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1 FINANCIAMENTO EM COMÉRCIO INTERNACIONAL AULA 6 Prof. Joni Tadeu Borges 2 CONVERSA INICIAL Um país tem que incentivar sua exportação, visto que por meio dela se tem a geração de emprego, renda e divisas. Por outro lado, o atual cenário do comércio internacional exige que haja o intercâmbio comercial. Se um país quer exportar, também tem que importar. E se trouxermos essa prática para a realidade brasileira, veremos que a importação ainda é e será muito importante para o Brasil por diversos motivos. Veremos a possibilidade de as empresas utilizarem mecanismos financeiros para fazer suas compras no exterior, utilizar recursos próprios ou financiar. As empresas que utilizam ou pretendem utilizar o financiamento à importação devem conhecer as práticas de mercado, legislações e riscos envolvidos. Nesse encontro vamos conversar sobre o financiamento à importação. Começaremos com a abordagem conceitual e em seguida veremos as principais finalidades da utilização e porque o importador tem interesse em financiar a importação. O mercado financeiro, que trabalha com o financiamento à importação, principalmente os bancos, segue as legislações vigentes, porém cada um adota características próprias para financiar o seu cliente, veremos algumas dessas características. As modalidades de financiamento serão pontos que destacaremos no decorrer do conteúdo. Também será apresentado um fluxo comentado de um financiamento à importação, assim como os principais custos envolvidos que o importador deve pagar para obter o financiamento. CONTEXTUALIZANDO Depois da abertura para o mercado internacional, em 1990, no governo Collor de Mello, o Brasil passou a dar maior importância ao comércio exterior. É certo que a exportação é fundamental para o Brasil, porque por meio dela gera- se emprego, renda e divisas. Por outro lado, o Brasil ainda depende muito de produtos que não são fabricados em nosso território, ou mesmo porque a 3 quantidade produzida em nosso país não é o suficiente para atender à necessidade do mercado interno. Assim, torna-se imprescindível que as empresas brasileiras busquem em outros mercados a alternativa de comprar produtos com novas tecnologias de produção, produtos com maior grau de qualidade e não produtos com menores preços. Em alguns casos, o governo oferece incentivos, são exemplos o ex-tarifário (importação de bens de capital sem similar no país) e a importação de mercadorias com a suspensão ou isenção de impostos para serem utilizadas em um processo produtivo para posterior exportação (drawback). Mas, em todos os casos, importações com incentivo ou não, haverá por parte do importador, a obrigação de efetuar o pagamento ao exportador estrangeiro. E nem sempre o importador utilizará recursos próprios. Dessa maneira, quando for necessário, o importador deve financiar a importação. São várias linhas de crédito ou tipos de financiamentos existentes no mercado, as quais o importador brasileiro deve conhecer. De janeiro a dezembro de 2016, as importações brasileiras tiveram uma redução de quase 20% em relação ao mesmo período no ano de 2015. O momento econômico no país foi um grande fator para a queda da importação, no qual a desvalorização do real também esteve presente. Mesmo assim, o Brasil importou US$ 137,5 bilhões e uma grande parte desse valor, foi financiado pelas empresas brasileiras. No decorrer, conversaremos sobre o financiamento à importação. Balança Comercial Ano 2016 Valor em US$ Variação % em relação ao ano de 2015 Exportação 185.235.400.805 - 3,09 Importação 137.552.002.856 - 19,77 Saldo 47.683.397.949 + 142,23 Corrente de Comércio 322.787.403.661 - 10,98 4 TEMA 1: ABORDAGEM CONCEITUAL DE FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO Para entendermos sobre o tema que vamos abordar, primeiro é necessário diferenciar dois produtos que são utilizados em larga escala no mercado bancário, o empréstimo e o financiamento. O Banco Central do Brasil, em sua página, define o empréstimo bancário como: "É um contrato entre o cliente e a instituição financeira pelo qual ele recebe uma quantia que deverá ser devolvida ao banco em prazo determinado, acrescida dos juros acertados. Os recursos obtidos no empréstimo não têm destinação específica", e para o financiamento sendo: o financiamento também é um contrato entre o cliente e a instituição financeira, mas com destinação específica dos recursos tomados, como, por exemplo, a aquisição de veículo ou de bem imóvel. Geralmente o financiamento possui algum tipo de garantia, como, por exemplo, alienação fiduciária ou hipoteca. Observamos que a principal diferença está na utilização dos recursos tomados na instituição financeira, para o empréstimo não há destinação específica e o financiamento é direcionado para um objetivo. Atualmente, para os dois tipos de linha de crédito, os bancos usualmente solicitam uma garantia para diminuir o risco de crédito. Dessa maneira, podemos afirmar que o financiamento à importação é uma linha de crédito destinada às empresas brasileiras que precisam comprar um produto no exterior, seja a matéria-prima para a produção, uma máquina para utilizar na produção ou mesmo produtos acabados para a comercialização no mercado interno. A empresa que faz o financiamento à importação busca em primeiro lugar um alongamento de prazo para pagar sua compra no exterior, os motivos são diversos, como: não utilizar o capital de giro próprio para não descapitalizar o patrimônio da empresa; 5 utilizar o financiamento para aumentar o seu potencial de produção ou venda; taxas de juros menores do que as taxas de juros praticadas nas operações do mercado interno; para algumas linhas de crédito não há a incidência do IOF. Porém, a empresa que toma um financiamento à importação em moeda estrangeira tem que estar atenta ao mercado cambial, devido à variação da taxa de câmbio, que pode valorizar ou desvalorizar perante a moeda estrangeira. Hoje existe no mercado financeiro vários instrumentos de proteção cambial (hedge) que apresentam condições de fixar uma taxa de câmbio para uma data futura. A empresa que não procura proteger seu passivo em moeda estrangeira pode ter em uma data futura a condição de não poder honrar com seus compromissos, gerando complicações e restrições no mercado bancário. O importador brasileiro pode buscar o financiamento, em regra geral, em três fontes: Exportador: Para que ocorra essa situação é necessário haver a confiabilidade do exportador em relação ao importador, já que é o exportador quem está concedendo o prazo de pagamento para o importador. Normalmente, isso acontece entre empresas do mesmo grupo ou empresas que já possuem um bom grau de relacionamento. Mas, com certeza, antes do exportador financiar o importador brasileiro, ele faz uma consulta cadastral do importador ou contrata um seguro de crédito à exportação para diminuir o risco, no caso do importador não efetuar o pagamento. Quando o exportador financia diretamente o importador brasileiro, sendo uma operação de curto prazo, ele não aplica os juros sobre a operação, pela razão que, o custo financeiro já deve estar inserido no preço da mercadoria. Diretamente em um banco no exterior: O BACEN permite que as empresas brasileiras busquem o financiamento diretamente em qualquer banco de 6 qualquer país, claro, respeitando as sanções impostas pelos organismos internacionais.Na prática, o importador que faz essa operação, é uma grande empresa, que tem a análise de cadastro aprovada pelo banco estrangeiro. Para as empresas de menor porte, torna-se mais difícil o acesso à linha de crédito nos bancos estrangeiros devido às várias exigências solicitadas por eles. Por meio de bancos no Brasil: É o procedimento mais comum, os bancos brasileiros são autorizados pelo BACEN a captar recursos no exterior para financiar as importações das empresas brasileiras. A praticidade está em todo o processo, o banco brasileiro financiará o seu cliente, para isso, com certeza, fará previamente a análise de crédito e de risco e definirá a garantia que o importador deve dar em contrapartida. Cada banco tem a sua particularidade em fazer um financiamento à importação, mas no contexto geral, o banco brasileiro paga diretamente o exportador no exterior e dá prazo para o importador pagar o financiamento. Os financiamentos podem ser classificados em duas modalidades, buyer's credit e supplier's credit, cada uma estabelece por quem o importador será financiado. Aquiles Vieira define primeiramente Buyer's Credit (2005, p.169) como: um financiamento concedido ao importador por uma Instituição Financeira no exterior que, por sua vez, assume o compromisso de efetuar o pagamento à vista ao exportador, correspondente ao valor da operação contratada. O importador, no entanto, assume o compromisso de restituir ao banco no respectivo vencimento da obrigação o valor do principal e encargos. Essa operação também pode ser realizada por um banco brasileiro que capta recursos (funding) junto à comunidade financeira internacional, o qual elabora um contrato de Financiamento em Moeda Estrangeira com o importador e efetuará o pagamento à vista ao exportador. Após, Aquiles Vieira aborda a respeito das operações de Supplier's Credit (2005, p. 172): É o financiamento concedido ao importador diretamente pelo exportador no exterior o qual receberá o pagamento no vencimento da operação. Caso o exportador decida antecipar os recursos, poderá 7 descontar os títulos representativos da operação (saque ou crédito documentário) junto ao banco de seu relacionamento no exterior. Esse tipo de financiamento representa ao importador relativa vantagem, uma vez que o financiamento junto a uma instituição financeira, via de regra, além do spread, inclui também a taxa de risco país, sendo que esse pode ser tão elevado quanto ao custo do próprio financiamento. Obviamente a margem cobrada por um banco no país poderá ser substituída por outro componente de custo, mas ligeiramente inferior, no caso da exigência de uma Carta de Crédito. Não tão comum, mas há a possibilidade dos bancos brasileiros financiarem a importação das empresas em moeda nacional (reais). Para o importador, não haverá o risco da variação cambial, sendo que o financiamento é em reais. A estimativa da variação cambial, definida pelos bancos, fará parte do custo do financiamento, cabe ao importador analisar as vantagens e desvantagens da linha de crédito e decidir qual é a melhor alternativa para financiar a sua importação. Leitura obrigatória Páginas 154, 155 e 156 do capítulo 8 do livro "Introdução às finanças internacionais", disponível na biblioteca virtual via Único, que trata sobre o Financiamento Internacional. TEMA 2: CARACTERÍSTICAS DOS FINANCIAMENTOS À IMPORTAÇÃO O financiamento à importação é uma linha de crédito disponível para as empresas que compram um produto no exterior. Mesmo que o sistema bancário siga as normas estabelecidas pelos órgãos regulamentadores do Brasil e internacionais, assim mesmo, há algumas modalidades de financiamentos, e cada banco pode adotar procedimentos diferentes para operacionalizar a linha de crédito, adotando critérios específicos. Esses critérios caracterizam as operações de financiamentos à importação. 8 Veremos a seguir as principais características que fazem parte das operações de financiamentos à importação: Origem dos recursos: Os recursos utilizados são captados no exterior pelos bancos privados e públicos, dificilmente utiliza-se recursos do governo. Prazos: Os financiamentos podem ser de curto ou longo prazo. Considera-se operações de curto prazo até 360 dias contados da data do desembolso, do embarque da mercadoria no exterior ou da nacionalização da mercadoria importada. Já os financiamentos com prazo superior a 360 dias são considerados de longo prazo. Obs.: na prática, quem define o prazo do financiamento são as partes envolvidas, que dependerá de alguns fatores como: valor do financiamento; produto importado; condições do limite de crédito da empresa; garantia para o financiamento. Valor do financiamento: O valor do financiamento pode ser até 100% do valor da importação, podendo inclusive financiar mais do que uma fatura e de exportadores diferentes, veja o exemplo: A empresa ComexEad Ltda. está realizando três importações: Importação A - EUR 100.000,00 com exportador da Alemanha; Importação B - EUR 120.000,00 com o exportador da Itália; Importação C - EUR 210.000,00 com o exportador da Espanha. Vamos considerar que o importador (ComexEad Ltda.) pagou antecipadamente a cada exportador o percentual de 30% e pretende financiar o saldo devedor de 70%. Dessa maneira, a empresa ComexEad Ltda. pagaria com recursos próprios EUR 30 mil para o exportador na Alemanha, EUR 36 mil para 9 o exportador italiano e EUR 63 mil para o exportador espanhol. Para o saldo de EUR 301 mil, faria um único financiamento com seu banco de relacionamento. Por sua vez, o banco de relacionamento efetuaria o desembolso (pagamento) para cada exportador, sendo: EUR 70 mil para o da Alemanha, EUR 84 mil para o da Itália e EUR 147 mil para o da Espanha. Produto: Os produtos que podem ser financiados são aqueles que constam na lista da Tarifa Externa Comum (TEC), são quase todas as NCMs, desde que, atendidas as normas administrativas do Comércio Exterior Brasileiro, conforme disciplina a Portaria SECEX n.º 23, de 14 de julho de 2011. Obs.: para um ou outro produto pode haver alguma particularidade, por exemplo: Importação de avião; importação de máquinas usadas. Modalidades de pagamento: O financiamento à importação independe da modalidade de pagamento negociada entre o importador e o exportador. O financiamento pode ocorrer nas seguintes modalidades de pagamento: pagamento antecipado; remessa sem saque; cobrança documentária; carta de crédito. Incoterms: O financiamento pode ocorrer em qualquer condição de venda (incoterms) negociada entre as partes, desde que esteja declarado nos documentos comerciais. Joni Tadeu Borges (2012, p. 46) define incoterms como: International Commercial Terms (Incoterms) são um conjunto de regras básicas e padronizadas que orientam as operações comerciais internacionais. Representa a condição utilizada nas operações comerciais internacionais de compra e venda de mercadorias, além de estabelecer onde termina a responsabilidade do exportador e começa do importador quanto à entrega da mercadoria, aos custos e aos riscos envolvidos. 10 Forma de pagamento: O importador ao assumir a dívida de um financiamento à importação, poderá pagá-la em parcelas trimestrais, semestrais, anuais ou em uma única parcela. O prazo para pagamento depende da negociação entre banco e empresa. Dívida em moeda estrangeira: Ao contratar um financiamento à importação o importador assume uma divida em moeda estrangeira, normalmente o dólar americano ou euro, portanto,está sujeito ao risco da variação cambial. No vencimento do compromisso, o importador deve contratar o câmbio para comprar a moeda estrangeira à taxa do dia. A operação de câmbio é caracterizada como um "contrato de câmbio de venda" porque o banco vende a moeda estrangeira para o importador. Garantias: As garantias utilizadas para esse tipo de operação são as tradicionalmente utilizadas no mercado bancário. As características que estão presentes nos financiamentos à importação são semelhantes entre si, cada banco tem a sua prática de conduzir o financiamento, porém, sempre amparados nas legislações vigentes. Por exemplo, um determinado banco financia a importação até o prazo máximo de 360 dias, outro pode financiar somente até 180 dias. Há bancos que financiam o pagamento antecipado, liberam o recurso para o exportador antes do embarque da mercadoria, outros bancos não financiam nessa condição. Dessa maneira, o importador tem que analisar a melhor alternativa que seu banco de relacionamento oferece para financiar a importação. Curiosidade Veja a previsão para o ano de 2017 para a importação no Brasil apresentada pelo Diário do Nordeste disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/online/importa coes-devem-voltar-a-subir-em-2017-1.1679279>. 11 TEMA 3: MODALIDADES DE FINANCIAMENTOS À IMPORTAÇÃO Os financiamentos à importação podem ser realizados de duas maneiras pelos bancos brasileiros, da forma direta e por meio de repasse. Na modalidade direta, quem financia o importador é um banco no exterior, normalmente um banco brasileiro que tem uma agência no exterior. Já no financiamento repasse, é o banco brasileiro (no Brasil) que financia o importador. 1) Quando um banco no exterior financia diretamente o importador brasileiro (modalidade direta): Essa modalidade estabelece que o financiamento será realizado diretamente entre um banco no exterior, normalmente uma agência de um banco brasileiro no exterior, e o importador brasileiro. A intermediação da operacionalização do financiamento é realizada pelo banco brasileiro no Brasil. Como a operação de crédito ocorre no exterior, sustentadas nas legislações do país em que o banco está localizado, não há incidência de IOF. Esse fator é um diferencial no custo total da operação porque reduz, atualmente, 1, 856% para operações com 360 dias de prazo. Inclusive, quem assinam o contrato de financiamento à importação é o importador e o representante do banco no exterior. 2) Quando um banco no exterior financia o banco no Brasil e esse repassa para o importador brasileiro (modalidade repasse): O financiamento ocorre entre o importador brasileiro e o seu banco de relacionamento no Brasil, as condições são muitos semelhantes à modalidade direta, porém, como o contrato de financiamento é formalizado, respeitando a legislação brasileira, nesse caso, há a incidência do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF). Atualmente a alíquota do IOF é de 0,38% 12 na abertura da operação de crédito e 0,0041% ao dia sobre o saldo devedor do financiamento, limitando-se ao prazo máximo de 360 dias. Na modalidade repasse, após a formalização do contrato de financiamento à importação, o banco de relacionamento do importador no Brasil solicita que um banco no exterior pague (repasse) o valor do financiamento ao banco do exportador. O contrato de financiamento é assinado pelo importador brasileiro e o representante do seu banco de relacionamento no Brasil. Contrato de financiamento O contrato de financiamento à importação é formalizado por meio de um instrumento particular de crédito, e nele deve constar os dados da negociação, direitos e obrigações das partes contratantes. No contrato deve constar: 1. A identificação e domicílio das partes: Banco e o Tomador do Crédito (importador); 2. A identificação e domicílio dos avalistas, se houver, e dos respectivos cônjuges; 3. Valor do financiamento em moeda estrangeira; 4. A data de desembolso no exterior (data que o valor estará disponível no banco do exportador); 5. A identificação dos documentos representativos da operação comercial: fatura proforma, fatura comercial, conhecimento de embarque ou outros, conforme o caso; 6. A comprovação da contratação de seguro de transporte internacional com cláusula beneficiária ao Banco Financiador; 7. A taxa de juros, percentual ao ano, que poderá ser fixa ou variável; 13 8. O spread, percentual ao ano, se a taxa de juros for variável; 9. A comissão flat, percentual sobre o valor do financiamento; 10. O Tomador tem a obrigação de recolher os tributos incidentes no financiamento (IR, IOF); 11. A data de vencimento do principal e dos juros; 12. A forma como se calcula os juros; 13. Que o tomador (importador) deve pagar dois dias úteis antes do vencimento o valor em reais equivalentes ao valor da dívida em moeda estrangeira (contratar o câmbio dois dias antes do vencimento da dívida); 14. Que se não houver o pagamento conforme mencionado no item 13, o banco poderá cobrar acréscimos de qualquer natureza ou despesas com a operação; 15. Que o Banco fica autorizado a debitar na conta corrente do importador os valores que se tornarem devidos pelo Tomador; 16. As penalidades caso o importador não efetue o pagamento na data acordada: multa e juros de mora; 17. A obrigatoriedade do tomador (importador) apresentar ao banco os documentos relacionados aos desembaraços aduaneiros, por exemplo: a Declaração de Importação (DI); 18. A assinatura das partes contratantes, banco e o tomador do crédito. Pré-requisitos para o importador obter o financiamento Analisar o crédito do importador Previamente à negociação do financiamento à importação, o banco faz a análise de crédito de seu cliente, estabelece parâmetros para atuar com 14 operações consideradas da área internacional, levando em conta o faturamento da empresa, tempo de atividade no mercado interno e internacional, se tem ou não restrições no mercado financeiro etc. Apresentar garantias O importador deve apresentar garantias a critério do banco compatíveis com o valor do financiamento. Negociar as condições Ter o conhecimento da prática de mercado e ter parâmetros de custos para obter uma boa negociação. Curiosidade Veja um modelo de contrato de financiamento à importação de longo prazo disponível em: <https://cambio.bradesco/Conteudo/formularios/importacao/013FinimpLongoPr azo.PDF>. TEMA 4: MODALIDADES DE FINANCIAMENTOS À IMPORTAÇÃO A seguir vamos apresentar o fluxograma do financiamento à importação na modalidade repasse. É um fluxo básico, de forma simplificada para apresentar como ocorre a condução de um financiamento à importação, desde a captação (empréstimo) de recursos pelo banco brasileiro, ou seu correspondente no exterior, até a sua liquidação (pagamento). Vale ressaltar, que o fluxo apresentado é somente ilustrativo, podendo haver situações diferentes conforme os países envolvidos e as modalidades de pagamento que podem ser negociadas entre exportador e importador. Além do que, cada banco adota 15 determinados procedimentos para conduzir a operação de financiamentos à importação. Vamos utilizar as seguintes legendas para identificar os bancos: Banco A = Banco de relacionamento do importador; Banco B = Banco correspondente do Banco A no exterior, podendo ser uma agência (Banco) do banco brasileiro no exterior; Banco C = Banco que empresta recursos (US$) para o Banco B; BancoD = Banco de relacionamento do exportador Observação: O Banco B, o Banco C e o Banco D podem estar em países diferentes. Fluxograma Brasil Exterior Alfândega Alfândega Importador Exportador Banco D ancorasil 4 5 6 7 8 1 0 1 3 9 1 5 1 6 1 4 16 Etapas: 1. O Banco B empresta recursos em moeda estrangeira, dólar americano ou euro, do Banco C. O Banco C, óbvio, cobrará juros mais spread. Por exemplo, uma linha (empréstimo) de US$ 10.000.000,00, prazo de 2 anos à taxa de juros de (libor + 1,0%) a.a.; 2. O Banco C credita o Banco B o valor em moeda estrangeira correspondente ao empréstimo; 3. O Banco B comunica ao Banco A sobre a disponibilidade de uma linha de crédito para financiar as importações de empresas brasileiras; 4. Importador negocia as condições da operação comercial com o exportador. Por exemplo, US$ 500.000,00 pagamento à vista; 5. Importador não tem disponibilidades ($) para pagar à vista ou não tem interesse em utilizar recursos próprios, solicita ao Banco A um financiamento à importação no valor de US$ 500 mil por um prazo de 360 dias; 6. O Banco A, após a análise de crédito e risco em relação ao seu cliente e ainda, após a análise documental e negocial, formaliza o contrato de financiamento à Banco A ancorasil Banco C ancorasil Banco B ancorasil 1 2 3 1 1 1 2 1 7 1 8 17 importação. As partes assinam o contrato de financiamento. Vamos considerar que o custo da operação ficou, por exemplo: 3,0% de comissão flat, juros de LIBOR + 3,0%, IR sobre juros e IOF; 7. Exportador prepara os documentos representativos da exportação e libera a mercadoria na alfândega de seu país; 8. Mercadoria segue para o destino, país do importador, Brasil; 9. Exportador envia uma cópia do conhecimento de embarque para o importador, pode ser por e-mail; 10. Importador comprova ao Banco A, por meio da cópia do conhecimento de embarque, que a mercadoria foi embarcada e solicita o pagamento (desembolso) para o exportador; 11. Banco A solicita para o Banco B que credite o Banco D o valor correspondente ao financiamento à importação para pagar o exportador; 12. Banco B credita ao Banco D o valor do financiamento à importação; 13. O Banco D paga ao exportador o valor da exportação; 14. O exportador, após receber o valor referente a sua venda, envia os documentos originais representativos da exportação para o importador; 15. O importador, de posse dos documentos originais, libera a mercadoria na sua alfândega; 16. Na data acordada, o importador paga o financiamento (principal e juros), por meio da contratação de câmbio de venda junto ao seu banco de relacionamento; 17. Banco A comunica e credita o Banco B o valor em moeda estrangeira referente ao financiamento à importação; 18. O Banco B, na data acordada, paga o Banco C. 18 Observação: Os US$ 10.000.000,00 captados pelo Banco B por um prazo de 2 anos poderiam financiar as importações de várias empresas brasileiras. No exemplo, como financiou uma operação de US$ 500.000,00 por um prazo de 1 ano, teria disponível ainda US$ 9.500.000,00. Curiosidade Leia a matéria sobre captação de recursos externos disponível em: <http://saberhojeemdia.blogspot.com.br/2015/04/captacao-de-recursos- externos-para.html>. TEMA 5: CUSTOS ENVOLVIDOS NO FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO - APLICABILIDADE A empresa brasileira que pretende financiar sua importação, além de conhecer os procedimentos operacionais e legais, tem que avaliar previamente todos os componentes que formarão o custo final do financiamento para ver a viabilidade ou não de contratar a operação de financiamento. Na prática, as instituições financeiras trabalham de maneiras semelhantes, uma vez que estão sujeitas às mesmas regras impostas pelas autoridades monetárias. Independente do tipo de financiamento, os custos envolvidos serão: a comissão de financiamento (comissão flat), juros e impostos. Pode ser que a denominação de cada custo seja diferente, mas o importante é que o importador saiba o que ele pagará pelo financiamento. Os juros praticados para a linha de crédito têm como base o custo da captação dos recursos no exterior mais o spread e é calculado sobre o saldo devedor do financiamento, aplica-se a metodologia dos juros simples para calcular o valor dos juros. Existe outros custos, como o imposto de renda sobre o valor dos juros, o IOF. Também podem ser cobradas comissões de financiamentos. O importador ainda tem que considerar a variação cambial, uma 19 vez que a dívida é em moeda estrangeira, a variação pode ser positiva ou negativa. Com todos os custos que incidem no financiamento à importação, ainda pode-se considerar, que o custo final pode fica menor do que os custos praticados nos financiamentos no mercado interno. Vamos verificar como ficaria o custo do financiamento à importação para uma empresa que contratou um financiamento no valor de US$ 100.000,00, nas seguintes condições: Modalidade do financiamento: Repasse. Valor do financiamento: US$ 100.000,00. Prazo: 360 dias. Forma de pagamento do principal: em 02 parcelas iguais, semestrais e consecutivas. Forma de pagamento dos juros: junto com o principal. Custos: Comissão flat = 3,0% (pagamento na contratação). IOF crédito = 0,38% (pagamento na contratação). IOF diário = 0,0041% a.d. (pagamento na contratação). Juros = LIBOR semestral* + spread (pagamento no vencimento das parcelas). LIBOR semestral = 1,33378% a.a. spread = 2,50% a.a. Juros = 1,33378 + 2,50 = 3,83378% a.a. Imposto de Renda sobre os juros = 15% (pagamento no vencimento das parcelas). 20 Calculo dos custos: a) Comissão flat A comissão flat é o percentual calculado sobre o valor do financiamento e cobrada do importador na data da contratação. Comissão flat = US$100.000,00 x 3,0%. Comissão flat = US$ 3.000,00. b) IOF Como trata-se de um financiamento na modalidade de repasse, há a incidência do IOF e cobrado do importador na data da contratação. IOF crédito = aplica-se a alíquota sobre o valor do financiamento (crédito). US$ 100.000,00 x 038% = US$ 380,00. IOF diário = aplica-se a alíquota sobre o saldo devedor do financiamento referente aos dias utilizados: IOF diário1 = Saldo devedor referente a 180 dias. IOF diário 1 = US$ 100.000,00 x 0,0041% x 180 dias = US$ 738,00. IOF diário 2 = Saldo devedor referente a 360 dias. IOF diário 1 = US$ 50.000,00 x 0,0041% x 360 dias = US$ 369,00. IOF total = US$ 380,00 + US$ 738,00 + US$ 369,00. IOF total = US$ 1.487,00. 21 c) juros O valor dos juros é calculado sobre o saldo devedor da dívida e aplicado à taxa LIBOR para a periodicidade em que devem ser pagas as parcelas mais o spread pretendido pelo banco. Veja o comportamento da taxa LIBOR no dia 10/01/2017. Taxa LIBOR em 10/01/2017 Percentual ao ano Libor US$ 1 semana 0,71956 % Libor US$ 1 mês 0,76500 % Libor US$ 3 meses 1,01789 % Libor US$ 6 meses 1,33378 % Libor 12 meses 1,70178 % Observação 1: a taxa LIBOR pode oscilar diariamente, portanto é uma taxa variável. Observação 2: taxa definida para os juros no nosso exemplo foi de (LIBOR + spread), considera-se então, a LIBOR de seis meses porque a periodicidade das parcelas é de seis meses. Naprática, usaria a taxa LIBOR semestral do dia do vencimento das parcelas, provavelmente haveria uma pequeníssima variação. Para fazer o cálculo do valor dos juros, vamos considerar que a taxa LIBOR permaneça a mesma nos dias dos vencimentos da primeira e segunda parcela. 1) parcela 1 Juros = Saldo devedor x taxa de juros x prazo Juros = US$ 100.000,00 x 3,83378% x 180 dias Juros = US$ 100.000,00 x 3,83378 x 180 100 360 Juros = US$ 100.000,00 x 3,83378 x 180 36.000 22 Juros = US$ 1.916,89 2) parcela 2 Juros = Saldo devedor x taxa de juros x prazo Juros = US$ 50.000,00 x 3,83378% x 180 dias Juros = US$ 50.000,00 x 3,83378 x 180 100 360 Juros = US$ 50.000,00 x 3,83378 x 180 36.000 Juros = US$ 958,34 d) Imposto de Renda sobre o valor dos juros Aplica-se, em regra geral, a alíquota de 15%. d.1) IR para a parcela 1 IR = US$ 1.916,89 x15% IR = US$ 287,50 d.2) IR para a parcela 2 IR = US$ 958,34 x15% IR = US$ 143,75 Considerações Valores em US$ Data (dias) Principal Comissão Flat - IOF Total Juros IR s/Juros Total 0 0,00 3.000,00 1.487,00 0,00 0,00 4.487,00 180 50.000,00 0,00 0,00 1.916,69 287,50 52.204,19 23 360 50.000,00 0,00 0,00 958,34 143,75 51.102,09 Total 100.000,00 3.000,00 1.487,00 2.875,03 431,25 10.793,28 1. Na data (0) zero, data da contratação ou do desembolso do financiamento à importação, o importador paga ao Banco US$ 3.000,00 referente à comissão flat e recolhe o IOF no valor de US$ 1.487,00 convertidos em reais à taxa de câmbio do dia; 2. Na data de 180 dias, vencimento da primeira parcela, o importador paga US$ 50.000,00 de principal, US$ 1.916,69 de juros. O pagamento é realizado por meio de fechamento de contrato de câmbio à taxa do dia. Na mesma data, o importador recolhe o valor em reais equivalente a US$ 287,50 referente ao IR via Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF); 3. Na data 360 dias, vencimento da segunda parcela, o importador paga US$ 50.000,00 de principal, US$ 958,34 de juros. O pagamento é realizado por meio de fechamento de contrato de câmbio à taxa do dia. Na mesma data, o importador recolhe o valor em reais equivalente a US$ 143,75 referente ao IR via Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF); 4. Para esse exemplo, o importador tem um custo de US$ 7.793,28 para financiar US$ 100.000,00 por um prazo de 360 dias; 5. Os bancos ainda podem cobrar tarifas para a contratação de câmbio no vencimento das parcelas. TROCANDO IDEIAS Pesquise junto às empresas importadoras e obtenha as informações sobre a contratação de um financiamento à importação: quais os procedimentos, quais os prazos para liberação do financiamento e quais os custos envolvidos. Após, apresentem em fórum adequado e discutam a respeito do tema. 24 NA PRÁTICA Calcule o custo total de um financiamento à importação na modalidade repasse, considerando as informações a seguir: Valor do financiamento: USD 100.000,00. Prazo: 360 dias. Pagamento do principal e juros em uma única parcela no final. Comissão flat: 1,00%. Juros: 2,50% a.a. IR sobre juros: 15%. IOF: 0,38%. IOF diário: 0,0041% a.d. Forma de pagamento dos custos Comissão flat no desembolso; IOF no desembolso; Principal no vencimento; Juros no vencimento; IR no vencimento. Resolução a) Cálculo da comissão flat 25 A comissão flat é o percentual aplicado sobre o valor do financiamento e em regra geral o importador faz o pagamento na contratação (antes do desembolso); US$ 100.000,00 x 1,00% = US$ 1.000,00 b) IOF IOF sobre o valor do crédito. US$ 100.000,00 x 0,38% = US$ 380,00. IOF sobre o valor/prazo. US$ 100.000,00 x 0,0041% x 360 = US$ 1.476,00. IOF total = US$ 1.856,00. O pagamento deve ser realizado na contratação, antes do desembolso. c) Juros sobre o financiamento Juros = (US$ 100.000,00 x 2,50 x 360) x 36.000 = US$ 2.500,00. O valor dos juros será pago no vencimento da operação. d) Imposto de Renda sobre os juros. US$ 2.500,00 x 15% = US$ 375,00 O valor do IR será pago no vencimento da operação. 26 e) Valor do principal US$ 100.000,00 O valor do Principal será pago no vencimento da operação. Valor total que o importador pagará pelo financiamento: US$ 100.000,00 - Principal US$ 1.000,00 - Comissão flat US$ 1.856,00 - IOF US$ 2.500,00 - Juros US$ 375,00 - IR sobre/Juros US$ 105.731,00 - Valor total O custo, para esse exemplo de financiamento, representa 5,73% do valor do financiamento, para esse caso, uma taxa equivalente mensal de 0,48%. US$ 5.731,00/US$ 100.000,00 = 0,05731 x 100 = 5,73% 5,73% /12 meses = 0,48% a.m. SÍNTESE Vimos na aula de hoje o tema que abordou o financiamento à importação. Usualmente, no Brasil, as empresas necessitam de prazos para pagar suas compras realizadas internamente ou no mercado externo. Considerando que o Brasil ainda tem grande necessidade de importar produtos por diversos motivos, é certo que a demanda pelo financiamento à importação deve continuar. Cabe 27 ao importador conhecer as legislações e as práticas de mercado, assim poderá usufruir das vantagens que a linha de crédito oferece. REFERÊNCIAS BACEN - Banco Central do Brasil. FAQ - Empréstimos e financiamentos. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/servicos9.asp>. CARVALHO, G. de. Introdução às Finanças Internacionais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. VIEIRA, A. Teoria e Prática Cambial - Exportação e Importação. 2. ed. São Paulo: Lex Editora, 2005.
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