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DO INSTITUTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
FACULDADE DE DIREITO
DO INSTITUTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA 
ANNA CAROLINA BRANCO MOUTINHO
RIO DE JANEIRO
2014/2º SEMESTRE
ANNA CAROLINA BRANCO MOUTINHO
DO INSTITUTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA 
Monografia de final de curso, elaborada no âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Dr. Francisco Ramalho Ortigão.
RIO DE JANEIRO
2014/2º SEMESTRE
	
Moutinho, Anna Carolina Branco, 1992-. 
Do instituto da suspensão condicional do processo e a necessidade de aplicação na Lei Maria da Penha / Anna Carolina Branco Moutinho. – 2014. 
67 f. ; 30cm
Orientador: Francisco Ramalho Ortigão.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade Nacional de Direito, 2014.
 
1. Processo Penal. 2. Suspensão Condicional do processo (Direito). 3. Violência contra as mulheres. I. Ortigão, Francisco Ramalho. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade Nacional de Direito. III. Título.
 CDD 341.43 
ANNA CAROLINA BRANCO MOUTINHO
DO INSTITUTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA 
Monografia de final de curso, elaborada no âmbito da graduação em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Dr. Francisco Ramalho Ortigão.
Data da Aprovação: __ / __ / ____. 
Banca Examinadora: 
_________________________________ 
Orientador 
_________________________________ 
Membro da Banca 
_________________________________ 
Membro da Banca 
Rio de Janeiro
2014/2º SEMESTRE
“Para as Defensoras do I Juizado de Violência Doméstica. Que me ensinaram a importância prática deste trabalho monográfico.”�
RESUMO
MOUTINHO, Anna Carolina Branco. DO INSTITUTO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA. Orientador: Prof. Dr. Francisco Ramalho Ortigão. Rio de Janeiro: UFRJ/FND, 2014. Monografia (Graduação em Direito).
Trata-se de trabalho monográfico que aborda a necessidade de aplicação da suspensão condicional do processo nos casos de violência doméstica regidos pela Lei Maria da Penha. Por se tratar de dispositivo previsto na Lei 9099/95 no seu artigo 89, a suspensão condicional do processo não poderia ser aplicada no âmbito da Lei Maria da Penha em razão do art. 41 da referida lei que, por uma interpretação literal, proíbe a utilização de qualquer instituto presente na Lei dos Juizados especiais Criminais. Este presente trabalho defende o contrário do entendido pela Suprema Corte, em razão das peculiaridades e da história da suspensão condicional do processo. Conforme será demonstrado, o instituto apresenta uma série de características diferentes e um âmbito de aplicação maior do que a lei em que está inserido, demonstrando que sua localização é mera razão de política legislativa e oportunidade. 
Palavras-chave: Suspensão Condicional do Processo; Lei Maria da Penha; Aplicação; Possibilidade, Necessidade; Constitucionalidade; 
ABSTRACT
MOUTINHO, Anna Carolina Branco. THE INSTITUTE OF SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO AND THE NEED FOR APPLICATION IN Maria da Penha Law . Advisor: Professor. Francisco Ramalho Ortigão . Rio de Janeiro : UFRJ / FND , 2014. Monograph (Law Degree) .
This monograph addresses the need for application of conditional suspension of proceedings in domestic violence cases governed by the Maria da Penha Law. Because it is device under Law 9099/95 in Article 89, the probation process could not be applied within the Maria da Penha Law on the grounds of art. 41 of the Act by a literal interpretation that prohibits the use of any gift in the Law Institute of Special Criminal Courts . This present work argues otherwise understood by the Supreme Court due to the peculiarities and history of the probation process as the demonstrated Institute presents a different set of features and scope greater than the law that is inserted, demonstrating its mere location due to legislative and political opportunity.
Keywords : Conditional Suspension of the Process ; Maria da Penha Law ; application ; Possibility , Necessity ; constitutionality ;
�
SUMÁRIO�
INTRODUÇÃO	9
PRIMEIRO CAPÍTULO: UM ESTUDO INICIAL DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO	13
1.1.Conceito do Instituto	13
1.2.Princípios	15
1.3.Comparação com os Institutos de outros países	18
1.3.1Probation	18
1.3.2Guilty Plea	19
1.3.3Plea Bargaining	20
1.4Natureza Jurídica do Instituto	21
1.4.1Natureza mista: processual e penal.	22
SEGUNDO CAPÍTULO: DA APLICAÇÃO DO INSTITUTO FORA DA LEI 9099/95	27
2.1.Âmbito de admissibilidade da Suspensão Condicional do Processo	27
2.2. Requisitos da Suspensão Condicional do Processo	31
2.3.Projeto Inicial	37
2.4.Da Inadequação do Instituto dentro da lei 9099/95 e a possibilidade de aplicação na Lei Maria da Penha	41
2.5.Da decisão do STF no julgamento do HC 106212/MS	46
TERCEIRO CAPÍTULO: A NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NA LEI MARIA DA PENHA	51
Suspensão condicional na Lei Maria da Penha é controversa, Revista Conjur, Rio de janeiro, 12 de abril de 2014. Disponível em:<http://www.conjur.com.br/2014-abr-12/projeto-altera-lei-maria-penha-criticado-audiencia-publica>. Acessado em 15 de Novembro de 2014. 	60
CONCLUSÃO	62
REFERÊNCIAS	64
Folgado, Antonio Nobre.Livro Suspensão Condicional do Processo Penal Como Instrumento de Controle Social. Editora: Juarez de Oliveira. São Paulo. 1996	64���
INTRODUÇÃO
	A Constituição Brasileira de 1988 previu, no seu Art. 98, inciso I�, a criação dos Juizados Especiais e a utilização de métodos de consenso para resolução de conflitos�. A Carta Magna através dessa previsão deu margem a sensíveis inovações no nosso ordenamento jurídico penal e processual penal. Seguindo a tendência de outros países - Estados Unidos, Itália e Inglaterra�- que já experimentavam experiências semelhantes e possuíam instrumentos jurídicos destinados a desburocratização e simplificação da Justiça Penal, a nossa Justiça optou por este novo método de política criminal.
Antes mesmo da Constituição de 88, já havia modelos no Brasil de Juizados Especiais Criminais. Este novo pensamento jurídico surge da necessidade de o Brasil acompanhar as posições e tendências contemporâneas, e assim, desafogar o judiciário, conferir maior celeridade aos processos e possibilitar uma resolução rápida para a lide penal. 
	
	Além disso, os novos métodos de resolução de conflitos surgem também em decorrência da falência do sistema repressivo penal adotado pelo país. Cresce a necessidade de se adotar um novo sistema de política criminal que passará gradualmente para um modelo de justiça consensuada. Surgem, então, as medidas despenalizadoras, que foram, em sua maioria, implementadas pela Lei 9099/95.
	No Art. 89 dessa lei, fez-se a previsão do instituto da suspensão condicional do processo. Basicamente, é desse instituto de que tratará este trabalho monográfico. Trata-se de instituto inovador, com viés despenalizador indireto, processual, fruto desta nova política criminal que provém da constatação da ineficiência da pena de prisão. Podemos conceituá-lo, nas palavras de Mirabette�, como instituto de “despenalização” indireta, processual, a fim dese evitar nos crimes de menor gravidade a imposição da pena. 
	Ao longo deste trabalho monográfico, será estudada a natureza jurídica do instituto, seu conceito, seu âmbito de aplicação e os requisitos para sua aplicação, de forma a evidenciar a singularidade da Suspensão Condicional do Processo em relação aos outros institutos despenalizadores. 
Desta forma, resta evidente a importância histórica e criminal da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. No outro lado da história, encontra-se a lei Maria da Penha que surgiu diante da necessidade de se dar maior importância aos casos de violência doméstica. Principalmente após o Brasil ter sofrido diversas sanções internacionais por negligenciar e ser omisso frente à violência doméstica�.
	O caso histórico que dá nome a esta Lei é o da farmacéutica Maria da Penha Maia Fernandes cujo marido, por duas vezes, tentou mata-la. Na primeira vez, simulou um assalto, fazendo uso de uma espingarda. Como resultado dos tiros sofridos, Maria ficou paraplégica. Após alguns dias, numa nova tentativa, ele tentou eletrocutá-la por meio de um descarga elétrica enquanto ela tomava banho.
Apesar de sofrer agressões durante todo o casamento, Maria temia represálias ainda maiores contra ela e suas filhas. Após essas duas tentativas de assassinat, resolveu dar um basta e fez sua primeira denúncia pública. Nenhuma providência foi tomada, uniu-se então ao movimento feminino e escreveu um livro�.
A repercussão foi tanta que o Centro pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulher- CLADEM formalizaram denúncia a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. A comissão solicitou por quatro vezes informações ao governo brasileiro e nunca foi respondida.
O Brasil foi condenado, então, internacionalmente em 2001, e foi por conta deste caso que o Brasil sofreu sua maior sanção internacional. Fora condenado a pagar o valor de 20 mil reais e recomendado a adotar uma série de medidas que viessem reduzir o tempo dos processos e conferir maior importância aos crimes de violência doméstica�.
	
	Porém, sem querer desmerecer a importância e a necessidade da Lei Maria da Penha, a mesma, possui uma série de problemas na sua aplicação. Trata-se de lei criada às pressas com o intuito de cumprir rapidamente as sanções e recomendações da OEA�. E mesmo após treze anos da sua edição a Lei 11340 não é corretamente aplicada e muito menos confere decisões unânimes acerca dos seus institutos.
	Uma das maiores discussões conferidas pela Lei Maria da Penha é a previsão do seu art. 89 de proibir a adoção das disposições da Lei dos Juizados Especiais nos crimes cometidos sob o âmbito da violência doméstica (âmbito da Lei Maria da Penha- 11340/03). 
	Ao fazer isso, a lei teoricamente retiraria a possibilidade de se aplicar a suspensão condicional do processo nos casos de violência doméstica, já que a previsão legal do Instituto está na lei 9099/95. Porém, se fizermos um breve estudo acerca das características, conceitos, requisitos e história da suspensão condicional do processo e pensarmos na men legis do legislador da Lei Maria da Penha poderemos concluir diferente. É justamente esta a intenção deste trabalho monográfico; demonstrar, através de um breve estudo da suspensão condicional do processo que trata-se de instituto totalmente peculiar, com características próprias e com âmbito de aplicação muito maior que a Lei 9099/95�. A história de criação do instituto demonstra que o mesmo foi inserido na Lei dos Juizados Especiais Criminais por mera oportunidade e conveniência conforme verificaremos no segundo capítulo, no subcapítulo do Projeto Inicial.
	Este trabalho, não se olvida das recentes decisões do nosso Supremo Tribunal Federal que entendeu pela constitucionalidade do art. 41 da Lei 11340 e consequentemente pela não aplicação da Suspensão Condicional do Processo nos crimes de violência doméstica��. 
Trago, então, uma conclusão diferente daquela realizada pelo STF, respeitando a opinião da Suprema Corte e mostro as vantagens de se adotar decisão contrária. Analisando o art. 41 da Lei 11340 de acordo com as suas consequências fáticas, seu plano de eficácia e âmbito de aplicação e não de forma geral�. 	�
PRIMEIRO CAPÍTULO: UM ESTUDO INICIAL DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
Conceito do Instituto
A suspensão condicional do processo instituto sobre o qual este trabalho monográfico versa está prevista no Art. 89 da lei 9099/95. O caput do artigo 89 �estabelece que: 
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas, ou não por esta lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois ou quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sio condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena
	Se analisarmos só a redação deste artigo, já podemos deepreender que trata-se de instituto com viés despenalizador proveniente de uma política criminal de desencarceramento. A lei 9099/95 foi fruto dessa nova política criminal. Além de disciplinar a suspensão condicional do processo disciplinou mais três institutos descarcerarizantes, a saber: a Composição Civil disciplinada no Artigo 74; parágrafo único; a Transação Penal prevista no Artigo 76; e o Artigo 88, que cuidou da necessidade de representação nos crimes de lesões corporais culposas ou leves. 
	
Podemos entender como medidas despenalizadoras aquelas que uma vez concretizadas -ou na ausência no caso de representação-, afastam a punibilidade do acusado�. São medidas que foram criadas em razão da deficiência do nosso sistema criminal de encarceramento. Há muito tempo já se verificava que as prisões não cumprem seu papel de ressocialização�. Na busca de uma forma consensual de resolução de conflitos, uma Justiça mais célere e mais simples criou-se uma nova política criminal. Neste novo sistema penal, o que mais importa é a reparação do dano, tendo também características eminentemente ressocializadoras em relação aos delitos de menor potencial ofensivo.
	Trata-se de uma transição do nosso sistema para o sistema de justiça consensuada. Há muitas críticas acerca da justiça consensuada, principalmente no que tange à possibilidade de negociações escusas pelas partes e no recuo de direitos e garantias fundamentais por parte do acusado quando o mesmo aceita sofrer uma medida despenalizadora sem o devido processo legal. Com relação à primeira crítica, vemos que ela não se aplica tanto ao caso brasileiro, onde os acordos e negociações são presididos pelo Juiz e encontram se limitados às previsões legais. Eenfatizamos a segunda, uma vez que ela trata do princípio da autonomia da vontade do acusado.
	Diante disto, podemos entender que a suspensão condicional do processo é medida despenalizadora, oferecida pelo Ministério Público aos agentes que preencherem determinados requisitos e tiverem supostamente cometido infrações, com pena máxima cominada inferior a um ano. Podemos conceituar este instituto como a paralisação do processo com potencialidade extintiva da punibilidade, caso todas as condições acordadas sejam cumpridas, durante determinado período de prova.� (GRINOVER, 1995, p. 253.) Já Luiz Flávio Gomes�, entende que na suspensão condicional do processo se suspende ab initio.
	A nossa jurisprudência também conceitua a suspensão condicional do processo de forma semelhante, apresentamos a seguir o julgado do STJ para melhor elucidar a questão�:
.. EMEN: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CRIME DE AMEAÇA PRATICADA CONTRA MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO. PROTEÇÃO DA FAMÍLIA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. MEDIDA DESPENALIZADORA. PROIBIÇÃO DE APLICAÇÃO DA LEI 9.099/1995. ORDEM DENEGADA. 1. A família é a base da sociedade e tem a especial proteção do Estado; a assistência à família será feitana pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. (Inteligência do artigo 226 da Constituição da República). 2. As famílias que se erigem em meio à violência não possuem condições de ser base de apoio e desenvolvimento para os seus membros, os filhos daí advindos dificilmente terão condições de conviver sadiamente em sociedade, daí a preocupação do Estado em proteger especialmente essa instituição, criando mecanismos, como a Lei Maria da Penha, para tal desiderato. 3. Não se aplica aos crimes praticados contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, a Lei 9.099/1995. (Artigo 41 da Lei 11.340/2006). 4. A suspensão condicional do processo é medida de caráter despenalizador criado pela Lei 9.099/1995 e vai de encontro aos escopos criados pela Lei Maria da Penha para a proteção do gênero feminino. 5. Ordem denegada. ..EMEN:
O doutrinador Damásio E. De Jesus chama este instituto de “sursis processual”, em virtude de suas semelhanças com a suspensão condicional da pena. Ele conceitua o Sursi Processual como importante instrumento de despenalização, que será atingido de forma indireta, pela via do processo, e que vai atingir, também indiretamente, mediante o cumprimento de certas condições, o jus puniendi Estatal, o Direito do Estado de punir o infrator da norma penal.�
	A denominação de sursi processual não me parece muito adequada, em razão de diferenças basilares entre os institutos. No sursi penal instaura-se o processo, realiza-se a instrução até o final e no caso de condenação o juiz suspende a execução da pena em razão da presença de certos requisitos; enquanto na Suspensão Condicional do Processo não há sequer instrução processual�. Está diferença será melhor detalhada no terceiro capítulo deste trabalho monográfico. 
Princípios
	O Direito Processual Penal encontra-se cada vez mais constitucionalizado. Conseguimos, por isso verificar que estão presentes na maioria dos seus institutos princípios com bases constitucionais. Não obstante, a suspensão condicional do processo também é regida por uma série de princípios. Os princípios mais importantes são os seguintes: o princípio da oportunidade ou discricionariedade regrada, o princípio da autonomia da vontade do acusado e o princípio da desnecessidade de prisão.
	O primeiro princípio utilizado pra fundamentar a suspensão condicional do processo é o princípio da oportunidade ou discricionariedade regrada. Ele consiste na possibilidade do Ministério Público dispor da persecutio criminis para propor alguma medida alternativa. É importante ressaltar que nas ações penais públicas vigora o princípio da indisponibilidade da ação, que obriga o MP não só a denunciar ou pedir o arquivamento, como continuar com a ação ou recurso já interposto. 
	Contudo, a lei dos Juizados Especiais amenizou a regra da indisponibilidade, criando uma disponibilidade ou discricionariedade regrada. Não se trata de ampla disposição para o MP, mas sim de situações devidamente disciplinadas em que a regra é atenuada. O Ministério Público só poderá dispor da persecução criminal para adotar uma via alternativa desde que cumpridos os requisitos dispostos pelo legislador� .
	Luiz Flávio Gomes e Ada Pellegrini, ressaltam que existem certos limites ao princípio da oportunidade ou discricionariedade regrada�:
O principio da oportunidade (regrada) instituído pela Lei 9099/95, entretanto, não chega a permitir ao Ministério público deixar de atuar pura e simplesmente. Ele pode dispor da persecutio criminis projetada pela lei, para adotar uma via alternativa. Mas não pode deixar de agir por razões de oportunidade. Presentes os requisitos legais, tem que atuar em favor da via alternativa eleita pelo legislador. Quem traçou a politica criminal consensual, portanto, foi o legislador. Não é o Ministério Público o detentor dessa política. Ele a cumpre. Assim como a cumpre o Juiz. A ratio legis, portanto, reside na conquista de finalidades públicas supremas (desburocratização, despenalização, reparação, ressocialização etc.), não no incremento de poderes para uma ou outra instituição
Outro princípio que fundamenta a suspensão condicional do processo é o princípio da autonomia da vontade do acusado. Esse princípio está previsto no parágrafo primeiro do artigo 89 e dispõe que, sem a aceitação do acusado, não poderá ocorrer suspensão condicional do processo.
No nosso sistema processual penal vigora o princípio da nulla poena sem o devido processo legal e o princípio da presunção de inocência que estabelece entre outras coisas que ninguém será condenado sem poder se defender em juízo com contraditório e ampla defesa. O princípio da autonomia da vontade do acusado é uma mitigação desse princípio, pois acarreta ao acusado que aceita a suspensão condicional do processo ser colocado em período de prova sem culpabilidade formada.
	É evidente que esse tipo de alternativa só pode ser feito com o consentimento do acusado. A grande discussão consiste no fato de poder ou não o interessado consentir no recuo de direitos e garantias fundamentais e sofrer algumas sanções sem ter sido declarado culpado.
	Costa Andrade responde a este questionamento dizendo que�:
Para além da realização da autonomia pessoal, este consentimento pode em concreto estar preordenado à promoção de interesses legítimos do respectivo titular. Daí que seja forçoso defender a sua validade e eficácia de princípio.. Em causa está a tese da chamada dupla natureza ou dupla dimensão que a moderna doutrina constitucional adscreve aos direitos fundamentais. Resumidamente: os direitos fundamentais não podem ser pensados apenas do ponto de vista dos indivíduos, enquanto faculdades ou poderes de que são titulares, antes que valem juridicamente também no ponto de vista da comunidade como valores ou fins que esta se propõe prosseguir
	Já para Ada Pelegrini Grinnover�, o ato de aceitação consiste na expressão da ampla defesa constitucionalmente garantida. Para o exercício do direto constitucional de se defender em juízo, lhe parece justo que o acusado possa abrir mão de outros direitos da mesma natureza. O ato de aceitação ou não da suspensão condicional do processo estratégia de defesa tanto é que a lei exige a manifestação de defensor e réu no ato.
	Por último, encontra-se o princípio da desnecessidade de prisão para penas de curta duração. Ele nasce da contestação da falência do sistema brasileiro que adota um modelo essencialmente dissuasório ou repressivo, pois confere especial relevância à pretensão punitiva do estado e ao justo e necessário castigo ao delinquente. 
Para romper com esse atual sistema vem a lei 9099, que buscou introduzir no ordenamento jurídico um novo modelo de justiça criminal, fundado na ideia de consenso. É quase unânime a conclusão de que a pena de prisão é uma instituição falida. Tendo em vista que estudos comprovam que o sistema prisional não cumpre sua finalidade de reabilitação e recuperação social do preso.
Comparação com os Institutos de outros países
		O nosso Instituto da Suspensão Condicional do Processo é por vezes confundido com institutos despenalizadores de outros países, principalmente com os institutos do guilty plea, plea bargaing e probation. Muita das vezes esses institutos possuem semelhanças com a suspensão condicional do processo, mas, conforme veremos abaixo, podemos facilmente verificar a diferença entre eles e a singularidade do instituto nacional. 
Probation
	O Probation tem origem anglo-saxônica. O processo penal Inglês pode ser separado em dois momentos: conviction e sentence. No primeiro momento, há a declaração de culpabilidade e depois vêm a sentença onde o juiz estipula a sanção�. 
	Quando o juiz concede a probation, a sentença condenatória é suspensa. O juiz chega a declarar o acusado culpado, porém após um período de prova encerra-se o caso (sem a sentença final condenatória).
	Assim, é evidente que, difere da suspensão condicionaldo processo, pois na probation é necessária toda a instrução criminal, culminada na sentença, para que então se aplique. Outro ponto de diferenciação é que a probation um instituto mais amplo podendo o juiz aplica-la ao réu que tenha praticado crime mais grave, desde que o magistrado entenda que o réu não voltará a delinquir. 
	Difere também do nosso sursi penal, em razão da diferença dos sistemas processuais. No probation há a suspensão de pronunciamento de sentença, o sistema adotado na Inglaterra e Estados Unidos é denominado de sistema anglo-americano�.
	 Nesse sistema, suspende-se o processo, não havendo sentença condenatória não se profere a sentença, ou seja, preenchidos os requisitos pelo réu, o réu deve-se declarar culpado, suspendendo o curso da ação penal e marcando o período de prova, tendo que se realizar sob a fiscalização do poder judiciário. Este período de prova é um condicionamento positivo, onde o réu cumpre certas condições onde ele deve demonstrar que tem boa conduta e bom comportamento. Já no nosso sursi penal o condicionamento é negativo, isto é, o réu fica sujeito há uma série de condições e não pode praticar uma nova infração.
	O Sistema processual adotado pelo Brasil é o europeu continental, do sistema belga-francês, consiste na condenação do réu sem que a pena seja executada contra o mesmo que preenche certos requisitos legais e cumpre as condições impostas pelo juiz. O juiz aplica uma pena mas deixa de executar em razão do sursi penal.
Guilty Plea
	O Guilty Plea é outro instituto anglo-saxão que consiste numa forma de defesa do agente, aqui há discussão acerca da culpabilidade do agente, já que perante o Juízo o agente admite a prática do crime�.
	Esse instituto implica reconhecimento de culpa e oferta de alguma vantagem (acusação por crime menos grave ou número menor de crimes) para se obter a confissão. A guilty plea pode se dar de formas variadas. Pode ser voluntária (unifluenced plea,) na qual o acusado confessa sua culpabilidade em razão de não haver possibilidade de ser absolvido; ou induzida (structually induced plea), em que o acusado admite sua culpa, pois ele prevê uma pena mais grave para quem insiste em uma sentença de mérito, ou porque os juízos aplicam uma pena mais benéfica a quem admite sua culpa.
	Esse instituto difere é muito da suspensão condicional do processo. No nosso instituto o acusado não admite nenhuma culpa. Aliás, na eventualidade de ser revogada a suspensão condicional, o processo recomeça, agora que haverá a instrução processual e só será, então, o agente culpado se a parte acusatória comprovar a culpabilidade do acusado dentro do devido processo legal. 
Plea Bargaining
	Trata-se o Plea Bargaing de instituto norte-americano. Os americanos receberam dos ingleses o sistema da commom law e realizaram uma adaptação profunda no campo do processo penal. Nesse modelo destaca-se o sistema processual penal e cria-se um esquema de engrenagens permanentemente ligadas às decisões políticas�.
A diferença para o modelo inglês consiste principalmente em duas distinções:. a primeira, relaciona-se ao sujeito processual encarregado de demandar. Neste instituto, há uma ampla possibilidade de transação, acordo, sobre os fatos, sobre a qualificação jurídica e/ou consequências penais; enquanto que no nosso instituto, esse tipo de negociação é vedada tem-se a Suspensão Condicional do Processo como único objetivo imediato do avanço ou não do processo�.
	Além disso, no sistema norte-americano, este acordo pode ser feito extrajudicialmente. No Brasil, isso é totalmente vedado pelo nosso sistema. Aqui a proposta de suspensão deve ser feita pelo Ministério Público na presença do juiz, conforme o artigo 89, §1 da Lei 9099/95. A suspensão é um instituto bilateral, já que deve se ter a concordância do agente e do MP e tudo deve contar com a anuência do juiz, a quem cabe aferir a adequação da medida.
Natureza Jurídica do Instituto
	Após analisarmos as principais distinções entre a suspensão condicional do processo e os outros institutos presentes nos ordenamentos jurídicos de outros países, debruçaremos sobre a análise do nosso instituto, iniciando o estudo acerca da sua natureza jurídica.
	Ada Pellegrini Grinover entende que a principal diferença entre o nosso instituto e os institutos de outros países encontra-se no Nolo Contender�, que consiste numa forma de defesa onde o acusado não contesta a imputação, mas não admite sua culpa nem sua inocência. 
	Trata-se de uma alternativa à jurisdição penal, uma forma que o legislador achou para evitar a aplicação da pena, um instituto de despenalização. Desta forma, a natureza jurídica da Suspensão Condicional do Processo seria de instituto de despenalização.
 		Damásio E. De Jesus entende que a Suspensão Condicional do Processo não se trata de um novo procedimento e sim de um novo sistema criminal.
	Geraldo Luiz Mascarenhas Prado, no livro Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Comentada e anotada em fls. 347, sustenta que�:
 (...)a suspensão condicional do processo atua como meio de composição do conflito de interesses penal, processo atua como meio de composição do conflito de interesse penal, pelo qual veicula-se causa extinção da punibilidade. A decisão da suspensão é homologatória e a suspensão tem natureza jurídica de procedimento penal de conhecimento. Em si mesma não é direito do réu ou do autor. è tão só o devido processo legal de uma forma especial de composição do conflito.
	Neste mesmo livro Geraldo Prado� separa a natureza jurídica do instituto em duas partes: do instituto em si e da proposta de suspensão. Entende o doutrinador que a suspensão em si tem natureza jurídica de procedimento penal de conhecimento e que a proposta de suspensão feita pelo Ministério Público teria natureza de direito de ação penal condenatória. Direito de ação que se sustenta por ter em uma de suas facetas o direito de entrar em juízo para pedir ao juiz a adoção de uma solução diferente da pena criminal, nos casos que a leia autoriza esta solução.
Natureza mista: processual e penal.
	A suspensão condicional do processo possui natureza mista processual e penal. A natureza processual decorre da paralisação do feito durante o período de prova e a natureza penal decorre da possibilidade de extinção da punibilidade se expirado o lapso temporal probatório sem que haja a revogação do benefício.
	O juiz declarará extinta a punibilidade do agente caso tenha o agente cumprido todas ás condições impostas n concessão do benefício durante o período probatório. Em outras palavras, vencido o período de prova, sem revogação do benefício, considera-se definitivamente solucionada a questão penal, isto é, com força de coisa julgada material.
	Geraldo Prado� ressalta que se tratará de decisão de mérito, sujeita a consolidar coisa julgada material tanto quanto as sentenças absolutórias. À semelhança do que ocorre no processo civil, ás soluções de mérito no âmbito penal não ficam restritas aos casos de julgamento do pedido do autor, com a condenação ou absolvição do réu. Também no âmbito penal as soluções consensuais impõem definitiva resolução do conflito (vide a transação penal), ao tempo em que o reconhecimento da prescrição ou de qualquer causa de extinção da punibilidade cumpre o mesmo papel da declaração da prescrição e da decadência, no processo civil, levando à extinção do processo com julgamento do mérito.
Ada Pellegrini� entende se tratar de direito “premial”, premia-se com a cessação da punibilidade o que aceita cumprir algumas condições durante certo período, sem discutir sua culpabilidade.
	Entende a autora que o estado vem passando de uma política tradicional repressiva para migrar gradativamente para a política consensual, que é segundo ela repleta de “prêmios”. Cita outros exemplos dessa política: o arrependimento posterior, arrependimento eficaz, delação premiada...
	Confirmando este entendimento da natureza mista do instituto encontram-se vários julgadosdos nossos tribunais, apresento dois julgados de épocas distintas: o primeiro no momento do advento da lei e o segundo do ano passado para melhor elucidação do assunto:
E M E N T A: HABEAS CORPUS - SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO PENAL ("SURSIS" PROCESSUAL) - LEI Nº 9.099/95 (ART. 89) - CONDENAÇÃO PENAL JÁ DECRETADA - IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEX MITIOR - LIMITES DA RETROATIVIDADE - PEDIDO INDEFERIDO. - A suspensão condicional do processo - que constitui medida despenalizadora - acha-se consubstanciada em norma de caráter híbrido. A regra inscrita no art. 89 da Lei nº 9.099/95 qualifica-se, em seus aspectos essenciais, como preceito de caráter processual, revestindo-se, no entanto, quanto às suas conseqüências jurídicas no plano material, da natureza de uma típica norma de direito penal, subsumível à noção da lex mitior. - A possibilidade de válida aplicação da norma inscrita no art. 89 da Lei nº 9.099/95 - que dispõe sobre a suspensão condicional do processo penal ("sursis" processual) - supõe, mesmo tratando-se de fatos delituosos cometidos em momento anterior ao da vigência desse diploma legislativo, a inexistência de condenação penal, ainda que recorrível. Condenado o réu, ainda que em momento anterior ao da vigência da Lei dos Juizados Especiais Criminais, torna-se inviável a incidência do art. 89 da Lei nº 9.099/95, eis que, com o ato de condenação penal, ficou comprometido o fim precípuo para o qual o instituto do "sursis" processual foi concebido, vale dizer, o de evitar a imposição da pena privativa de liberdade. Precedente.�
HABEAS CORPUS. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. PROPOSTA OFERTADA. DEFESA APRESENTA PRELIMINARES. INEXISTÊNCIA DE RENÚNCIA TÁCITA. ARGÜIÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA: INADMISSIBILIDADE. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. A interposição de embargos de declaração pela defesa levantando a existência de preliminares não configura desinteresse por parte do paciente na realização da audiência de suspensão condicional do processo expressamente declinada. 2. A suspensão condicional tem natureza jurídica mista, vale dizer, consubstancia tanto norma processual, pois evita o andamento do feito, como uma norma material penal, ao permitir a despenalização do acusado que, ao preencher certos requisitos e cumprir determinadas condições, tem a punibilidade extinta sem admitir culpa e sem se sujeitar a uma pena propriamente dita. 3. A denúncia preencheu os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, contendo a exposição do fato criminoso, suas circunstâncias, a qualificação dos agentes e a classificação do crime - artigo 344 do CP. 4. Ordem de habeas corpus parcialmente concedida para confirmar a liminar e determinar a realização de audiência de suspensão condicional do processo.�
	Decerto, então, a natureza mista do instituto da suspensão condicional do processo que constituiu no seu caráter processual um novo percurso processual distinto da caminhada probatória, mas que possui o mesmo fim, qual seja, o caráter penal do instituto que nada mais é do que a solução do conflito de interesses penal, extinção da punibilidade do agente.
	Com relação especificamente a extinção da punibilidade é necessário ressaltar que a sentença do juiz será meramente declaratória, isto é, a extinção se dará no ultimo dia de prova, não no dia em que o juiz declarará a extinção da punibilidade. A extinção da punibilidade terá como consequências, dentre outras, fazer com que o fato objeto do processo suspenso nunca tenha ocorrido na vida do acusado, não há que se falar em reincidência, maus antecedentes e etc e no caso de prestação de fiança terá direito à restituição�. 
Ressalta-se que por se tratar também de norma processual a sua incidência é de imediato, ainda o delito tenha ocorrido antes da vigência da lei, conforme prevê o artigo 2º do CPP. Ademais, por ser híbrida no que tange ao seu lado penal também possui aplicação retroativa por ser mais benéfica, aplicando-se a fatos anteriores a vigência da lei, conforme mandamento constitucional previsto no art. 5, inciso XL.
	Nesse mesmo sentido entende Tourinho Filho�:
Na verdade, se a norma do artigo 89 é eminentemente híbrida, visto que mesclada de conteúdo processual e penal, sobressaindo, com vantagem, suas consequências jurídicas no plano material, como se infere do seu parágrafo 5, deverá ela ser submível à noção de Lex Mitior, e, desse modo, a toda evidência, é possível a sua aplicação.
	
	Aliás, essa retroatividade é válida para todas as medidas despenalizadoras previstas na Lei 9099/95. Esta retroatividade benéfica é reconhecida de maneira uníssona em nossos tribunais. Nossos tribunais aplicam à suspensão condicional do processo a todos os casos não julgados definitivamente. Incluindo-se os que estiverem em grau de recurso. 
	Com relação ao questionamento de quem aplica a lei nova mais benéfica, dependerá de onde estará tramitando o processo. Se estiver em primeiro grau, será o próprio juiz da causa, caso já esteja no Tribunal poderá o próprio tribunal aplicar ou delegar tal função ao juiz da causa convertendo o julgamento em diligência.
	O único limite a aplicação desta nova norma penal é nos casos em que a sentença já haja transitado em julgado. Esta impossibilidade deriva da própria natureza do instituto, pois é impossível suspender um processo que já terminou. Como bem salientou Ada Pelegrini� que a lei dos juizados especiais quando criou a suspensão condicional cuidou da suspensão não da ressurreição do processo. Assim como as leis penais novas mais benéficas (diminuição de pena, por exemplo) encontram barreiras naturas que impossibilitam sua aplicação (se o condenado já cumpriu integralmente a pena) isso ocorre também com as leis processuais mais benéficas essa por exemplo tem seu limite natural no trânsito em julgado do processo.
	É importante vislumbrarmos que caso não tenha ainda ocorrido o trânsito e julgado mesmo que o juiz já tenha sentenciado, poderá o magistrado aplicara lei penal mais nova isto ocorre por que apesar do juiz já ter esgotado sua jurisdição para apreciar aqueles fatos não se esgotou ara aplicar a lei nova favorável, que é retroativa, por força do imperativo constitucional previsto no art.5º, inc. XL CF, que determina aplicação imediata das normas que cuidam de direitos e garantias fundamentais�.
	A importância de se aplicar a lei penal benéfica não se esgota no caso de sentença absolutória em primeiro grau, visto que em caso de interposição de recurso da acusação o recurso poderá ser provido acarretando uma condenação para o acusado. Devendo, então, o acusado fazer seu próprio juízo de valor acerca da necessidade ou não da aceitação da suspensão condicional do processo. 
	Com relação aos atos processuais a concessão da suspensão condicional do processo não anula nenhum dos atos processuais anteriormente praticados. O que ocorre é apenas uma suspensão da eficácia desses atos processuais antes praticados não retirando deles sua validade. Isto é extremamente importante, visto que, na eventualidade de uma revogação da suspensão condicional do processo tudo volta ao status quo anterior, readquirindo a eficácia os atos processuais pendentes�. 
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SEGUNDO CAPÍTULO: DA APLICAÇÃO DO INSTITUTO FORA DA LEI 9099/95
	Neste capítulo ficará de lado um pouco a parte teórica e será abordado com maior enfoque a aplicação da suspensão condicional do processo. Será analisado como ocorre sua aplicação, quais os requisitos, o âmbito de admissibilidade do instituto e quais seriam as discussões acerca da proposta de suspensão condicional do processo. Posteriormente, haverá uma análise do projeto inicial projetado pelo Desembargador Weber Martins, para tratarmos da diferença entre o projeto inicial é o instituto atual regido pela Lei 9099/95.
Âmbito de admissibilidade da Suspensão Condicional do Processo
	
Ao tratar deste instituto, não fez o legislador nenhuma ressalva quanto ao seu âmbito de admissibilidade, apenas restringiu-se a indicar que só caberá o benefícionos crimes em que a pena cominada for igual ou inferior a um ano; a pena referida neste artigo é a pena em abstrato, aquela estipulada pelo legislador.
 Porém, a questão do âmbito de admissibilidade do instituto não é tão clara e levanta ainda uma série de discussões, principalmente nas questões relacionadas à aplicação da Lei 9099/95 nas ações penais privadas, na Justiça Castrense e nos crimes com pena de multa. 
	
Debruçaremos agora sobre a primeira problemática do âmbito de admissibilidade que é a possibilidade de admissão da suspensão condicional do Processo nos crimes da Justiça Militar.
Quando do advento da lei 9099/95 não havia menção expressa acerca da aplicabilidade desta lei aos crimes de competência da justiça militar, porém, havia entendimento pacifico no Supremo Tribunal pela incidência. Entretanto, a Justiça Militar possuía entendimento contrário que já se encontrava até consolidado em súmula (Súmula nove), com o seguinte anunciado: “A Lei 9099, de 26.09.1995, que dispõe sobre os Juízos Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, não se aplica à Justiça Militar da União”.
Com a intenção de modificar o entendimento dos tribunais superiores, exerceu a Justiça Castrense uma forte pressão que gerou acarretou na edição da Lei 9.839/99, que acrescentou o artigo 90-A com a seguinte redação�: Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada. Art. 90-A: As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar
Apesar da previsão deste artigo, entende a maioria da doutrina que a regra em apreço só tem aplicação puramente processual, não impedindo a retroatividade penal benéfica da Lei 9099/95, devendo ser aplicado os benefícios da lei aos crimes militares impróprios, ou seja, aqueles crimes cometidos por militares e que podem ser cometidos por qualquer pessoa como, por exemplo:; a lesão corporal leve.
Os doutrinadores argumentam que, nesses casos, não há incidência de hierarquia e disciplina, características peculiares à vida castrense e ao diploma legal do Código Penal Militar. Outros argumentam que a atuação da justiça militar não difere da atuação de quaisquer outros órgãos do judiciário, funda-se tão somente no fato de a eles se distribuir competência para apreciar matérias tidas como de natureza peculiar, uma forma de racionalizar esta atuação um objetivo puramente político.
 Como bem salientado por Maria Lúcia Karam�, não há que se falar que, após a edição do artigo 90-A, é impossível a aplicação dos benefícios da lei na Justiça Castrense. A jurisprudência sólida que era firmada no sentido de aplicação da Lei 9099/95 no âmbito militar não aconteceria em razão da simples ausência de dispositivo legal, vedando tal aplicação ou esclarecendo o alcance das regras consideradas, e sim por ser o tema uma questão maior da aplicabilidade de dispositivos de leis penais e processuais penais comuns a matérias não disciplinadas ou diversamente disciplinadas em leis penais e processuais penais militares, isto é, na delimitação do campo de incidência da lei geral e da lei especial.
	Com relação aos crimes de ação penal privada, a corrente que entende não ser possível a aplicação da suspensão condicional do processo nos crimes de ação penal privada utiliza-se da justificativa de que na ação penal privada já existe previsão de outros meios de encerramento da persecução criminal, tais como a renúncia, a decadência, a reconciliação, a perempção, o perdão, a retratação�. Os autores que sustentam a incidência da suspensão condicional do processo justificam que as outras formas de encerramento da ação dependem, para o seu nascimento, de uma ação ou omissão do ofendido, e evidentemente que, se pode o autor optar pelo perdão, também pode optar por menos pela solução do litígio através de técnica alternativa�.
Logo, se preenchidos os requisitos, não se pode negar a concessão do benefício, reforçada a ideia de que a suspensão condicional do processo é direito público subjetivo do acusado. Outro argumento seria a analogia em bonam partem reforçando este entendimento o VII Encontro Nacional de Coordenadoria de Juizados Especiais Cíveis e Criminais, realizado em maio de 2000, no Estado do Espírito Santo, que emitiu o enunciado nº 26: “Cabe a transação e suspensão condicional do processo também na ação penal privada”.
	A jurisprudência encontra-se em consonância com esta segunda corrente, conforme podemos verificar pelo acórdão abaixo prolatado�:
EMEN: HABEAS CORPUS. QUEIXA-CRIME. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO CUMPRIMENTO DO PERÍODO DE PROVA. MATÉRIA NÃO DECIDIDA NA CORTE DE ORIGEM. PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. ART. 89 DA LEI Nº 9.099/95. INICIATIVA EXCLUSIVA DA ACUSAÇÃO. NULIDADE DA DECISÃO QUE CONCEDEU O BENEFÍCIO. ART. 140, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE RECONHECIDA. ART. 140, § 3º, DO CÓDIGO PENAL. NÃO RECONHECIMENTO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO DA PRESCRIÇÃO ANTECIPADA. ORDEM DENEGADA. 1. Não tendo o Tribunal de origem enfrentado a questão relativa à extinção da punibilidade da paciente pelo cumprimento do período de prova, não pode esta Corte examiná-la, sob pena de supressão de instância. 2. O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a proposta de suspensão condicional do processo, a que se refere o art. 89 da Lei nº 9.099/95, é cabível também nos casos de ação penal privada por aplicação da analogia in bonam partem, prevista no art. 3º do CPP, sendo prerrogativa exclusiva da acusação, mostrando-se nula a decisão que concedeu o benefício sem a concordância do querelante. 3. Reconhecida a extinção da punibilidade no que diz com o crime previsto no art. 140, caput, do CP, é de se dar prosseguimento ao andamento da queixa-crime quanto ao delito do art. 140, § 3º, do mesmo diploma. 4. Antes da sentença condenatória, a prescrição somente poderá ser reconhecida quando se operar o transcurso do respectivo prazo baseado na sanção em abstrato, o que não ocorre na hipótese dos autos, em que se busca a extinção de pena que venha a ser imposta no caso de condenação. 5. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado. ..EMEN:
 
		Outro problema consiste na aplicação da suspensão condicional do processo no âmbito das infrações que estipulam como pena cominada a pena de multa, englobando as infrações que estipulam apenas pena de multa e aquelas que estipulam como pena: pena mínima superior a um ano ou pena de multa�. 
	Como bem salientado por Ada Pellegrini�, é muito evidente o cabimento da suspensão condicional do processo, pois a pena mínima cominada é a de multa. Se a lei autoriza a suspensão nos casos de pena privativa de liberdade até um ano, a fortiori, conclui-se que, quando a pena mínima cominada é a multa, também cabe tal instituto.
	Esta conclusão provém da ideia de que o legislador quando previu a pena de multa como alternativa, o fez porque, no seu entender, o delito não é daqueles que necessariamente devam ser punidos com pena de prisão. Sendo assim, plenamente possível a aplicação da suspensão condicional do processo, que tem na sua essência a nova política criminal de ressocializar o infrator, por outras vias que não a prisional.
 Requisitos da Suspensão Condicional do Processo
		Além do âmbito de aplicação, a Lei 9099/95 está condicionada a uma série de requisitos ou pressupostos necessários e condições para a sua aplicação. Os autores costumam separar estes requisitos em diversas categorias, Cezar Roberto Bittencourt�, por exemplo, separa os requisitos em gerais e especiais. Para o autor, os requisitos especiais são aqueles criados pelo novo diploma legal sem previsão igual em outros institutos e os gerais são requisitos comuns ao sursi, os quais são invocados pelo art. 89, tendo dividido essa categoria em requisitos objetivos e subjetivos�.
		Para uma melhor análise é necessária a transcrição do diploma legal para verificarmos os pressuposto e analisarmos cada um deles:
Art. 89.� Noscrimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena.
	Inicialmente, analisaremos os requisitos específicos trazidos pela redação do artigo 89. O primeiro requisito é a pena mínima cominada pelo legislador, ese indicativo refere-se a pena em abstrato do crime. Trata-se de atribuição inovadora, pois a maioria dos institutos semelhantes como a suspensão da pena e a aplicação das penas restritivas de direito, utilizam a pena em concreto, aplicada pelo juiz. Obviamente não poderia a suspensão condicional do processo utilizar-se da pena in concreto, visto que, trata-se de etapa posterior a aplicação do instituto. Este aspecto já foi melhor estudado no subcapítulo anterior, quando analisamos o âmbito de admissibilidade do instituto
	A segunda parte prevista no caput do artigo trata-se da questão mais polêmica, pois aplica como requisito a condição de que o acusado não esteja sendo processado por outro crime. Muitos doutrinadores argumentaram pela inconstitucionalidade deste requisito, visto que fere friamente o princípio da presunção de inocência�. 
	Esta questão foi enfrentada pelo Supremo por intermédio do Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 79.460-2 e teve como um dos principais defensores da inconstitucionalidade do artigo, o Ministro Marco Aurélio de Melo, que proferiu o seguinte voto vencido�:
Contraria o princípio da presunção de inocência, empresta efeitos obstaculizadores do implemento da providência à situação jurídica que de maneira alguma pode extravasar as paredes do processo em que é revelada, de modo a prejudicar o acusado, até então, um simples acusado...se a presunção é no sentido de não culpabilidade enquanto não concluído o processo, descabe emprestar efeitos nefastos ao acusado, a ponto, inclusive, de repercutir fora das balizas da própria ação penal em curso.
			O Supremo não acolheu a tese de inconstitucionalidade do artigo, vencido o voto do Relator que argumentou pela constitucionalidade do artigo sob o seguinte fundamento posto no voto:
A questão- não estou certo se já a teremos enfrentado na Turma- da inconstitucionalidade da vedação da suspensão condicional do processo, quando o réu responda a outra ação penal, com todas as vênias, não me parece procedente, sobretudo em razão de ser a existência de outro processo prejudicial de todo o sentido para a política criminal justificadora do instituto chamado sursi processual.�
	O prof. Cezar Roberto Bitencourt também entende pela constitucionalidade do artigo defendendo o seguinte�:
“A preocupação legal é justa, pois não tem sentido suspender o processo de um acusado se ele estiver respondendo a outro. Essa vantagem destina-se especialmente àqueles cuja violação da ordem jurídica representa apenas um acidente de percurso, não demonstrando nenhum desvio de personalidade.”
			No meu entender, trata-se de entendimento equivocado dos nossos tribunais, pois, impedir o acusado de receber benefício é imputar ao agente uma pena sem o devido processo legal, o que é expressamente vedado pela nossa constituição e infringe uma série de direitos fundamentais. Apesar desse equívoco, os tribunais entendem que, se estiver o agente respondendo à um outro processo por contravenção penal ainda assim se aplica a suspensão condicional do processo. A redação do artigo não deixa explícita esta questão por isso o entendimento é o mais favorável ao réu, aplicando-se a suspensão do processo aos que respondem outro processo por contravenção.
	O outro requisito previsto no caput do artigo é o de não ter sido condenado por outro crime. É claro que devemos fazer uma interpretação lógica e sistemática deste dispositivo, fazê-la em conformidade com o artigo 64, I do CP�. Será impossibilitado de receber a suspensão condicional do processo somente o agente que tenha sido condenado por outro crime nos cinco anos anteriores à concessão do benefício.
	Igualmente ao requisito anterior essa objeção vale-se apenas a crimes. O agente condenado por contravenção penal não ficará impedido de receber o benefício. Com relação à condenação anterior à pena de multa, entende a jurisprudência que a mesma não impede a concessão da suspensão do processo, pois na aplicação do sursi penal à condenação anterior por pena de multa não causará nenhum impedimento. Deve-se, então, novamente interpretar os requisitos da suspensão condicional do processo de maneira lógica, de modo que ele fique em conformidade com todo nosso sistema jurídico. Manifestação semelhante encontra-se na nossa jurisprudência�:
EMEN: PROCESSUAL PENAL. "HABEAS CORPUS" SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. "SURSIS PROCESSUAL". CONDENAÇÃO ANTERIOR À PENA DE MULTA. A anterior condenação por crime à pena de multa não é óbice à concessão do "sursis" processual. "Writ" concedido.
			Ao analisar os requisitos gerais previstos na parte final do artigo 89 da lei 9099/95. Trata-se da obrigatoriedade de estarem presentes também os requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. Os requisitos para a concessão suspensão da pena encontram-se no art. 77 do CP, conforme transcrição do artigo 77 do CP que servirá para uma melhor análise desses requisitos:
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: 
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código
§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.
		O caput do art. 77 do Código Penal prevê como requisitos de natureza e quantidade da pena ser prevista pena privativa de liberdade e que a pena tenha sido fixada em quantidade não superior a quatro anos. Obviamente, estes requisitos não se aplicam ao instituto que estamos analisando, já que a suspensão condicional do processo é aplicada em momento anterior e na fase da sua aplicação, não é possível saber qual será a pena aplicada em concreto, por essa razão o requisito utilizado pela suspensão processual com relação à natureza e quantidade da pena é o da pena mínima cominada em abstrato. Isto posto, os requisitos previstos no caput do artigo 77 CP são totalmente inaplicáveis.
		
	Com relação ao requisito previsto no inciso I, também não será aplicável, pois quem for reincidente em crime doloso já terá o impeditivo do requisito específico que consiste em não ter sido condenado por outro crime, sendo esta previsão específica com relação à reincidência dolosa desnecessária devido a redundância entre os requisitos.
	 Já os requisitos previstos no inciso II são os responsáveis pela prognose do agente de não voltar a delinquir�. Este inciso é, sem sombra de dúvida o mais aplicável à suspensão condicional do processo, pois os outros incisos e requisitos exigidos para o sursi penal já encontram-se explícitos no artigo 89 da lei 9099/95, tornando um pouco inócuos os requisitos do art. 77 CP. Isto ocorre porque, por ser a suspensão do processo um benefício de maior benesse, ela é carregada de mais exigências do que o sursi penal.
	 Os elementos previstos no inciso II são praticamente os mesmos elementos definidores da medida da pena previstos no art. 59 CP�, culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do réu, motivos e circunstâncias do crime. Estes elementos tem a função de subsidiar uma previsão da conduta futura do condenado. Se todos estes requisitos forem favoráveis, a previsão é de que, provavelmente, o agente não voltará a delinquir, podendoa suspensão condicional do processo cumprir sua função ressocializadora. 
	Por último, encontra-se o inciso III, que estipula que caberá a suspensão condicional do processo nos casos onde há a inaplicabilidade das penas restritivas de direito. Este inciso também é inócuo pois a suspensão do processo implica na não-aplicação de pena alguma. EEvidentemente a suspensão do processo é a alternativa mais benéfica, não só em relação à pena privativa de liberdade, mas também em relação às penas restritivas de direito, pois com a concessão do benefício o agente não perde sua primariedade.
	
	 Preenchidos todos estes requisitos caberá ao Ministério público efetuar a proposta de suspensão condicional do processo. Há grande divergência na doutrina acerca de estar o promotor obrigado a efetuar a proposta, logo, trata-se de direito subjetivo do acusado ou seria ato discricionário do Ministério Público. Defendendo a primeira corrente, encontram-se Damásio de E. Jesus e Fernando da Costa Tourinho Neto, que entendem que a suspensão do processo não pode ficar ao arbítrio do MP, já que trata-se de direito público subjetivo de liberdade do acusado.
	Sustentando o contrário encontra-se Pazzaglini Filho�, que entende que:
existindo o direito de punir e o direito de punição do Estado na aplicação e efetivação da pena pela autoridade judicial competente, por crime definido em lei, através do devido processo legal, não há como sustentar a existência de direito subjetivo do acusado à suspensão condicional do processo
	Os nossos tribunais possuem decisões conflitantes acerca desta discussão. Porém, o STF entende não se tratar de direito subjetivo do acusado. Conforme podemos verificar neste acórdão�:
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIICADO, DESCLASSIFICADO PARA LESÃO CORPORAL GRAVE. PRETENDIDO DIREITO SUBJETIVO À SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89 DA LEI Nº 9.099/95) OU À SUSPENSÃO DA PENA (ART. 77 DO CP). ORDEM DENEGADA. O benefício da suspensão condicional do processo não traduz direito subjetivo do acusado. Presentes os pressupostos objetivos da Lei nº 9.099/95 (art. 89) poderá o Ministério Público oferecer a proposta, que ainda passará pelo crivo do magistrado processante. Em havendo discordância do juízo quanto à negativa do Parquet, deve-se aplicar, por analogia, a norma do art. 28 do CPP, remetendo-se os autos à Procuradoria-Geral de Justiça (Súmula 696/STF). Não há que se falar em obrigatoriedade do Ministério Público quanto ao oferecimento do benefício da suspensão condicional do processo. Do contrário, o titular da ação penal seria compelido a sacar de um instrumento de índole tipicamente transacional, como é o sursis processual. O que desnaturaria o próprio instituto da suspensão, eis que não se pode falar propriamente em transação quando a uma das partes (o órgão de acusação, no caso) não é dado o poder de optar ou não por ela. Também não se concede o benefício da suspensão condicional da execução da pena como direito subjetivo do condenado, podendo ela ser indeferida quando o juiz processante demonstrar, concretamente, a ausência dos requisitos do art. 77 do CP. Ordem denegada. 
	 Alguns doutrinadores defendem que, no caso de não apresentação de proposta de suspensão condicional do processo deve-se aplicar analogicamente o art. 28 do CPP, que consiste na remessa dos autos ao Procurador Geral para decidir acerca do cabimento ou não. Caso o PGRJ entenda pela não aplicação caberá ao Magistrado homologar. O juiz não poderá aplicar a suspensão condicional do processo ex officio, pois viola o sistema acusatório, que prevê que cabe somente ao Ministério Público promover a ação penal pública�.
Projeto Inicial
	O idealizador deste instituto foi o Desembargador e Professor Weber Batista que teve a ideia do instituto quando passou pela seguinte situação que será agora relatada. Ao voltar de uma viagem ao exterior em 1978, foi recebido no aeroporto por um amigo, com a notícia de que sua faxineira estava presa em uma Delegacia de Polícia, porque tentara subtrair uma camisola, de preço irrisório, para a filha recém-nascida. A faxineira, a pedido da Defensoria Pública, obteve liberdade provisória na mesma tarde.
	Weber e todos os que atuavam naquela seara já sabiam o que iria acontecer: a indiciada seria processada por tentativa de furto e condenada a uma pena pequena. Isto aconteceria, por ser ela primária, trabalhadora, de excelentes antecedentes e o fato praticado tratar-se de episódio único em sua vida. A mulher obteria a suspensão condicional da pena, ou seja, seria mantida em liberdade, sujeita a certas condições. Porém, para se chegar a este benefício, sofreria a faxineira um processo de duração maior que um ano e meio.
	O Desembargador lembrou-se do sistema anglo-americano. No probation não é necessária a condenação, enquanto no sistema brasileiro tem que se esperar toda a instrução processual para obter benefício igual. E, além disso, também se utilizou do Direito Italiano que, àquela época já praticava a condenação por decreto�.
	Com base nesses sistemas, o autor idealizou um novo instituto que possuía como ideias gerais, o seguinte aspecto: ao ser oferecida a denúncia pelo Ministério Público, o juiz verificará se há prova do fato atípico e indícios de autoria. Inexistindo esta prova, determinará o arquivamento dos autos. Se, ao contrário, houver esse princípio de prova e o fato por que foi o réu denunciado caracterizar crime punido com pena no mínimo, superior a um ano, o juiz receberá a denúncia e determinará o prosseguimento do processo. 
	A terceira hipótese pensada por Weber é a que tem importância para o nosso estudo ela determina que, se caracterizado, no entanto, que exista prova do fato e da autoria mas não apenas, o ilícito praticado é punido com pena, no mínimo, não superior a um ano, já que o denunciado é primário, tem bons antecedentes e não é perigoso. Nesse caso, o juiz recebe a denúncia, mas suspende o andamento do processo e põe o réu em regime de prova�.
	O período de prova, à semelhança da suspensão da pena, é composto de uma série de requisitos, em que o beneficiado deverá manter boa conduta e satisfazer as obrigações que lhe forem impostas, entre as quais deve figurar a prestação de serviços à comunidade e, se for o caso, a indenização do dano à vítima. Para Weber, estas duas últimas duas medidas eram de grande valor não só por seu caráter de favor em prol da comunidade, como da recuperação moral do autor do delito.
		Entendia Weber que a suspensão deveria ser proposta pelo juiz, em audiência especialmente designada para isso com a presença do acusado, seu defensor e o Ministério Público. Devendo o magistrado, antes de conceder a medida, interrogar o acusado. Concedida a suspensão e advertido o acusado das obrigações a que estará sujeito, poderá ele aceitá-las ou recusá-las, no ato ou no prazo de três dias. Se aceitar, será colocado em regime de prova, no entanto, se recusar seguirá o processo seu curso normal�.
		Caso o Ministério Público não concorde com a suspensão concedida de ofício pelo juiz, dela poderá recorrer através de recurso em sentido estrito interposto para o tribunal. Se, ao contrário, o juiz não conceder tal benefício, caberá o mesmo recurso em favor do denunciado.
		Conseguimos através do exposto, distinguir a diferença entre a proposta de Weber e o atual instituto. Para uma melhor análise, colaciono o texto original proposto por Weber e a trajetória para a criação do instituto�:
“Art. - Ao receber a denúncia, o juiz poderá suspender o processo, por um a três anos e pôr o acusado em regime de prova, desde que:
I- O fato a ele atribuído seja punido com pena mínima igual ou inferior a um ano;
II- O denunciado não tenha sido condenado, por crime doloso, a pena privativa de liberdade;
III- Os antecedentes e a personalidade do acusado, os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a presunção de que não tornará a delinquir.
Art.- Ao conceder a suspensão, o juiz estabeleceráas condições a que fica sujeito o acusado, desde que adequadas ao fato e à sua pessoa, devendo figurar entre elas a reparação do dano causado à vítima e, durante um ano, a prestação de serviços à comunidade.
Parágrafo único: Antes de conceder a medida, o juiz, se possível, interrogará o acusado.
Art.- A suspensão será proposta ao acusado pelo juiz, em presença de defensor constituído ou dativo, podendo aquele aceitá-la ou não, no ato ou no prazo de três dias.
Parágrafo único: Se o acusado não aceitar, a suspensão ficará sem efeito, e o processo prosseguirá normalmente.
Art.- A suspensão será revogada, obrigatória ou facultativamente, na forma do que dispõe o art. 59 do Código Penal.
Art.- Durante a suspensão condicional do processo, fica suspenso o prazo de prescrição.
Art.- Expirado o prazo sem revogação, o processo será declarado extinto, sem julgamento do mérito.”
	Depois de elaborar o projeto, o desembargador o apresentou, pela primeira vez, em conferência de encerramento do Seminário de Estudos sobre a Reforma dos Códigos Penal e de Processo Penal, realizado pela, então, Escola Superior da Magistratura Nacional, na UERJ, no ano de 1981, no Rio de Janeiro. 
	Nesta ocasião, os magistrados entenderam ser a proposta formidável, no correto sentido da palavra, e que, de tão grandiosa, não deveria ser votada e sim estudada por mais tempo. Em setembro deste mesmo ano, a pedido do Autor, o projeto foi levado pelo Juiz e Professor José Lisboa da Gama Malcher ao 1º Congresso Brasileiro de Política Criminal e Penitenciária, realizado em Brasília, onde o projeto foi aprovado por aclamação.
	Porém, no ano seguinte, ao apresentar o projeto aos professores e magistrados paulistas, percebeu o autor a mesma resistência ocorrida no primeiro Seminário do Rio de Janeiro, sobretudo da parte da figura mais importante presente ao encontro, a Professora Ada Pellegrini Grinover, por mais que ela, delicadamente, dissesse o contrário.
	Depois disso, finalmente o instituto começou a ser recebido cada vez com mais entusiasmo, sendo aprovado, por unanimidade dos presentes ou por aclamação, nos simpósios e encontros de que ele participou �. A douta professora Ada Pellegrini Grinover, naquele momento, já resignada do seu posicionamento anterior, teve a iniciativa de incluir o instituto no Código Processo Penal Tipo para a América Latina. Instituto bem semelhante foi introduzido no Código de Processo Penal português de 1986, com o título de “Suspensão Provisória do Processo” nos artigos 281 e 282 do CPP português�.
	
	Nesta mesma época, Ada Pellegrini Grinnover participava junto com outros autores da criação da lei dos juizados especiais e levou, então, a ideia do instituto criado por Weber para a nova lei. Porém, o atual instituto contido no art. 89 da lei 9099/95 é bem diferente da ideia original de Weber. �
Uma das principais diferenças consiste no fato de que, pela Lei 9099/95, o titular da proposta de suspensão condicional do processo passou a ser o Ministério Público. Além disso, a pena mínima cominada necessária passou de dois anos para um, a outra diferença consiste na falta de previsão da atual lei acerca do recurso cabível, caso não seja proposto o benefício da suspensão. No projeto de Weber era cabível recurso em sentido estrito nesse caso.
	 
Da Inadequação do Instituto dentro da lei 9099/95 e a possibilidade de aplicação na Lei Maria da Penha
	Como pudemos analisar no estudo acerca da suspensão condicional, verificamos que o instituto não tem nenhuma estrita relação com a Lei 9099/95. É claro que se trata de instituto de caráter despenalizador e descarceirarizante, um dos objetivos centrais da Lei dos Juizados Especiais, mas não se trata de instituto próprio dos crimes de menor potencial ofensivo.
	Atestando esta informação, encontra-se o capítulo acerca do âmbito de aplicação da lei 9099/95, onde verificamos a atuação do instituto em crimes onde o JECRIM não possui competência�. Conforme estudado naquele capítulo, o instituto da suspensão condicional do processo possui um âmbito de aplicação muito maior do que a lei 9099/95. Ele se aplica a todos os crimes que possuem pena mínima cominada inferior a um ano diferenciando-se do caráter de crimes de menor potencial ofensivo, objetos da lei 9099/95.
	Para melhor esclarecimento, colaciono o artigo 61 da lei 9099/95, que traz a definição de crimes de menor potencial ofensivo: “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. “
			Porém, não desconsidero totalmente a ligação entre a suspensão condicional do processo e a Lei 9099/95. A suspensão também é uma via alternativa à prisão, assim como a transação penal e a composição civil dos danos, previstas na lei 9099/95. 
			Não obstante, existem outras medidas de caráter descarceirarizante que não se encontram na Lei dos Juizados Especiais e sim no nosso Código Penal, na parte geral, como por exemplo, o sursi penal previsto no art. 77CP e as penas restritivas de direito prevista no art. 43 CP. Ser uma medida despenalizadora não significa que, obrigatoriamente, a suspensão condicional do processo deva estar inserida na Lei 9099/95.
			Além do argumento do âmbito de aplicação da suspensão condicional do processo, outro argumento é a própria história de criação do instituto, conforme vimos acima a sua previsão dentro da lei 9099/95 foi mera oportunidade. O projeto inicial do seu criador era sua inserção no Código Penal.
	
			Esta discussão nos parece bastante débil à primeira vista, mas torna-se extremamente importante por ocasião da Lei Maria da Penha pois esta lei trouxe no seu artigo 41� a seguinte previsão: “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.”
			Por conta dessa previsão se excluiu da Lei Maria da Penha a aplicação da suspensão condicional do processo. Muito se discutiu acerca da constitucionalidade do artigo 41 da lei 11340/03. A jurisprudência sempre foi oscilante a respeito do tema.
			Manifestando-se pela aplicabilidade do instituto encontra-se decisão do Superior Tribunal de Justiça no Habeas Corpus nº 154801/ MS�:
HABEAS CORPUS . CRIME DE LESÃO CORPORAL COMETIDA NO ÂMBITO FAMILAR CONTRA MULHER. LEI MARIA DA PENHA. SUPENSÃO CONDICONAL DO PROCESO. ARTIGO 41 DA LEI Nº 1.340/6. INTERPETAÇÃO CONFORME A CONSTIUIÇÃO FEDERAL. POSIBLIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 
1. Na interpretação literal do artigo 41 da Lei Maria da Penha (1.340/6), o artigo 89 da Lei nº9.09/5, não se aplica aos delitos de violência doméstica contra mulher, cometidos no âmbito familiar.
2. Sopesados, porém, o conteúdo da Lei em questão e o disposto no artigo 26, parágrafo 8º, da Carta Magna, e contrariando entendimento adotado por esta E. Sexta Turma, conclui-se que, no caso em exame, a melhor solução será a concessão da ordem, porque o paciente e a ofendida continuam a viver sob mesmo teto.
3. Ordem concedida, para casar o v. acórdão hostilizado e a r. sentença condenatória, determinado- se a realização de audiência, para que o paciente se manifeste sobre a proposta de suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público Estadual.
	Os argumentos trazidos pelos ministros ao sustentarem a aplicação do instituto giravam em torno da inconstitucionalidade do artigo 41 da lei 11340/03. Além disso, argumentavam também que o artigo 41, se não fosse considerado inconstitucional, deveria ser interpretado de forma menos literal, analisado de acordo com a nossa Constituição. 
	Outro ponto é que ambas as leis estão no mesmo patamar de constitucionalidade. Tratam-se de duas leis infraconstitucionais que, se por um lado oferecem proteção contra violência doméstica, por outro há o direito subjetivo aos benefícios despenalizadores daqueles que praticam infraçãocom baixo ou médio potencial ofensivo. Não se admite uma lei que se encontra no mesmo patamar, afastar a aplicação de outra.
	Nesse sentido encontra-se manifestação da Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA�:
 É possível a suspensão condicional do processo na hipótese de crime de lesão corporal leve cometido contra a mulher no âmbito das relações domésticas, ainda que o artigo 41 da Lei Maria da Penha vede a aplicação da Lei dos Juizados Especiais a esse tipo de crime, tendo em vista que não se mostra proporcional inviabilizar a incidência desse instituto despenalizador por uma interpretação ampliativa do artigo 41, na medida em que tal vedação abrange somente as disposições que são próprias do juizado especial, e não aquelas que constam no bojo da lei de forma incidental, como a que prevê o sursis processual. 
	Defendendo a aplicabilidade da suspensão Condicional do Processo, encontra-se parcela da doutrina, como mostra importante manifestação do autor Carlos Eduardo Contar sobre o tema�:
Ora, tanto a Lei nº 1.340/6 quanto à Lei nº 9.099/95 são constitucionais. Entretanto, o julgador tem o dever de esclarecer e determinar qual o limite da vedação contida na “Lei Maria da Penha” – em obediência ao princípio da proporcionalidade–ao invés de simplesmente adotar uma interpretação literal e automática quanto à sobredita restrição.
Desse modo, é evidente que o art. 89, da Lei nº 9.099/95, que possibilita a suspensão condicional do processo, não ofende os princípios da isonomia e da proteção da família, pois estabelece uma regra processual que não fragiliza a mulher no âmbito doméstico, nem possibilita que a conduta praticada pelo acusado resulte no pagamento de cestas básicas ou em prestação de serviços à comunidade.
	Conforme exposto, trata-se de tema muito controverso. O mesmo tribunal que concedeu a decisão colacionada acima, proferiu decisão contrária ao analisar o Habeas Corpus nº 192417:
EMEN: HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. INAPLICABILIDADE DA LEI N.º 9.099/95. ORIENTAÇÃO DO PRETÓRIO EXCELSO NO SENTIDO DA CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 41 DA LEI N.º 11.340/2006. NÃO CABIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. CRIME PRATICADO COM VIOLÊNCIA À PESSOA. NÃO PREENCHIMENTO DO REQUISITO PREVISTO NO INCISO I DO ART. 44 DO CÓDIGO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DENEGADA. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido da inaplicabilidade da Lei n.º 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica ou familiar, em razão do disposto no art. 41 da Lei n.º 11.340/2006. Precedentes. 2. Incabível, na hipótese, a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, tendo em vista que o Paciente não preenche o requisito previsto no art. 44, inciso I, do Código Penal, pois, não obstante a pena imposta tenha sido inferior a 4 (quatro) anos, trata-se de delito cometido com violência contra a vítima, o que impossibilita a pretendida substituição. 3. Ordem denegada. �
	A matéria só restou relativamente pacificada após uma série de decisões do Supremo Tribunal Federal. Digo relativamente em razão da recente decisão da quinta turma do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que contrariando a decisão da nossa egrégia Corte entendeu pela aplicação da suspensão condicional do processo�.
 	
	Segue ementa do julgado, que contrariou a tese do supremo:
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0003560-11.2011.8.19.0017; RELATORA: DES. DENISE VACCARI MACHADO PAES; Ementa: APELAÇÃO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. DA NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO – A suspensão condicional do processo não é instituto exclusivo aos crimes de menor potencial ofensivo, sendo, plenamente, aplicável a delitos que não se enquadram nas aplicável a delitos que não se enquadram nas balizas do artigo 61 da Lei nº 9.099/95, tendo, previsão nesta lei apenas de maneira incidental. Dessa forma, o reconhecimento da constitucionalidade do artigo 41 da Lei 11.340/06 não constitui óbice à aplicabilidade do benefício aos crimes praticados com violência doméstica. Na hipótese, a ausência imotivada do oferecimento de proposta de aplicação do sursis processual impõe a declaração de nulidade da sentença. Acolhida a preliminar, restam prejudicados os demais pleitos formulados pela Defesa, bem como o recurso do Ministério Público. PRELIMINAR ACOLHIDA. NULIDADE DA SENTENÇA
O Ministério Público interpôs uma reclamação ao STF que suspendeu a aplicação deste acordão�. Segue ementa da reclamação que novamente negou a aplicação da suspensão condicional do processo nos casos de violência doméstica:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.1. O Supremo Tribunal Federal posicionou-se no sentido de reconhecer a constitucionalidade do art. 41 da Lei n. 11.340/2006, que veda a aplicação da Lei n. 9.099/95 às hipóteses de violência doméstica.2. Uma das conclusões que se pode extrair da constitucionalidade da vedação da aplicação da Lei n. 9.099/95 é a não admissão do benefício da suspensão condicional do processo, previsto em seu art. 89.3. Reclamação julgada procedente. 1. Trata-se de reclamação, com pedido liminar, ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro contra decisão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça daquele estado, que deixou de aplicar o art. 41 da Lei n. 11.340/2006, apesar de declarado constitucional por esta Corte no âmbito da ADC n. 19. O tribunal estadual declarou nula a sentença, ante a ausência de oferecimento de suspensão condicional do processo. 2. A parte reclamante pretende a cassação da decisão proferida pelo tribunal de origem, confirmando-se a impossibilidade de oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo ao réu. 3. Liminar deferida e prestadas as informações, a Procuradoria-Geral da República opinou pela “ilegitimidade ativa do Ministério Público Estadual e, no mérito, ultrapassada esta preliminar, pela procedência da presente reclamação, determinando-se a cassação do acórdão que afronta o enunciado nº 10 da Súmula Vinculante desse E. STF, bem como o que decidido na ADC nº 19 e ADI nº 4.424 dessa Corte.” 4. É o relatório. Decido.5. Inicialmente, observo que a jurisprudência desta Corte é no sentido que “o Ministério Púbico estadual detém legitimidade ativa autônoma para propor reclamação constitucional perante o Supremo Tribunal Federal” (Rcl 7.358, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie). 6. Como se sabe, o Supremo Tribunal Federal posicionou-se no sentido de reconhecer a constitucionalidade do art. 41 da Lei n. 11.340/2006, que veda a aplicação da Lei n. 9.099/95 às hipóteses de violência doméstica. O TJ/RJ entendeu que a vedação de aplicação dos benefícios desta lei aplica-se apenas aos dispositivos do procedimento sumaríssimo, próprio dos juizados especiais criminais, ao passo que a suspensão condicional do processo deveria incidir sobre todos os procedimentos. 7. Conforme decidido pelo STF, a norma especial seria corolário da incidência do princípio de proteção insuficiente dos direitos fundamentais, assegurando às mulheres agredidas o acesso efetivo à justiça. Isso porque os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso. E uma das conclusões que se pode extrair da constitucionalidade da vedação da aplicação da Lei n. 9.099/95 seria a não admissão do benefício da suspensão condicional do processo, previsto em seu art. 89. 8. Nesse sentido, há precedente da Corte, em que se denegou a ordem para não aplicar o benefício da suspensão condicional do processo, por estar previsto na Lei n. 9.099/95, a crime de violência contra a mulher(...)2. Ordem denegada.(HC 110113, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 20/03/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-068 DIVULG 03-04-2012 PUBLIC 09-04-2012) 9. Ademais, conforme assentado no parecer ministerial “essa Corte Suprema julgou procedente a Ação Declaratória

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