamentos eletrônicos, suas responsabilidades e “auto- rização e sistemas de segurança”; 14 – Verificar a existência de carta de fiança do responsável da área; 15 – Solicitar circularização externa dos principais saldos bancários; 16 – Avaliar se os responsáveis pelo setor financeiro possuem influência no Contas a Receber e a Pagar; 17 – Verificar a existência de manual de procedimentos; Controles Internos: 1 – Boletim de Caixa; 2 – Extratos Bancários; Links (Leis, Normas, Pronunciamentos etc.): Fonte: próprio autor. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 15 Recapitulando Neste capítulo, estudamos o fluxo do trabalho de auditoria, onde é importante relembrar que durante a etapa do plane- jamento são analisados os riscos, definido o valor da mate- rialidade e elaborados os programas de auditoria, contendo todos os procedimentos que serão realizados. Lembrando que os procedimentos executados permitem ao auditor obter evi- dências ou provas suficientes e adequadas para fundamentar sua opinião sobre as demonstrações contábeis. Referências CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.203, de 18 de março de 2011. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. Atividades 1) NÃO é objetivo de um programa de auditoria: a) traçar o roteiro de execução de um ponto de auditoria; b) conduzir o auditor na aplicação dos procedimentos técnicos de auditoria; 16 Auditoria Contábil c) propiciar o controle e progresso a ser alcançado no decorrer da execução das tarefas de auditoria; d) evitar que alguma tarefa de auditoria deixe de ser exe- cutada; e) estimar o tempo necessário para realização da audito- ria. 2) O conjunto de técnicas que permitem ao auditor obter evidências ou provas suficientes e adequadas para funda- mentar sua opinião, no caso da auditoria das demonstra- ções contábeis, refere-se ao(s): a) programas de trabalho; b) procedimentos de auditoria; c) procedimentos periciais; d) escopo de auditoria; e) rastro de auditoria. 3) Os procedimentos de auditoriasão os instrumentos utiliza- dos pelo auditor para a obtenção de evidências ou provas de auditoria que contribuem para fundamentar a opinião do auditor. Assinale a alternativa que apresenta um desses procedimentos. a) Procedimentos específicos. b) Plano de auditoria. c) Documentação de auditoria. Capítulo 1 Planejamento e Programas de Auditoria 17 d) Programa de auditoria. e) Procedimentos analíticos. 4) Um dos objetivos do planejamento da Auditoria é: a) verificar se o Comitê de Auditoria Interna está agindo de forma competente para coibir fraudes e corrigir as deficiências da administração; b) adquirir conhecimento sobre a natureza das opera- ções, dos negócios e da forma de organização da em- presa; c) avaliar se ocorreu mudança no controle acionário da empresa nos dois períodos anteriores à realização da auditoria; d) investigar a composição dos inventários de estoques e do ativo imobilizado, e se estão adequadamente clas- sificados; e) envidar esforços para ampliar a lucratividade da em- presa, aconselhando sobre a otimização dos produtos e serviços oferecidos. 5) A execução dos trabalhos de auditoria é dividida em fases. O conhecimento detalhado da política e dos instrumentos de gestão de riscos do ente auditado é elemento que deve ser verificado na fase de: a) testes de auditoria; b) conclusão dos trabalhos de auditoria; 18 Auditoria Contábil c) planejamento de auditoria; d) etapa preliminar e) execução. Williams Meirelles1 Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente, é professor dos cursos de Ciên- cias Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EaD. 20 Auditoria Contábil Introdução As disponibilidades são recursos financeiros que se encontram à disposição imediata da entidade, podendo estar no próprio caixa da entidade ou em bancos (depósitos bancários à vista ou aplicações de liquidez imediata). O exame de auditoria efetuado nas disponibilidades tem por finalidade confirmar sua existência, determinar se foram utilizados os princípios fundamentais de contabilidade geral- mente aceitos e se este está corretamente classificado nas de- monstrações financeiras. 2.1 Objetivos A auditoria das disponibilidades tem como principais finalida- des, as seguintes: a. Determinar sua existência, que poderá estar na própria entidade, em bancos ou com terceiros. A entidade, por meio de seu Balanço Patrimonial, informa aos usuários que possui determinado valor em seu Ativo Dis- ponível. O auditor então deverá certificar-se de que essas in- formações estão corretas. Dessa forma, a verificação da exis- tência de qualquer item do Ativo deve ser o objetivo primordial da auditoria. A existência na própria entidade seria o numerário em caixa (a conta CAIXA); em bancos, refere-se aos recursos em Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 21 conta corrente de livre movimentação ou aqueles aplicados, mas cuja liquidez seja imediata (resgatável em até 90 dias); e com terceiros, os recursos destinados à manutenção do caixa tipo fundos rotativos ou fundo fixo. Terceiros, nesse caso, são funcionários aos quais a entidade confiou recursos destinados a pagamentos de despesas de pequeno valor. b. Determinar se os recursos disponíveis são pertencentes à entidade que se está auditando. Apesar de fundamental, convencer-se apenas quanto à existência não basta. O auditor precisa certificar-se de que os recursos, cuja existência ficou comprovada, pertencem efetiva- mente à entidade. c. Determinar se as Normas Brasileiras de Contabilidade e outras normas aplicáveis (legislação específica) fo- ram obedecidas. As contas do Disponível, por compreenderem recursos lí- quidos (dinheiro), praticamente não apresentam dificuldades no que se refere à avaliação. O que precisa ser observado é que os valores em bancos sejam efetivamente disponíveis, não vinculados a alguma obrigação da entidade; que não existam saldos credores em algumas contas “Bancos contas movimen- to”, caso em que tais saldos deveriam ser reclassificados para o passivo; e que as aplicações financeiras incluam os rendi- mentos até a data do Balanço Patrimonial. d. Determinar a existência de restrições de uso ou de vin- culações em garantia. 22 Auditoria Contábil Primeiro, determinar a existência dos recursos, depois se são de propriedade da entidade auditada. Satisfeito isso, ver se existem algumas restrições de uso, que poderão determinar a necessidade de reclassificação para outro grupo de contas, tanto do Ativo quanto do Passivo, conforme já comentado no item anterior a este. e. Determinar se está corretamente classificado nas De- monstrações Contábeis e se as divulgações cabíveis foram expostas em Notas Explicativas. Obedecendo a ordem de classificação das contas do Ativo, pelo grau crescente de liquidez, as disponibilidades compreen- dem o primeiro grupo de contas. Basicamente, duas situações devem ser observadas e podem determinar a reclassificação para outro grupo de contas: Restrições de uso, por estarem vinculados a alguma obrigação da entidade, não podem ser considerados valores disponíveis e devem ser reclassificados; e saldos credores em contas banco, que devem ser conside- rados como empréstimo e, como tal, devem ser classificados no Passivo. A legislação não prevê notas explicativas para as contas das disponibilidades, mas, como a intenção é de informar um assunto, seria de comunicar que as contas da aplicação estão atualizadas com os rendimentos até a data do Balanço Patri- monial. Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 23 2.2 Revisão dos controles internos Entre vários tipos de controle, podemos citar alguns que ser- vem de fortalecimento de controle interno para a área do dis- ponível e que podem ser utilizados de forma quase padrão pelas diversas empresas:  segregação de funções entre a custódia de valores e a contabilização;  sistema de autorização e aprovação para pagamento;  conciliações bancárias periódicas e revisadas por pes- soa independentemente da sua preparação;  utilização de fichas de razão individuais para as diversas contas do disponível;  utilização de duas pessoas independentes para a assina- tura de cheque;  abertura de contas bancárias pela administração;  sistema de fundo fixo para valores mantido em mãos;  arquivamento de documentação comprobatória após o pagamento;  controle de pagamentos para evitar atrasos e, conse- quentemente, multas ou juros de mora; e controle diário dos recebimentos e acompanhamento entre o valor de- positado e o efetivamente recebido. 24 Auditoria Contábil 2.3 Procedimentos de auditoria Os procedimentos correspondem às ferramentas das quais o auditor dispõe para atingir os objetivos da auditoria e a época de aplicação obedece ao plano previamente elaborado com base na avaliação dos controles internos da empresa. A época de aplicação dos procedimentos denomina-se “Data Base”. Todos os procedimentos a serem aplicados e a forma como isso se dará, deverão estar em sintonia com o “Programa de Trabalho” e estar adequadamente documentados. 2.3.1 Contagem do caixa A contagem do caixa destina-se a atingir o objetivo da audito- ria da existência do numerário, mas é também de extrema im- portância para fins de controle interno, dado que o caixa, por envolver dinheiro e um volume muito grande de transações, está bastantesuscetível a sofrer a prática de irregularidades, especialmente fraudes. Na contagem do caixa, alguns pontos devem ser observa- dos:  Caso exista mais de um caixa, definir qual deles será contado. Caso o auditor decidir pela contagem de to- dos, deverá planejar para que o trabalho seja realizado de forma concomitante.  Para evitar possíveis manipulações ou encobertas de fraudes, a contagem deve revestir-se do caráter de sur- presa, sempre que possível. Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 25  Para evitar problemas, a presença do responsável pelo caixa durante a contagem é obrigatória. Ao final da contagem, o auditor deverá exigir uma declaração do responsável pelo caixa de que todo o dinheiro e outros bens colocados à disposição da auditoria foram devol- vidos ao caixa.  Registrar a contagem em documento de auditoria do qual constarão, entre outras as seguintes informações: i) nome do fundo ou do caixa; ii) nome do responsável pelo numerário; iii) data e hora da realização da conta- gem; e iv) listagem de todos os itens constantes do caixa, tais como: dinheiro, cheques, recibos, e outros; v) recibo (declaração) de devolução dos itens contados, conforme comentado anteriormente.  Atentar para sinais que indiquem possíveis dissimulações de numerários, tais como: i) descontos de cheques de terceiros; ii) empréstimos temporários; iii) comprovantes de pagamentos com sinais de falsificações; e iv) cheques de realização duvidosa. Para esses casos, o auditor de- verá obter as explicações de imediato e acompanhar a solução. 2.3.2 Confirmação externa Conhecida como “circularização”, esse procedimento consis- te no envio de correspondência aos bancos com os quais a empresa mantém transações, com o objetivo de certificar-se quanto à existência dos valores em banco, conforme foram informados pela empresa ao auditor. 26 Auditoria Contábil Todos os pedidos de confirmação devem ser assinados por pessoa da empresa, que possua autorização para tal. No caso dos bancos isso, fica ainda mais evidente em face do sigilo a que devem observar. Em caso de desconfiança, o auditor pode solicitar a confir- mação junto a outros bancos que não aparecem na contabili- dade da empresa. Geralmente, o auditor aproveita um único pedido para confirmar outras transações possivelmente existentes entre a empresa e o banco, tais como: contas bancárias vinculadas; aplicações financeiras; títulos descontados; títulos em cobran- ça; empréstimos e/ou financiamentos; e custódia de bens e valores. 2.3.3 Testes de pagamentos e de recebimentos Com base em demonstrativos emitidos pela empresa, o auditor selecionará um determinado número de pagamentos e recebi- mentos ocorridos no período sob exame e aplicará uma série de testes com o objetivo de se certificar de que as transações registradas se referem a operações normais da empresa. Des- sa forma, poderá concluir que o numerário em caixa e o saldo bancário, cuja existência restou comprovada pela contagem e confirmação, efetivamente pertence à empresa auditada. Os demonstrativos a serem utilizados pelo auditor como base para a seleção dos itens e serem testados costumam ser os boletins diários de caixa, razão da conta caixa e dos ban- cos, extratos bancários etc. Tanto essa base, a definição da quantidade de itens e a forma de como estes foram seleciona- Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 27 dos devem estar registrados pelo auditor em seus documentos de auditoria. 2.3.4 Cutoff de cheques O cutoff de cheque é feito com o objetivo de se certificar de que os cheques estão sendo registrados no período de sua competência e que as conciliações bancárias não contêm item errôneo ou se compensando com outro item. Para isso, efetue os seguintes procedimentos de auditoria:  obter uma relação do último cheque emitido e dos che- ques em branco para a data do exame.  preparar um papel de trabalho indicando o nome da empresa, data do exame, título do papel de trabalho, nome do banco, o último cheque emitido, data, número e valor, e os cheques em branco, do primeiro ao último;  inspecionar os talões de cheques para confirmar as in- formações mencionadas no tópico anterior e examine todos os cheques em branco. Deve-se verificar, também, se não foi lançado nenhum che- que de número posterior ao do cutoff nos registros do razão analítico de banco, antes da data do exame, e do extrato ban- cário, também antes da data do exame. Verificar se isso também não ocorreu no razão analítico do banco ou registro de caixa, com pagamento após a data do exame, e no extrato bancário após a data do exame, que não esteja também pendente na conciliação bancária. 28 Auditoria Contábil 2.3.5 Reconciliações bancárias Geralmente, as empresas preparam em base mensal as con- ciliações bancárias. Essas representam uma reconciliação do saldo da conta corrente bancária pelo extrato, que representa os registros do banco, com o saldo pelo razão analítico, que representa os registros da empresa. As conciliações demonstram as transações registradas pelo banco e não pela empresa e as contabilizadas pela empresa e não pelo banco. Na prática, a reconciliação é elaborada tomando como base o último dia do mês, e consiste em eliminar as transações que aparecem em ambos os registros. As transações que so- bram representam itens pendentes. O auditor, por seu lado, fará o exame de tal conciliação – a Reconciliação, para certificar-se de que está correto e se as pendências são decorrentes de operações normais da entida- de e se existe a necessidade de proceder aos ajustes visando à correta apresentação de contas do ativo, passivo, receitas e despesas. 2.3.6 Verificação das aplicações financeiras A verificação do auditor para as aplicações financeiras é qua- se idêntica à do caixa, devendo prever os procedimentos de auditoria aplicáveis às circunstâncias que podem ser contagem física ou de confirmação com os custodiantes, exame da docu- mentação comprobatória das aplicações e resgates, diferen- ciando-se apenas quanto à apuração da receita (rendimentos Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 29 das aplicações) pertinente ao exercício auditado, que deve ser contabilizada em seu período de competência. Recapitulando Para a testarmos os registros realizados nas disponibilidades das entidades, temos que realizar testes para superavaliação. Para chegarmos à certeza desses valores, temos de inspecionar documentos, verificar os valores dos documentos nos registros iniciais da contabilidade, conferir cálculos, somas e inclusões no registro geral. Ainda para a continuidade dos exames, contamos com ferramentas importantíssimas como: contagem física, confir- mações com terceiros, conferências de cálculos, inspeções de documentos, cutoff de cheques, conciliações bancárias, verifi- cações de aplicações financeiras, dentre outros. Referências ARAÚJO, Inaldo da Paixão Santos; ARRUDA, Daniel Gomes. Fundamentos da Auditoria. São Paulo: Saraiva 2012. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. 30 Auditoria Contábil Atividades 1) Assinale a alternativa que não corresponde a um procedi- mento de auditoria nas disponibilidades: a) confirmação de assinaturas autorizadas; b) cutoff de cheques; c) contagem de caixa; d) confirmação de contas bancárias paralisadas; e) verificação de contas incobráveis. 2) Um cheque emitido e contabilizado pela empresa, mas não apresentado no extrato bancário, seria demonstrado da seguinte forma na reconciliação bancária: a) aumento do saldo do razão analítico; b) redução do saldo do razão analítico; c) aumento do saldo do extrato; d) redução do saldo do extrato; e) não haverá alterações.3) No encerramento do exercício, o balanço patrimonial de determinada empresa apresentou o saldo de “caixa” como credor. Identifique a opção que pode justificar essa situa- ção: a) pagamentos a fornecedores não contabilizados; Capítulo 2 Auditoria nas Disponibilidades 31 b) empréstimos concedidos não contabilizados; c) recebimentos de numerários não contabilizados; d) adiantamentos recebidos de clientes; e) rendimentos de numerários não contabilizados. 4) Os principais testes de auditoria para os saldos de caixa são, respectivamente: a) subavaliação e inspeção física; b) superavaliação e inspeção documental; c) subavaliação e inspeção documental; d) superavaliação e inspeção física; e) superavaliação e observação. 5) Uma empresa estabelece em seus controles internos de tesouraria, que todos os pagamentos devem ser efetuados mediante emissão de cheques, assinados por um diretor e um gerente de tesouraria. O auditor, ao entrar na sala do gerente de tesouraria, percebe dois talões de cheques, sem preenchimento de valores, já assinados pelo diretor financeiro para serem utilizados pelo tesoureiro. É possível afirmar que: a) a empresa não possui controles internos para os pro- cessos de tesouraria; b) os controles internos de tesouraria são eficazes para qualquer tipo de desvio financeiro; 32 Auditoria Contábil c) o tesoureiro é uma pessoa de confiança, não sendo necessária a segregação de funções; d) é uma ocorrência normal, devido a viagens frequentes do diretor financeiro; e) não há conformidade entre os controles internos defi- nidos e sua ocorrência no processo. Williams Meirelles1 Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente, é professor dos cursos de Ciên- cias Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EaD. 34 Auditoria Contábil Introdução As Contas a Receber referem-se, basicamente, a dois casos: (i) créditos provenientes do exercício da atividade operacional da empresa, relativos à venda a prazo de bens e serviços; e (ii) outros créditos oriundos de transações que, embora não representem o objeto principal da atividade empresarial, são inerentes às operações normais da empresa. Portanto, na apresentação das demonstrações contábeis, as Contas a Receber que são geradas a partir das vendas a prazo de bens e serviços que constituem o objeto principal do negócio devem ser agrupadas sob a rubrica CLIENTES e os demais valores a receber, agrupados como OUTROS CRÉDI- TOS. Neste capítulo, iremos estudar sobre os principais objeti- vos, revisão dos controles internos e procedimentos de audito- ria aplicados nos exames das contas a receber. 3.1 Objetivos Os principais objetivos do auditor quando do exame de Con- tas a Receber podem ser resumidos nos seguintes:  Determinar se o sistema de controle interno é satisfató- rio;  Determinar se os valores indicados como Contas a Re- ceber representam legítimos valores a receber; Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 35  Determinar a exatidão dos valores e se não estão super ou subavaliados;  Certificar-se de que nenhuma parcela das Contas a Re- ceber foi emprenhada, descontada, cedida ou negocia- da, com exceção daquelas que estão assim claramente indicadas nas demonstrações contábeis;  Determinar se as Contas a Receber estão apresentadas de maneira adequada nas demonstrações contábeis;  Determinar a probabilidade de realização dos créditos;  Formar opinião acerca da adequação e razoabilidade da previsão constituída para perdas julgadas prováveis na realização dos créditos. 3.2 Revisão dos controles internos É conveniente, uma segregação entre as funções de escritura- ção de contas a receber, controles de duplicatas e recebimen- tos por caixa. Alguns aspectos que devem ser considerados nessa área são os seguintes:  Existência de um controle de duplicatas quanto a sua localização física (em carteira, em bancos, com cobra- dores etc.);  Controles das duplicatas em poder de cobradores por meio de borderôs; 36 Auditoria Contábil  Prestação de contas diárias, se possível, por parte dos cobradores externos;  Confronto periódico entre o razão analítico de contas a receber e o razão social, e com a existência física de duplicatas;  Envio de extratos de contas aos clientes por elemento não relacionado com recebimento de valores;  Conciliação e análise das divergências, no caso de ma- nifestações do cliente;  Controle numérico das Notas de Crédito e aprovação das mesmas por elemento autorizado não relacionado com vendas ou recebimentos à vista de documentos comprobatórios que assegurem a procedência de sua emissão;  Contabilização de adiantamentos recebidos de clientes, para entrega futura de mercadorias em contas distintas das de contas a receber;  Preparação periódica de relação de contas a receber por idade, investigando-se os valores em atraso;  Baixa de valores considerados incobráveis mediante aprovação por escrito de funcionário autorizado pela diretoria. Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 37 3.3 Procedimentos de auditoria Por serem de natureza intangível, as contas a receber podem passar por procedimentos de auditoria diferentes daqueles usados na auditoria de Caixa e Bancos. O auditor, ao fazer a avaliação de contas a receber, deve aplicar critérios de julgamento quantitativos e também quali- tativos, usando, na maior parte do tempo, evidência indiretas, em vez de diretas. Os procedimentos de auditoria geralmente utilizados no exame das contas a receber, serão apresentados a seguir. 3.3.1 “CUTOFF” das operações Chamamos a especial atenção para este procedimento. Ne- nhum exame, salvo exceção, na área de Contas a Receber, po- derá ser desenvolvido, com total segurança, sem que antes se faça o CORTE das operações, mediante o exame das últimas entradas e saídas. Poderemos afirmar que o “cutoff” é o ponto de partida dos demais exames. 3.3.2 Exame da movimentação das contas e flutuações significativas É importante o exame da movimentação das contas e análi- se dos saldos finais analíticos de duplicatas e outras contas a receber. Em qualquer das contas, os possíveis lançamentos anormais e flutuações significativas deverão ser investigadas. 38 Auditoria Contábil 3.3.3 Circularização de duplicatas e contas a receber Selecionada a data base para a circularização, feito o “cutoff” das operações, far-se-á a seleção dos clientes (e/ou devedores outros) para circularização. Essa circularização poderá ser positiva (no corpo da car- ta circular, será solicitado ao devedor qualquer manifestação “confirmando” ou “contestando”) ou negativa (em parágrafo específico no corpo da carta circular constará que a não res- posta caracterizará “confirmação do débito”). É considerado de melhor qualidade a evidência obtida por meio dos pedidos de confirmação positivos, pois caso haja algum equívoco na conta, o devedor apresenta o erro ao au- ditor. Em geral, os auditores utilizam os dois tipos simultanea- mente. Selecionando uma amostra para confirmação positiva (provavelmente aqueles com maiores saldos) e o restante que incluir na amostra com valores menores podem ser exigidas apenas a confirmação negativa. Há de se observar que tudo é feito pelo próprio Auditor, desde a seleção do devedor, remessa das circulares (primeiro e quando necessário também o segundopedido), até o exame final de tudo. É importante lembrar que, sobre todos os saldos circularizados, temos obrigatoriamente que chegar a alguma conclusão. Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 39 3.3.4 Levantamentos físicos É também um dos exames importantes, integrante do objeto de controle de DEVEDORES. Feito o “cutoff” das operações na data base e o exame das operações ocorridas até a data, o Auditor poderá então fazer o levantamento físico das contas a receber em carteira. O Auditor, nesse exame, assim como em qualquer levan- tamento físico, deverá dedicar atenção a três quantidades ou cifras: i) o que o auditor encontrou; ii) o que os controles in- formam existir; iii) o que efetivamente deveria existir (caso não houvesse os ERROS, FRAUDES e OMISSÕES que foram en- contrados). 3.3.5 Exame das contas a receber por idade dos saldos “aging-list” O “aging-list” é um demonstrativo preparado pela própria En- tidade, onde é facilmente identificada a idade (vencido/a ven- cer/etc.) das contas a receber. O Auditor deverá dedicar atenção especial a dois aspec- tos: i) a exatidão do relatório; ii) as variações ocorridas para melhor ou pior (em valor e porcentagem) e possibilidade/ex- pectativa de realização das contas vencidas. 40 Auditoria Contábil 3.3.6 Dias de vendas contidos no total de duplicata a receber As importâncias, propriamente ditas, isoladamente, não ofere- cerão dados para avaliação. O objetivo nesse exame é iden- tificar dias de vendas contidos no montante de duplicatas a receber em determinada data base. A quantidade de dias en- contrada deverá ser referenciada com cálculos idênticos efe- tuados em datas bases anteriores (trimestres, e/ou semestres, e/ou exercício anterior). As variações em DIAS, que deverão ser obrigatoriamente explicadas, identificarão (confirmando as conclusões que obtivermos no exame “aging-list”) as mu- danças na política de PRAZOS a clientes, melhoras ou então quedas na eficiência do Departamento de CRÉDITO, ou do Departamento de COBRANÇA etc. 3.3.7 Exame dos eventos subsequentes No fechamento periódico de contas, o Auditor jamais poderá emitir opinião/conclusão sobre DEVEDORES, sem antes efe- tuar o exame do que aconteceu com as Contas a Receber nos dias subsequentes à data base do exame. Devoluções de vendas, abatimentos, descontos etc., anormais, exigirão inves- tigação, bem como Recebimentos em montante inferior às ex- pectativas. 3.3.8 Exame das outras contas a receber Da mesma forma que dedicamos atenção às duplicatas a re- ceber, dedicaremos as demais contas a receber. Não raro, isso implicará exame de contratos, guias de depósitos compulsó- Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 41 rios autenticados pelo órgão arrecadador etc. Podemos afir- mar, sem dúvidas, de que, tudo o que foi apresentado anterior- mente se aplicará também no exame dessas contas. 3.3.9 Exame das provisões constituídas e/ou necessárias Obrigatoriamente, antes de se efetuar exame da existência/ suficiência dos valores provisionados, teremos que dedicar atenção à movimentação de todas as contas (a receber e as retificadoras) no período anterior à data e também aos qua- dros disponíveis (“aging-list” etc.). Quando do exame da conta Provisão para Créditos de Li- quidação Duvidosa, deveremos, em base de teste, examinar os comprovantes hábeis dos débitos contabilizados. Os aspectos fiscais (IR) e as normas da Entidade deverão ser levadas em consideração na realização do exame. Caso a Entidade ofereça aos seus clientes descontos subs- tanciais (descontos que interessam ao cliente) para pagamento antecipado das duplicatas (exemplo: vencimento em 30 dias com 10% de desconto ou 60 dias líquido), o Auditor deverá examinar a necessidade de se constituir uma Provisão para possíveis descontos a serem concedidos (base de cálculo – to- tal de duplicatas com possibilidade de liquidação ainda com o desconto). 42 Auditoria Contábil 3.3.10 Exame da demonstração e classificação das contas a receber nas demonstrações contábeis As contas a receber vencidas e as a vencer até 360 dias se- rão classificadas e demonstradas no Realizável em Curto Prazo (Ativo Circulante). As demais (a vencer após 360 dias) serão demonstrados no Realizável em Longo Prazo. As contas retificadoras (provisão para Devedores Duvido- sos etc.) serão classificadas e demonstradas, destacadamente, deduzindo os valores originais: O montante de duplicatas/contas a receber, descontadas em banco, será demonstrado e classificado no ativo, destaca- damente, diminuindo os valores originais. Os ônus que pesam sobre as contas a receber (contas/ duplicatas dadas em garantia) deverão ser identificados nas Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis. 3.3.11 Teste de Ajuste a Valor Presente Para determinar o valor presente do Fluxo de Caixa Futuro, são requeridos: o valor do fluxo futuro, a data do referido fluxo futuro e a taxa de desconto aplicável a cada operação. Cabe ao auditor validar a estimativa do valor corrente de um fluxo de caixa futuro, no curso normal de operações da entidade. A partir da Lei nº 11.638/07, convalidada pela Lei nº 11.941/09, foi acrescido ao artigo 183, o item VIII, que es- Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 43 tabelece a obrigatoriedade de ajustar a valor presente os ele- mentos de ativo decorrentes de operações de longo prazo, sendo os demais créditos ajustados quando houver efeito re- levante. Para regulamentar a obrigatoriedade desse procedimento no Brasil, instituiu-se o CPC 12 – Ajuste a Valor Presente, cuja meta a ser alcançada, ao se aplicar o conceito de valor pre- sente, deve-se associar à mensuração de ativos e passivos, levando-se em consideração o valor do dinheiro no tempo e as incertezas a eles associados. Os riscos e incertezas são determinantes para a taxa de desconto, a ser utilizada a partir da data da operação. Nessa oportunidade, ocorre a redução da receita de vendas, e com o passar dos dias os ajustes das reversões são contabilizados como receitas financeiras. 3.3.12 Teste de Vendas: o auditor, nessa área, trabalhará suportado nos seguintes objetivos básicos  Certificar-se de que as normas refletem as exigências da entidade e que estão sendo seguidas;  Certificar-se que os aspectos fiscais envolvidos estão sendo integralmente observados. O universo de aspec- tos, situações, responsabilidades etc., faz com que esse objeto de controle se transforme, para o Auditor, em um dos mais complexos exames a realizar. 44 Auditoria Contábil Recapitulando Neste capítulo, estudamos sobre os principais procedimentos de auditoria aplicados na análise dos saldos das Contas a Receber, importante darmos ênfase no procedimento de cir- cularização, onde o auditor obtém evidência diretamente do devedor, podendo essa circularização ser através de carta em positivo ou negativo. Também vamos relembrar a importância nos procedimentos aplicados sobre a provisão para devedores duvidosos que, por tratar-se de uma conta de estimativa, me- rece bastante atenção por parte do auditor. Referências ARAÚJO, Inaldo da Paixão Santos; ARRUDA, Daniel Gomes. Fundamentos da Auditoria. São Paulo: Saraiva 2012. CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil – Teoria e Prática. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. Atividades 1) Assinale qual dos procedimentos a seguir não faz parte dos exames efetuados na área de Contas a Receber: a) conferir as listas dos saldos das contas a receber com os razões individuais; b) circularizar os principais clien- tes; Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 45 c) efetuar a contagem do caixa para confirmação dos valores recebidos dos clientes; d) testar a movimentação das contas no período; e) Conferir os cálculos de ajustea valor presente dos cré- ditos, as suas taxas aplicadas e a contabilização na data da operação e, posteriormente, até o vencimento final. 2) Analise as informações a seguir e responda quais deve- riam constar papéis de trabalho. I – Explicações sobre motivos de flutuações nas contas em comparação com o período anterior. II – Relação das explicações acima com: vendas e esto- ques. III – Os testes de ajustes a valor presente, em substituição às explicações sobre a provisão para créditos de liqui- dação duvidosa. a) Apenas informação I. b) Apenas informação II. c) Apenas informação III. d) Informações I e II. e) Todas as informações. 3) Assinale V ou F: O resumo das duplicatas a receber, por vencimento (“aging”), ajuda-nos a julgar se há adequação da provisão para devedores duvidosos. 46 Auditoria Contábil 4) Com referências a provisão para devedores duvidosos, as- sinale a alternativa que não corresponde a informações que devem contar nos papéis de trabalho de auditoria: a) uma apreciação do “aging” dos fornecedores e com- paração com o do ano anterior; b) comentários do auditado sobre o esperado sucesso com relação às cobranças ou contas a receber em atraso; c) testes efetuados sobre contas perdidas durante o exer- cício; d) indicação dos clientes concordatários, falidos, desa- parecidos etc., ou cobranças difíceis que se encontram sob a responsabilidade dos advogados. e) recálculo da provisão realizada pelo auditor. 5) Analise as afirmativas a seguir sobre o ajuste a valor pre- sente: I – Deve ser contabilizado em conta retificadora do ativo. II – Deve ser contabilizado a crédito de receita de vendas quando referir-se à venda de produtos. III – Deve ser contabilizado a débito da receita de vendas, quando referir-se à venda de produtos. IV – Com o passar do tempo, a diferença entre o valor presente e o valor que será recebido é apropriado ao resultado do exercício como receita financeira. Capítulo 3 Auditoria nas Contas a Receber 47 a) Apenas I está correta. b) Apenas I, II e III estão corretas. c) Apenas I, III e IV estão corretas. d) Nenhuma está correta. e) Todas estão corretas. Williams Meirelles1 Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 1 Williams Meirelles é especialista em Controladoria e Gestão da Informação Con- tábil pelo Centro Universitário Lasalle (UNILASALLE-Canoas, RS), possui graduação em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-Canoas, RS). Tem vasta experiência em Auditoria Contábil, tendo atuado por anos em uma “Big Four”. Atualmente, é professor dos cursos de Ciên- cias Contábeis e Administração de Empresas da ULBRA, presencial e EaD. Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 49 Introdução Os Estoques representam itens de extrema relevância nas Demonstrações Contábeis da maioria das entidades. Como a natureza dos estoques pode variar significativamente entre entidades comerciais e industriais, não é possível se estabele- cer procedimentos padrão de auditoria para os estoques. O escopo da auditoria pode ser determinado somente conside- rando-se as circunstâncias específicas de cada caso. Como em outras fases do trabalho, isso requer, entre outras coisas, a revisão dos procedimentos contábeis e do grau da eficiência do sistema de controle interno. Neste capítulo, vamos discutir os principais objetivos e pro- cedimentos que geralmente são aplicáveis à auditoria nos es- toques. 4.1 Objetivos Os objetivos de auditoria dos estoques são verificar se: a. os bens registrados como estoques existem fisicamen- te; b. os valores registrados no estoque representam verda- deiramente bens realizáveis da organização; c. os valores registrados no estoque estão adequada- mente classificados; 50 Auditoria Contábil d. os valores registrados no estoque estão adequada- mente avaliados; e. as divulgações relativas ao estoque foram devidamen- te realizadas; f. não há gravames ou riscos sobre o estoque; g. a legislação correspondente foi seguida; h. todo o estoque de propriedade da organização foi de- vidamente apresentado; i. os Princípios Fundamentais de Contabilidade foram devidamente aplicados. 4.2 Revisão do controle interno Um memorando compreensivo dos procedimentos contábeis e controle interno do cliente deve ser preparado. Recomenda-se também que nesse memorando aponte os procedimentos de controle de produção (no caso de uma indústria). Fluxogramas mostrando os principais procedimentos nas compras, produ- ção e ciclo de vendas, juntamente com cópias dos principais formulários contábeis e de estoques auxiliarão neste sentido. Os principais assuntos que devem ser incluídos no memo- rando de estoques são os seguintes: a. produtos e processos de fabricação, itens incluídos em estoques e localização; Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 51 b. controle sobre quantidades físicas e procedimentos para inventários físicos periódicos; c. controle sobre custos, incluindo um esboço do sistema do custeio, suplementado por fluxograma, operação das contas de controle contábil dos estoques e bases para valorizar o inventário; d. procedimentos para determinação de estoques moro- sos e obsoletos, estoques em armazéns gerais e cober- tura de seguros. 4.3 Conhecimento do tipo de negócio e seus produtos Antes que quaisquer passos específicos sejam tomados para verificar os estoques, o auditor deve adquirir um conhecimento das características do ramo, a posição que tem na indústria, a companhia sob exame e a natureza dos diversos produtos e processos de fabricação. Esse conhecimento é importante na compreensão das ten- dências gerais nos estoques e custos, e na orientação do rumo apropriado para a auditoria. Dados operacionais e financeiros sobre as principais com- panhias, no ramo em questão, deveriam ser estudados para que se possa determinar a posição que a companhia sob exa- me ocupa. É de boa prática a leitura de revistas e jornais de- dicados ao ramo. 52 Auditoria Contábil Alguns negócios são afetados por fatores importantes de obsolescência, tais como mudanças de estilo e modelo, procu- ra sazonal, perecibilidade de produtos etc.; esses fatores irão influenciar a extensão da análise da obsolescência. Outra ca- racterística a ser considerada é o efeito da pesquisa e aperfei- çoamento de produtos e métodos. Um conhecimento global dos processos de produção do cliente, materiais e maquinários empregados, operações de mão de obra, ciclos de produção, devem ser obtidos através da observação, discussão com o pessoal de operações. 4.4 Observação dos estoques É comum uma porção relevante dos estoques estar nas fábri- cas ou armazéns da companhia, a observação desses esto- ques representa um procedimento de auditoria importante na verificação das quantidades dos estoques. Estoques mantidos fora da entidade, e inventários mantidos com terceiros, geralmente são verificados por meio de con- firmações diretas ou outros procedimentos de auditoria. Nos casos em que estoques significativos são guardados em ar- mazém de terceiros, é desejável que o auditor faça testes de contagem física nesses depósitos. Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 53 4.5 Observação dos procedimentos contagem física O auditor não é responsável pelo levantamento ou supervisão do levantamento físico do estoque. A direção da entidade é responsável pela tomada dos inventários, bem como pela ava- liação e apuração do inventário. As atividades do auditor com respeito aos inventários físi- cos consistem-se, principalmente, em observar os procedimen- tos seguidos na contagem e anotação das quantidades, na execução apropriada de testes para determinar se os proce- dimentos estão sendo seguidos adequadamente e que seestá realizando um inventário físico satisfatório. As instruções da entidade para os inventários físicos devem ser revisadas previamente pelo auditor para certificar-se de que os procedimentos planejados são adequados. Pela informação obtida na revisão dos controles internos e na inspeção dos estoques, o auditor deve estar em posição de planejar e programar seu trabalho de auditoria. A programa- ção é importante para que, uma vez completada a contagem, não haja demoras indevidas, nem se faça a entidade esperar que o auditor conclua os seus testes. Importante salientar que, se uma entidade tem um bom controle interno sobre estoques, seus inventários físicos podem ser tomados em uma data anterior ao balanço. Se a entidade usa procedimentos de contagem rotativa para verificar a exatidão dos registros do estoque, o auditor 54 Auditoria Contábil pode fazer testes de contagens e observar os procedimentos de contagem periodicamente no decorrer do ano como uma base para formar sua opinião com respeito às quantidades de estoque no fim do ano. Por outro lado, se uma entidade não tem um sistema de custos ou fichas adequadas de quantidades, mas depende in- teiramente de um inventário físico no fim do ano contábil, as observações do auditor e seus testes de contagem devem, ne- cessariamente, ser feitos na data do balanço. Durante a observação, deve-se dirigir atenção particular para determinar se: a. os itens de estoques estão bem arrumados, de forma a facilitar contagens precisas; b. os funcionários que executam a contagem compreen- dem, e seguem, as instruções escritas; c. as contagens e descrições estão sendo anotadas com precisão e com os detalhes necessários; d. a supervisão dos procedimentos do inventário e verifi- cação das contagens pela companhia são adequadas; e e. são boas as práticas usadas para segregar entradas e saídas entre antes e após o inventário, reconhecer itens morosos, de baixa rotação etc. Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 55 4.6 Testes de contagens de estoque Testes de contagem de estoques são feitos com o propósito primordial de: a. testar a exatidão e aceitação dos procedimentos da entidade para contagem do estoque físico; e b. testar os procedimentos da entidade para compilação e anotação das quantidades identificadas fisicamente como sendo disponíveis na data do inventário. Pro- cedimentos de contagem de estoques são verificados através de testes selecionados de contagens. Procedimentos de compilação de estoques são verificados através da comparação das contagens anotadas nos papéis de trabalho com os resumos feitos pela entidade. Ao testar os procedimentos da contagem física da entida- de, o auditor deverá fazer contagens corretas de itens selecio- nados. Ao testar as anotações de quantidades físicas das etiquetas de contagem, as quantidades exatas dos itens que o auditor anotou deverão ser localizadas nos resumos das quantidades contadas. Testes de contagem que devem ser localizados nos resumos devem incluir uma descrição completa dos itens para facilitar sua identificação (nome, número de item, departa- mento onde está localizado, prateleira etc., estágio estimado de fabricação e medida unitária). Os testes de contagem do auditor devem ser representa- tivos dos itens que integram o estoque. Os itens devem ser 56 Auditoria Contábil selecionados de cada departamento principal ou localização e devem incluir tanto itens de alto como de baixo valor. Onde dois ou mais indivíduos ou equipes da entidade são usados na execução de contagens de estoques, deve-se fazer testes sobre a exatidão e cuidado com que cada indivíduo ou equipe desempenha sua tarefa. Cada teste de contagem, feito pelo auditor, deve concordar com a contagem mostrada na etiqueta do estoque. Quando as contagens não concordam, a contagem do auditor deve ser reconferida. Se a contagem da entidade for incorreta, deve-se pedir que o cliente faça uma recontagem, e a contagem final de ambos, isto é, a do cliente e a do auditor devem ser regis- tradas. Erros frequentes nas contagens ou nas descrições, reve- lados pelos testes do auditor, podem indicar deficiências de procedimento ou negligência na contagem, e dever-se-á dar consideração à expansão dos testes de auditoria. Se tais erros parecem ser em larga escala, o assunto deve ser levado à pessoa responsável pelo levantamento do estoque e deve-se considerar a necessidade de recontar as áreas afetadas. Deve-se observar o estado dos itens que estão sendo con- tados, e qualquer indicação de obsolescência, estoques ex- cessivos, ou deterioração física deverá ser investigada. Poeira, ferrugem, etiquetas antigas etc., podem indicar estoques de baixo giro ou obsoletos. Tais itens, preferivelmente, devem ser segregados fisicamente para contagem e valorização em se- parado. Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 57 Quando a contagem estiver terminada em um departa- mento ou seção, o auditor deve dar uma volta pelas diversas dependências para observar se todos os itens foram contados. Quando etiquetas tenham sido usadas, o auditor deverá revi- sar os procedimentos da entidade para dar conta de todas as etiquetas. Os resultados dos testes de contagens de estoque devem ser evidenciados pelo auditor em seus papéis de trabalho. 4.7 Cutoff de entradas e saídas “antes” e “após” o inventário As entidades deverão ter procedimentos estabelecidos para que os estoques conforme os livros possam estar em concor- dância com as contagens físicas para fins de ajustes. O objeti- vo da auditoria na verificação da segregação de recebimentos é o de assegurar que todos os materiais entrados até a data do inventário foram incluídos no inventário físico, e que os respectivos custos segundo as faturas foram registrados como passivos até a data do inventário. O objetivo da auditoria na verificação da segregação de saídas é idêntico – assegurar que todos os materiais remetidos até a data do inventário fo- ram excluídos do inventário físico e que os faturamentos foram registrados até a data de inventário. Durante o inventário físico, os departamentos de recepção e expedição deverão ser visitados e os procedimentos da enti- 58 Auditoria Contábil dade para adequada segregação de entradas e saídas, deve- rão ser observados. Devido à importância da segregação de entradas e saídas na coordenação entre o movimento do inventário físico e os respectivos custos contábeis, deve-se preparar um breve me- morando, delineando os procedimentos da entidade, os pas- sos de auditoria tomados para comprovar tais procedimentos, e os resultados e conclusões do auditor. Se for feito um inven- tário físico em uma data intermédia do ano, a exatidão da segregação deve ser testada em ambas as datas: a intermédia e a do balanço. 4.8 Teste de avaliação – custo O primeiro passo na auditoria de estoques deve ser a revisão dos memorandos descrevendo sistema de custo e a base para avaliar os estoques. Os procedimentos de auditoria, adotados para testar cus- tos unitários devem ser baseados em uma boa compreensão do sistema de custo. Um procedimento importantíssimo de auditoria na revisão de qualquer sistema de custo é o de de- terminar que os custos lançados nas contas de estoque serão creditados apropriadamente quando os produtos forem com- pletados. Isso é essencial quando os inventários físicos são to- mados em datas intermediárias do ano e as transações nas contas de controle de estoque tenham sido revisadas até a data do balanço. Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 59 Procedimentos de auditoria deverão ser estabelecidos para tirar vantagem dos aspectos de controle interno de determi- nado sistema de custos, e deverão levar em consideração a extensão até a qual a avaliação de inventários estásujeita à revisão dentro da entidade. Como um exemplo, as contas de variação utilizadas em um sistema de custo padrão deverão ser revisadas para determinar quão perto os custos “padrões” estão dos custos reais incorridos; registro e investigação ade- quada de tais variações, em uma frequência regular dentro da entidade, podem servir para reduzir a extensão dos testes de auditoria. No próximo parágrafo, os testes de avaliação que serão comentados pressupõem a utilização do PEPS – primeiro que entra, primeiro que sai – para determinar o fluxo de custos de inventários. Os procedimentos de auditoria necessários para os inventários, determinados outras bases (UEPS/CM), variam um pouco, mas o principal objetivo de auditoria, geralmente, é comprovar, através de testes apropriados, que os inventários estão avaliados ao “preço de custo ou mercado, prevalecen- do o mais baixo” em uma base invariável de ano para ano, e que o “custo” empregado e comprovado através da inspeção e testes de faturas de fornecedores, fichas de custo ou outros dados. Matérias-primas – A revisão da avaliação de estoques de- verá começar com testes de preços de matérias-primas, peças compradas etc. que posteriormente se tornam uma parte com- ponente dos estoques de produtos em processo e produtos acabados (ou que podem ser vendidos diretamente no caso de entidades mercantis ou distribuidores de produtos). O teste 60 Auditoria Contábil no caso do fluxo de custos, baseado no “primeiro a entrar, primeiro a sair”, consiste na comparação do preço do estoque com os preços das compras mais recentes feitas pela entidade. Diversos itens representativos deveriam ser selecionados das fichas de registro permanente (ou das listas de estoques se o teste é feito após a compilação do inventário físico), para se- rem feitos testes detalhados. É desejável que, para cada item testado, sejam listadas e examinadas suficientes faturas de fornecedores, de forma a cobrir aproximadamente o total do estoque; em uma base de “primeiro a entrar, primeiro a sair”, isso pode ser feito selecio- nando-se inicialmente as faturas mais recentes e depois avan- çando em ordem cronológica retroativa no arquivo de faturas. Se a quantidade comprada durante o ano corrente for infe- rior à quantidade no estoque e se tornar necessário retroceder a faturas de compras de anos anteriores a fim de achar o pre- ço de inventário em uma base de “primeiro a entrar, primeiro a sair”, o preço da quantidade que falta deverá ser o custo de inventário do ano anterior. Entretanto, essa situação pode indicar que existe um problema de obsoletismo e que se torna necessária uma redução no custo. Se as diferenças entre os preços que estão nos estoques e os preços que estão nas faturas mais recentes são significati- vas quanto aos itens testados, outros itens adicionais de esto- que poderão ter que ser listados e testados, para determinar até que ponto o estoque está errado e se e necessário fazer ajustes. Quando os custos unitários de matérias-primas são também usados para avaliar produtos em processo ou aca- Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 61 bados, o efeito das diferenças de preços de matérias-primas em tais estoques pode ser estimado considerando se, em uma base global, o conteúdo proporcional de matérias-primas nos mesmos. Generalizações amplas, como a do efeito de erros de ava- liação encontrados, ao estoque inteiro, são raramente justi- ficadas. Normalmente, o estoque não deve ser ajustado em base de tais cômputos globais. Testes e investigações adicio- nais, se necessários em face das conclusões do auditor, geral- mente, podem ser feitos pelo pessoal do cliente e revisados pelo auditor. Produtos em Processo no Sistema de “Ordens de Serviço” – A auditoria de custos de estoques, quando é usado um sistema de custeio por ordens de serviço, focaliza, principalmente: (a) revisão do fluxo de custos através das contas de controle de estoques de produtos em fabricação, e (b) testes de materiais, mão de obra e custos indiretos de fabricação debitadas as ordens de fabricação na data do inventário. Um balancete das ordens de serviço no fim do período, conforme é mostrado pelos cartões detalhados de custeio e outros registros, deverá ser obtido e reconciliado com a conta de controle de estoque dos produtos em fabricação no razão geral. Se os custos das ordens de serviço são acumulados pe- los principais elementos de custo, o balancete deverá consistir de totais para cada ordem por material, mão de obra e cus- tos indiretos de fabricação, de forma tal que se possa fazer uma revisão geral da inter-relação dos elementos de custo. Por exemplo, a revisão geralmente deverá mostrar que todas 62 Auditoria Contábil as ordens de fabricação foram debitadas com alguns custos de mão de obra e uma parcela proporcional de custos indiretos de fabricação. Diversas ordens de produção representativas deverão ser selecionadas do balancete para testes detalhados e se deverá obter sumários dos custos acumulados. Usar-se-á, possivel- mente, cópias dos cartões de custeio das ordens de produção para essa finalidade. Custos de materiais deverão ser conferidos através de testes examinando-se faturas de materiais e requisições de quantida- des para matérias-primas, peças etc., debitadas ao serviço. Os preços deverão ser localizados nas fichas de custo unitário. Horas de mão de obra direta e valores debitados por pe- ríodos de pagamento de salários (geralmente mensais) deve- rão ser revisados quanto à continuidade e semelhança dos procedimentos, e se deverá obter informações para quaisquer variações fora do comum. (Por exemplo, em alguns casos, dé- bitos de mão de obra às ordens de serviço são relativamente pequenos nas fases iniciais, mas crescem até um determinado nível à proporção que o trabalho progride e, depois, diminuem progressivamente à medida que o serviço se aproxima do fim). A base de distribuição de custos indiretos às ordens de ser- viço deverá ser revisada para constatar se produz uma dis- tribuição razoável. O cálculo de taxas pré-determinadas de custos indiretos de fabricação deverá ser verificado através de testes para comprovar a exatidão aritmética; as despesas de fabricação incluídas no conjunto de custos sujeitos à distri- buição deverão ser examinadas para notar se estão em con- Capítulo 4 Auditoria nos Estoques 63 cordância com os papéis de trabalho de auditoria relativos às contas de despesas. Com relação às ordens selecionadas para testes detalhados de custos, devem-se fazer testes para determinar que os custos indiretos de fabricação foram apli- cados na base correta e nas taxas apropriadas. A consistência na base de aplicação dos custos indiretos de fabricação e de particular importância devido ao efeito que mudanças da base podem ter sobre o lucro líquido. Produtos em Processo em um Sistema de Processo Contí- nuo de Fabricação – como no caso dos custos por ordem de serviço, a auditoria de custos no sistema de custeio por proces- so contínuo compreende: (a) revisão do fluxo de custos através dos centros de custo por processo quanto a produtos selecio- nados e (b) testes dos custos debitados a tais centros de custo. A exatidão de custos debitados a centros de custo por pro- cesso para o período analisado em detalhe deverá estar su- jeita a testes adequados de verificação. As matérias-primas postas em processamento ou adicionadas durante o processo deverão sofrer testes de verificação em relação a relatórios de consumo ou requisições; preços deverão ser localizados nas fichas de custos unitários. Custos de mão de obra direta e indireta de fabricação são verificados de forma análoga às usadas quando o sistema é de custos por ordem de serviço, exceto que os débitos são feitos a centros de custo por processo e
Compartilhar