Buscar

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA - A DOR DA OMISSÃO

Prévia do material em texto

FACULDADE IDEAL – FACI/WYDEN 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
MARIANA DIAS DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM – PA 
2019 
 
 
MARIANA DIAS DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 
apresentado à Faculdade Ideal – 
FACI/WYDEN, como requisito parcial para 
obtenção do grau de Bacharela em Direito. 
 
Orientadora Prof. M.a. Shelley Macias Primo 
Alcolumbre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM – PA 
2019 
© Mariana Dias de Carvalho, 2019. 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional 
ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Socorro Campos CRB 2/730 
 
 
 
341.27 Carvalho, Mariana Dias de 
M772c Violência obstétrica / Mariana Dias de Carvalho. -- 2019. 
 34 f.; 21 x 30 cm. 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – 
Faculdade Faci | WYDEN, 2019. 
 Orientador: Prof.ª Me. Shelley Macias Primo Alcolumbre 
 
 1.Violência obstétrica. 2.Assistência ao parto. 3.Direitos das 
gestantes. I. Título. 
 
 
 
MARIANA DIAS DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC 
apresentado à Faculdade Ideal – 
FACI/WYDEN, como requisito parcial para 
obtenção do grau de Bacharela em Direito. 
 
Orientadora Prof. M.a. Shelley Macias Primo 
Alcolumbre. 
 
 
 
 
Aprovada em: ___ / ___ / _____ 
Conceito: __________________ 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________ 
 Prof. M.a. Shelley Macias Primo Alcolumbre (Orientadora) 
FACI/WYDEN 
 
 
_____________________________________ 
Prof. M.a. Andréia Carolline Lima Pinto 
FACI/WYDEN 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. Dra. Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães 
FACI/WYDEN 
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão 
VIOLENCE OBSTETRIC: the pain of omission 
 
Mariana Dias de Carvalho1 
 Orientanda - FACI/WYDEN 
marydcarvalho@yahoo.com 
 
Shelley Macias Primo Alcolumbre2 
Orientadora - FACI/WYDEN 
shelleymacias@globo.com 
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo tem por finalidade analisar a violência obstétrica, visando as 
lacunas existentes na legislação brasileira sobre o tema, além de abordar os 
aspectos históricos do parto e sua humanização; as normas internacionais e 
nacionais existentes sobre o tema; conceito de violência obstétrica e as práticas 
consideradas violentas; os recursos disponíveis para a mulher que sofreu violência 
obstétrica no âmbito do direito constitucional, direito civil, direito penal e no estatuto 
da criança e do adolescente. Adotou-se como método de abordagem, o hipotético – 
dedutivo e como método de procedimento o da pesquisa bibliográfica, com ênfase 
na leitura, análise e interpretação de livros, artigos, documentos. Verificou-se que há 
pouco conhecimento sobre o assunto no âmbito jurídico, mesmo que esse tipo de 
violência contra a mulher seja tão recorrente. 
 
 
Palavras-chave: Violência Obstétrica. Assistência ao Parto. Direitos das Gestantes. 
 
RESUMO 
 
The purpose of this paper is analyze obstetric violence, aiming at the existing gaps in 
brazilian legislation on the subject, addressing the historical aspects of childbirth and 
its humanization; existing international and national standards on the subject; 
approach on the concept of obstetric violence and practices considered violent; the 
resources available to women who have experienced obstetric violence under 
constitutional law, civil law, criminal law and the status of children and adolescents. 
The hypothetical - deductive and method of procedure approach was taken as a 
method of approach in bibliographic research, focusing on the reading, analysis and 
interpretation of books, articles and documents. It was verified that there is little 
knowledge on the subject in the legal scope, even if this type of violence against 
women is so recurrent. 
 
Keywords: Obstetric Violence. Delivery Assistance. Rights of Pregnant Women
 
1
 Orientanda, acadêmica do Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade Ideal – FACI/WYDEN – 
marydcarvalho@yahoo.com.br 
2
 Professora Orientadora Faculdade Ideal - FACI/WYDEN – shelleymacias@globo.com 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Por ser silenciosa e omissa, a violência obstétrica é vivenciada de forma 
recorrente, durante o pré-natal, parto e o pós-parto, por meio de maus tratos, de 
agressões físicas, verbais, psicológicas e até mesmo sexuais. Essas práticas 
revelam condutas totalmente discriminatórias quanto ao gênero, classe e etnia, e 
que provocam grave estado crônico de sofrimento emocional e físico para sempre 
na vida daquela gestante. Nota-se que, além da indevida assistência para a mãe, 
para o bebê e sua família, a parturiente perde sua autonomia, seu poder de escolha, 
em virtude de certa ‗hierarquia‘ entre os profissionais da saúde e a paciente, cujo 
momento do parto torna-se, muito mais, um evento médico. 
Em face da problemática exposta anteriormente, questiona-se, quando os 
envolvidos no parto compreendem quais elementos ocasionam a prática da violência 
obstétrica e de que forma a legislação brasileira realmente ampara as vítimas? 
Objetiva-se, especificamente, discorrer sobre alguns estudos históricos 
acerca do parto e de humanização; expor as normativas internacionais e nacionais 
existentes acerca do tema violência obstétrica; identificar o conceito de violência 
obstétrica considerados invasivos e danosos a gestante e apresentar os recursos 
jurídicos disponíveis para a mulher em situação de violência obstétrica 
Pretende-se analisar se, as normas existentes de proteção à mulher grávida, 
em trabalho de parto e pós-parto, são efetivamente cumpridas e se há o devido 
esclarecimento dos profissionais da saúde sobre seus deveres e da população em 
geral sobre seus direitos. 
Observa-se, no Brasil, um cenário muito carente em relação ao tema, devido 
a falta de conhecimento e esclarecimento da população, principalmente das 
mulheres grávidas e de sua família, quanto os seus direitos, desde o pré-natal até o 
nascimento do bebê. Outro detalhe, a falta de uma lei específica que possibilite 
denúncia, processo e punição sobre a violação dos deveres do profissional de 
saúde, torna a violência obstétrica, um caso de omissão. 
A violência obstétrica é um tema de fundamental importância para sociedade, 
pois está ligada diretamente a uma das formas de agressão contra a mulher, por 
razões da condição de gênero, pouco abordada no âmbito jurídico. Torna-se 
necessário a criação de uma Lei Federal, que reconheça e positive os direitos 
fundamentais para as gestantes e seus bebês e possibilite a abertura de novos 
6 
 
horizontes para essa temática. Assim, tal normatização minimizará a vulnerabilidade 
das gestantes, permitindo conhecimento da legislação brasileira vigente para que 
saibam o que fazer, onde procurar ajudar e onde denunciar, caso sofram alguma 
violência obstétrica. 
O método de abordagem utilizado no trabalho é o hipotético-dedutivo, que 
adota a ideia do surgimento de uma lacuna no conhecimento científico, ou seja, as 
informações disponíveis sobre dado assunto serão insuficientes para a explicação 
de determinado fato. Apartir de então, será possível explicar as dificuldades 
existentes na lacuna, com a formulação de hipóteses, em que se deduzem certas 
consequências que vão ser testadas e/ou levadas ao falseamento. Como método de 
procedimento foi utilizado à pesquisa bibliográfica a qual é elaborada a partir de 
material já publicado, constituído principalmente de livros, revistas, publicações em 
periódicos e artigos científicos, monografias, dissertações, teses, leis. 
Posto isto, o presente trabalho organiza-se da seguinte forma: 
Na primeira seção, nomeada breve abordagem histórica do parto e sua 
humanização será abordado sobre o histórico de assistência dedicada à mulher 
durante a gestação, parto e puerpério ao longo dos tempos, permeando a figura da 
parteira, quando o parto era mais humanizado, até os médicos obstetras. 
Na segunda seção, intitulada marco legal de proteção ao parto são 
expostas as normativas internacionais como a Convenção Sobre a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher; a Convenção de Belém do 
Pará e a Declaração Universal Sobre Bioética e Direitos Humanos e as normativas 
nacionais que abordam projetos de leis e legislações genéricas, fazendo um 
comparativo com as Leis Federais existentes nos países como a Venezuela e a 
Argentina sobre a temática abordada. 
Na terceira seção, denominada de violência obstétrica: uma ofensa à 
integridade física da mulher será identificado o conceito de violência obstétrica e 
os procedimentos considerados invasivos e danosos à gestante. 
 Finalmente, a última seção visa apresentar os recursos jurídicos 
disponíveis para a mulher em situação de violência obstétrica existentes acerca 
do tema, cujo objetivo é demonstrar para a gestante que ela possui amparo legal por 
meio da Constituição Federal de 1989, do Direito Penal, no Direito Civil e do Estatuto 
da Criança e do Adolescente – ECA. 
 
7 
 
2 BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO PARTO E SUA HUMANIZAÇÃO 
 
O auxílio dedicado à mulher durante a gestação, parto e puerpério sofreram 
muitas transformações ao longo dos tempos. Por muitos anos essa foi uma prática 
desenvolvida somente por mulheres denominadas parteiras ou comadres, que 
tinham um saber empírico do assunto e de suma confiança da gestante. O parto era 
realizado em um ambiente doméstico, onde não apenas havia a questão biológica, 
mas, sobretudo, era considerado os fatores psicológico, relacional e espiritual. Em 
sua maioria, essas parteiras eram também benzedeiras, o que tornava o parto mais 
humanizado possível. 
De acordo com Barboza e Mota, 
O trabalho das parteiras, fruto de uma prática de solidariedade feminina foi 
desenvolvido durante um longo período à margem do saber médico, sendo 
conduzido como um evento natural e fisiológico dentro das comunidades, 
uma experiência corporal e emocional que levava as mulheres a 
subjetivarem-se e significava poder, prestígio e competência as parteiras. 
(2016, p. 121). 
 
Em meados do século XII, ressalta-se que os homens não tinham qualquer tipo 
de participação no parto, mesmo sendo o cônjuge, pois, tal comportamento entrava 
em choque com os valores culturais imposto na época. Nos saberes de Seibet, 
Barbosa, Santos e Vargens, 
 
A assistência à parturiente era considerada assunto de mulheres, em que 
as parteiras criavam um clima emocional favorável, com suas crenças, 
talismãs, orações e receitas mágicas para aliviar a dor das contrações, e os 
homens apenas realizavam assistência a parto de animais. (2005, p. 246). 
 
Durante os séculos XVIII e XIX, a gestante perde o papel de protagonista e 
passa a ter um papel secundário. Os partos, até então realizados pelas parteiras 
(que nessa época começam a perder sua primazia por conta da realização de 
abortos e infanticídio) e sem a participação do gênero masculino, tornam-se 
verdadeiros acontecimentos médicos, por meio de diversas mudanças 
institucionalizadas no parto, por parte da obstetrícia. Para Seibet, Barbosa, Santos e 
Vargens, 
O parto acabou sendo caracterizado como evento médico, cujos 
significados científicos aparentemente viriam de maneira a ser privado, 
íntimo e feminino, e passa a ser vivido de maneira pública com a presença 
de outros atores sociais. (2005, p. 247). 
 
8 
 
Ainda no século XIX, como uma melhor forma para desenvolver novas técnicas 
de parto, os médicos começaram a discutir questões como a hospitalização para a 
criação de maternidades. 
A troca de parteiras pelos médicos obstetras, historicamente iniciou-se na 
Europa entre os séculos XVII e XVIII. As primeiras faculdades de medicina do Brasil 
surgiram na Bahia e no Rio de Janeiro, em 1808 e a evolução da obstetrícia foi de 
forma tardia e gradativa. Conforme Seibet, Barbosa, Santos e Vargens (2005) essa 
demora ocorreu por conta da chegada de profissionais estrangeiros e da volta de 
aristocratas que foram estudar na Europa. 
Um detalhe a considerar é que, por volta do século XIX, no Brasil, as grávidas 
de classe alta não aceitavam mais sentir as dores do parto e nem correr mais riscos 
decorrentes do parto. Assim, a escolha era ser assistida pelo médico e não mais 
pelas parteiras, até porque demonstrava que o seu marido tinha poder aquisitivo. 
Nos dizeres de Seibet, Barbosa, Santos e Vargens, 
 
A consolidação do processo de medicalização e hospitalização do parto 
acontece em meados do século XIX, juntamente com o surgimento das 
grandes metrópoles e a criação de hospitais, marcando o fim da 
feminilização do parto, levando ao predomínio do parto hospitalar, marcado 
por intervenções cirúrgicas, utilização de fórceps profilático e episiotomias 
desnecessárias. (2005, p. 248). 
 
 
Para Diniz, 
 
Na assistência ao parto, o termo humanizar é utilizado há muitas décadas, 
com sentidos os mais diversos. Fernando Magalhães, o Pai da Obstetrícia 
Brasileira, o empregou no início do século XX e o professor Jorge de 
Rezende, na segunda metade do século. Ambos defendem que a narcose e 
o uso de fórceps vieram humanizar a assistência aos partos. (2005, p. 628) 
 
Com isso surgem movimentos pela humanização da assistência ao parto, que 
pretendiam a qualidade na assistência e o direito ao parto com mais empatia. Esses 
fatores impulsionaram, assim, novas políticas públicas para o incentivo ao parto 
normal, tornando a mulher a protagonista e tendo sua autonomia de volta, além de 
seus diretos e garantias respeitados, desde o seu gestar até o nascer. 
 
 
 
9 
 
3 MARCO LEGAL DE PROTEÇÃO AO PARTO 
 
3.1 NORMATIVAS INTERNACIONAIS 
 
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Contra a Mulher (CEDAW) foi aprovada pela Organização das Nações Unidas em 
1976 e ratificada pelo Brasil no ano de 1984, com o Decreto n° 4.377 promulgado 
em 13 de setembro de 2002. Essa Convenção foi de suma importância, pois, por 
meio dela, ocorreu um grande avanço no cenário da proteção internacional dos 
direitos femininos. No ano de 2017, a Convenção já contabilizava 189 Estados-
partes. 
De acordo com a Convenção, em seu artigo 1°, o conceito sobre a 
discriminação contra a mulher expressa: 
 
Para os fins da presente Convenção, a expressão ―discriminação contra a 
mulher‖ significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo 
e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, 
gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com 
base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e 
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e 
civil ou em qualquer outro campo. (CEDAW, 1984, online, grifo do autor) 
 
Com isso a CEDAW irá se basear em duas obrigações, a de eliminar adiscriminação e consequentemente a de assegurar a igualdade. Ou seja, essa 
Convenção se baseia no princípio da igualdade, como uma obrigação, ou como um 
objetivo a ser alcançado. 
Acerca dessa Convenção, o entendimento de Piovesan, ensina que: 
A discriminação significa toda distinção, exclusão, restrição ou preferência 
que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, 
gozo ou exercício, em igualdade de condições, dos direitos humanos e 
liberdades fundamentais, nos campos político, econômico, social, cultural e 
civil ou qualquer outro campo. Logo, a discriminação significa sempre 
desigualdade. (2018, p. 435). 
 
Há também, nessa Convenção, a preocupação com os direitos sexuais e 
reprodutivos das mulheres. De acordo com Casado Filho, 
 
Diversas previsões da Convenção também incorporam a preocupação de 
que os direitos reprodutivos das mulheres devem estar sob seus próprios 
controles, assegurando que suas decisões sejam livres e benéficas no 
tocante ao acesso às oportunidades sociais e econômicas. (2012, p. 74) 
 
10 
 
Esses direitos sexuais e reprodutivos, que a Convenção CEDAW trata, foram 
também recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro na Lei n° 9.263/1996 
que dispõe sobre o Planejamento Familiar, conforme artigos 2° e 3° 
respectivamente. 
 
Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o 
conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais 
de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou 
pelo casal. 
Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de 
atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de 
atendimento global e integral à saúde. 
Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em 
todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-
se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à 
mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em 
todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre 
outras: 
 I - a assistência à concepção e contracepção; 
 II - o atendimento pré-natal; 
 III - a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato; (BRASIL, 1996, 
online) 
 
Nesta mesma direção a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, § 7º, 
prevê as garantias destes direitos: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, 
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o 
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de 
instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988, online) 
 
Em suma, a Convenção Sobre Todas as Formas de Discriminação Contra a 
Mulher argumenta que as mulheres são titulares de todos os direitos e 
oportunidades. A Convenção afirma que existem práticas, as quais as mulheres são 
submetidas, que precisam ser extintas como por exemplo, estupros, assédios 
sexuais, exploração sexual e outras formas de violência contra o gênero feminino. 
Outra Convenção de extrema importância que gerou um grande progresso na 
proteção internacional dos direitos das mulheres, foi a Convenção Interamericana 
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém 
do Pará. Esta Convenção foi editada pela Organização dos Estados Americanos 
(OEA), em junho de 1994 e ratificada pelo Brasil no ano de 1995, tendo seu Decreto 
n° 1.973 promulgado em 1° de agosto de 1996. 
Em seu artigo 1°, o Decreto considera a violência contra a mulher: ―[...] 
qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento 
11 
 
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera 
privada‖ (BRASIL, 1996, online) 
Segundo Piovesan (2018), esse conceito retira a ideia errada entre o espaço 
público e o privado, no que tange à proteção dos direitos humanos, ao admitir que a 
violação destes direitos não se limite apenas na esfera pública, dessa forma 
alcançando também a esfera privada. 
Nesse sentindo, a Convenção de Belém do Pará enfatiza que a violência contra 
a mulher é uma grave violação aos direitos humanos e aos direitos e garantias a 
dignidade humana. Logo, a partir dessa afirmação, a violência obstétrica se 
enquadra como uma forma de violência contra a mulher. 
A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, no seu artigo 5°, 
que trata do princípio da Autonomia e Responsabilidade Individual, vêm dispor que 
deve ser respeitada a autonomia dos indivíduos para tomar decisões, quando estes 
possam ser responsáveis por essas decisões e elas respeitem a autonomia dos 
demais. Já o seu artigo 6°, que trata do princípio do Consentimento, diz que 
qualquer intervenção médica preventiva, diagnosticada e terapêutica só deverá ser 
feita com o consentimento prévio, livre e esclarecido do indivíduo envolvido, 
baseado em informações adequadas. Conforme a rede Parto do Princípio na 
Cartilha de Violência Obstétrica é Violência Contra a Mulher, enfatiza que: 
 
Dessa maneira ao deixar de fornecer informações acerca do estado de 
saúde do bebê e da gestante, e não explicar de forma objetiva e com 
clareza todos os procedimentos, e mais ainda não dar oportunidade para a 
gestante pensar se deseja ou não o procedimento, não respeitando a sua 
autonomia para decidir, configura-se como exemplos de violência 
institucional, ou seja, violência obstétrica. (2014, online) 
 
Portanto, de acordo com o princípio do Consentimento da referida Declaração, 
todas as gestantes têm o direito a receber informações sobre a sua saúde e do seu 
filho, além das informações sobre todos os procedimentos indicados, por meio de 
linguagem bem clara e compreensível. 
 
3.2 NORMATIVAS NACIONAIS 
 
No Brasil, quando se trata do assunto violência obstétrica, o cenário ainda é 
muito deficiente, devido ser um tema pouco conhecido. Pode-se apontar como um 
12 
 
dos motivos, a falta de pesquisas relevantes sobre o assunto, em virtude da 
escassez de material bibliográfico. Muitas mulheres que sofreram ou que sofrem 
esse tipo de violência, se sentem constrangidas e envergonhadas de relatar o 
problema ou até mesmo desconhecem que foram vítimas de violência obstétrica, por 
acreditarem que determinadas práticas são corretas e necessárias, devido a 
confiança estabelecida na equipe médica. Outro fator a ressaltar é falta de uma Lei 
Federal que proteja os direitos das grávidas, desde o momento da revelação da 
gestação até o puerpério. 
Nota-se a existência de lacunas legislativas no que diz respeito à pertinência 
de normas referentes a esse assunto, apesar da recorrência de inúmeros casos em 
hospitais particulares e principalmente nos hospitais públicos. Conforme pesquisa 
realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, 1 em cada 4 mulheres afirma ter 
sofrido violência durante o parto, com cerca de 17% nos hospitais da rede privada, e 
74% nos da rede pública. Para a defesa das mulheres, vítimas desse tipo de 
violência, algumas ONG‘s ou associações de movimentos feministas atuam, nestes 
casos, como por exemplo: a rede Parto do Princípio, Artemis e a Nascer no Brasil. 
Com o objetivo de elaboração de uma Lei específica para o assunto pelo 
Congresso Nacional, o então Deputado Federal Jean Wyllys, criou o projeto de Lei 
n° 7633/2014 que visa a instituir a humanização de assistência à mulher e ao 
neonato durante o ciclo gravídico-puerperal. No mesmo sentido, a então Deputada 
Jô Moraes, também criou um projeto de Lei n° 7.867/2017 que visa medidas de 
proteção contra a violênciaobstétrica e de divulgação de boas práticas para a 
atenção a gravidez, parto, nascimento, abortamento e puerpério. Vale destacar que 
esses dois importantes projetos de lei ainda estão em tramitação na Câmara. 
De maneira legal, o que já está em vigor são legislações genéricas como as 
portarias do Ministério da Saúde: 569/2000 (que institui o Programa de 
Humanização no Pré-natal e Nascimento, no Sistema Único de Saúde), 1.067/2005 
(institui a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal) e 1.459/2011 (institui 
no Sistema Único de Saúde - a Rede Cegonha). Essas portarias empreendidas pelo 
Ministério da Saúde objetivam mais suporte e assistência obstétrica e neonatal às 
parturientes no Brasil. 
Apesar de ainda não haver nada no âmbito federal no Brasil, nos estados 
algumas Leis já estão protegendo as gestantes. Em setembro de 2018, a 
Assembleia Legislativa do Estado do Paraná aprovou o projeto de Lei n° 160/2018 
13 
 
que combate a violência obstétrica e reforça os direitos das gestantes. Já no Estado 
do Pará, especificamente no município de Belém, em abril de 2019 foi iniciado o 
trâmite para a aprovação do projeto de Lei municipal, de autoria da Vereadora 
Nazaré Lima, que dispõe sobre medidas de proteção contra a violência obstétrica e 
de divulgação de boas práticas para atenção a gravidez, parto e puerpério. 
Um detalhe a destacar é que, em muitos países, a preocupação com essas 
práticas vem ocorrendo e muitos já possuem Leis Federais específicas sobre 
violência obstétrica, como é o caso da Venezuela – Lei 38.668/2007 e da Argentina 
– Lei 26.485/2009, ou seja, esses governos reconhecem e previnem a violência 
obstétrica como uma forma de agressão contra a mulher. Nesses dois países, as 
legislações referentes ao conceito de violência obstétrica são bem semelhantes, a 
diferença entre as normas, é que na Venezuela, a Lei possui um conceito sobre as 
consequências ou causalidades nas mulheres que sofrem esse tipo de prática, além 
de ter o delito caracterizado, de acordo com suas respectivas punições, deixando 
sua execução mais efetiva. 
Ao se comparar as legislações entre Brasil e Venezuela, a Lei específica da 
Venezuela, por ser extremamente rigorosa e punitiva, é mais precisa quanto a coibir 
e erradicar a violência obstétrica. De acordo com o Dossiê elaborado pela Rede 
Parto do Princípio (2012, p.49): ―o dispositivo legal venezuelano explicita o que não 
deve fazer, ao profissional da saúde, a uma mulher gestante ou em trabalho de 
parto, sob pena de sofrer as consequências legais determinadas pela lei orgânica‖. 
O Brasil, apesar de aderir a CEDAW e a Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a Convenção de Belém do 
Pará e possuir legislações genéricas, ainda não possui uma Lei Federal. Portanto, 
os casos de violência obstétrica dificilmente são esclarecidos e punidos, 
ressaltando-se também que o conceito de violência obstétrica, dentro do contexto de 
agressões contra a mulher, torna-se imperceptível. 
 
4 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA DA 
MULHER. 
 
De acordo com a cartilha Violência Obstétrica é Violência Contra a Mulher, 
escrita pela rede Parto do Princípio: 
14 
 
Violência obstétrica pode-se definir como uma violência institucional, que é 
cometida contra a mulher grávida e sua família em serviços de saúde 
durante a assistência ao pré-natal, parto, pós-parto, cesárea e abortamento. 
Podendo ser verbal, física, psicológica ou mesmo sexual e se expressa de 
diversas maneiras explícitas ou velada. Como outras formas de violência 
contra a mulher, a violência obstétrica é fortemente condicionada por 
preconceitos de gêneros. (2014, online) 
 
Outros autores Zanardo, Uribe, Nadal & Habigzang, em seu artigo Violência 
Obstétrica No Brasil: Uma Revisão Narrativa (2017) conceituam o tema como uma 
violência psicológica, que se caracteriza por ironias, ameaças e coerção, além das 
violências físicas, através da manipulação e também a exposição desnecessária do 
corpo da gestante. Além disso, os autores ressaltam outras condutas como, omitir 
ou mentir para a paciente sobre seu estado de saúde e do bebê e a não informação 
clara e objetiva dos motivos que levaram a indução de uma cesariana e dos outros 
procedimentos necessários ou não, realizados no momento que antecede o parto, 
na hora do parto e no pós-parto. 
Dessa maneira, os autores entendem como violência obstétrica, o uso 
excessivo de medicamentos e certas intervenções no momento do parto, realizando 
práticas consideradas dolorosas e humilhantes, sem qualquer tipo de embasamento 
científico como por exemplos: raspagem de pelos pubianos, episiotomias, ponto do 
marido, fórceps, realização de enema, indução ao trabalho de parto e a proibição do 
acompanhante escolhido pela gestante. 
De forma geral, pode-se dizer que a violência obstétrica é uma maneira de 
agressão contra a mulher, devido a condição de gênero, em que há violação dos 
seus direitos. Os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, anestesistas e etc.) 
se ‗apropriam‘ do corpo da gestante, realizando um tratamento totalmente 
desumano, de forma técnica, mecanizada, sem qualquer empatia. Em muitos casos, 
há certo excesso de medicações e de patologização dos processos naturais do 
corpo feminino, em que a gestante perde completamente a sua autonomia e a 
capacidade de decidir de forma livre sobre seu corpo, sua sexualidade, o que pode 
impactar negativamente a vida dessa mulher para sempre. 
 
4.1 IDENTIFICANDO PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 
 
Entende-se que a violência obstétrica, como já mencionada, possui um vasto 
campo de expressões e intervenções consideradas violentas, que são realizadas na 
15 
 
mulher, durante o período da gestação até o puerpério, inclusive nas situações de 
aborto. Logo, é de suma importância a identificação de algumas dessas práticas 
consideradas e entendidas como violência obstétrica, cuja consequência maior são 
danos físicos, psíquicos e sexuais. 
Durante a gestação, a violência obstétrica pode ser caracterizada por: negar 
atendimento à mulher ou ainda impor alguma dificuldade ao atendimento em postos 
de saúde, onde é realizado o acompanhamento pré-natal; qualquer espécie de 
comentários constrangedores à mulher e relacionados à cor, raça, etnia, idade, 
escolaridade, religião ou crença, condição econômica, estado civil ou situação 
conjugal, orientação sexual, número de filhos, etc; ofender, humilhar, xingar a mulher 
ou sua família; negligenciar atendimento de qualidade; agendar cesárea, sem 
recomendação baseada em evidências científicas, por apenas atender aos 
interesses e conveniência do médico. (SÃO PAULO, 2013, online). 
Ao longo da gestação, a prática mais comum, considerada violência obstétrica 
é a recusa de admissão em hospital ou maternidade, o que gera a peregrinação por 
leito, tornando o atendimento desumanizador e degradante. Essa peregrinação, 
conforme o dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, em 2012, é uma das 
principais causas da mortalidade materna, divergindo com a Resolução n°36, de 3 
de junho de 2008 da ANVISA, que deixa claro, se a mulher precisar de transferência, 
deverá lhe ser assegurada vaga no serviço de referência, feita em transporte 
adequado. 
 O impedimento da entrada do acompanhante, escolhido pela grávida, fere os 
dispostos da Lei n° 8.080/90, para fins de aplicação da Lei Federal 11.108/2005, que 
garante as parturientes, o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de 
parto, parto e pós-parto. Desde 1985, a Organização Mundial de Saúde (OMS), 
recomenda que a mulher tenha acompanhante, pois a presença de uma pessoaescolhida para acompanhar o parto, apresenta benefícios para a mãe e para o bebê. 
Infelizmente, esta Lei não possui nenhum artigo de punição, no caso de haver 
descumprimento da mesma, e assim, a restrição na escolha do acompanhante pela 
parturiente e no tempo de permanência deste junto à grávida, ainda são muito 
recorrentes no cenário brasileiro, com alguns argumentos comuns, como: ―Não tem 
estrutura, aqui é SUS, não tem luxo não, acompanhante só para quem paga o 
quarto‖. (Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, 2012). 
16 
 
 A aceleração do parto, com o uso do soro com ocitocina, por conveniência 
médica, que causa um rompimento artificial da bolsa, além do procedimento manual 
do colo para acelerar a dilatação, são procedimentos que desconsideram a fisiologia 
do parto e do nascimento, colocando a mãe e o bebê em risco. 
 Os exames sucessivos de toque, chamados também de manipulação vaginal, 
são praticados por diferentes profissionais e estudantes de medicina, durante o 
processo do parto normal, a fim de se verificar a dilatação do colo do útero. Todavia, 
por despreparo da equipe, na maioria das vezes, estes procedimentos são 
realizados sem esclarecimento ou o consentimento da gestante. O fato é que essa 
prática causa desconforto, dor e pode prejudicar a dinâmica do trabalho de parto, 
além de provocar na gestante, intimidação e vergonha, pois, expõe seus órgãos 
sexuais para vários profissionais desconhecidos. 
 A episiotomia, chamada também de mutilação genital ou pique, é um 
procedimento realizado de forma rotineira em partos normais, sem o devido respaldo 
científico. A episiotomia é uma cirurgia realizada na vulva, em que há um corte na 
entrada da vagina até o ânus, com tesoura ou bisturi, sendo que algumas vezes é 
realizada sem anestesia. Tal procedimento causa lacerações nas estruturas do 
períneo, que são responsáveis pela sustentação de alguns órgãos, provocando, por 
exemplo, continência urinária e fecal. 
Observa-se que a episiotomia, no Brasil, é a única forma de cirurgia realizada 
sem o devido consentimento da paciente; sem informações sobre a necessidade de 
realização; os riscos (muita dor, infecção, hematomas, maior volume de 
sangramento, dor nas relações sexuais); os benefícios e os efeitos adversos que 
podem causar. Portanto, essa é uma prática, realizada no país, que vai de encontro 
as normas da medicina, baseada em evidências científicas. 
Após este corte, é realizado um ponto extra, uma sutura, chamada de ponto do 
marido, cujo objetivo é fechar mais a vagina para poder preservar o prazer 
masculino nas relações sexuais, após o parto. A prática é considerada 
completamente invasiva, dolorosa e machista, além de deixar na mulher, uma 
cicatriz grande e desproporcional. 
A manobra de Kristeller é realizada com as duas mãos, que imprimem força, 
como se fosse um empurrão na barriga da gestante em direção à pelve. Nessa 
prática, em alguns casos, o profissional da saúde precisa subir por cima da gestante 
para forçar ainda mais a barriga, como se espremesse o ventre com o peso do seu 
17 
 
corpo sobre as mãos, braço e o antebraço. (Dossiê elaborado pela Rede Parto do 
Princípio, 2012). 
Diversos estudos revelam complicações gravíssimas em decorrência desse 
procedimento, entre elas, descolamento da placenta, trauma das vísceras 
abdominais e do útero. Essa prática, quando realizada no parto cesariano, causa 
muito desconforto na gestante, pois apesar da anestesia, a mulher sente toda a 
pressão da manobra de Kristeller e, caso seja o parto normal, a gestante sentirá 
muita dor e desconforto. 
O fórceps é o nome dado a um instrumento que se assemelha ao tenaz e 
passou a ser utilizado em partos normais ou cesáreas, quando há dificuldade de 
descida do bebê e em natimortos. Esse instrumento é introduzido no canal da mãe 
com a finalidade de puxar o bebê, desde a saída do útero até o completo 
nascimento, daí o motivo da expressão bebê nascidos a ferro. Por se tratar de um 
instrumento de metal, o fórceps pode causar lesões na parede do canal vaginal; dor 
perineal no pós-parto; incontinência urinária; lesões e hematomas no rosto ou 
cabeça do bebê e em alguns casos, óbito da criança por traumatismo craniano. 
Conforme evidências científicas recentes, a necessidade de um parto instrumental é 
muito baixa e de acordo com as diretrizes e recomendações da OMS, a utilização 
desse tipo de instrumento deve diminuir cada vez mais. (Dossiê elaborado pela 
Rede Parto do Princípio, 2012). 
As cesáreas, sem indicação clínica, são as chamadas cirurgias eletivas que 
podem ser agendadas (por comodidade), ou seja, os médicos marcam a cirurgia 
com antecedência, quando a mulher está prestes a completar 37 semanas. Porém, 
pela falta de informação, as mulheres se deixam dissuadir a agendar o 
procedimento, submetendo-se a uma cirurgia de grande porte, com riscos para a 
mãe e o bebê e em alguns casos, sem o consentimento da mulher. Essa prática 
também pode acontecer antes mesmo do início do trabalho de parto ou pode ser 
realizada durante o trabalho de parto, sem caracterizar urgência ou emergência. 
De acordo com a Rede Parto do Princípio, em 2010, o índice de cesáreas no 
setor suplementar alcançou 82% dos partos, apesar da OMS recomendar uma taxa 
entre 10% até 15% de cesáreas. Observa-se que elas vêm ocorrendo com mais 
frequência em países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, como é o 
caso do Brasil. De forma geral, a cesárea não é contraindicada quando o trabalho de 
parto não for favorável, ou quando não é provável que o parto vaginal seja realizado 
18 
 
com segurança, com intervalo de tempo necessário e seguro, a fim de prevenir o 
desenvolvimento de morbidade fetal e/ou materna. 
Importante salientar que, conforme a Resolução n° 2.144/16 do Conselho 
Federal de Medicina (CFM), o parto vaginal ou cesariano será realizado por escolha 
da parturiente, a partir da 39ª semana de gestação, levando em consideração todas 
as informações recebidas pela equipe médica, sobre benefícios e riscos, tendo em 
vista a garantia de segurança do bebê e da mãe. (CFM, 2016). 
Outra restrição está na posição do parto, pois, muitas mulheres são obrigadas 
a ficar na posição horizontal, ou seja, com o abdômen para cima e, o seu direito de 
se movimentar ou ficar em posição mais confortável para o procedimento do parto 
normal é violado. Essa posição prejudica o desempenho do parto, além de ser 
bastante desconfortável, pois pode dificultar a oxigenação do bebê, conforme a OMS 
e a RDC n° 36 de 2008 da ANVISA. Logo, a parturiente deve ter o direito de ficar na 
posição mais favorável e confortável durante o procedimento. 
A violência verbal e psicológica decorre da utilização de expressões totalmente 
degradantes a mulher gestante, por parte dos profissionais, que venha causar 
sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade, medo, insegurança, perda de 
integridade, instabilidade emocional, 
 Para Silva, Marcelino, Rodrigues, Toro e Shimo, são verbalizações violentas 
como exemplos: 
Se não fizer força [...] seu bebê vai morrer e a culpa será sua! Fica quieta 
senão vai doer mais! É melhor seu marido não assistir o parto, senão ele 
ficará com nojo de você! Na hora de fazer foi bom né [...] agora aguenta! 
Mulher é um bicho sem vergonha mesmo [...] sofre e grita e no próximo 
ano tá aqui de novo!. (2014, p.723). 
 
Percebe-se o quanto essas e outras expressões são desrespeitosas com a 
gestante, demonstrando total descaso, incompetência e ausência de empatia dos 
profissionais da área da saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, anestesistas. 
Outro fator que viola os direitos da gestante é impedir ou dificultar o 
aleitamento materno, nas primeirashoras de vida do bebê, afastando o recém-
nascido de sua mãe e introduzindo mamadeiras e chupetas. O Programa Nacional 
de Incentivo ao Aleitamento Materno é bastante divulgado e, muitas vezes, o desejo 
da mãe de amamentar o bebê, logo ao nascer, não é respeitado. Em alguns casos, 
a mãe é separada do seu filho, por várias horas após o nascimento, sem que haja 
19 
 
alguma justificativa plausível, nem impeditivo clínico para determinada ação, 
dificultando mais ainda o início da amamentação exclusiva. 
Além desses, há outros procedimentos considerados dolorosos, vexatórios, 
desnecessários, por exemplo: realização de enema (lavagem intestinal), raspagem 
dos pelos pubianos, posição ginecológica de portas abertas, privação de alimentos e 
água, imobilização de braço e pernas, além da vestimenta utilizada pela gestante 
para a realização da cirurgia, que possui uma abertura atrás. 
Nos casos em que a gestante sofreu aborto, a violência obstétrica caracteriza-
se por: negativa ou demora no atendimento a mulher em situação de abortamento; 
questionamento a mulher quanto a causa do aborto (se foi intencional ou não); 
realização de procedimentos predominantemente invasivos, sem explicação, 
consentimento e, frequentemente, sem anestesia; ameaças, acusação e 
culpabilização da mulher; coação com a finalidade de confissão e denúncia. (SÃO 
PAULO, 2013, online). 
Percebe-se que muito desses procedimentos são realizados a partir de uma 
opinião totalmente pessoal dos profissionais, que praticam essas condutas nas 
maternidades, mesmo com as evidências científicas que demostram os prejuízos 
que esses procedimentos causam na vida e na saúde da mãe e do bebê. 
Esses tipos de condutas são completamente desonrosos com quem está 
vivendo um momento único e inesquecível na vida, em que a mulher deveria ser a 
protagonista do seu parto e não as intervenções médicas terem o papel 
predominante. O que se espera de toda a estrutura hospitalar é que a parturiente 
seja sempre bem tratada, acolhida, respeitada, que toda a equipe médica demonstre 
empatia pelo momento que ela está vivenciando, tornando o parto mais natural e 
humanizado possível. Quando a mulher é tratada de forma indigna, a parturiente 
apresenta mais fragilidade e vulnerabilidade em função do seu estado, o que pode 
prejudicar, ainda mais, sua saúde psíquica e até mesmo as condições para o parto, 
quer seja cesárea ou normal. Isso configura uma violação dos direitos sexuais e 
reprodutivos da mulher, além de agredir a integridade corporal feminina e o direito a 
dignidade da pessoa humana. 
 
4.2 O NOVO TIPO DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 
 
Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa 
para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não 
20 
 
são permanentes. Você terá que manter-se vigilantes durante toda a sua 
vida. (BEAUVOIR, Apud, Consulta Popular, 2016, online). 
 
A frase da filósofa Simone de Beauvoir é um grande alerta sobre os direitos 
das mulheres, pois no fatídico dia 03 de maio de 2019, o Ministério da Saúde emitiu 
um despacho (posicionamento orquestrado a pedido de entidades médicas, na qual 
o Ministério segue os pareceres destas entidades) em que defende o banimento de 
políticas públicas e de normas com uso da palavra ‗violência obstétrica‘, por 
acharem o termo pejorativo. 
O que causa uma grande comoção de especialistas e grupos de defesa das 
mulheres é que essa decisão é um grande absurdo, pois vai de encontro com todas 
as normas defendidas pela OMS e do próprio Ministério da Saúde, em que há 
programas e leis genéricas como já mencionado, que visam a garantia de 
atendimento digno, de qualidade e com respeito no momento de todo o processo do 
gestar até o nascer. 
De forma extremamente desrespeitosa, o posicionamento oficial do Ministério é 
que a expressão violência obstétrica tem conotação inadequada, não agrega valor e 
prejudica a busca do cuidado humanizado no continuum gestação-parto-puerpério. 
A justificativa é que a definição dessa violência elaborada pela OMS associa a 
intenção de realizar o ato, independentemente do resultado produzido. No despacho 
eles defendem adotar estratégias para abolir o uso da expressão ‗com foco na ética 
e na produção de cuidados em saúde qualificada‘. 
A médica Sônia Lanksy foi uma das coordenadoras regionais da pesquisa 
Nascer no Brasil, da Fiocruz, em que entrevistou mais de 23 mil mulheres sobre a 
assistência ao parto no Brasil. Em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, a 
médica afirma que excluir o uso da palavra soaria como uma forma de censura 
institucional, pois é um termo consolidado na literatura científica e que não há 
sentindo algum aboli-lo. 
Verifica-se, como já foi supracitado, que em países como a Venezuela e a 
Argentina, que já possuem Lei Federal acerca do tema desde 2007, há preocupação 
com essa prática, que reconhecem e previnem a violência obstétrica, como violência 
contra a mulher. Porém de forma insensata, irracional e irresponsável em outra 
entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o relator Ademar Carlos Augusto, que trata 
a definição da palavra violência obstétrica com viés ideológico, afirma: 
 
21 
 
O que a gente percebe é que existe um movimento orquestrado de algumas 
instituições de trazer para o médico obstetra a responsabilidade pela 
situação caótica que está à assistência à gestante. Essa discussão veio 
importada de países socialistas, e o Brasil também adotou. (CANCIAN, 
2019, online). 
 
Dessa forma, o que se percebe é a falta de comprometimento, despreparo, 
desserviço e negligência do atual governo com essas mulheres que sofrem a 
violência obstétrica, pois se há o desejo de melhorar a saúde materna do Brasil, 
precisa-se combinar uma legislação moderna, com boas práticas obstétricas e com 
políticas públicas sérias. Além disso, o que realmente deveria ser projeto de 
despacho é o veto da prática e não simplesmente do termo, pois o correto seria se 
preocuparem em fiscalizar essa prática, promovendo assistência as gestantes, além 
de cursos profissionalizantes para os profissionais da área e uma maior divulgação 
sobre esse tipo de violência. 
Uma sociedade bem informada reconhece que violência obstétrica não é um 
termo pejorativo e que muito menos agride e vincula apenas aos obstetras, pelo 
contrário, envolvem todos os membros da equipe médica, quais sejam: médicos, 
anestesistas, enfermeiros, técnicos em enfermagem, universitários, instrumentador e 
o próprio hospital seja ele público ou particular. Vetar essa expressão, e afirmar que 
há um viés ideológico, causa na gestante um sentimento de abandono, descaso e 
omissão, além de ser um verdadeiro retrocesso em uma temática tão pertinente e 
recorrente que é a violência obstétrica. Assim, esse tipo de discurso deve ser 
combatido e os profissionais que cometem essa violência precisam ser 
responsabilizados. 
 
5 RECURSOS DISPONÍVEIS PARA A MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA 
OBSTÉTRICA 
 
Apesar da falta de uma Lei Federal específica, que efetive o crime de violência 
obstétrica, há no ordenamento jurídico do país, recursos disponíveis em que a 
mulher, que sofreu esse tipo de violência, possui amparo legal por meio da 
Constituição Federal de 1988, do Direito Penal, no Direito Civil e do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA). Dessa forma, o Estado tem o dever de coibir 
qualquer procedimento violento contra as mulheres, que obviamente inclui o dever 
de prevenir, erradicar e punir a violência obstétrica. 
22 
 
5.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
Verifica-se que a Constituição Federal de 1988, também chamada de 
Constituição Cidadã, elenca um rol de direitos, acerca dasgarantias fundamentais 
para o cidadão, ou seja, esses direitos e garantias são aplicáveis as gestantes na 
assistência ao parto. 
Na Constituição encontra-se o princípio da dignidade da pessoa humana, 
previsto no artigo 1°, inciso III, que está acima de qualquer outro princípio, pois é 
algo inerente à condição de ser humano, compreendendo os aspectos da 
individualidade, privacidade e intimidade que devem ser respeitados. Portanto, ferir 
esse princípio significa afrontar o alicerce do sistema normativo brasileiro, ou seja, 
entender que proteger a dignidade da mulher ante aos cuidados obstétricos 
precisam ser garantidos. 
O artigo 5° caput, que trata sobre o direito de igualdade, dispõe que todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, além de garantir a 
inviolabilidade do direito a vida, à igualdade, sendo assim as mulheres são iguais 
aos homens em direitos e em deveres. 
Conforme a nossa Constituição de 1988, nas palavras de Cunha (2012, p. 
696), o direito à vida é o direito legítimo de defender a própria existência e de existir 
com dignidade, a salvo de qualquer violação, tortura ou tratamento desumano ou 
degradante. Dessa forma o direito a vida, envolve o direito a preservação dos 
atributos físicos – psíquicos e espirituais-morais. 
Agredir o corpo humano é um modo de agredir a vida, sendo assim, novamente 
o artigo 5°, inciso III prevê, que: ‗‘ninguém será submetido a tratamento desumano 
ou degradante‘‘ (BRASIL, 1988, online). Esta normativa inclui, desse modo, a 
assistência prestada às mulheres gestantes, no pré e pós-parto, ou seja, é um direito 
da gestante ter sua integridade física preservada e jamais violada. 
Ainda se tratando do artigo 5°, porém no inciso X, há o direito à privacidade, 
em que a mulher, durante o período gestacional, não poderá ter alguns aspectos de 
sua vida divulgados ou invadidos pelos profissionais que estão lhe assistindo, 
abrangendo inclusive o hospital. Assim, a gestante deverá ter sua privacidade 
preservada e, caso não tenha, conforme previsto no inciso, lhe é assegurado o 
direito à indenização por dano material ou moral, decorrente de sua violação. Cunha 
assegura que haja: 
23 
 
Direito à privacidade, que consiste fundamentalmente na faculdade que tem 
cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos na sua vida particular e 
familiar; assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a 
privacidade e intimidade de cada um, e também proibir que sejam 
divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser 
humano. (2012, p. 720) 
 
O artigo 6° preceitua que são direitos sociais a saúde, a proteção a 
maternidade, entre outros, na forma da Constituição, enquanto direitos fundamentais 
e que os direitos sociais têm aplicação imediata conforme o artigo 5° § 1°. O direito à 
saúde é destinado a todos e é dever do Estado garantir, mediante políticas sociais e 
econômicas, a redução do risco de doença e de outros agravos, além de acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e 
recuperação. 
As ações e serviços de saúde são de relevância pública e cabe ao Poder 
Público dispor, nos termos da lei, regulamentação, fiscalização e controle, com base 
respectivamente nos artigos 196 e 197 da Constituição. Logo, entende-se que o 
direito a saúde é um direito fundamental de cunho social e, como espécie de direito 
social, a proteção à maternidade e a infância, que também são direitos 
fundamentais, revelados tanto como natureza de direito previdenciário no artigo 201, 
inciso II, como de direito assistencial no artigo 203, inciso I. 
 
5.2 DIREITO CIVIL 
 
Quando a mulher em situação de pré-natal, parto e pós-parto tiver seu direito 
violado e sofrido algum dano, em decorrência das ações realizadas pelos 
profissionais que lhe estão assistindo neste processo, incluindo o hospital, esta 
poderá recorrer à responsabilidade civil, que pressupõe um ato ilícito, prescrito no 
artigo 186 do CC: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito (BRASIL, 2002, online). Em consequência, de acordo com o artigo 
927 do CC, o autor do dano ficará obrigado a repará-lo. De acordo com Gonçalves, 
 
Ato ilícito é, portanto, fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o 
prejuízo causado. É praticado com infração a um dever de conduta, por 
meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, das quais 
resulta dano para outrem. (2014, p. 493) 
 
24 
 
 E o ilícito, de acordo com sua natureza e grau gera como consequência uma 
sanção que pode ser de natureza punitiva ou ressarcitória, a partir da obrigação, 
surge, como forma de responsabilizar os indivíduos pelas atividades danosas 
provocadas. A responsabilidade civil é evidente quando o dano é ocasionado pela 
lesão de um bem juridicamente tutelado, portanto, haverá reparação do dano 
(patrimonial ou moral) por meio de uma indenização ou compensação. 
 
Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que negou seguimento a 
recurso extraordinário interposto de acórdão, cuja segue transcrita: 
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E 
MORAIS. LUCROS CESSANTES. PARTO NORMAL. EPISIOTOMIA. 
LASCERAÇÃO PERINAL DE 4º GRAU. SUTURA DESCONTROLE NA 
ELIMINAÇÃO DE DEJETOS. INSUCESSO NA TENTATIVA DE 
CORREÇÃO. DANOS EVIDENTES. ERRO GROSSEIRO. IMPERÍCIA. 
NEGLIGÊNCIA. NEXO CAUSAL. CULPA RECONHECIDA. DEVER DE 
INDENIZAR. 1. Responsabilidade do médico: A relação de causalidade 
é verificada em toda ação do requerido, evidente o desencadeamento 
entre o parto, a alta premature e os danos físicos e morais, causando 
situação deplorável à apelante, originada de dilaceração perinal de 4º 
grau. Configurado erro grosseiro, injustificável, com resultado nefasto, 
o qual teve por causa a imprudência e negligência do requerido. Dever 
de indenizar. 
 Danos morais: evidentes, procedimento realizado de forma a técnica, 
causando sofrimento físico e moral, constrangimento, humilhação, angústia, 
impossibilidade de levar uma vida normal, desemprego, alto estresse 
familiar. Procedência. 3. Danos materiais: comprovados através de recibos 
e notas fiscais. Procedência. 4. Pensionamento: paralisação da atividade 
produtiva da vítima, enquanto perdurou o tratamento para reconstrução do 
períneo. Parcial procedência. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO 
APELO. (STF - AI: 810354 RS, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 
Data de Julgamento: 15/12/2010, Data de Publicação: DJe-001 DIVULG 
04/01/2011 PUBLIC 01/02/2011) 
 
A violência obstétrica que decorre da ação, omissão, negligência ou imperícia 
do médico, da sua equipe ou do hospital enseja reparação de danos, porém para a 
sua caracterização é preciso verificar se há culpa, dano e nexo de causalidade. 
Conforme Oliveira, 
o médico que causar danos ou prejuízos ao paciente no exercício de sua 
profissão sejam eles materiais, morais ou estéticos, faz surgir para si à 
obrigação de reparar o dano, a conduta do médico que pode ser por 
ação ou omissão quando danosa pode gerar responsabilidade na esfera 
civil ou penal. (2008, online). 
 
No caso do julgado, é clara a responsabilidade médica, bem como os valores 
fixados para os danos morais e materiais. É indispensável ainda enfatizar que 
poderá haver responsabilização solidária de todos os agentes que estejam ligados 
ao resultado danoso, desde que o elemento culpa esteja presente. 
 
25 
 
5.3 DIREITO PENAL 
 
No Código Penal, há disposições que enquadram sanções para o crime de 
violência obstétrica. Diferente do Código Civil, que há reparação do dano causado, 
no Direito Penal tem a aplicação de uma pena pessoale intransferível à figura do 
violador, conforme a gravidade do ilícito, visando à ordem social além da punição. 
À luz do Direito Penal, os crimes que podem ser imputados aos profissionais de 
saúde, em decorrência da violência obstétrica são: homicídio, lesão corporal, 
aceleração do parto, constrangimento ilegal, ameaça, maus-tratos. 
No homicídio simples, previsto no artigo 121 do CP, que possui pena de 
reclusão de 6 a 20 anos, poderá ocorrer, quando na prática médica, houver 
imprudência e negligência, ou seja, há um dolo eventual, pois, o agente assumiu o 
risco de produzir o ato. 
Na lesão corporal, tipificada no art. 129, do CP, há como exemplo a 
episiotomia, que pode ser enquadrada nesse tipo penal, a manobra de Kristeller ou 
ainda os sucessivos exames de toque praticados por diferentes profissionais, tendo 
em vista que, além da produção do dano no corpo da vítima, uma vez que teve a 
sua integridade física violada, pode acarretar problemas físicos e psicológicos. 
Importante salientar que nesse mesmo artigo, no seu § 1°, que trata sobre lesão 
corporal de natureza grave, há o inciso IV que aborda a aceleração de parto e 
possui pena de reclusão de 1 a 5 anos, de acordo com os saberes de Capez, 
 
Ocorre quando, em decorrência da lesão corporal produzida na gestante, 
antecipa-se o termo final da gravidez, ou seja, o feto é expulso 
precocemente do útero materno. É necessário que o feto nasça com vida e 
sobreviva, pois, do contrário, estará caracterizada a lesão corporal 
gravíssima (§ 2º V — lesão qualificada pelo aborto). (2012, p. 183). 
 
Duas situações que podem prejudicar a saúde da mãe e do bebê, enquadradas 
como práticas na violência obstétrica, são, primeiramente, o uso do soro com 
ocitocina por conveniência médica, que causa um rompimento artificial da bolsa, 
desconsiderando a fisiologia do parto e nascimento. A outra é a cesárea eletiva, sem 
indicação clínica, apenas por conveniência médica, marcada antes da 39ª semana. 
Nos casos em que a gestante é constrangida e obrigada a aderir práticas que 
não concorda ou não tenha a informação correta, repassada pelo médico ou sua 
equipe, tem como exemplos a escolha do tipo de parto e da posição mais favorável 
26 
 
para a mulher dar à luz, além do uso de fórceps. Essas situações podem fazer 
referências ao tipo penal do artigo 146 do CP, que diz: ―Constranger alguém, 
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer 
outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o 
que ela não manda‖, caberá pena de detenção de três meses a um ano, ou multa. 
Caso a gestante sofra ameaças, poderá valer-se do artigo 147 do CP, pois a 
ameaça, dentro dos casos de violência obstétrica, visa a intimidação de forma que a 
gestante se sinta amedrontada, mediante argumentos de causar-lhe mal injusto e 
grave. 
No caso de a gestante sofrer maus-tratos, pode-se valer do artigo 146 do CP, 
que infere que se a gestante sofreu esse tipo de conduta, como privação de alimento 
e água por longo período, mesmo após o parto, o profissional da saúde ou 
assistentes podem sofrer pena de detenção de 2 meses a 1 ano, ou multa. 
 
5.4 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) 
 
A Lei n° 8.069/1990 que dispõe sobre o ECA, demonstra uma preocupação do 
legislador em garantir atenção à gestante, parturiente. Nos artigos 7° e 8° elencam 
como direito fundamental da criança e do adolescente proteção à vida e à saúde 
mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência (BRASIL, 
1990, online). Efetivar esses direitos perpassa pelo atendimento a gestante, desde o 
gestar, nascer e até o puerpério, inclusive propiciando, se for o caso, apoio alimentar 
à gestante e à nutriz que dele necessitarem. O artigo 8° caput da Lei afirma que: 
 
É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas 
de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição 
adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e 
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral do Sistema único de 
saúde. (BRASIL, 1990, online) 
 
Interessante frisar, que o legislador nos parágrafos 4, 6, 7, 8 referente ao artigo 
8°, salienta que é do poder público o dever de proporcionar assistência psicológica à 
gestante, durante todo o período gestacional até o puerpério. O artigo ainda aborda 
que a parturiente tem direito a um acompanhante de sua escolha, além de receber 
orientações sobre o aleitamento materno, alimentação complementar saudável e 
27 
 
crescimento e desenvolvimento infantil; assegura, também, o direito da gestante ao 
acompanhamento saudável durante toda a gestação e a ter um parto cuidadoso e, 
que a cesariana e as outras intervenções sejam realizadas por motivos médicos. 
 Maciel ensina que: 
 
Trata-se de mais uma ferramenta do sistema de garantias cujo paradigma é 
a doutrina da proteção integral. Em uma sociedade cujo pilar constitucional 
é o princípio da dignidade da pessoa humana, não se mostrava mais 
razoável, ou mesmo tolerável, que um ser humano já concebido, mais em 
risco social ainda na sua formação gestacional, ficasse desamparado e no 
aguardo do seu nascimento para, só então, ser considerado como pessoa. 
(2015, online) 
 
Com isso, percebe-se que o ECA reconhece direitos que devem ser exercidos 
antes mesmo do nascimento, assegurando saúde para as crianças. Portanto, 
efetivar esses direitos e monitorar a saúde da gestante e do feto é imprescindíveis 
para melhorar o atendimento as mulheres durante o período gestacional. 
 
6 CONCLUSÃO 
 
Baseado nas questões expostas ao longo do trabalho, a partir de um estudo 
aprofundado sobre o tema violência obstétrica, observa-se que essa violência se 
expressa de forma silenciosa, omissa, até mesmo invisível. Além disso, viola os 
direitos das mulheres grávidas, que incluem a perda de sua autonomia e a decisão 
sobre seu próprio corpo. 
Observa-se que no século XII até meados XIX, a gestante tinha assistência das 
parteiras, os homens não tinham nenhuma participação do parto, ou seja, o 
processo do gestar era mais humanizado, em que a mulher era a protagonista e 
tinha seus direitos e garantias respeitados. 
A fim de eliminar a discriminação contra as mulheres, a Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher foi aprovada pela 
ONU e ratificada pelo Brasil, no ano de 1984 e se preocupa em assegurar a 
igualdade, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. A Convenção de Belém 
do Pará gera um grande progresso internacional dos direitos das mulheres, 
ratificada pelo Brasil em 1995. Essas duas Convenções são de extrema importância 
para os direitos das mulheres, pois tentam combater, erradicar, punir, prevenir, 
proteger e descriminalizar todos os tipos de violência contra a mulher, enquadrando-
se, também, a violência obstétrica. 
28 
 
Nesse sentido, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos se 
respalda no princípio da Autonomia, da Responsabilidade Individual, e do 
Consentimento, para garantir as gestantes, o direito de receber informações, sobre 
sua saúde e do seu filho, informações sofre os procedimentos indicados, além de 
ser respeitada sua autonomia para tomar suas próprias decisões e serem 
responsáveis por elas. 
Por ser um tema deficiente no cenário brasileiro e pouco conhecido, constatou-
se que no Brasil há várias lacunas às normas referentes a essa temática, apesar dos 
inúmeros casos recorrentes em hospitais públicos e particulares. Espera-se que os 
projetos de leis, mencionados no decorrer daseção, sejam aprovados o quanto 
antes e que, as legislações genéricas sejam melhor fiscalizadas, possibilitando, cada 
vez mais, suporte e assistência a mulher que sofre violência obstétrica. Vale 
ressaltar que Leis Federais, sobre o tema, dos países como Argentina e Venezuela, 
podem servir como fonte de inspiração. 
Ao se identificar o conceito e as práticas de violência obstétricas, percebe-se o 
quanto os direitos e garantias das gestantes não são respeitados, e as práticas 
realizadas são extremamente desumanas, algumas sem embasamento científico. 
Apesar das recomendações da OMS, das Convenções ratificadas pelo Brasil e suas 
próprias legislações genéricas, Resoluções da ANVISA e do Ministério da Saúde, 
este que infelizmente contraria toda uma literatura científica, ao querer adotar um 
posicionamento de extrema irresponsabilidade ao querer vetar o uso da palavra 
Violência Obstétrica. 
Espera-se que o Ministério da Saúde não vete a expressão e sim, extinga a 
prática, garantindo à todas as gestantes, amparo e assistência, por meio de políticas 
públicas que sejam propagadas em todo território nacional. Os hospitais e os 
profissionais da área da saúde precisam ser melhor fiscalizados, pois possuem 
conhecimento da existência dessas práticas e as cometem sem qualquer justificativa 
plausível, sem medo de serem denunciados e punidos na forma da lei. 
Ressalta-se que, apesar de no país faltar uma Lei Federal específica que 
efetive o crime de violência obstétrica, há no ordenamento jurídico, recursos 
disponíveis em que a mulher, vítima de tais agressões, possui amparo legal por 
meio da Constituição Federal de 1989, além de normatizações no Direito Civil, no 
Direito Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
29 
 
Por fim, cabe salientar que o Estado tem o dever de coibir qualquer forma de 
violência contra as mulheres, que obviamente inclui o dever de prevenir, erradicar e 
punir a violência obstétrica. O que se espera é que essa agressão seja reconhecida 
como de gênero e se faça necessário, conscientizar a população em geral, acerca 
dos procedimentos realizados na hora do parto cesárea e normal, possibilitando às 
parturientes reconhecer e pleitear seus direitos, diminuindo os casos de violência 
obstétrica. Torna-se necessário oferecer aos profissionais de saúde, capacitação 
para uma visão mais social e humanística do momento do parto, além da criação de 
uma Lei Federal específica que assegure e defina todos os direitos e garantias da 
gestante e do bebê, com objetivo de tornar o momento do parto uno, humanizado e 
afetivo. 
Para denunciar a violência obstétrica, a mulher pode procurar o Ministério 
Público Federal e o Estadual, a Defensoria Pública do seu Estado e a delegacia da 
mulher independentemente se utilizou o serviço público ou privado. Pode-se também 
entrar em contato pelo telefone 180 (violência contra a mulher) ou para o 136 
(disque saúde), os profissionais da área da saúde podem também ser denunciados 
no Comitê de Ética da instituição a qual trabalham e nos conselhos de classe da 
categoria. Exigir sempre a cópia do prontuário da paciente junto à instituição, onde 
foi realizado o parto, pois está documentação pertence a ela e ajudará a comprovar 
os fatos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANVISA. Resolução nº 36, de 3 de junho de 2008. Disponível em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/res0036_03_06_2008_rep.ht
ml. Acesso em: 01.03.2019. 
ARGENTINA. Ley n° 26.485, de 1 de abril de 2009. Ley de proteccíon integral para 
prevenir, sancionar y erradicar la violência contra las mujeres em los âmbitos em que 
desarrollen sus relaciones interpersonales. Disponível em: 
https://www.oas.org/dil/esp/Ley_de_Proteccion_Integral_de_Mujeres_Argentina.pdf. 
Acesso em: 01.03.2019 
 
BARBOZA, Luciana Pereira; MOTA, Alessivânia. Violência Obstétrica: vivências de 
sofrimento entre gestantes do Brasil. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 
Salvador, v.5, n.1, p. 119–129,2016. Disponível em: 
https://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/article/view/847. Acesso em: 
20.02.2019. 
 
30 
 
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 
15.05.2019 
 
BRASIL. Decreto n° 4.377, de 13 de setembro de 2002. Promulga a convenção 
sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, de 1979, e 
revoga o decreto no 89.460, de 20 de março de 1984. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4377.htm. Acesso em: 
27.02.2019. 
 
BRASIL. Decreto n° 1.973, de 1° de agosto de 1996. Promulga a convenção 
interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, concluída 
em belém do pará, em 9 de junho de 1994. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/D1973.htm. Acesso em: 
27.02.2019. 
 
BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, parte 
especial. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 16.05.2019 
 
BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil, dos atos ilícitos. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso 
em: 15.05.2019. 
 
BRASIL. Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996. Regula o § 7º do art. 226 da 
constituição federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá 
outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9263.htm. Acesso em: 27.02.2019. 
 
BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e 
do adolescente e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 17.05.2019 
 
BRASIL. Lei n° 11.108, de 07 de abril de 2005. Altera a lei no 8.080, de 19 de 
setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de 
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do 
sistema único de saúde - sus. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11108.htm. Acesso em: 
28.02.2019. 
 
BRASIL. Projeto de Lei n° 7633/2014. Dispõe sobre a humanização da assistência 
à mulher e ao nenonato durante o ciclo gravídico-puerperal e dá outras providências. 
Disponível em: 
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1257785. 
Acesso em: 29.02.2019 
 
BRASIL. Projeto de Lei n° 7.867/2017. Dispõe sobre medidas de proteção contra a 
violência obstétrica e de divulgação de boas práticas para a atenção à gravidez, 
parto, nascimento, abortamento e puerpério. Acesso em: 28.02.2019 
 
31 
 
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento 810.354 – RS, rel. Min. 
Ricardo Lewandowski, Brasília, DJ: 04/01/2011. Disponível em: 
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18006554/agravo-de-instrumento-ai-
810354-rs-stf. Acesso em: 15.05.2019 
 
BRASIL. Ministério Da Saúde. Despacho, de 03 de maio de 2019. Disponível em: 
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2019/5/art20190510-10.pdf. Acesso em: 
05.05.2019. 
 
BRASIL. Ministério Da Saúde. Portaria nº 569, de 1º de junho de 2000. Disponível 
em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2000/prt0569_01_06_2000_rep.ht
ml. Acesso em: 23.02.2019. 
 
BRASIL. Ministério Da Saúde. Portaria nº 1.067, de 4 de julho de 2005. Disponível 
em:http://www.lex.com.br/doc_395287_PORTARIA_N_1067_DE_4_DE_JULHO_DE
_2005.aspx. Acesso em: 23.02.2019. 
BRASIL. Ministério Da Saúde. Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. 
Disponível em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html. 
Acesso em: 23.02.2019. 
BELÉM. Projeto de Lei n° 613/2019. Dispõe sobremedidas de proteção contra a 
violência obstétrica e de divulgação de boas práticas para a atenção à gravidez, 
parto, nascimento, abortamento e puerpério. Destinatário: Mariana Dias de Carvalho. 
[S.I.], 17.05.2019. 1. e-mail. 
 
CAPEZ, Fernando. Das lesões corporais. Curso de direito penal, parte especial: 
arts. 121 a 212, São Paulo, ed. 12, v. 2 p. 183, 2012. 
 
CANCIAN, Natália. Ministério da saúde veta uso do termo 'violência obstétrica': 
orientação causa reação entre especialistas e grupos de defesa das mulheres. 
Folha de S. Paulo, Brasília, 2019. Disponível em: 
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/05/ministerio-da-saude-veta-uso-do-
termo-violencia-obstetrica.shtml. Acesso em: 07.05.2019 
 
CONVENÇÃO sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra 
as mulheres. Disponível em: http://plataformamulheres.org.pt/docs/PPDM-CEDAW-
pt.pdf. Acesso em: 26.02.2019. 
 
CONVENÇÃO interamericana para prevenir, punir, erradicar a violência contra 
a mulher. Convenção de Belém do Pará. Disponível em: 
http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm. Acesso em: 
26.02.2019. 
 
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n° 2.144/16. Disponível em: 
https://portal.cfm.org.br/images/stories/pdf/res21442016.pdf. Acesso em: 01.03.2019 
 
CONSULTA POPULAR. Contexto da crise e o impacto para a vida das mulheres 
trabalhadoras, 2018. Disponível em: 
32 
 
http://www.consultapopular.org.br/noticia/contexto-da-crise-e-o-impacto-para-vida-
das-mulheres-trabalhadoras. Acesso em: 09/05/2019. 
 
DINIZ, Simone grilo; SALGADO, Heloisa de oliveira; ANDREZZO, Halana Faria de 
Aguiar. Et al. Violência obstétrica como questão para a saúde pública no brasil: 
origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua 
prevenção . Journal of Human Growth and Development, São Paulo, v.25, n. 03, 
2015 Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12822015000300019&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 01.03.2019. 
 
DINIZ, Simone grilo diniz. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos 
sentidos de um movimento. Ciência & Saúde Coletiva, São Paulo, v.10, n. 03, p 
627-637, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n3/a19v10n3.pdf. 
Acesso em: 20.02.2019. 
 
FIOCRUZ. Nascer no brasil: pesquisa revela número excessivo de cesarianas, 
2014. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/nascer-no-brasil-pesquisa-
revela-numero-excessivo-de-cesarianas. Acesso em: 20.02.2019 
 
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Violência no parto: na hora de fazer não gritou, 
2013. Disponível em: https://fpabramo.org.br/2013/03/25/violencia-no-parto-na-hora-
de-fazer-nao-gritou/. Acesso em: 20.02.2019 
 
GOLÇALVES, Carlos roberto. Dos atos ilícitos. Direito Civil Brasileiro, parte geral, 
São Paulo, ed.12, v. 1, p. 493, 2014. 
 
GOVERNO DO BRASIL. Conheça o programa nacional de incentivo ao 
aleitamento materno: país conta com uma das mais eficientes políticas de 
aleitamento materno do mundo, 2017. Disponível em: 
http://www.brasil.gov.br/noticias/educacao-e-ciencia/2010/12/programa-nacional-de-
incentivo-ao-aleitamento-materno. Acesso em: 24.03.2019 
 
JR., Dirley da cunha. Dos direitos individuais e coletivos. Curso de Direito 
Constitucional, Salvador, ed. 6, v. 2 p. 695 – 720, 2012. 
 
MACIEL, Kátia regina ferreira lobato andrade. Direito a saúde. Curso de Direito da 
Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos, São Paulo, ed. 8, 2015. 
 
OMS. Declaração da oms sobre taxas de cesáreas. Os esforços devem garantir 
que cesáreas sejam feitas nos casos em que são necessárias, em vez de buscar 
atingir uma taxa específica de cesáreas. Disponível em: 
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/161442/WHO_RHR_15.02_por.pdf;js
essionid=449D5572822637CD4FCC24FF681B3C04?sequence=3. Acesso em: 
26.02.2019 
 
OLIVEIRA, Daniele ulguim. A responsabilidade civil por erro médico. Âmbito 
Jurídico, Rio Grande, XI, n. 59, 2008. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3580. Acesso em: 
10.05.2019. 
33 
 
PIOVESAN, Flávia. Os direitos humanos da mulher na ordem internacional. Temas 
de Direitos Humanos, São Paulo, ed. 11, v.11, p. 434-440, 2018. 
 
SANTA CATARINA. Lei n° 17.097/2017. Dispõe sobre a implantação de medidas de 
informação e proteção à gestante e parturiente contra a violência obstétrica no 
Estado de Santa Catarina. Disponível em: 
http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2017/17097_2017_lei.html. Acesso em: 05.05.2019 
 
SAUAIA, Artenira da silva e silva; SERRA, maiane Cibele de mesquita. Uma dor 
além do parto: violência obstétrica em foco. Revista de Direitos Humanos e 
Efetividade. Brasília, v.2, n. 01, p. 128 – 147, 2016. Disponível em: 
https://indexlaw.org/index.php/revistadhe/article/view/1076/1072. Acesso em: 
01/05/2019 
 
SEIBERT, Sabrina lins; BARBOSA, Jéssica louise da silva; SANTOS, Joares maia 
dos. Et. Medicalização x humanização: o cuidado ao parto na história. Revista de 
Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v.13, n. 02,p. 245-251, 2005. Disponível em: 
http://www.facenf.uerj.br/v13n2/v13n2a16.pdf Acesso em: 20.02.2019. 
 
SILVA, Michelle gonçalves da; MARCELINO, Michelle carreira; RODRIGUES, Lívia 
shélida pinheiro rodrigues. Et al. Violência obstétrica na visão de enfermeiras 
obstetras. Revista Rene, São Paulo, v. 15, n. 04, p. 720-728, 2014. Disponível em: 
http://periodicos.ufc.br/rene/article/view/1121. Acesso em: 02.03.2019. 
 
UNESCO. Declaração universal sobre bioética e direitos humanos. Disponível 
em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_univ_bioetica_dir_hum.pdf. 
Acesso em: 26.02.2019. 
 
VENEZUELA. Ley n° 38.668, de 23 de abril de 2007. Ley orgánica sobre el derecho 
de las mujeres a una vida libre de violência. Disponível em: 
https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/BDL/2008/6604.pdf. Acesso em: 
01.03.2019 
 
Violência Obstétrica: ‗‘parirás com dor‘‘. Dossiê elaborado pela rede parto do 
princípio para CPMI da violência contra as mulheres. 2012. Disponível em: 
https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.p
df. Acesso em: 01.03.2019. 
 
Violência obstétrica é violência contra a mulher. Mulheres em luta pela abolição da 
violência obstétrica. 2014. Disponível em: 
http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do-
nascer/assets/pdf/controversias/Violencia-obstetrica-e-violencia-contra-a-mulher.pdf. 
Acesso em: 01/03/2019. 
 
Violência Obstétrica: você sabe o que é?. Núcleo especializado de promoção e 
defesa dos direitos da mulher e associação artemis, Defensoria Pública do 
Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: 
http://www.sentidosdonascer.org/wordpress/wp-content/themes/sentidos-do-
nascer/assets/pdf/controversias/Violencia-obstetrica.pdf. Acesso em: 01.03.2019 
34 
 
 
ZANARDO, Gabriela lemos de pinho; URIBE, Magaly Calderón; NADAL, Ana 
hertzog ramos de. Et. Violência obstétrica no brasil: uma revisão narrativa. 
Psicologia & Saúde, Porto Alegre, v.29, n. 01, p. 01-11, 2017. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-
71822017000100218&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 23.02.2019.

Outros materiais