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_Capitulo sobre Hegel (2008).

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Hegel e a Formação da Consciência 
 
Autonomia do Pensar e o Problema da Verdade 
 
Ter o hábito de pensar por si mesmo faz a pessoa ser considerada alguém 
autônoma. Daí a crença de que só podemos alcançar aquilo que é verdadeiro 
por meio de nossa forma aparentemente autônoma de pensar. Sabemos que a 
autonomia é necessária para desenvolvermos nossa visão de mundo em 
relação às coisas e às pessoas de modo geral. No entanto, surge uma questão 
na idéia de autonomia quanto àquilo que é considerado como verdadeiro na 
esfera do conhecimento válido universalmente. 
O quê garante que a minha autonomia possa me dar certeza daquilo que eu 
penso ser verdadeiro tanto para a minha mente quanto para as coisas em si 
mesmas? Em outros termos, será que o meu pensamento autônomo permite 
que eu alcance a verdade da realidade tanto nela mesma como para a minha 
mente? Surge aqui uma discussão sobre a relação entre o pensamento 
autônomo e a verdade. Como averiguar, então, que haja uma identidade entre 
esses dois pólos distintamente diferentes: pensar e verdade? 
O filósofo que pode nos ajudar nesta questão é o alemão Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel. Nascido em Stuttgart em 1770, que à época era a capital do 
ducado de Württemberg, na Suábia, região do sudeste da Alemanha. 
Lembremos que a Suábia era um dos inúmeros pequenos estados da 
Alemanha que, até então, ainda era dividida. Em 1788, ele ingressou no 
seminário teológico de Tübingen, com a intenção de vir a ser pastor luterano. 
No seminário travou amizade com Hölderlin, que se tornou um dos maiores 
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poetas da língua alemã, e Schelling, que também veio a se tornar um dos 
grandes nomes do pensamento filosófico. O jovem Hegel sentiu-se 
entusiasmado não só pela leitura das obras de Kant como também pela 
eclosão da Revolução Francesa em 1789. Não é por acaso que ele e seus 
amigos Hölderlin e Schelling plantaram em homenagem a referida revolução 
uma árvore que chamaram de “Liberdade”. Ao terminar o seminário Hegel não 
seguiu a carreira de pastor, mas a de preceptor. Depois ingressou na carreira 
acadêmica, a qual terminou em Berlim, em pleno auge, com a sua morte por 
cólera (1831). Hegel influenciou diversos pensadores, entre eles Karl Marx. 
Além disto, ele escreveu diversas obras consideradas clássicas para a cultura 
ocidental como a sua Filosofia do Direito (1827). 
O livro de Hegel que, no entanto nos interessa para resolvermos a que questão 
acima levantada se chama a Fenomenologia de Espírito (1807) que tem 
como subtítulo a ciência da experiência da consciência. O filosofo alemão 
pretendia com este livro mostrar o processo de amadurecimento da cultura 
ocidental até o seu ponto máximo, que ele chamava de Saber Absoluto. Tal 
saber corresponderia à filosofia como saber racional que conhece a sua própria 
estrutura de saber tanto em sua essência, como em sua consciência. 
Explicando melhor: um auto-saber que, como sujeito, conhece aquilo que ele 
é em sua estrutura racional, compreendida como consciência que sabe a 
respeito de si e das coisas tanto nela mesma como para ela mesma. 
A consciência desenvolve uma espécie de caminho dialético, em que confronta 
aquilo que é opinião particular e ilusória com aquilo que é ao mesmo tempo 
racional e real. É deste confronto entre o que é mera opinião e o que é de fato 
verdadeiro que a consciência amadurece o seu próprio saber, criando assim 
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uma medida para verificar o que está correto ou não no processo de 
construção do verdadeiro saber. Daí a nossa questão acima a respeito da 
relação pensamento autônomo e verdade. Como nós havíamos dito, Hegel se 
interessa por essa questão, que alias é um tema fundamental da filosofia 
moderna desde Descartes. 
Kant como os iluministas já haviam pregado a necessidade do pensamento 
autônomo como sendo condição central para elaboração do conhecimento 
crítico. No entanto, Hegel não se limita à idéia de autonomia do pensamento, 
pois, para ele, o que está em jogo é a apreensão racional das determinações 
da realidade em seu processo lógico-histórico. Não que Hegel negue o papel 
da autonomia no processo de construção do saber verdadeiro, mas ela em si 
mesma não consegue dar conta daquilo que é absoluto, no sentido de 
apreensão da verdade em sua totalidade. 
 
A Fenomenologia do Espírito 
 
Para Hegel, a verdade é resultado da construção do saber absoluto em sua 
totalidade. Eis o motivo de na Fenomenologia do Espírito, que citamos 
acima, Hegel estruturar a construção do saber absoluto por meio de momentos 
ou etapas de amadurecimento da consciência da cultural ocidental. Não 
devemos esquecer que essa consciência que estamos analisando se refere 
não ao indivíduo, mas à cultura, que é trans-individual. 
Melhor explicando: a cultura é uma forma de saber em que os indivíduos 
seguem de modo geral as mesmas idéias e significados a respeito de si 
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mesmos, bem como das coisas do mundo em um determinado tempo e espaço 
histórico, tipo descobrimento das Américas, Revolução Francesa e etc. 
 
A Certeza Sensível 
A primeira etapa, ou ainda, como chama Hegel, a primeira Figura, do 
amadurecimento da consciência em seu processo de conhecer o absoluto em 
sua estrutura própria, é a Certeza Sensível. Tal figura inicialmente se apresenta 
como tendo a capacidade de captar de forma absoluta a verdade das coisas 
em sua universalidade conceitual. No entanto, por ser sensível tal saber acaba 
se mostrando inconstante no que se refere ao que venha ser a verdade das 
coisas seja no tempo, seja no espaço. 
Quando a certeza sensível diz agora, este já não é mais, passando a ser outro 
que se diferencia do primeiro. Por exemplo: agora é meio-dia, ao voltar para 
verificar a verdade deste agora, a certeza sensível encontra um outro agora, 
tipo, meio-dia e meia. Deste modo, não dá para a certeza sensível ter um 
conhecimento seguro a respeito das coisas na esfera da temporalidade. O 
mesmo ocorre em relação ao espaço. Ela aponta: isto é uma árvore, no 
entanto, quando se vira não ver mais árvore, mas casa. O que acaba 
ocorrendo com a certeza sensível é a perda das suas crenças. Tal perda faz 
com que ela entre em um processo de negação de si mesma, isto é, do seu 
saber como saber verdadeiro. 
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Essa negação a leva inicialmente ao desespero de não querer mais saber de 
mais nada, de um modo bastante dramático, por sinal (podemos fazer aqui 
uma relação de quando terminamos uma relação amorosa e não queremos 
saber de outro). No entanto, o processo de conhecimento iniciado pela certeza 
sensível não a deixa em paz, levando-a ao desejo de continuar o seu processo 
de amadurecimento de conhecer a verdade em sua totalidade. Temos assim 
um outro momento da certeza sensível, que é o da síntese. 
Recapitulando e aprofundando a explicação: a certeza sensível que partia 
da tese que o seu saber era o mais verdadeiro, descobre quando faz a 
experiência desse saber sensível, que ele é inconstante, mudando a todo 
instante, seja no tempo, seja no espaço. Ao descobrir a falha da sua certeza, a 
consciência nega tal saber, em uma espécie de antítese. Finalmente, após 
voltar-se sobre a sua negação (antítese), a consciência verifica onde estava a 
falha do seu saber sensível. Ela descobre que confundia o conceito agora eo 
conceito aí (ou isto) com os seus exemplos: agora é meio-dia e isto é uma 
árvore. 
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incompletude.
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A Certeza Sensível passa a distinguir o que é conceito, no sentido de 
significado universal (perene), e exemplo, no sentido de significado particular 
(circunstancial). Após aprender a fazer essa distinção, ela nega novamente o 
que havia negado (antítese), que era a de não possuir um saber imediato e 
seguro sobre as coisas. Deste modo, a consciência elabora a síntese de seu 
processo de conhecer que é de negar aquilo que foi negado. Com a síntese, a 
consciência volta ao ponto original da sua tese, correspondente ao saber 
imediato. No entanto, esse voltar ao ponto inicial não será mais o que era antes 
da experiência feita pela consciência. 
A consciência ao retornar ao seu início afirmativo (tese) mostra-se madura, no 
sentido de compreender que tudo que tem uma aparência imediata, na esfera 
do saber, passa necessariamente por uma mediação da reflexão ou 
pensamento. A síntese finaliza o processo da experiência da consciência, 
formando uma espécie de círculo. Tal círculo se caracteriza por partir de um 
ponto afirmativo (tese), para se chegar por meio de uma negação (antítese) a 
outra negação (síntese) que fecha a circunferência ao retornar àquele ponto 
inicial da tese. 
Após esse processo dialético circular, a consciência volta ao seu ponto inicial 
que era o de ter um saber imediato. No entanto, como salientamos acima, essa 
volta ao ponto inicial, apresenta-se em outro patamar. Esse outro patamar, na 
realidade, significa que a consciência amadureceu em seu processo de 
aprendizado, passando assim para outra etapa ou Figura. Ao passar para outra 
etapa ou Figura de seu aprendizado, a consciência não abandona aquilo que 
ela era anteriormente (certeza sensível). 
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Hegel vai chamar esse não abandono daquilo que a consciência foi de 
“conservação do que já foi superado” (em alemão: Aufhebung). Mas por que 
Hegel conserva o que já foi superado? Ele faz isto para que não haja o 
esquecimento do processo de aprendizado da consciência em sua formação 
(em alemão Bildung). É como alguém que está no ensino médio, que mesmo já 
tendo passado pelo ensino básico, isto é, superado esta etapa do aprendizado, 
não pode esquecê-lo sob o risco de não ter base para alcançar o ensino 
universitário. Cada etapa do aprendizado da consciência incorpora a anterior. 
 
A Percepção 
 
A Certeza Sensível como sendo a primeira etapa, como vimos acima, vai ser 
incorporada pela segunda, chamada de Percepção. Nesta etapa ou Figura, a 
consciência vai ter a mesma estrutura dialética circular (tese-antítese-síntese) 
para poder realizar a sua experiência de aprendizado. Deste modo, a 
consciência ao começar a sua experiência nessa etapa da Percepção terá a 
tese vinculada à certeza que ela consegue fazer as distinções qualitativas de 
um objeto de modo universal. Por exemplo, o sal como objeto é um meio 
composto de diversos elementos universais: formato cúbico, cristalino, salgado 
e etc. Essa certeza de conhecer o objeto de modo universal irá começar a ser 
negada, quando a consciência perceber que as propriedades qualitativas do 
referido objeto são de fato uma multiplicidade de universais independentes. 
Explicando melhor: a consciência ao aprender a distinguir o universal do 
particular, após a certeza sensível, que fazia essa confusão (-lembra?), vai 
achar que conhece a verdade dos objetos. A Percepção crê que o quê sustenta 
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a verdade dos objetos é a sua universalidade compostas por múltiplas 
propriedades universais. No entanto, fazendo a experiência da sua tese, de 
conhecer o objeto em sua universalidade, conclui que o objeto na verdade é 
um meio composto por diversos universais independentes. Daí o sal ser 
composto de diversos “também”. O sal é também branco, é também cúbico, é 
também salgado. 
A Percepção entra em uma contradição em relação ao saber quanto à unidade 
de seu objeto. Sendo múltiplos também, o sal deixa de ser o que ele é. O sal, 
então, para ser, fica na dependência de diversos também, perdendo assim a 
sua constituição própria. Eis o motivo de a Percepção concluir que o seu saber 
sobre o objeto, a partir da universalidade, era ilusório. A universalidade que a 
Percepção pregava estava baseada em uma compreensão unilateral das 
propriedades do objeto. Tal unilateralidade levava a Percepção captar cada 
propriedade como sendo para-si. Assim o objeto ficava na dependência das 
diversas propriedades que o compunham. 
A consciência nessa etapa da Percepção consegue superar a visão unilateral 
dos múltiplos universais por meio da negação (antítese). Tal negação ocorre 
quando a Percepção começa a desenvolver o seu entendimento em relação à 
universalidade em seu sentido amplo, não unilateral. Deste modo, a síntese 
dialética que supera a unilateralidade da Percepção se dá por meio da nova 
etapa do aprendizado da consciência, configurada no Entendimento. A 
consciência supera as unilateralidades abstratas das propriedades do objeto, 
passando a visualizar todas juntas em seu sentido incondicional. Assim o 
objeto não é mais um meio disperso formado por múltiplas propriedades 
voltadas somente para si. 
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O que ocorria com as diversas propriedades do objeto era um jogo de forças. 
Cada propriedade em sua universalidade unilateral (o branco, o salgado, a 
forma cúbica) agia a partir da dinâmica composta pela unidade e multiplicidade. 
O Entendimento torna discernível para si esse jogo de forças como sendo 
próprio da sua capacidade de pensar o objeto como fenômeno. 
 
O Entendimento. 
 
Se as duas primeiras Figuras da Fenomenologia do Espírito, analisadas até 
aqui, estavam mais relacionadas ao conhecimento dos objetos em uma esfera 
sensível (Certeza Sensível e Percepção), vamos notar que na terceira Figura 
que trataremos adiante, é o não sensível que irá ter mais ênfase. Deste modo, 
a consciência começa a desenvolver um saber relacionado a ela mesma. Tal 
saber irá significar que a consciência elabora formas abstratas, no sentido de 
criar leis que dêem conta dos fenômenos externos a ela mesma. Assim as 
diversas forças que ocorrem em um fenômeno natural acabam sendo 
apaziguadas por essas leis. É o que ocorre com a Física. 
O Entendimento, para Hegel, tem a determinação abstrata das ciências, no 
sentido de separar intelecto e sensibilidade, unidade e pluralidade. As ciências 
elaboram leis para os fenômenos da natureza, como a Física, que, no entanto, 
perdem o caráter dinâmico do fenômeno em sua determinação própria. Na 
realidade, o Entendimento procura em sua interioridade pensante, formas de 
como captar o sentido racional dos fenômenos. 
Para Hegel, O Entendimento elabora representações fenomenais do objeto 
investigado pela consciência por meio da separação intelecto e sensibilidade. 
Aliás, essa separação remete a Platão (mundo racional e mundo sensível), o 
qual foi um dos primeiros filósofos a estabelecer essa separação, embora fosse 
o intelecto que deveria guiar a natureza sensível, no aspecto de lhe dar 
contornos racionais. Daí a busca das ciências de procurar elaborar leis que 
dêem racionalidade para osfenômenos que ocorrem no mundo sensível da 
natureza. 
A partir da polaridade existente entre a unidade e a multiplicidade que compõe 
a dinâmica das forças da natureza fenomenal do objeto, o Entendimento 
esclarece para si mesmo que tal polaridade acontece, na verdade, em si 
mesmo, isto é, em sua interioridade intelectual. Assim com essa tese 
(lembrete: a tese é sempre uma afirmação inicial no processo dialético do 
saber de cada Figura) de que ocorre tal dinâmica no seu interior intelectual, o 
Entendimento passa a discernir como sendo para si o que acontece 
fenomenalmente no objeto. 
Explicando melhor: O Entendimento por estar na esfera abstrata do intelecto 
vê a dinâmica fenomenal do seu objeto como sendo resultado do seu próprio 
interior inteligível. Por isso, ele compreende que o quê acontece com o objeto 
é na realidade algo dele, isto é, a dinâmica da luta de forças (unidade e 
multiplicidade) do objeto aparece só para o Entendimento, em seu interior 
inteligível. Eis o motivo de Hegel utilizar os termos para si (em alemão für sich) 
e em si (an sich) para dizer que a consciência tende a fazer essa distinção 
entre o que é dela e o que é do objeto. Com o processo de amadurecimento da 
consciência em seu aprendizado a respeito do saber em sua totalidade, ela vai 
compreender que na realidade tudo que é para si é também para o em si do 
objeto, e vice-versa. Assim não há de fato uma separação entre o em si e o 
para si como acontece nesse momento que analisamos, relacionado ao 
Entendimento. 
Ao considerar para si a dinâmica da luta de forças que ocorre fenomenalmente 
com o objeto, o Entendimento nega (antítese) que haja a própria dinâmica por 
meio de criações de leis que apresentam a natureza do objeto de um modo 
estático. As explicações elaboradas por meio das leis fazem com que o objeto 
se limite àquilo que tais leis lhe prescrevem como representação fenomenal. O 
objeto em sua dinâmica natural é muito mais que a pura objetivação das leis 
feitas no interior inteligível do Entendimento. No entanto, o próprio 
Entendimento vai perceber que a sua interioridade inteligível é uma espécie de 
Reino tranqüilo das leis, cuja determinação é de elaborar formas 
representacionais estáveis, objetivadas, sem mudanças, iguais a si mesmas. 
Voltando para o interior da sua inteligibilidade, em que são construídas leis 
limitadas a formas estáticas, o Entendimento realiza a sua segunda negação 
(síntese). 
Tal negação ocorre por meio da percepção do Entendimento que compreende 
que cada elemento que compõe o objeto observado atrai o seu contrário. Daí, 
por exemplo, o doce atrai o seu contrário que é o amargo, no sentido que fora 
dele há um outro dando parâmetros para sua determinação doce. Eis o motivo 
de não haver estabilidade nas coisas contempladas pelo Entendimento. Deste 
modo, o que existe é uma espécie de mundo invertido, cuja determinação é ser 
ao mesmo tempo algo que é tanto igual a si mesmo como diferente de si 
mesmo. Lembremos que quando estamos amando somos ao mesmo tempo 
felizes no interior da relação e infelizes fora dela. Assim ao amarmos estamos 
em uma dinâmica em que temos pólos adversos: felicidade e infelicidade. 
O Entendimento descobre através da síntese realizada por ele que o interior 
dos objetos é composto por elementos cujas determinações trazem consigo o 
seu oposto. Por isso, não existir calmaria no interior das leis construídas pelo 
Entendimento. Este passa a compreender que o interior dos objetos é 
infinitamente dinâmico, pois a sua estrutura é composta de elementos que se 
atraem e se repelem constantemente. O Entendimento vê, por assim dizer, que 
tanto o seu interior (inteligível) como o interior do objeto (sensível) tem a 
mesma estrutura que as determinam igualmente. 
A conseqüência dessa conclusão do Entendimento é a descoberta do seu 
conhecimento de si mesmo. Ao concluir que tanto o seu interior como os 
objetos por ele contemplados possuíam a mesma determinação, o 
Entendimento torna-se consciência de si mesma (em alemão: 
Selbsbewusstsein). Tornando-se saber de si mesmo, o Entendimento passa 
para a etapa seguinte da sua formação (Bildung) chamada de Consciência-de-
si. 
 
A Consciência-de-si 
 
A Consciência-de-si como quarta Figura da Fenomenologia do Espírito vai 
significar uma espécie de síntese das três anteriores. No entanto, o que a 
distingue das demais é o seu saber em relação às suas determinações 
próprias. Ela se sabe em si mesma e para si mesma (dê uma olhada acima 
sobre a explicação do em si e do para). Deste modo, a Consciência-de-si 
incorpora o resultado da experiência das outras três, no sentido de incorporar 
as suas determinações verdadeiras. 
Tendo em vista a identidade existente entre o conteúdo do objeto externo e o 
conteúdo das determinações internas da Consciência-de-si, a experiência que 
ela realiza, no processo de alcançar a verdade em seu caráter absoluto, faz 
com que o objeto se dissolva em seu interior. Incorporado à consciência, o 
objeto perde a sua determinação própria. No entanto, ao ser dissolvido na 
consciência, esta também perde aquilo que a diferenciava das outras coisas. 
Era o objeto que lhe dava contornos distinguíveis frente à realidade mundana. 
Dissolvido o objeto nela, a consciência-de-si passar a ter um caráter 
tautológico. Como sujeito, a Consciência-de-si torna-se nessa tautologia um Eu 
igual a si mesmo: Eu sou Eu. 
A tautologia em que a Consciência-de-si se encontra vai fazer com que ela 
procure outra consciência-de-si para retornar a si mesma. Daí o Outro ser 
fundamental para a realização da experiência da Consciência-de-si. A 
Consciência-de-si só pode ser para si se for também para o outro, pois é este 
último que lhe dá o seu caráter de existir. Para existir, no sentido de estar viva, 
a consciência precisa desejar o outro. Desejar o outro significa, então, 
incorpora-lo para poder ser. 
Não é por acaso que Hegel desenvolve na Figura da Consciência-de-si a 
dialética do Senhor e do Escravo. Tal dialética irá mostrar a interdependência 
entre ambas as consciências. Daí a necessidade do reconhecimento por parte 
de cada uma em relação à outra. O senhor deve reconhecer o Escravo que 
produz para ele, por isso a sua dependência dele. O Senhor que se encontrava 
na esfera de ser para si, passa a compreender que ele só é para si porque é 
para o outro. O Escravo que inicialmente era para o Outro, passa a reconhecer 
que o Outro só é o Outro por causa do seu trabalho. Assim o Senhor que era 
para si passar a ser para o Outro, e o Escravo que era para o Outro passa a 
ser para si. 
O desejo de ser, faz com que a Consciência-de-si alcance a sua verdade por 
meio da transformação do Outro em si mesma e para si mesma. O Outro passa 
a ser a sua verdade, porque possibilita que a consciência-de-si operacionalize 
a sua realização como saber que se saber em si e para si. Em outros termos: 
saber preenchido de vida, diferentemente do Entendimento que inicialmente 
caia na ilusão de leis estáticas para dar conta da dinâmica dos fenômenos 
naturais. A Vida transforma-se no objeto de desejo da consciência-de-si que 
busca naquela se realizar. A unidade da Vida em seu caráter infinito abre a 
possibilidade da consciência se auto-conhecer na multiplicidade da sua 
determinação interna. 
Ao conhecer a sua determinação por meio da multiplicidade infinita da vida, a 
consciência-de-si descobre que o Outro é fundamental para a elaboração da 
sua própria identidade. A verdade da Consciência-de-si, então, é ser em sua 
identidade singular a totalidade da realidade. Não é por acaso que Hegel diz 
que todo Racional e Real e todo Real é Racional.Com esta frase podemos 
compreender a passagem da Consciência-de-si para a próxima Figura que 
compõe a Fenomenologia do Espírito. 
 
A Razão 
 
A Razão significará dentro do processo de Formação da consciência o 
momento em que ela alcança a identidade entre a sua certeza e a verdade. 
Explicando melhor: com a chegada da Razão no interior do processo de 
Formação da consciência, ocorre uma identificação entre aquilo que a 
consciência pensa, no sentido particular (daí a certeza) e aquilo que é 
universal, considerado como verdade. Assim certeza (particularidade) e 
verdade (universalidade) tornam-se uma unidade. Lembrete: não esqueça que 
a unidade para Hegel é sempre uma totalidade daquilo que é igual a si mesmo, 
bem como diferente de si mesmo. Daí a fórmula hegeliana – Identidade da 
Identidade e da Diferença. 
 Ao estar segura da sua verdade, a Razão não teme mais ser aniquilada pelo 
Outro, como acontecia na Figura anterior. A Consciência-de-si temia o Outro, 
pois este lhe representava o perigo de esfacelamento da sua determinação 
para si mesma. É por meio da dialética do Senhor e do Escravo que esse 
temor irá desaparecer. O reconhecimento do Outro servirá para a Consciência 
se convencer, por assim dizer, da certeza da sua existência singular. Eis o 
motivo da Razão se voltar para a Realidade, como sujeito, que a constrói por 
meio de uma racionalidade. A Razão ao possuir uma característica universal 
procura se realizar no mundo meio de um formato particular. 
A Razão para poder ganhar contornos próprios necessita de um formato 
particular. Deste modo, ao elaborar um formato próprio, ela singulariza a 
universalidade na realidade empírica. Podemos visualizar tal movimento a 
partir do processo histórico, como os diversos acontecimentos que ocorreram 
ao longo da existência humana. Vamos lembrar mais uma vez da Revolução 
Francesa que preconizou a igualdade entre os homens. A igualdade é um 
conceito (universal) que se singularizou no interior desse processo histórico 
particular (a Revolução Francesa). É a Razão que se concretizou 
singularmente nesse acontecimento histórico. Neste aspecto da concretização 
ou realização da Razão de um modo objetivo que surge a próxima Figura, 
chamada de Espírito. 
 
O Espírito. 
 
 Antes de começarmos analisar esta Figura, não vá confundi-la com espiritismo 
ou algo do gênero! 
Chegamos ao ponto em que a Consciência se realiza de modo objetivo no 
mundo. A Consciência não se preocupa mais em analisar as suas 
singularidades, isto é, não há mais o problema de saber sobre a verdade dos 
seus conteúdos particulares. O Espírito se apresenta como sendo a verdade da 
Razão como totalidade da realidade, tanto em sua particularidade como em 
sua universalidade. O fundamento das ações da Razão no mundo se encontra 
no Espírito. Este, ao possuir uma determinação objetiva, faz com que as ações 
humanas tendam a ter um caráter ético no que se refere às relações no espaço 
público. Daí o Espírito ganhar formas éticas, jurídicas e estatais. 
As determinações éticas do Espírito aparecem como sendo a essência 
universal dos indivíduos que convivem no meio social ou público. A ética 
aparece objetivamente por meio das leis e das instituições políticas, que não 
admitem ações não racionais por parte dos indivíduos. Eis o motivo de Hegel 
esclarecer a relação imediata entre o indivíduo e a ética usando como exemplo 
histórico-conceitual o mundo grego. Para os gregos não havia uma forma 
subjetiva de moral (individual) que se contrapusesse à ética, em sua essência 
sócio-cultural. 
No mundo grego, o individuo tinha, ao mesmo tempo, a noção tanto da sua 
determinação particular como da determinação universal da ética. O indivíduo 
toma para si a ética como sua, por meio dos deveres. São os deveres que 
ligam o ético (em alemão: Sittleche) à vontade do indivíduo. Deste modo, o 
indivíduo se liga à ética, não por meio da determinação particular da 
consciência moral, porém, por meio da objetividade das instituições e das leis. 
Não é a subjetividade que determina as ações conforme os deveres 
objetivamente válidos. É o próprio dever (em alemão: Sollen) institucionalizado 
que determina as ações dos indivíduos. No entanto, essa objetividade do 
Espírito precisa ainda amadurecer no que se refere à essência do Absoluto. Eis 
o motivo de o Espírito passar para outra Figura da Fenomenologia do 
Espírito compreendida como Religião. 
 
A Religião 
 
A Religião é o momento em que a Consciência passa a se concentrar na 
essência do Absoluto. Estando centrada nessa essência, a consciência se 
apresenta inteiramente ciente de si mesma. Eis o motivo de todas as Figuras 
anteriores estarem no interior da Religião. Ela as religa em um movimento de 
totalidade, cuja finalidade é mostrar que a essência do Absoluto sempre esteve 
presente em todas. O que está em jogo na Religião é o saber em sua esfera 
criadora. Explicando melhor: A Religião, consciente da sua essência está 
voltada para a realização de si mesma como criação. O Absoluto como sendo o 
seu fundamento, isto é, a verdade em sua totalidade, faz com que a Religião 
apareça como sujeito criador. No entanto, ela surge de forma representacional 
no processo de criação nas diversas formas religiosas. No mundo antigo, mais 
especificamente na religião Persa, tal criação aparece como natureza por meio 
da Luz ou ainda na religião Indiana por meio das plantas e animais. 
A Representação será a tônica da concretização do Absoluto na esfera da 
Religião. Daí, mesmo nas formas mais elevadas da vida religiosa sempre 
aparecerá o Absoluto vinculado à representação. No cristianismo, o Absoluto 
surge na figura humana, Cristo, como sendo a encarnação do Absoluto. O 
limite da Religião para concretizar de modo pleno da Formação da Consciência 
como sendo saber que se saber em si e para si, sem as oposições sujeito e 
objeto, é a representação. Resta, então, para a finalização do amadurecimento 
da Consciência a superação dos modelos representacionais do Absoluto. 
 
O Saber Absoluto. 
 
Chegamos finalmente à última Figura que completa o ciclo da formação da 
Consciência. Como já citamos acima, o Absoluto é a consciência em seu 
estado pleno de amadurecimento em si e para si. Deste modo, as 
determinações do saber Absoluto superam qualquer formato de separação 
sujeito e objeto. Vimos ao longo da trajetória da formação da consciência que 
havia uma tendência das Figuras fazerem uma distinção entre elas e aquilo 
que lhes era exterior, no sentido de existir uma oposição. Tal contraposição 
aparecia inicialmente na Certeza Sensível, Percepção, Entendimento. Para 
depois continuar de um modo mais interno à Consciência nas Figuras como a 
Consciência-de-si, Razão, Espírito e Religião. 
No saber Absoluto há uma reconciliação de todas as etapas anteriores no que 
diz respeito à relação certeza e verdade. Essa relação se torna transparente na 
realização do saber Absoluto como saber voltado para sua totalidade. A 
consciência, então, por estar em sua completude consegue concretizar a 
unidade intrínseca entre a sua existência particular (certeza) e a existência do 
universal (verdade). 
A consciência não precisa mais temer ser aniquilada em seu ser particular 
pelas determinações daquilo que é o verdadeiro. Na realidade, a verdade só 
pode se efetivar no particular como um modo singular de ser. Em outros 
termos: a verdade de humano, por exemplo, só pode se realizar em um 
homem ou em uma cultura particular por meio do processo de singularidade 
daquela verdade como conceito. 
Nós podemos dizer que com o Saber Absoluto a consciência humana 
conseguesuperar os seus medos e inseguranças quanto à estrutura autônoma 
de conhecer. A autonomia do pensamento não acontece simplesmente pela 
nossa capacidade cognitiva, mas pelo processo de amadurecimento racional-
histórico da cultura na qual estamos lançados. 
O pensamento autônomo é resultado do percurso feito pela consciência, em 
sua formação, até chegar ao seu ponto máximo: o saber que se sabe como 
saber em si e para si. Tal saber é autônomo porque passou por várias 
transformações que lhe permitiram ascender a um patamar de auto-suficiência. 
É como um adulto (homem ou mulher) que alcançou a sua autonomia 
intelectual e emocional depois de ter passado pela infância e adolescência. Por 
isso é preciso compreender a totalidade do caminho percorrido pela 
consciência em seu amadurecimento histórico-cultural. 
É pela famosa fórmula hegeliana da identidade da identidade e da diferença, 
como já citamos anteriormente, que se pode visualizar o homem como uma 
inteiramente nova totalidade. Isto significa que o homem precisa ser 
compreendido por meio de princípios diferentes, isto é, princípios que não 
definam a sua natureza de forma dicotômica entre razão e natureza. É por 
meio da idéia de continuidade, entre razão e natureza, que Hegel diz, que se 
pode fazer uma espécie de hierarquia dos níveis do ser, em que as unidades 
“superiores” são vistas como a realização de um patamar maior, o qual 
incorpora a imperfeição das unidades mais baixas (a Figura da Percepção 
realiza e incorpora a da Certeza Sensível e assim sucessivamente até a 
chegada ao Saber Absoluto). Cada patamar vai significar o desenvolvimento da 
concretização da subjetividade como consciência reflexiva, portanto, autônoma. 
Na teoria de Hegel, o processo de autoconhecimento da consciência em sua 
subjetividade se estrutura tanto na atividade fundamental do Espírito, 
considerada como reflexão, como no esforço de compreensão que ocorre no 
interior dos níveis de formulação de si mesma. A atividade reflexiva é a própria 
origem fenomenal da consciência em si e para si, no sentido de possibilitar que 
ela se realize, como saber, ao longo do seu processo de auto-investigação 
(Saber Absoluto que se sabe em si e para si). 
Para terminar, podemos dizer que os processos mentais do homem são a 
própria expressão do Saber Absoluto que amadureceu por meio da atividade 
reflexiva ao longo da nossa história cultural. A vida mental do homem está 
ligada a um processo vital vasto, que precisa ser compreendido no interior da 
visão totalizante desenvolvida por Hegel em sua Fenomenologia do Espírito. 
Esperamos que depois desta pequena introdução ao pensamento de Hegel, 
você possa ter mais elementos para debater o problema entre Autonomia do 
Pensamento e o Problema da Verdade. Grande abraço!

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