Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Polaridade de moléculas Forças intermoleculares IC-310 - Química Geral Prof. Marcelo H. Herbst UFRRJ Sempre que átomos de diferentes eletronegatividades se combinam, o resultado é uma molécula que tem ligações polares, com os elétrons da ligação concentrados (às vezes muito pouco) sobre o átomo mais eletronegativo. Quanto maior a diferença na eletronegatividade, mais polar é a ligação. Como resultado, as ligações são polares, com extremidades (polos) positivas e negativas. É a polaridade que causa interações específicas entre as moléculas, dependendo da estrutura molecular. Experimentalmente, a polaridade das moléculas é medida indiretamente, a partir da medida da constante dielétrica, a qual é a razão entre a capacitância de uma cela preenchida com a substância a ser medida e a capacitância da mesma cela com os eletrodos sob vácuo. A orientação de moléculas polares no campo elétrico cancela parcialmente o efeito do campo e resulta numa maior constante dielétrica. Medidas em diferentes temperaturas possibilitam o cálculo do momento de dipolo da molécula (m), definido como onde Q é a carga em cada um dos dois átomos separados por uma distância r. Polaridade de moléculas Polaridade de moléculas Seja o exemplo do HCl d+ d- H – Cl ou H – Cl Num campo elétrico: (-) (+) + - + - + - + - Separação de cargas e orientação dos dipolos, Q+ e Q-. A expressão do momento de dipolo elétrico é: em debyes (D), e onde r é a distância entre Q+ e Q-. 1 D = 3,33 x 10-3 C.m No HCl, m = 1,08 D e r = 1,27 Å Usando a expressão, temos que m = 2,03 x 10-29C.m, ou 6,10 D, a diferença entre cálculo e experimento mostra que a ligação não é iônica. + - + - Na ausência de um campo elétrico, as moléculas estão aleatoriamente dispersas. Polaridade de moléculas Molécula dH-X (Å) Dc m (D) M.M. (g/mol) P.E. (K) HF 0,92 1,9 1,82 20 292 HCl 1,27 0,9 1,08 36,5 188 HBr 1,41 0,7 0,82 81 206 HI 1,61 0,4 0,44 128 238 A tabela abaixo lista alguns dados selecionados para hidretos do grupo 17 Observa-se que o momento de dipolo elétrico é: a)diretamente proporcional à diferença de eletronegatividade, b)inversamente proporcional à massa molecular. Observa-se também que há uma relação inversa entre m e o P.E., com exceção do HF Forças intermoleculares Forças íon-dipolo Descrevem a interação entre um íon e a carga parcial de um dipolo (molécula polar), e são responsáveis pela solvatação de compostos iônicos. ex, NaCl em água: Na+ Cl- O H H A energia liberada neste tipo de interação é dada por: E = |Z+,-| m / 4per2 Onde: m = momento de dipolo r = distância íon-dipolo e = permissividade das cargas no vácuo Força dipolo-dipolo Descreve a interação entre as cargas parciais de dipolos (moléculas polares), e é responsável pelo aumento nos pontos de fusão e ebulição. É uma interação efetiva apenas em curtas distâncias, e mais fraca que as interações íon-dipolo. A expressão para este tipo de interação é dada por: E = - m1m2 / 2per 3 Onde m1 e m2 são os momentos de dipolo que interagem. As interações dipolo-dipolo aumentam com o aumento da polaridade das moléculas, considerando massas semelhantes, como mostra a tabela abaixo. Molécula M.M. (g/mol) m(D) P.E. (K) propano 44 0,1 231 dimetil éter 46 1,3 248 acetaldeído 44 2,7 294 acetonitrila 41 3,9 355 Moléculas com momentos de dipolo permanente interagem eletrostaticamente umas com as outras e com outras moléculas polares ou íons. Quando os dipolos são grandes o suficiente, as moléculas se orientam com a extremidade positiva de uma molécula dirigida para a extremidade negativa de outra molécula, devido às forças de atração, o que resulta em pontos de fusão e ebulição mais elevados do que seria esperado somente pela massa molecular. Tipicamente, as forças intermoleculares são muito menos intensas do que as forças intramoleculares (ligações químicas), mas mesmo assim influenciam fortemente nas propriedades físico-químicas de muitas moléculas. Por exemplo, a energia de ligação no HCl é -431kJ/mol, mas a entalpia de vaporização do HCl é de 16kJ/mol. As forças intermoleculares são também proporcionais à tensão superficial de líquidos. Por outro lado, se a molécula tem uma estrutura muito simétrica ou se as polaridades das diferentes ligações se cancelam, a molécula como um todo pode ser apolar, mesmo que as ligações individualmente sejam muito polares. Moléculas tetraédricas como CH4 e CCl4 e moléculas e íons trigonais como SO3, NO3 -, e CO3 2- são todas apolares. A ligação C - H tem polaridade muito baixa, mas as ligações em outras moléculas e íons são bastante polares. Em todos os casos, a soma de todas as ligações polares é zero devido à simetria das moléculas, como mostrado na figura abaixo. PC Spartan é um programa computacional de química quântica. Os momentos de dipolo de NH3, H2O, e NF3 (Figura abaixo) revelam o efeito dos pares isolados. *Na amônia, as polaridades médias das ligações N-H e do par isolado apontam todos na mesma direção, resultando num grande momento de dipolo. *A água tem um momento de dipolo ainda maior porque as polaridades das ligações O-H e os dois pares isolados resultam em polaridades que se reforçam. *Por outro lado, a molécula de NF3 tem um momento de dipolo muito pequeno, como resultado da polaridade das três ligações N-F em oposição à polaridade do par isolado. A soma dos três momentos de dipolo das ligações N-F é maior do que o efeito do par isolado, e o par isolado é a extremidade positiva da molécula. Em casos como os das moléculas de NF3 e SO2, a direção do dipolo não é facilmente prevista, devido às polaridades opostas. A molécula de SO2 tem um grande momento de dipolo (1,63 D), e a polaridade do par isolado prevalece sobre a polaridade das ligações S-O. Moléculas apolares, tenham elas ligações polares ou não, também apresentam forças de atração intermolecular. O mesmo é válido para átomos de gases nobres. Pequenas flutuações na densidade eletrônica nessas moléculas criam pequenos momentos de dipolo instantâneos, isto é, com tempos de vida muito curtos. Estes momentos de dipolo instantâneos, por sua vez, atraem ou repelem elétrons em moléculas adjacentes, produzindo dipolos instantâneos nelas. O resultado é uma atração entre as moléculas. Essas forças de atração são chamadas de forças de London ou forças de dispersão, e tornam a liquefação dos gases nobres e de moléculas apolares como H2, N2 e CO2 possível. A expressão para este tipo de força intermolecular é dada por: E = - m2a / r6 Onde m é o momento de dipolo instantâneo e a é a polarizabilidade. Como regra geral, as forças de London são mais importantes quando há mais elétrons numa molécula, porque a atração dos núcleos é blindada pelos elétrons internos e a nuvem eletrônica é mais polarizável. Forças de dispersão de London É interessante notar que as forças de dispersão de London estão presentes em TODAS as interações entre moléculas, mas que, nos casos de moléculas polares, as interações dipolo-dipolo são muito mais intensas, praticamente anulando as forças de London. A tabela abaixo ilustra valores selecionados para moléculas apolares e gases nobres. Halogênio M.M. (g/mol) P.E. (K) F2 38 85 Cl2 71 238 Br2 160 332 I2 254 457 Gás nobre He 4 4,6Ne 20 27,3 Ar 40 87,5 Kr 84 121 Xe 131 166 A perturbação da nuvem eletrônica numa molécula ou átomo é tanto mais fácil quanto maior for a polarizabilidade (a), que é uma medida da maciez. A tabela mostra que a maciez é proporcional ao tamanho da molécula ou átomo. O formato das moléculas também influencia na magnitude das forças de dispersão. A tabela abaixo ilustra valores selecionados para moléculas apolares e gases nobres. molécula M.M. (g/mol) P.E. (K) n-pentano 72 309,4 neopentano 72 282,7 SF6 146 209 n-decano 142 447 A tabela mostra que, entre moléculas de massa parecida, moléculas mais ‘compactas’ têm menores pontos de ebulição. LIGAÇÃO de HIDROGÊNIO Amônia, água, e fluoreto de hidrogênio têm pontos de ebulição muito mais elevados do que outras moléculas similares, como mostrado na figura abaixo. Na água e no fluoreto de hidrogênio, estes altos pontos de ebulição são causados por ligações de hidrogênio, nas quais os átomos de hidrogênio ligados ao O ou F também formam ligações mais fracas com um par de elétrons isolado de outro átomo de O ou F. Ligações entre o hidrogênio e esses átomos muito eletronegativos são muito polares, com uma carga parcial positiva sobre o hidrogênio. Este H parcialmente positivo é atraído fortemente para o átomo de O ou F parcialmente negativo de moléculas vizinhas. Os pontos de ebulição ‘esperados’ deveriam ser proporcionais à massa molecular, para moléculas semelhantes, como observado para os hidretos do grupo 14. No passado, a atração entre essas moléculas era considerada puramente eletrostática, mas uma abordagem alternativa, usando a teoria do orbital molecular, dá uma descrição mais completa do fenômeno. Mesmo que não conheçamos uma descrição detalhada das forças envolvidas na ligação de hidrogênio, o átomo de H fortemente positivo e os pares de elétrons isolados, negativos, tendem a se alinhar e manter as moléculas juntas. Outros átomos com alta eletronegatividade, como Cl, também podem formar ligações de hidrogênio em moléculas muito polares, como o clorofórmio, CHCl3. Em geral, os pontos de ebulição aumentam com o aumento da massa molecular, tanto porque a massa adicional requer uma maior temperatura (energia cinética) para o movimento rápido das moléculas como porque o maior número de elétrons nas moléculas mais pesadas gera forças de London mais intensas. A diferença de temperatura entre o ponto de ebulição da água e a extrapolação da linha para os outros hidretos do grupo 16 é de quase 200º C. A amônia e o fluoreto de hidrogênio têm diferenças similares, porém menores, dos valores extrapolados para seus grupos. A água tem um efeito muito maior, porque cada molécula pode fazer até quatro ligações de hidrogênio (duas através dos pares isolados e duas através dos átomos de hidrogênio). O fluoreto de hidrogênio pode, na média, fazer duas ligações, porque o HF tem somente um H disponível. LIGAÇÃO de HIDROGÊNIO LIGAÇÃO de HIDROGÊNIO A água tem outras propriedades não-usuais devido às ligações de hidrogênio. Por exemplo, o ponto de congelamento da água é muito mais elevado do que para moléculas similares. Uma propriedade ainda menos usual é a diminuição da densidade mediante congelamento. A estrutura tetraédrica ao redor de cada oxigênio com duas ligações regulares com os hidrogênios e duas ligações de hidrogênio com outras moléculas requer um estrutura bastante aberta, com grandes espaços entre as moléculas no gelo, como mostra a figura abaixo. LIGAÇÃO de HIDROGÊNIO Isto torna o sólido menos denso do que a água no estado líquido, e por isso o gelo flutua na água. A vida na Terra seria muito diferente se a água não se comportasse assim. Lagos, rios e oceanos congelariam a partir do fundo, cubos de gelo afundariam... A distância de ligação O-H é de 0,99Å, ao passo que a distância O----H é de 1,77Å. Exemplos de ligação de hidrogênio intramolecular LIGAÇÃO de HIDROGÊNIO O HN O O N O O O H N O O O H P.F. 45ºC 95ºC 113ºC São as ligações de hidrogênio que possibilitam a conformação em ‘dupla hélice’ da molécula de DNA. Nos nitrofenóis, a molécula orto-substituída apresenta P.F. muito menor do que nas moléculas meta- e para- substituídas, devido à formação de ligações de hidrogênio intramoleculares. Forças Intermoleculares Íons ou moléculas interagindo Há íons envolvidos? Há moléculas polares e íons? sim não Há moléculas polares? sim Os átomos de H estão ligados a F, O ou N? não Somente forças de London Forças dipolo- dipolo não Ligação hidrogênio sim sim não Forças íon-dipolo Ligações iônicas Forças de Van der Waals
Compartilhar