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Direito Constitucional - Aula 09 - Direitos Sociais

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CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
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1
 
AULA 9: DIREITOS SOCIAIS 
 
 
1) NOÇÕES GERAIS 
 
Os direitos sociais encartam-se entre os direitos fundamentais de segunda 
geração, exigindo uma atuação positiva dos poderes públicos, como medida 
indispensável para que as normas constitucionais que os consagram possam 
deflagrar na plenitude os efeitos queridos pelo legislador constituinte originário, 
essencialmente, a disponibilização de condições materiais mínimas para os 
hipossuficientes. Como anota Jean Rivero, os direitos sociais são “direitos de 
crédito”, pelo fato de poderem ser exigidos do poder público, a quem incumbe as 
medidas necessários para seu atendimento. 
Tais direitos vinculam-se, desse modo, ao princípio da igualdade, significando que o 
Estado deve garantir aos mais fracos e carentes as mínimas condições de uma 
existência digna, como exigência inarredável de um verdadeiro Estado Democrático 
de Direito, que não pode deixar de ter como um de seus objetivos a busca de uma 
efetiva justiça social. 
José Afonso da Silva, reportando-se aos direitos sociais, conceitua-os como: 
Prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, 
enunciadas nas normas constitucionais, que possibilitam melhores condições 
de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização das 
situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de 
igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na 
medida em que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da 
igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com 
o exercício efetivo da liberdade. 
Como analisaremos de modo mais detalhado à frente, integram os direitos sociais, 
nos termos do art. 6o da Constituição, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a 
assistência aos desamparados. 
Pelo elenco constitucional, podemos perceber que a plena eficácia, senão de todos, 
ao menos da maioria dos direitos sociais, requer a ação dos poderes públicos, seja 
disponibilizando recursos financeiros ou adotando medidas administrativas para a 
concretização de cada um desses direitos (por exemplo: o direito social à moradia, 
por meio de abertura de financiamentos para aquisição de casa própria a juros 
facilitados, ou o direito social à saúde, por meio de investimentos no Sistema Único 
de Saúde); seja editando a legislação complementar à Constituição nos pontos em 
que essa medida se faz necessária (por exemplo: regulando os direitos do 
trabalhador, no caso de despedida arbitrária ou sem justa causa). 
Contudo, mesmo se permanecer inerte o Poder Público, a inserção dos direitos 
sociais na Constituição por si só já produz efeitos jurídicos. Em primeiro lugar, 
porque alguns dos direitos sociais, como o décimo terceiro salário e o adicional de 
férias, entre outros, já têm integral eficácia em nosso ordenamento; em segundo 
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lugar, porque mesmo os direitos ainda sem condições de eficácia plena já produzem 
a denominada eficácia negativa, que consiste na revogação da legislação anterior 
à Carta e na inconstitucionalidade daquela a ela superveniente que contiverem 
disposições que contrariem qualquer norma constitucional definidora de um direito 
social. 
Ademais, a jurisprudência pátria, de forma crescente, inclina-se a favor da 
concretização dos direitos sociais que exigem investimentos públicos. O fato de a 
maioria dos direitos sociais dependerem da disponibilidade financeira do Estado para 
sua plena fruição fez com que fosse elaborada pela doutrina o que se denominou 
“cláusula da reserva do possível”, no sentido de que o Poder Executivo, responsável 
pela construção das políticas públicas atinentes à concretização dos direitos sociais, 
não pode ser coagido a efetivá-las pelos Poderes Legislativo e Judiciário, já que 
àquele Poder cabe determinar a forma como serão aplicados os recursos públicos. 
Enfim, o Poder Executivo, se possível (se para tanto dispuser de recursos 
financeiros), deve implementar as políticas públicas necessárias à efetivação dos 
direitos sociais, não podendo ser coagido a tanto pelos Poderes legislativo e 
Judiciário. 
Paulatinamente, objetivando-se a concretização dos direitos sociais, vai perdendo 
força tal perspectiva, como deixou assente o Supremo Tribunal Federa no seguinte 
julgado: 
(...) a cláusula da 'reserva do possível' - ressalvada a ocorrência de justo 
motivo objetivamente aferível - não pode ser invocada, pelo Estado, com a 
finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, 
notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar 
nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados 
de um sentido de essencial fundamentalidade. 
Nessa linha de raciocínio, exemplificativamente, o STF reconheceu a portador do 
vírus HIV o direito à distribuição gratuita dos medicamentos necessários ao combate 
da doença (AGRRE 273.834-4, Rel. Ministro Celso de Mello). 
Neste ponto, é útil diferençarmos os direitos sociais dos direitos econômicos, 
também direitos fundamentais de segunda geração. Embora haja certa dissidência 
na matéria, podemos vislumbrar os direitos econômicos como o grupo de direitos 
fundamentais que busca a construção de uma política econômica que 
considere em primeiro plano os interesses coletivos, não apenas os interesses 
individuais dos detentores dos meios de produção. 
Seria, assim, esse grupo de direitos fundamentais teria por objetivo assegurar que 
as atividades desenvolvidas nos mercados tivessem como finalidade primeira os 
interesses da coletividade. A Constituição, em seu art. 170, ampara essa 
perspectiva, instituindo que a ordem econômica funda-se na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, e busca garantir a todos uma existência digna, 
conforme os ditames da justiça social, devendo desenvolver-se sob os princípios da 
função social da propriedade, da defesa do consumidor e do meio-ambiente, da 
redução das desigualdades sociais e regionais e da busca do pleno emprego, entre 
outros princípios ali enumerados. 
Se os direitos econômicos têm um caráter eminentemente institucional, no sentido 
de que impõem certas diretrizes e princípios no processo de desenvolvimento 
econômico, os direitos sociais ostentam um caráter eminentemente subjetivo, seja 
em termos individuais, seja em termos coletivos, visando precipuamente a propiciar 
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que os integrantes da coletividade, principalmente os de menor potencial aquisitivo, 
gozem de condições mínimas de desenvolvimento pessoal e profissional. 
Enfim, pode-se perceber uma nítida inter-relação entre esses dois grupos de direitos 
fundamentais, no sentido de que o modelo de desenvolvimento econômico proposto 
pelos direitos econômicos constitui uma condição para a plena efetivação dos direitos 
sociais. 
 
2) ESTRUTURAÇÃO CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA 
 
A Constituição Federal de 1988 bipartiu o tratamento jurídico da matéria. 
Nos art. 6º a 11, que compõem o capítulo II – Dos Direitos Sociais - do Título II da 
Constituição – Dos Direitos e Garantias Fundamentais -, o legislador genericamente 
enumerou um rol de direitos sociais (art. 6º) e, a seguir, passou a tratar 
especificamente dos direitos sociais dos trabalhadores, tanto os de índole 
individual (art. 7º) como os de natureza coletiva (art. 8º a 11). 
Ao final de seu texto, nos art. 193 a 232, que compõemseu Título VIII– Da Ordem 
Social -, a Constituição trata de vários direitos sociais prescritos no art. 6º, a 
exemplo dos direitos à seguridade social e dos direitos relativos à família, à criança, 
ao adolescente e ao idoso, bem como de alguns direitos fundamentais de terceira 
geração, a exemplo do direito ao meio ambiente e à comunicação social. 
Nessa unidade, em consonância com a sistemática constitucional, apresentaremos o 
rol de direitos sociais prescritos no art. 6º e, em prosseguimento, trataremos 
somente dos direitos individuais e coletivos dos trabalhadores, previstos 
respectivamente nos art. 7º e 8º a 11 da Carta, deixando para tratar dos direitos 
sociais prescritos no Título VIII da Constituição em momento posterior, após a 
análise dos dispositivos constitucionais concernentes à ordem econômica e 
financeira. 
Desde já, entretanto, deve-se ressaltar que tais direitos, apesar de não tratados no 
capítulo da Constituição especificamente destinado ao estudo da matéria – capítulo 
II do Título II – são indiscutivelmente direitos sociais que, por opção do legislador 
constituinte, tiveram seu disciplinamento em tópico diverso da Constituição. 
 
3) DIREITOS SOCIAIS 
 
Nos termos do art. 6o da Constituição são direitos sociais “a educação, a saúde, o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição”. 
De pronto deve-se ressaltar que o elenco constante do dispositivo em apreço, apesar 
de considerável, não tem caráter taxativo. A própria Constituição prescreve outros 
direitos sociais, tais como o direito à cultura (CF, art. 215 e 216), o direito ao 
desporto (CF, art. 217), os direitos da família, da criança, do adolescente e do idoso 
(CF, art. 226 a 230) e os direitos dos índios (art. 231 e 232). 
Ademais, há direitos sociais que defluem daqueles previstos na Constituição, bem 
como a possibilidade de serem instituídos outros pela legislação infraconstitucional. 
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Assim, deve-se acentuar que o rol de direitos sociais prescrito no art. 6º não é 
numerus clausus, sendo complementado pela própria Constituição e pela legislação 
ordinária. O art. 7º da CF, que trata dos direitos dos trabalhadores, não deixa 
dúvidas a este respeito, ao declarar que os direitos sociais ali arrolados não excluem 
outros, que objetivem a melhoria das condições sociais dos trabalhadores. 
Com base exclusivamente nos direitos sociais previstos no texto constitucional, 
podemos classificá-los em (a) direitos sociais atinentes ao trabalhador, subdividindo-
se em individuais e coletivos; (b) direitos sociais atinentes à seguridade social, 
abrangendo os direitos à saúde, à previdência e à assistência social; (c) direitos 
sociais relativos à educação, à cultura e ao desporto; (d) direitos sociais relativos à 
moradia; (e) direitos sociais relativos ao lazer; (f) direitos sociais relativos à 
segurança; (g) sociais relativos à família, à criança, ao adolescente e ao idoso, neles 
compreendidos a proteção à maternidade e à infância; e (h) os direitos sociais 
relativos aos índios. 
Os direitos sociais, na condição de direitos fundamentais, são caracterizados pela 
irrenunciabilidade. Como esclarece André Ramos Tavares, “os direitos sociais são, 
nesse sentido, considerados normas cogentes, vale dizer, de ordem pública, não 
anuláveis por força da vontade dos interessados ou, no caso das relações 
trabalhistas, pela vontade das partes contratantes”. 
A doutrina discute se os direitos sociais individuais estão inseridos entre as cláusulas 
pétreas, as matérias que não podem ser objeto de proposta de emenda tendente à 
sua abolição ou substancial alteração, uma vez que o art. 60, § 4º, IV, da CF, arrola 
entre as cláusulas pétreas os “direitos e garantias individuais”. 
Não há dúvida de que os direitos sociais compõem os direitos fundamentais. Do 
mesmo modo, podemos perceber que a maioria dos direitos sociais tem caráter 
individual, tais como os direitos à saúde, à educação, ao lazer e ao trabalho. Com 
isto, segue-se como plenamente justificável a afirmação de que eles estão 
compreendidos entre as cláusulas pétreas. 
O STF, quando declarou que gozava dessa proteção o princípio da anterioridade 
tributária, assentou que a expressão direitos e garantias individuais engloba não 
apenas os direitos e garantias inscritos no art. 5o da Carta, podendo atingir direitos 
e garantias contemplados em outros dispositivos do texto constitucional. Com isto, o 
fato de os direitos sociais estarem contemplados nos art. 6º, 7º a 12 e 193 a 232 da 
Carta não impede que a eles não se reconheça a condição de cláusula pétrea. 
Tais considerações fazem com que a maioria de nossos doutrinadores se incline 
favoravelmente à inserção, considerando que os direitos sociais individuais gozam de 
proteção constitucional na condição de cláusula pétrea, não estando sujeito a 
propostas de emenda que objetive sua supressão ou significativa modificação. O 
STF, entretanto, ainda não pronunciou acerca do enquadramento dos direitos sociais 
de caráter individual na previsão do art. 60, § 4º da Constituição, de modo que a 
questão ainda não admite conclusão definitiva. 
 
4) PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL 
 
Como já salientado, diversos direitos sociais previstos na Constituição exigem 
complementação pela legislação infraconstitucional para adquirirem eficácia plena. 
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São direitos sociais contemplados em normas constitucionais de eficácia limitada, 
que exigem a atuação integradora do legislador ordinário. 
Alguns desses direitos já foram objeto de regramento na legislação 
infraconstitucional, com o que o dispositivo constitucional que os contemplava 
adquiriu sua plena aplicabilidade. É com relação a tais direitos, cuja prescrição 
constitucional já foi complementada pela legislação ordinária, que entra em 
discussão a aplicação do princípio da proibição do retrocesso social. 
Segundo os defensores deste princípio, o legislador ordinário, tendo uma vez 
regulado certo direito social, não pode pretender alterar tal regramento de modo a 
restringir a abrangência anteriormente reconhecida ao direito em questão, ou 
mesmo revogá-lo da legislação ordinária. 
Entendem tais doutrinadores que, uma vez tendo o legislador concretizado o 
direito com certa amplitude, lhe é vedado (a) revogar essas disposições legais 
que o concretizam, retirando a eficácia plena que antes haviam lhe conferido, ou (b) 
modificar tal regramento, de modo a restringir a amplitude do direito social. Em 
qualquer dessas hipóteses, caberia a impugnação dessa alteração legislativa por 
vício de constitucionalidade, com amparo no princípio da proibição do retrocesso 
social. 
J.J. Gomes Canotilho, um dos defensores dessa corrente, trata do referido princípio 
nos seguintes termos: 
o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de 
medidas legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo 
inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros 
esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa 
'anulação', 'revogação' ou 'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial. 
Embora seja intensa a discussão doutrinária sobre a matéria, não se pode afirmar 
que exista algum entendimento que possa se considerar preponderante. Como o 
referido princípio não é contemplado em nossa Constituição, e não há 
pronunciamento do STF conferindo-lhe ou não natureza jurídica, por enquanto 
devemos considerá-lo apenas em termos doutrinários.5) BENEFICIÁRIOS DOS DIREITOS SOCIAIS 
 
Os direitos sociais, apesar de destinarem-se genericamente aos membros do corpo 
social, têm por destinatários principais as pessoas hipossuficientes, que necessitam 
da ação do poder público visando à disponibilização das condições materiais mínimas 
para seu desenvolvimento profissional e pessoal. Nessa perspectiva é que devemos 
interpretar o art. 6º da Constituição. 
Já o art. 7º da Carta tem destinação bem mais restrita, alcançando somente os 
trabalhadores urbanos e rurais, como passamos a analisar. 
 
6) DIREITOS SOCIAIS RELATIVOS AO TRABALHO 
 
A Constituição, no capítulo concercente aos direitos sociais, após apresentar um rol 
dos direitos fundamentais desta espécie em seu art. 6º, passa a tratar 
especificamente dos direitos dos trabalhadores. Num primeiro momento, no art. 
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7º, trata dos direitos individuais dos trabalhadores; num segundo, nos art. 8º a 11, 
trata dos direitos dos trabalhadores de índole coletiva. São esses dispositivos que 
passamos a analisar. 
 
7) DIREITOS INDIVIDUAIS DOS TRABALHADORES 
 
Os direitos individuais dos trabalhadores são elencados no art. 7º da Constituição. 
Trata-se, porém, de um rol não taxativo, uma vez que o próprio dispositivo 
assevera que os direitos que prevê não exclui outros, que objetivem à melhoria da 
condição social dos trabalhadores. 
Importa, neste momento, definir quem são os destinatários do art. 7º, ou seja, 
quem são os trabalhadores contemplados pelo dispositivo constitucional. 
Como consta no caput do dispositivo, ele se aplica igualmente aos trabalhadores 
urbanos e aos trabalhadores rurais. 
Nos termos do art. 3º da CLT, define-se trabalhador como “toda pessoa física que 
prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e 
mediante salário". Como ressalta José Afonso da Silva, “se se trata de uma 
exploração agropastoril, o trabalhador, nela empregado, é rural; se a atividade é 
industrial, comercial ou de prestação de serviços não relacionados à exploração 
agropastoril, considera-se a pessoa nela empregada como trabalhador urbano”. 
A partir desta definição legal, a doutrina costuma apontar as quatro características 
que permitem identificar uma relação de trabalho: 
(a) o caráter personalíssimo, uma vez que o contrato de trabalho é celebrado 
intuito personae, obrigando o trabalhador a executá-lo diretamente, sem poder 
transferir suas obrigações laborais a terceiro; 
(b) a subordinação, uma vez que o trabalhador está sujeito às determinações do 
empregador, ao seu poder de, nos limites da lei e do contrato de trabalho, comandar 
sua atuação profissional; 
(c) a remuneração (ou onerosidade), a contraprestação pecuniária que o 
empregador deve ao trabalhador pelo cumprimento das obrigações prescritas no 
contrato de trabalho; e 
(d) o caráter de permanência do vínculo, no sentido de que o contrato de trabalho 
é celebrado por prazo indeterminado. 
Enfim, pessoalidade, subordinação, onerosidade e a permanência definem o 
trabalhador típico, também denominado empregado, que pode ser urbano ou 
rural. Tanto os empregados urbanos como os rurais enquadram-se no conceito legal 
transcrito acima, distinguindo-se entre si pela finalidade do serviço de prestam. 
Ambos, atualmente nos mesmos termos, estão contemplados pelo art. 7º da 
Constituição. 
Ocorre que, além do trabalhador típico – o empregado –, aquele que preenche todas 
as características do art. 3º da CLT, temos diversas modalidades de trabalhadores 
atípicos, pelo fato de não preencherem o requisito de permanência ou de 
subordinação. Temos, aqui, o trabalhador eventual, o trabalhador avulso e o 
trabalhador temporário, que não preenchem o requisito da permanência; o 
trabalhador autônomo, que não preenche o requisito da subordinação; e o 
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trabalhador doméstico, que, apesar de enquadrar-se perfeitamente no art. 3º da 
CLT, é tido como um trabalhador atípico. 
O trabalhador eventual é aquele que, de forma subordinada, presta serviços em 
caráter transitório a diversos tomadores, realizando tarefas de curta duração ou não 
relacionadas às finalidades do empregador. 
O trabalhador avulso é aquele que, de forma subordinada e descontínua, exerce 
atividades de caráter essencial e complementar ao tomador dos serviços, sem 
integrar sua estrutura formal. 
O trabalhador temporário é aquele que, de forma subordinada, presta a certo 
tomador, por prazo determinado, serviços direcionados ao atendimento de 
necessidade transitória de substituição do seu quadro de pessoal regular ou ao 
aumento extraordinário de serviço. 
O trabalhador doméstico é aquele que, de forma permanente e subordinada, presta 
à pessoa ou à família serviços de caráter residencial, sem fins lucrativos. 
E o trabalhador autônomo é aquele que presta serviços por conta própria, sem 
subordinação, assumindo o risco da atividade. 
Após essa exposição casuística, podemos concluir que o art. 7º da Constituição 
aplica-se aos trabalhadores típicos rurais e urbanos, ou seja, aos empregados 
rurais e urbanos, cuja relação trabalhista preenche as quatro características antes 
apontadas: pessoalidade e onerosidade (preenchidas por todas as classes de 
trabalhadores), subordinação e permanência (não preenchidas por algumas das 
categorias de trabalhadores acima citadas, a saber, os trabalhadores eventuais, 
autônomos, avulsos e temporários). 
Os trabalhadores avulsos também gozam de todos os direitos prescritos no art. 7º 
da CF, por força de seu inc. XXXIV, que assegura a “igualdade de direitos entre o 
trabalhador com vínculo permanente e o trabalhador avulso”. 
Os trabalhadores domésticos, por sua vez, gozam de alguns dos direitos previstos 
no art. 7º da CF, por força de seu parágrafo único, que a eles confere os direitos 
indicados nos incisos IV (salário mínimo), VI (irredutibilidade de salário), VIII 
(décimo-terceiro salário), XV (repouso semanal remunerado), XVII (férias anuais 
remuneradas), XVIII (licença-gestante), XIX (licença-paternidade); XXI (aviso 
prévio), e XXIV (aposentadoria), bem como sua integração à previdência social. 
Ficam fora do âmbito de abrangência do art. 7º da CF, dependendo seus direitos 
trabalhistas de expressa previsão na legislação infraconstitucional, os trabalhadores 
eventuais, os trabalhadores temporários e os trabalhadores autônomos. 
Apontadas as categorias de trabalhadores abrangidas pelo art. 7º da Constituição, 
passemos à análise dos direitos individuais trabalhistas nele estabelecidos. 
 
7.1) Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa 
Reza o art. 7º, I, da CF, que é direito dos trabalhadores urbanos e rurais a “relação 
de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de 
lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos”. 
Como veremos a seguir, o legislador constituinte optou por instituir como obrigatório 
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ao invés de adotar o antigo 
sistema de estabilidade para os trabalhadores, após dez anos de serviço, previsto na 
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legislação infraconstitucional em vigor antes da promulgação da Constituição Federal 
de 1988. 
Pelo antigo regime de estabilidade, o empregado, após dez anos prestando serviços 
à mesma empresa, não poderia mais ser despedido arbitrariamente ou sem justa 
causa. Como se percebe, nossa Constituição não consagra a estabilidade, 
determinando somente que seja elaboradauma lei complementar a fim de proteger 
o trabalhador contra despedidas arbitrárias ou sem justa causa, mediante a previsão 
de multas, indenizações ou outras medidas restritivas, passíveis de imposição ao 
empregador, com o objetivo de lhe intimidar na dispensa de seus trabalhadores sem 
motivo justificado. 
Deve-se ressaltar que não há dúvida de que o empregador, hoje e após a edição da 
lei complementar, tem o direito de dispensar trabalhadores sem justa causa ou por 
motivos arbitrários. Apenas, após a edição do referido diploma legal, estará sujeito 
às sanções e medidas restritivas nele previstas. Alguns doutrinadores, entretanto, 
consideram que o art. 7º, I, da CF, assegura efetivamente a proteção contra a 
despedida imotivada. Essa é a ilustre opinião, dentre outros, de José Afonso da 
Silva. 
Atualmente, até que seja editada a lei complementar requerida pelo art. 7º, I, da CF, 
o art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) fixa a multa 
indenizatória por despedida arbitrária ou sem justa causa em 40% do saldo do FGTS 
do empregado. 
Há três hipóteses, entretanto, em que o trabalhador está efetivamente protegido 
contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa. Trata-se (a) do empregado eleito 
para cargo de direção em Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), 
desde o registro de sua candidatura até um ano após o final do mandato (ADCT, art. 
10, II, a); (b) da trabalhadora gestante, desde a confirmação de sua gravidez até 
cinco meses após o parto (ADCT, art. 10, lI, b); e (c) do empregado eleito para 
cargo de direção ou representação sindical, ainda que na condição de suplente, 
desde o registro de sua candidatura até um ano após o final do mandato (art. 8°, 
VIII). 
Com relação à estabilidade provisória da gestante, o STF firmou o entendimento de 
que o direito independe de comunicação prévia, pela gestante, de seu estado de 
gravidez ao empregador, sendo suficiente, para que nasça o direito à estabilidade, a 
confirmação do estado de gravidez, mesmo que a obrigatoriedade de comunicação 
prévia tenha sido fixada em acordo ou convenção coletiva de trabalho. 
 
7.2) Seguro-desemprego: 
O inc. II do art. 7º prevê como direito trabalhista o “seguro-desemprego, em caso 
de desemprego involuntário”. 
Trata-se de um direito de natureza previdenciária, que objetiva assegurar ao 
trabalhador involuntariamente despedido um benefício financeiro temporário, pelo 
período de três a cinco meses, nos termos da legislação aplicável, atualmente, a Lei 
8.900/94. 
A Constituição é clara quanto á hipótese de incidência do benefício: despedida 
involuntária, assim considerada aquela que não partiu da vontade do trabalhador 
ou que não decorreu de justa causa. 
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Além do caráter involuntário da dispensa, a legislação estabelece, como principais 
requisitos para a aquisição do direito ao seguro-desemprego, que o trabalhador (a) 
tenha trabalhado pelo menos pelo período de seis meses nos últimos trinta e seis 
meses; (b) não possua outra fonte de renda para o seu sustento pessoal e o da sua 
família; e (c) não esteja no gozo de qualquer outro benefício previdenciário, 
ressalvadas as exceções legais, a exemplo da pensão por morte e do auxílio-
acidente. 
 
7.3) Fundo de garantia por tempo de serviço 
O inc. III do art. 7º da Constituição assegura, como direito dos trabalhadores 
urbanos e rurais, o Fundo por Garantia de Garantia do Tempo de Serviço, mais 
conhecido pela sigla FGTS. 
Como acima assinalado, o FGTS veio especialmente substituir o antigo sistema de 
estabilidade, atualmente não mais previsto em nosso ordenamento, e consiste, 
principalmente, numa reserva financeira que serve de garantia mínima para o 
trabalhador, passível de liberação nas hipóteses previstas na legislação. 
O FGTS cumpre essencialmente duas funções: serve de parâmetro para a definição 
do valor da multa indenizatória por despedida arbitrária ou sem justa causa, até que 
seja editada a lei complementar referida no art. 7º, I, da CF; e (b) constitui um 
fundo financeiro pessoal para o trabalhador, que lhe permite custear despesas 
extraordinárias, que escapam à possibilidade de pagamento com seu salário normal. 
A Lei 8.036/90 regula o FGTS, e nos seus termos os depósitos no Fundo podem ser 
liberados para o trabalhador, dentre outras, nas seguintes hipóteses: a) despedida 
sem justa causa; b) extinção total da empresa; c) aposentadoria; d) falecimento do 
trabalhador; e) pagamento parcial das prestações de financiamento para aquisição 
de imóvel próprio; f) liquidação ou amortização extraordinária de saldo devedor de 
financiamento imobiliário; e (g) pagamento total ou parcial do valor de aquisição de 
imóvel próprio. 
Os recursos do Fundo são constituídos pelas contribuições dos empregadores, à 
razão de 8% do salário mensal do trabalhador. 
 
7.4) Direitos trabalhistas relativos ao salário 
Nesse tópico trataremos dos inc. IV, V, VI, VII e X do art. 7º, que contêm regras 
pertinentes ao salário dos trabalhadores. 
O primeiro desses dispositivos assegura aos trabalhadores o direito ao “salário 
mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas 
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, 
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes perió-
dicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para 
qualquer fim”. 
O texto constitucional impõe à União a fixação, em lei de caráter nacional, de um 
valor mínimo a ser garantido aos trabalhadores pela prestação de seus serviços, 
valor este que, ao menos em tese, deve ser suficiente para o atendimento de todas 
as necessidades mencionadas no parágrafo anterior. A fixação do salário mínimo 
deve ser objeto de lei ordinária, admitindo nossa jurisprudência o uso da medida 
provisória com essa finalidade. 
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Pelos termos do dispositivo o salário mínimo deve ser nacionalmente unificado, ou 
seja, deve ser fixado em um mesmo valor para todo o território nacional. Com isso, 
é inconstitucional a fixação pelos Estados, Distrito Federal e Municípios de um valor 
inferior ao definido pela União. Alguns doutrinadores, a exemplo de Gabriel Dezen 
Junior, confere sentido mais amplo à competência da União, entendendo que os 
demais entes federados não podem nem mesmo fixar um valor de salário mínimo, 
válido em seus respectivos territórios, superior ao fixado pela União em caráter 
nacional. 
Realmente, é esta a interpretação que melhor se conforme aos termos do 
dispositivo, que se vale da expressão “nacionalmente unificado”. Há, todavia, 
entendimento diverso, no sentido de que o legislador constituinte quis definir um 
valor mínimo a ser assegurado pela União para todo o território nacional, podendo os 
demais entes federados fixar valor diverso, desde que superior. Na prática, existem 
leis estaduais que definem o valor do salário mínimo em patamar superior ao salário 
mínimo nacional. 
O salário mínimo deve ser objeto de reajustes periódicos, a fim de preservar-lhe o 
poder aquisitivo. Não se trata, no caso, de um efetivo aumento, em termos reais, do 
valor do salário mínimo, mas de uma mera recomposição de seu poder aquisitivo 
frente à depreciação causada pelo fenômeno inflacionário. 
 Encerrando o inc. IV, o constituinte veda a vinculação do salário mínimo “para 
qualquer fim”. Apesar da taxatividade do dispositivo, o STF admite que ele seja 
utilizado para a fixação de obrigações alimentícias que visem assegurar ao 
alimentado o suprimento das mesmas necessidades prescritas na Constituição para o 
trabalhadore sua família. 
O inc. VII do art. 7º da CF confere a garantia do salário mínimo mesmo para os 
trabalhadores que recebem remuneração variável. Desse modo, os trabalhadores 
que recebem por comissão, por tarefa, por peça ou por empreitada, enfim, os que 
têm uma remuneração variável conforme seu desempenho, também gozam da 
segurança do salário mínimo. Podem receber num mês um salário de valor inferior 
ao percebido em outro, mas desde tal valor seja igual ou superior ao do salário 
mínimo. 
O inc. V do art. 7º da CF assegura aos trabalhadores “piso salarial proporcional à 
extensão e à complexidade do trabalho”. 
O piso salarial, em sentido estrito, corresponde ao menor salário que pode ser 
pago aos membros de determinada categoria profissional, necessariamente 
sindicalizada, a qual pode ser constituída, e geralmente o é, por várias profissões, 
como ocorre com a categoria dos bancários, que é composta por diversas profissões. 
Além do piso salarial, que corresponde ao valor mínimo devido a certa categoria, 
temos o salário mínimo profissional, que é o valor mínimo a ser pago aos 
membros de determinada profissão, como a dos advogados, quando contratados 
como empregados de uma empresa. 
Para Eduardo Gabriel Saad, a Constituição, no inc. V do art. 7º, refere-se tanto ao 
piso salarial como ao salário mínimo profissional. É esse o entendimento a ser 
adotado na matéria: devemos interpretar a expressão piso salarial em sentido 
amplo, considerando que ela abrange tanto o piso salarial, em sentido estrito, como 
o salário mínimo profissional, ou, de outro modo, que o dispositivo em questão 
protege tanto os integrantes de certa categoria profissional como os membros de 
certa profissão regulamentada. 
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Considerando-se a expressão com essa abrangência, a Constituição impõe a fixação 
do piso salarial levando-se em consideração a extensão e a complexidade do 
trabalho. Essa fixação pode ser prevista em lei, convenção coletiva de trabalho, 
acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa exarada pela Justiça do Trabalho. 
O inc. VI do art. 7º da CF prevê a garantia da irredutibilidade do salário, mas 
ressalva que ele pode ser reduzido mediante convenção ou acordo coletivo. 
A regra geral, em vista do caráter eminentemente alimentar do salário do 
trabalhador, é a impossibilidade de sua redução. A Constituição só admite este 
possibilidade se o novo valor for definido em convenção ou acordo coletivo. 
Essa possibilidade de diminuição do salário, não é, evidentemente, ilimitada. Como 
já exposto, o inc. IV do art. 7º da CF assegura aos trabalhadores o salário mínimo, 
nacionalmente unificado, o qual protege mesmo os trabalhadores que recebem 
remuneração variável (CF, art. 7º, VII). Ademais, o art. 7o, V prevê o piso salarial 
como o valor mínimo a ser pago aos integrantes de determinada categoria 
profissional ou profissão regulamentada. Esses dois valores – o salário mínimo e o 
piso salarial – representam limites para a possibilidade de redução do valor do 
salário. 
Enfim, a Constituição enuncia primeiramente uma regra geral, qual seja, a de que o 
valor dos salários é insuscetível de redução. A seguir, traz os únicos mecanismos por 
meio dos quais que tal regra pode ser excepcionada, com a redução do salário dos 
trabalhadores. Essa redução, se ocorrer, deve ser geral, porque definida em 
convenção ou acordo coletivo de trabalho, e não pode resultar num valor inferior ao 
do salário-mínimo e ao do piso salarial. 
Embora a CLT estabeleça as hipóteses em que tal redução é possível, como nas 
situações de força maior e de comprovado prejuízo suportado pela empresa, nossa 
doutrina majoritária entende que a norma em questão não foi recepcionada pela 
Constituição, que autoriza a redução em quaisquer hipóteses, desde que promovida 
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. 
Em fechamento, vale destacar a norma contida no inc. X do art. 7º da CF, segundo a 
qual é direito trabalhista a “proteção do salário na forma da lei, constituindo crime 
sua retenção dolosa”. 
Na sua parte inicial, o dispositivo determina que a lei estabeleça mecanismos de 
proteção ao salário, buscando concretizar os demais direitos previstos no texto 
constitucional, ou mesmo na legislação ordinária. 
Na sua parte final, declara que é crime a retenção dolosa, pelo empregador, do 
salário devido ao empregado. Assim, quando o empregador, tendo condições para 
tanto, negar-se a efetuar o pagamento dos salários devidos, praticará conduta 
caracterizada como crime, nos termos definidos pela legislação penal. De se 
observar que o não pagamento alheio à vontade do empregador – quando ele deseja 
pagar mas não possui condições para tanto – não é considerado crime pela 
Constituição. É indispensável, no caso, que a retenção tenha sido dolosa, que o 
empregador não tenha pago simplesmente porque não teve vontade de fazê-lo. 
 
7.5) Direitos trabalhistas relativos às demais vantagens de natureza salarial 
Nesse tópico trataremos dos direitos trabalhistas previstos nos inc. VIII, IX, XII, XVI, 
XVII, XXI e XXIII do art. 7º da Constituição. 
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O inc. VIII trata do direito ao “décimo terceiro salário, com base na remuneração 
integral ou no valor da aposentadoria”. 
O décimo terceiro salário é uma vantagem remuneratória correspondente a um 
mês de remuneração, no caso dos trabalhadores da ativa, ou de proventos, no caso 
dos aposentados, considerando-se o período de um ano. O trabalhador, pela 
prestação de seus serviços, faz jus em regra a um pagamento mensal. Do mesmo 
modo, o aposentado tem direito ao pagamento mensal de seus proventos. 
Além do salário e dos proventos, os trabalhadores e os aposentados terão, 
anualmente, direito a um pagamento a mais, um décimo terceiro pagamento, que é 
justamente o décimo terceiro salário. Em regra o pagamento desse direito é feito no 
mês de dezembro, mas a legislação admite pagamentos parciais antecipados. 
O inc. IX do art. 7º da CF, por sua vez, ao prever como direito do trabalhador a 
“remuneração do trabalho noturno superior à do diurno”, está contemplando o 
adicional de trabalho noturno. 
Comparativamente ao décimo terceiro salário, a Constituição é consideravelmente 
mais genérica na prescrição do adicional de trabalho noturno, limitando-se a prever 
o direito, cabendo o tratamento do restante da matéria à legislação ordinária, que 
fixará, entre outros pontos, o que se considera horário noturno e a duração da hora 
noturna, além, evidentemente, do valor do adicional. 
Atualmente a matéria é tratada no art. 73, § 1º, da CLT, que fixa o horário noturno 
entre 22 horas de um dia e as 5:00 horas do dia seguinte. A duração da hora 
noturna corresponde a 52 minutos e trinta segundos, e o adicional noturno equivale 
a um percentual de 25% do salário do trabalhador. 
O inc. XII do art. 7º da CF prevê o “salário-família pago em razão do dependente 
do trabalhador de baixa renda nos termos da lei”. 
O dispositivo em questão foi alterado pela EC 20/98, que restringiu o direito aos 
trabalhadores de baixa renda. O art. 13 da EC 20 considera de baixa renda o 
trabalhador que tenha renda bruta mensal igualou inferior a R$ 360,00, até a edição 
da legislação ordinária requerida pelo dispositivo em comento. Apesar de alguns 
doutrinadores, a exemplo de Gabriel Dezen Junior, inclinarem-se pela 
inconstitucionalidade da alteração promovida pela EC 20/98, que extinguiu o direito 
ao salário família para os trabalhadores que não sejam de baixa renda, o STF não 
proferiu qualquer decisão na matéria, com o que devemos considerar válida a 
limitação imposta pela Emenda.O inc. XVI do art. 7º contempla o adicional de serviço extraordinário, ao prever 
a “remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por 
cento à do normal”. 
Adiante analisaremos as regras constitucionais acerca da jornada de trabalho, 
masdesde já podemos esclarecer que serviço extraordinário é todo aquele que o 
trabalhador presta em horário excedente ao da duração da sua jornada normal de 
trabalho. 
Cabe à legislação ordinária fixar em quanto o valor-hora de serviço extraordinário 
excederá ao valor-hora normal de trabalho, respeitado o parâmetro constitucional, 
segundo o qual aquele valor será superior em pelo menos 50% a este. 
A CLT permite como regra geral um aumento da jornada normal de trabalho em até 
duas horas diárias, mas traz hipóteses em que a ampliação da jornada laboral pode 
se dar por período superior (art. 59 e 61). 
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O inciso XVII do art. 7º assegura aos trabalhadores o direito ao “gozo de férias 
anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal”. 
Como se nota, são dois os direitos previstos no dispositivo: o direito ao gozo de um 
período de férias remuneradas a cada ano, e o direito a ter a remuneração de 
férias acrescida em pelo menos um terço da remuneração normal. 
A Constituição não fixa qual será esse período de férias, remetendo a matéria à 
legislação ordinária. A CLT, que dispõe sobre o assunto, fixa em trinta dias por ano o 
período de férias do trabalhador, como regra geral, admitindo redução do mesmo na 
hipótese de faltas injustificadas do trabalhador durante o período de aquisição do 
direito. 
A remuneração de férias supera a remuneração normal do trabalhador em pelo 
menos um terço. A este valor a maior denomina-se adicional de férias. Desse 
modo o trabalhador, além de ter assegurado seu período de descanso anual, 
receberá uma remuneração relativa a este período em valor superior ao da sua 
remuneração normal, correspondendo o adicional de férias a este valor excedente. 
Segundo a CLT a remuneração de férias, compreendendo o valor do adicional, deve 
ser paga ao trabalhador antes que se inicie seu período de férias. 
O inc. XXI do art. 7º da CF trata do “aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, 
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei”. 
Apesar de contemplado na Constituição como um direito dos trabalhadores, na 
verdade o aviso prévio, na forma como é tratado na legislação ordinária, é também 
um direito dos empregados. Consiste referido instituto na obrigação que tem 
qualquer das partes do contrato de trabalho – o trabalhador e aquele a quem ele 
presta serviços – de comunicar à outra sua intenção de extinguir o vínculo 
trabalhista em uma data determinada. 
Segundo a Constituição, é de 30 dias o prazo mínimo para este aviso, cabendo à lei, 
respeitado o limite constitucional, definir o prazo de aviso prévio de forma 
proporcional ao tempo de serviço do trabalhador numa mesma relação de trabalho. 
Trabalhadores mais antigos deverão gozar e estar sujeitos a um período maior de 
aviso prévio, comparativamente aos mais novos, considerando-se sempre apenas 
uma mesma relação de trabalho, ou seja, o contrato de trabalho celebrado com 
certa pessoa física ou jurídica. 
Por fim, o inc. XXIII do art. 7º prevê como direito dos trabalhadores o “adicional de 
remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma 
da lei”. 
Em termos singelos, podemos definir atividades penosas como aquelas que exigem 
significativo dispêndio de força física ou mental para serem adequadamente 
exercidas, a exemplo da atividade de garimpo; atividades insalubres como aquelas 
que, a médio ou longo prazo, acarretam ou podem acarretar prejuízos à saúde ou 
à integridade física do trabalhador, a exemplo das atividades relacionadas ao 
manuseio de material radioativo; e atividades perigosas como aquelas que colocam 
o trabalhador em situação de iminente risco de vida, como as atividades 
relacionadas à vigilância e ao manuseio de explosivos. 
Ao trabalhador que atuar em qualquer dessas condições, e somente enquanto 
estiver atuando em tais condições, a Constituição assegura um acréscimo de 
remuneração, mediante o pagamento do adicional de periculosidade, penosidade ou 
insalubridade, conforme o caso, cujos valores serão definidos em lei. 
 
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7.6) Participação nos lucros ou resultados e co-gestão 
O inc. XI do art. 7º prevê, em norma constitucional de eficácia limitada, o direito dos 
trabalhadores à “participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme 
definido em lei”; 
São dois direitos distintos dos trabalhadores, ambos dependentes da edição da 
legislação ordinária para adquirirem eficácia plena: participação nos lucros ou 
resultados da empresa, desvinculada da remuneração, e, em caráter excepcional, 
participação na gestão da empresa. 
Nos termos da Constituição, a participação dos trabalhadores, totalmente 
desvinculada da sua remuneração, pode incidir sobre o lucro resultante da atividade 
da empresa, ou sobre o resultado total de sua atuação. São dois critérios 
diferenciados: o lucro corresponde à diferença entre as receitas e as despesas, de 
modo que pressupõe que aquelas tenham sido maiores que estas, do contrário não 
haverá lucro. Resultado, a grosso modo, corresponde ao total da atividade da 
empresa, considerando-se todas as receitas e despesas. Poderemos, portanto, ter 
um resultado positivo, quando as receitas superam as despesas, ou negativo, 
quando ocorre o contrário. 
Como não se poderia interpretar o dispositivo em apreço no sentido de que ele 
autoriza a “participação” dos trabalhadores nos resultados negativos da empresa, 
uma vez que é desta o risco do exercício da atividade que desempenha, deve-se 
considerar que a Constituição prevê a participação dos trabalhadores nos lucros ou 
nos resultados positivos da empresa, cabendo à legislação ordinária definir os 
termos dessa participação. Atualmente a matéria é regulada pela Lei 10.101/2000. 
Deve-se notar que a participação nos lucros ou resultados está desvinculada da 
remuneração do empregador; logo, não possui natureza salarial. São duas 
parcelas pecuinárias de natureza diversa: o salário, com todas as parcelas que o 
compõem; e a participação nos lucros e resultados da empresa. Como conseqüências 
da sua desvinculação da remuneração, podemos citar a não-incidência de 
contribuição previdenciária sobre o valor pago a este título ao trabalhador, e a 
impossibilidade de se calcular qualquer verba de natureza salarial levando em 
consideração o valor da participação. 
A parte final do inciso XI do art. 7º prevê a possibilidade de participação dos 
trabalhadores na gestão da empresa, ou seja, na condução dos negócios que 
constituem seu objeto, ao lado dos titulares do capital social. Tal participação, se 
efetivada, se dará mediante a eleição de representantes dos trabalhadores para 
atuar nos órgãos decisórios da empresa, e denomina-se co-gestão. Como a própria 
Constituição declara que esta participação será em caráter excepcional, é simples de 
se vislumbrar que dificilmente ela será concretizada pela legislação ordinária. 
 
7.7) Direitos relativos à jornada de trabalho 
Os incisos XIII e XIV do art. 7º da Constituição tem por objeto normas gerais 
relativas à duração da jornada laboral dos trabalhadores. 
O dispositivo de maior amplitude é o inc. XIII, que assegura aos trabalhadores 
“duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro 
semanais, facultada a compensação de horáriose a redução da jornada, mediante 
acordo ou convenção coletiva de trabalho”. 
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A “duração normal do trabalho” é expressão sinônima de jornada de trabalho, que 
abrange todo o tempo em que o trabalhador está exercendo suas atividades laborais 
ou, mesmo que não esteja efetivamente desempenhando-as, encontra-se à 
disposição do empregador e sob suas ordens. Horário de trabalho, por sua vez, é o 
período de tempo entre o início e o final de uma mesma jornada de trabalho, 
compreendidos os intervalos de descanso. Em outros termos, corresponde à jornada 
diária de trabalho 
Nos termos do dispositivo constitucional, a jornada diária de trabalho não pode 
ultrapassar oito horas, e a semanal tem por limite quarenta e quatro horas, 
admitindo-se, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, a 
compensação de horários e a redução da jornada (diária ou semanal, conforme 
os termos do ajuste). 
A compensação de horários é um instrumento que permite instituir uma jornada de 
trabalho flexível, de modo que, por exemplo, o trabalhador ultrapasse as oito horas 
de trabalho em um dia e trabalhe um número menor de horas em outro; ou trabalhe 
uma hora além das oito horas em quatro dias entre segunda e sexta-feira, de modo 
a ter livre o sabádo, uma vez que terá cumprido a jornada semanal de quarenta e 
quatro horas. 
Com a compensação de horários permite-se que o trabalhador ultrapasse a duração 
normal da sua jornada em certo dia ou semana sem que se considere o período 
em excesso como de serviço extraordinário, uma vez que o trabalhador 
compensará as horas de trabalho extras, trabalhando durante um período de tempo 
menor em outras jornadas de trabalho. A Constituição autoriza tais situações, desde 
que mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. 
Do mesmo modo, autoriza que, por acordo ou convenção coletiva, seja ajustado 
entre trabalhadores e empregadores a redução da jornada diária ou semanal de 
trabalho. Bem claro, pelos termos da Constituição, que é vedada a celebração de 
qualquer ajuste dessa natureza prevendo a ampliação da jornada de trabalho. 
O inc. XIV complementa a matéria, prevendo “jornada de seis horas para o trabalho 
realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva” 
No caso de trabalhadores que labutam em turnos ininterruptos de revezamento, a 
Constituição estabeleceu uma jornada diária de trabalho de menor duração, fixando-
a em seis horas, o que resultará numa jornada semanal de trabalho também de 
duração menor. 
Os turnos ininterruptos de revezamento ocorrem quando o trabalhador, salvo 
pequenas paradas, presta seus serviços de forma contínua, sendo esta a forma de 
organização do trabalho nas empresas que funcionam permanentemente, não 
cessando suas atividades em nenhum momento dentro do período diário de vinte e 
quatro horas. Encerra-se um turno de trabalho e imediatamente inicia-se outro. 
Nesse caso, os trabalhadores não terão um período de descanso significativo, já que 
no seu turno cumprirão suas tarefas de modo praticamente contínuo, o que fez a 
Constituição estabelecer na hipótese uma jornada de trabalho diária de menor 
duração, correspondendo a 6 horas. 
Admite, entretanto, que essa duração possa ser alterada mediante negociação 
coletiva, que resultará, se frutífera, num acordo ou convenção coletiva de trabalho. 
Pela literalidade do texto constitucional, tal negociação poderá ampliar ou reduzir 
a jornada diária de trabalho, já que no dispositivo não consta qualquer restrição 
nesse sentido. Apesar disso, há entendimento diverso de significativa parcela da 
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doutrina, que considera constitucional apenas a negociação que resulte em redução 
da jornada para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento. 
 
7.8) Repouso semanal remunerado, licenças e aposentadoria 
O art. 7º da Constituição prevê hipóteses em que o trabalhador tem direito, sem 
qualquer prejuízo para sua remuneração e para seu vínculo trabalhista, a deixar de 
prestar temporariamente seus serviços. 
Em primeiro lugar, temos o “repouso semanal remunerado, preferencialmente 
aos domingos”, direito trabalhista consagrado no inc. XV do art. 7º da Constituição. 
Trata-se de um período 24 horas por semana, em que o trabalhador, sem qualquer 
prejuízo para seu salário, terá direito não a prestar os serviços relativos ao contrato 
de trabalho, sendo tal período considerado como de efetivo exercício de suas tarefas 
para todos os fins legais. 
Segundo a Constituição, tal período de descanso será “preferencialmente” aos 
domingos. Ao utilizar-se deste termo a Constituição deixa claro que o empregador 
tem o direito de escolher outro dia da semana como de descanso do trabalhador, de 
acordo com a necessidade de serviço. Enfim, o trabalhador tem direito ao repouso 
semanal remunerado, mas não necessariamente no domingo, podendo o 
empregador fixar o descanso em dia diverso da semana, se considerar necessário 
que o trabalhador exerça suas funções no domingo. 
A prestação de serviço no período de repouso semanal obriga ao empregador o 
pagamento em dobro da remuneração do trabalhador, segundo a legislação em 
vigor. 
Em continuidade, o inc. XVIII do art. 7º estabelece como direito do trabalhador do 
sexo feminino a “licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a 
duração de cento e vinte dias”. 
Trata-se de um período de descanso remunerado, fixado em 120 dias, durante o 
qual a trabalhadora poderá dispor integralmente de seu tempo nos cuidados iniciais 
com recém nascido: é esse o objetivo da licença. É comum, entretanto, que a 
trabalhadora se afaste no gozo dessa licença antes da gestação, a fim de 
permanecer em repouso durante os dias que antecedem ao parto. Tal possibilidade é 
autorizada pela legislação. 
Não devemos confundir a licença à gestante, aqui tratada, que corresponde a um 
período de afastamento da trabalhadora, sem qualquer prejuízo para sua 
remuneração, com a estabilidade relativa da gestante, garantia que incide desde a 
confirmação da gravidez até o quinto mês posterior ao parto, impedindo a dispensa 
arbitrária ou sem justa causa durante esse período. A estabilidade assegura à 
trabalhadora gestante o direito à permanência do vínculo trabalhista, só podendo ser 
dispensada por justa causa, ao passo que a licença-gestante permite que ela se 
afaste do exercício regular de suas atividades por 120 dias sem qualquer prejuízo 
para seu salário. 
O trabalhador do sexo masculino também tem direito a afastar-se temporariamente 
do exercício de suas atividades laborais em virtude do nascimento de filho. Trata-se 
da licença-paternidade, prevista no inc. XIX do art. 7º da CF, que remete sua 
regulação à lei ordinária. O art. 10 do ADCT fixa provisoriamente em cinco dias o 
período da licença-paternidade, até que seja editada a lei requerida no inc. XIX do 
art. 7º da CF. 
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Por fim, vale mencionar o direito à aposentadoria, inscrito no inc. XXIV do art. 7º 
da Constituição. Dele trataremos quando estudarmos os art. 201 e 202 da 
Constituição, que integram o Título dedicado ao regramento básico da ordem social. 
 
7.9) Proteções trabalhistas especiais 
Nesse tópico trataremos de alguns dispositivos do art. 7º da CF que conferem 
especiais proteções a certas categorias de trabalhadores, ou aos trabalhadores em 
geral. 
Iniciando pelo inciso XX, prevê ele a “proteção do mercado de trabalho da mulher, 
mediante incentivos específicos, nos termos da lei”. Trata-se de umaaplicação direta 
do inc. I do art. 5º da Constituição, que assegura tratamento isonômico entre 
homens e mulheres, nos termos desta Constituição. 
O inc. XX do art. 7º da CF é, pois, nada mais que uma hipótese em que a 
Constituição prevê tratamento diferenciado entre homens e mulheres, determinando 
a edição de uma lei ordinária que estabeleça incentivos específicos para os 
empregados que contratarem trabalhadores do sexo feminino, a fim de facilitar sua 
inserção no mercado de trabalho. 
O inc. XXII, por sua vez, prevê como direito trabalhista a “redução dos riscos 
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. 
Trata-se, a exemplo do inc. XX, de norma constitucional de eficácia limitada, que 
requer complementação pela legislação ordinária para a produção da plenitude de 
seus efeitos jurídicos. Tais normas infraconstitucionais terão por objetivo detalhar os 
critérios de saúde, higiene e segurança que deverão ser necessariamente 
observados pelos empregadores no local de trabalho, assegurando-se desta forma a 
higidez física e psíquica dos trabalhadores. 
Em continuidade, o inc. XXVII estabelece a “proteção em face da automação, na 
forma da lei”. 
Mais uma norma constitucional de eficácia limitada, por seu intermédio visa o 
constituinte a proteger os trabalhadores contra a crescente redução dos postos de 
trabalhos em face da automação, que substitui o trabalho humano. Caberá à 
legislação ordinária, num primeiro momento, definir o que é automação, para fins de 
aplicação do dispositivo, e, em seguida, instituir instrumentos que busquem proteger 
os trabalhadores contra esse fenômeno, podendo, por exemplo, fixar multas para os 
empregadores que dispensarem seus empregados por esse motivo, fixar 
determinado percentual dos serviços das empresas a partir do qual não será 
admitida a automação, entre outras hipóteses possíveis. 
O inc. XXVIII contempla o “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do 
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando 
incorrer em dolo ou culpa”. 
A norma alberga, pois, dois direitos do trabalhador urbano ou rural. 
Por primeiro, o direito de que eventuais danos oriundos de acidente de trabalho 
sejam cobertos por seguro, cujo ônus é suportado pelo empregador. A Constituição 
é clara quanto à exclusividade do empregador no custeio do seguro por acidente de 
trabalho, tornando desnecessária qualquer contribuição do próprio trabalhador ou da 
União. 
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Por segundo, o direito à indenização pelos prejuízos sofridos, quando no 
acidente, ainda que parcialmente, houver dolo ou culpa imputáveis ao empregador. 
De se ressaltar que o fato de o empregador ter efetuado o seguro contra acidentes 
de trabalho não exclui sua responsabilidade pelo pagamento da indenização ao 
trabalhador quando concorrer culposa ou dolosamente para o acidente de trabalho. 
Por fim, o inc. XXXIII institui a “proibição de trabalho noturno, perigoso ou 
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis 
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. 
O dispositivo em comento foi modificado pela EC 20/98. Duas foram as alterações: o 
aumento de quatorze para dezesseis anos da idade mínima para o exercício de 
qualquer trabalho; e a fixação da idade mínima de quatorze anos para a admissão 
na condição de aprendiz. 
Pela redação atual do dispositivo, o adolescente poderá atuar como aprendiz 
somente a partir dos quatorze anos, e poderá atuar como trabalhador propriamente 
dito apenas a partir dos dezesseis anos, salvo em caso de trabalho noturno, perigoso 
ou insalubre, que só podem ser exercidos a partir da idade de dezoito anos. 
 
7.10) Direitos trabalhistas vinculados ao princípio da isonomia 
Os inc. XXX, XXXI e XXXII do art. 7º da Constituição Federal trazem três normas 
diretamente decorrentes do princípio da isonomia. 
Pela primeira, prescrita no inc. XXX, é instituída a “proibição de diferença de 
salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, 
idade, cor ou estado civil”. 
Além de fundar-se no princípio da igualdade, tal vedação encontra guarida entre os 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, uma vez que o art. 3o, IV, 
da CF declara seu um desses objetivos “promover o bem de todos, sem preconceitos 
de origem, raça, sexo e quaisquer outras formas de discriminação”. 
Esse duplo fundamento também se aplica ao XXXI, que estabelece a “proibição de 
qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador 
portador de deficiência”. 
Segundo Gabriel Dezen Junior, trabalhador deficiente “é aquele que apresenta 
diferença redutora do desenvolvimento físico, psíquico ou emocional, 
comparativamente com os padrões aceitos como regulares, mas que detenha 
condições de desempenho satisfatórias das atribuições a ele cometidas em razão da 
relação de emprego”. 
Devemos perceber que o inc. XXXI, de modo inteiramente razoável, não impede 
discriminação no que toca ao “exercício de funções”, como o faz o inc. XX, uma vez 
que se faz necessária a análise, caso a caso, da compatibilidade da deficiência com o 
exercício das atividades inerentes a certo trabalho, o que autoriza vedar-se a esses 
trabalhadores o exercício das funções que não guardem compatibilidade com a 
deficiência de que são portadores. 
Também vinculado ao princípio da isonomia, o inc. XXXII traz a “proibição de 
distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais 
respectivos”. 
O significado da norma é singelo: independentemente das características próprias do 
trabalho – se ele é predominante ou exclusivamente manual, técnico ou intelectual -, 
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os respectivos trabalhadores têm os mesmos direitos, vantagens e garantias do 
ponto de vista trabalhista. 
Desse modo, por exemplo, se um trabalhador que exerce atividade intelectual goza 
de certo direito trabalhista, como o adicional de férias, indiscutivelmente dele gozam 
também os trabalhadores que exercem atividades manuais ou técnicas. Qualquer 
prescrição diferenciadora com base nesse critério é flagrantemente inconstitucional, 
pela aplicação direta do inc. XXXII. 
 
10.11) Assistência aos filhos e dependentes do trabalhador 
O inc. XXV assegura a “assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
cimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas”. 
Trata-se de norma de entendimento singelo, que visa conferir tranqüilidade aos 
trabalhadores, do sexo masculino ou feminino, urbanos ou rurais, durante o 
desempenho de suas funções, já que, durante a sua jornada de trabalho, seus filhos 
ou dependentes estarão sendo assistidos em creches ou pré-escolas, sem que lhes 
caiba qualquer ônus financeiro em função disso. 
 
10.12) Prazos prescricionais 
Reza o inc. XXIX do art. 7º da Constituição, com a redação dada pela EC 28/200: 
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com 
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o 
limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; 
Na redação antiga do dispositivo era estabelecido regramento diverso para 
trabalhadores urbanos e rurais. Atualmente, por força da EC 28/2000, o tratamento 
jurídico na matéria é idêntico para ambos. 
A Constituição prevê dois prazos prescricionais para que os trabalhares possam 
instaurar processos judiciais relacionados a créditos oriundos do contrato de 
trabalho. O primeiro transcorre enquanto em vigor o contrato de trabalho, sendo 
de 5 anos, e o segundo após a extinçãodo contrato, sendo de 2 anos. 
Assim, por exemplo, considerando-se o mês de dezembro e o ano de 2006, 
imaginemos um trabalhador rural que não recebeu seu décimo terceiro salário 
relativo aos anos de 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005 (que deveriam ter sido quitados 
nos meses de dezembro de cada ano): 
- se está vigorando seu contrato de trabalho em dezembro de 2006, poderá esse 
trabalhador ingressar com uma ação pleiteando o recebimento de todos os décimos 
terceiros não pagos, uma vez que, estando vigente o contrato, é de 5 anos o prazo 
prescricional para a discussão créditos dele decorrentes; 
- se seu contrato foi extinto em dezembro de 2006, poderá apenas pleitear 
judicialmente os décimos terceiros de 2004 e 2005, porque com a extinção do seu 
contrato de trabalho o prazo prescricional reduz-se para 2 anos. 
 
11) DIREITOS COLETIVOS DOS TRABALHADORES 
Os direitos de expressão coletiva dos trabalhadores têm previsão nos art. 8º a 11 da 
Constituição Federal, que tratam da liberdade de associação profissional ou sindical, 
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do direito de greve, do direito de participação laboral e do direito de representação 
na empresa. 
São esses os direitos coletivos dos trabalhadores contemplados na Constituição. 
Serão eles nosso objeto de estudo na parte final dessa unidade. 
 
11.1) Liberdade de associação profissional ou sindical 
O art. 8º da Constituição Federal assegura a liberdade de associação profissional 
e sindical, nos termos em que dispõe. Prevê, pois, duas modalidades de associação, 
a sindical e a profissional. Na verdade, ambas são modalidades de associação 
profissional, mas a associação sindical – ou simplesmente, sindicato - é uma 
associação com prerrogativas especiais. 
Como prerrogativas principais do sindicato podemos citar a (1) legitimidade para a 
defesa dos interesses individuais e coletivos da categoria que representa, tanto na 
esfera judicial quanto na esfera administrativa; (2) a obrigatoriedade de sua 
participação nas negociações coletivas de trabalho, do que advém seu poder para a 
celebração de acordos ou convenções coletivas; (3) a capacidade de eleger ou 
designar representantes da categoria em função da qual atua e (4) o poder de impor 
contribuições aos seus membros. 
A associação profissional não sindical, por sua vez, tem por objeto o estudo, a 
defesa e a coordenação dos interesses da categoria que representa. Seu âmbito de 
atuação é consideravelmente mais restrito do que aquele conferido pela Constituição 
às associações sindicais, que são efetivamente as representantes da categoria 
profissional ou econômica respectiva. Em vista disso, após prever genericamente a 
possibilidade de existências dessas duas modalidades de associação profissional, o 
art. 8º passa a tratar das principais normas aplicáveis à primeira delas, a associação 
sindical, as quais passamos a analisar. 
O inc. I do art. 8º da CF determina que “a lei não poderá exigir autorização do 
Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, 
vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical”. 
Consagra, pois, o dispositivo, a liberdade de constituição das associações 
sindicais e a autonomia dos sindicatos no seu funcionamento. 
A Constituição impõe o cumprimento de apenas uma formalidade para a constituição 
dos sindicatos: o registro no órgão competente, o qual, segundo o STF, atualmente é 
o Ministério do Trabalho. Trata-se de mero registro, ato estritamente vinculado. O 
órgão estatal limitar-se-á a verificar se os estatutos da entidade não trazem nenhum 
dispositivo contrário à lei ou à Constituição, se eventuais formalidades legais foram 
observadas e se não há, no caso, violação do princípio da unicidade sindical, adiante 
estudado. Se a análise for positiva, o Ministério obrigatoriamente procederá ao 
registro, sendo sua negativa flagrantemente inconstitucional. 
Não cabe qualquer espécie de autorização, seja de autoridade política ou 
administrativa, como requisito para o registro do sindicato. Não há qualquer margem 
de liberdade a ser exercida pelo Poder Público nessa questão. 
Uma vez constituído o sindicato, é vedada qualquer espécie de interferência estatal 
em seu funcionamento, regra que consubstancia o princípio da autonomia sindical. 
A exigência de relatórios contínuos das atividades sindicais, a admissão de 
representantes do poder público nas reuniões do sindicato, práticas rotineiras 
durante o período pré-democrático, foram vedadas peremptoriamente pela 
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Constituição. Os sindicatos, desde que atuem em conformidade com as leis e a 
Constituição, estão libertos de qualquer ingerência estatal em seu funcionamento. 
O inc. II do art. 8º consagra o princípio da unidade sindical, nos seguintes 
termos: “é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer 
grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base 
territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não 
podendo ser inferior à área de um Município”. 
É vedada a criação de mais de uma entidade sindical, representativa de certa 
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, cujo tamanho 
mínimo corresponde à área de um Município. Nisso consiste o princípio da unidade 
sindical. 
É útil procedermos, aqui, à diferenciação entre os três graus possíveis de 
organização sindical: sindicato, federação e confederação. Sindicato é a entidade que 
representa, diretamente, a categoria profissional ou econômica; federação é a 
entidade sindical que representa os sindicatos; e confederação é a entidade sindical 
que representa as federações. 
Podemos perceber que o princípio da unicidade sindical é aplicável aos sindicatos, às 
entidades que representam diretamente a categoria profissional ou econômica. São 
eles os destinatários da norma constitucional que veda sua dupla criação numa 
mesma base territorial, com o tamanho mínimo de um Município. Tratando do 
princípio da unicidade sindical, o STF assentou que se trata o mesmo da única 
restrição imposta pela Constituição à liberdade de associação sindical. 
O inc. III do art. 8º da Constituição traz a principal prerrogativa dos sindicatos, o 
fundamento mesmo da sua existência. Reza a norma que “ao sindicato cabe a 
defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, 
inclusive em questões judiciais ou administrativas”. 
É diversa a legitimidade do sindicato, conforme atue ele na defesa de interesses 
individuais dos membros da categoria ou na defesa dos interesses coletivos da 
categoria como um todo. No primeiro vaso, trata-se de representação processual, 
situação em que o sindicato atua em nome alheio na defesa de interesses 
alheios, enfim, atua em nome de certos membros da categoria na defesa de seus 
interesses individuais. No segundo caso estamos perante hipótese de substituição 
processual, em que o sindicato atua em nome próprio na defesa de interesses 
alheios, ou seja, o sindicato atua em seu próprio nome na defesa dos interesses 
coletivos da respectiva categoria profissional ou econômica. 
Não é necessária a autorização expressa dos membros da categoria para que o 
sindicato possa atuar na defesa de seis interesses coletivos, não se aplicando às 
entidades sindicais a regra prescrita para as entidades associativas em geral (CF, 
art. 5º, XXI), pois tal autorização está implícita nas próprias finalidades do sindicato. 
Entretanto, para a atuação do sindicato na defesa de interesses individuais de 
certos integrantes da categoria faz-se é necessária a autorização expressa dosrepresentados. 
Importante de ser salientado, na matéria, é o disposto no do art. 8º da Lei 7.788/89, 
segundo o qual "nos termos do inciso III do art. 8° da Constituição, as entidades 
sindicais poderão atuar como substitutos processuais da categoria, não tendo 
eficácia a desistência, a renúncia e transações individuais". Para tais atos é 
indispensável a autorização expressa da própria categoria, reunida em assembléia. 
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O inc. IV do art. 8º da Constituição trata das principais fontes de custeio da 
organização sindical, asseverando: “a assembléia geral fixará a contribuição que, em 
se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do 
sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da 
contribuição prevista em lei”. 
O dispositivo contempla duas contribuições: a contribuição confederativa, fixada 
pela assembléia geral e que tem por destinação o custeio do sistema confederativo 
da representação sindical respectiva; e a contribuição sindical, prevista em lei, 
que corresponde a uma modalidade de tributo. 
A incidência da contribuição confederativa decorre da filiação ao sindicato, de modo 
que ela é passível de exigência somente dos filiados, não alcançando os membros 
da categoria profissional ou econômica não-filiados. A contribuição sindical, ao 
contrário, decorre da pertença a certa categoria profissional ou econômica, logo, é 
exigível de todos os membros dessa categoria, sejam ou não filiados ao 
sindicato. 
Assim, a contribuição confederativa é instituída pela própria categoria, reunida em 
assembléia, ao passo que a contribuição sindical é modalidade de tributo, daí ser 
prevista em lei. São duas contribuições independentes: o membro da categoria não 
filiado ao sindicato está sujeito apenas à contribuição sindical, a qual, na qualidade 
de tributo, é de pagamento compulsório; já o membro da categoria filiado está 
sujeito à incidência de ambas as contribuições. Para eximir-se do pagamento da 
contribuição confederativa deve desfiliar-se da entidade sindical. 
Em prosseguimento, reza o inc. V do art. 8º da CF que “ninguém será obrigado a 
filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato”. 
Norma de entendimento singelo, assegura aos integrantes da categoria, sejam 
trabalhadores da ativa ou aposentados, a liberdade de, a qualquer momento, 
poderem optar pela sua filiação ou não ao sindicato, ou pela continuidade do vínculo. 
Quando não-filiados, não podem ser coagidos a sê-lo; quando filiados, não podem 
ser obrigados a manter o vínculo. Enfim, a qualquer momento podem negar-se à 
filiação inicial ou à continuidade da filiação. A este direito subjetivo dos membros da 
categoria a doutrina denomina liberdade de adesão sindical. 
O inc. VI reforça em muito o poder de intervenção dos sindicatos na esfera 
trabalhista ao estatuir que “é obrigatória a participação dos sindicatos nas 
negociações coletivas de trabalho”. 
As negociações coletivas de trabalho podem resultar principalmente em convenções 
coletivas de trabalho e em acordos coletivos de trabalho, ambos considerados 
autênticas fontes formais de Direito do Trabalho, ou seja, instrumentos com 
idoneidade jurídica para instituir normas trabalhistas, nos limites da lei e da 
Constituição. 
A diferença entre as convenções e os acordos coletivos é de abrangência. As 
convenções coletivas são acordos normativos que regulam as relações de trabalho 
de toda uma categoria profissional ou econômica, ao passo que os acordos coletivos 
alcançam apenas os trabalhadores de determinadas empresas ou grupos de 
empresas, os participantes da negociação, não alcançando a categoria como um 
todo. 
Em ambos os caso, tanto para a celebração de uma convenção coletiva como de um 
acordo coletivo de trabalho, é indispensável a participação do sindicato 
representante da categoria profissional ou econômica interessada na negociação. De 
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modo mais abrangente, em qualquer negociação coletiva, administrativa ou judicial, 
que envolva a categoria, culmine ela ou não em certo resultado positivo, é 
indispensável a participação do sindicato. 
O inc. VII do art. 8º da CF garante ao aposentado o direito à participação ativa no 
sindicato, ao assegura-lhe, desde que filiado, o direito de votar e de ser votado na 
entidade sindical. 
Desde modo, ao aposentado é reconhecido o direito não só de participar das 
votações envolvendo os interesses da categoria, mas também de ser votado para 
ocupar cargos de representação na entidade sindical respectiva. 
O inc. VIII, por sua vez, prevê a estabilidade provisória para os dirigentes 
sindicais, ao determinar que “é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a 
partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se 
eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer 
falta grave nos termos da lei”. 
Assim, todos os membros da categoria que concorrem aos cargos de direção e 
representação sindical, uma vez inscritos, gozam da proteção até o término da 
eleição; encerrada esta, continuam protegidos os eleitos para cargo de direção ou 
representação sindical, mesmo na condição de suplentes, até um ano após o final do 
mandato. Enquanto perdurar a proteção só podem ser dispensados em caso de 
cometimento de falta grave, nos termos da lei. 
Por fim, o art. 8º encerra-se com um parágrafo único, segundo o qual as regras nele 
dispostas “aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de 
pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer”. 
Os sindicatos rurais e as colônias de pescadores nada mais são do que entidades 
sindicais de pequeno porte, as quais serão aplicáveis as normas do art. 8º da CF no 
que for compatível com suas peculiaridades. 
 
11.2) Direito de Greve 
O art. 9º da Constitui traz um dos mais fundamentais direitos trabalhistas de 
expressão coletiva: o direito de greve. Nos termos de seu caput, “é assegurado o 
direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de 
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender”. 
Segundo Alexandre de Moraes, a greve “pode ser definida como um direito de 
autodefesa que consiste na abstenção coletiva e simultânea do trabalho, 
organizadamente, pelos trabalhadores de um ou vários departamentos ou 
estabelecimentos, com o fim de defender interesses determinados”. 
Sobre o direito de greve, afirmam Gomes Canotilho e Vital Moreira: 
A caracterização constitucional do direto à greve como um dos direitos e 
garantias significa, entre outras coisas: (a) um direito subjetivo negativo, não 
podendo os trabalhadores ser proibidos ou impedidos de fazer greve, nem 
podendo ser compelidos a pôr-lhes termo; (b) eficácia externa imediata, em 
relação a entidades privadas, não constituindo o exercício do direito de greve 
qualquer violação do contrato de trabalho, nem podendo as .mesmas 
entidades neutralizar ou aniquilar praticamente esse direito; (c) eficácia 
imediata, no sentido de direta aplicabilidade, não podendo o exercício deste 
direito depender da existência de qualquer lei concretizadora. 
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Na forma como a Constituição tratou da matéria, o direito de greve é auto-
aplicável, podendo ser imediatamente exercido pelos trabalhadores, 
independentemente de edição de qualquer legislação infraconstitucional. Não 
significa isto que o direito de greve é insuscetível de regulação pela legislação 
ordinária. Tal assertiva sempre é falsa, pois qualquer

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