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Bons e maus ensaios filosóficos - R. W. Hepburn

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Bons e maus ensaios filosóficos 
R. W. Hepburn 
Universidade de Edimburgo 
Introdução 
Muita da filosofia que vais aprender consiste em discussões a favor e contra certas 
posições, teorias e pontos de vista filosóficos. Ao escreveres ensaios filosóficos, ser-te-á 
exigido que tomes parte nessas discussões — e não que te limites a reafirmar os 
argumentos que encontras nos textos ou ouves nas aulas. Claro que irás usar alguns dos 
argumentos que aí encontras (reconhecendo a sua autoria), mas deves examiná-los 
criticamente — rejeitá-los ou aceitá-los dando as tuas razões. O teu ensaio, portanto, 
tem de ser uma peça de discurso argumentativo e racional, e não uma peça de história 
das ideias. 
A estrutura 
É absolutamente vital que o teu ensaio tenha uma estrutura e não seja apenas uma série 
de pensamentos sem qualquer relação. Por exemplo: 
Quero expor em primeiro lugar o problema abordado no ensaio e esboçar as principais 
teorias alternativas que o tentam resolver. Tratarei com algum detalhe a teoria A, que é 
plausível, e examinarei depois os contra-argumentos X, Y e Z. Com base nestes contra-
argumentos, proporei uma versão modificada de A. Esta versão será depois igualmente 
testada em relação a algumas críticas. 
Podes começar o teu ensaio com um breve sumário deste tipo (ou pelo menos incluir 
breves indicações de como a tua argumentação vai progredir). 
O estilo filosófico 
Eis alguns sinais de bom estilo: clareza, imparcialidade no tratamento dos problemas, 
um sentido forte do que é relevante, confiança em que a linguagem mais simples 
permitirá mostrar o que pretendes. Se precisares de termos técnicos, assegura-te de que 
os explicas e depois sê fiel às tuas definições! 
Embora seja difícil fazer boa filosofia, fazer filosofia difícil ou obscura não garante que 
seja boa. Um filósofo sério e honesto (isto é, um filósofo que queira realmente descobrir 
a verdade e não esteja apenas fingir que o quer) tenta tornar a estrutura dos seus 
argumentos tão claros quanto possível, de modo a facilitar, e não a dificultar, a sua 
avaliação crítica. Às vezes isto exige alguma coragem. 
Em ensaios pequenos (como os de Filosofia do primeiro e segundo ano), é essencial não 
desperdiçar palavras. Isto é o mesmo que dizer, não girar vagarosamente em redor do 
assunto ("Desde que o Homem começou a pensar…"), não se desviar do que é 
relevante, não escrever palha, nem ser palavroso, ou desnecessariamente e 
enfadonhamente prolongar os exemplos. 
"Temos de ser originais?" 
Numa resposta breve: "Sim". De que forma? 
Todos devem ser originais ao preparar a sua apresentação do material relevante para o 
ensaio, mesmo que a maior parte desse material seja obtido noutras fontes. A 
organização, a "história" do ensaio tem de ser tua: os veredictos a que chegas devem 
mostrar sinais da tua reflexão, mesmo que haja filósofos que já os tenham afirmado 
antes. 
Todos devem ser também originais ao usarem exemplos e ilustrações diferentes dos 
existentes nos livros e dos dados nas aulas. Isto é importante: se não fores capaz de 
forjar um exemplo alternativo, isso pode muito bem significar que não compreendeste o 
exemplo que estás a tentar substituir — isto é, podes ter identificado um problema para 
colocar ao teu professor. 
Se pensas que podes ser original de uma forma mais substancial — propondo novos 
argumentos, novas teorias, identificando falhas nos argumentos das aulas — muito bem; 
desde que (em especial num curso introdutório) também mostres ter reflectido 
seriamente nas posições e críticas que as leituras recomendadas te revelaram. Sem isso, 
corres o risco de repetir os disparates dos filósofos teus antecessores. A vida é 
demasiado curta para que nos possamos dar a esse luxo; e um curso introdutório é ainda 
mais curto… 
Espero que seja desnecessário dizer que não há notas especiais por no teu ensaio 
concordares com a posição defendida acerca desse assunto pelo professor; assim como 
também não há por ousadamente discordares dele. O que conta é a qualidade dos teus 
argumentos. 
O uso das fontes 
Tens toda a liberdade para citar ou parafrasear os assuntos que queres discutir das 
leituras recomendadas, mas assinala escrupulosamente as tuas fontes. Se indicas as 
obras a que te referes, ou que consultaste, no fim do teu ensaio, juntamente com as suas 
datas de publicação, podes acrescentar uma referência à tua fonte imediatamente após a 
teres citado: por exemplo: (McNaughton, 1988, p. 100). Num ensaio pequeno, tem o 
cuidado de evitar que as citações e as paráfrases constituam a maior parte do que 
escreves! Seja como for que faças a gestão as tuas notas de rodapé ou as tuas notas 
finais, por favor inclui sempre uma lista das obras que de facto consultaste. 
Sugestões práticas para escreveres os teus ensaios 
Localiza e usa as leituras recomendadas assim que estão disponíveis. 
Quando estiveres na posse de um texto recomendado, primeiro passa rapidamente os 
olhos pelo(s) capítulo(s) importante(s) para ficares com uma ideia de como são e depois 
(porque a memória pode atraiçoar-te), tira apontamentos da estrutura dos argumentos 
principais, e escreve cuidadosamente quaisquer afirmações que te pareçam poder vir a 
dar citações valiosas. Para poupar tempo, aponta cuidadosamente também os detalhes 
referentes ao autor, título e páginas, para o caso de não poderes voltar a consultar o 
livro. 
Usa folhas ou cadernos separados para os teus próprios pensamentos, respostas às 
leituras, novos exemplos, decisões provisórias acerca da posição que vais defender no 
teu ensaio. E, obviamente, quando se aproximar a altura de escreveres o teu ensaio 
experimenta esboços, histórias e estruturas alternativas. 
Quando tiveres decidido como será a estrutura final, o número de secções e sub-secções, 
percorre as tuas notas e marca as partes relevantes com os números de secção 
adequados. (Um código de cores pode ajudar). Isso assegurar-te-á que à medida que 
escreves o ensaio, encontras rapidamente o material importante. 
Procura acabar o esboço do teu ensaio alguns dias antes de terminar o prazo de entrega. 
Assim podes pô-lo de lado por dois ou três dias, voltar a lê-lo com outros olhos, fazer as 
correcções finais e passar a computador a versão final. ("Passar a computador?" — Se 
possível, claro que sim.) 
Que aspecto tem um ensaio filosófico mesmo mau? 
Daquilo que acabámos de dizer, podes saber por ti. 
 Para começar, seria disforme, confuso e tentaria convencer o leitor de que a sua 
obscuridade é um indicador da sua profundidade (mas em vão). Os seus 
«portantos» e «logos» não indicariam realmente argumentos. A sua indicação 
das fontes seria em larga medida vaga e escassa, de forma que (com sorte), a 
extensão das dívidas seria difícil de perceber… 
 Julgaria ter feito justiça à exigência de exemplos originais mudando os nomes 
próprios. 
 Iria (já agora) quase de certeza ter erros de ortografia; confundiria "refutar" com 
"rejeitar", "implicar" com "inferir" e seria criativo a escrever de forma errada 
"Nietzsche". 
 Finalmente: estaria escrito numa caligrafia pouco legível, não teria título e não 
teria margens que permitissem a quem o lesse escrever comentários dos lados. 
Traria as marcas, se não de óleo de carro, pelo menos de cafés tomados a altas 
horas da noite. E, claro, seria entregue muito tarde. 
R. W. Hepburn 
Tradução e adaptação de Álvaro Nunes 
Original: "A Survival Guide for Philosophy Students". Este texto dirige-se 
principalmente a alunos dos primeiros anos do ensino universitário. Contudo, muitos 
dos seus conselhos são igualmente excelentes para os alunos do Ensino Secundário de 
Introdução à Filosofia. 
 
Texto retirado do site Crítica: revistade Filosofia 
http://criticanarede.com/filos_ensaiofilosofico.html

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