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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL Disciplina: Pesquisa em Serviço Social Professora: Drª Rosiléa Clara Werner Acadêmica: Dayanni Cristina Ruth MORAES, Carlos Antonio de Souza. A "viagem de volta": significados da pesquisa na formação e prática profissional do Assistente Social. Serv. Soc. Soc., São Paulo n. 114, jun. 2013. Sobre o autor: Carlos Antonio de Souza Moraes Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense, fez seu mestrado em Políticas Sociais pela Universidade do Norte Fluminense, e doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Atualmente é professor assistente do Departamento de Serviço Social de Campos na Universidade Federal Fluminense. Atua no ensino, pesquisa e extensão, com temáticas implantadas, prioritariamente, nos seguintes espaços: Serviço Social, investigação, pesquisa em Serviço Social, formação e prática profissional. Além disso, é membro do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Cotidiano e Saúde (Gripes). RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO: A "viagem de volta": significados da pesquisa na formação e prática profissional do Assistente Social. INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo destacar a importância da pesquisa na formação em Serviço Social, e na prática dos profissionais. Na introdução de seu artigo o autor discorre sobre como a pesquisa se tornou uma condição essencial para a formação profissional dos assistentes sociais, visto que a proposta investigativa deve estar sempre presente, sendo inseparável da formação profissional. Sendo assim a pesquisa também passa por avanços e desafios, que segundo Moraes (2013) são desafios, sobretudo direcionados para as unidades de ensino no Brasil e aos próprios assistentes sociais. Se esses desafios não são superados, cada vez mais as pesquisas tendem a se tornar inconsistentes nos espaços acadêmicos, visto que na maioria das vezes os profissionais também não usam a pesquisa para uma intervenção na prática profissional. De maneira geral trazendo um pouco desse discurso, e da particularidade da pesquisa no curso de Serviço Social, o autor tem por objetivo resgatar um pouco da trajetória histórica da pesquisa na formação e prática dos profissionais, apontando elementos presentes na profissão referente ao tema na atualidade. Trajetória da pesquisa como tema e disciplina na formação profissional do Serviço Social. O Serviço Social nasce como profissão em meio a um cenário conflituoso entre capital e trabalho, tem sua origem em uma sociedade que estava passando pelo desenvolvimento do capitalismo, e pelo conflito de classes marcado pelo movimento do operariado. A profissão se desenvolveu através de exigências do Estado para o enfrentamento da questão social, e a partir da influência da Igreja Católica, o Serviço Social segundo Moraes (2013) inicia um trabalho fundamentado em suas perspectivas éticas, sociais, e técnicas da formação profissional. Assim nesse período a prática profissional foi marcada por um agir imediato, espontâneo e alienado, sem qualquer possibilidade de reflexão e crítica, o que só dava força para que a identidade imposta a profissão permanecesse. Era aos poucos que a profissão alcançava mudanças em sua orientação, instrumentalização e técnica para a intervenção na prática. Com a Lei n. 1889/53, e a partir da base interventiva da profissão, a Pesquisa Social entra como disciplina em um dos eixos de ensino no Serviço Social, porém estava mais voltada a procedimentos de pesquisa científica. Na revisão curricular de 1962, a pesquisa realizada pelo Serviço Social estava mais vinculada a realidade brasileira, passou a demonstrar cada vez mais as situações de pobreza de segmentos populacionais, e com isso colaborou para o prestígio profissional e o direcionamento de ações institucionais. Ou seja, a busca de dados tanto qualitativos quanto quantitativos se tornava aos poucos efetiva na pesquisa e refletida nas intervenções. Mas, infelizmente em uma reforma universitária de 1968, veio a tona ruins consequências para o ensino superior no Brasil, inclusive no Serviço Social aconteceu a exclusão da pesquisa do currículo de graduação, não sendo mais considerada como disciplina, tendo sua substituição segundo Moraes (2013) por uma atitude investigativa. A partir disso, começa a crescer uma preocupação dos profissionais com um projeto profissional voltado para as demandas e interesses dos trabalhadores e das camadas populares usuárias das políticas sociais, se tornando evidente nesse período uma renovação profissional da categoria. Nesse movimento da profissão vão surgir diferentes tendências, tanto teóricas quanto metodológicas, e três vertentes de análise, a Vertente Modernizadora, a Vertente Fenomenológica e a Vertente Marxista. Ou seja, a consciência crítica estava sendo colocada dentro da profissão para lutar pelo novo, criando propostas de um agir profissional identificado com as classes populares. Isso significava que a categoria estava aberta para fazer a mudança na vida desses sujeitos, e na profissão como um todo. Em 1970 se amplia a criação dos cursos de Pós-Graduação, e também acontece um aumento em produção teórica da profissão. Em meados dessa década é iniciada uma revisão curricular pela Abess, e aprovada pelo MEC somente em 1982, essa reforma curricular difere dos currículos anteriores, pois de maneira geral a aceitação dessa proposta fez com que a disciplina de pesquisa passasse a ser obrigatória na formação dos assistentes sociais. Contudo, mesmo com o novo perfil do currículo foram poucas as formas investidas para analisar o fazer profissional que ele estabelecia. Somente na década de 1980-90 que se destaca o Serviço Social crítico, os fatos e dados passam a serem vistos como indicadores, e não apenas como objetos de análise sem apresentar resultados. Sendo assim com esse novo referencial a recriação da profissão passou a possuir mais qualidade, buscando avanços na produção do conhecimento e rompendo com o histórico conservadorismo, assim tornava-se um desafio decifrar as lógicas do capitalismo e intervir nas novas configurações da questão social. Então podemos analisar o quanto a pesquisa se torna fundamental, trazendo indicadores do por que das novas demandas da questão social, e assim não produzir apenas o conhecimento sobre essa, mas sim realizar uma intervenção através da junção entre teoria e prática, buscando apreender a realidade, e tendo como método estratégico a pesquisa. Em 1996 foi aprovada pela Abess uma nova proposta curricular, e nela constavam três princípios básicos referentes a disciplina de pesquisa, essa avaliação e esses requisitos, apresentavam mais consistência em relação a pesquisa e formação profissional. Com esses princípios é destacado o grande valor da pesquisa em Serviço Social. Em uma nova avaliação encaminhada pela Abess em 2007 e finalizada em 2008, houve expressivas contribuições em relação às metodologias a serem usadas na pesquisa em Serviço Social. Por outro lado o autor questiona que nessa revisão houve a mesma debilidade avaliada no currículo de 1982, já que não foi muito debatido sobre o afastamento que ocorre entre pesquisa e ação profissional, foi pouco problematizado o caso da pesquisa partir da curiosidade científica de buscar o já vivido, e de não procurar novas descobertas partindo do pesquisador, e também sobre a dificuldade de articular a disciplina de pesquisa com as outras do curso. O autor destaca também sobre qual é o papel que a pesquisa esta tendo hoje nas universidades, principalmente a pesquisa social nas universidades públicas, perante a desvalorização da pesquisa que vem acontecendo dentro desses espaços. No nosso caso, ou seja, no nosso curso de Serviço Social esse debate se torna prioritário, já que muitas vezes os profissionais podem usar a pesquisa como um instrumento de ação em seus ambientes de trabalho. Porém, para que esse objetivo seja alcançadoele tem que começar dentro da universidade, quando estamos na graduação ainda, uma vez que, se não tivermos acesso a disciplinas de pesquisa tentando articular a outras do currículo, e se ambas não abordam a junção entre teoria e prática, torna-se difícil colocar a pesquisa na prática profissional. Acredito que essa informação que o autor colocou é de extrema relevância, pois as universidades muitas vezes por falta de verbas ou de interesse, tiram dos alunos e (as) oportunidades de acesso a bolsas de iniciação científica, ou quando abrem são pouquíssimas, e assim também a participação em projetos e grupos de pesquisa se torna fraca. Sendo assim se tivermos oportunidade é essencial participarmos, e corrermos atrás para nos inserir nesses espaços de pesquisa, porque é através dessas bagagens teóricas que podemos futuramente desenvolver com qualidade nossa intervenção profissional. O autor também comenta sobre o aumento dos cursos de Serviço Social à distância e que isso se torna cada vez mais contraditório, pois princípios do ensino presencial muitas vezes são deixados de lado, o que acarreta em uma formação profissional sem grandes aportes teóricos principalmente relacionados a pesquisa, caracterizando no futuro uma prática profissional sem qualidade. Desdobramentos da pesquisa para o exercício da profissão. Nessa terceira parte do artigo o autor vai colocar sobre a sociedade atual em que vivemos, mais precisamente sobre a realidade brasileira de hoje, e de como isso interfere na pesquisa e no exercício da profissão. Com o aumento de desemprego, crescimento da informalidade, de novos padrões de discriminação, seja por sexo, idade, etnia entre outros, sem contar as políticas sociais cada vez mais focalizadas e seletivas que se direcionam apenas aos considerados miseráveis, o Estado atuando minimamente na área social, enfim por essas e outras questões de nossa sociedade, que os assistentes sociais precisam estar preparados para poder intervir. Essa conjuntura segundo o autor influencia diretamente o Serviço Social, é preciso desenvolver um novo perfil profissional perante essas demandas, e isso só é possível quando desenvolvemos uma postura crítica capaz de interpretar a realidade. Penso que a pesquisa seja um forte instrumento para isso, pois é através dela que podemos criar uma postura investigativa, que contribua para o entendimento de nossa realidade, e produza mudanças no futuro de nossa sociedade, através de seus indicadores, seus subsídios teóricos, e de suas metodologias de ação. Contudo, na maioria das vezes nem todos os assistentes sociais são capazes de desempenhar isso em seus ambientes de trabalho, ou seja, a pesquisa não é refletida em uma ação profissional, e sendo assim a teoria não se junta à prática. São muitas as justificativas colocadas pelos profissionais, o autor cita algumas, por exemplo, falta de tempo, pouca disponibilidade, ausência de recursos etc. Contudo, são muitos os profissionais que buscam incorporar a pesquisa através dos cursos de especialização. Diante dessas situações a pesquisa tende a ser vinculada a apenas normas e prazos, como se fosse uma obrigação a ser cumprida, e não traduz uma prática que deveria ser de descoberta, de investigação, de possibilidades de ação, de encanto naquilo que esta sendo pesquisado. Concordo plenamente com essa afirmação feita pelo autor, uma vez que devemos gostar daquilo que fazemos, não podemos fazer algo apenas por fazer, por consideramos obrigação, é preciso ter vontade e prazer naquilo que está sendo feito, porque até os resultados podem ser diferentes e melhores. Ao se questionar sobre para quê pesquisar (Alves, 1989 apud Moraes, 2013), problematiza a função social do conhecimento produzido e o resultado social das investigações dos pesquisadores. Penso eu que todo o conhecimento produzido devia ter uma finalidade de transformação, e que as pessoas pudessem apropriar-se do mesmo, assim a meu ver todas as pesquisas teriam e fariam mais sentido. CONCLUSÃO De maneira geral, finalizando o artigo o autor entende que se torna cada vez mais necessário para os assistentes sociais buscar o desenvolvimento de uma postura crítica, comprometida em entender a realidade, e nesse sentido a pesquisa se mostra como um instrumento estratégico de atuação profissional. Devemos analisar de maneira aprofundada a produção de conhecimento em Serviço Social e sua relação com a formação e prática profissional, que segundo Moraes (2013) deve ser analisada dentro de uma perspectiva crítica, histórica e atual, ou seja, representando sempre uma viagem de volta, um conhecimento que não tem fim. Fazendo uma análise geral do artigo, acredito que todas as informações trazidas pelo autor com relação a pesquisa atrelada ao histórico da profissão, foram fundamentais, nos proporcionou apreender o quanto a disciplina de pesquisa foi e é importante dentro do Serviço Social, o autor não dispensou detalhes nesse quesito. Fica claro através das ideias que o autor expõe, que ainda é preciso superar muitos desafios com relação ao uso da pesquisa na prática profissional, acredito que é na graduação que devemos ter clareza da importância da produção de conhecimento, assim quando tivermos em nossos campos de trabalho, iremos saber unir a teoria com a prática, e assim seremos profissionais comprometidos em buscar novos saberes, conseguindo valorizar a pesquisa como um instrumento de ação.
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