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O PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL DO EGRESSO DO SISTEMA PRISIONAL – PRESP – UBERABA: Desafios e possibilidades para o egresso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIANGULO MINEIRO 
 
Aline Rodrigues Faria Côbo 
 
 
 
 
 
 
 
O PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL DO EGRESSO DO SISTEMA 
PRISIONAL – PRESP – UBERABA: Desafios e possibilidades para o egresso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uberaba 
2014 
 
 
 
ALINE RODRIGUES FARIA CÔBO 
 
 
 
 
 
 
 
A INCLUSÂO SOCIAL DOS EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL EM 
UBERABA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, 
apresentado à Universidade Federal do 
Triângulo Mineiro – UFTM, como requisito 
parcial para obtenção de título de 
bacharel em Serviço Social. 
Orientadora: Profª Drª Cláudia Helena 
Julião 
 
 
 
 
 
 
Uberaba 
2014 
 
 
ALINE RODRIGUES FARIA CÔBO 
. 
 
 
 
A INCLUSÂO SOCIAL DOS EGRESSOS DO SISTEMA PRISIONAL EM 
UBERABA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Universidade Federal do 
Triângulo Mineiro, como requisito 
parcial para obtenção do título de 
bacharel em Serviço Social. 
 
 
 
______de_______________de________. 
Banca Examinadora: 
 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Cláudia Helena Julião (Orientadora) 
Universidade Federal do triângulo Mineiro 
 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Celeste Aparecida Pereira Barbosa 
Universidade Federal do triângulo Mineiro 
 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Regina Maura Rezende 
 
Universidade Federal do triângulo Mineiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta conquista à minha mãe, sem a 
qual eu não teria conseguido chegar até aqui, 
ao meu marido, pelo seu companheirismo e 
às duas pessoas que chegaram durante a 
caminhada deste percurso, e mudaram o 
sentido da minha vida, a cada sorriso e a cada 
palavrinha nova renovavam as forças e 
explodia a vontade de alcançar meus 
objetivos, aos meus filhos: Pedro Rodrigues 
Côbo Oliveira e Isabella Rodrigues Côbo 
Oliveira 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus, por ter permitido que eu viesse nessa família tão 
maravilhosa e por ter me mandando tantos presentes bons, verdadeiros anjos 
em minha vida. 
À minha mãe, por ir além do impossível para me ajudar e estar do meu 
lado, por ter me apoiado em qualquer que fosse minha decisão. Sem ela não 
teria alcançado esta vitória. 
Ao meu pai, que do jeito dele, sei que me ama e está de prontidão para 
me ajudar no que for preciso. 
Ao meu marido Lucas, que sempre ao meu lado, me fez acreditar que eu 
seria capaz, e por ter feito de tudo para que chegasse esse momento tão 
esperado. 
Aos meus filhos, Pedro e Isabella, que chegaram no percorrer dessa 
conquista, mas que me fizeram ver como a vida é maravilhosa e por me darem 
forças todos os dias para lutar pelos meus objetivos. 
À minha irmã Vivi, que mesmo lá de cima, está sempre dando um jeito 
de me mostrar que está ao meu lado, me mandando forças através de palavras 
positivas pelas pessoas maravilhosas que colocaram em meu caminho. 
Ao meu padrinho Lucas, que mesmo lá de cima também, sei que está 
iluminando meu caminho, por suas reflexões do tempo em que esteve presente 
em nossas vidas estarem tão fortes até hoje. 
Às minhas tias, que são maravilhosas por sinal, por estarem presentes 
nos momentos bons e nos ruins também, e por não permitirem que me sentisse 
só em momento algum. 
Aos meus avós, que mesmo as vezes de longe devido a correria do dia 
a dia, que de alguma forma, arrumaram um jeito de dar um telefonema para 
saber como eu estava e se fazerem presentes na minha vida. 
Ao meu tio Hélio, por ter feito o que estava ao seu alcance para me 
ajudar, e por ter feito questão de estar presente em todos os momentos mais 
importantes da minha vida. Nunca vou esquecer! 
 
 
Aos meus sogros, por ter cuidado tão bem dos meus filhos para que eu 
chegasse ao fim dessa conquista, sem que fosse necessário trancar a 
faculdade. 
A minha cunhada Renata, por ter me apoiado quanto a esta conquista e 
por ter me orientado quanto as algumas questões de trabalhos da faculdade. 
A minhas amigas, por mesmo distante, eu saber que posso contar com 
vocês e peço desculpa por ter me distanciado dessa forma durante a conquista 
dessa vitória. 
A minha amiga Rubiana, por ter me apoiado e me dado força para 
enfrentar esse momento tão difícil com palavras de carinho e aconchego. 
A minha orientadora Cláudia, por não ter desistido de mim, pelas 
broncas, que sem elas eu não alcançaria essa conquista e por ter transmitido 
confiança em mim. 
As minhas professoras, aquelas que me olharam transmitindo uma 
confiança de que eu seria capaz e que estavam torcendo e aguardando comigo 
este momento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A manifestação mais cruel das desigualdades 
sociais em nosso país se dá no acesso à justiça, que 
começa com o comportamento do policial lá na 
ponta, revisando alguém, e acaba no sistema 
penitenciário. É aí que se experimentam as 
desigualdades do modo mais dramático.” 
Luiz E. Soares 
 
 
 
RESUMO 
A presente pesquisa buscou conhecer as ações desenvolvidas pelo Programa 
de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional – PrEsp, para a inserção 
do egresso na sociedade. A escolha desta temática se deu em virtude da 
realização de estágio supervisionado em Serviço Social no mencionado 
Programa. Propôs-se como objetivos deste estudo: conhecer o Programa de 
Inserção Social do Sistema Prisional – PrEsp, em Uberaba, analisando sua 
contribuição para a inserção social dos egressos, bem como Identificar as 
ações desenvolvias pelo Presp em Uberaba, conhecer a realidade do egresso 
atendidos pelo Presp, além de identificar o perfil do egresso atendido pelo 
Presp para aproximação do objeto da pesquisa. Na busca do referencial 
teórico realizou-se a pesquisa bibliográfica e documental, a fim de investigar 
como ocorre essa inserção na vida dos egressos do sistema prisional, com a 
finalidade de contribuir com a garantia dos direitos da pessoa que passou 
pela privação de liberdade. Trata-se de um estudo exploratório, de 
abordagem quantitativa e qualitativa, no qual se realizaram entrevistas com 
pessoas que passaram pela punição de privação de liberdade e consulta dos 
formulários que são preenchidos pelos técnicos do PrEsp. A base teórica que 
orientou este estudo é o materialismo histórico dialético. Os resultados obtidos 
permitiram conhecer como se dão as ações do PrEsp e suas contribuições 
para o egresso do sistema prisional, assim como desvelar o perfil dos 
entrevistados. 
 
Palavras chaves: egresso do sistema prisional, inclusão social, serviço social 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Sexo; 
Figura 2 – Escolaridade; 
Figura 3 – Inserção no Mercado de Trabalho; 
Figura 4 – Filhos; 
Figura 5 – Renda Familiar; 
Figura 6 – Tipo de Crime; 
Figura 7 – Tempo de Reclusão; 
Figura 8 – Uso de drogas lícitas e ilícitas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
CEAPA - Central de Apoio as Penas e Medidas Alternativas 
LEP – Lei de Execução Penal 
NPC - Núcleo de Prevenção à Criminalidade 
ONU – Organizações das Nações Unidas 
PNSP – Plano Nacional de Segurança Pública 
PNSSP - Plano Nacional de Saúde para o Sistema Penitenciário 
PrEsp – Programa de Inclusão Social do Egresso do SistemaPrisional 
SEDS - Secretaria de Estado e Defesa Social 
SPEC - Superintendência de Prevenção a Criminalidade 
SUS - Sistema Único de Saúde 
VEC – Vara de Execução Criminal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ________________________________________________12 
CAPÍTULO 1 - Sistema Prisional _________________________________15 
1.1 – Surgimento do Sistema Prisional como punição __________________15 
1.2 O Sistema Prisional no Brasil __________________________________18 
CAPÍTULO 2 - Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional _______26 
2.1 Inclusão Social ______________________________________________26 
2.2 – O Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional (PrEsp) 
em Uberaba ___________________________________________________30 
CAPÍTULO 3 – A PESQUISA _____________________________________38 
3.1 Metodologia ________________________________________________38 
3.2 Análise de dados ____________________________________________40 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ______________________________________53 
REFERÊNCIAS ________________________________________________55 
APÊNDICE ___________________________________________________58 
ANEXO ______________________________________________________62 
 
 
 
 
12 
 
 
INTRODUÇÃO 
A tarefa de desconstruir fatores estigmatizastes quanto às pessoas que 
cumpriram pena privativa de liberdade não é uma tarefa fácil, tendo em vista a 
forma como a sociedade e também o Estado voltam sua atenção para esta 
parcela da população. 
Na tentativa de conhecer melhor a realidade na qual o egresso do 
sistema prisional está inserido, propôs-se o estudo sobre as ações do 
Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional de Uberaba, 
espaço esse que buscar inserir o egresso na sociedade através da efetivação 
de seus direitos. 
O referido programa atende as demandas do egresso do sistema 
prisional em Uberaba e constituiu-se em campo de estágio supervisionado em 
Serviço Social, durante o qual surgiu o interesse para realizar esta pesquisa. 
Foi a partir da experiência de estágio que sugiram indagações quanto ao 
direitos sociais que deveriam ser efetivados aos egressos, assim como 
desvelar os desafios, por eles enfrentados após o cumprimento da pena 
privativa de liberdade. Este estudo tem como objetivo geral: conhecer o 
Programa de Inserção Social do Sistema Prisional – PrEsp, em Uberaba, 
analisando sua contribuição para a inserção social dos egressos E, como 
objetivos específicos a pesquisa buscou analisar os seguintes aspectos: 
identificar as ações desenvolvias pelo Presp em Uberaba; conhecer a realidade 
do egresso atendidos pelo Presp; identificar o perfil do egresso atendidos pelo 
Presp. 
O projeto de pesquisa foi submetido à aprovação do Comitê de Ética e 
Pesquisa da Universidade Federal do Triangulo Mineiro sob o protocolo de nº 
2557. Além da pesquisa bibliográfica, realizou-se pesquisa de campo, com 
consulta aos formulários do primeiro atendimento dos egressos preenchidos 
pelos técnicos sociais do PrEsp. Foram realizadas também entrevistas semi-
estruturadas com 6 egressos, utilizando-se o gravador para obter maior 
precisão no registro dos dados. 
A entrevista se deram a partir do plantão realizado pela pesquisadora no 
campo realizado em um dia no mês de janeiro de 2014. Foram entrevistados 6 
egressos, que, após esclarecimento, aceitaram participar da pesquisa de forma 
de livre espontânea. 
13 
 
 
Foi realizada pesquisa bibliográfica, a fim de alcançar um maior 
embasamento teórico para melhor analise das entrevistas e classificação dos 
perfis dos egressos. Uma vez que foi realizado busca de livros, artigos e 
revistas online que valorizaram a leitura sobre o tema. Com referencial teórico 
baseado no materialismo histórico dialético, para se chegar a criticidade no que 
se diz respeito aos direitos das pessoas que cumpriram pena privativa de 
direitos. 
A presente pesquisa se justifica pela necessidade da efetivação de uma 
política que garanta os direitos dos egressos do sistema prisional, e pela 
importância de se aproximar da realidade que o egresso está inserido. Estudos 
como este podem contribuir para reflexão quanto a necessidade das práticas 
punitivas e seus reflexos causados na sociedade. 
No decorrer desta pesquisa constatou-se que existem diversos estudos 
que buscam desconstruir as práticas punitivas, afirmando que é possível 
acreditar que existe sociedade sem crime, pois Magalhães J. (2012) afirma que 
é de suma importância que se compreendam isso, pois cita uma cidade 
chamada Marinaleda, que fica no Sul da Espanha, onde não há policiais, nem 
desempregados, nem criminalidade. 
 Magalhães J. (2012), afirma que a sociedade não precisa desse conceito 
criado pelo sistema de repressão e controle em que está posto. Pois não é 
verdade que em toda sociedade humana exista crime e que o crime é algo 
atemporal. 
Barros (2012) problematiza sobre “o discurso oficial” segundo o qual as 
pessoas que estão em privação de liberdade serão “reeducados e reintegrados 
à sociedade” através de políticas publicas de ressocialização. 
As críticas a essas políticas surgem primeiro porque elas são referidas 
às pessoas que devem ser “reparadas” e segundo que a pessoa que está em 
privação de liberdade nunca esteve de fato inserido socialmente. 
O presente trabalho se divide em três capítulos, sendo eles: 
O primeiro capítulo Sistema Prisional, faz uma breve contextualização 
quanto ao surgimento do Sistema Prisional como punição e de modo especial 
no Brasil. No capítulo dois se discute a Inclusão Social do Egresso do 
Sistema Prisional, trazendo inicialmente considerações sobre inclusão social, 
para depois tratar do surgimento do Programa de Inclusão Social do Egresso 
do Sistema Prisional e a desconstrução das práticas punitivas. No capítulo três 
14 
 
 
a Pesquisa traz a descrição da metodologia, apresentação e analise dos 
dados, através dos quais se pode identificar ações do PrEsp e conhecer a 
realidade do egresso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
1 - Sistema Prisional 
“... impossível adivinhar quantos dias, meses, anos, me 
separavam da liberdade; e realmente a ideia de ser posto na rua, 
sem armas, sem defesa, me causava arrepios. Medonho 
confessar isto: chegamos a temer a responsabilidade e o 
movimento, enervamo-nos a arrastar no espaço exíguo os 
membros pesados. Bambos, fracos, não nos aguentaríamos lá 
fora; a menor desgraça é continuarmos presos, inertes, 
descomedindo-nos em longos bocejos.” 
(Graciliano Ramos em Memória do Cárcere) 
 
1.1 – Surgimento do Sistema Prisional como punição 
 
Para pesquisar sobre a inclusão social do egresso do sistema prisional 
faz-se necessário conhecermos como surgiram as punições para aqueles que 
contrariavam os detentores do poder, assim como se deu a gênese do sistema 
prisional. Para tanto, cabe aqui a sua breve contextualização. 
Na antiguidade não havia privação de liberdade, utilizava-se do 
encarceramento com o intuito de preservar o delituoso até a execução da pena, 
que se dava de diferentes formas, como morte de diversos tipos,mutilação, 
açoites, etc. Estes locais eram prisões de custódia e tortura. Nesta época as 
punições eram determinadas conforme a gravidade causada à vítima 
(CARDOSO,2006). 
Já na Idade Média, o desenvolvimento do sistema prisional relaciona-se 
com o desenvolvimento histórico da sociedade, que tinha o Direito Criminal 
como norte para suas punições. Este sistema adotado contribuiu para a 
manutenção da hierarquia, porque mantinha a diferenciação entre guerreiros, 
senhores feudais e servos. 
Neste período, houve uma redução da penade morte, devido ao 
aumento da mão de obra, pois necessitavam de trabalhadores nos centros 
urbanos e nesse sentido a pena de morte deixa de ser uma solução adequada. 
Dessa forma, fica explícito que o cumprimento das medidas de punição 
sempre foram determinadas por detentores do poder, pois as punições 
seguiam conforme a comodidade da classe dominante. 
Foi na Igreja Católica da Europa que se deu a gênese da nomenclatura 
“Penitenciários”, pois neste período a Igreja retomou o Direito Romano e criou 
locais para os transgressores dos códigos religiosos, usando esses locais para 
16 
 
 
tratar os “penitentes”, com intuito de estimulá-los a ter espírito de penitência, 
para que eles arrependessem e percebessem o “pecado” cometido. Assim, 
nasceu os “Penitenciários”, mas nestes lugares também havia torturas, abusos 
de poder por negligência do poder canônico. 
Com o passar do tempo, os “Penitenciários” se tornaram prisões, local 
usado como depósito de pessoas, onde ocorriam diversas torturas, como 
mortes, infecção de doenças e mutilações. 
Durante os séculos XVI e XVII, devido ao desenvolvimento econômico 
causado pela industrialização e o desenvolvimento do capitalismo monopolista, 
houve a expansão da situação de miséria por toda a Europa. Contudo, houve o 
aumento da criminalidade, diante da qual os detentores dos meios de produção 
passaram a achar necessário tomar medidas mais severas de punição. 
Foi no final do século XVI que a pena privativa de liberdade passou a ser 
adotada como estrutura de punição por encarceramento. Mas só no final do 
século XVIII, nos Estados Unidos, que a pena como encarceramento passou a 
ser tratada como “sistema penitenciário”, sendo então reconhecida como 
gênese da pena privativa de liberdade. 
Magalhães C. (2012) reforça que o ser humano deve ser entendido 
como sujeito e não o objeto. O desvio do sujeito pode ser compreendido como 
uma consequência da reação da sociedade (ou melhor, das contradições 
expostas pela condição Capital x Trabalho). 
Nessa perspectiva: 
Os grupos sociais criam o desvio ao fazer as regras cuja 
infração constitui desvio e ao aplicar essas regras a pessoas 
particulares e rotulá-las como marginais e desviantes [...] O 
desviante é alguém a quem aquele rótulo foi aplicado com 
sucesso; comportamento desviante é o comportamento que as 
pessoas rotulam como tal. (MAGALHÂES C., 2012, p. 92-93 
apud BECKER, 1977, p. 60) 
 
O “criminoso” segundo Magalhães C. (2012, p. 91) é: “alguém que 
praticou um comportamento valorado pelo direito e veio a sofrer uma pena. 
Alguém que teve seu comportamento enquadrado em um tipo de pena”. Logo 
se entende que o criminoso é aquele sujeito que praticou um comportamento 
que se tornou criminalizado pelos procedimentos do direito penal. O objeto é o 
crime e não a criminalidade. Essas pragmáticas só reforçam e mantém vivo o 
“homem delinquente”. 
17 
 
 
Contudo, no século XIX começaram as construções das prisões com o 
intuito de corrigir os apenados, esses espaços eram conhecidos como “Casas 
de Correção”. Neles eram depositadas as pessoas consideradas mendigos, 
delinquente e imigrante, a fim de “reformar” suas condutas. 
Foi neste período que os senhores feudais criaram o crime de vadiagem 
e ociosidade, pois aqueles camponeses que não aguentavam a exploração de 
seus senhores e passaram a abandonar as terras e acumular a massa urbana 
eram considerados criminosos e tinham que pagar por seus crimes nas “Casas 
de Correção”, que posteriormente passaram a ser chamadas de “Casas de 
Trabalho”. 
Este novo nome se deu devido à exploração dos detentores do capital 
em relação a mão de obra dos reclusos, o que proporcionou uma 
administração lucrativa para o mercado. Contudo, passaram a substituir a pena 
de morte pelo confinamento. 
É importante ressaltar que essas formas de punições como privação de 
liberdade, que estava atrelada ao desenvolvimento do Estado, intensificou o 
avanço do mercado e o acumulo do capital. O aumento da população 
ocasionou a formação de um exército de mão de obra, exatamente o que o 
capital monopolista emergente precisava para explorar e impulsionar sua 
acumulação (CARDOSO, 2006). 
No século XX ocorreu a gênese da “Ciência das Prisões”, devido à 
evolução das elaborações teóricas e práticas. Tal ciência era ensinada nas 
universidades, e tinha como objeto as prisões, os condenados e as penas. 
A partir de então, Cardoso (2006) afirma ter sido considerada uma 
evolução, por começarem a discutir nos espaços acadêmicos a “Ciência das 
Prisões”. Através de congressos e produções cientificas que ocorreu o I 
Congresso Penitenciário Internacional em Londres, em 1872. 
Em 1955, a Organizações das Nações Unidas – ONU, construiu as 
Regras Mínimas para Tratamento dos Presos, nas quais constam como devem 
ser as instalações mínimas nas prisões, e como o condenado deve ser tratado, 
como sujeito de direitos. As instalações prisionais devem conter equipamentos 
de aprendizagem dando condições aos apenados a passarem por processos 
educativos e profissionais e, os espaços físicos devem permitir os seus 
deslocamentos. 
18 
 
 
Contudo, é perceptível que o surgimento dos crimes se deu conforme as 
condições dos sujeitos trabalhadores, ou dos que estavam a procura de 
trabalho, visto que as condições de vida se tornaram extremamente precária, 
por não terem o acesso ao mínimo necessário para sua sobrevivência. As 
punições surgiram como estratégia para manter a lógica do mercado e o 
controle da sociedade. 
 
1.2 O Sistema Prisional no Brasil 
 
Segundo Cardoso (2006), foi nos primórdios da colonização do Brasil 
que chegaram centenas de nobres exilados de Portugal e da Europa, pois os 
portugueses implantaram o seu Código de Leis na Colônia, o qual em seu Livro 
V das Ordenações Filipinas do Reino colocava que o Brasil Colônia deveria ser 
o lugar de moradia para os chamados “degredados”. Assim, a primeira forma 
de punição adotada nas terras do Brasil Colônia foi o exílio. 
As penas eram aplicadas a pessoas que negavam a ordem vigente. 
Segundo Pedroso (2006), os delitos mais comuns da época eram os duelos, a 
prostituição, a entrada em propriedade privada, as falsificações de documentos 
e os contrabandos de pedras preciosas. 
Em 1824, foram implantadas no Brasil as “Casas de correção” que foram 
adotadas pela Constituição do Império. Estes locais surgiram para “corrigir” 
pessoas que praticavam a mendicância e a vadiagem. Essas “Casas de 
Correção” foram adotas como o novo modelo de trabalho, que na verdade 
deveriam ser locais arejados, seguros e que houvesse separação entre os 
detentos conforme os delitos cometidos, mas acabaram virando um local de 
“depósito de pessoas”. (PEDROSO, 2006). 
Em 1830 a pena de trabalho foi regularizada pelo Código Criminal, 
enquanto as Assembleias Legislativas Provinciais foram implantas pelo Ato 
Adicional em 1834, tendo o direito de adotar, nas “Casas de Correção”, o 
trabalho como modo de aprendizagem para a disciplina e ordem. 
Segundo Pedroso (2006), o Código Penal de 1890 implantou novas 
modalidades de pena: prisão celular, reclusão com trabalho obrigatório, prisão 
disciplinar, interdição, suspensão e perda do emprego público. 
A prisão celular foi utilizada na Idade Média, pela Igreja Católica, que se 
baseava no Direito Canônico. Ela era usada em pequenos quartos nos 
19 
 
 
mosteiros, tidos como cela, para castigar os religiosos infratores, obrigando-os 
a praticar penitencias e orações. Essas celas tinham um espaço distribuído por 
metro quadrado, onde ficavam pessoas condenadas por terem cometidos atos 
ilícitos, elas poderiam ser individuais ou coletivas e ficavam em prédios 
conhecidos como “Casas de Correção” e no mais tardar como prisões 
(GARBELINI, 2004). 
Na Primeira República, através do CódigoCriminal de 1890, adotou-se a 
prisão celular como forma de punição. Posteriormente essa modalidade de 
prisão também foi adotada para qualquer modalidade de delito. O avanço na 
prisão celular foi o isolamento do individuo, o que coibia sua socialização. 
Segundo Cardoso (2006), com o passar do tempo as “Casas de 
Correção” foram substituídas por prisões. Atualmente, a prisão mantém a 
defesa do trabalho para a recuperação da conduta desviante, mas sem manter 
a exploração da mão de obra, pois o Sistema Penitenciário no Brasil, devido ao 
desinteresse do domínio público, foi sendo utilizado para limpar as ruas, 
retirando os indesejáveis ou os contraproducentes do modo de produção do 
convívio com a sociedade. 
A Primeira Constituição da República manteve sua política de não 
legislar diretamente sobre a situação prisional no Brasil. No Código Penal da 
República, as referencias à execução penal eram feitas em sucintas linhas, 
deixando para o Código de Processo Penal dos estados brasileiros discorrerem 
sobre a execução da pena. 
Não havia leis que deviam ser seguidas nas penitenciárias, não existia 
preparo para as pessoas que nelas trabalhavam, os diretores eram escolhidos 
por questões políticas e não possuíam qualificação para exercer tal função. 
O que havia era a prisão como uma forma de limpar as ruas, com intuito 
de disciplinar os preguiçosos e os ditos não capazes para o trabalho. O fato é 
que no Brasil existe uma cultura de punição e não de preparação para a 
inclusão social do apenado. 
Foi em 1924 que ocorreu a humanização da pena de privação de 
liberdade no Brasil, com a gênese do Conselho Penitenciário e a 
regulamentação do benefício de livramento condicional. 
Cardoso (2006) cita que Miotto (1975) afirma que o segundo passo 
dessa humanização se deu com o surgimento da Inspetoria Geral Penitenciária 
20 
 
 
em 1934. Sua competência era gestar os recursos financeiros advindos da 
venda do selo penitenciário de todo país. 
Com a Constituição de 1934, as “Normas Gerais de Regime 
Penitenciário” colocou como competência da União suas legislações, inclusive 
podendo os estados brasileiros legislar supletivamente. 
Já em 1935, com a intenção de organizar o sistema penitenciário foi 
aprovado o “Código Penitenciário da República”, que tinha como parâmetro 
cuidar de todas as circunstancias referentes às condições que envolviam os 
apenados. 
Em 1937 houve um decreto que regulamentou e determinou a estrutura, 
as funções e o funcionamento da “Inspetoria Geral Penitenciaria”, 
especificando este como sendo o único órgão das principais linhas dos 
serviços penitenciários no país (PEDROSO, 2006). 
Houve um avanço significativo no mundo pós-Segunda Guerra Mundial, 
em 1948, devido à promulgação da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem, que foi elaborada pela ONU. 
Segundo Cardoso (2006), foi nesta perspectiva que o Brasil foi 
gradativamente implantando as legislações pautadas nos Direitos Humanos, 
por ter se tornado signatário à ONU das “Regras Mínimas para o Tratamento 
do Preso”, comprometendo-se em melhorar o ambiente prisional com um 
tratamento humanizado da pessoa em privação de liberdade. 
É neste documento que o apenado surge como sujeito de direitos, nele 
contém as condições que os estabelecimentos prisionais devem oferecer a fim 
de garantir um processo educativo e profissional ao recluso, um espaço físico 
que garanta o seu deslocamento sem que prejudique sua saúde mental e 
física. 
Nesta perspectiva, surge o dever do Estado em garantir a execução da 
pena com o princípio da reabilitação social da pessoa em privação de 
liberdade, prevenir o delito e evitar a reincidência. Nesse sentido, destaca-se a 
necessidade de orientar e preparar o recluso para voltar ao convívio social. 
Em 1957, o Brasil promulgou a Lei nº 3.274, que discorre sobre as 
“Normas Gerais do Regime Penitenciário” e a sua efetivação se deu junto a 
divulgação das Regras Mínimas para Tratamento do Preso de 1955. Segundo 
Cardoso (2006), essas regras não foram aceitas pela sociedade, pois ela trazia 
21 
 
 
um novo conceito do apenado, considerando-o como uma pessoa sujeita de 
direitos, deveres e responsabilidade. 
Dessa forma, o apenado deixa de ser uma “coisa” e passa a ser 
reconhecido como sujeito de direitos, mesmo com seus direitos civis violados. 
Ele passa a adquirir o direito ao convívio familiar, social e comunitário e assim 
ser preparado para o sua inclusão social. 
O Brasil sempre se voltou para prevenção do delito e controle da 
criminalidade, principalmente com leis voltadas para as penas privativas de 
liberdade, pois não há preocupação em elaborar políticas sociais que busquem 
a inserção do egresso na sociedade. Existem dificuldades em humanizar a 
pena, devido ao contexto histórico ditatorial presente na ordem da Nação. 
Mas a Política Penitenciária no Brasil trata a pena não somente como a 
privação de liberdade, ela possui duas modalidades: restritiva de direitos e a 
privação de liberdade em prisão. 
Barros (2012, p. 64-65) utiliza da expressão de Robert Castel para 
ressaltar sinônimos e efeitos da prisão: 
 
1) O encarceramento é sinônimo de ruptura e de interrupção da 
organização da vida fora dos muros. Ele destrói no sujeito o 
sentimento de domínio de seu destino, ele não possui mais 
autonomia, possibilidade de fazer escolhas. 
2) A prisão é um mundo no qual o detento é essencialmente 
desresponsabilizado e infantilizados. Ele é confrontado a um 
universo de limitações que lhe impõe uma total submissão e 
impede a iniciativa pessoal. Ele é transformado em objeto de 
tratamento penitenciário. 
3) O encarceramento impõe um modo de vida caracterizado 
pelo isolamento, promiscuidade e obrigação de se conformar a 
um regulamento que se introduz na intimidade de cada um e 
enquadra todos os detalhes da vida cotidiana. Atinge cada um 
em seu corpo, na satisfação de necessidade mais intimas, na 
imagem de si, na percepção do tempo e do espaço, na relação 
aos outros e ao mundo. 
4) A experiência do encarceramento é a confrontação a uma 
desordem interior: perda de referencias, fragilização, 
separação da família e dos amigos, despossuindo o sujeito da 
identidade social – trata-se do apagamento simbólico do sujeito 
e do desejo – reduz o sujeito a seu corpo, que é o que lhe 
resta. 
 
Tão pouco, o discurso sobre o efeito da prisão é transformado, cria-se o 
discurso que prega a positividade do aprisionamento, que passa antão a ser 
visto como algo positivo. Tornar positivo aquele julgado negativo. A intenção de 
22 
 
 
punir, isolar e condenar é minimizada, em busca da reinserção, que surge 
como principal objetivo do sistema prisional. 
Segundo Cardoso (2006), a Política Penitenciária entende o apenado 
como um sujeito social, que por algum motivo específico entrou em conflito 
com a lei e recebe a sanção em forma de pena, através das instâncias 
Jurídicas, que se encontra dentro dos princípios normativos do Direito Penal. 
A pena restritiva de direitos é determinada ao apenado que fique 
submetido à proibição de alguns direitos, à seguir certas condições e também à 
cumprir obrigações específicas sem ser recolhido à prisão. 
Na privação de liberdade, o sujeito fica em condição de reclusa à prisão, 
ela é determinada para aqueles que entraram em conflito com a lei, mas que é 
julgado efetivamente necessário como por motivo de Justiça, de segurança 
social e de ordem pública. Os critérios para as prisões estão pautados de 
acordo com o crime e pela personalidade da pessoa que o cometeu. 
Neste tipo de pena, existem gradações, como progressão de regime 
prisional, que é realizada conforme a segurança do estabelecimento prisional, 
podendo ser máxima, média ou mínima e a configuração do regime prisional, 
podendo ser fechado, semiaberto, aberto e livramentocondicional. 
O nível de segurança do sistema prisional se refere ao estabelecimento 
em si, sendo que o regime diz respeito ao funcionamento do estabelecimento 
prisional. 
Os estabelecimentos prisionais podem conter condenados em regime 
fechado e semiaberto; a escolha do tipo de regime advém da gravidade do 
delito, da personalidade do delituoso e de sua conduta social. 
O regime fechado se dá em estabelecimento de segurança máxima (art. 
33, do Código Penal), estabelecimento este denominado “penitenciária” (art. 
87, da Lei de Execução Penal - LEP). Caso a pessoa seja condenada a pena 
superior a oito anos, deverá começar a cumpri-la em regime fechado 
obrigatoriamente. 
No regime semiaberto o apenado tem possibilidades de sair sem 
vigilância da prisão, embora menos ampla que no regime aberto. Ele pode sair 
a trabalho, participar de cursos profissionalizantes, tratamento de saúde, 
atividades religiosas, ou enquanto condição penal sair com beneficio penal 
para visitar a família em datas especiais, logo visando facilitar a inserção dos 
apenados à sociedade. É uma progressão de regime com a condição que o 
23 
 
 
condenado cumpra ao menos um sexto da pena no regime anterior, 
regulamentada pelo art. 112 da LEP. 
 O regime aberto deve ocorrer em Casa de Albergado ou 
estabelecimento adequado. Ele é concebido aos apenados que não 
apresentarem periculosidade, que possuírem disciplina e responsabilidade para 
viver em semiliberdade. Essa progressão também pode ser direito para o 
condenado que tenha cumprido um sexto de sua pena em um dos regimes 
anteriores. Este regime e o posterior podem se estabelecer em sistemas 
prisionais de segurança mínima e quando não houver, o Estado deve 
desenvolver programas que deem suporte profissional que acompanhe o 
cumprimento da pena e do apenado. 
 O livramento condicional é um direito público do apenado que se 
apresenta como uma liberdade provisória concedida para aqueles que 
preencham os requisitos antes mesmo do termino de sua pena. É fundamental 
ressaltar que tanto este direito quanto o regime anterior pode ser provisório 
caso haja descumprimento das normas que são pré-estabelecidas, impondo ao 
apenado que volte a cumprir a pena privativa de liberdade na penitenciária. 
A Ciência Penitenciária se preocupa com a humanização da pena, pois 
os teóricos da Criminologia e do Direito crítico questionam a sua execução, 
buscando construir legislações que efetivem sua humanização. 
 Nesse sentido, é dever do Estado garantir condições que previnam o 
delito e as reincidências penais, para possibilitar as pessoas que passaram por 
privação de liberdade as devidas condições para o seu retorno no convívio 
social, através de políticas sociais. 
É com a promulgação da Lei de Execução Penal (LEP), Lei n.º7.210, de 
11 de julho de 1984, que se busca garantir a “reabilitação” do apenado, nela é 
determinada como devem ser cumpridas a pena privativa de liberdade e a pena 
restritiva de direitos. 
Estes direitos estão previstos na LEP em seu artigo 1°: 
 
 A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições 
de sentenças ou decisão criminal e proporcionar condições 
para a harmônica integração social do condenado e do 
internado. (BRASIL, 1984) 
 
24 
 
 
Em 1985 a LEP passou a ser a lei que regulamenta a execução da pena 
no Brasil, e desde então passou a ser alvo de estudos e pesquisas pelos 
juristas e estudiosos das ciências humanas e sociais. 
Segundo Cardoso (2006), em 1920 alguns adeptos à teoria crítica, como 
juristas, médicos, e sanitaristas apresentaram preocupações com a população 
carcerária, principalmente com a situação degradante presente no sistema 
prisional. Eles se uniram ao Estado para desenvolver estratégias, juntamente 
com movimentos de defesa dos Direitos Humanos, para a construção de uma 
legislação para a execução penal e a efetivação da humanização da pena 
privativa de liberdade. Contudo, apesar da promulgação da LEP, as condições 
de execução de penas ainda são precárias. 
Durante décadas esses conceitos que tratavam o apenado como sujeito 
coisificado permaneceram, prevalecendo a prática de encarcerar e punir, 
associada à falta de recursos humanos e instalações adequadas dos prédios. A 
terapia e o tratamento para os sujeitos em privação de liberdade ficaram 
somente nas propostas teóricas. 
 
 Embora a esperança de alcançar a ‘recuperação’, 
‘ressocialização’, ’readaptação’, ‘reinserção’ ou ‘reeducação 
social’ tenha penetrado formalmente nos sistemas normativos, 
questiona-se muito a intervenção estatal na esfera da 
consciência do presidiário, para se apurar se tem o Estado o 
direito de oprimir a liberdade interna do condenado, impondo-
lhe concepções de vida e estilo de comportamento. O Estado 
democrático não pode impor ao condenado os valores 
predominantes na sociedade, mas apenas propô-los ao 
recluso, e este terá o direito de refutá-lo, se entender o caso, 
de não conformar-se ou de recusar adaptar-se às regras 
fundamentais. É preciso não esquecer que o direito, o processo 
e a execução penal constituem apenas um meio para a 
reintegração social, mas nem por isso o de maior alcance, 
porque a melhor defesa da sociedade se obtém pela política 
social do Estado e pela ajuda pessoal. (MIRABETE, 2004, p. 
25). 
 
O cometimento do delito é reflexo da falência de teorias e de sistema 
punitivo. Contudo, a promulgação da LEP trouxe deslumbre a fim de enxergar 
uma oportunidade com novas perspectivas para a inclusão social, pois ela 
garante em seu artigo 10º, entre suas atenções básicas, o direito a assistência. 
A LEP traz uma nova perspectiva de “reeducar” os termos e as normais 
sociais, ela é baseada no movimento crítico e substitui o termo “tratamento“ 
para “assistência”, que é garantido como benefício na execução da pena. Ainda 
25 
 
 
com base no art. 10 da LEP, o desenvolvimento harmônico do apenado deve 
ser garantido através de serviços sociais, a fim de respeitar o contexto histórico 
presente em sua vida. Mas é facilmente perceptível pelos noticiários ou 
estudos desenvolvidos nos estabelecimentos prisionais no Brasil que mostram 
uma realidade oposta. A falta de aparelhos administrativos e estruturais nos 
diversos ambitos governamentais apresenta a falha na efetivação dos 
princípios defendidos pela LEP. 
Nesta perspectiva a Constituição Federal trata dos preso garantindo o 
respeito a sua integridade física e moral no seu artigo 5º, XLIX 
Art. 5- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: 
III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento 
desumano ou degradante; 
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física 
e moral; (BRASIL, 1988). 
Contudo, o Sistema Prisional brasileiro é um retrato da sociedade 
desigual, que sofre pela ausência da efetivação das políticas sociais e para o 
enfrentamento da questão social, demonstra o descaso da política em 
estabelecer a cidadania para a situação dos reclusos. 
A problemática é que o direito ao atendimento das necessidades dos 
condenados pode ser entendido como um favorecimento, como um 
merecimento e não é reconhecido como uma questão de direito do cidadão, 
esta é a contradição presente na LEP. 
A LEP focaliza no delito, deixando o apenado em segundo plano. 
Esquecendo que ele é um sujeito com reflexos sócio-históricos e precisa de 
políticas sociais. 
Na contemporaneidade, existem diversos estudos que buscam 
desconstruir o fim das práticas punitivas, ressaltando que é possível acreditar 
em uma sociedade sem punições e sem crimes. 
 
 
 
 
26 
 
 
2 – Inclusão Social do Egressodo Sistema Prisional 
 
2.1 – Inclusão Social 
 
Para discutir inclusão social, se faz necessário refletir, a priori, sobre 
política social e exclusão social. Para Faleiros (1991), as políticas sociais são 
formas de articulação de processos políticos e econômicos. Os processos 
políticos são necessários para a manutenção da ordem social enquanto 
aqueles estão vinculados à manutenção das riquezas produzidas no país, são 
resultados da junção entre Estado e Sociedade. 
Devido a relação capital versus trabalho, o Estado foi pressionado a 
implementar políticas sociais para a classe desfavorecida. Esse avanço de 
política social ocorreu devido ao avanço nas situações de doenças, 
criminalidade e violência, principalmente na área urbana. 
A violência, no Brasil, se destaca com o avanço das tecnologias, devido 
as grandes mudanças ocorridas no contexto do país, consequência de novas 
relações de trabalho e exclusão social. 
É no capitalismo pós-moderno que aumenta o número de pessoas em 
situações que se julgavam desestabilizadas para o trabalho, e então começa a 
cobrança da sociedade em relação aos “inúteis para o mundo”. 
Nesta perspectiva, reforça-se um Estado de atuação mínima na proteção 
social, com políticas de integração e não de inserção, em contraponto com o 
Estado Máximo de controle social, vigilante, onipotente, a fim de subtrair a 
esquecida assistência dos afastados modelos de bem-estar social. 
Cardoso (2006) faz uma discussão sobre a diferença entre crime e 
violência, no qual aquele é interpretado como uma conduta desviante do 
individuo na sociedade onde está inserido, e este varia de acordo com a 
particularidade das relações sociais, bem como varia em diferentes grupos, ela 
está diretamente ligada às condições estruturais presentes no seio da 
sociedade. 
Ao se falar em violência é importante desmistificar que os atos violentos 
sempre estão relacionados com a pobreza. A população de baixa renda está 
historicamente mais exposta às condições de vida precárias e vulneráveis, 
como também está mais exposta às condições de exclusão social. 
Cardoso ressalta que: 
27 
 
 
 
As pessoas que, de alguma forma, não conseguiram ser 
atendidas por políticas sociais, são potencialmente aquelas que 
um dia poderão compor a população penitenciária, uma vez 
que os levantamentos censitários informam que os apenados, 
em sua maioria, são provenientes de famílias pertencentes aos 
extratos de baixa renda e habitantes das periferias dos grandes 
centros urbanos. (CARDOSO, 2006, p. 63). 
 
É nesse processo, que Marx (apud CARDOSO, 2006) assimila a 
acumulação do capital com a expansão da população violenta, criminosa e 
marginalizada, devido à formulação do “exército industrial de reserva”. 
Urge salientar que a exclusão social se expandiu no processo de 
industrialização, mas já existia desde as sociedades pré-capitalistas. Ela está 
atrelada com as relações desenvolvidas pelo individuo na sociedade que está 
inserido. 
Segundo Pereira (1998), a exclusão social é um fenômeno 
multidimensional, pois não está somente relacionada com a ausência de renda, 
mas é a expressão de uma combinação de várias desvantagens, que impede o 
sujeito de pertencer à sociedade. O excluído está com o vinculo rompido com a 
família, com a escola, trabalho ou comunidade, ou ainda ele pode estar sem 
vinculo algum. 
Cardoso (2006) reflete que a exclusão social geralmente está 
relacionada com a pobreza, violência, crime e criminalidade. Essas condições 
geram medo, insegurança e falta de perspectiva no sujeito excluído ou incluído 
e, diante dessa situação a sociedade acaba forçando o Estado a desenvolver 
forma de controle e punição. 
A sociedade se esquece de que a criminalidade que vem se 
desenvolvendo em seu contexto, faz parte de uma população excluída das 
condições mínimas de sobrevivência. Essa população excluída fará parte de 
outro grupo de exclusão, os reclusos. 
 Logo, entende-se que os apenados são excluídos, já por sua própria 
condição legal em que se encontram, pois são excluídos do convívio familiar, 
com seus vínculos quase todos fragilizados e em uma situação de precarização 
e vulnerabilidade de relações, tendo como parceiros, quase sempre, a 
criminalidade, drogadição e a violência. 
28 
 
 
A exclusão social é reflexo da não cidadania, ou seja, é causada pela 
falta de planejamento estatal na efetivação de políticas sociais que liga o 
acesso universal a bens e serviços. 
No entanto, para haver inclusão social do apenado é necessário que 
desenvolvam atividades no interior das unidades prisionais, a fim de propor 
ações e programas que possibilitem ao recluso a capacitação e execução de 
atividades laborativas de acordo com a ordem do trabalho na sociedade atual. 
Segundo Cardoso (2006), na maioria das unidades prisionais o que 
ocorre são atividades referentes à conservação da higiene dos 
estabelecimentos prisionais, como corredores, celas e banheiros, há também 
produção de artesanatos, costura e panificações. Quando há exceções, 
oferecem curso de inclusão digital e informática básica. 
O Estado brasileiro pensando em propor inclusão social para atender as 
necessidades dos apenados constituiu o Plano Nacional de Segurança Pública 
(PNSP) em 2000, o Projeto Nacional de Segurança Pública, em 2003, e o 
Plano Nacional de Saúde para o Sistema Penitenciário (PNSSP). 
O PNSP priorizava a ampliação do sistema prisional estadual e federal, 
redução das modalidades de violência, mas quase não houve inovações, pois 
seus propositores esqueceram que a LEP já previa no artigo 11 o direito a 
assistência e como ela deveria ser prestada. No Plano continha 124 ações 
sendo 13 referentes ao aperfeiçoamento do Sistema Prisional. 
Por se tratar de um Plano Nacional, suas diretrizes deveriam dar 
continuidade às ações previstas na LEP, mas ficaram como ofertas e em sua 
maioria não foram executadas. 
O resultado do Projeto Nacional de Segurança Pública propôs algumas 
saídas que exigiam profundas mudanças na sociedade e na economia, como: a 
distribuição de renda a fim de reduzir as desigualdades sociais; a geração de 
emprego e renda; a eliminação do racismo; o aumento da escolaridade e da 
desigualdade entre gêneros. 
Segundo Cardoso (2006), este projeto indicou um aumento considerável 
das condições de violência e foi apostado um alto custo financeiro no 
confinamento humano sem o desenvolvimento de políticas sociais especificas 
para a demanda. 
29 
 
 
O Projeto trouxe à tona a discussão da necessidade do Estado 
desenvolver políticas sociais desligadas das leis, pois escancarou a distancia 
entre a letra da Lei e as políticas sociais. 
 
As liberações de verbas, quando ocorrem, destinam-se em sua 
quase totalidade à construção de unidades prisionais. São 
mínimos os recursos destinados às áreas da educação e do 
trabalho dos presos ou ao treinamento de agentes de 
segurança penitenciária (BRAIL, 2003, p.71). 
 
A superlotação carcerária é um dos maiores problemas do sistema 
prisional, ainda que o Estado brasileiro realize constantemente a construção de 
novas unidades prisionais, a cada ano o déficit de vagas é maior, e o Projeto 
Nacional de Segurança Pública não discorre uma solução para tal problema. 
Segundo Cardoso (2006), a medida de destaque a partir do Plano e 
Projeto Nacional de Segurança Pública foi a implementação do Plano Nacional 
de Saúde do Sistema Penitenciário (PNSSP), formado com a participação de 
entidades de defesa dos Direitos Humanos, que sempre estavam presentes 
para interceder para melhorar as condições dos tratamentos às pessoas em 
situação de privação de liberdade. 
O PNSSP foi construído de acordo com os princípios do Sistema Único 
de Saúde (SUS): buscava a universalidade; a integralidade; a equidade; a 
descentralização hierarquizaçãoe regionalização das ações; a integração das 
instancias institucionais e a sustentabilidade das ações e a participação 
comunitária. 
Por conseguinte, os presídios deveriam ser locais que buscassem 
abrigar e ressocializar o apenado por meio de ações que proporcionassem a 
integralidade do ser humano. Mas a realidade mostra o contrário, esses locais 
se tornaram depósitos de pessoas, que ficam em situação de completo 
abandono. 
Mesmo com as Leis a favor do apenado, que rege de acordo com sua 
“reeducação”, os presídios no Brasil retratam a falta de vagas, cujo resultado é 
a superlotação nas celas, um alojamento subumano, obrigando os apenados a 
conviver em condições precárias, como consequência a má higienização 
ambiental e física; o revezamento para dormir; convivência com doenças 
infectocontagiosas. 
Como se não bastasse, ao cumprirem sua pena, os egressos do sistema 
prisional recebem o rótulo de ex-presidiários, sendo obrigados a enfrentar mais 
30 
 
 
um desafio após serem postos em “liberdade”. Têm de conviver com o 
preconceito da sociedade e a dificuldade para serem inseridos no mercado de 
trabalho. Enquanto estava em situação de privação de liberdade não obtiveram 
o que preconiza a LEP, pois não tiveram as condições de inclusão. 
O apenado ao cumprir sua pena (regime fechado e/ou semiaberto) 
recebe a liberdade, mas com o dever de finalizar as suas condições legais em 
regime aberto ou livramento condicional. No qual tem como obrigações 
frequentar o Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional 
(PrEsp). 
Quando não há estabelecimentos prisionais de segurança mínima, que 
segundo a LEP, deveria acolher o egresso que está em condição de regime 
aberto ou livramento condicional o Estado desenvolve estratégias 
governamentais ou não para incluí-lo á sociedade. Através de mandatos para 
serem acompanhados por um programa que possa lhe dar suporte quanto aos 
seus direitos, por meio de verificações de vagas de trabalhos e cursos 
profissionalizantes. 
 
2.2 – O Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional 
(PrEsp) em Uberaba 
 
A aproximação da pesquisadora junto ao PrEsp se deu através da 
realização de estágio supervisionado em Serviço Social, como já mencionado, 
bem como por meio de visitas, observações e consulta a documentos e fontes 
eletrônicas. Os dados apresentados a seguir foram obtidos através de tais 
procedimentos, após os quais a pesquisadora mediante contatos com técnicos 
do PrEsp obteve a informação de alterações recentes quanto aos objetivos e 
fluxogramas do Programa, porém, os mesmos não foram disponibilizados. 
Desta forma, apresentam-se, neste momento, os dados e informações aos 
quais a pesquisadora teve efetivo acesso. 
Discorrer sobre o Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema 
Prisional (PrEsp) em Uberaba, exige inicialmente alguns esclarecimentos sobre 
o seu surgimento no Estado de Minas Gerais e da implantação do Instituto Elo. 
Bragatto (2010), afirma que devido ao aumento exorbitante dos 
indicadores de criminalidade em Minas Gerias, o governo criou a Secretaria de 
Estado e Defesa Social (Seds) a fim de reverter tais indicadores e traçou o 
31 
 
 
plano de uma Política de Segurança Pública que segue como base uma gestão 
estratégica a partir da integração de órgãos da defesa social, sendo seus 
integrantes: Defensoria Pública; Polícia Militar; Polícia Civil; Corpo de 
Bombeiros e Secretaria de Estado e defesa Social. 
Essa Política Estadual traçou como objetivo construir articulações entre 
as instituições e desenvolver programas de prevenção à criminalidade nas 
cidades de Minas Gerais, nas quais a qualidade de vida dos sujeitos estava 
sendo ameaçada devido ao grande índice de violência. 
 
 
Esses locais são: 
 
Fonte: Leite, 2009, p. 190 apud SEDS/SPEC, 2009 
 
A finalidade desses Programas é diminuir a violência e atuar na 
prevenção à criminalidade e consequentemente melhor a qualidade de vida da 
população do Estado de Minas Gerais: Belo Horizonte, especialmente nos 
municípios já indicados, com a criação de trinta e oito Núcleos de Prevenção à 
Criminalidade (NPC), distribuídos em Minas Gerais. 
32 
 
 
Para a criação e efetivação das ações desenvolvidas nos NPC, foi 
estabelecida, em 2005, uma parceria entre a Superintendência de Prevenção à 
Criminalidade e o Instituto Elo. 
Bragatto (2010, p.24), ressalta que: 
 
A política de prevenção à criminalidade do Estado de Minas 
Gerais é desenvolvida através de um termo de parceria entre 
Estado e o Instituto Elo, que é uma Organização da Sociedade 
Civil de Interesse Público (OSCIP). 
 
O Instituto Elo reforça que as ações dos Programas sejam de cunho 
humanitário. Devido a este olhar considerado mais atento a questão social, a 
Spec determinou que a política de Minas Gerais, se tornasse em Política de 
Prevenção Social a Criminalidade. 
Porém, há uma discussão no bojo da Política Estadual de Prevenção à 
Criminalidade, sobre quais são os reais objetivos do Estado com essa política. 
Aponta-se que seu alvo seria a contenção de pobres, zelando pelo controle 
social, de forma que esses precisariam ser agregados à Política de Prevenção 
a Criminalidade antes que se torne um problema ao se envolverem com o 
crime. 
Assim o Estado, busca, na verdade, mediar os conflitos antes que virem 
um problema judicial. Apaziguar os problemas seria um meio de conter gastos. 
Bragatto (2010), faz crítica a essa Política, que é regida pela perspectiva 
de garantir acesso a alguns direitos para evitar que os usuários cometam 
crimes afim de reduzir custos, sendo que deveria, sim , enxergá-los como 
sujeitos de direitos. 
O fato é que, apesar de todas as críticas, os indicadores mostram que 
aonde os Programas são implantados há uma redução significativa na 
criminalidade, e os mesmos já servem de modelo para todos os estado 
brasileiros enquanto modelo de segurança pública. 
O PrEsp nasceu do decreto 43.295 de 2003, suas ações foram 
implantadas a partir de 2004 em três municípios de Minas Gerais. Atualmente é 
implementado em 11 municípios. Sendo eles: Belo Horizonte, Contagem, 
Betim, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Ipatinga, Governador Valadares, 
Uberlândia, Uberaba, Montes Claros e Juiz de Fora. 
O Programa trabalha em conformidade com a LEP e atende pessoas 
que passaram pela situação de privação de liberdade e encontram em 
33 
 
 
cumprimento de regime aberto, ou livramento condicional. A LEP define quem 
é o egresso que constitui público alvo do PrEsp, conforme se vê: 
 
I – O liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da 
saída do estabelecimento; 
II – O liberado condicional, durante o período de prova. 
Ampliando consideravelmente o disposto na lei e amparado por 
incorporações e adaptações da dinâmica sócio-jurídica, o 
Programa de Reintegração Social de Egressos do Sistema 
Prisional passou a atender o seguinte público: 
- Liberados definitivos do sistema penitenciário; 
- Livramento Condicional a partir de acordos firmados com as 
Varas de Execuções Criminais em cada município; 
- Prisão Domiciliar, nos casos em que há alguma condição 
imposta pelo juiz que viabilize a atuação do Programa; 
- Prisão Albergue nas mesmas condições do item anterior. 
(BRASIL, 1984, p.10 ) 
 
Busca-se, desta forma, desconstruir as vulnerabilidades, estigmas e 
violências sofridas pelos usuários do Programa, sendo que todas as ações 
devem ser pautadas na promoção social do individuo. 
O PrEsp tem como objetivo geral incluir seus usuários e familiares na 
sociedade, distanciado-os das condições que possam vir a causar a 
reincidência criminal, o programa objetiva ir além das condições legais do 
usuário, apesar de ele ter que seguir mínimas condições postas pela lei. 
De acordo com a LEP, aassistência ao egresso consiste em: 
 
Art 25. A assistência ao egresso consiste: 
I – na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade; 
II – na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, 
em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses; 
Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser 
prorrogado uma única vez, comprovado, por declaração do 
assistente social, o empenho na obtenção de emprego. 
(BRASIL, 1984, p.26 ) 
 
 
Em relação aos objetivos específicos do Programa, Leite (2009, p. 170) Expõe: 
 
- Ampliar as condições para o conhecimento e acesso do 
público aos direitos previstos na Lei de Execuções Penais; 
- Viabilizar o acesso aos direitos sociais para potencializar 
condições de cidadania; 
- Reduzir fatores estigmatizantes; 
- Apresentar alternativas descriminalizatórias de cumprimento 
de condicionalidades impostas pelo sistema penal; 
- Contribuir no fortalecimento de aspectos subjetivos dos 
usuários com vistas a diminuir os efeitos da prisionização; 
34 
 
 
- Contribuir na ressignificação de processos históricos e so-
cioculturais de opressão. 
 
A fim de alcançar seus objetivos, o programa disponibiliza uma equipe 
multiprofissional, sendo eles: advogado, assistente social e psicólogo, os quais 
são denominados técnicos sociais. As ações do Programa são desenvolvidas 
em localidades que pode haver outros programas que também foram 
implantados pelo Instituto Elo. Caso haja mais de um NPC instalado na mesma 
cidade serão sempre PrEsp com Central de Apoio as Penas e Medidas 
Alternativas (CEAPA); e o Programa Fica Vivo com o Mediação de Conflitos. 
Leite (2009), explica a condição do PrEsp como possibilidade de 
equipamento público, caso não haja Casas de Albergados nas comarcas. 
Assim, os juízes das Varas de Execuções Criminais podem determinar que o 
sentenciado fique em condição de regime aberto e cumpra a pena em prisão 
domiciliar. 
O PrEsp recebe esse público, através de determinação judicial ou 
demanda espontânea, em vários municípios, porém tem como objetivo 
desenvolver acompanhamentos diferenciados junto ao Núcleo de Prevenção à 
Criminalidade. 
Leite (2009) especifica a metodologia do programa, as ações 
desenvolvidas são o acolhimento, que é realizado pelo técnico social no 
primeiro atendimento, sendo que o programa entende este como a forma de 
estabelecer vínculos do usuário com a equipe do programa. A postura que o 
técnico deve assumir neste acolhimento é a de se dispor ao diálogo, a fim de 
compreender em qual contexto social o sujeito está inserido e quais suas 
demandas; orientação aos direitos sociais básicos, aqui o profissional busca 
esclarecer as dúvidas do egresso e informar seus direitos básicos; acesso à 
educação, ela deve ser usada a fim de potencializar a consciência critica do 
ser humano, o programa busca provocar o interesse do egresso aos estudos; 
remição de pena por estudos, assim como o trabalho, um instrumento 
utilizado para ressocializar o individuo e construir valores, a LEP em seu artigo 
126 preconiza que a cada 3 dias de trabalho, dentro do sistema prisional, 1 
reclusão é remitido, essa determinação deve ser feita pelo juiz na execução, 
desta mesma forma, o egresso pode reduzir sua pena através dos estudos; 
formação profissionalizantes, o PrEsp trabalha em rede com instituições afim 
de possibilitar cursos gratuitos ao egressos; empregabilidade, o programa 
35 
 
 
estabelece vínculos com instituições que informam sobre as vagas existentes, 
devendo assim o técnico social informar e encaminhar o egresso; trabalhos 
em grupos; o programa desenvolve atividades grupais afim de possibilitar 
reflexões quanto a diversos temas presentes na sociedade, buscando 
potencializar o senso crítico e reflexivo do egresso 
O programa busca como estratégias fortalecer o trabalho em rede, e 
para isso, são constantes os encaminhamentos feitos para a defensoria 
pública, clínicas de tratamentos para dependentes de drogas psicoativas, 
regulamentação dos documentos, saúde, educação e vagas de trabalho. 
O PrEsp separa os atendimentos entre inscritos e incluídos, o primeiro 
são aqueles que estão iniciando no programa através de encaminhamentos ou 
procura espontânea, já o segundo são os que já estão aderidos ao PrEsp ha 
algum tempo, participando dos grupos e que já receberam vários 
encaminhamentos. 
Leite (2009), traz os números de incluídos ao programa de 2003 à 2009, 
separados por município: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Leite (2009,p. 200) 
 
O Programa de Inserção Social do Egresso do Sistema Prisional foi 
implantado em 2006 em Uberaba, atende atualmente cerca de 400 egressos 
estando entre prisão domiciliar e livramento condicional e são encaminhados 
cerca de 20 primeiros atendimentos por mês da Vara de Execução Criminal -
VEC. 
36 
 
 
No PrEsp realiza-se grupos reflexivos uma vez por mês, convidando 
todos os usuários do programa, sendo que a participação é voluntária. Os 
temas abordados são postos de forma a potencializar um conhecimento crítico 
e reflexivo ao participante. Eles variam entre: trabalho; preconceito; autoestima; 
família; drogadição; informações sobre direito. Podendo ser convidados para 
serem palestrantes dos grupos: alguns dos técnicos sociais; professores de 
universidades; defensores públicos e até mesmo usuários do programa que 
tenha um exemplo de vida que esteja disposto a socializar com os amigos. 
São realizadas duas festas anualmente, a festa junina, na qual os 
usuários são convidados juntamente com os seus familiares e a festa natalina 
que estes também são convidados. Toda a equipe do Instituto Elo de Uberaba 
participa das festas, sendo que no natal são arrecadados presentes para as 
crianças das famílias dos egressos. 
O programa desenvolveu fluxogramas dos atendimentos, que foram 
separadas por egressos em livramento definitivo, egressos em livramento 
condicional e prisão domiciliar, conforme se vê a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Excluído: ¶
37 
 
 
De acordo com o fluxograma os atendimentos do egresso em livramento 
definitivo se dão mediante a demanda espontânea, caso a pessoa que sofreu 
privação de liberdade e tiver cumprido a pena e quiser ser acompanhado pelo 
programa por livre espontânea vontade é permitido, neste caso o egresso 
chega através de um encaminhamento e a equipe do PrEsp faz o acolhimento 
e o levantamento das necessidades do egresso, porém esta demanda é rara. 
Abaixo, como é possível observar, o egresso que deve cumprir a pena 
de livramento condicional é encaminhado pela Vara de Execução Criminal 
(VEC) e deve assinar no Programa periodicamente, de três em três meses. 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
3. – A PESQUISA 
 
3.1 – Metodologia 
 
O presente capítulo constitui-se na apresentação e interpretação dos 
dados obtidos ao longo da pesquisa. Primeiramente será retomada de maneira 
breve a operacionalização dos procedimentos metodológicos utilizados para 
coleta de dados. 
Trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa, exploratória, documental. A 
pesquisa exploratória objetiva desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e 
ideias. Para tal, o investigador deve realizar a revisão de literatura baseada em 
livros, artigos científicos, filmes e revistas, a fim de aperfeiçoar o senso crítico e 
obter maior acúmulo teórico-metodológico. Assim, a revisão de literatura 
permite maior cobertura de fenômenos do que aquela pesquisa diretamente 
(GIL, 2009). 
O campo desta pesquisa foi no Núcleo de Prevenção à Criminalidade 
(NPC) no município de Uberaba e serviu como amostra da realidade do 
egresso do SistemaPrisional de Uberaba. Minas Gerais. Neste Núcleo atuam 
dois programas: o Presp e o CEAPA, sendo que o NPC tem compromisso de 
exercer a política de prevenção social à criminalidade da Secretaria de Estado 
de Defesa Social (SEDS) em parceria com o Instituto Elo. Este espaço foi 
escolhido por ser a única instituição de Uberaba aberta para atender as 
demandas dos egressos a fim de reinserirem na sociedade. 
 Dos programas existentes no NPC, o PrEsp constituiu-se foco desta 
pesquisa. 
 As obrigações legais dos egressos são de passar pelo preenchimento 
de um formulário no primeiro atendimento feito pelo PrEsp, sendo que eles 
devem cumprir legalmente a condição de assinarem um livro, o qual fica no 
Programa, mensalmente quando estiverem em Regime Aberto, e 
trimestralmente quando estiverem em Livramento Condicional como uma 
progressão de regime assumido com a Vara de Execução Criminal juntamente 
com o PrEsp. Foram analisados os formulários preenchidos dos primeiros 
atendimentos feitos no PrEsp dos sujeitos desta pesquisa, visando obter dados 
39 
 
 
que permitiu identificar o perfil dos egressos que foram entrevistados e que 
constituíram amostra deste estudo. 
 A proposta inicial era de entrevistar os egressos que começaram a 
participar do programa no mês de novembro de 2012, mas não foi possível, 
pois alguns já não eram mais integrantes do programa e entre os que 
permaneciam, alguns não aceitaram participar da entrevista e outros não se 
conseguiu estabelecer o contato. 
Assim, a seleção dos sujeitos foi feita mediante consulta aos egressos 
que compareceram ao PrEsp no dia em que a pesquisadora permaneceu no 
Núcleo para realização das entrevistas. Foram selecionados seis sujeitos, os 
quais receberam esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa e 
concordaram em participar da mesma, assinando o Termo de Consentimento 
livre e esclarecido (apêndice 1). 
Foram realizadas entrevistas semi-estruturas (apêndice 2), com a 
utilização de um gravador para o registro das informações com maior precisão. 
Posteriormente as entrevistas foram transcritas, e analisadas através da 
analise de conteúdos. 
Os trechos das entrevistas apresentados neste estudo são identificados 
com nomes fictícios, visando preservar a identidade dos sujeitos, conforme 
prevê a Resolução 196/96. 
A observação foi uma atividade fundamental no conjunto da 
investigação. 
Da analise do material coletado, emergiram as seguintes categorias 
empíricas: o preconceito, a dificuldade para conseguir entrar para o mercado 
de trabalho, a dificuldade para se relacionar entre grupos sociais. 
O Materialismo histórico dialético foi o referencial teórico utilizado para 
analise da pesquisa, a fim de alcançar a criticidade quanto a inserção social do 
egresso do sistema prisional, a partir dos dados coletados para analise dos 
condicionantes sociais para a sua inclusão. 
 As variáveis quantitativas foram analisadas por meio de estatística 
descritiva, com dados absolutos e relativos, com auxílio do software Excel. Os 
resultados foram agrupados e apresentados sob a forma de gráficos. As 
variáveis qualitativas foram analisadas através do método por análise temática 
das entrevistas, seguindo as seguintes etapas: ordenação, classificação e 
40 
 
 
análise final (MINAYO, 1998). Após, ocorreu a releitura incessante de todo o 
material a fim de encontrar as convergências/divergências nas falas dos 
egressos para classificarmos as falas por eixo temático. 
 
3.2 ANALISE DE DADOS 
 
A coleta de dados foi realizada no mês de janeiro de 2014, sendo o perfil 
do usuário atendido pelo PrEsp constituído a partir do levantamento das 
informações dos formulários, do Programa de Inclusão Social do Egresso do 
Sistema Prisional (PrEsp) de Uberaba. 
Esses formulários são preenchidos no momento que o egresso do 
sistema prisional está sendo inserido ao programa. Para constituição do perfil 
foram selecionados os itens: sexo, grau de instrução, situação profissional, 
filhos, renda familiar, tempo de reclusão e antecedentes criminais. 
 
Figura 1 _ Dados sobre a distribuição quando ao sexo: 
 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Na totalidade dos entrevistados, foram cinco do sexo masculino e um do 
sexo feminino. Este dado afirma a realidade quando ao número inferior de 
mulheres que são atendidas pelo PrEsp perto à quantidade dos homens 
atendidos. 
41 
 
 
É fundamental refletir sobre este dado, pois de seis entrevistados 
somente um era do sexo feminino, indicando uma prevalência do sexo 
masculino entre as pessoas que cumprem pena privativa de liberdade. 
 
 
Figura 2_ Dados sobre a distribuição quando ao grau de instrução: 
 
 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Sobre os dados da escolaridade, verifica-se que a maioria dos egressos 
abandonaram a escola antes de completarem o ensino médio, um dos 
entrevistados evadiu da escola antes de terminar o ensino fundamental, e um 
completou o ensino fundamental. 
É importante ressaltar que a educação é o melhor caminho para 
potencializar a consciencia crítica do indivíduo. Leite (2009) afirma que a baixa 
escolaridade é uma realidade descriminatória, presente na vida do sujeito em 
privação de liberdade, e isso se torna um agravante para sua inserção na 
sociedade. 
 
42 
 
 
A educação deve ser dialogal, pois somente agregando 
histórias poderá estabelecer interação de aprendizagem entre 
os sujeitos, principalmente entre aqueles já adultos, marcados 
em sua trajetória por violências e privações. (LEITE, 2009, 
p.176) 
 
 
Figura 3 _ Dados sobre a distribuição quando à situação profissional: 
 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Os dados coletados sobre a inserção no mercado de trabalho foram que 
cinco deles estavam inseridos no mercado de trabalho no momento em que 
foram atendidos pelo programa pela primeira vez e apenas um não estava. 
Ressalva-se que em sua totalidade nenhum dos entrevistados estava 
trabalhando com carteira assinada ao saírem do Sistema Prisional. 
O pedido de antecedentes criminais, documento exigido para inserção 
no mercado de trabalho, é a materialização do preconceito presente nas 
grandes empresas, ao se negarem a contratar uma pessoa que tenha passado 
pelo sistema prisional. 
Este fato apresenta-se como empecilho para o egresso que ao sair do 
sistema prisional deseja ter uma vida digna, com trabalho fixo e registrado para 
sustentar sua família. Ao encontrar as portas fechadas, pode ter como 
alternativa a reincidência criminal. 
43 
 
 
Devido a esta questão foi possível verificar nas entrevistas que o 
preconceito está enraizado no convívio social dos entrevistados. A maioria das 
empresas pedem os antecedentes criminais para admitir um funcionário, 
inviabilizando qualquer chance ao egresso, que queria trabalhar para alcançar 
os mínimos necessários para uma vida em paz. 
 
[...] qualquer loja que você pode ir hoje, procurar um serviço 
hoje, eles te pedem o antecedente criminal, aí já barra, você 
não faz nada, se não for tipo um caso dos convenio que tem na 
penitenciaria numas firmas lá pra você continuar trabalhando, 
mas só que eles não dão valor pra gente, eles quer às vezes 
continuar com aquele mesmo salário que tá lá, que ta pagando 
a gente entendeu? Que é meio salário mínimo que era, aí eles 
querem continuar com aquele salário. Eu acho no meu 
pensamento que é abusar do negocio, então se você for 
arrumar um serviço lá no Bretas, qualquer lugar “ah seus 
antecedentes criminais”, ai já não faz nada, já não faz. É difícil 
[...] mas aquele que realmente tá no crime, às vezes podia 
recuperar com os incentivos e não tem os incentivos. (João) 
 
Como é perceptívelna fala do João, tratar da inserção social do egresso 
do sistema prisional, na sociedade contemporânea é quase como uma utopia. 
Barros (2012) relata que a reinserção seria o que diz respeito à volta ao 
convívio social, mas convém refletir em qual convívio social. Esse grupo de 
pessoas que é reprimido e menosprezado, por não seguir o padrão da 
normalidade determinada pela sociedade capitalista, nunca estiver na verdade 
inserido na sociedade. 
Verifica-se que essa reinserção social não é simples, pois: 
A reintegração na sociedade do sentenciado significa, portanto, 
antes de tudo, corrigir as condições de exclusão social desses 
setores, para que conduzi-los a uma vida pós-penitenciária não 
signifique, simplesmente, como quase sempre acontece, o 
regresso à reincidência criminal, ou à marginalização 
secundária e, a partir daí, uma vez mais, à volta à prisão. 
(BARATTA, 2004 p.3 apud BARROS, 2012, p. 63-64). 
 
Reintegrar seria inserir as pessoas na sociedade, conduzi-las as novas 
condições intelectuais, sociais e culturais de forma a potencializar a autonomia 
e suas competências profissionais. O que Barros (2012) critica é que seria 
necessário que houvesse um mundo do trabalho livre, de forma que 
viabilizasse o desenvolvimento pessoal e coletivo, que fosse democrático e 
acolhesse sem restrições. 
Para que houvesse a reintegração do condenado, seria necessário ter 
condições que modificasse seu mundo de isolamento, e ainda transformasse a 
44 
 
 
sociedade, a fim de assumir a sua parte de responsabilidade nos problemas 
que são separados nas prisões. 
Barros (2012) afirma que foi criado um fetiche que ao colocar o 
“criminoso” na prisão ficariam todos em segurança. Logo, não o veriam mais, e 
estariam protegidos já que “todos estão presos”. Ocorre uma maquiagem da 
sociedade real. Os loucos vão para o manicômio, os velhos para os asilos e os 
criminosos para o presídio. 
Mas o que ocorre na vida real é que os condenados sofrem efeitos do 
encarceramento, que um dia deixarão marcas no mundo livre, reflexo do que 
sofreram naquele lugar. Logo, as prisões reproduzem, em seus intramuros, 
efeitos que intensificarão os atos “criminosos”, quando em liberdade acabam 
reincidindo à criminalidade. 
A fim de promover essa “recuperação”, o trabalho torna-se fundamental 
para seu reconhecimento, principalmente para egresso do sistema prisional. É 
o espaço crucial para recuperar o que estaria como um inútil para o mundo, 
fora das normas estabelecidas socialmente e fora da lei. 
O trabalho seria, sim, uma forma de inclusão do egresso, caso esse 
trabalho proporcionasse respeito, valorização e reconhecimento que garantisse 
condições decentes de existência do sujeito. Caso fosse um espaço de 
aprendizagem e de desenvolvimento humano. 
 
Figura 4 _ Dados sobre a distribuição quando aos filhos: 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
45 
 
 
Sobre os dados referentes aos filhos, cinco dos entrevistados tinham 
filhos, quando foram preenchidos os formulários do primeiro atendimento, e 
apenas um sujeito não tinha filhos. 
 
Figura 5 - Dados sobre a distribuição quando à renda familiar: 
 
 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Quanto à renda familiar, foi analisado que dois dos sujeitos recebiam 
uma quantia inferior a um salário mínimo para toda família, sendo que três 
deles recebiam entre um e dois salários mínimos, e apenas um sujeito a renda 
familiar era entre dois e três salários mínimos, isso quando preencheram o 
formulário de primeiro atendimento. 
Pereira T. (2012) ressalta que os presos não têm consciência da 
hierarquia que estão inseridos, que existem os “chefes dos chefes dos chefes” 
da pessoa que está em privação de liberdade. Quem vai preso, são os que 
estão lá na base da pirâmide. Logo em sua maioria, são aqueles que têm a 
renda mínima. 
 
46 
 
 
Figura 6 - Dados sobre a distribuição quando ao tipo de críme 
cometido: 
 
 
Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Os dados obtidos nesta especificidade foram um sujeito que cometeu 
extorção mediante sequestro, dois de tráfico ilícito de drogras, dois de roubo e 
um de assassinato. 
É importante ressaltar que este dado não tem por finalidade julgar o tipo 
de crime que o egresso cometeu, mas traz um dado de que a maioria dos que 
foram presos é devido a algum tipo de roubo e ao tráfico ilícito de drogas. 
Tais dados coinscidem com outros estudos realizados: 
 
Vamos ver que a maioria é considerada perigosa, está presa 
por tráfico ou pequenos assaltos de rua, ou seja, crimes por 
uma bagatela: dez sacolas de cocaína e alguns poucos 
baseados. (PEREIRA, 2012, p. 98) 
 
Em seus estudos, a referida autora ressalta que a maioria de sujeitos 
que estão presos por uma “bagatela”, passaram entre três a quatro anos no 
sistema prisional. Ela sugere que, nesse caso, sejam aplicadas penas 
alternativas, e não penas de privação de liberdade. 
47 
 
 
É de suma importância compreender que a sociedade vigente sustenta a 
manutenção de uma vitrine civilizada, onde se quer ocultar a realidade de 
exploração e violência, mas na qual, na verdade cria-se uma dicotomia de “nós 
versus eles”, a que causa uma sensação de neutralidade e descompromisso 
com o outro. 
 
Figura 7 - Dados sobre a distribuição quando ao tempo de reclusão: 
 
 
 
 Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Os dados quanto ao tempo que os entrevistados passaram em privação 
de liberdade mostram que dois sujeitos ficaram menos de um ano em reclusão, 
um ficou entre um a dois anos, dois de dois a três anos e um mais que três 
anos em privação de liberdade. 
Este dado serve apenas para reflexão crítica sobre o porque dos sujeitos 
ficarem presos por um tempo inferior a 3 anos? Como já cidado acima, Pereira 
(2012) reflete, porque não transformar as penas de privação de liberdade em 
pena restritiva de direitos, como penas alternativas. 
 
48 
 
 
Figura 8 - Dados sobre a distribuição quando aos antecedentes 
criminais: 
 
 
 
 Fonte: Documentos internos PrEsp. Gráfico elaborado pela autora 
 
Os dados coletados sobre os antecedentes criminais retrataram que dois 
sujeitos já haviam cometido algum tipo de delito anteriormente ao cumprimento 
da pena que eles tinham acabado de cumprir, três deles não tinham cometido 
crime algum, ate então. Não foi possível coletar estes dados na sua totalidade, 
pois os formulários que são preenchidas pelos técnicos do programa, 
analisados para analise quantitativa desta pesquisa, já havia sofrido muitas 
mudanças e um deles não havia esta pergunta. 
O objetivo do PrEsp é diminuir a reincidencia criminal, mas até que 
ponto isso depende somente deste programa? Para que chegasse a este 
ponto, Barros (2012) discutiu que seria necessária a integração entre os 
programas sociais pertencentes à política pública e ainda a criação de novos 
programas de atenção ao preso, ao egresso e seus familiares, onde o foco 
principal fosse o acesso aos bens culturais e não o crime em si. 
Contudo, a sociedade contemporânea é intolerante, coercitiva, 
repressiva, punitiva, criminalizadora e prisional. Ela pune o sujeito que ela 
mesma criou, fruto da desigualdade pertencente ao sistema vigente. Segundo 
49 
 
 
Barros (2012, p.75) “Uma sociedade que não necessita de prisões certamente 
será uma sociedade melhor, com pessoas melhores.” 
Para análise do material coletado nas entrevistas, foram consideradas 
as falas dos entrevistados e a observação do comportamento dos egressos 
durante a gravação das entrevistas. 
As entrevistas foram realizadas nas salas onde são prestados os 
atendimentos pelos técnicos sociais aos usuários do

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