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CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 11: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS – PARTE I I. HABEAS CORPUS 1) REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS Remédios constitucionais são as garantias prescritas na Constituição para assegurar a plena fruição dos direitos contemplados no ordenamento jurídico. Seguindo a tradicional lição, direitos são bens da vida que as normas jurídicas consagram (liberdade, propriedade, intimidade, vida privada etc). Existem de forma autônoma, tendo valor em si mesmos. As garantias, ao contrário, tem um caráter acessório, pois constituem instrumentos previstos em normas jurídicas para assegurar a plena fruição dos direitos pelos seus destinatários. Exemplificativamente, a Constituição assegura a todos, nacionais e estrangeiros, o direito à liberdade de locomoção em tempos de paz. Uma vez observadas os requisitos legais, todos têm o direito de ingressar no território nacional, dele sair ou nele permanecer. Para assegurar o pleno gozo desse direito, protegendo-o contra ilegalidade ou abuso de poder, prevê a Constituição o habeas corpus, uma garantia, um remédio, um instrumento que se destina a resguardar o direito de locomoção, protegendo contra atos que o lesionem ou ameacem lesioná-lo. A Constituição de 1988 foi generosa no rol de direitos outorgados às pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. Para amparar tais direitos, instituiu paralelamente as garantias, que a doutrina convencionou denominar "remédios constitucionais". Algumas dessas garantias são de caráter administrativo – aqui se alocam os direitos de petição e de certidão -, ao passo que outras têm natureza jurisdicional – a saber, o habeas data, o habeas corpus, o mandado de segurança, o mandado de injunção e a ação popular -. Tais garantias, em seu conjunto, correspondem aos remédios constitucionais, cujos aspectos legais e constitucionais constituem nosso objeto de estudo nessa unidade. Iniciaremos nosso estudo pelo habeas corpus. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 2 2) LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO A Constituição Federal, no art. 5°, XV, prevê o direito à liberdade de locomo- ção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Na lição de Alexandre de Moraes, a liberdade de locomoção abrange quatro situações: (a) direito de acesso e ingresso no território nacional; (b) direito de saída do território nacional; (c) direito de permanência no território nacional; e (d) direito de deslocamento dentro do território nacional. Nos termos da Constituição, todos, brasileiros e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, têm direito à liberdade de locomoção no nosso território em tempos de paz, de normalidade político-institucional, mas caberá à lei restringir tal direito, instituindo alguns requisitos e condições para seu exercício, referentes principalmente à entrada, à saída e à circulação interna de pessoas e bens. Em tempo de guerra a Constituição implicitamente autoriza a instituição de restrições mais gravosas à liberdade de locomoção, de acordo com as circunstâncias concretas do conflito armado, objetivando-se assegurar a segurança interna do País e a integridade do nosso território. A própria Constituição expressamente limita a amplitude do direito de locomoção em determinadas situações, a saber, no estado de defesa e no estado de sítio. No primeiro, a teor do art. 136, parágrafo terceiro, inciso I, a Constituição autoriza a prisão, fora das hipóteses de flagrância, por ordem de autoridade administrativa. No segundo vai mais longe, admitindo no art. 139, I, que possa ser fixada para as pessoas a obrigação de permanecerem em determinada localidade. Trata de restrições ao direito de locomoção impostas pelo próprio texto constitucional em face da excepcionalidade da situação que justificou a decretação do estado de defesa ou do estado de sítio. Devemos considerá-las, pois, como limitações autorizadas pela CF que reduzem temporariamente a amplitude do direito à liberdade de locomoção, sem jamais chegar ao ponto de suprimi-lo. Pois bem, para assegurar a liberdade de locomoção, nos termos em que ela é contemplada na Constituição, foi previsto o habeas-corpus, o qual, a teor do art. 60, parágrafo quarto, inciso IV, da CF, goza da condição de clausula pétrea, sendo vedada a propositura de emendas que tendam à sua abolição. 3) HABEAS CORPUS: ORIGEM, CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Embora não seja consensual, predomina o entendimento de que a origem mais remota do habeas corpus é a Carta Magna, editada na Inglaterra em 1215. No Brasil, o remédio foi previsto pela primeira vez, a nível infraconstitucional, no CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 3 Código de Processo Criminal de 1832, atingindo estatura constitucional na nossa primeira Carta republicana, a Constituição de 1891, e desde então permaneceu consagrado nos textos constitucionais. Na atual Constituição a garantia encontra-se prevista no art. 5°, LXVIII, da CF, nos seguintes termos: LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; O habeas corpus é, assim, o instrumento judicial destinado à defesa do direito de locomoção contra ilegalidade ou abuso de poder. Aplica-se na proteção à liberdade do indivíduo de ingressar no território nacional, dele se retirar, nele se deslocar e permanecer, quando tal liberdade for efetivamente violada ou estiver na iminência de sê-lo por ato de autoridade pública ou de particular. Apesar de regulamentado no Código de Processo Penal no capítulo reservado aos recursos, o habeas corpus tem a natureza jurídica de ação. Trata-se de uma ação de natureza penal de procedimento especial, usada na proteção do direito de locomoção. Por meio intermédio objetiva-se um provimento judicial – emanado de um juiz singular ou de um Tribunal – que faça cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção do indivíduo atingido pela ilegalidade ou pelo abuso de poder. Na ação de habeas corpus o autor é denominado impetrante; o indivíduo em favor do qual é impetrada a ação (aquele que sobre a lesão ou a ameaça de lesão), paciente; e aquele contra cujo ato ilegal ou abusivo é instaurada a ação, impetrado, autoridade coatora, ou sujeito coator. Na eventualidade de ser autor da ação o mesmo indivíduo que está sofrendo a lesão ou a ameaça de lesão ao seu direito de locomoção, ele ocupará concomitantemente, na ação, as posições de impetrante e paciente. 4) ESPÉCIES O habeas corpus pode ser preventivo (salvo-conduto), quando a violação ao direito de locomoção ainda não se efetivou, caso em que o objetivo com sua interposição é justamente impedir que se concretize a violação; ou repressivo (liberatório), quando a violação ao direito de locomoção já se consumou e a utilização do remédio tem por intuito fazê-la cessar. Em outros termos, quando há ameaça ao direito de locomoção, não tendo se efetivado ainda a violação, o habeas corpus é preventivo; quando o direito de locomoção já foi violado por ato ilegal ou abusivo, repressivo. 5) LEGITIMAÇÃO ATIVA CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 4 A legitimação para a propositura do habeas corpus segue o princípio da universalidade: qualquer um, independente de qualquer atributo, pode impetrar a ação. Como ressalta Alexandrede Moraes, "a legitimidade para ajuizamento do habeas corpus é um atributo de personalidade, não se exigindo a capacidade de estar em juízo, nem a capacidade postulatória, sendo uma verdadeira ação penal popular". Desse modo, qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, independentemente de capacidade civil ou política ou de quaisquer elementos relacionados a sexo, cor, idade, profissão, domicílio, estado mental, ou quaisquer outros, tem legitimidade para o ajuizamento da ação, em benefício próprio ou alheio. Nem mesmo capacidade civil ou a plena posse das faculdades mentais é exigida, de modo que até mesmo os menores e os doentes mentais podem interpor a ação, sem necessidade de assistência ou representação. O analfabeto também pode ajuizá-la, desde que alguém assine a rogo a petição. Como dito acima, até mesmo as pessoas jurídicas tem legitimidade ativa para a propositura do habeas corpus, desde que em favor de pessoas físicas a ela vinculadas, uma vez que, nesse contexto, o direito de locomoção não é extensível às pessoas jurídicas, pois incompatível com a sua natureza. Os estrangeiros também gozam de legitimidade para a propositura. Porém, exige-se que a petição de interposição seja redigida em português, sob pena de não-conhecimento, mesmo quando o magistrado a quem foi distribuída a petição conheça o idioma estrangeiro, uma vez que seu tem que ser acessível a todos. Os membros do Ministério Público, nessa qualidade, também podem ajuizar a ação em favor de terceiros, seja perante a justiça de primeiro grau, seja perante as instâncias jurisdicionais superiores. Porém, é indispensável, para se aferir a legítima atuação do órgão do MP, a análise da finalidade que o levou a impetrar o habeas corpus. Esta lição é de Alexandre de Moraes, que a apresenta nos seguintes termos: Em relação aos membros do Ministério Público, importante ressaltar que, apesar de disporem genericamente de legitimidade ativa ad causam para o ajuizamento da ação constitucional de habeas corpus em favor de terceiros, no caso concreto deverá ser analisada a finalidade buscada pelo Parquet. Assim, o citado writ nunca poderá ser utilizado para tutela dos direitos estatais na persecução penal, em prejuízo do paciente, com claro desvio de sua finalidade de tutelar a liberdade de locomoção do paciente, sob pena de não conhecimento do pedido. Desta forma, para certificar-se da fiel observância finalística do habeas corpus impetrado pelo Ministério Público, deverá o paciente manifestar-se pre- viamente, para que esclareça se está ou não de acordo com a impetração. Conforme decidiu o Pretório Excelso, "a impetração do habeas corpus, com desvio de sua finalidade jurídico-constitucional, objetivando satisfazer, ainda que por via reflexa, porém de modo ilegítimo, os interesses da acusação, descaracteriza a essência desse CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 5 instrumento exclusivamente vocacionado a proteção da liberdade individual". A única ressalva ao caráter universal do instituto refere-se aos magistrados, aos quais se veda, na sua qualidade de magistrado, o ajuizamento de habeas corpus. Todavia, podem concedê-lo de ofício, no decorrer de um processo judicial sob sua apreciação. Ressalte-se que na condição de particular poderá um membro do Poder Judiciário interpor a ação, desde que não se refira a uma situação já sujeita à sua apreciação, caso em que, pela lição anterior, deve o magistrado simplesmente conceder a ordem de ofício, atuando na sua qualidade de juiz. Como esclarece Pedro Lenza, "o Juiz de Direito, o Desembargador, Ministros, quando não estiverem exercendo a atividade jurisdicional, impetrarão, e não concederão de ofício, naturalmente, o habeas corpus, já que atuando como pessoa comum ." 6) LEGITIMAÇÃO PASSIVA Nos termos da Constituição, o habeas corpus é cabível para combater lesão ou ameaça de lesão ao direito de locomoção perpetrada por ilegalidade ou abuso de poder. Duas são, portanto, as hipóteses de interposição: ilegalidade ou abuso de poder. Segundo Alexandre de Moraes, a hipótese de ilegalidade alcança tanto autoridades públicas (diretores de penitenciária, juízes, delegados, membros do MP etc) quanto particulares (diretores de hospitais privados, dirigentes de clínicas de internação particulares), ao passo que o abuso de poder aplica-se exclusivamente às autoridades públicas. Podemos concluir, portanto, que tanto autoridades públicas quanto particulares tem legitimidade passiva para responder em sede de habeas corpus, ou seja, para ser réu nesta ação constitucional, pois ambos podem lesar ou ameaçar de lesão o direito de locomoção de terceiros, atuando como sujeitos como sujeitos coatores.. As autoridades públicas, por ilegalidade ou abuso de poder, os particulares apenas por ilegalidade. Ato ilegal, em sentido amplo, é aquele que viola a lei ou os princípios jurídicos em geral. Ato abusivo, por sua vez, é aquele que a autoridade pratica além de sua competência, ou com finalidade diversa do interesse público ou daquela prevista em lei para o ato praticado. Exemplo de um ato ilegal é a prisão determinada por um delegado sem mandado judicial e fora das hipóteses de flagrância; exemplo de ato abusivo é a determinação de prisão de alguém como meio de coagi-lo ao pagamento de uma divida de caráter não-alimentício (a Constituição não autoriza a prisão civil para tal finalidade). 7) PECULIARIDADES PROCESSUAIS CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 6 Não é nosso objetivo analisar em toda sua amplitude o processo judicial do habeas corpus, mas somente apontar, de forma tópica, as principais peculiaridades que o caracterizam. Nesses termos, podemos considerar como principais aspectos processuais deste remédio constitucional: 1°) cabimento de liminar: embora o rito do habeas corpus seja, por si só, célere, o caso em concreto pode justificar uma atuação jurisdicional ainda mais rápida, a legitimar a concessão de medida liminar pelo órgão jurisdicional competente. Por tal fundamento, apesar de inexistente expressa previsão da medida na legislação processual penal, a jurisprudência é pacífica quanto ao cabimento de liminar em habeas corpus, seja preventivo ou repressivo, desde que no caso concreto estejam presentes os pressupostos de toda medida dessa natureza, a saber, o periculim in mora (probabilidade de dano irreparável ou de difícil reparação em caso de demora no provimento jurisdicional) e o fumus boni iuris (indícios razoáveis de que a lesão ou a ameaça de lesão ao direito de locomoção é abusiva ou ilegal); 2°) empate do julgamento do habeas corpus: nos habeas corpus interpostos perante órgãos jurisdicionais colegiados, em caso de empate na votação considera-se a decisão favorável ao paciente; 3°) o habeas corpus é isento de custas, em face da gratuidade prescrita para a ação no art. § 5°, LXXVII, da Constituição; 4°) a ação pode ser interposta em favor do próprio impetrante ou de terceiro (habeas corpus em favor de terceiro), não se exigindo procuração do paciente no caso de outrem ajuizar a ação em seu favor; 5°) não é necessária a presença de advogado para a interposição de habeas corpus. Assim, o próprio paciente ou terceiro em seu favor possui legitimidade para ajuizar a ação, sem necessidade de assistência de advogado. Entretanto, segundo o STF o impetrante não possui legitimidade para interpor ação de reclamação a fim de garantir a efetividade de eventual decisão concessiva de habeas corpus, quando não cumprida pelo órgão jurisdicional indicado como coator, pois para essa ação faz-se indispensável a presença do advogado;6°) não se admite a impetração apócrifa, que não contenha a identificação e a assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo; 7°) o STF admite a impetração do habeas corpus por fax, condicionado seu conhecimento à ratificação da petição pelo impetrante no prazo determinado pelo Ministro-relator do processo. Já o STJ tem posição diversa, tendo editado a respeito a resolução 43, de 23-10-1991, do Tribunal Pleno, em que é autorizada a recusa do recebimento da petição por fax sem a devida autenticação dos originais. Ou seja, o STJ só admite a impetração por fax com a devida autenticação dos originais; 8°) O STF admite a desistência da ação, seja o habeas corpus preventivo ou represssivo (HC 76967, 23/6/1998); 9°) na análise do habeas corpus o órgão jurisdicional não está vinculado ao pedido e à causa de pedir formulados. Como ensina Alexandre de Moraes: CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 7 Na apreciação de habeas corpus, o órgão competente para seu julgamento não está vinculado à causa de pedir e pedido formulados. Havendo, pois, a convicção sobre a existência de ato ilegal não veiculado pelo impetrante, cumpre-lhe afastá-lo, ainda que isto implique concessão de ordem em sentido diverso do pleiteado, conforme depreende-se do art. 654, § 2°, do Código de Processo Penal. Assim, na defesa da liberdade de locomoção, cabe ao Poder Judiciário considerar ato de constrangimento que não tenha sido apontado na petição inicial. Da mesma forma, pode atuar no tocante à extensão da ordem, deferindo-a aquém ou além do que pleiteado. Ainda em defesa da garantia de liberdade de locomoção, concedida ordem de habeas corpus com base em motivos que não sejam exclusivamente de ordem pessoal, deve ser estendida aos co-réus na conformidade do disposto no art. 580 do Código de Processo Penal. 10°) majoritariamente, não se admite a intervenção do assistente de acusação no processo de habeas corpus; 11°) concessão de ofício do habeas corpus em recurso extraordinário que não atende os requisitos de admissibilidade: o STF, em caso de evidente constrangimento ilegal ao direito de locomoção, admite a possibilidade de concessão de ofício do habeas corpus no bojo de um recurso extraordinário criminal interposto sem o preenchimento total ou parcial de seus requisitos de admissibilidade (RE 287658, de 16/9/2003); 12°) em termos mais genéricos, o STF admite a concessão de ofício do habeas corpus quando o próprio pedido original não puder ser conhecido em face da ausência de preenchimento de seus requisitos de admissibilidade (RRC 81793, de 10/12/2002); 13°) em face de seu caráter sumaríssimo, o habeas corpus não admite dilação probatória objetivando corrigir erro judiciário e, pelos mesmos fundamentos, não admite reapreciação de análise probatória. Por isso, não pode ser utilizado para combater decisão transitada em julgado, sob a justificativa de que seria contrária às evidências dos autos, pois para tanto seria necessário o reexame de todo o material probatório. Apenas em caráter excepcional admite o STF o uso do habeas corpus para corrigir erro manifesto de sentença penal na fixação da pena( HC 78011, de 9/3/1999). 8) HIPÓTESES DE CABIMENTO DE HABEAS CORPUS O habeas-corpus, como já apontado à exaustão, direciona-se à defesa do direito de liberdade, ao direito do indivíduo de entrar em nosso território ou dele se retirar, deslocar-se em seu interior ou nele fixar em determinada localidade. Suas hipóteses de cabimento, em termos genéricos, relacionam-se às situações em que tal direito está sendo ameaçado ou já foi efetivamente violado por atuação ilegal de uma autoridade pública ou de um particular, ou por um ato abusivo de certa autoridade. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 8 Em diversas situações, entretanto, estabeleceram-se dúvidas acerca do cabimento deste remédio constitucional. Neste tópico relacionaremos as hipóteses em que, segundo entendimento do STF, cabe o uso do habeas- corpus. No tópico subseqüente, dentro da mesma sistemática, relacionamos as hipóteses em que se considera não-admissível a interposição do habeas- corpus. Suas hipóteses de cabimento, são, pois, as seguintes: a) mais uma vez frisando, a regra geral na matéria é que cabe habeas-corpus para evitar ou sanar lesão ao direito de locomoção. Transportando tal entendimento para os processos penais, deve-se admitir o cabimento do habeas corpus sempre que algum ato ou medida produzidos no transcurso do processo puder resultar em ameaça ou violação do direitos de locomoção, o que se considera-se configurado quando o indivíduo estiver respondendo a processo criminal do qual possa resultar, em tese, a aplicação de pena privativa ou restritiva de liberdade. Por tal fundamento, é possível a interposição de habeas corpus, exemplificativamente, contra medidas judiciais que determinem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico, ou para pleitear a retirada de provas reputadas ilícitas dos autos do processo, desde que o indíviduo possa, no processo penal respectivo, vir a ser condenado à pena privativa ou restritiva de liberdade; enfim, quando puder ser afetado seu direito de locomoção. Evidentemente, as provas colhidas a partir da quebra de um sigilo bancário, por exemplo, podem ser determinantes para a definição do resultado do processo – absolvição ou condenação - e da pena nele eventualmente aplicada, o que justifica o uso do remédio heróico. Pelo mesmo fundamento, em regra não há possibilidade de se fazer uso do habeas corpus no âmbito de processos judiciais de natureza diversa (cível, trabalhista, tributário, eleitoral) ou de processos administrativos, uma vez que deles não pode resultar a aplicação de penas restritivas ou privativas de liberdade. Não é possível, por exemplo, interpor o remédio constitucional buscando a retirada de provas consideradas ilícitas dos autos de um processo cível cujo objeto seja a discussão acerca de certo direito de propriedade, uma vez que de nenhum modo a decisão nele proferida pode afetar o direito de locomoção de qualquer das partes litigantes. b) o STF admite o uso do habeas corpus por indivíduo convocado a depor perante uma Comissão parlamentar de Inquérito, sob a alegação de que a convocação reveste-se de abuso ou ilegalidade. Como estudaremos posteriormente, as CPI têm poder para determinar a condução coercitiva daqueles que, por ela convocados, negarem-se a comparecer na data e local por ela determinados, e é tal prerrogativa que justifica o uso do habeas corpus na presente situação. Como o convocado não pode simplesmente negar-se a comparecer, já que pode ser conduzido coercitivamente à presença dos membros da CPI, por ato da própria Comissão, é evidente que, nesse caso, está sendo afetado seu direito de locomoção. Logo, pode ele se valer do habeas corpus para escapar da convocação, sob o fundamento de que esta foi determinada de forma abusiva ou ilegal; CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 9 c) o habeas corpus pode ser aplicado para fazer cessar constrangimento ilegal em decorrência de excesso abusivo no prazo para o encerramento da instrução em um processo penal, quando o acusado já se encontra privado de sua liberdade, pela aplicação de alguma das inúmeras prisões processuais. Para que seja provido o habeas corpus, na hipótese, é indispensável que o excesso de prazo tenha sido abusivo, ou seja, que não tenha decorrido de fatos justificadores do atraso da instrução penal. Alexandre de Moraes, arrolando alguns destes fatos justificadores, declara não se configura o abuso quando o excesso de prazodecorreu (a) de greve dos serventuários da justiça; (b) de dúvida sobre a competência para o processo e julgamento do caso, que já tenha sido resolvida; (c) de exigência da defesa em arrolar testemunhas domiciliadas em diferentes comarcas; (d) do grande número de acusados no processo pesal, entre outras hipóteses possíveis d) o art. 142, § 2.°, da CF estabelece que não cabe a interposição de habeas corpus com relação a punições disciplinares militares aplicadas sobre os militares das Forças Armadas . O art. 42, § 1.°, estende a vedação aos militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios. Da sua confluência podemos afirmar, em termos gerais, que na literalidade da Constituição as punições disciplinares aplicadas a militares não podem ser impugnadas em sede de habeas corpus. A doutrina e a jurisprudência, analisando tais disposições constitucionais, vieram a estabelecer o entendimento a ser adotado na matéria, qual seja: (a) é vedada a interposição de habeas corpus para discutir o mérito das punições disciplinares militares; (b) é admissível a propositura da ação para discutir os pressupostos de legalidade da punição, dentre eles, a competência para a aplicação da penalidade, a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, bem como dos demais princípios processuais, a conformidade do processo com a legislação em vigor, as razões declaradas pela autoridade militar para decidir sobre a culpa e definir a espécie e graduação da penalidade etc. Valendo-nos dos termos do STF, "hierarquia, poder disciplinar, ato ligado à função e pena suscetível de ser aplicada disciplinarmente" são os pressupostos de legalidade passíveis de apreciação pelo Poder judiciário no bojo de um habeas corpus instaurado para discutir uma penalidade disciplinar militar (HC n. 70.648); e) o habeas corpus pode ser utilizado por indivíduo beneficiado com a suspensão condicional da pena – sursis -, porque a suspensão, apesar de mais favorável que a própria pena restritiva de liberdade, ainda assim afeta o direito de locomoção; f) é cabível o habeas corpus para discutir a constitucionalidade de normas legais, desde que, no caso, possa se vislumbrar que a discussão em questão pode afetar o direito de locomoção do paciente. 8) HIPÓTESES DE DESCABIMENTO DE HABEAS CORPUS CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 10 Segundo entendimento do STF, o habeas corpus não pode ser utilizado nas seguintes hipóteses: a) para discutir o mérito das punições disciplinares militares: desde que a punição tenha sido aplicada em conformidade com seus pressupostos legais e constitucionais, não é possível a interposição de habeas corpus para discutir o próprio mérito da sanção disciplinar, sendo tal juízo próprio e privativo da autoridade ou das autoridades militares que decidiram acerca da imposição; b) em quaisquer processos judiciais, mesmo que de natureza penal, dos quais não possa resultar, em tese, a aplicação de sanções privativas ou restritivas de liberdade ao acusado. A determinação da quebra do sigilo fiscal, por exemplo, em processo penal não suscetível de acarretar referido tipo de penalidade, ou o pedido de juntada de provas em um processo cívell, entendidas por ilegais pela outra parte, não podem ser combatidas por habeas corpus; c) para questionar decisões penais condenatórias a penas não-restritivas de liberdade, a exemplo das pena de multa; d) para questionar sanções disciplinares aplicadas em processos administrativos: penas como advertência, suspensão, demissão, entre outras, não afetam o direito de locomoção do punido, logo, não são suscetíveis de discussão em sede de habeas corpus; e) para impugnar decisão determinante da suspensão de direitos políticos, como as passíveis de serem proferidas nas ações de improbidade administrativa; f) para discutir afastamento ou perda de cargo público, ou a aplicação de pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública (STF, Súmula 694); g) para questionar decisões do Plenário ou de qualquer das Turmas do STF, pois atsi órgãos, ao exercerem suas funções, estão representando o próprio Tribunal; h) para decidir disputa judicial sobre a guarda de filhos menores. Ilustrando a hipótese, o STF, no HC 81681, de 23/4/2002, decidiu pelo não cabimento do remédio heróico impetrado em favor de menor de idade a fim de que pudesse ficar com um de seus genitores e dele acompanhado sair do Brasil; i) para a discussão de condenação penal a pena privativa de liberdade, quando a penalidade já está extinta (STF, Súmula 695); j) para impugnar condenação proferida em processo de impeachment, pela prática de crime de responsabilidade, em virtude da condenação, de natureza politica, não implicar lesão ao direito de locomoção; l) para obstar a execução que determina o seqüestro de bens imóveis; m) para debater sobre matéria discutida em processo de jurisdição, quanto os fatos não são líquidos quanto à definição do crime; CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 11 n) para combater a omissão do Ministro-relator do STF em processo de extradição, se baseado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele provocado sobre a matéria (STF, Súmula 692); o) para combater indiciamento em inquérito policial, desde que existam indícios razoáveis e suficientes acerca da ocorrência do ilícito penal e da sua autoria. Por fim, vale mencionar posicionamento do STJ, no sentido de que é incabível habeas corpus com a finalidade de anulação de decisão penal condenatória transitada em julgado, uma vez que para tal objetivo o Código de Processo penal prevê a revisão criminal. 9) COMPETÊNCIA A regra geral, em tema de competência para o ajuizamento do habeas-corpus, é a definição com base na qualificação da autoridade coatora, segundo a distribuição de competências prescrita na Constituição Federal. Por exemplo, se o sujeito coator for um juiz de direito, cabe ao Tribunal de Justiça respectivo o julgamento do habeas corpus interposto; se for um juiz federal, a competência para o julgamento do habeas corpus é do Tribunal Regional Federal a que ele está vinculado, e assim por diante. Em certas hipóteses, todavia, a Constituição estabelece a competência a partir da qualificação do paciente, daquele que está sofrendo a lesão ou a ameaça de lesão. Com base nesses dois critérios de definição de competência, apresentaremos as regras sobre a matéria prescritas na Constituição Federal, bem como os entendimentos do STF nos pontos em que a CF foi omissa ou em que há dúvida na definição. 9.1) Competência da Justiça Federal de Primeira Instância Cabe aos juízes federais processar e julgar os habeas corpus em matéria criminal de sua competência, ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (CF, art. 109, VII). Seria o caso, por exemplo, de um habeas contra ato de um delegado da Polícia Federal, que deve ser interposto perante a Justiça Federal de primeira instância. 9.2) Competência dos Tribunais Regionais Federais Nos termos do art. 108, I, d, da Constituição, cabe aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar, originariamente, os habeas corpus quando a autoridade coatora for juiz federal. Também aos TRF compete, originariamente, o processamento e o julgamento dos habeas corpus interpostos contra membros do Ministério Público Federal que atuem perante a primeira instância da Justiça Federal. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 12 9.3) Competênciados Tribunais Regionais Eleitorais. O art. 121, § 4°, V, da CF, implicitamente reconhece aos TRE a competência para o processamento e o julgamento de habeas corpus em matéria de sua competência. 9.4) Competência do TSE Por sua vez, também em face do 121, § 4°, V, da CF, acabe ao TSE julgar recurso contra decisão em habeas corpus, quando denegatória a decisão dos Tribunais Regionais Eleitorais). 9.5) Competência da Justiça do Trabalho Inovação da EC 45/2004: compete à Justiça do Trabalho processar e julgar os habeas corpus quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição (CF, art. 114, IV, acrescentado pela EC 45/2004). 9.6) Competência do Superior Tribunal de Justiça Nos termos do art. 105, I, c, da Constituição, cabe ao STJ processar e julgar, originariamente, o habeas corpus, quando o coator ou paciente for Governador de Estado ou do Distrito Federal, desembargador dos Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal, membro dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Distrito Federal, membro dos Tribunais Regionais Federais, membro dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, membro dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais. O mesmo dispositivo outorga ao STJ competência para processar e julgar, originariamente, os habeas corpus quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Ao STJ, por forca do art. 105, II, a, da CF, cabe julgar, em recurso ordinário, os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória (CE art. 105,11, a). Segundo entendimento do STF, este recurso (recurso ordinário constitucional) pode ser substituído por habeas corpus originário para o STJ, ficando, entretanto, prejudicada a análise do recurso ordinário eventualmente apresentado. 9.7) Competência do Supremo Tribunal Federal Conforme o art. 102, I, d, da CF, insere-se na competência originária do STF o processamento e o julgamento de habeas-corpus quando o paciente é o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 13 Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente Também é de sua competência o processamento e o julgamento, em grau originário, do habeas corpus quando coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância (CF, art. 102, I, na redação dada pela EC 22, de 1999). Em sede de recurso ordinário constitucional, ao STF cabe julgar o habeas corpus decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (CF, art. 102, II, a). Segundo entendimento do Supremo, este recurso, no caso de decisões denegatórias de habeas corpus proferidas pelo STJ, pode ser substituído pela interposição de habeas corpus originário para o STF - habeas corpus substitutivo de recurso ordinário -. Na verdade, a competência do STF na matéria é até mesmo mais ampla, pois é cabível habeas corpus para o STF contra decisões proferidas pelo STJ mesmo no exercício de sua competência recursal (e não apenas em instancia única). Mesmo após a EC 22, de 1999, o STF manteve o entendimento de que sua competência, na matéria, não se limita às decisões originárias proferidas pelo STJ, mas também alcança aquelas proferidas em grau recursal, já que O STF representa o último guardião do direito de locomoção do indivíduo. Assim, qualquer decisão do STJ proferida em habeas corpus, seja originariamente, seja em grau de recurso, é passível de impugnação perante o STF via habeas corpus. Apenas de não serem hipóteses expressamente previstas na Constituição, o STF pacificou o entendimento que também é de sua competência, em grau originário, o processamento e o julgamento de habeas corpus contra decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Criminais, órgãos colegiados de primeiro grau (STF, Súmula 690). De se ressaltar que contra os atos monocráticos de juiz estadual atuando nos Juizados Especiais Criminais o habeas corpus deve ser interposto para o respectivo Tribunal de Justiça; da mesma, forma, contra ato monocrático de juiz federal que atue nos Juizados Especiais Criminais Federais o habeas corpus deve ser interposto para o respectivo Tribunal Regional Federal. Por fim, também é da competência do STF, em grau originário, o processamento e o julgamento de habeas corpus contra ato de Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no âmbito do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados, pelo fato de que, ao atuarem, as CPI representam a própria Casa Legislativa, o que atrai a competência do STF. 9.8) Habeas corpus contra atos de membros do Ministério Público Cabe ao Tribunal de Justiça, originariamente, processar e julgar os habeas corpus ajuizados membros do Ministério Público Estadual. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 14 Por sua vez, é competência do respectivo Tribunal Regional Federal processar e julgar, originariamente, o habeas corpus movido contra ato de membro do Ministério Público Federal que atue perante a primeira instância da Justiça Federal. Por fim, compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar os habeas corpus contra os membros do Ministério Público da União (compreendidos todos seus ramos) que atuem perante Tribunais (CF, art. 105, I, c). Apesar de ter havido certa controvérsia na matéria, o STF pacificou o entendimento de que a competência do STJ abrange também os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios que atuem perante o respectivo Tribunal de Justiça (o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios), uma vez que este Ministério Público integra o Ministério Público da União. 9.9) Habeas corpus contra ato monocrático ou colegiado de Tribunais de Justiça ou de Tribunais Regionais Federais Antes da entrada em vigor da EC 22, de 1999, era bipartida a competência para o processo e julgamento dos habeas corpus contra atos e decisões dos TJ e TRF, nos termos prescritos à época pelo art. 102, I, i e 105, I, c, da CF. Na redação original desses dispositivos constitucionais cabia ao Superior Tribunal de Justiça a competência originaria para processar e julgar os habeas corpus interpostos contra atos e decisões monocráticos dos membros desses Tribunais, estendendo-se, tal competência, à época, aos atos monocráticos praticados pelos desembargadores dos Tribunais de Alçada. Contra atos dos órgãos colegiados desses Tribunais, ou mesmo do Plenário, a impetração do habeas corpus deveria ser feita perante o STF, competente para seu processamento e julgamento. Era também do STF a competência para o julgamento de habeas corpus contra decisões que o presidente de órgão colegiado do TJ tivesse tomado em nome de todo o órgão colegiado. Pois bem, a EC 22, de 1999, alterou o regramento na matéria. Abaixo transcrevemos os art. 102, I, i e 105, I, c, da CF, que tratam da matéria, na redação dada pela citada Emenda: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guardada Constituição, cabendo-lhe: I. processar e julgar, originariamente: (...) i) o habeas corpus, quando o coator ou o paciente for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça I. processar e julgar, originariamente: (...) CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 15 c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, quando coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, ou Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Elei- toral O art. 105, I, a, a que faz referência este último dispositivo, menciona, entre outros órgãos jurisdicionais, os Tribunais de Justiça e os Tribunais Federais. Pois bem, com a nova redação dos dispositivos, fruto da EC 22, foi unificada no STJ a competência na matéria, de modo que atualmente cabe ao Superior Tribunal de Justiça a competência para processar e julgar originariamente os habeas corpus contra atos ou decisões dos Tribunais Regionais Federais ou dos Tribunais de Justiça, seja o ato ou decisão monocrático ou colegiado. Em síntese: cabe ao STJ a competência para apreciar os habeas corpus interpostos contra os atos e decisões monocráticos ou colegiados emanados dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais. Ao STF, permanece a competência para a apreciação de eventual recurso (recurso ordinário constitucional) contra a decisão proferida pelo STJ no habeas corpus, se a decisão for denegatória (CF, art. 102, II, a). Ainda, permanece o STF competente para julgar e processar originariamente os habeas corpus quando o coator for Tribunal Superior (CF, art. 102, I, i), inclusive o STJ. II. DIREITO DE PETIÇÃO O art. 5o, inc. XXXIV, a, da CF, prevê o direito de petição, pelo qual se assegura a todos, brasileiros ou estrangeiros, pessoas físicas ou jurídicas, independentemente do pagamento de taxas, o direito de apresentar petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 16 As origens do direito de petição remontam à Inglaterra, tendo o mesmo se consolidado Bill of Rights, em 1689, que possibilitou aos súditos ingleses a formulação de petições dirigidas diretamente ao monarca. Posteriormente, o direito de petição foi previsto nas Declarações de Direitos formuladas nos Estados norte-americanos, constando também na Constituição francesa de 1791. Nos termos em que normatizado na Constituição, pode-se definir o direito de petição como o direito de natureza eminentemente política pelo qual o indivíduo direciona um pedido aos Poderes Públicos, seja para a defesa de direitos de natureza pessoal ou coletiva, seja contra ilegalidade ou abuso de poder. Gabriel Dezen Junior é taxativo ao afirmar que a expressão "em defesa de direitos" abrange tanto direitos individuais quanto direitos coletivos ou gerais. Na verdade, o direito de petição tem natureza dúplice: pode ser utilizado para a defesa de interesse pessoal, e neste caso deve ser compreendido como um instrumento a mais que a Constituição outorga às pessoas para a defesa de seus direitos; mas pode, por outro lado, ser usado para a defesa de interesses que transcendem a esfera pessoal do peticionário, referindo-se à sociedade como um todo, caso em que o direito de petição deve ser visto como um instrumento de exercício da cidadania, que possibilita ao indivíduo fiscalizar o Poder Público e, deste modo, participar ativamente do processo decisório do Estado. Vicente Paulo apresenta lição do STF sobre o direito de petição, vazada nos seguintes termos: (...) o direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático. Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto à disposição de qualquer interessado - mesmo daqueles destituídos de personalidade jurídica - com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significação coletiva. Embora seu exercício comumente se dê de forma individual, nada impede que seja exercido conjuntamente, por diversas pessoas, tendo em vista o mesmo objeto. São extremamente variadas as formas de exercício do direito de petição, admitindo-se em seu âmbito pedidos apresentados sob a forma de queixa, informação, representação, entre outros instrumentos de natureza similar. Seu exercício é caracterizado pela informalidade, bastando para a apreciação da petição a adequada identificação do requerente e o conteúdo do pleito que deseja apresentar ao Poder Público.Em regra, a petição deve ser apresentada na forma escrita, devendo-se aceitar, todavia, que a petição seja formulada oralmente, devendo ser reduzida a termo pelo agente público competente. É amplíssima a legitimidade para o exercício do direito de petição, podendo o mesmo ser exercitado por brasileiros e estrangeiros, pessoas físicas ou CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 17 jurídicas, pessoas com e sem capacidade civil plena, entre outras possibilidades. O destinatário do direito de petição, por sua vez, são todos os órgãos e entidades públicao, aí compreendidos os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o Ministério Público e os Tribunais de Contas, de todas as esferas de Governo. Inegavelmente, toda a Administração Pública, em sentido amplo, é destinatária do direito de petição. Uma vez levada ao conhecimento do Poder Público a petição, a autoridade competente deve recebê-la, desde que ela preencha os mínimos requisitos formais indicados acima – identificação, conteúdo e, em regra, forma escrita -. Uma vez recepcionada a petição, incumbe à autoridade responder à petição em tempo razoável, bem como cientificar da sua decisão o peticionário. A inobservância desses deveres, ou seja, a violação do direito de petição, pode ser combatida via mandado de segurança, visto tratar-se de um direito líquido e certo consagrado a nível constitucional. Ademais, a omissão do Poder Público pode acarretar sua responsabilização civil, bem como a responsabilização administrativa, civil e penal da autoridade responsável, conforme as circunstâncias próprias do caso em concreto. Ressalte-se que ao contrário do direito de ação, que exige em regra a presença do advogado e é dirigido ao Poder Judiciário, o direito de petição é um instrumento de caráter administrativo, que pode ser exercitado independentemente da participação de um profissional do Direito. Trata-se de duas esferas distintas de atuação. O direito de ação apresenta um rigor formal muito mais amplo, exige em regra a presença do advogado e tem como destinatário exclusivo o Poder Judiciário. O direito de petição é informal, não exige a atuação de um bacharel de Direito regularmente inscrito na OAB e tem como destinatário o Poder Público, genericamente considerado. Em função dessas dessemelhanças, entre outras, jamais poderá pretender o indivíduo valer-se do direito de petição, em vista da sua informalidade, para transpor os requisitos prescritos na legislação processual para o exercício do direito de ação. Da mesma forma, não é possível por intermédio do direito de petição atingir-se um resultado que, na sistemáticaadotada em nosso ordenamento jurídico, exige necessariamente a interposição de uma ação judicial, com a indispensável observância de todos os requisitos prescritos na legislação para sua válida tramitação. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 18 III. DIREITO DE CERTIDÃO A Constituição Federal garante a todos, nacionais ou estrangeiros, pessoas físicas ou jurídicas, independente do pagamento de taxas, o direito de obter certidão em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimentos de situações de interesse pessoal (CF, art. 5o, XXXIV, caput e alínea b). Trata-se de direito a ser exercido contra os órgãos e entidades públicas em geral, de qualquer dos Poderes da República e de qualquer esfera de Governo, abrangendo também os órgãos do Ministério Público e os Tribunais de Contas. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 19 O direito de certidão prescrito na Constituição, a exemplo dos demais direitos fundamentais, não é absoluto, pois não abrange as informações protegidas por sigilo, quando o mesmo for imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado. A Lei 11.111, de 2005, dispõe que o acesso aos documentos públicos de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral só será restringido quando a manutenção do sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, e que os documentos públicos que contiverem informações que abranjam aspectos da intimidade, vida privada, honra e imagem de pessoas, e que venham a ser liberados para conhecimento público, poderão ser disponibilizados por meio de certidão ou cópia do documento, desde que os dados relativos a estas quatro esferas protegidas pela Constituição não constem da certidão ou da cópia do documento. Entretanto, desde que a certidão seja necessária para a defesa de direitos (que podem ser pessoais ou de interesse coletivo) ou para o esclarecimento de informações de interesse pessoal, e que se refira a informações não protegidas por sigilo, ou seja, desde que os requisitos constitucionais tenham sido observados, o direito de certidão constitui direito líquido e certo de qualquer pessoa, e sua negativa pelo Poder Público, além de poder resultar na sua responsabilização e na do agente público que se negou a emitir a certidão, pode ser defendida administrativamente, por meio do direito de petição, ou judicialmente, mediante mandado de segurança (e não habeas data, que se presta à defesa do direito de obter informações de interesse pessoal, e não certidão a respeito delas). A jurisprudência acata com tranqüilidade este entendimento, como podemos observar pelo seguinte julgado, proferido pelo TJSP: Exceção feita às ressalvas legais referentes à segurança da sociedade e do Estado, ao que se impõe o sigilo, não pode a Administração Pública recusar a fornecer as informações solicitadas, sob nenhum pretexto (Apelação Cível no 271.054-2/6/SP). Posicionamento similar é esposado pelo STJ, o qual afirma: A garantia constitucional que assegura a todos a obtenção de certidões em repartições públicas é de natureza individual, sendo obrigatória a sua expedição quando se destina à defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal do requerente (...) (6a Turma –RMS no 3.735-5/MG). A Lei no 9.051/95 regulou o direito de certidão, dispondo em seus arts. 1o e 2o: Art. 1o. As certidões para a defesa de direitos e esclarecimentos de situações, requeridas aos órgãos públicos da administração centralizada ou autárquica, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às fundações públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão ser expedidas no prazo improrrogável de quinze dias, contados do registro do pedido no órgão expedidor. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 20 Art. 2o. Nos requerimentos que objetivam a obtenção das certidões a que se refere esta lei, deverão os interessados fazer constar esclarecimentos relativos aos fins e razões do pedido. Como nos informam Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, o STF esposou o entendimento de que os “esclarecimentos” a que se refere o art. 2o podem ser genéricos, limitando-se a demonstrar que a certidão relaciona-se a algum direito ou interesse. Em outros termos: o STF tem entendido que o direito de obter certidão independe da demonstração da finalidade específica do pedido. Assim, sobre os dispositivos legais, vale ressaltar que a lei fixa um prazo improrrogável de quinze dias, a contar do protocolo do pedido, para que seja expedida a certidão; e que, no início do caput do art. 1o, ela fala apenas em “defesa de direitos e esclarecimento de situações”, sem agregar à expressão o termo pessoal, com o que assegura o direito de certidão também para a defesa de direitos coletivos. IV. MANDADO DE INJUNÇÃO 1) CONCEITO A Constituição em seu art. 5°, LXXI, instituiu um remédio constitucional inédito, não contemplado em nossos diplomas constitucionais anteriores. Trata-se do mandado de injunção, instrumento que, ao lado da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, destina-se a combater a denominada "síndrome de inefetividade das normas constitucionais ". O instituto é previsto na Constituição nos seguintes termos: LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 21 O STF já teve oportunidade de declarar, por unanimidade, que o mandado de injunção é auto-aplicável, por força do art. 5°, § 1°, da Constituição Federal, que determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Até que seja editada sua legislação específica, ao mandado de injunção aplicam-se ao remédio as normas legais pertinentes ao mandado de segurança, como dispõe o art. 24, § 1°, da Lei 8.038/90. Ademais, ao contrário do habeas-corpus, o mandado de injunção não é gratuito e só pode ser interposto por advogado. Trata-se, pois, o mandado de injunção, de uma ação constitucional de natureza civil e de rito especial, destinada ao combate da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar, quando tal omissão inviabilizar ao interessado o pleno exercício dos direitos e liberdades contemplados na Constituição, e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. É lição tradicional na doutrina que o descumprimento da Carta pelo Poder Público tanto pode advir de uma ação, de um comportamento estatal comissivo, que ofenda a algum dos dispositivos constitucionais, como de uma omissão, de um comportamento estatal negativo, que impeça que as normas constitucionais adquiram sua plena aplicabilidade. O remédio constitucional de utilização individual para o combate da inércia do Poder Público em legislar, quando dessa conduta omissiva fica inviabilizado o exercício dos direitos e liberdades consagrados na Constituição, é o mandado de injunção. De pronto, devemos perceber que não é qualquer ausência normativa que justifica a interposição do mandado de injunção, é indispensável, para o uso deste remédio constitucional, que tal ausênciaimplique o não exercício de certo direito ou liberdade prescrito na Constituição, ou das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania ou à cidadania. Se mesmo prevendo a Constituição que caberá a edição de lei para o detalhamento de certo direito ou liberdade nela prescrito, tal lei não for pressuposto para o seu exercício, não é cabível mandado de injunção, já que eventual inexistência de norma infraconstitucional não resulta na inviabilidade do direito ou liberdade consagrado na Constituição. Tal raciocínio remonta à clássica lição do Professor José Afonso da Silva, que subdivide as normas constitucionais, quanto à sua eficácia, em normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada. Repisando, as normas constitucionais de eficácia plena gozando de eficácia imediata e integral, podendo ser aplicadas independentemente de edição de legislação infraconstitucional; as normas constitucionais de eficácia contida também podem ser imediatamente aplicadas, mas admitem restrição em sua amplitude por força da legislação infraconstitucional; e as normas constitucionais de eficácia limitada, apesar de formalmente eficazes com sua mera previsão na Constituição, só adquirem eficácia plena após a elaboração da legislação infraconstitucional nelas requerida. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 22 Pois bem, como as normas constitucionais de eficácia plena e contida produzem na integralidade seus efeitos independentemente da elaboração de qualquer legislação ordinária, podemos concluir que eventual inexistência de lei detalhando um direito ou liberdade previsto em normas dessa natureza não inviabiliza seu exercício. Logo, o mandado de injunção é passível de uso apenas quando a ausência normativa afeta um direito ou liberdade previsto em norma constitucional de eficácia limitada, uma vez que apenas em relação a tais normas é que se pode vislumbrar situação em que "a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania". Com isto, podemos concluir que são pressupostos para a interposição do mandado de injunção: a) que haja certo direito, liberdade ou prerrogativa inerente à soberania, à nacionalidade e à cidadania previstos na Constituição (e não em lei ou em qualquer outro ato normativo); b) que este direito, liberdade ou prerrogativa esteja previsto em norma constitucional não auto-aplicável, ou seja, uma norma constitucional de eficácia limitada, de modo que seu exercício esteja condicionado à edição da legislação ordinária requerida na norma; c) que não tenha sido elaborada tal legislação ordinária, e com isso não se tenha viabilizado o exercício do direito, liberdade ou prerrogativa constitucional. Sobre a matéria, é válida a transcrição das considerações do Ministro Celso de Mello (MI n. 542): O direito à legislação só pode ser invocado pelo interessado, quando também existir simultaneamente imposta pelo próprio texto constitucional a previsão do dever estatal de emanar normas legais. Isso significa que o direito individual à atividade legislativa do Estado apenas se evidenciará naquelas estritas hipóteses em que o desempenho da função de legislar refletir, por efeito de exclusiva determinação constitucional, uma obrigação jurídica indeclinável imposta ao Poder Público. Para que possa atuar a norma pertinente ao instituto do mandado de injunção, revela-se essencial que se estabeleça a necessária correlação entre a imposição constitucional de legislar, de um lado, e o conseqüente reconhecimento do direito público subjetivo à legislação, de outro, de tal forma que, ausente a obrigação jurídico- constitucional de emanar provimentos legislativos, não se tornará possível imputar comportamento moroso ao Estado, nem pretender acesso legítimo à via injuncional. Em síntese, podemos concluir que só é cabível mandado de injunção quando há uma relação de causalidade entre a inviabilidade do exercício do direito ou liberdade constitucional e a ausência de legislação reguladora, ou seja, a inviabilização daquele deve-se justamente à ausência da legislação infraconstitucional, e isso só se verifica com relação aos direitos e liberdades contemplados em normas constitucionais de eficácia limitada. Portanto, é CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 23 apenas a inércia legislativa em relação a tais normas que, para fins de mandado de injunção, entende-se como descumprimento do dever constitucional de legislar, a ser combatido mediante a utilização deste remédio constitucional. 2) LEGITIMAÇÃO ATIVA O mandado de injunção pode ser interposto por qualquer pessoa – física ou jurídica, nacional ou estrangeira – que esteja obstada de exercer um direito ou liberdade constitucional em virtude da inexistência de norma que o regulamente. Desse modo, ao contrário da ADIN por omissão, cuja legitimação ativa é restrita, já que pode ser proposta apenas pelos órgãos, entidades e autoridades listados no art. 103, I a IX, da CF, o mandado de injunção é remédio de legitimação ampla, passível de exercício por todo aquele que teve o exercício do direito constitucional obstado. Enfim, o próprio titular do direito cujo exercício está sendo inviabilizado pela inércia do legislador: é este o sujeito ativo do mandado de injunção. Ao contrário do que faz relativamente ao mandado de segurança, a Constituição não prevê o mandado de injunção coletivo. O STF, todavia, há tempos assentou que cabe a interposição de mandado de injunção coletivo, sendo para tanto legitimadas, em favor de seus membros ou associados, as mesmas entidades que podem ajuizar mandado de segurança coletivo. Assim sendo, a legitimação para a propositura de mandado de injunção coletiva foi conferida pelo STF ao partido político com representação no Congresso Nacional e à organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados, que estão sendo frustrados no exercício de certo direito constitucional em virtude do descumprimento pelo Poder Público do dever de legislar. 3) LEGITIMAÇÃO PASSIVA O mandado de injunção deve ser interposto contra os órgãos ou autoridades públicas responsáveis pela não-edição da legislação ordinária regulamentadora da norma constitucional de eficácia limitada. São esses os legitimados passivos em se tratando de mandado de injunção. Assim, na esfera federal, o mandado de injunção deverá ser interposto contra o Congresso Nacional, salvo nas hipóteses de iniciativa legislativa privativa, quando então o remédio deve ser ajuizado contra a autoridade detentora da iniciativa privativa, já que a ela e apenas a ela compete dar início ao processo legislativo do qual poderá regular a norma viabilizadora do exercício do direito. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 24 É o que ocorre, exemplificativamente, com o Presidente da República, nas matérias listadas no art. 61, § 1°, da Constituição. O STF já pacificou no entendimento de que particulares não possuem legitimidade ad causam para responder em mandado de injunção, pois compete exclusivamente ao Poder Público editar a legislação complementadora da Constituição. Sendo assim, impossível a formação de litisconsórcio passivo entre órgãos ou autoridades públicas e entes privados. Necessariamente, a ação será interposta apenas contra o Poder público. 4) COMPETÊNCIA A competência para o julgamento e o processamento do mandadode injunção é sempre definida a partir da legitimação passiva, ou seja, a partir da autoridade ou órgão responsáveis pela ausência da legislação reguladora do direito ou liberdade constitucional. A Constituição é lacunosa na matéria, tratando expressamente da competência apenas do STF, do STJ e do TSE. Com relação aos demais órgãos jurisdicionais federais, a matéria deverá ser tratada a nível de legislação ordinária, respeitadas, evidentemente, as disposições prescritas na Constituição. Quanto aos órgãos judiciários estaduais, a matéria deverá ser tratada nas respectivas constituições estaduais, a teor do art. 125 da Carta. As competências descritas na própria Constituição podem ser assim sintetizadas: a) ao STF cabe, originariamente, o julgamento do mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, q). Ainda, julga o STF, em sede de recurso ordinário, os mandados de injunção decididos única instância pelos Tribunais Superiores, se for denegatória a decisão (CF, art. 102, II, a); b) ao STJ, por sua vez, compete, originariamente, o julgamento do mandado de injunção quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão ou entidade federal, da Administração Direta ou Indireta, excetuados os casos de competência do STF e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (CF, art. 105, I, h); c) por fim, é competência do TSE, em grau recursal, o julgamento dos mandados de injunção denegados pelos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais(CF, art. 121, § 4°, V). 5) DESCABIMENTO CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 25 Apesar de termos esclarecido no primeiro tópico desta unidade que só é cabível a interposição de mandado de injunção quando ausente norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades prescritos na Constituição, ou das prerrogativas nela contempladas pertinentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, é útil apresentarmos alguns posicionamentos do STF na matéria, acerca das hipóteses em que não é cabível o uso do mandado de injunção. Assim, não cabe a interposição de mandado de injunção, segundo o STF: a) se a Constituição apenas faculta ao legislador infraconstitucional a elaboração da legislação complementadora de suas disposições: se a Constituição não impõe ao legislador, como dever indeclinável, a elaboração da legislação complementadora do direito ou liberdade nela previsto, a não edição da norma não caracteriza descumprimento de dever de legislar, logo, não justifica a propositura de mandado de injunção; b) se o direito ou liberdade cujo exercício é obstado por ausência de norma regulamentadora está previsto na legislação ordinária: o mandado de injunção presta-se exclusivamente ao combate da inércia legislativa no complemento dos direitos e liberdades consagrados na própria Constituição. Logo, a não-elaboração pelo Presidente da República de um decreto regulamentador a fim de dar aplicabilidade a um direito previsto em lei ordinária ou complementar editada pela União, a não-expedição pelo Congresso nacional de decreto legislativo regulamentando os efeitos de medida provisória não convertida em lei, a ausência de decreto executivo regulamento um direito previsto em tratado internacional são algumas hipóteses de descabimento do mandado de injunção; c) se já existe norma regulamentadora do direito ou liberdade previsto na Constituição, mesmo que ela apresente defeitos de forma ou de fundo: o mandado de injunção volta-se ao combate da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever de legislar. Se não há tal inércia, ou seja, se o Poder Público editou a norma, ainda que com vícios formais ou materiais, não cabe a interposição de mandado de injunção. 6) EFICÁCIA DA DECISÃO Inegavelmente, a questão mais debatida em tema de mandado de injunção refere-se aos efeitos jurídicos da decisão nele proferida. Inúmeras foram as posições doutrinárias e jurisprudenciais a respeito, a maioria das quais foi considerada pelo STF nas suas discussões sobre a matéria. No âmbito da Corte os debates resultaram em diversos posicionamentos, os quais podem ser assim sintetizados: 1a) posição concretista: defende que, verificados os pressupostos constitucionais do mandado de injunção, deve o Poder Judiciário, numa decisão constitutiva, após reconhecer a omissão legislativa, elaborar a norma faltante, implementando o exercício do direito ou da liberdade prescritos na CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 26 Constituição, ou da prerrogativa inerente à nacionalidade, à soberania ou à cidadania. Esta corrente divide-se em duas, a concretista geral, pela qual a decisão judiciária teria efeitos erga omnes, estabelecendo uma norma geral, válida para todos, até que o órgão responsável pela edição da lei ou do ato normativo exercesse sua competência; e a concretista individual, que entende também caber ao Judiciário o estabelecimento da norma aplicável, mas limitados seus efeitos ao autor da ação. Assim, o judiciário implementaria o exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa constitucional, mas apenas para o autor da ação. Essa posição - concretista individual -, desmembra-se em duas: a concretista individual direta, pela qual o Judiciário, após reconhecer a omissão legislativa, imediatamente estabelece a norma aplicável para o caso concreto, implementando desde já o exercício do direito para o autor da ação; e a concretista individual intermediária, segundo a qual o Judiciário, uma vez reconhecida a omissão, num primeiro momento deve fixar um prazo de 120 dias) para que o órgão ou autoridade competente elabore a norma; permanecendo a inércia, o Judiciário fixa a regulamentação para o caso em concreto. 2a) posição não-concretista: considera caber ao Judiciário tão somente o reconhecimento formal da omissão legislativa, comunicando a falta ao órgão ou autoridade responsável pela sua edição. Apesar de podermos perceber na doutrina uma preferência pela posição concretista individual intermediária, foi esta posição, a não-concretista, que veio a ser adotada majoritariamente no STF. Apesar das veementes críticas doutrinárias ao posicionamento do STF na matéria, que acaba por tornar os efeitos no mandado de injunção idênticos ao da ADIN por omissão, é esta posição que devemos entender prevalente. Por tal posição, pode-se concluir, na lição de Vicente Paulo, que a decisão proferida em mandado de injunção tem eficácia declaratória – reconhecendo a inconstitucionalidade da omissão – e mandamental – cientificando o órgão ou a autoridade competente sobre sua mora na edição da norma regulamentadora -. Ilustrando o ponto, trazemos um dos acórdãos proferidos pelo STF apresentados pelo Autor: O mandado de injunção não é o sucedâneo constitucional das funções político-jurídicas atribuídas aos órgãos estatais inadimplentes. Não legitima, por isso mesmo, a veiculação de provimentos normativos que se destinem a substituir a faltante norma regulamentadora sujeita à competência, não exercida, dos órgãos públicos. O Supremo Tribunal Federal não se substitui ao legislador ou administrador que se hajam abstido de exercer a sua competência normatizadora. A própria excepcionalidade desse novo instrumento jurídico impõe ao Judiciário o dever de estrita observância do princípio constitucional da divisãofuncional do Poder (MI n. 107, Ministro Celso de Mello) CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 27 Excepcionalmente, tem a Corte adotado, em algumas de suas decisões, uma posição mais próxima da corrente concretista. Alexandre de Moraes traz dois casos concretos em que o STF conferiu maior amplitude à sua decisão em sede de mandado de injunção. No primeiro, o STF estava analisando a inércia do Congresso Nacional em editar a legislação requerida no art. 8°, § 3° do ADCT, que fixa prazo para a atuação do Poder Legislativo. Reza o referido dispositivo: Art. 8°, § 3° Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica, em decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica n° S50-GM5, de 19-6-64, e n° S-285-GM5 será concedida reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo de doze meses a contar da promulgação da constituição. O STF, tendo em vista do prazo prescrito no próprio dispositivo constitucional, solenemente descumprido pelo Congresso Nacional, a evidenciar sua inércia, decidiu que os beneficiários da norma poderiam desde já exercer o direito nela prescrito, mediante o ajuizamento da ação de reparação econômica cabível, com base no direito comum em vigor. O segundo caso teve por objeto o art. 195, § 7°, da CF, segundo o qual "são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei". Face à omissão estatal na elaboração da lei requerida no dispositivo, a análise da questão resultou no seguinte pronunciamento da Corte: o Tribunal, por maioria, conheceu em parte o mandado de injunção e nessa parte o deferiu para declarar o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote as providências legislativas, decorrentes do art. 195, § 7°, da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo, sem legislar, passe a requerente a gozar a imunidade requerida". Vicente Paulo também trata de hipótese na qual o STF abandona a posição não-concretista, conferindo maior eficácia às suas decisões em mandado de injunção. Entende a Corte que é cabível a fixação de prazo para a edição da norma regulamentadora quando o Estado tiver dupla sujeição passiva no caso, o que se configura, nesse contexto, quando o Estado, além de ser o responsável pela elaboração da norma, também ocupar o pólo passivo nas relações jurídicas que resultariam do exercício do direito, o que se encontra inviabilizado pela inexistência da norma. Exemplificativamente, no MI n. 283-5/DF a Corte adotou esse posicionamento, asseverando: Se o sujeito passivo do direito constitucional obstado é a entidade estatal à qual igualmente se deva imputar a mora legislativa que obsta ao seu exercício, é dado ao Judiciário, ao deferir a injunção, somar, aos seus efeitos mandamentais típicos, o provimento necessário a acautelar CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 28 o interessado contra a eventualidade de não se ultimar o processo legislativo, no prazo razoável que fIxar, de modo a facultar-lhe, quando possível, a satisfação provisória do seu direito. 7) DESCABIMENTO DE MEDIDA LIMINAR Não cabe medida liminar em sede de mandado de injunção, por ser inadequada ao remédio constitucional em questão. Esse é o entendimento absolutamente pacífico do STF na matéria. Na posição que veio a predominar no Tribunal, o mandado de injunção resulta, quando provido, no reconhecimento formal da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar, não admitindo a Corte declaração provisória desta omissão, em decisão liminar. O reconhecimento da mora legislativa, se for o caso, só pode ser proclamado na decisão final do mandado de injunção. 8) DIFERENÇAS ENTRE O MANDADO DE INJUNÇÃO E A ADIN POR OMISSÃO Na seqüência do Curso, durante o estudo do controle de constitucionalidade, analisaremos a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADIN por omissão), ação constitucional que, da mesma forma que o mandado de injunção, volta-se contra a inércia legislativa do Poder Público. Neste ponto ambos os instrumentos se identificam. Todavia, diversas são suas diferenças. Limitando-nos às diferenças principais entre os dois institutos, podemos apresentá-las nos seguintes termos: a) competência para o julgamento: na esfera federal, compete exclusivamente ao STF o julgamento da ADIN por omissão (CF, art. 102, I, a); já a competência para o julgamento do mandado de injunção, como analisamos anteriormente, é outorgada pela Constituição não só ao STF, mas também ao STJ e ao TSE. Ademais, a Constituição é lacunosa ao tratar da competência para a apreciação de mandado de injunção, cabendo ao legislador ordinário complementar suas disposições; b) legitimação ativa: o mandado de injunção pode ser interposto por qualquer pessoa que esteja obstada de exercer um direito contemplado na Constituição em virtude da falta de norma regulamentando-o; já a ADIN por omissão só pode ser instaurada pelas autoridades, órgãos e agentes listados no rol taxativo do art. 103 da CF, inc. I a IX; c) finalidade: no mandado de injunção seu autor busca a solução para uma situação específica que lhe afete, o direito constitucional cujo exercício está inviabilizado pela ausência de norma regulamentadora. É indispensável para a interposição, desse modo, a efetiva lesão à esfera jurídica de certa pessoa, o autor do mandado de injunção, pois é justamente tal ofensa que justifica sua CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 29 propositura. Na ADIN por omissão tal circunstância é de todo irrelevante, pois sua interposição não requer que tenha havido efetiva violação a um direito individual. Na ADIN por omissão debate-se a inércia legislativa do Poder Público em tese, desgarrada de qualquer caso em concreto, buscando-se obter o reconhecimento formal da omissão com efeitos erga omnes. As duas últimas diferenças entre o mandado de injunção decorrem diretamente da diversidade da natureza das duas ações. Como expõe com precisão Pedro Lenza, a partir da obra de Dirley da Cunha Júnior, "o mandado de injunção é uma ação constitucional de garantia individual, enquanto a ação direta de inconstitucionalidade por omissão é uma ação constitucional de garantia da Constituicão". V. HABEAS DATA 1) NOÇÕES GERAIS O habeas data é remédio constitucional previsto no art. 5°, LXXII, da CF, nos seguintes termos: LXXII – Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Trata-se de uma ação constitucional de natureza civil e rito sumário, posta à disposição de pessoas físicas e jurídicas para o conhecimento de CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 30 informações a seu respeito, que estejam armazenadas em registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, e para a retificação dessas mesmas informações, quando o interessado não preferir se valer de um processo sigiloso, judicial ou administrativo, para tanto. Nos termos da Constituição, o habeas-data é,
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