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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DAS ENGENHARIAS BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVÍL CAMPUS CARAÚBAS DOCENTE: ANA CLÁUDIA DISCENTE (S): GERALDO TARGINO FILHO ROBERTA SUZY OLIVEIRA SILVA HISTÓRICO DO SANEAMENTO BÁSICO PELO CONTEXTO MUNDIAL E NACIONAL CARAÚBAS 2019 1 SANEAMENTO BÁSICO NO MUNDO 1.1 Antiguidade A identidade sanitária mundial deu-se início a partir da concepção das “Civilizações Hidráulicas”, termo esse que se refere a sociedades que viviam suas organizações sociais e econômicas baseadas nos benefícios que as margens de grandes rios ofereciam. Dentre elas estão as civilizações que perduravam na região do Egito, Mesopotâmia, China e Índia, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1 – Civilizações hidráulicas Fonte – Google Imagens Com a grande procura por água pelos povos antigos, há registros de grandes poços de água na China chegando até 450m de profundidade, o mais antigo datado até hoje tem cerca de 9000 anos. Na Mesopotâmia (antiga Babilônia) em Eshnunna, onde hoje é o Iraque, foram encontradas canalizações de esgoto de 3.750 a.C (Figura 2) e juntas e joelhos de canalização em cerâmica (Figura 3). O primeiro sistema público de abastecimento de água foi encontrado na Assíria, o “aqueduto de Jawan”, pertencendo a 691 a.C. Figura 2 – Redes de esgoto em Eshnunna Fonte – BUFF, 2010 Figura 3 – 1º Joelho de canalização cerâmica Fonte – BUFF, 2010 As cidades Mohenjo Daro e Harappa (Figuras 4 e 5), localizadas no do vale do rio Indo em 2600 a 1900 a.C eram caracterizadas por um sofisticado sistema de encanamento, onde as águas corriam em dutos ou esgotos centrais. Além disso, as ruas eram largas, pavimentadas e drenadas por esgotos cobertos. Os canais ficavam a cerca de meio metro abaixo dos pavimentos e eram construídas geralmente em tijolos de alvenaria e argamassa de barro. Em em Mohenjo-Daro (atual Paquistão), a grande maioria das residências continham uma área de banho privada, com canalização para levar a água suja para o esgoto. Havia também banhos públicos, usados para lavar roupas, ainda comumente utilizados hoje na India e no Paquistão. Figura 4 – Ilustração das ruas de Mohenjo-Daro e o sistema de esgoto Fonte – BUFF, 2010 Figura 4 – Ruas de Harappa Fonte – BUFF, 2010 No Egito, as civilizações egípcias dominavam técnicas sofisticadas de irrigação do solo na agricultura, além de métodos de armazenamento de líquido pois dependiam das enchentes do Nilo. O armazenamento de água em grandes potes de barro é um hábito, isso durante aproximadamente um ano, tempo suficiente para que a sujeira se depositasse no fundo do recipiente. Em antigas pinturas egípcias dos séculos XV a XIII a.C, aparecem representações de filtragem por sedimentação e uso de sifões, e se especula se utilizavam alúmen para remover sólidos suspensos Em 2100-1700 a.C, a cidade de Kahum, tinha um sistema de água escoada através de uma calha de pedra de mármore implantada no centro da rua em Tel-el- Amarna, com sistema de drenagem similar ao de Kahum foram encontrados sinais da existência de banheiros em residências mais humildes. Os romanos foram os grandes engenheiros na idade antiga, construíram os famosos aquedutos de 422km (Figura 5) que mais tarde se espalhariam pelo mundo todo, latrinas comunitárias (Figura 6) e também foram responsáveis pela construção da cloaca máxima (Figura 7) no final do século VI a.C, com a finalidade de drenar as águas residuais e o lixo para o rio Tibre. Figura 5 – Aqueduto romano Fonte – BUFF, 2010 Figura 6 – Latrinas em Roma Fonte – BUFF, 2010 Figura 7 – Cloaca Máxima Fonte – BUFF, 2010 1.2 Idade Média A Idade Média foi um longo período da história que se estendeu do século V ao século XV. Seu início foi marcado pela queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e o fim, pela tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. As cidades medievais consistiam num amontoado de edifícios compostos por ruas estreitas. Eram pequenas, densamente povoadas, barulhentas e sujas. A maioria de suas ruas não tinha pavimentação e tampouco obras de drenagem, dessa forma recebia todo tipo de sujeira. Os homens da Igreja acreditavam que após o batismo não existiam mais razões válidas para um cristão tomar banho. O preconceito teológico em relação aos cuidados de higiene corporal teve grandes consequências na saúde da população europeia. Na maioria dos conventos e monastérios da Europa medieval, o banho era praticado duas ou três vezes ao ano, em geral às vésperas de festas religiosas como a Páscoa e o Natal. Outro fator relevante para aquela época, é que as pessoas costumavam atirar os excrementos nas ruas, às vezes atingindo os pedestres, como pode ser ilustrado na Figura 7. Figura 8 – Ilustração dos hábitos higiênicos na Idade Média Fonte – BUFF, 2010 Nos porões dos navios de comércio, que vinham do Oriente, entre os anos de 1346 e 1352, chegavam milhares de ratos. Estes roedores encontraram nas cidades europeias um ambiente favorável, pois estas possuíam condições precárias de higiene. Estes ratos estavam contaminados com a bactéria Pasteurella Pestis. E as pulgas destes roedores transmitiam a bactéria aos homens através da picada. Após adquirir a doença, a pessoa começava a apresentar vários sintomas: primeiro apareciam nas axilas, virilhas e pescoço vários bubos (bolhas) de pus e sangue. Em seguida, vinham os vômitos e febre alta. não havia cura para a doença e a medicina era pouco desenvolvida. a doença fez tantas vítimas que faltavam caixões e espaços nos cemitérios para enterrar os mortos. Os doentes eram, muitas vezes, abandonados, pela própria família, nas florestas ou em locais afastados. O regresso dos cruzados igualmente contribuiu para a introdução de muitas doenças transmissíveis, até então desconhecidas na Europa, e que se transformaram em terríveis epidemias. Estima-se que somente a peste negra (Figura 9) vitimou cerca de 25 a 30 milhões de pessoas (entre um terço a um quarto da população do Ocidente) em meados do Séc. XIV. Figura 8 – Quadro ilustrando a peste negra. Fonte – BUFF, 2010 1.3 Idade Moderna Entre o século XVI e meados do século XVIII generalizou-se a pavimentação das ruas e construção de obras de canais de drenagem onde escoavam os refugos indesejáveis das ruas em direção aos rios e lagos. O uso desse método produzia maus odores, além do que as provisões de água se tornavam perigosamente poluídas. Dizia-se que os canais de Antuérpia matavam até mesmo os animais que bebiam sua água. Os poços e fontes se contaminavam com infiltrações oriundas das fossas e dos cemitérios. Considerava-se que a água era capaz de se infiltrarno corpo e supunha-se que a água quente, especialmente, fragilizasse os órgãos, abrindo os poros para os ares malignos. Durante o século XVII os banhos continuaram a ser olhados como algo perigoso e desaconselhado a pessoas doentes. Nesta época, para disfarçar o cheiro, as classes altas começaram a importar e a usar perfumes. A indústria cosmética teve um enorme avanço. No Palácio de Versalhes, um decreto de 1715, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana – do que se deduz que o recolhimento era ainda mais esparso antes. Versalhes não tinha banheiros, mas contava com um quarto de banho equipado com uma banheira de mármore, objeto que serviria apenas à ostentação, caindo no mais absoluto desuso. A maior parte das pessoas utilizava-se de urinóis para as suas necessidades fisiológicas. Com o desenvolvimento industrial, a partir de meados do séc. XVIII, houve grande êxodo rural e as populações concentraram-se nas cidades As condições de vida nas cidades da Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha eram terríveis. As moradias eram superlotadas e sem as mínimas condições de higiene. Os detritos eram acumulados em recipientes, de onde eram transferidos para reservatórios públicos mensalmente. Apesar disso, foi o período histórico da criação da bomba hidráulica e dos tubos de ferro fundido. 1601, na Inglaterra, pela “Lei dos Pobres” o Estado passa a responsabilidade à Igreja na assistência à população em relação à saúde. A precariedade do saneamento era muito grande. 1.4 Século XIX No início do XIX, as condições de vida urbana começaram a melhorar. Com a introdução gradual das bombas a vapor e canos de ferro, a generalização do sistema de drenagem por carreamento pela água logo originou mais problemas: as fossas raramente eram limpas e seu conteúdo se infiltrava pelo solo, saturando grandes áreas do terreno e poluindo fontes e poços usados para o suprimento de água. Como esses canais de esgotamento se destinavam a carrear água de chuva, os rios de cidades maiores se transformaram em esgotos a céu aberto. O suprimento de água e limpeza de ruas não acompanharam a expansão urbana. Ao mesmo tempo a proliferação das indústrias que lançavam seus resíduos nas águas agravava a poluição ambiental. Houve a volta, então de graves epidemias, sobretudo do cólera e febre tifóide, transmitidos pela água contaminada. A mortalidade era agravada pelas péssimas condições de vida e trabalho da classe operária Diante da gravidade da situação, os governos passaram a investir muitos recursos em pesquisa e na área médica levando a descobrir que doenças infecciosas eram causadas por microrganismos patogênicos. A partir daí foi possível entender os processos de transmissão de doenças através da água e de outros meios contaminados Bactéria Escherichia Coli. As autoridades perceberam uma clara conexão entre a sujeira e a doença nas cidades. Os engenheiros hidráulicos em 1842 propuseram, então, a reforma radical do sistema sanitário, separando rigorosamente a água potável da água servida as valas de esgotos a céu aberto seriam substituídas por encanamentos subterrâneos construídos com manilhas de cerâmica cozida. Os esgotos transportavam as águas servidas em Paris desde o século XIII quando as ruas da cidade foram pavimentadas e canais foram construídos. Esgotos cobertos foram introduzidos. Após a grande epidemia de cólera de 1832, se iniciou uma política de saneamento básico. Em 1854, Eugène Belgrand sob estímulo do prefeito Haussmann, construiu uma grande rede de esgotos, que conta hoje com mais 2.300 km de extensão. A primeira lei voltada para saúde pública foi instaurada na Inglaterra – Londres em 1848. Em 1859 deu-se início a limpeza geral das canalizações de esgoto da capital. Em 1875, 133 km de coletores novos eram instalados em Londres, fazendo o recolhimento de dejetos em uma área de 260 km², sendo pioneira e exemplar para outras cidades da Europa. O uso do uso do concreto armado como material de construção por Joseph Monier generalização a utilização do material para a construção de reservatórios e encanamentos e canais, com salientando como vantagens: segurança, durabilidade, rapidez de execução, economia de conservação, impermeabilidade e resistência a choques e vibrações. Dessa forma, o concreto armado possibilitou desenvolvimento das obras de drenagem, facilitando a construção de lajes de cobertura e o emprego de tubos pré-moldados para construção das galerias. Nos Estados Unidos, a concepção inicial de sistemas de esgoto foi dada pelo engenheiro civil J.W. Adams, que projetou os esgotos de Brooklyn, Nova Iorque 1873 - formação do Departamento de Saúde Nacional, precursor do Serviço de Saúde Pública Norte-Americano. As maiores cidades americanas estavam com linhas de esgoto em funcionamento. Foi só no século XIX, com a propagação da água encanada e do esgoto e com o desenvolvimento de uma nova indústria da higiene que o banho foi reabilitado. O sabão, conhecido desde a Antiguidade, mas por muito tempo considerado um produto de luxo, foi industrializado e popularizado, além de outros itens imprescindíveis. 1.5 Século XX até os dias atuais. No século XX o desenvolvimento da ciência e da tecnologia permitiu que fontes contaminadas se tornassem potáveis após tratamento. A humanidade levou quase 200 mil anos para atingir a marca de 1 bilhão e 500 milhões de pessoas. Em apenas um século a população mundial quadruplicou, tendo atingido a marca de 6 bilhões de pessoas no ano 2000. A Figura 9, esquematiza como é realizado o sistema de distribuição água atualmente. Figura 8 – Sistema atual de distribuição de água Fonte – BUFF, 2010 Apesar dos grandes avanços no saneamento básico mundial, ainda existem questões relevantes para sem resolvidas: Cerca de 1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável; até meados deste século, 2 bilhões de pessoas sofrerão com a escassez de água potável, caso não haja adoção de políticas para preservar e recuperar os recursos hídricos; diariamente morre cerca de 6.000 crianças devido doenças ligadas à qualidade da água e deficiência de saneamento. 80% de todas as doenças ainda se relacionam com a falta de controle adequado da água. Daí a imensa preocupação sobre os recursos naturais, a grande produção de lixo e águas contaminadas. Deve-se encontrar soluções para todas essas problemáticas. 2 SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Verifica-se que no século passado, desde a década de 1950 até o seu final, passou a surgir o investimento em saneamento básico no Brasil, que ocorreu pontualmente em alguns períodos específicos, com ênfase para as décadas de 1970 e 1980, época a qual existia uma visão de que avanços nas áreas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário nos países em desenvolvimento resultariam na redução das taxas de mortalidade (Soares, Bernardes e Cordeiro Netto, 2002:1715). Nesse período, foi aplicado o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), que gerou um enfoque acerca do incremento dos índices de atendimento por sistemas de abastecimento de água, no entanto, não promoveu uma diminuição no déficit de coleta e tratamento de esgoto, o que é ainda verificado atualmente. Até 2006, apenas 15% do esgoto sanitário gerado nas regiões urbanas dos municípios do Brasil era tratado (Snis, 2007). No final do século XIX, ocorreu a organização dos serviços de saneamento e as províncias entregaram as concessões às companhias estrangeiras, principalmente inglesas. O Governo de São Paulo construiu o primeiro sistema de abastecimento de água encanada, entre 1857 e1877, após assinar contrato com a empresa Achilles Martin D´Éstudens. Em Porto Alegre, o sistema de abastecimento de água encanada foi concluído em 1861, e o do Rio de Janeiro em 1876, por Antônio Gabrielli. Com o uso do decantador Dortmund, o sistema do Rio de Janeiro se tornou pioneiro na inauguração em nível mundial de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), com seis filtros rápidos de pressão ar/água. Com a péssima qualidade dos serviços prestados pelas companhias estrangeiras, o Brasil estatizou o serviço de saneamento no início do século XX. A partir dos anos 1940, se iniciou a comercialização dos serviços de saneamento. Surgem então as autarquias e mecanismos de financiamento para o abastecimento de água, com influência do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), hoje denominada Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Em 13 de outubro de 1969, o Decreto Lei 949, autorizou que o Banco Nacional de Habitação (BNH) a aplicar nas operações de financiamento para o saneamento, além de seus próprios recursos, os do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Em 1971, foi instituído o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), onde foram consolidados os valores que surgiram nos anos de 1950, autonomia e autossustentação, por meio das tarifas e financiamentos baseados em recursos retornáveis. As decisões passaram a ser concentradas, com imposições das companhias estaduais sobre os serviços municipais, e uma separação das instituições que cuidavam da saúde e as que planejavam saneamento. Com a falência da PLANASA e a extinção do BNH, o setor de saneamento viveu um vazio institucional. Em 1991, a Câmara Federal iniciou debates com a tramitação do PLC 199, que dispunha sobre a politica nacional de saneamento. Após quatro anos de discussões foi vetado integralmente o PLC 199, sob a justificativa do governo federal de que era incompatível com a Lei das Concessões. Em 1995, a Lei de Concessão nº 8.987 regulamentou o artigo 175 da Constituição Federal, que previu a concessão de serviços públicos e autorizou a outorga desses serviços. Foram tentadas estratégias de privatização com outros Projetos de Lei para o saneamento, como o PLS 266 que buscava transferir a titularidade dos serviços para o Estado, com um inter-relacionamento entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O PL 4.147/2001 foi mais uma tentativa de tomar dos Municípios a titularidade dos serviços de saneamento. Todos os projetos foram negados no Congresso Nacional por iniciativa do movimento municipalista brasileiro, que batalhou pelo arquivamento definitivo de tais propostas. Em 2004, a Lei da PPP (Parceria Público- Privada), nº 11.079, definiu regras gerais para licitar e contratar parcerias público- privadas por parte dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais, permitindo que fossem realizadas as primeiras concessões para companhias privadas. A resolução nº 518 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama e do Ministério da Saúde, estabeleceu normal e padrões da potalidade da água para o consumo humano, iniciando a formação do marco legal do setor de saneamento no Brasil. Em 2005, a Lei de Consórcio Público nº 11.107 definiu as condições para que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios estabelecessem consórcios públicos para desenvolver projetos de interesse comum. Após intensa luta dos Municípios pela titularidade dos serviços de saneamento, no dia 05 de janeiro de 2007, foi sancionada a Lei Federal nº 11.445, chamada de Lei Nacional do Saneamento Básico – LNSB, que teve vigência a partir de 22 de fevereiro do mesmo ano, estabelecendo as diretrizes nacionais para o saneamento básico no Brasil, determinando que a União elabore o Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB). Para usufruir dos benefícios estabelecidos por lei, os Municípios devem elaborar seus planos municipais definindo horizontes de universalização da prestação de serviços. A Lei Federal nº 11.445 esclareceu e deu encaminhamento a várias questões que não estavam cobertas pela legislação até então, definindo diretrizes nacionais para a prestação de serviços de água e esgoto, fixando os direitos e obrigações da União de manter, estabelecendo regulação, inspecionando e planejando políticas para o setor. A lei determinou a criação de entidade reguladora específica em cada instância governamental e estabeleceu objetivos para o planejamento municipal de saneamento e criou mecanismos legais e políticos de pressão para atingir metas. Após a aprovação do marco regulatório, em complemento a Lei nº 11.445, os municípios passaram a se estruturar como poder concedente. Desde então, tem sido crescente a participação de empresas privadas no setor de saneamento, chegando em 2014 com pouco mais de 10% do setor e a expectativa da ABCON (Associação das Concessionárias Privadas de Água e Esgoto) é de que a iniciativa privada atinja 30% do setor até o final de 2017, quando o marco regulatório completará 10 anos. Pelo impacto na qualidade de vida, na saúde, na educação, no trabalho e no ambiente, o saneamento básico envolve a atuação de múltiplos agentes em uma ampla rede institucional. No Brasil, está marcado por uma grande desigualdade e por um grande déficit ao acesso, principalmente em relação à coleta e tratamento de esgoto. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (Snis, 2007), em 2006, o índice médio de atendimento urbano mostrava valores relativamente elevados, em termos de abastecimento de água, com um índice médio nacional de 93,1%. Porém, em termos de esgotamento sanitário, o atendimento urbano com coleta era muito escasso, tendo um índice médio nacional de 48,3%, e um índice médio nacional de apenas 32,2% para o tratamento desse esgoto coletado. Destaca-se que, em relação ao atendimento à população de baixa renda, o índice ainda é mais inadequado, e alcançar uma cobertura mais ampla desse benefício é um grande desafio. A figura apresenta o total de investimento per capita necessário para universalização do saneamento básico no Brasil e explicita a desigualdade regional causada pela menor capacidade de pagamento da população nas regiões Norte e Nordeste em comparação com as outras regiões. Esse déficit “está intimamente relacionado ao perfil de renda dos consumidores” (Saiani, 2007:263). Ainda de acordo com a figura, o Sudeste é a região que necessita de menor investimento per capita, em torno de R$ 358, enquanto a região Norte necessita de um investimento da ordem de R$ 641, sendo quase o dobro necessário. Observa-se também que a região Norte possui o maior comprometimento da renda per capita da população com relação ao total necessário a ser investido. Percentuais elevados como este tornariam mais necessária a atuação do Estado com investimentos não reembolsáveis — que não obrigariam o tomador do empréstimo ao pagamento do montante recebido. Em números absolutos, para que a universalização dos serviços de água e esgoto no Brasil fosse alcançada em 2025, seria necessário que fossem investidos, em média, R$ 11 bilhões todos os anos, a partir do ano de 2006 até o ano de 2024 (Aesbe, 2006). Todavia, de acordo com os dados do Snis (2007), em 2006, o total de investimentos efetivamente realizados no setor de saneamento brasileiro foi de apenas R$ 4,5 bilhões (sendo R$ 1,8 bilhão em coleta e tratamento de esgoto). Este ainda é um reflexo de anos anteriores, quando o investimento foi, em média, R$ 3,9 bilhões, considerado o período de 2003 a 2006, atualizados para dezembro de 2006, utilizando-se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na tabela 1, observa-se que, no ano de 2000, 47,8% dosmunicípios não tinham coleta de esgoto, sendo seus principais receptores os rios e o mar; e, dos 52,2% restantes, que coletam os esgotos, apenas 20,2% tinham tratamento (UNDP, 2000). Em 2007, de acordo com os dados do Snis (2007), este quadro pouco se alterou, sendo ainda boa parte do esgoto sanitário que é coletado nas cidades despejado in natura em corpos de água ou no solo, principalmente em municípios com população inferior a 30 mil habitantes O saneamento básico constitui-se como o conjunto de infraestruturas e medidas adotadas pelo governo a fim de gerar melhores condições de vida para a população. No Brasil, esse conceito está estabelecido pela lei nº 11.445/07, compreendendo o conjunto de serviços estruturais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e limpeza e drenagem de lixo e águas pluviais urbanos. Em linhas gerais, podemos dizer que nos últimos 20 anos a difusão dos serviços de saneamento básico no Brasil conheceu profundos avanços. Porém, ainda existem muitos problemas, principalmente relacionados com as desigualdades regionais quanto à disponibilidade de infraestruturas, um reflexo do desenvolvimento desigual do território brasileiro. Dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que 98% da população brasileira possui acesso à água potável, mas cerca de 17% do total de domicílios não possui o fornecimento hídrico encanado, tendo acesso a esse recurso por meio de cisternas, rios e açudes. Em uma divisão entre cidade e campo, constata- se a diferença: 99% da população urbana tem acesso à água potável, enquanto, no meio rural, esse índice cai para 84%. Já a população com acesso à rede sanitária ou fossa séptica é menor, cerca de 79% em 2010, o que revela o grande número de domicílios situados em localidades com esgoto a céu aberto. Além disso, cerca de 14% dos habitantes do país não são contemplados pelo serviço de coleta de lixo e 2,5% não contam com o fornecimento de eletricidade. As desigualdades regionais nesses quesitos são marcantes. Enquanto as cidades mais desenvolvidas do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, apresentam índices de tratamento de esgoto de 93%, outras capitais, como Belém (7,7%) e Macapá (5,5%), não gozam do mesmo privilégio. Além disso, há também uma desigualdade intraurbana (ou seja, dentro das cidades), com ausência de serviços de água, esgoto e até eletricidade em periferias e favelas. De acordo com as premissas internacionais dos Direitos Humanos, privar grupos de pessoas de serviços básicos como esses pelo simples fato de não serem proprietários legais de suas terras constitui-se como um crime e uma agressão à humanidade. Não obstante, o peso das taxas e impostos cobrados pelo Estado para a manutenção desses serviços não segue uma proporção devidamente estabelecida. Isso significa dizer que os valores cobrados pesam mais no bolso das populações mais pobres do que na população mais rica. Para a Organização das Nações Unidas, o ideal seria que essas cobranças não ultrapassassem 5% do orçamento familiar, o que não ocorre na maioria dos casos atualmente. O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) com o escopo de mudar a situação do saneamento básico no Brasil, o governo brasileiro instituiu o Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico), que consiste em um conjunto de metas e objetivos para transformar a realidade desse setor no país. Entre essas metas, encontram-se alguns dos Objetivos do Milênio, implantados pela ONU, que são: a) reduzir pela metade, até 2015, a proporção de habitantes sem acesso à água e ao saneamento básico; b) melhorar significativamente as condições de vida de 100 milhões de pessoas que vivem em bairros degradados até o ano de 2020. Além disso, outra meta estipulada é a de atingir a universalização das estruturas de saneamento básico em todo o país até o ano de 2033. Contudo, esse esforço, segundo estimativas de órgãos como o Instituto Trata Brasil, demanda um investimento de pelo menos R$15 bilhões por ano, enquanto o Estado vem investindo, em média, R$9 bilhões. Por outro lado, as previsões estabelecidas pelo Plansab revelam uma estimativa de R$508,4 bilhões de reais entre os anos de 2014 e 2033. Há a expectativa de que esses valores atendam às necessidades estruturais até o término desse prazo. O mais importante sobre essa questão, a partir de agora, além da intensificação dos investimentos públicos em nível federal, estadual e municipal, é a pressão popular pela democratização dos serviços sanitários. Um relatório da ONU de 2013 revelou que apenas uma em cada quatro pessoas sem saneamento básico reclama por seus direitos, o que revela a necessidade de uma maior mobilização pelo atendimento desse tipo de demanda. 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, Rodrigo. A história do saneamento básico no Brasil. Disponível em: <http://www.rodoinside.com.br/a-historia-do-saneamento-basico-no-brasil/> Acesso em: 04 de maio de 2019.) tm>. Acesso em 04 de maio de 2019. BUFF, Sonia Rosalie. SANEAMENTO BÁSICO como tudo começou. 2010. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/eloambiental/a-histria-do-saneamento- bsico>. Acesso em: 06 maio 2019. LEONETI, Alexandre Bevilacqua; PRADO, Eliana Leão do; OLIVEIRA, Sonia Valle Walter Borges de. Saneamento básico no Brasil: considerações sobre investimentos e sustentabilidade para o século XXI*. 2009. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/6995>. Acesso em: 03 maio 2019. PENA, Rodolfo F. Alves. "Saneamento Básico no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/brasil/saneamento-basico-no-brasil>. Acesso em: 04 maio 2019. SANETRAN. Evolução do saneamento no mundo e importância da gestão de resíduos sólidos. 2016. Disponível em: <http://sanetran.com.br/evolucao-do- saneamento-no-mundo-e-a-gestao-de-residuos-solidos/>. Acesso em: 06 maio 2019. SOUSA, Francisco Salviano de. O saneamento básico na história da humanidade. 2019. Disponível em: <http://www.senado.leg.br/comissoes/ci/ap/AP20091130_FranciscodeAssisSalviano deSousa.pdf>. Acesso em: 06 maio 2019.
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