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FACULDADE IDEAL – FACI/WYDEN CURSO DE DIREITO MARIANA DIAS DE CARVALHO VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão BELÉM – PA 2019 MARIANA DIAS DE CARVALHO VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado à Faculdade Ideal – FACI/WYDEN, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharela em Direito. Orientadora Prof. M.a. Shelley Macias Primo Alcolumbre. BELÉM – PA 2019 © Mariana Dias de Carvalho, 2019. Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Socorro Campos CRB 2/730 341.27 Carvalho, Mariana Dias de M772c Violência obstétrica / Mariana Dias de Carvalho. -- 2019. 34 f.; 21 x 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Faculdade Faci | WYDEN, 2019. Orientador: Prof.ª Me. Shelley Macias Primo Alcolumbre 1.Violência obstétrica. 2.Assistência ao parto. 3.Direitos das gestantes. I. Título. MARIANA DIAS DE CARVALHO VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado à Faculdade Ideal – FACI/WYDEN, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharela em Direito. Orientadora Prof. M.a. Shelley Macias Primo Alcolumbre. Aprovada em: ___ / ___ / _____ Conceito: __________________ _____________________________________ Prof. M.a. Shelley Macias Primo Alcolumbre (Orientadora) FACI/WYDEN _____________________________________ Prof. M.a. Andréia Carolline Lima Pinto FACI/WYDEN _____________________________________ Prof. Dra. Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães FACI/WYDEN VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: a dor da omissão VIOLENCE OBSTETRIC: the pain of omission Mariana Dias de Carvalho1 Orientanda - FACI/WYDEN marydcarvalho@yahoo.com Shelley Macias Primo Alcolumbre2 Orientadora - FACI/WYDEN shelleymacias@globo.com RESUMO O presente artigo tem por finalidade analisar a violência obstétrica, visando as lacunas existentes na legislação brasileira sobre o tema, além de abordar os aspectos históricos do parto e sua humanização; as normas internacionais e nacionais existentes sobre o tema; conceito de violência obstétrica e as práticas consideradas violentas; os recursos disponíveis para a mulher que sofreu violência obstétrica no âmbito do direito constitucional, direito civil, direito penal e no estatuto da criança e do adolescente. Adotou-se como método de abordagem, o hipotético – dedutivo e como método de procedimento o da pesquisa bibliográfica, com ênfase na leitura, análise e interpretação de livros, artigos, documentos. Verificou-se que há pouco conhecimento sobre o assunto no âmbito jurídico, mesmo que esse tipo de violência contra a mulher seja tão recorrente. Palavras-chave: Violência Obstétrica. Assistência ao Parto. Direitos das Gestantes. RESUMO The purpose of this paper is analyze obstetric violence, aiming at the existing gaps in brazilian legislation on the subject, addressing the historical aspects of childbirth and its humanization; existing international and national standards on the subject; approach on the concept of obstetric violence and practices considered violent; the resources available to women who have experienced obstetric violence under constitutional law, civil law, criminal law and the status of children and adolescents. The hypothetical - deductive and method of procedure approach was taken as a method of approach in bibliographic research, focusing on the reading, analysis and interpretation of books, articles and documents. It was verified that there is little knowledge on the subject in the legal scope, even if this type of violence against women is so recurrent. Keywords: Obstetric Violence. Delivery Assistance. Rights of Pregnant Women 1 Orientanda, acadêmica do Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade Ideal – FACI/WYDEN – marydcarvalho@yahoo.com.br 2 Professora Orientadora Faculdade Ideal - FACI/WYDEN – shelleymacias@globo.com 5 1 INTRODUÇÃO Por ser silenciosa e omissa, a violência obstétrica é vivenciada de forma recorrente, durante o pré-natal, parto e o pós-parto, por meio de maus tratos, de agressões físicas, verbais, psicológicas e até mesmo sexuais. Essas práticas revelam condutas totalmente discriminatórias quanto ao gênero, classe e etnia, e que provocam grave estado crônico de sofrimento emocional e físico para sempre na vida daquela gestante. Nota-se que, além da indevida assistência para a mãe, para o bebê e sua família, a parturiente perde sua autonomia, seu poder de escolha, em virtude de certa ‗hierarquia‘ entre os profissionais da saúde e a paciente, cujo momento do parto torna-se, muito mais, um evento médico. Em face da problemática exposta anteriormente, questiona-se, quando os envolvidos no parto compreendem quais elementos ocasionam a prática da violência obstétrica e de que forma a legislação brasileira realmente ampara as vítimas? Objetiva-se, especificamente, discorrer sobre alguns estudos históricos acerca do parto e de humanização; expor as normativas internacionais e nacionais existentes acerca do tema violência obstétrica; identificar o conceito de violência obstétrica considerados invasivos e danosos a gestante e apresentar os recursos jurídicos disponíveis para a mulher em situação de violência obstétrica Pretende-se analisar se, as normas existentes de proteção à mulher grávida, em trabalho de parto e pós-parto, são efetivamente cumpridas e se há o devido esclarecimento dos profissionais da saúde sobre seus deveres e da população em geral sobre seus direitos. Observa-se, no Brasil, um cenário muito carente em relação ao tema, devido a falta de conhecimento e esclarecimento da população, principalmente das mulheres grávidas e de sua família, quanto os seus direitos, desde o pré-natal até o nascimento do bebê. Outro detalhe, a falta de uma lei específica que possibilite denúncia, processo e punição sobre a violação dos deveres do profissional de saúde, torna a violência obstétrica, um caso de omissão. A violência obstétrica é um tema de fundamental importância para sociedade, pois está ligada diretamente a uma das formas de agressão contra a mulher, por razões da condição de gênero, pouco abordada no âmbito jurídico. Torna-se necessário a criação de uma Lei Federal, que reconheça e positive os direitos fundamentais para as gestantes e seus bebês e possibilite a abertura de novos 6 horizontes para essa temática. Assim, tal normatização minimizará a vulnerabilidade das gestantes, permitindo conhecimento da legislação brasileira vigente para que saibam o que fazer, onde procurar ajudar e onde denunciar, caso sofram alguma violência obstétrica. O método de abordagem utilizado no trabalho é o hipotético-dedutivo, que adota a ideia do surgimento de uma lacuna no conhecimento científico, ou seja, as informações disponíveis sobre dado assunto serão insuficientes para a explicação de determinado fato. Apartir de então, será possível explicar as dificuldades existentes na lacuna, com a formulação de hipóteses, em que se deduzem certas consequências que vão ser testadas e/ou levadas ao falseamento. Como método de procedimento foi utilizado à pesquisa bibliográfica a qual é elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, monografias, dissertações, teses, leis. Posto isto, o presente trabalho organiza-se da seguinte forma: Na primeira seção, nomeada breve abordagem histórica do parto e sua humanização será abordado sobre o histórico de assistência dedicada à mulher durante a gestação, parto e puerpério ao longo dos tempos, permeando a figura da parteira, quando o parto era mais humanizado, até os médicos obstetras. Na segunda seção, intitulada marco legal de proteção ao parto são expostas as normativas internacionais como a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher; a Convenção de Belém do Pará e a Declaração Universal Sobre Bioética e Direitos Humanos e as normativas nacionais que abordam projetos de leis e legislações genéricas, fazendo um comparativo com as Leis Federais existentes nos países como a Venezuela e a Argentina sobre a temática abordada. Na terceira seção, denominada de violência obstétrica: uma ofensa à integridade física da mulher será identificado o conceito de violência obstétrica e os procedimentos considerados invasivos e danosos à gestante. Finalmente, a última seção visa apresentar os recursos jurídicos disponíveis para a mulher em situação de violência obstétrica existentes acerca do tema, cujo objetivo é demonstrar para a gestante que ela possui amparo legal por meio da Constituição Federal de 1989, do Direito Penal, no Direito Civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. 7 2 BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO PARTO E SUA HUMANIZAÇÃO O auxílio dedicado à mulher durante a gestação, parto e puerpério sofreram muitas transformações ao longo dos tempos. Por muitos anos essa foi uma prática desenvolvida somente por mulheres denominadas parteiras ou comadres, que tinham um saber empírico do assunto e de suma confiança da gestante. O parto era realizado em um ambiente doméstico, onde não apenas havia a questão biológica, mas, sobretudo, era considerado os fatores psicológico, relacional e espiritual. Em sua maioria, essas parteiras eram também benzedeiras, o que tornava o parto mais humanizado possível. De acordo com Barboza e Mota, O trabalho das parteiras, fruto de uma prática de solidariedade feminina foi desenvolvido durante um longo período à margem do saber médico, sendo conduzido como um evento natural e fisiológico dentro das comunidades, uma experiência corporal e emocional que levava as mulheres a subjetivarem-se e significava poder, prestígio e competência as parteiras. (2016, p. 121). Em meados do século XII, ressalta-se que os homens não tinham qualquer tipo de participação no parto, mesmo sendo o cônjuge, pois, tal comportamento entrava em choque com os valores culturais imposto na época. Nos saberes de Seibet, Barbosa, Santos e Vargens, A assistência à parturiente era considerada assunto de mulheres, em que as parteiras criavam um clima emocional favorável, com suas crenças, talismãs, orações e receitas mágicas para aliviar a dor das contrações, e os homens apenas realizavam assistência a parto de animais. (2005, p. 246). Durante os séculos XVIII e XIX, a gestante perde o papel de protagonista e passa a ter um papel secundário. Os partos, até então realizados pelas parteiras (que nessa época começam a perder sua primazia por conta da realização de abortos e infanticídio) e sem a participação do gênero masculino, tornam-se verdadeiros acontecimentos médicos, por meio de diversas mudanças institucionalizadas no parto, por parte da obstetrícia. Para Seibet, Barbosa, Santos e Vargens, O parto acabou sendo caracterizado como evento médico, cujos significados científicos aparentemente viriam de maneira a ser privado, íntimo e feminino, e passa a ser vivido de maneira pública com a presença de outros atores sociais. (2005, p. 247). 8 Ainda no século XIX, como uma melhor forma para desenvolver novas técnicas de parto, os médicos começaram a discutir questões como a hospitalização para a criação de maternidades. A troca de parteiras pelos médicos obstetras, historicamente iniciou-se na Europa entre os séculos XVII e XVIII. As primeiras faculdades de medicina do Brasil surgiram na Bahia e no Rio de Janeiro, em 1808 e a evolução da obstetrícia foi de forma tardia e gradativa. Conforme Seibet, Barbosa, Santos e Vargens (2005) essa demora ocorreu por conta da chegada de profissionais estrangeiros e da volta de aristocratas que foram estudar na Europa. Um detalhe a considerar é que, por volta do século XIX, no Brasil, as grávidas de classe alta não aceitavam mais sentir as dores do parto e nem correr mais riscos decorrentes do parto. Assim, a escolha era ser assistida pelo médico e não mais pelas parteiras, até porque demonstrava que o seu marido tinha poder aquisitivo. Nos dizeres de Seibet, Barbosa, Santos e Vargens, A consolidação do processo de medicalização e hospitalização do parto acontece em meados do século XIX, juntamente com o surgimento das grandes metrópoles e a criação de hospitais, marcando o fim da feminilização do parto, levando ao predomínio do parto hospitalar, marcado por intervenções cirúrgicas, utilização de fórceps profilático e episiotomias desnecessárias. (2005, p. 248). Para Diniz, Na assistência ao parto, o termo humanizar é utilizado há muitas décadas, com sentidos os mais diversos. Fernando Magalhães, o Pai da Obstetrícia Brasileira, o empregou no início do século XX e o professor Jorge de Rezende, na segunda metade do século. Ambos defendem que a narcose e o uso de fórceps vieram humanizar a assistência aos partos. (2005, p. 628) Com isso surgem movimentos pela humanização da assistência ao parto, que pretendiam a qualidade na assistência e o direito ao parto com mais empatia. Esses fatores impulsionaram, assim, novas políticas públicas para o incentivo ao parto normal, tornando a mulher a protagonista e tendo sua autonomia de volta, além de seus diretos e garantias respeitados, desde o seu gestar até o nascer. 9 3 MARCO LEGAL DE PROTEÇÃO AO PARTO 3.1 NORMATIVAS INTERNACIONAIS A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW) foi aprovada pela Organização das Nações Unidas em 1976 e ratificada pelo Brasil no ano de 1984, com o Decreto n° 4.377 promulgado em 13 de setembro de 2002. Essa Convenção foi de suma importância, pois, por meio dela, ocorreu um grande avanço no cenário da proteção internacional dos direitos femininos. No ano de 2017, a Convenção já contabilizava 189 Estados- partes. De acordo com a Convenção, em seu artigo 1°, o conceito sobre a discriminação contra a mulher expressa: Para os fins da presente Convenção, a expressão ―discriminação contra a mulher‖ significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo. (CEDAW, 1984, online, grifo do autor) Com isso a CEDAW irá se basear em duas obrigações, a de eliminar adiscriminação e consequentemente a de assegurar a igualdade. Ou seja, essa Convenção se baseia no princípio da igualdade, como uma obrigação, ou como um objetivo a ser alcançado. Acerca dessa Convenção, o entendimento de Piovesan, ensina que: A discriminação significa toda distinção, exclusão, restrição ou preferência que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou qualquer outro campo. Logo, a discriminação significa sempre desigualdade. (2018, p. 435). Há também, nessa Convenção, a preocupação com os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. De acordo com Casado Filho, Diversas previsões da Convenção também incorporam a preocupação de que os direitos reprodutivos das mulheres devem estar sob seus próprios controles, assegurando que suas decisões sejam livres e benéficas no tocante ao acesso às oportunidades sociais e econômicas. (2012, p. 74) 10 Esses direitos sexuais e reprodutivos, que a Convenção CEDAW trata, foram também recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro na Lei n° 9.263/1996 que dispõe sobre o Planejamento Familiar, conforme artigos 2° e 3° respectivamente. Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde. Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam- se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras: I - a assistência à concepção e contracepção; II - o atendimento pré-natal; III - a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato; (BRASIL, 1996, online) Nesta mesma direção a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, § 7º, prevê as garantias destes direitos: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988, online) Em suma, a Convenção Sobre Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher argumenta que as mulheres são titulares de todos os direitos e oportunidades. A Convenção afirma que existem práticas, as quais as mulheres são submetidas, que precisam ser extintas como por exemplo, estupros, assédios sexuais, exploração sexual e outras formas de violência contra o gênero feminino. Outra Convenção de extrema importância que gerou um grande progresso na proteção internacional dos direitos das mulheres, foi a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará. Esta Convenção foi editada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em junho de 1994 e ratificada pelo Brasil no ano de 1995, tendo seu Decreto n° 1.973 promulgado em 1° de agosto de 1996. Em seu artigo 1°, o Decreto considera a violência contra a mulher: ―[...] qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento 11 físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada‖ (BRASIL, 1996, online) Segundo Piovesan (2018), esse conceito retira a ideia errada entre o espaço público e o privado, no que tange à proteção dos direitos humanos, ao admitir que a violação destes direitos não se limite apenas na esfera pública, dessa forma alcançando também a esfera privada. Nesse sentindo, a Convenção de Belém do Pará enfatiza que a violência contra a mulher é uma grave violação aos direitos humanos e aos direitos e garantias a dignidade humana. Logo, a partir dessa afirmação, a violência obstétrica se enquadra como uma forma de violência contra a mulher. A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, no seu artigo 5°, que trata do princípio da Autonomia e Responsabilidade Individual, vêm dispor que deve ser respeitada a autonomia dos indivíduos para tomar decisões, quando estes possam ser responsáveis por essas decisões e elas respeitem a autonomia dos demais. Já o seu artigo 6°, que trata do princípio do Consentimento, diz que qualquer intervenção médica preventiva, diagnosticada e terapêutica só deverá ser feita com o consentimento prévio, livre e esclarecido do indivíduo envolvido, baseado em informações adequadas. Conforme a rede Parto do Princípio na Cartilha de Violência Obstétrica é Violência Contra a Mulher, enfatiza que: Dessa maneira ao deixar de fornecer informações acerca do estado de saúde do bebê e da gestante, e não explicar de forma objetiva e com clareza todos os procedimentos, e mais ainda não dar oportunidade para a gestante pensar se deseja ou não o procedimento, não respeitando a sua autonomia para decidir, configura-se como exemplos de violência institucional, ou seja, violência obstétrica. (2014, online) Portanto, de acordo com o princípio do Consentimento da referida Declaração, todas as gestantes têm o direito a receber informações sobre a sua saúde e do seu filho, além das informações sobre todos os procedimentos indicados, por meio de linguagem bem clara e compreensível. 3.2 NORMATIVAS NACIONAIS No Brasil, quando se trata do assunto violência obstétrica, o cenário ainda é muito deficiente, devido ser um tema pouco conhecido. Pode-se apontar como um 12 dos motivos, a falta de pesquisas relevantes sobre o assunto, em virtude da escassez de material bibliográfico. Muitas mulheres que sofreram ou que sofrem esse tipo de violência, se sentem constrangidas e envergonhadas de relatar o problema ou até mesmo desconhecem que foram vítimas de violência obstétrica, por acreditarem que determinadas práticas são corretas e necessárias, devido a confiança estabelecida na equipe médica. Outro fator a ressaltar é falta de uma Lei Federal que proteja os direitos das grávidas, desde o momento da revelação da gestação até o puerpério. Nota-se a existência de lacunas legislativas no que diz respeito à pertinência de normas referentes a esse assunto, apesar da recorrência de inúmeros casos em hospitais particulares e principalmente nos hospitais públicos. Conforme pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, 1 em cada 4 mulheres afirma ter sofrido violência durante o parto, com cerca de 17% nos hospitais da rede privada, e 74% nos da rede pública. Para a defesa das mulheres, vítimas desse tipo de violência, algumas ONG‘s ou associações de movimentos feministas atuam, nestes casos, como por exemplo: a rede Parto do Princípio, Artemis e a Nascer no Brasil. Com o objetivo de elaboração de uma Lei específica para o assunto pelo Congresso Nacional, o então Deputado Federal Jean Wyllys, criou o projeto de Lei n° 7633/2014 que visa a instituir a humanização de assistência à mulher e ao neonato durante o ciclo gravídico-puerperal. No mesmo sentido, a então Deputada Jô Moraes, também criou um projeto de Lei n° 7.867/2017 que visa medidas de proteção contra a violênciaobstétrica e de divulgação de boas práticas para a atenção a gravidez, parto, nascimento, abortamento e puerpério. Vale destacar que esses dois importantes projetos de lei ainda estão em tramitação na Câmara. De maneira legal, o que já está em vigor são legislações genéricas como as portarias do Ministério da Saúde: 569/2000 (que institui o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, no Sistema Único de Saúde), 1.067/2005 (institui a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal) e 1.459/2011 (institui no Sistema Único de Saúde - a Rede Cegonha). Essas portarias empreendidas pelo Ministério da Saúde objetivam mais suporte e assistência obstétrica e neonatal às parturientes no Brasil. Apesar de ainda não haver nada no âmbito federal no Brasil, nos estados algumas Leis já estão protegendo as gestantes. Em setembro de 2018, a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná aprovou o projeto de Lei n° 160/2018 13 que combate a violência obstétrica e reforça os direitos das gestantes. Já no Estado do Pará, especificamente no município de Belém, em abril de 2019 foi iniciado o trâmite para a aprovação do projeto de Lei municipal, de autoria da Vereadora Nazaré Lima, que dispõe sobre medidas de proteção contra a violência obstétrica e de divulgação de boas práticas para atenção a gravidez, parto e puerpério. Um detalhe a destacar é que, em muitos países, a preocupação com essas práticas vem ocorrendo e muitos já possuem Leis Federais específicas sobre violência obstétrica, como é o caso da Venezuela – Lei 38.668/2007 e da Argentina – Lei 26.485/2009, ou seja, esses governos reconhecem e previnem a violência obstétrica como uma forma de agressão contra a mulher. Nesses dois países, as legislações referentes ao conceito de violência obstétrica são bem semelhantes, a diferença entre as normas, é que na Venezuela, a Lei possui um conceito sobre as consequências ou causalidades nas mulheres que sofrem esse tipo de prática, além de ter o delito caracterizado, de acordo com suas respectivas punições, deixando sua execução mais efetiva. Ao se comparar as legislações entre Brasil e Venezuela, a Lei específica da Venezuela, por ser extremamente rigorosa e punitiva, é mais precisa quanto a coibir e erradicar a violência obstétrica. De acordo com o Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio (2012, p.49): ―o dispositivo legal venezuelano explicita o que não deve fazer, ao profissional da saúde, a uma mulher gestante ou em trabalho de parto, sob pena de sofrer as consequências legais determinadas pela lei orgânica‖. O Brasil, apesar de aderir a CEDAW e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a Convenção de Belém do Pará e possuir legislações genéricas, ainda não possui uma Lei Federal. Portanto, os casos de violência obstétrica dificilmente são esclarecidos e punidos, ressaltando-se também que o conceito de violência obstétrica, dentro do contexto de agressões contra a mulher, torna-se imperceptível. 4 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: UMA OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA DA MULHER. De acordo com a cartilha Violência Obstétrica é Violência Contra a Mulher, escrita pela rede Parto do Princípio: 14 Violência obstétrica pode-se definir como uma violência institucional, que é cometida contra a mulher grávida e sua família em serviços de saúde durante a assistência ao pré-natal, parto, pós-parto, cesárea e abortamento. Podendo ser verbal, física, psicológica ou mesmo sexual e se expressa de diversas maneiras explícitas ou velada. Como outras formas de violência contra a mulher, a violência obstétrica é fortemente condicionada por preconceitos de gêneros. (2014, online) Outros autores Zanardo, Uribe, Nadal & Habigzang, em seu artigo Violência Obstétrica No Brasil: Uma Revisão Narrativa (2017) conceituam o tema como uma violência psicológica, que se caracteriza por ironias, ameaças e coerção, além das violências físicas, através da manipulação e também a exposição desnecessária do corpo da gestante. Além disso, os autores ressaltam outras condutas como, omitir ou mentir para a paciente sobre seu estado de saúde e do bebê e a não informação clara e objetiva dos motivos que levaram a indução de uma cesariana e dos outros procedimentos necessários ou não, realizados no momento que antecede o parto, na hora do parto e no pós-parto. Dessa maneira, os autores entendem como violência obstétrica, o uso excessivo de medicamentos e certas intervenções no momento do parto, realizando práticas consideradas dolorosas e humilhantes, sem qualquer tipo de embasamento científico como por exemplos: raspagem de pelos pubianos, episiotomias, ponto do marido, fórceps, realização de enema, indução ao trabalho de parto e a proibição do acompanhante escolhido pela gestante. De forma geral, pode-se dizer que a violência obstétrica é uma maneira de agressão contra a mulher, devido a condição de gênero, em que há violação dos seus direitos. Os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, anestesistas e etc.) se ‗apropriam‘ do corpo da gestante, realizando um tratamento totalmente desumano, de forma técnica, mecanizada, sem qualquer empatia. Em muitos casos, há certo excesso de medicações e de patologização dos processos naturais do corpo feminino, em que a gestante perde completamente a sua autonomia e a capacidade de decidir de forma livre sobre seu corpo, sua sexualidade, o que pode impactar negativamente a vida dessa mulher para sempre. 4.1 IDENTIFICANDO PRÁTICAS CONSIDERADAS VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA Entende-se que a violência obstétrica, como já mencionada, possui um vasto campo de expressões e intervenções consideradas violentas, que são realizadas na 15 mulher, durante o período da gestação até o puerpério, inclusive nas situações de aborto. Logo, é de suma importância a identificação de algumas dessas práticas consideradas e entendidas como violência obstétrica, cuja consequência maior são danos físicos, psíquicos e sexuais. Durante a gestação, a violência obstétrica pode ser caracterizada por: negar atendimento à mulher ou ainda impor alguma dificuldade ao atendimento em postos de saúde, onde é realizado o acompanhamento pré-natal; qualquer espécie de comentários constrangedores à mulher e relacionados à cor, raça, etnia, idade, escolaridade, religião ou crença, condição econômica, estado civil ou situação conjugal, orientação sexual, número de filhos, etc; ofender, humilhar, xingar a mulher ou sua família; negligenciar atendimento de qualidade; agendar cesárea, sem recomendação baseada em evidências científicas, por apenas atender aos interesses e conveniência do médico. (SÃO PAULO, 2013, online). Ao longo da gestação, a prática mais comum, considerada violência obstétrica é a recusa de admissão em hospital ou maternidade, o que gera a peregrinação por leito, tornando o atendimento desumanizador e degradante. Essa peregrinação, conforme o dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, em 2012, é uma das principais causas da mortalidade materna, divergindo com a Resolução n°36, de 3 de junho de 2008 da ANVISA, que deixa claro, se a mulher precisar de transferência, deverá lhe ser assegurada vaga no serviço de referência, feita em transporte adequado. O impedimento da entrada do acompanhante, escolhido pela grávida, fere os dispostos da Lei n° 8.080/90, para fins de aplicação da Lei Federal 11.108/2005, que garante as parturientes, o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. Desde 1985, a Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda que a mulher tenha acompanhante, pois a presença de uma pessoaescolhida para acompanhar o parto, apresenta benefícios para a mãe e para o bebê. Infelizmente, esta Lei não possui nenhum artigo de punição, no caso de haver descumprimento da mesma, e assim, a restrição na escolha do acompanhante pela parturiente e no tempo de permanência deste junto à grávida, ainda são muito recorrentes no cenário brasileiro, com alguns argumentos comuns, como: ―Não tem estrutura, aqui é SUS, não tem luxo não, acompanhante só para quem paga o quarto‖. (Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, 2012). 16 A aceleração do parto, com o uso do soro com ocitocina, por conveniência médica, que causa um rompimento artificial da bolsa, além do procedimento manual do colo para acelerar a dilatação, são procedimentos que desconsideram a fisiologia do parto e do nascimento, colocando a mãe e o bebê em risco. Os exames sucessivos de toque, chamados também de manipulação vaginal, são praticados por diferentes profissionais e estudantes de medicina, durante o processo do parto normal, a fim de se verificar a dilatação do colo do útero. Todavia, por despreparo da equipe, na maioria das vezes, estes procedimentos são realizados sem esclarecimento ou o consentimento da gestante. O fato é que essa prática causa desconforto, dor e pode prejudicar a dinâmica do trabalho de parto, além de provocar na gestante, intimidação e vergonha, pois, expõe seus órgãos sexuais para vários profissionais desconhecidos. A episiotomia, chamada também de mutilação genital ou pique, é um procedimento realizado de forma rotineira em partos normais, sem o devido respaldo científico. A episiotomia é uma cirurgia realizada na vulva, em que há um corte na entrada da vagina até o ânus, com tesoura ou bisturi, sendo que algumas vezes é realizada sem anestesia. Tal procedimento causa lacerações nas estruturas do períneo, que são responsáveis pela sustentação de alguns órgãos, provocando, por exemplo, continência urinária e fecal. Observa-se que a episiotomia, no Brasil, é a única forma de cirurgia realizada sem o devido consentimento da paciente; sem informações sobre a necessidade de realização; os riscos (muita dor, infecção, hematomas, maior volume de sangramento, dor nas relações sexuais); os benefícios e os efeitos adversos que podem causar. Portanto, essa é uma prática, realizada no país, que vai de encontro as normas da medicina, baseada em evidências científicas. Após este corte, é realizado um ponto extra, uma sutura, chamada de ponto do marido, cujo objetivo é fechar mais a vagina para poder preservar o prazer masculino nas relações sexuais, após o parto. A prática é considerada completamente invasiva, dolorosa e machista, além de deixar na mulher, uma cicatriz grande e desproporcional. A manobra de Kristeller é realizada com as duas mãos, que imprimem força, como se fosse um empurrão na barriga da gestante em direção à pelve. Nessa prática, em alguns casos, o profissional da saúde precisa subir por cima da gestante para forçar ainda mais a barriga, como se espremesse o ventre com o peso do seu 17 corpo sobre as mãos, braço e o antebraço. (Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, 2012). Diversos estudos revelam complicações gravíssimas em decorrência desse procedimento, entre elas, descolamento da placenta, trauma das vísceras abdominais e do útero. Essa prática, quando realizada no parto cesariano, causa muito desconforto na gestante, pois apesar da anestesia, a mulher sente toda a pressão da manobra de Kristeller e, caso seja o parto normal, a gestante sentirá muita dor e desconforto. O fórceps é o nome dado a um instrumento que se assemelha ao tenaz e passou a ser utilizado em partos normais ou cesáreas, quando há dificuldade de descida do bebê e em natimortos. Esse instrumento é introduzido no canal da mãe com a finalidade de puxar o bebê, desde a saída do útero até o completo nascimento, daí o motivo da expressão bebê nascidos a ferro. Por se tratar de um instrumento de metal, o fórceps pode causar lesões na parede do canal vaginal; dor perineal no pós-parto; incontinência urinária; lesões e hematomas no rosto ou cabeça do bebê e em alguns casos, óbito da criança por traumatismo craniano. Conforme evidências científicas recentes, a necessidade de um parto instrumental é muito baixa e de acordo com as diretrizes e recomendações da OMS, a utilização desse tipo de instrumento deve diminuir cada vez mais. (Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio, 2012). As cesáreas, sem indicação clínica, são as chamadas cirurgias eletivas que podem ser agendadas (por comodidade), ou seja, os médicos marcam a cirurgia com antecedência, quando a mulher está prestes a completar 37 semanas. Porém, pela falta de informação, as mulheres se deixam dissuadir a agendar o procedimento, submetendo-se a uma cirurgia de grande porte, com riscos para a mãe e o bebê e em alguns casos, sem o consentimento da mulher. Essa prática também pode acontecer antes mesmo do início do trabalho de parto ou pode ser realizada durante o trabalho de parto, sem caracterizar urgência ou emergência. De acordo com a Rede Parto do Princípio, em 2010, o índice de cesáreas no setor suplementar alcançou 82% dos partos, apesar da OMS recomendar uma taxa entre 10% até 15% de cesáreas. Observa-se que elas vêm ocorrendo com mais frequência em países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. De forma geral, a cesárea não é contraindicada quando o trabalho de parto não for favorável, ou quando não é provável que o parto vaginal seja realizado 18 com segurança, com intervalo de tempo necessário e seguro, a fim de prevenir o desenvolvimento de morbidade fetal e/ou materna. Importante salientar que, conforme a Resolução n° 2.144/16 do Conselho Federal de Medicina (CFM), o parto vaginal ou cesariano será realizado por escolha da parturiente, a partir da 39ª semana de gestação, levando em consideração todas as informações recebidas pela equipe médica, sobre benefícios e riscos, tendo em vista a garantia de segurança do bebê e da mãe. (CFM, 2016). Outra restrição está na posição do parto, pois, muitas mulheres são obrigadas a ficar na posição horizontal, ou seja, com o abdômen para cima e, o seu direito de se movimentar ou ficar em posição mais confortável para o procedimento do parto normal é violado. Essa posição prejudica o desempenho do parto, além de ser bastante desconfortável, pois pode dificultar a oxigenação do bebê, conforme a OMS e a RDC n° 36 de 2008 da ANVISA. Logo, a parturiente deve ter o direito de ficar na posição mais favorável e confortável durante o procedimento. A violência verbal e psicológica decorre da utilização de expressões totalmente degradantes a mulher gestante, por parte dos profissionais, que venha causar sentimentos de inferioridade, vulnerabilidade, medo, insegurança, perda de integridade, instabilidade emocional, Para Silva, Marcelino, Rodrigues, Toro e Shimo, são verbalizações violentas como exemplos: Se não fizer força [...] seu bebê vai morrer e a culpa será sua! Fica quieta senão vai doer mais! É melhor seu marido não assistir o parto, senão ele ficará com nojo de você! Na hora de fazer foi bom né [...] agora aguenta! Mulher é um bicho sem vergonha mesmo [...] sofre e grita e no próximo ano tá aqui de novo!. (2014, p.723). Percebe-se o quanto essas e outras expressões são desrespeitosas com a gestante, demonstrando total descaso, incompetência e ausência de empatia dos profissionais da área da saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, anestesistas. Outro fator que viola os direitos da gestante é impedir ou dificultar o aleitamento materno, nas primeirashoras de vida do bebê, afastando o recém- nascido de sua mãe e introduzindo mamadeiras e chupetas. O Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno é bastante divulgado e, muitas vezes, o desejo da mãe de amamentar o bebê, logo ao nascer, não é respeitado. Em alguns casos, a mãe é separada do seu filho, por várias horas após o nascimento, sem que haja 19 alguma justificativa plausível, nem impeditivo clínico para determinada ação, dificultando mais ainda o início da amamentação exclusiva. Além desses, há outros procedimentos considerados dolorosos, vexatórios, desnecessários, por exemplo: realização de enema (lavagem intestinal), raspagem dos pelos pubianos, posição ginecológica de portas abertas, privação de alimentos e água, imobilização de braço e pernas, além da vestimenta utilizada pela gestante para a realização da cirurgia, que possui uma abertura atrás. Nos casos em que a gestante sofreu aborto, a violência obstétrica caracteriza- se por: negativa ou demora no atendimento a mulher em situação de abortamento; questionamento a mulher quanto a causa do aborto (se foi intencional ou não); realização de procedimentos predominantemente invasivos, sem explicação, consentimento e, frequentemente, sem anestesia; ameaças, acusação e culpabilização da mulher; coação com a finalidade de confissão e denúncia. (SÃO PAULO, 2013, online). Percebe-se que muito desses procedimentos são realizados a partir de uma opinião totalmente pessoal dos profissionais, que praticam essas condutas nas maternidades, mesmo com as evidências científicas que demostram os prejuízos que esses procedimentos causam na vida e na saúde da mãe e do bebê. Esses tipos de condutas são completamente desonrosos com quem está vivendo um momento único e inesquecível na vida, em que a mulher deveria ser a protagonista do seu parto e não as intervenções médicas terem o papel predominante. O que se espera de toda a estrutura hospitalar é que a parturiente seja sempre bem tratada, acolhida, respeitada, que toda a equipe médica demonstre empatia pelo momento que ela está vivenciando, tornando o parto mais natural e humanizado possível. Quando a mulher é tratada de forma indigna, a parturiente apresenta mais fragilidade e vulnerabilidade em função do seu estado, o que pode prejudicar, ainda mais, sua saúde psíquica e até mesmo as condições para o parto, quer seja cesárea ou normal. Isso configura uma violação dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, além de agredir a integridade corporal feminina e o direito a dignidade da pessoa humana. 4.2 O NOVO TIPO DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não 20 são permanentes. Você terá que manter-se vigilantes durante toda a sua vida. (BEAUVOIR, Apud, Consulta Popular, 2016, online). A frase da filósofa Simone de Beauvoir é um grande alerta sobre os direitos das mulheres, pois no fatídico dia 03 de maio de 2019, o Ministério da Saúde emitiu um despacho (posicionamento orquestrado a pedido de entidades médicas, na qual o Ministério segue os pareceres destas entidades) em que defende o banimento de políticas públicas e de normas com uso da palavra ‗violência obstétrica‘, por acharem o termo pejorativo. O que causa uma grande comoção de especialistas e grupos de defesa das mulheres é que essa decisão é um grande absurdo, pois vai de encontro com todas as normas defendidas pela OMS e do próprio Ministério da Saúde, em que há programas e leis genéricas como já mencionado, que visam a garantia de atendimento digno, de qualidade e com respeito no momento de todo o processo do gestar até o nascer. De forma extremamente desrespeitosa, o posicionamento oficial do Ministério é que a expressão violência obstétrica tem conotação inadequada, não agrega valor e prejudica a busca do cuidado humanizado no continuum gestação-parto-puerpério. A justificativa é que a definição dessa violência elaborada pela OMS associa a intenção de realizar o ato, independentemente do resultado produzido. No despacho eles defendem adotar estratégias para abolir o uso da expressão ‗com foco na ética e na produção de cuidados em saúde qualificada‘. A médica Sônia Lanksy foi uma das coordenadoras regionais da pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, em que entrevistou mais de 23 mil mulheres sobre a assistência ao parto no Brasil. Em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, a médica afirma que excluir o uso da palavra soaria como uma forma de censura institucional, pois é um termo consolidado na literatura científica e que não há sentindo algum aboli-lo. Verifica-se, como já foi supracitado, que em países como a Venezuela e a Argentina, que já possuem Lei Federal acerca do tema desde 2007, há preocupação com essa prática, que reconhecem e previnem a violência obstétrica, como violência contra a mulher. Porém de forma insensata, irracional e irresponsável em outra entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o relator Ademar Carlos Augusto, que trata a definição da palavra violência obstétrica com viés ideológico, afirma: 21 O que a gente percebe é que existe um movimento orquestrado de algumas instituições de trazer para o médico obstetra a responsabilidade pela situação caótica que está à assistência à gestante. Essa discussão veio importada de países socialistas, e o Brasil também adotou. (CANCIAN, 2019, online). Dessa forma, o que se percebe é a falta de comprometimento, despreparo, desserviço e negligência do atual governo com essas mulheres que sofrem a violência obstétrica, pois se há o desejo de melhorar a saúde materna do Brasil, precisa-se combinar uma legislação moderna, com boas práticas obstétricas e com políticas públicas sérias. Além disso, o que realmente deveria ser projeto de despacho é o veto da prática e não simplesmente do termo, pois o correto seria se preocuparem em fiscalizar essa prática, promovendo assistência as gestantes, além de cursos profissionalizantes para os profissionais da área e uma maior divulgação sobre esse tipo de violência. Uma sociedade bem informada reconhece que violência obstétrica não é um termo pejorativo e que muito menos agride e vincula apenas aos obstetras, pelo contrário, envolvem todos os membros da equipe médica, quais sejam: médicos, anestesistas, enfermeiros, técnicos em enfermagem, universitários, instrumentador e o próprio hospital seja ele público ou particular. Vetar essa expressão, e afirmar que há um viés ideológico, causa na gestante um sentimento de abandono, descaso e omissão, além de ser um verdadeiro retrocesso em uma temática tão pertinente e recorrente que é a violência obstétrica. Assim, esse tipo de discurso deve ser combatido e os profissionais que cometem essa violência precisam ser responsabilizados. 5 RECURSOS DISPONÍVEIS PARA A MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA Apesar da falta de uma Lei Federal específica, que efetive o crime de violência obstétrica, há no ordenamento jurídico do país, recursos disponíveis em que a mulher, que sofreu esse tipo de violência, possui amparo legal por meio da Constituição Federal de 1988, do Direito Penal, no Direito Civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Dessa forma, o Estado tem o dever de coibir qualquer procedimento violento contra as mulheres, que obviamente inclui o dever de prevenir, erradicar e punir a violência obstétrica. 22 5.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL Verifica-se que a Constituição Federal de 1988, também chamada de Constituição Cidadã, elenca um rol de direitos, acerca dasgarantias fundamentais para o cidadão, ou seja, esses direitos e garantias são aplicáveis as gestantes na assistência ao parto. Na Constituição encontra-se o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1°, inciso III, que está acima de qualquer outro princípio, pois é algo inerente à condição de ser humano, compreendendo os aspectos da individualidade, privacidade e intimidade que devem ser respeitados. Portanto, ferir esse princípio significa afrontar o alicerce do sistema normativo brasileiro, ou seja, entender que proteger a dignidade da mulher ante aos cuidados obstétricos precisam ser garantidos. O artigo 5° caput, que trata sobre o direito de igualdade, dispõe que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, além de garantir a inviolabilidade do direito a vida, à igualdade, sendo assim as mulheres são iguais aos homens em direitos e em deveres. Conforme a nossa Constituição de 1988, nas palavras de Cunha (2012, p. 696), o direito à vida é o direito legítimo de defender a própria existência e de existir com dignidade, a salvo de qualquer violação, tortura ou tratamento desumano ou degradante. Dessa forma o direito a vida, envolve o direito a preservação dos atributos físicos – psíquicos e espirituais-morais. Agredir o corpo humano é um modo de agredir a vida, sendo assim, novamente o artigo 5°, inciso III prevê, que: ‗‘ninguém será submetido a tratamento desumano ou degradante‘‘ (BRASIL, 1988, online). Esta normativa inclui, desse modo, a assistência prestada às mulheres gestantes, no pré e pós-parto, ou seja, é um direito da gestante ter sua integridade física preservada e jamais violada. Ainda se tratando do artigo 5°, porém no inciso X, há o direito à privacidade, em que a mulher, durante o período gestacional, não poderá ter alguns aspectos de sua vida divulgados ou invadidos pelos profissionais que estão lhe assistindo, abrangendo inclusive o hospital. Assim, a gestante deverá ter sua privacidade preservada e, caso não tenha, conforme previsto no inciso, lhe é assegurado o direito à indenização por dano material ou moral, decorrente de sua violação. Cunha assegura que haja: 23 Direito à privacidade, que consiste fundamentalmente na faculdade que tem cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos na sua vida particular e familiar; assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a privacidade e intimidade de cada um, e também proibir que sejam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano. (2012, p. 720) O artigo 6° preceitua que são direitos sociais a saúde, a proteção a maternidade, entre outros, na forma da Constituição, enquanto direitos fundamentais e que os direitos sociais têm aplicação imediata conforme o artigo 5° § 1°. O direito à saúde é destinado a todos e é dever do Estado garantir, mediante políticas sociais e econômicas, a redução do risco de doença e de outros agravos, além de acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. As ações e serviços de saúde são de relevância pública e cabe ao Poder Público dispor, nos termos da lei, regulamentação, fiscalização e controle, com base respectivamente nos artigos 196 e 197 da Constituição. Logo, entende-se que o direito a saúde é um direito fundamental de cunho social e, como espécie de direito social, a proteção à maternidade e a infância, que também são direitos fundamentais, revelados tanto como natureza de direito previdenciário no artigo 201, inciso II, como de direito assistencial no artigo 203, inciso I. 5.2 DIREITO CIVIL Quando a mulher em situação de pré-natal, parto e pós-parto tiver seu direito violado e sofrido algum dano, em decorrência das ações realizadas pelos profissionais que lhe estão assistindo neste processo, incluindo o hospital, esta poderá recorrer à responsabilidade civil, que pressupõe um ato ilícito, prescrito no artigo 186 do CC: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (BRASIL, 2002, online). Em consequência, de acordo com o artigo 927 do CC, o autor do dano ficará obrigado a repará-lo. De acordo com Gonçalves, Ato ilícito é, portanto, fonte de obrigação: a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado. É praticado com infração a um dever de conduta, por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem. (2014, p. 493) 24 E o ilícito, de acordo com sua natureza e grau gera como consequência uma sanção que pode ser de natureza punitiva ou ressarcitória, a partir da obrigação, surge, como forma de responsabilizar os indivíduos pelas atividades danosas provocadas. A responsabilidade civil é evidente quando o dano é ocasionado pela lesão de um bem juridicamente tutelado, portanto, haverá reparação do dano (patrimonial ou moral) por meio de uma indenização ou compensação. Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que negou seguimento a recurso extraordinário interposto de acórdão, cuja segue transcrita: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. LUCROS CESSANTES. PARTO NORMAL. EPISIOTOMIA. LASCERAÇÃO PERINAL DE 4º GRAU. SUTURA DESCONTROLE NA ELIMINAÇÃO DE DEJETOS. INSUCESSO NA TENTATIVA DE CORREÇÃO. DANOS EVIDENTES. ERRO GROSSEIRO. IMPERÍCIA. NEGLIGÊNCIA. NEXO CAUSAL. CULPA RECONHECIDA. DEVER DE INDENIZAR. 1. Responsabilidade do médico: A relação de causalidade é verificada em toda ação do requerido, evidente o desencadeamento entre o parto, a alta premature e os danos físicos e morais, causando situação deplorável à apelante, originada de dilaceração perinal de 4º grau. Configurado erro grosseiro, injustificável, com resultado nefasto, o qual teve por causa a imprudência e negligência do requerido. Dever de indenizar. Danos morais: evidentes, procedimento realizado de forma a técnica, causando sofrimento físico e moral, constrangimento, humilhação, angústia, impossibilidade de levar uma vida normal, desemprego, alto estresse familiar. Procedência. 3. Danos materiais: comprovados através de recibos e notas fiscais. Procedência. 4. Pensionamento: paralisação da atividade produtiva da vítima, enquanto perdurou o tratamento para reconstrução do períneo. Parcial procedência. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO. (STF - AI: 810354 RS, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 15/12/2010, Data de Publicação: DJe-001 DIVULG 04/01/2011 PUBLIC 01/02/2011) A violência obstétrica que decorre da ação, omissão, negligência ou imperícia do médico, da sua equipe ou do hospital enseja reparação de danos, porém para a sua caracterização é preciso verificar se há culpa, dano e nexo de causalidade. Conforme Oliveira, o médico que causar danos ou prejuízos ao paciente no exercício de sua profissão sejam eles materiais, morais ou estéticos, faz surgir para si à obrigação de reparar o dano, a conduta do médico que pode ser por ação ou omissão quando danosa pode gerar responsabilidade na esfera civil ou penal. (2008, online). No caso do julgado, é clara a responsabilidade médica, bem como os valores fixados para os danos morais e materiais. É indispensável ainda enfatizar que poderá haver responsabilização solidária de todos os agentes que estejam ligados ao resultado danoso, desde que o elemento culpa esteja presente. 25 5.3 DIREITO PENAL No Código Penal, há disposições que enquadram sanções para o crime de violência obstétrica. Diferente do Código Civil, que há reparação do dano causado, no Direito Penal tem a aplicação de uma pena pessoale intransferível à figura do violador, conforme a gravidade do ilícito, visando à ordem social além da punição. À luz do Direito Penal, os crimes que podem ser imputados aos profissionais de saúde, em decorrência da violência obstétrica são: homicídio, lesão corporal, aceleração do parto, constrangimento ilegal, ameaça, maus-tratos. No homicídio simples, previsto no artigo 121 do CP, que possui pena de reclusão de 6 a 20 anos, poderá ocorrer, quando na prática médica, houver imprudência e negligência, ou seja, há um dolo eventual, pois, o agente assumiu o risco de produzir o ato. Na lesão corporal, tipificada no art. 129, do CP, há como exemplo a episiotomia, que pode ser enquadrada nesse tipo penal, a manobra de Kristeller ou ainda os sucessivos exames de toque praticados por diferentes profissionais, tendo em vista que, além da produção do dano no corpo da vítima, uma vez que teve a sua integridade física violada, pode acarretar problemas físicos e psicológicos. Importante salientar que nesse mesmo artigo, no seu § 1°, que trata sobre lesão corporal de natureza grave, há o inciso IV que aborda a aceleração de parto e possui pena de reclusão de 1 a 5 anos, de acordo com os saberes de Capez, Ocorre quando, em decorrência da lesão corporal produzida na gestante, antecipa-se o termo final da gravidez, ou seja, o feto é expulso precocemente do útero materno. É necessário que o feto nasça com vida e sobreviva, pois, do contrário, estará caracterizada a lesão corporal gravíssima (§ 2º V — lesão qualificada pelo aborto). (2012, p. 183). Duas situações que podem prejudicar a saúde da mãe e do bebê, enquadradas como práticas na violência obstétrica, são, primeiramente, o uso do soro com ocitocina por conveniência médica, que causa um rompimento artificial da bolsa, desconsiderando a fisiologia do parto e nascimento. A outra é a cesárea eletiva, sem indicação clínica, apenas por conveniência médica, marcada antes da 39ª semana. Nos casos em que a gestante é constrangida e obrigada a aderir práticas que não concorda ou não tenha a informação correta, repassada pelo médico ou sua equipe, tem como exemplos a escolha do tipo de parto e da posição mais favorável 26 para a mulher dar à luz, além do uso de fórceps. Essas situações podem fazer referências ao tipo penal do artigo 146 do CP, que diz: ―Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda‖, caberá pena de detenção de três meses a um ano, ou multa. Caso a gestante sofra ameaças, poderá valer-se do artigo 147 do CP, pois a ameaça, dentro dos casos de violência obstétrica, visa a intimidação de forma que a gestante se sinta amedrontada, mediante argumentos de causar-lhe mal injusto e grave. No caso de a gestante sofrer maus-tratos, pode-se valer do artigo 146 do CP, que infere que se a gestante sofreu esse tipo de conduta, como privação de alimento e água por longo período, mesmo após o parto, o profissional da saúde ou assistentes podem sofrer pena de detenção de 2 meses a 1 ano, ou multa. 5.4 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) A Lei n° 8.069/1990 que dispõe sobre o ECA, demonstra uma preocupação do legislador em garantir atenção à gestante, parturiente. Nos artigos 7° e 8° elencam como direito fundamental da criança e do adolescente proteção à vida e à saúde mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência (BRASIL, 1990, online). Efetivar esses direitos perpassa pelo atendimento a gestante, desde o gestar, nascer e até o puerpério, inclusive propiciando, se for o caso, apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitarem. O artigo 8° caput da Lei afirma que: É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral do Sistema único de saúde. (BRASIL, 1990, online) Interessante frisar, que o legislador nos parágrafos 4, 6, 7, 8 referente ao artigo 8°, salienta que é do poder público o dever de proporcionar assistência psicológica à gestante, durante todo o período gestacional até o puerpério. O artigo ainda aborda que a parturiente tem direito a um acompanhante de sua escolha, além de receber orientações sobre o aleitamento materno, alimentação complementar saudável e 27 crescimento e desenvolvimento infantil; assegura, também, o direito da gestante ao acompanhamento saudável durante toda a gestação e a ter um parto cuidadoso e, que a cesariana e as outras intervenções sejam realizadas por motivos médicos. Maciel ensina que: Trata-se de mais uma ferramenta do sistema de garantias cujo paradigma é a doutrina da proteção integral. Em uma sociedade cujo pilar constitucional é o princípio da dignidade da pessoa humana, não se mostrava mais razoável, ou mesmo tolerável, que um ser humano já concebido, mais em risco social ainda na sua formação gestacional, ficasse desamparado e no aguardo do seu nascimento para, só então, ser considerado como pessoa. (2015, online) Com isso, percebe-se que o ECA reconhece direitos que devem ser exercidos antes mesmo do nascimento, assegurando saúde para as crianças. Portanto, efetivar esses direitos e monitorar a saúde da gestante e do feto é imprescindíveis para melhorar o atendimento as mulheres durante o período gestacional. 6 CONCLUSÃO Baseado nas questões expostas ao longo do trabalho, a partir de um estudo aprofundado sobre o tema violência obstétrica, observa-se que essa violência se expressa de forma silenciosa, omissa, até mesmo invisível. Além disso, viola os direitos das mulheres grávidas, que incluem a perda de sua autonomia e a decisão sobre seu próprio corpo. Observa-se que no século XII até meados XIX, a gestante tinha assistência das parteiras, os homens não tinham nenhuma participação do parto, ou seja, o processo do gestar era mais humanizado, em que a mulher era a protagonista e tinha seus direitos e garantias respeitados. A fim de eliminar a discriminação contra as mulheres, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher foi aprovada pela ONU e ratificada pelo Brasil, no ano de 1984 e se preocupa em assegurar a igualdade, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. A Convenção de Belém do Pará gera um grande progresso internacional dos direitos das mulheres, ratificada pelo Brasil em 1995. Essas duas Convenções são de extrema importância para os direitos das mulheres, pois tentam combater, erradicar, punir, prevenir, proteger e descriminalizar todos os tipos de violência contra a mulher, enquadrando- se, também, a violência obstétrica. 28 Nesse sentido, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos se respalda no princípio da Autonomia, da Responsabilidade Individual, e do Consentimento, para garantir as gestantes, o direito de receber informações, sobre sua saúde e do seu filho, informações sofre os procedimentos indicados, além de ser respeitada sua autonomia para tomar suas próprias decisões e serem responsáveis por elas. Por ser um tema deficiente no cenário brasileiro e pouco conhecido, constatou- se que no Brasil há várias lacunas às normas referentes a essa temática, apesar dos inúmeros casos recorrentes em hospitais públicos e particulares. Espera-se que os projetos de leis, mencionados no decorrer daseção, sejam aprovados o quanto antes e que, as legislações genéricas sejam melhor fiscalizadas, possibilitando, cada vez mais, suporte e assistência a mulher que sofre violência obstétrica. Vale ressaltar que Leis Federais, sobre o tema, dos países como Argentina e Venezuela, podem servir como fonte de inspiração. Ao se identificar o conceito e as práticas de violência obstétricas, percebe-se o quanto os direitos e garantias das gestantes não são respeitados, e as práticas realizadas são extremamente desumanas, algumas sem embasamento científico. Apesar das recomendações da OMS, das Convenções ratificadas pelo Brasil e suas próprias legislações genéricas, Resoluções da ANVISA e do Ministério da Saúde, este que infelizmente contraria toda uma literatura científica, ao querer adotar um posicionamento de extrema irresponsabilidade ao querer vetar o uso da palavra Violência Obstétrica. Espera-se que o Ministério da Saúde não vete a expressão e sim, extinga a prática, garantindo à todas as gestantes, amparo e assistência, por meio de políticas públicas que sejam propagadas em todo território nacional. Os hospitais e os profissionais da área da saúde precisam ser melhor fiscalizados, pois possuem conhecimento da existência dessas práticas e as cometem sem qualquer justificativa plausível, sem medo de serem denunciados e punidos na forma da lei. Ressalta-se que, apesar de no país faltar uma Lei Federal específica que efetive o crime de violência obstétrica, há no ordenamento jurídico, recursos disponíveis em que a mulher, vítima de tais agressões, possui amparo legal por meio da Constituição Federal de 1989, além de normatizações no Direito Civil, no Direito Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 29 Por fim, cabe salientar que o Estado tem o dever de coibir qualquer forma de violência contra as mulheres, que obviamente inclui o dever de prevenir, erradicar e punir a violência obstétrica. O que se espera é que essa agressão seja reconhecida como de gênero e se faça necessário, conscientizar a população em geral, acerca dos procedimentos realizados na hora do parto cesárea e normal, possibilitando às parturientes reconhecer e pleitear seus direitos, diminuindo os casos de violência obstétrica. Torna-se necessário oferecer aos profissionais de saúde, capacitação para uma visão mais social e humanística do momento do parto, além da criação de uma Lei Federal específica que assegure e defina todos os direitos e garantias da gestante e do bebê, com objetivo de tornar o momento do parto uno, humanizado e afetivo. Para denunciar a violência obstétrica, a mulher pode procurar o Ministério Público Federal e o Estadual, a Defensoria Pública do seu Estado e a delegacia da mulher independentemente se utilizou o serviço público ou privado. Pode-se também entrar em contato pelo telefone 180 (violência contra a mulher) ou para o 136 (disque saúde), os profissionais da área da saúde podem também ser denunciados no Comitê de Ética da instituição a qual trabalham e nos conselhos de classe da categoria. Exigir sempre a cópia do prontuário da paciente junto à instituição, onde foi realizado o parto, pois está documentação pertence a ela e ajudará a comprovar os fatos. REFERÊNCIAS ANVISA. 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