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pluralismo juridico

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Pluralismo Jurídico Resumo : fenômeno jurídico apontado no presente estudo desponta como a mais eficaz corrente de pensamento do Direito atual, e têm como principal linha de trabalho a desvinculação do dogma que sustenta o Estado como principal fonte do Direito, servindo de base ideológica para essa nova realidade a ineficácia deste dogma na resolução dos conflitos jurídicos da atualidade. Na presente pesquisa científica procurou-se abordar qual a origem do pluralismo jurídico, bem como sua trajetória histórica tanto na Europa como na América Latina. Também incluiu-se um estudo sobre as outras áreas sociais formadoras do pluralismo, além do direito, e faz-se no presente artigo uma passagem pelos valores ligados ao pluralismo jurídico para que o mesmo possa validar-se. O objetivo deste estudo é fazer uma reflexão sobre a importância do Direito como processo cultural, que tem como meta a realização da justiça, estando esta intimamente ligada a proteção dos direitos individuais e a relação de cooperação social tão importante para o convívio saudável na conjuntura social a que pertencemos.
Palavras-chave: Fenômeno jurídico. Processo cultural. Direitos Individuais.
1 INTRODUÇÃO
O pluralismo jurídico como fenômeno decorrente da complexidade humana, nasce, a partir da inadequação da concepção unitária e centralizadora do direito, e das exigências da nova realidade complexa dos conflitos humanos, baseia-se na existência de mais de uma realidade social, dando atenção às várias formas de ação prática e a complexidade de áreas sociais com características próprias que compõem o mundo jurídico ao qual estamos imersos. Dessa forma essa situação de complexidade nada mais é do que um repaginamento do pensamento jurídico com vistas em uma maior eficácia do poder judiciário dentro de sua atuação prática, levando em consideração principalmente uma visão antidogmática e interdisciplinar que busca a supremacia de considerações ético-sociológicas sobre a realidade puramente positivista do direito.
Procura-se com isso diminuir a legislação estatal como única fonte do direito, priorizando-se a produção multiforme do direito originada por movimentos organizados na sociedade.
2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO PLURALISMO JURÍDICO NA EUROPA
No contexto da sociedade européia na antiguidade clássica, o que existiu foi uma predominância da experiência legal espontânea e comunitária, elaborada pela sociedade sem estar presa unicamente ao monopólio estatal. A principal característica do Direito Romano é sua tolerância com os povos que dominavam, pois os romanos tinham o habito de não impor rigidamente suas leis aos povos que conquistava, permitindo a continuidade da aplicação do direito local desses povos, era flexível também quanto à capacidade de adequar situações conflitivas a ambas as jurisdições envolvidas. Já na idade média ouve uma multiplicidade de manifestações normativas devido a enorme descentralização territorial que se deu com as invasões bárbaras. O conceito de direito na idade média é perfeitamente caracterizado conforme definição de Wolkmer(2001, p. 184 e 185).:
“Na idade média, a descentralização territorial e a multiplicidade de centros de poder configuram em cada espaço social um amplo espectro de manifestações normativas concorrentes, composto de costumes locais, foros municipais, estatutos das corporações de ofício, ditames reais, Direito Canônico e Direito Romano. Certamente foi com a decadência do Império Romano no Ocidente e com a fixação política dos povos nórdicos na Europa, que se solidificou a idéia de que a cada indivíduo seria aplicado o Direito de seu povo e de sua comunidade local”.
Via-se dessa forma uma completa descentralização dos costumes jurídicos, sendo estes peculiares a cada reino e a cada povo, com o intuito de dessa forma obter maior eficácia.
O fim da idade média é marcado pelo início das formações nacionais absolutistas dos séculos XVII e XVIII, pouco a pouco as monarquias absolutistas estruturaram seu direito baseado no monismo centralizado. O Estado nacional que melhor exemplifica essa estrutura monista de direito foi o Estado francês pós-revolução francesa, integrando o direito francês sob uma legislação comum a todos os cidadãos.
Durante todo esse período o direito pluralista foi sufocado pelo poder absolutista, voltando a manifestar-se somente em fins do século XIX devido ao surgimento de diversas manifestações sociais, algumas inclusive de cunho revolucionário. O principal teórico dessa época foi o alemão Otto Von Gierke que defende que a o Direito não tem mais como fonte principal o Estado mais sim a atividade humana a partir de comunidades organizadas. Desde então o pluralismo nas várias áreas sociais foi profundamente difundido e pensado dentro das inúmeras sociedades contemporâneas européias.
3 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO PLURALISMO JURÍDICO NA AMÉRICA LATINA
O pluralismo na América Latina é pensado somente na sociedade contemporânea, surgindo como necessidade do direito resolver questões jurídicas no intuito principalmente de defender os direitos dos menos favorecidos, já que a realidade da América Latina é marcada por grande desigualdade e pluralidade de etnias inferiorizadas socialmente. Dessa forma “ a importância deste uso da juridicidade pelos pobres constitui o fato de poder apresentar alternativas à lógica do Direito dominante, pois assim o desmistifica e configura um novo tipo de relações sociais”(Torre Rangel, 1997 apud WOLKMER, 2001, p. 203 e 204). O que se constata nos países latino americanos são diversas formações comunitárias com seus próprios costumes, que são impostos e prontamente obedecidos pelos que compõem aquela comunidade. Os principais países onde se desenvolveram correntes pluralistas no direito foram México, Colômbia e Argentina, com teóricos como Oscar Correas, Germam Palacio, Eduardo Rodriguez, Carlos Cárcova entre outros.
4 AS ABRANGÊNCIAS SOCIAIS FORMADORAS DO PLURALISMO JURÍDICO
“A compreensão filosófica do pluralismo reconhece que a vida humana é constituída por seres, objetos, valores, verdades, interesses e aspirações marcadas pela essência da diversidade, fragmentação, circunstancialidade, temporalidade, fluidez e conflituosidade” (WOLKMER, 2001, p. 172). Esta nova corrente do direito implica uma miscigenação filosófica, cultural, sociológica e política no direito, que não se imagina sem a interação de todos esses campos sociais.
Quanto à visão filosófica, o pluralismo jurídico vai contra o individualismo materialista que determina o idealismo moderno devido à complexidade das relações sociais contemporâneas. Admite a racionalidade humana interligada por valores, verdades, interesses diversos temporal e circunstancialmente, não podendo dessa forma restringir-se ao individualismo.
Os laços entre cultura e pluralismo são evidentes, pois não há como separar o conceito de cultura da diversidade que caracteriza cada povo e seus hábitos, costumes, ideologia, idioma e religião, provindos principalmente de seu desenrolar histórico.
Já no campo sociológico o pluralismo se dá na medida em que a sociedade exige a diversificação do papel de cada indivíduo social, devido ao surgimento da divisão de classes, e associações profissionais para defesa dos interesses dessas classes principalmente após as duas revoluções industriais que se deram na Europa.
Na política o pluralismo tenta acabar com essa ligação pesada que se dá durante quase toda a existência humana entre o Estado nas suas diversas formas e o monopólio do poder. Admite a existência de um complexo corpo societário formado pela diversidade de partidos e movimentos políticos, organizações sociais e formações autônomas de poder, que na maioria das vezes defendem interesses e ideologias diferentes, que acabam gerando conflitos devido as divergências ideológicas, no intuito de defender seus princípios e interesses. Para o pluralismo, fenômeno presenciado em diversas realidades, não há mais como admitir a ingerência totalitária do Estado, que acaba por sufocar o interesse das minorias, desrespeitando
a diversidade fruto da evolução social.
5 CARACTERÍSTICAS VALORATIVAS DO PLURALISMO JURÍDICO
Os traços valorativos do pluralismo são sua autonomia, característica participativa, descentralização, localismo, diversidade e tolerância.
Quanto a sua autonomia caracteriza principalmente o poder de formação de movimentos com interesses diversos nos vários setores sociais como, por exemplo, formação partidária, organizações sindicais, culturais e religiosas independentes da vontade estatal, porém esta autonomia não se dá somente nessa relação, mas também na própria relação interna dessas associações.
Nesse contexto, a característica participativa vista no pluralismo evidencia-se na constante participação entre as diversas manifestações sociais complexas e autônomas e também nas pequenas associações e organizações setoriais. Sendo a característica participativa que existe no pluralismo seu valor estritamente interligado a próxima característica que é a descentralização. Esta defini-se pela necessidade da transformação de instituições estatais complexas e burocráticas em organizações político-administrativas mais fragmentadas e localista.
Esse localismo nada mais é do que a defesa do poder local como nível mais descentralizado do poder estatal, constituindo assim uma das instituições-chave da democracia pluralista.
A diversidade esta ligada ao pluralismo na medida em que este não pode ser imaginado sem ser associado a diferença, a peculiaridade, a conseqüências históricas divergentes formadoras de realidades diferentes.
Devido a essa diversidade de realidades, marcada por inúmeros conflitos de interesses o pluralismo também possui como característica valorativa a tolerância, fator primordial com função de apaziguar conflitos.
A tolerância é importantíssima e se caracteriza como virtuosa no momento em que garante o direito de todo indivíduo, classe ou associação de manifestar suas diferenças ideológicas e de interesses e ter seu pensamento respeitado sem ser de qualquer forma coagido. Segundo Wolkmer “na medida em que a natureza humana é motivada por necessidades concorrentes, por disposições de vida marcadas por conflitos de interesses e pela diversidade cultural e religiosa de agrupamentos comunitários, o pluralismo resguarda-se através de regras de convivência pautadas pelo espírito de indulgência e pela prática da moderação”(2001, p. 177). Dessa forma a tolerância é pressuposto imprescindível nessas novas realidades que constituem o fenômeno pluralista, servindo no intuito da aceitação dessa diversidades entre comunidades e associações, realidades estas com características e costumes próprios que na maioria das vezes confrontam com os costumes impostos pelo ordenamento do Estado .
6 CONCLUSÃO
A democracia como mais perfeita forma de governo deve ser dinâmica e estar em constante aperfeiçoamento, pois sabemos que o habitat natural do homem é a sociedade construída por abstrações, elaborada por casos excepcionais de construções sociológicas no âmbito do convívio social com os outros indivíduos. Dessa forma não há como pensar o Direito dentro desse processo democrático de outra forma a não ser esta inicialmente apresentada denominada pluralismo jurídico.
O grande desafio que nos é apresentado diante dessa nova realidade é como adequar o Direito, legislado pelo Estado tido como oficial, a essas novas manifestações pluralistas de ordenamento jurídico, criadas devido a necessidades peculiares a cada sociedade. Como podemos da melhor forma exercer a justiça sem passar por cima dos direitos coletivos, e também respeitando os direitos individuais que são muito importantes no exercício da democracia. Não há mais espaço para o Direito monista centralizado, porém é essencialmente delicado lhe dar com o fenômeno do pluralismo devido a sua complexidade e ramificação. Devendo este ser tratado e pensado como um desafio imposto aos atuais e futuros operadores do direito, que tem a função social de exercer a justiça adequando os vários ordenamentos paralelos, direitos alternativos, concorrentes, e divergentes ao Direito oficial legislado pelo Estado, poder supremo .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico: fundamentos de uma nova cultura no direito. São Paulo: Alfa-Ômega, 2001.
TÉRCIO SAMPAIO, Ferraz Jr., Introdução ao estudo do direito : técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 2003.
ARRUDA, Ney Alves. Sociedade da informação e políticas regionalizadas: exemplares programas de um pluralismo jurídico europeu para a América Latina. Disponível em:
Currículo do articulista:
Graduanda do 10° período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco, São Luis-MA
http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=3557
3. O pluralismo jurídico e o profissional do direito
Buscamos salientar o caráter social do direito para fazê-lo emergir como instrumento de garantia da igualdade e justiça, que não pode ser ignorado na formação do profissional do direito. Para este profissional, torna-se fundamental considerar o direito como processo, entendendo-o como realidade móvel, flexível, dialógica e não  estritamente “lógico”, no sentido de não estar aprisionado ao formalismo das leis e à coerência dos fatos. O direito nasce da luta de classes, dos conflitos sociais, do permanente desejo de libertação e superação das desigualdades. É processo em devir, produto e produtor das transformações históricas.
Nessa perspectiva, entendemos que o direito, na sociedade capitalista, não é a pura e simples expressão da vontade da classe dominante. Nem é o simples reflexo das determinações econômicas, que uma concepção simplista da relação entre infra-estrutura e superestrutura poderia nos fazer crer. Podemos dizer que o direito moderno, pela sua função ideológica, institui-se como mediador entre as classes, uma vez que, para que o direito apareça como justo é necessário que possa manter uma lógica coerente com os critérios de igualdade, que possa ser utilizado como um  obstáculo à exploração desenfreada da classe dominada pela classe que está no poder. Trata-se aqui, de ocuparem-se as “brechas”, as lacunas que o próprio direito deixa, para o exercício da justiça.
Assim, fundamental distinguir entre direito e lei, uma vez que o direito deve ser entendido como um sistema de relações e interesses classistas, codificados através da lei, porém, não se reduzindo a ela. De certa maneira, podemos falar em aplicação do direito através da lei – podendo ser entendida esta lei como instrumento muitas vezes injusto para a classe oprimida, se representar os interesses arbitrados pela classe dominante e garantidos pelo Estado. Contudo, também podemos interpretar o Direito como libertador, se considerarmos que sua fonte de emanação não se restringe ao Estado, podendo nascer dos embates e lutas sociais que marcam a vida cotidiana. Nesta perspectiva, o Direito ganha poder de ação dialética, revelando sua essência contraditória e, conseqüentemente, transformadora. Para que isso se concretize, contudo, torna-se fundamental construir um “direito comprometido”, um direito que seja fruto do “conflito entre o direito posto, vigente e eficaz, contra um direito potencial que emerge das lutas dos dominados, dos destinatários esmagados na ordem jurídica posta.” (Aguiar, 1980, p.183)
Depreendemos assim, que o direito, dialeticamente compreendido, emerge como um mediador entre as classes, um mediador entre as contradições do real. Lembrando Roberto de Aguiar, sempre que existe direito é porque existe um problema que o gerou. O direito não nasce da concordância e do consenso, pelo contrário, ele nasce do conflito  das contradições (Aguiar, 1980).
Numa sociedade de classes, a diversidade de interesses favorece uma diversidade de consciências jurídicas e, conseqüentemente, a emergência de diferentes fontes de Direito. Nessa perspectiva, nem todo o direito pode ser visto como direito estatal, bem como, não podemos reduzir o direito à política e à ideologia da classe dominante. O direito estatal é parte
de uma totalidade, que por sua vez pode ser percebida como um momento no processo de totalização. Tal percepção nos faz compreender o caráter processual e transitório do direito – histórico, portanto!  Em outros termos, o Direito é constituído pela, e constituinte da realidade social.
Uma vez que consideremos o direito como um fato social de profundo significado, possuidor de um caráter voltado para a normatividade e o controle social, falar em mudança social é, necessariamente, falar em mudança do direito. De acordo com Roberto Lyra Filho, as normas devem ser expressão do direito móvel, aquele que está em constante progresso. Mas quando o direito é confundido com o legalismo, com normas envelhecidas, tornando-se “direito em si”, torna-se reificado, perdendo seu caráter de processo, de instrumento de mudança social. O direito não nasce metafisicamente, ele é fruto de um processo de lutas, fruto de oposições e conflitos, avanços e recuos. Direito é processo, dentro do processo histórico: não é uma coisa feita, perfeita e acabada; é aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos de libertação das classes e grupos ascendentes e que definha nas explorações e opressões que o contradizem, mas de cujas próprias contradições fazem brotar as novas conquistas (Lyra Filho, 1982).
Segundo tal perspectiva, a proposta de mudança implica num complexo processo social, marcado por transformações da sociedade civil. Em tal empreitada, emerge como fundamental o papel do profissional do direito e sua inserção nas lutas democráticas. Caberá a este profissional desempenhar a função de um intelectual orgânico, capaz de construir a contra-hegemonia, no sentido que dá Gramsci, a esses conceitos (Arruda Jr., 1997). Daí a necessidade de formação de um profissional com perspectiva sociológica, capaz de dialogar com a realidade concreta, que dá vida e eficácia às normas legais.
Sob tal ótica, percebemos a sociedade civil como sede principal das lutas transformadoras, uma vez que é a sede do pluralismo que serve de base para os movimentos  sociais comunitários. A medida que os profissionais do direito questionam os “descaminhamos do sistema normativo”, marcado pelo excesso de formalismo, pelo reforço das situações de injustiça e pelos critérios arbitrários de decisão, inicia-se a construção, o fortalecimento e a emergência de juridicidades latentes. Nesta percepção, o conceito de anomia ganha um papel central, agora reinterpretado, porque fica “vinculado à crise estrutural e ao desgaste de valores”, mostrando a presença de uma imposição ideológica que não corresponde efetivamente aos valores existentes, nem tampouco à realidade concreta.
Torna-se essencial adotar-se uma perspectiva crítico-dialética, na tentativa de relacionar anomia e mudança, voltando-se para a possibilidade de ruptura da ordem vigente. Fundamental perceber o conflito latente entre legalidade e legitimidade, uma vez que a legalidade expressa o interesse e forças predominantes na sociedade de classes (considerada ideologicamente como sociedade global), enquanto a legitimidade está voltada para as subculturas e grupos econômica e politicamente minoritários, que também possuem suas normas e códigos.
Essa percepção passa necessariamente pelo resgate do pluralismo jurídico, que compreende o direito como essencialmente múltiplo e heterogêneo, significando que num mesmo espaço social podem coexistir diversos sistemas jurídicos, já que existe uma pluralidade de fontes. Por meio da correlação entre anomia-legitimidade, estabelece-se a importância e a possibilidade da criação de espaços sociais alternativos para o exercício do direito, na construção de algo que podemos denominar de “legalidade alternativa”.
Como forma de ilustrar essa idéia, tomemos como exemplo os bairros de periferia: espaços sociais de luta que possibilitam a transformação da realidade social por meio da ação cotidiana. Observemos os grupos de moradores de bairros que, unidos por laços de vizinhança, amizade ou parentesco, voltam-se para a discussão de problemas concretos, experimentados na realidade dos bairros em que vivem, tornando-se  com isto embriões de organização popular, defendendo seus interesses, identificando necessidades e fortalecendo-se nas formas de resistência que favorecem as reivindicações sociais e o alargamento de direitos (Novaes, 1999). A esta realidade devem estar atentos os profissionais do direito em formação, capazes de articular o universo jurídico às lutas sociais e políticas, voltando-se para as representações sociais que animam o direito vivo.
4. Considerações finais
Evidenciamos a ação dos chamados movimentos populares que caracterizam uma anomia emergente, por meio do fortalecimento da capacidade de mobilização e organização das lutas populares, ao ponto de oferecerem propostas concretas de democracia da sociedade e alternativas para o estabelecimento de um poder popular. Entendemos que aqui se encontra uma importante fonte de ação política e de exercício do direito, constituído sobre o pluralismo jurídico, que necessariamente passa por uma compreensão sociológica da realidade jurídica e social por parte do profissional do direito.
Por isso, amarrando as considerações e reflexões tecidas até o momento, apontamos para a necessidade da eclosão de um novo paradigma jurídico, que  esteja presente na formação do profissional do direito adequado às necessidades do real. Um paradigma calcado na construção e reconhecimento de um pluralismo participativo e democrático, capaz de perceber a emergência de novos direitos nascidos dos movimentos sociais populares. Tais profissionais, verdadeiramente comprometidos com a eficácia real das leis por meio de sua legitimidade, contribuirão para a legitimação de novos sujeitos de direito, democratizando os diferentes espaços sociais e favorecendo a busca por formas alternativas de resoluções de conflitos que fortaleçam a sociedade civil e a construção da verdadeira cidadania. Como explicita Antonio Carlos Wolkmer,
Este pluralismo ampliado e de novo tipo, além de possuir certos pressupostos fundantes de existência  material e formal, encontra  a força de sua legitimidade nas práticas sociais de cidadanias insurgentes e participativas. Tais cidadanias são, por sua vez, fontes autênticas de nova forma de produção dos direitos, direitos relacionados à justa satisfação das necessidades desejadas. (Wolkmer, 2001, p. 347)
O profissional do direito que não estiver afeito a estas percepções e perspectivas, estará concorrendo para reproduzir os anacronismos do bacharelismo e as arbitrariedades do tecnicismo, em prejuízo da realização de um ideal de justiça que favoreça uma sociedade igualitária, que sirva a um direito sustentado nas bases sólidas da eficácia social, e não engessado no limitado formalismo das leis.
 Referências bibliográficas
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http://www.sociologiajuridica.net.br/numero-1/155-perspectiva-sociologica-e-pluralismo-juridico-a-necessidade-de-superacao-do-bacharelismo-tecnicista-na-formacao-do-profissional-do-direito 
4.Pluralismo Jurídico.
O Pluralismo jurídico sempre existiu nas sociedades. A dinâmica social sempre produziu, até hoje, normas ou procedimentos para a regulação social, independentemente da elaboração das leis ou normas estatais. Embora, com a modernidade [10] e modo de produção capitalista, sintetizados no Estado centralizador e burocrático, ocorresse a exclusiva validação do monismo jurídico.
O Império Romano, com o Direito Romano e o Direito dos povos conquistados, a Idade Média, com o Direito do Rei, o Direito da Igreja Católica, o Direito dos Senhores Feudais e o Direito dos Comerciantes, indicam que, nesses momentos históricos, era latente a existência, conflitiva ou paralela, de uma pluralidade de ordenamentos vigentes no mesmo espaço político-social.
Com a ascensão da burguesia ao Poder, associada à filosofia positivista, houve a necessidade da centralização, organização e uniformização pelo aparelho estatal da produção jurídica. Conseqüentemente, assegurava-se uma ordem e estabilização social que representasse os interesses da elite política. Dessa forma, não convinha à burguesia uma cultura jurídica plural, mas, sobretudo, desejava-se um discurso de ordem e regulação, talvez simbolizado na retórica da segurança jurídica, notadamente na proteção da propriedade privada.
A defesa da idéia da pluralidade de ordenamentos a partir do século XX teve como jusfilósofos o alemão Otto Von Gierke, os italianos Santi Romano, Giogio Del Vecchio, Cesarini Sforza, nos franceses Maurice Harriou e Georges Renard, ainda que alguns destes autores afirmassem a supremacia do Direito Positivo. Registre-se que, apesar de uma matriz eclética, podemos encontrar concepções de pluralismo jurídico em Henry Levy-Bruhl, Jean Carbonier, Jacques Vanderlinden, Jean-Guy Belley e Masaji Chiba, segundo Wolkmer (1997; 181/182)
Com a devida atenção, é mister ressaltar as concepções de Eugen Erlich e Georges Gurvitch. Erlich compreende que o direito além das prescrições estatais é aquele direito vivo, advindo das relações concretas e cotidianas da vida das pessoas, das associações e organismos sociais. Segundo Erlich, "para conhecer o estado real do direito, temos de investigar o que a sociedade humana produz" (SOUTO, 1999; 114). Enfim, este sociólogo do Direito considera que "uma pequena parcela do Direito (Direito Estatal) é que emana do Estado" (apud WOLKMER, 1999; 179).
No mesmo sentido, Georges Gurvitch desenvolve uma concepção complexa de pluralismo jurídico. Sustenta Wolkmer (1999; 179) que Gurvitch:
"Entende que a legislação estatal não é a única nem a principal fonte do mundo jurídico, existindo outros numerosos grupos sociais ou sociedades globais, independentes do Estado e capazes de produzir formas jurídicas. Cada grupo possui uma estrutura que engendra sua própria ordem jurídica autônoma reguladora de sua vida interior"
Após a Segunda Guerra Mundial, pode-se identificar também concepções pluralistas em Leopold Pospisil, Sally Falk More, baseados em análise de natureza antropológica. Apesar da existência destas produções, somente com What is Legal Pluralism, de Jonh Griffiths, ocorreu uma genuína ruptura com o centralismo jurídico (WOLKMER, 1999; 185). Para Griffiths, existe um pluralismo legal, aquele permitido e tolerado pelo Estado, e o verdadeiro pluralismo, este gestado na sociedade e fora do controle do Estado.
O sociólogo português Souza Santos, em pesquisa, conhecida internacionalmente, para sua tese de Doutorado [11], propõe a definição de pluralismo jurídico como a multiplicidade de ordenamentos jurídicos no mesmo espaço geopolítico, de forma oficial ou não. Para este autor, somente a existência no mesmo espaço político-social de mais de uma normatividade configura o pluralismo jurídico.
No Brasil, mesmo sem uma consistência clara, encontramos idéias atinentes à concepção de pluralidade de ordens jurídicas em Oliveira Viana (Instituições Políticas Brasileiras), José de Mesquita (Direito Disciplinar do Trabalho), Evaristo de Morais Filho, André Franco Montoro (Introdução à Ciência do Direito), Miranda Rosa, José Joaquim Falcão (Justiça Social e Justiça Legal: conflitos de propriedade no Recife), entre outros.
Em Souza Junior, podemos identificar também a noção de pluralismo: "A visão dialética alarga a compreensão do fenômeno jurídico, deslocando-o para mais além que os restritos limites do direito meramente positivado até alcançar a realidade de ordenamentos plurais e conflitantes" (SOUZA JR, 1984; 18). Reconhece, assim, que a concepção de Direito deve estar relacionada com a realidade social e não apenas com as leis positivas.
"O que a pluralidade de ordenamentos suscita está na formulação do ubi societas, ibi jus [aonde há sociedade há Direito], resultado do reconhecimento antropológico de que o direito antecede e sucede as formas de paralisação de positividades, no que concerne ao controle de comportamentos sociais." (SOUZA JR, 1984; 59)
Para Lyra Filho, o fundamento da pluralidade de ordenamentos é a pluralidade de segmentos sociais, isto é, a sociedade classista e em luta (apud SOUZA JR, 1984; 58). Dessa forma, os direitos positivos são as normatividades impostas ou reconhecidas pela classe dominante a partir da produção normativa das classes sociais.
Neste manancial de proposições sobre o pluralismo jurídico, adotamos a esboçada pelo professor catarinense, Antônio Carlos Wolkmer, posto que é a mais adequada em termos políticos e conceituais à pesquisa realizada, porque baseada antidogmaticamente na prevalência dos fundamentos éticos-sociológicos sobre os tecnoformais. Wolkmer considera como pluralismo "multiplicidade de práticas existentes num mesmo espaço sócio-político, interagidas por conflitos ou consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo sua razão de ser nas necessidades existenciais, materiais e culturais" (WOLKMER, 1999, p. XII).
Observa-se, a partir da análise de Wolkmer (1999), que esta concepção agrega novos elementos que compõem o conceito de pluralismo jurídico. Além da pluralidade de normatividades no mesmo espaço sócio-político, o pluralismo defendido por Wolkmer é produzido por novos sujeitos sociais, caracterizados pela cultura da descentralização, democracia, participação política e ação direta, movidos por necessidades fundamentais de natureza existencial, material e cultural, à luz de uma ética da alteridade.
Estes atores são considerados novos em virtude de romperem com a forma clássica de participação política (independência dos partidos políticos), constituindo movimentos autônomos, participativos e com uma nova dinâmica de organização e ação política. São caracterizados pela organização interna descentralizada, democrática, sem hierarquias e, normalmente, pautando seus movimentos políticos em ações diretas.
As ações destes sujeitos são baseadas na luta
pela satisfação das suas necessidades fundamentais. Tais necessidades estão situadas no plano existencial, material e cultural, em razão de abrangerem desde o respeito e resgate da subjetividade destes atores, passando pela obtenção de condições dignas de sobrevivência, até a defesa e preservação de sua cultura específica ou diversidade cultural. Não se restringem a uma reivindicação da efetividade dos direitos positivos, vão muito além, exigem o reconhecimento e garantia de novos direitos.
No plano axiológico, estes novos sujeitos e suas ações são norteados por valores totalmente antagônicos com os atualmente predominantes, ou seja, são conflitantes com o individualismo, a desumanização, perda da identidade cultural, irracionalismo, entre outros. Wolkmer propõe uma ética concreta da alteridade, expressada na emancipação individual e social, autonomia, solidariedade e justiça, realizada e inspirada na práxis destes novos sujeitos e situada na cultura latino-americana:
"A ética da alteridade é uma ética antropológica da solidariedade que parte das necessidades dos segmentos humanos marginalizados e se propõe a gerar uma prática pedagógica libertadora, capaz de emancipar os sujeitos históricos oprimidos, injustiçados, expropriados e excluídos." (WOLKMER, 1999; 241)
Com a exigência destes elementos propostos por Wolkmer, a concepção de pluralismo jurídico efetivamente assume um paradigma emancipatório. Assim, não se pode aceitar como exemplos de pluralismo jurídico a atual situação de "estado paralelo" do narcotráfico no Rio de Janeiro, tampouco a ação dos grupos de extermínio nas favelas e invasões, a exemplo do que ocorre cotidianamente em Salvador, pois lhes carecem o referencial da ética da alteridade e uma justificativa nas necessidades fundamentais.
Leia mais: http://jus.com.br/artigos/7502/pluralismo-juridico#ixzz3dVlzGf2E 
. O Pluralismo Jurídico: em busca do direito legitimado
Pluralismo Jurídico é o fenômeno que possibilita o surgimento de ‘direitos’ extra-estatais, ou seja, a possibilidade que existe do Estado não ser o único a emanar/deter normas. Esse fenômeno reconhece como legítimas, as relações jurídicas criadas por grupos “marginais”, no plano da luta social por direitos e pela democracia, como por exemplo as lutas dos grupos pró-moradia, pró-cidadania, etc. Sobre o conceito, Wolkmer[5] (2001) vai dizer:
“Ao contrário da concepção unitária, homogênea e centralizadora, denominada de ‘monismo’, a formulação teórica e doutrinária do pluralismo designa a existência de mais de uma realidade, de múltiplas formas de ação prática e da diversidade de campos sociais com particularidade própria, ou seja, envolve o conjunto de fenômenos autônomos e elementos heterogêneos que não se reduzem entre si. O pluralismo enquanto concepção ‘filosófica’ se opõe ao unitarismo determinista do materialismo e do idealismo modernos, pois advoga a independência e a inter-relação entre a realidade e princípios diversos”. (p. 171-172)
O que o autor que dizer é que em contra-posição ao monismo jurídico, a Teoria Crítica adota o pluralismo jurídico, segundo o qual todo grupo de alguma consistência está habilitado a elaborar normas, mesmo que eventualmente sejam mais que regulamentos, consistindo em verdadeiras normas jurídicas.
Ainda falando do Monismo, a democracia representativa, a separação dos poderes e o federalismo presidencialista, em nada se diminuem as profundas desigualdades existentes entre as oligarquias e a maioria pobre da população. É notório que o Direito Estatal em praticamente toda a sua existência, e especialmente com a república e a democracia, veio regular os interesses dos proprietários de terra e da burguesia detentora do capital.  Pela prática social do autoritarismo, o Estado define, de forma permanente, o papel da sociedade civil e exercita com exclusividade, seu monopólio de produção jurídica.
Fazendo um paralelo teórico-positivo temos um dos artigos mais importantes da Carta Magna[6] Brasileira:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)”
A falta da aplicabilidade das leis positivadas dá origem ao chamado Positivismo de Combate, este é utilizado para caracterizar aquele nível de disposições normativas que reconhecem uma série de conquistas históricas e democráticas, que apesar de positivadas, não se aplicam. Sobre  a falta de aplicabilidade das normas, Lênio Streck[7] vai nos dizer:
“Nesse sentido, para se ter uma dimensão do problema em nosso país, é preciso lembrar que nem a legalidade formal vem sendo implementada. Isto porque, por exemplo, não houve ainda no plano hermenêutico, a devida filtragem – em face da emergência de um novo modo de produção de Direito representado pelo Estado Democrático de Direito – desse (velho/defasado) Direito, produto de um modelo liberal-individualista-normativista de direito. Ou seja, dito de uma maneira mais simples: alem de não efetivarmos a Constituição, nem se quer constitucionalizamos o Direito infraconstitucional”. (p. 43)
O Pluralismo Jurídico não se contrapõe à existência do ordenamento estatal. Insurge-se essa teoria contra a redução do Direito à lei do Estado e a partir daí renova-se o discurso pela existência do Direito Natural, que repudia o positivismo jurídico dominante com os excessos do monismo jurídico. Fora do Estado há Direito Positivo dotado, portanto, de garantia jurídica e não apenas de garantias extrajurídicas, havendo equivalência entre o Direito Positivo estatal e o não-estatal. 
Ocorre que, assim como a criação do Direito é um fenômeno, no qual um movimento social traduz seus valores históricos e culturais por meio de normas a fim de protegê-lo e de impô-las às demais pessoas que venham a se juntar a uma sociedade, compondo um ordenamento jurídico positivado, temos que aceitar o fato de que uma parcela deste mesmo povo encontra-se privado de estabelecer seus valores, visto que são excluídos culturalmente e são destituídos de representantes que defendam seus interesses e necessidades. Diego Gómez[8] vai trazer:
“Partindo-se de uma visão anti-monista do direito, postula-se que o Estado não é o único sujeito criador de normas jurídicas. É a sociedade quem gera suas próprias normas, e este direito não deve ser considerado inferior ao direito estatal”. (P. 93-94)
A Constituição Federal Brasileira é um campo de combate da luta político-jurídica. As normas ali postas, conseguidas através de anos de conflitos não são aplicadas na realidade. Luigi Ferrajoli, autor da obra Derecho y Razón, desenvolveu a Teoria Garantista. Embora tivesse como objetivo principal contribuir para a reflexão sobre a crise de legitimidade que alcança o atual sistema jurídico, o Garantismo terminou se transformando em teoria. Ferrajoli prega que para as normas constitucionais terem garantia, elas precisam ser aplicadas e, para isso,  propõe mudanças no plano da teoria do direito; no plano da teoria política; no plano da teoria da interpretação e da aplicação da lei; e no plano da meta-teoria do direito.
 
Na concepção do Pluralismo Jurídico, o Direito tem vida própria e origina-se em diversas fontes de produção, originando, com isso, outros ordenamentos paralelos. A atitude mais freqüente do Estado em relação às regras de comportamento menores e imparciais é a da indiferença. Isso quer dizer que tais ordenamentos têm suas ordens e proibições, mas o Estado não as reconhece, e muito pelo contrário as enquadra no âmbito da ilicitude. A luta do Direito Alternativo é para uma postura de aplicação diferenciada do que se apresenta. É uma luta para que as disposições normativas que reconhecem uma série de conquistas históricas e democráticas sejam aplicadas e de uma maneira que leve em conta aspectos históricos e sociológicos, para que o Direito não seja reduzido à lei.
A respeito da Teoria Critica (no Brasil chamado de Direito Alternativo),
Antonio Carlos Wolkmer[9] nos ensina:
“(...) mesmo reconhecendo ser fonte de ambigüidades e ‘contra-sensos’, a categoria ‘critica’ aplicada ao Direito pode e deve ser compreendida como o instrumental operante que possibilita não só esclarecer, despertar e emancipar um sujeito histórico submerso em determinada normatividade repressora, mas também discutir e redefinir o processo de constituição do discurso legal mitificado e dominante”. (p. 18)
Contraditoriamente, mesmo sem o reconhecimento do Estado e com o enquadramento desses ordenamentos extra-estatal no âmbito da ilicitude, há uma pequena parcela de juristas que se identificam com as reivindicações dos grupos populares menos favorecidos da sociedade. A praticidade da crítica jurídica é realizada, fundamentalmente, no espaço institucional dos tribunais e na atuação jurisdicional, sendo exercida pelos operadores jurídicos profissionais, compostos por reduzidos mas crescentes segmentos da magistratura e por atuantes advogados militantes.
Ainda citando o trabalho de Wolkmer[10], ele exemplificará:
 “Utilizando-se de interpretação mais política e sociológica, sobretudo não dogmática, desvinculada de formalismos, esse magistrados buscam resistir às leis injustas, explorando as ambigüidades e as omissões do Direito positivo oficial em causa dos menos favorecidos”. (p. 137)
4. Considerações Finais
Como já foi exposto, há uma crescente massa de pessoas (operadores do direito ou não), que se identifica os movimentos sociais que buscam uma forma para que as normas constitucionalizadas ganhem eficácia para assim, garantir a democracia que vem em crise, com essa falta de aplicabilidade. A minha proposta é que cada vez mais pessoas tomem ciência do pluralismo jurídico e, principalmente da Teoria Crítica do Direito (Direito Alternativo). É de excepcional importância frisar que essa discussão não termina aqui. Há de se buscar outras fontes que abordem o tema sob uma outra perspectiva a fim de continuidade ao tema.
Referências Bibliográficas
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. São Paulo: Brasiliense, 1995.
NETO, Machado. Teoria da ciência jurídica. São Paulo: Saraiva, 1975.
COELHO, Fábio Ulhôa. Para entender Kelsen. Prólogo de Tércio Sampaio Ferraz Júnior. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 1997.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito, 2. ed. trad. João Batista Machado, São Paulo. Martins Fontes, 1987.
DINIZ, Maria Helena. A Ciência Jurídica. 6. ed. São Paulo : Saraiva, 2003.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 29
ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
GOMEZ, Diego J. Duquelsky. Entre a lei e o direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001.
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico. 3. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 2001.
WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

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